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1 INTRODUÇÃO
2 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
2.1Conceito
O Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (EOAB), Lei nº 8.906/94, em seu art.
22, § 2º, prescreve que diante da ausência de estipulação do montante dos honorários,
estes serão arbitrados pelo juiz, “em remuneração compatível com o trabalho e o valor
econômico da questão, não podendo ser inferiores aos estabelecidos na tabela
organizada pelo Conselho Seccional da OAB”.
Diante a liberdade de contratar, prevista no art. 421 do Código Civil, permanece
válida a pactuação verbal de prestação de serviços advocatícios que estabelece o valor
da verba honorária. Todavia, caso não cumprida espontaneamente pelo cliente, restará
ao profissional a possibilidade da cobrança judicial, requerendo o arbitramento da
remuneração. Nessa hipótese, não será possível a execução do contrato.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não impõe limite máximo para a
estipulação dos honorários contratuais, contudo, estabelece uma tabela com os valores
mínimos e recomendáveis, para guiar os trabalhadores nesse momento, evitando-se
infrações éticas e prevenindo a concorrência desleal.
A segunda espécie de honorários, qual seja, os de sucumbência são devidos
somente na hipótese de atuação processual e contenciosa do procurador. Ressalte-se
que o advogado pode desempenhar suas tarefas na seara consultiva e judicial. Somente
nessa última é possível o recebimento da verba de sucumbência.
Nos procedimentos contenciosos, há a formação da lide (pretensão resistida), cabe
ao advogado a representação em juízo das partes que se controvertem, numa verdadeira
relação de mandato. Nesse processo, sempre um dos litigantes será vencido ou
vencedor. A parte vitoriosa deverá ser ressarcida de todas as despesas judiciais, e o seu
patrono fará jus ao recebimento de honorários pagos pela parte derrotada. Essa verba
será calculada pelo magistrado conforme o art. 20, do CPC1. Consoante o art. 23 da Lei
nº 8.906/94, os honorários de sucumbência são do procurador, que possui o direito de
executá-los.
Art. 23 - Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou
sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para
executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório,
quando necessário, seja expedido em seu favor.
2.2 Histórico
A palavra “honorário” vem do latim honor. Este vocábulo latino significa honra,
estima, consideração. A expressão jus honorarium utilizada por Justiniano como uma das
fontes do Direito e inserida nas Institutas do Corpus Iuris Civilis englobava os éditos
(ordens e decretos) dos magistratrus populi romani que, no início da judicatura,
declaravam os princípios norteadores de seus trabalhos. Percebe-se, portanto que a
grafia desse vocábulo pouco se alterou, diferentemente do que ocorreu com o seu
sentido etimológico (SANTOS FILHO, 1998, p. 32).
Segundo Fernando Jacques Onófrio (2005 p.27): ”No organismo judiciário romano,
a advocacia objetivava antes de tudo o gaúdio espiritual, as honrarias e, até mesmo, o
reconhecimento de dotes artísticos”. Esse autor explica que, nessa época, a profissão
era composta apenas por pessoas das altas classes sociais que poderiam prestar seus
serviços em troca de prestígio e favores políticos, sem receber qualquer quantia em
pecúnia.2
Ademais, a percepção de pagamento era expressamente proibida pela Lex Cincia,
de 250 a.C. Após, o Imperador Augusto ratificou o referido ato legislativo, por meio de
um senatusconsultum, mais severo, que determinava àquele advogado (jurisprudente),
1
Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba
honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria. § 1º O juiz, ao decidir qualquer incidente ou
recurso, condenará nas despesas o vencido. § 2º As despesas abrangem não só as custas dos atos do processo, como também a
indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração do assistente técnico. § 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez
por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos: a) o grau de zelo do profissional; b) o
lugar de prestação do serviço; c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu
serviço. § 4o Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda
Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as normas
das alíneas a, b e c do parágrafo anterior. § 5o Nas ações de indenização por ato ilícito contra pessoa, o valor da condenação será a soma
das prestações vencidas com o capital necessário a produzir a renda correspondente às prestações vincendas (art. 602), podendo estas ser
pagas, também mensalmente, na forma do § 2o do referido art. 602, inclusive em consignação na folha de pagamentos do devedor.
2
“Na antiga Roma, diz João Monteiro, era o fórum chamado de ‘ o viveiro das honras’: est corpus advocatorum (...)”. (MONTEIRO, apud
ONÒFRIO, 2005, p. 27)
que recebesse de seu cliente dinheiro como forma de retribuição por seu trabalho, o
dever de restituir o quádruplo do valor percebido.
Hugo Enrico Paoli, citado por Fernando Onófrio (2005, p.30) ensina que essa
situação se modificou no Império de Cláudio, durante os anos 41 a 54, quando o
recebimento de remuneração pela atividade advocatícia foi autorizado, porém, limitada à
importância máxima de 10.000 (dez mil) sestércios, permanecendo, entretanto, vedados
a verba quota litis (parte da vantagem auferida pelo patrocinado) e o palmarium
(honorários excepcionais, na hipótese de êxito na causa). Foi durante o governo de Nero
que ficou expressamente permitida a cobrança de honorários com a revogação da Lei
Cíncia.
Santos Filho (1998, p.32) relata que, no Direito Romano, regra geral, as próprias
partes arcavam com as respectivas despesas processuais, sem que fosse considerado o
êxito na demanda. No entanto, a origem remota da sucumbência está nas leges actiones.
Nesse procedimento, no início da ação, ambos litigantes depositavam certa quantia; o
vencido perderia o montante por ele consignado, na qualidade de imposto, para os
sacerdotes ou para o erário, não para o vitorioso. Ainda, nessa época, surgiu em Roma a
actio dupli que consistia em uma ação contra o derrotado, que resistira injustamente ao
processo, cujo objetivo era o pagamento do dobro do valor da condenação, ou seja,
nessa hipótese a imposição do ônus da sucumbência tinha natureza de penalidade.
Tal situação perdurou até a Constituição de Zenão, em 487, que prescreveu que o
magistrado condenaria, na sentença, a parte vencida ao pagamento das custas
processuais. Além disso, esse valor poderia ser aumentado em até dez vezes, em caso
de temeridade do perdedor. O referido ato normativo previu, ainda, que parte desse
acréscimo poderia ser convertida em favor do vencedor, para reparação do dano sofrido,
ou ser entregue ao fisco.
Dessa maneira, note-se que esse diploma legal foi o grande marco, no Império
Romano, que inspirou a disciplina dos honorários de sucumbência da forma como é feita
hoje. Isso porque o vitorioso, a partir desse momento, poderia ser ressarcido dos custos
da demanda, sendo que o pagamento das despesas do processo, pelo vencido, deixou de
ter caráter meramente sancionatório, ocorrendo independentemente de má-fé da parte,
mas em razão, apenas, da derrota processual.
No Brasil Colônia, o advogado era considerado, pelas Ordenações, como funcionário
da justiça (oficial do foro), daí surgiu o caráter público de sua atividade. Em razão dessa
relevante função exercida pelos procuradores, estes não eram remunerados pelo
governo, nem podiam cobrar de seus clientes o pagamento de honorários contratuais,
deveriam contentar-se com os emolumentos, taxados no regimento de custas. O alvará,
de primeiro de agosto de 1774, estipulou penas para os profissionais que violassem tal
proibição.
Somente, no império, os patronos puderam aceitar como pagamento de seus
clientes os chamados “salários”, instituídos pelo Decreto nº 5.737, de 2 de setembro de
1874. Esse foi o primeiro ato normativo brasileiro que conferiu à contraprestação
recebida pelos procuradores (na época “salários”, hoje, honorários) caráter
remuneratório e possibilitou, ainda, a contratação quota litis.
Antes do Código Processual de 1939, não existia nos tribunais brasileiros um
critério uniforme relativo à condenação da parte vencida aos honorários. Essa norma
consagrou o princípio da sucumbência, contudo, nos termos dos artigos 63 e 64, o
pagamento da verba honorária assumia natureza de pena, pois estava condicionado à
ocorrência de culpa ou dolo da parte derrotada. Essa exigência foi suprimida pela Lei nº
4.632/65 e pelo ora vigente art. 20, da Lei nº 5.869/73 (atual CPC), que, foi modificado
pela Lei nº 6.335/76, para salvaguardar o direito do advogado que atua em causa
própria à percepção dos honorários. 3
3
Segundo Yussef Said Cahali (apud PAVANI, 2006), hoje, no direito processual brasileiro vigora o princípio da sucumbência,
complementado pelo o da causalidade, segundo o qual o responsável pelas despesas processuais é aquele que deu causa à demanda.
Até o advento da lei nº 8.906/94 (EOAB), que estabeleceu pertencerem ao
advogado os honorários de sucumbência, a jurisprudência e a doutrina discutiam acerca
de sua titularidade, conforme explica Yussef Said Cahali (apud OLIVEIRA, 2005):
Os advogados autônomos são aqueles que exercem sua atividade profissional sem
o vínculo empregatício, ou seja, na relação jurídica estabelecida com o cliente falta um
dos seguintes elementos: pessoa física no pólo passivo da relação jurídica (empregado),
pessoalidade, onerosidade, não-eventualidade e subordinação.
Regra geral, as partes celebram um contrato de prestação de serviços, remunerado
por meio de honorários, ausente o requisito da subordinação. Por vezes, também, a
pactuação pode se dar entre o cliente (que poderá ser pessoa física ou jurídica) e o
escritório de advocacia (pessoa jurídica), fato que também elimina a possibilidade do
vínculo trabalhista.4
Nessa relação jurídica sem laços empregatícios, os honorários são por excelência a
remuneração do profissional liberal, sejam eles contratuais ou de sucumbência, pois
constituem a retribuição pelos serviços prestados pelo causídico na seara contenciosa ou
na consultiva.
Conforme já dito acima, a honorária é a única fonte de renda do autônomo e
destina-se ao sustento do trabalhador e de sua família, além de ser indispensável para a
manutenção do escritório e para a atualização do profissional. Assim, nessa espécie de
relação de trabalho, os honorários, mais do que nunca, preservam sua natureza
alimentícia. Inclusive, os julgados do STF e STJ, que atestam esse caráter da verba,
analisaram, no caso, concreto a situação dos profissionais liberais.
Uma das peculiaridades que envolvem essa relação jurídica é que muitas vezes a
contraprestação pelas atividades prestadas se dá em nome da pessoa jurídica, escritório
de advocacia, e não da pessoa natural responsável pelo serviço. Mesmo nessas
hipóteses, quando o pagamento é faturado em nome da sociedade, subsiste a natureza
alimentar dos honorários, eis que sua finalidade não se altera.
Nesse sentido, há decisão da 1ª Turma do STJ, proferida nos autos do Resp nº
566.190-SC, conforme se verifica a seguir:
Os serviços advocatícios também podem ser prestados por meio de uma relação de
emprego. O empregador contrata o advogado para defendê-lo judicialmente ou para
solucionar consultas jurídicas, estando presentes nessa contratação os cinco elementos
que caracterizam o vínculo celetista, quais sejam, a pessoalidade, pessoa física do
contratado (empregado), a onerosidade, não-eventualidade e subordinação.
Essa relação jurídica é regida pelo Estatuto da OAB (norma especial) e
supletivamente pela consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Como forma de retribuição
pelo trabalho prestado, o advogado é remunerado nos termos do art. 457 desse último
diploma legal, recebendo salário. Logo, nessa espécie de vínculo não é possível a
pactuação de honorários contratuais.
4
Ressalte-se que muitas vezes a pessoa jurídica é utilizada como meio de fraude à legislação trabalhista, travestindo-se a relação de
emprego de atividade autônoma. Todavia, neste tópico será analisada a situação do advogado profissional liberal, supondo-se a licitude do
contrato de prestação de serviços.
Todavia, em caso de atuação contenciosa, o procurador ainda fará jus aos
honorários de sucumbência, nos termos do art. 21 da Lei nº 8.906/94 (EOAB).
Art. 21 - Nas causas em que for parte o empregador, ou pessoa por este
representada, os honorários de sucumbência são devidos aos advogados
empregados.
Assim, a renda do advogado empregado será composta pelo salário acrescido dos
honorários de sucumbência. A primeira parcela deverá ser paga pelo empregador
periodicamente conforme a CLT, já a segunda é custeada por terceiros (parte
sucumbente) e o seu recebimento é aleatório, uma vez que condicionado ao êxito na
demanda.
Todavia, é necessário destacar que ainda que incerto o pagamento da parcela de
sucumbência, sua finalidade permanece a mesma, qual seja, remunerar o trabalho do
patrono e constituir renda para que o profissional arque com os ônus de sua subsistência.
Sobre a possibilidade de negociação individual ou coletiva da referida verba, o §3º
do art. 24 da Lei nº 8.906/94 (EOAB) dispõe: “É nula qualquer disposição, cláusula,
regulamento ou convenção individual ou coletiva que retire do advogado o direito ao
recebimento dos honorários de sucumbência”.
Ainda, o regulamento geral da OAB complementa essa previsão, estatuindo, em ser
art. 14, parágrafo único, que os valores decorrentes dos honorários de sucumbência
devidos aos advogados empregados deverão constituir um fundo comum, cuja
destinação será decidida pelos integrantes do setor jurídico da empresa empregadora.
A constitucionalidade da prescrição que impede a negociação dos honorários dos
obreiros foi questionada por meio da ADI nº 1.194-4. O Supremo Tribunal Federal, no dia
18.10.2006, entendeu por bem suspender definitivamente a eficácia do §3º, do art. 24
do Estatuto da OAB, prevalecendo a liberdade de contratar acerca da titularidade da
verba de sucumbência.
A partir dos apontamentos acima, conclui-se que essa verba remunera os serviços
do advogado, constitui alimentos, está vinculada ao contrato de trabalho, eis que é paga
em razão do sucesso no patrocínio de uma demanda do empregador.
O art. 14 do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB proclama que
os honorários de sucumbência decorrem, primeiramente, do exercício da advocacia e só
acidentalmente da relação de emprego, não integraram o salário ou a remuneração e não
podem ser considerados para fins trabalhistas ou previdenciários.
Contudo, apesar dessa regra, os honorários devem receber a mesma proteção dada
às verbas salariais e remuneratórias, uma vez que todas essas parcelas possuem a
mesma finalidade e natureza alimentar.
Os advogados públicos5 são aqueles responsáveis pela defesa judicial dos interesses
da administração pública (direta e indireta) federal e estadual e pela assessoria e
consultoria jurídica do Poder Executivo. Esses profissionais são servidores públicos
integrantes de cargos efetivos, que obtiveram aprovação em concurso público de provas
e títulos, conforme o art. 131 e 132 da Constituição Federal.
Nos termos do art. 135 e do art. 39, §4º da Carta Magna, o seu trabalho é
remunerado por meio de uma parcela única, denominada subsídio. Questiona-se se seria
possível a cumulação dos honorários de sucumbência a esse subsídio, uma vez que o
5
Consoante o art. 9º do Regulamento Geral da OAB, os defensores públicos também se enquadram no conceito de advogados públicos. No
entanto, para fins do presente estudo, serão analisada a situação jurídica somente daqueles que se enquadram no art. 131 e no art. 132 da
Carta da República, localizados no texto constitucional abaixo da rubrica “DA ADVOCACIA PÚBLICA”. Até porque, o recebimento
dessa verba pelos membros da Defensoria Púbica é expressamente proibido pelo art. 46,III da LC nº80.
texto constitucional proíbe expressamente o acréscimo aos vencimentos desses
funcionários públicos “de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
representação ou outra espécie remuneratória”.
A OAB entende que o advogados públicos podem receber além do subsídio a verba
de sucumbência, eis que esta não é paga pelo Estado, mas sim por terceiros (parte
derrotada na ação). Além disso, segundo o já citado art. 14 do Regulamento Geral da
OAB, os honorários de sucumbência não integram a remuneração, razão pela qual
estariam fora da restrição contida no art. 39, §4º da Lei Fundamental.
Por oportuno, ainda, importa destacar o parecer da Comissão do Advogado Público
da OAB/SP que esclarece que são aplicáveis aos advogados públicos as disposições da Lei
nº 8.906/94 referentes à honorária, conforme determina o art. 3º, §1º, desse mesmo
diploma legal.
A interpretação sistemática do Estatuto da Ordem dos Advogados do
Brasil, Lei nº 8906/94, em seus artigos 18 a 23, assegura do Advogado
inscrito na OAB, a percepção de honorários convencionados e aos fixados
na sucumbência.
Portanto, independentemente de o Advogado exercer sua profissão a título
público ou a título privado, os honorários incluídos na condenação lhe
pertencem. Logo os artigos 18 a 21 da Lei nº 8.906/94 são aplicáveis,
também, aos advogados estatutários ou celetistas do setor público.
(ANDRADE; DIAS, 2005, p. 115).
6
A divisão dos honorários de sucumbência entre os procuradores do estado de Minas Gerais é feita nos termos da Deliberação nº 10 de 26
de setembro de 2005, do Advogado-Geral do Estado.
4.1.1 No Direito do Trabalho
7
José Martins Catharino (apud DELGADO, p. 681-682) ensina que o salário é um “complexo de parcelas e não uma verba única. Todas
têm caráter contraprestativo, não necessariamente em função da precisa prestação de serviços, mas em função do contrato (nos períodos
de interrupção o salário continua devido e pago); todas são também devidas e pagas pelo empregador, segundo o modelo referido pela
CLT (art. 457, caput) e pelo modelo legal de salário mínimo após 1988”.
8
“As gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de serviço ou oferecidas espontaneamente pelos clientes, integram a remuneração do
empregado, não servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso prévio, adicional noturno, horas extras e repouso semanal
remunerado”.
Como todas essas parcelas, pela doutrina majoritária, constituem remuneração, a seguir,
para a melhor compreensão da questão, será feita uma analogia entre as mesmas e os
honorários de sucumbência.
9
“Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e das seguintes contribuições sociais: I – do
empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do
trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;“
verba é paga pela parte derrotada no processo, sendo que “o advogado a ela não presta
serviço algum, antes um desserviço” (MIRANDA, 2005, p. 9).
Situação diferente ocorre quando o tributo é pago pelo empregado ou pelos
profissionais liberais. Em razão do caráter remuneratório da parcela e das disposições do
art. 28 I e III, da Lei nº 8.212/9110 não há como negar a incidência dessa espécie
tributária sobre os honorários de sucumbência, desde que respeitado o teto do salário de
contribuição.
Danilo Miranda (2005) explica que o fato de não ser devida a contribuição patronal
sobre a verba em análise, em nada interfere nas contribuições pagas pelos advogados
autônomos e empregados.11
Por fim, importa ressaltar que tendo em vista que os honorários são pagos pela
parte sucumbente na demanda judicial, e que a ela não há prestação de serviço algum
pelo profissional beneficiário da verba, não há a possibilidade de retenção do tributo,
sendo que o advogado deve ser o responsável pelo recolhimento da contribuição.
5 CONCLUSÃO
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“Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição: I - para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais
empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a
retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos
decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de
serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; [...] III - para o
contribuinte individual: a remuneração auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o
mês, observado o limite máximo a que se refere o § 5º;”
11
“Aliás, devemos observar que inexiste, nesse caso, a mesma limitação observada com relação à contribuição patronal: sendo esta
[honorários de sucumbência] uma parcela remuneratória, nos termos do art. 28, inciso III, da Lei nº 8.212/91, não importa se não há
contribuição patronal [incidente sobre a verba], vez que a hipótese se enquadra na previsão da parte final do aludido dispositivo, ao
referir-se à remuneração auferida ‘pelo exercício de sua atividade por conta própria’.”(MIRANDA, 2005, p. 9).
Por fim, deve-se concluir que, em razão de a finalidade da honorária permanecer a mesma,
nas relações jurídicas em exame, os privilégios concedidos pela jurisprudência pátria à parcela
devida aos autônomos devem ser concedidos também aos honorários pagos aos empregados e
advogados públicos.12
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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OAB/SP. Revista de Direito e Política. São Paulo, vol. 4, p.115-116, jan./mar. 2005.
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: LTr,
2007.
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Advogados do Brasil (OAB). Diário Oficial da União, Brasília, 5 jul. 1994.
BRASIL. Lei 10406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União,
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BRASIL. Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a
falência do empresário e da sociedade empresária. Diário Oficial da União, Brasília, 9 fev. 2005.
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Diário da Justiça. Brasília, Seção I, 1º mar. 95, p. 4000 - 4004.
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1994. Diário da Justiça. Brasília, Seção I, 16 nov. 94, p. 31210 a 31220.
BRASÍLIA. Supremo Tribunal Federal. Honorários Advocatícios possuem natureza alimentar e
preferência na ordem de apresentação dos precatórios. RE nº 470407, Rel. Ministro Marco Aurélio,
Diário de Justiça, Brasília, 13 out. 2006, p. 00051.
BRASÍLIA. Supremo Tribunal Federal. Honorários Advocatícios têm natureza alimentar. RE nº
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BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. Honorários Advocatícios equiparam-se aos créditos
trabalhistas na falência. Resp nº 608.028-MS, Rel. Ministra Nancy Andrichi, Diário de Justiça,
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BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. Honorários mantém natureza alimentar, mesmo quando o
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CORDENADORIA de Editoria e Imprensa STJ. Corte Especial define se honorários de
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12
Apesar de ter-se concluído, nesta monografia, que a percepção dos honorários de sucumbência e vedada aos membros da Advocacia-Geral
da União e das Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal, na prática muitos advogados públicos integrante de carreiras estaduais
têm recebido a parcela. Nesses casos, como a parcela integra a remuneração dos procuradores públicos e constitui verba alimentar, a ela
dever ser conferido o direito de preferência na satisfação dos precatórios e dos créditos falimentares.
NÓBREGA, Airton Rocha. O advogado empregado e suas garantias trabalhistas específicas . Jus
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