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Lei de
EXECUÇÃO
FISCAL
Comentada e Anotada
2.ª edição
Revista, atualizada e ampliada
2017
INTRODUÇÃO À EXECUÇÃO FISCAL 27
INTRODUÇÃO À
EXECUÇÃO FISCAL
6. Idem. p. 58.
7. ŽŶĮƌĂdKZZ^͕ZŝĐĂƌĚŽ>ŽďŽ͕ƵƌƐŽĚĞĚŝƌĞŝƚŽĮŶĂŶĐĞŝƌŽĞƚƌŝďƵƚĄƌŝŽ. 15ª ed. São Paulo: Renovar, 2008.
ŽŶĮƌĂƚĂŵďĠŵŽƐũĄĐŝƚĂĚŽƐ:Z/DĞK>/s/Z͘
8. Sobre tema, Cf. TORRES. Ob. cit.
9. MACHADO, Hugo de Brito. Processo Judicial Tributário. In: Curso de Direito Tributário. São Paulo: Editora
Malheiros. Capítulo 11. Material da 4ª aula da Disciplina Direito Processual Tributário, ministrada no Curso
de Especialização Telepresencial e Virtual de Direito Tributário – UNISUL – REDE LFG.
INTRODUÇÃO À EXECUÇÃO FISCAL 29
nem a declaração do direito, mas a efetivação deste, que se presume, por força de lei,
líquido e certo” 10.
Com efeito, a execução fiscal se destina ao cumprimento forçado da obrigação tri-
butária principal 11 não espontaneamente cumprida pelo contribuinte. Aqui, sim, com o
descumprimento do prazo para pagamento em cinco dias 12, o contribuinte poderá ter
bens de seu patrimônio penhorados 13 e levados à hasta pública 14, a fim de que a dívida
seja paga.
O estoque de dívidas da União inscritas e em fase de execução alcançava, em 2003,
a impressionante cifra de R$ 240 bilhões 15. Os relatórios de gestão da Procuradoria-
-Geral da Fazenda Nacional de 2004-2006 apontavam para valores que alcançam, hoje,
os R$ 760 bilhões em débitos inscritos em dívida ativa da União 16. Dez anos depois, os
débitos em cobrança atingiram a impressionante cifra de R$ 1.387.504.353.743,71 17.
Como se vê, aqueles valores crescem exponencialmente. A execução fiscal é o instru-
mento – o único 18, na seara judicial – de que dispõe a União para receber esses valores,
ao menos na esfera judicial 19. Não se pode negar à execução fiscal seu papel de relevo
na atividade financeira do Estado.
10. /ĚĞŵ͘ŵƌĞůĂĕĆŽĂŝŶƐĐƌŝĕĆŽĞŵĚşǀŝĚĂĂƟǀĂĚĂhŶŝĆŽ͕ƉŽƌĠŵ͕ĂĐƌĞƐĐĞŶƚĂŵŽƐĂƐŽďƐĞƌǀĂĕƁĞƐĚĞEddK
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multas (trabalhistas ou eleitorais, ǀĞƌďŝŐƌĂƟĂ) e até mesmo decorrentes de contratos, como as dívidas do
FISET.
12. Lei 6.830/1980 – Lei de Execução Fiscal (LEF), art. 8º.
13. LEF, art. 10.
14. LEF, art. 22.
15. ^dZK͕ůĚĞŵĄƌŝŽƌĂƷũŽ͕EddK͕ŐŽƐƟŶŚŽĚŽEĂƐĐŝŵĞŶƚŽ͕^Kh͕ZŝĐĂƌĚŽKůŝǀĞŝƌĂWĞƐƐƀĂĚĞ͕s//Z͕
Marcelo Carneiro. KĮŶĂŶĐŝĂŵĞŶƚŽĚĂĂƟǀŝĚĂĚĞĚĞƌĞĐƵƉĞƌĂĕĆŽĚĞĐƌĠĚŝƚŽƐƉƷďůŝĐŽƐĨĞĚĞƌĂŝƐŶĆŽƉĂŐŽƐ.
Brasília: SINPROFAZ, 2005. p. 10. Esse valor é absurdamente alto; no entanto, neles não estão incluídas as
dívidas decorrentes de contribuições previdenciárias, que, apenas em 2008, por força da Lei 11.457/2007,
passaram a ser executadas pela Procuradoria da Fazenda Nacional.
16. Aqui, sim, estão incluídos dados referentes aos débitos previdenciários. Fazem parte da cifra, também,
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Antônio Sarmento. KƐŶƷŵĞƌŽƐĚĂW'&E͘WĂƌĂşďĂ͕ϮϬϬϴ͘ƌƟŐŽĂƉƌĞƐĞŶƚĂĚŽĂŽ^/EWZK&ʹ^ŝŶĚŝĐĂƚŽĚŽƐ
Procuradores da Fazenda Nacional.
17. Cf. PGFN EM NÚMEROS, relatório disponível em www.pgfn.gov.br, acessado em 27/01/2017.
18. ͞EĆŽƐĞƚƌĂƚĂĚĞƵŵŝŶƐƚƌƵŵĞŶƚŽĂŵĂŝƐ͕ĞƐŝŵĚŽŝŶƐƚƌƵŵĞŶƚŽĞƐƉĞĐşĮĐŽĞƷŶŝĐŽĚĞƐƟŶĂĚŽĂŽƌĞĐĞďŝŵĞŶƚŽ
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Brito. Processo Judicial Tributário. In: Curso de Direito Tributário. São Paulo: Editora Malheiros. Capítulo
11. Material da 4ª aula da Disciplina Direito Processual Tributário, ministrada no Curso de Especialização
Telepresencial e Virtual de Direito Tributário – UNISUL – REDE LFG.
19. ŽŶǀĠŵĨƌŝƐĂƌƋƵĞĂW'&EƚĞŵƵƟůŝnjĂĚŽĐŽŵƐƵĐĞƐƐŽŵĠƚŽĚŽƐĞdžƚƌĂũƵĚŝĐŝĂŝƐĚĞĐŽďƌĂŶĕĂ͕ĐŽŵŽŽƉƌŽƚĞƐƚŽ
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30 .! ȃ Arthur Moura
Boa parte da doutrina critica a execução fiscal, atribuindo-lhe caráter ditatorial (tal-
vez em virtude de a Lei 6.830 ter sido aprovada ainda sob a égide do regime militar 20)
e excessivamente favorável ao Estado, em flagrante prejuízo à defesa do contribuinte 21.
Embora não caiba aqui um debate sobre a justeza do procedimento de execução fiscal
trazido pela Lei 6.830/80, é imprescindível referenciar que, se por um lado, ao contribuinte
são dadas inúmeras oportunidades de defesa, desde a fase administrativa da cobrança 22
até possibilidade de embargar a execução fiscal 23, o Estado, por seu turno, necessita de
um procedimento especial para cobrar os créditos do público.
Essa é uma distinção importante que desde logo merece ser feita. Os créditos tri-
butários executados não pertencem à União, mas, sim, à sociedade mesma; a União os
administra e os reverte 24 em favor do bem comum. Assim, os créditos tributários não
são meramente créditos públicos, mas créditos do público. E como tal, merecem especial
atenção e esforço na sua arrecadação e recuperação.
A verdade por trás da pecha de inquisitorial, ditatorial ou qualquer outra adjetivação
pejorativa da execução fiscal face ao contribuinte pode ser bem medida e analisada em
contraste com a eficiência desse instrumento. Entre 1994 e julho de 2004, a arrecadação
da dívida ativa da União atingiu pouco mais de R$ 13 bilhões 25. Em termos relativos
esse número é pouco expressivo, já que o estoque da dívida ativa, como visto, era de R$
240 bilhões em 2005 26 e hoje ultrapassa um trilhão de Reais.
Se a execução fiscal é tão desfavorável assim ao contribuinte e tão direcionada aos
interesses fazendários da União, por que o Estado e a sociedade vêm perdendo a guerra
contra a sonegação, com graves prejuízos para a efetivação dos direitos constitucionais
de saúde, moradia e educação, para ficar em apenas três dos principais direitos sociais?
É certo que a resposta passa, sem dúvidas, pela deficiência estrutural do órgão res-
ponsável pelo ajuizamento e acompanhamento processual da execução fiscal 27, além de
diversos outros fatores como lentidão do Poder Judiciário, demora excessiva do envio dos
créditos pela Receita Federal à Procuradoria da Fazenda, para inscrição em dívida ativa
e seu posterior ajuizamento, etc.
20. ĞĂĐŽƌĚŽĐŽŵŵĞƐŵĂ͞ůſŐŝĐĂ͕͟Ăd>ĚĞǀĞƌŝĂƌĞĐĞďĞƌŝŐƵĂůƉĞĐŚĂ͕ŽƵƉŝŽƌ͕ƉŽŝƐƌĞŵŽŶƚĂăĚŝƚĂĚƵƌĂŐĞƚƵůŝƐƚĂ͘
21. Vide, por todos, THEODORO JÚNIOR, Humberto. >ĞŝĚĞdžĞĐƵĕĆŽ&ŝƐĐĂů͗ĐŽŵĞŶƚĄƌŝŽƐĞũƵƌŝƐƉƌƵĚġŶĐŝĂ͘ 8ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
22. A propósito, vale a pena conferir o Decreto 70.235/72, e todas as possibilidades de recurso de que dispõe
o contribuinte.
23. ůĠŵĚŽƐĚĞŵĂŝƐƌĞĐƵƌƐŽƐƉƌŽĐĞƐƐƵĂŝƐƉƌĞǀŝƐƚŽƐŶŽſĚŝŐŽĚĞWƌŽĐĞƐƐŽŝǀŝůĞĚĂƵƟůŝnjĂĕĆŽĚĂĞdžĐĞĕĆŽĚĞ
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ŽƐƚƌŝďƵŶĂŝƐ͕ŝŶĐůƵŝŶĚŽŽ^ƵƉĞƌŝŽƌdƌŝďƵŶĂůĚĞ:ƵƐƟĕĂ͘
24. ŵƚĞƐĞĚĞǀĞƌŝĂƐĞƌĂƐƐŝŵ͕ƉŽƐƚŽƋƵĞŽƐǀĂůŽƌĞƐĂƌƌĞĐĂĚĂĚŽƐĞƐƚĆŽůĞŐĂůŵĞŶƚĞĚĞƐƟŶĂĚŽƐŶŽKƌĕĂŵĞŶƚŽ
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25. CASTRO, etc. Ob. Cit.
26. Vide notas 14 e 13, supra.
27. A propósito, vide os já citados GADELHA, e CASTRO, etc.
INTRODUÇÃO À EXECUÇÃO FISCAL 31
28. No entanto, os ventos da mudança sopram forte na direção contrária. Prova disso são os acalorados debates
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do Prof. Heleno Torres à Câmara dos Deputados sobre os Projetos de Lei 2412/2007 e 5080/2009 entre
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feiçoamento de sua proposta para refoma da LEF.
29. Sobre o tributo como verdadeiro dever fundamentalĐŽŵĂƐƐĞŶƚŽŶĂƉƌſƉƌŝĂĐŽŶƐƟƚƵŝĕĆŽ͕ĐĨ͘E/^͕:ŽƐĠ
Casalta. KĚĞǀĞƌĨƵŶĚĂŵĞŶƚĂůĚĞƉĂŐĂƌŝŵƉŽƐƚŽƐ. Coimbra: Almedina, 2004.
32 .! ȃ Arthur Moura
Com efeito, é inegável que a execução fiscal atua como um dos vários instrumentos
que traduzem na prática cotidiana o magno princípio da igualdade, esculpido no art.
5º da Constituição Federal. Sem dúvidas, a maior forma de injustiça tributária é a desi-
gualdade. Em um Estado Democrático de Direito, é inadmissível que uns contribuam,
muita vez à custa de bastante esforço e suor, para a manutenção e desenvolvimento desse
mesmo Estado e da sociedade que o compõe, enquanto outros escapam ilesos às normas
de tributação que, em tese, deveriam sobre todos incidir com a mesma força e eficácia.
A execução fiscal é instrumento do princípio da igualdade 30. Esse princípio é bastante
caro ao direito tributário, constituindo verdadeiro vetor para a produção legislativa de
normas tributárias 31. Consequência direta do princípio republicano 32, e amalgamado ao
princípio da capacidade contributiva 33, o princípio da igualdade é de fácil visualização
quando da incidência da lei tributária. Mais difícil é enxergá-lo após a incidência da lei.
Explica-se.
O princípio da igualdade, ensina DERZI 34, “impõe seja o tributo quantificado
segundo a capacidade contributiva de cada um, que é diversificada (...) e constrange o
legislador a tributar, de forma idêntica, cidadãos de idêntica capacidade contributiva”.
Esse é o âmbito da produção normativa e de sua incidência. A norma tributária será
elaborada e incidirá de acordo com tais postulados. Após sua incidência, pode acontecer
de um cidadão recolher espontaneamente o tributo, enquanto outro deixa de fazê-lo.
Em tal hipótese – bastante comum 35, anote-se – como o fica o princípio da igual-
dade? Será que basta à Constituição Federal e à sociedade que os critérios de igualdade
cessem no momento em que a norma incidiu, por igual, sobre os contribuintes? Ou a
exigência vai além, demandando que os efeitos dessa incidência também sejam isonômicos
ou igualitários?
A execução fiscal fará justiça fiscal ao igualar o mau pagador ao contribuinte 36.
Compelindo o devedor a pagar o tributo devido, restabelece-se a igualdade entre ele e
o contribuinte: ambos cumpriram seu dever fundamental de pagar tributos e deram, na
medida de suas possibilidades, sua contribuição para a sociedade.
45. ŝƐƉŽŶşĞǀůĞŵŚƩƉ͗ͬͬǁǁǁ͘ƐŝŶƉƌŽĨĂnj͘ŽƌŐ͘ďƌͬϮϬϭϰͬƉƵďůŝĐĂĐĂŽ͘ƉŚƉ͍ŝĚсŶƵŵĞƌŽƐͺƉŐĨŶΘĂƌƋƵŝǀŽсͬƉĚĨƐͬŶƵŵĞ-
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36 .! ȃ Arthur Moura
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tributários) e a violação do devido processo legal manifestado no direito de aces-
ƐŽĂŽƐſƌŐĆŽƐĚŽdžĞĐƵƟǀŽŽƵĚŽ:ƵĚŝĐŝĄƌŝŽƚĂŶƚŽƉĂƌĂĐŽŶƚƌŽůĞĚĂǀĂůŝĚĂĚĞĚŽƐ
créditos tributários quanto para controle do próprio ato que culmina na restrição.
Asseverou que essa orientação não serviria, entretanto, de escusa ao deliberado
e temerário desrespeito à legislação tributária, não havendo se falar em sanção
ƉŽůşƟĐĂƐĞĂƐƌĞƐƚƌŝĕƁĞƐăƉƌĄƟĐĂĚĞĂƟǀŝĚĂĚĞĞĐŽŶƀŵŝĐĂĐŽŵďĂƚĞƐƐĞŵĞƐƚƌƵƚƵ-
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vantagem concorrencial” 46.
Mais uma vez ressalte-se: não se está a dizer que a execução fiscal, quando eficiente
na recuperação do crédito executado, é a única solução para pirataria e para a sonegação.
Ela é mais um componente dentro de uma série de medidas a serem implementadas.
A execução fiscal, portanto, não pode ser vista como instrumento de opressão e
superioridade do Estado sobre a sociedade. Muito ao contrário, é à sociedade, em última
análise, a quem a execução fiscal serve, garantindo-lhe justiça fiscal ao igualar o devedor ao
contribuinte, e assegurando ao mercado o princípio constitucional da livre concorrência.
Por isso, tendo em conta esse caráter social 47 que possui, é importante que a execução
fiscal seja funcional e eficiente. Afinal, a recuperação dos créditos públicos é peça impor-
tante da obtenção de recursos que financiam o Estado, sua manutenção e os programas
assistenciais que possui.
A funcionalidade e a eficiência da execução fiscal podem ser medidas pelos resultados
que ela obtém. Se, ao final do processo executivo, o débito tributário foi devidamente
pago, ela cumpriu sua missão; caso contrário, isto é, se ao longo de anos a fio o processo
se arrasta sem perspectiva de pagamento, prevalece a injustiça tributária.
46. ƌĂƐŝů͘^ƵƉƌĞŵŽdƌŝďƵŶĂů&ĞĚĞƌĂů͘/ŶĨŽƌŵĂƟǀŽEǑϱϬϱʹ^d&͘ƌĂƐşůŝĂ͕ϱĂϵĚĞŵĂŝŽĚĞϮϬϬϴ͘
47. WŽĚĞƌşĂŵŽƐĚŝnjĞƌĐĂƌĄƚĞƌĞdžƚƌĂĮƐĐĂů͕ĞdžƉƌĞƐƐĆŽƋƵĞĐŽŶƐŝĚĞƌĂŵŽƐŵĂŝƐĂďƌĂŶŐĞŶƚĞ͕ƵŵĂǀĞnjƋƵĞƐĞƉŽĚĞ
ĨĂůĂƌĞŵĞdžƚƌĂĮƐĐĂůŝĚĂĚĞƐŽĐŝĂů͕ĞdžƚƌĂĮƐĐĂůŝĚĂĚĞĂŵďŝĞŶƚĂůĞƚĐ͘&ĂůĂƌĞŵĐĂƌĄƚĞƌƐŽĐŝĂůĚĂĞdžĞĐƵĕĆŽĮƐĐĂů
ĠĂĐĞŶƚƵĂƌƐĞƵƐĞĨĞŝƚŽƐƉŽƐŝƟǀŽƐŶĂƐŽĐŝĞĚĂĚĞ͕ƚƌĂnjĞŶĚŽĂŽĐŝĚĂĚĆŽĐŽŶƚƌŝďƵŝŶƚĞĂƐĞŶƐĂĕĆŽĚĞƋƵĞĂůĞŝ
tributária e as obrigações dela decorrentes são igualmente aplicadas a todos.