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Arthur Moura

Lei de
EXECUÇÃO
FISCAL
Comentada e Anotada

2.ª edição
Revista, atualizada e ampliada

2017
INTRODUÇÃO À EXECUÇÃO FISCAL 27

INTRODUÇÃO À
EXECUÇÃO FISCAL

1. A EXECUÇÃO FISCAL COMO INSTRUMENTO ARRECADATÓRIO


No dizer de JARDIM 1, “a simples existência do Estado requer um elevadíssimo
custo, em face dos recursos humanos e materiais necessários à sua organização”. Continua
o mesmo autor: “O cumprimento de seus desígnios, por outro lado, envolve, também,
um expressivo dispêndio de recursos financeiros” 2. Com efeito, “após a decisão política
– promulgação de norma constitucional ou legal – restam estabelecidas as necessidades
públicas. Dá-se origem, assim, à obrigação do Estado de oferecer determinados serviços
aos cidadãos com escopo de satisfazer às referidas necessidades. Como se sabe, a realização
de qualquer serviço gera custos. Por esse motivo, é necessário que o Estado disponha
de recursos financeiros para financiar os serviços por ele proporcionados à população” 3.
O Estado brasileiro, graças ao tamanho de suas dimensões geográficas e de sua má-
quina administrativa, necessita de enorme quantidade de recursos para sua manutenção.
Sobretudo porque a própria Constituição Federal de 1988 atribuiu a esse Estado várias
e importantes obrigações para com a sociedade e com o cidadão 4, a fim de que as suas
necessidades (públicas) sejam atendidas.
O ponto de partida para a compreensão da execução fiscal é exatamente o dever de
atendimento das necessidades públicas por parte do Estado, dever que decorre da Cons-
tituição Federal que impôs a participação do Estado nas mais diversas áreas e setores da
sociedade. O atendimento às necessidades públicas encontra, portanto, forte ressonância
na atual Carta Magna. Com efeito, “com o agigantamento do Estado e sua intervenção
em quase todas as atividades humanas, cresce a importância do estudo das necessidades
públicas” 5.

1. JARDIM, Eduardo Marcial Ferreira. DĂŶƵĂůĚĞĚŝƌĞŝƚŽĮŶĂŶĐĞŝƌŽĞƚƌŝďƵƚĄƌŝŽ. 8ª ed. São Paulo: Saraiva,


2007, p.44.
2. Idem, p. 44.
3. CAMELO, Bradson, LUCENA, Amanda, MOURA, Arthur. >ŝĕƁĞƐĚĞĚŝƌĞŝƚŽĮŶĂŶĐĞŝƌŽ͘ São Paulo: Editora Max
Liminad, 2016.
4. À guisa de exemplo, podemos citar a manutenção de um caro e complexo sistema de Seguridade Social
;Ăƌƚ͘ϭϵϱͿ͕ŽĚĞǀĞƌĚĞĨŽƌŶĞĐĞƌĞĚƵĐĂĕĆŽƉƷďůŝĐĂŐƌĂƚƵŝƚĂ;ĂƌƚƐ͘ϮϬϱ͕ϮϬϴͿĚĞƐƟŶĂŶĚŽĂĞƐƚĂĂƟǀŝĚĂĚĞŶƵŶĐĂ
menos de dezoito por cento da receita resultante de impostos (art. 212), a promoção do desenvolvimento
ĐŝĞŶơĮĐŽ;Ăƌƚ͘ϮϭϴͿĂƉƌŽƚĞĕĆŽĂŽŵĞŝŽͲĂŵďŝĞŶƚĞ;Ăƌƚ͘ϮϮϱͿ͕ĞĂŐĂƌĂŶƟĂĞŝŵƉůĞŵĞŶƚĂĕĆŽĚŽƐĚŝƌĞŝƚŽƐ
sociais, mormente os previstos no art. 6º.
5. OLIVEIRA, Regis Fernandes de. ƵƌƐŽĚĞĚŝƌĞŝƚŽĮŶĂŶĐĞŝƌŽ. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006.
p.57.
28      .!    ȃ Arthur Moura

Definir quais são as necessidades públicas é tarefa da Constituição Federal e das


leis que a complementam 6. Não há dúvidas de que educação, saúde, meio-ambiente,
proteção à família e segurança, entre outras, são necessidades públicas constitucionais,
porque elencadas na Carta Republicana como direitos do cidadão e deveres do Estado.
O atendimento dessas necessidades públicas constitucionais depende, essencialmen-
te, da existência de recursos que façam frente às enormes despesas dali decorrentes. A
atividade financeira do Estado 7, entendida como arrecadação de receitas e realização
de gastos, a fim de atender às necessidades públicas, desempenha verdadeiro leading
role nesse panorama.
A arrecadação de receitas possibilita ao Estado dispor dos meios para traduzir para o
cotidiano do cidadão os direitos abstratamente consignados na Constituição Federal. Os
tributos correspondem à principal fonte de receita do Estado Moderno e deles sociedade
alguma pode prescindir, sob pena de restarem desatendidas as prementes necessidades
dessa mesma sociedade 8.
No âmbito da União, a Receita Federal do Brasil é responsável pela administração
tributária e pela arrecadação espontânea das receitas. Diz-se espontânea porque é o
contribuinte quem, no mais das vezes, declara o valor devido e o recolhe aos cofres
do público, por meio dos mecanismos e procedimentos administrados pela Receita
Federal. Isto é, não há coação processual que o obrigue a pagar o tributo, mesmo
contra sua vontade.
Essa coação só se mostrará presente se o valor devido não for corretamente recolhido,
caso em que a Receita Federal enviará o processo administrativo fiscal, no bojo do qual
está documentado o lançamento tributário, à Procuradoria da Fazenda Nacional, para o
que o débito seja inscrito em dívida ativa da União. A partir daí, abre-se a porta para o
ajuizamento da execução fiscal.
Aliás, registre-se, como se verá adiante, que não há execução fiscal sem um processo
administrativo fiscal que a preceda, mesmo nos casos de débitos não tributários apurados
em sentença, como multas penas e eleitorais.
Segundo MACHADO, “denomina-se execução fiscal a ação de que dispõe a Fazenda
Pública para a cobrança de seus créditos, sejam tributários ou não, desde que inscritos
como Dívida Ativa” 9. O professor cearense em poucas linhas ensina qual o objetivo
principal da execução fiscal: “O objeto da execução fiscal, assim, não é a constituição

6. Idem. p. 58.
7. ŽŶĮƌĂdKZZ^͕ZŝĐĂƌĚŽ>ŽďŽ͕ƵƌƐŽĚĞĚŝƌĞŝƚŽĮŶĂŶĐĞŝƌŽĞƚƌŝďƵƚĄƌŝŽ. 15ª ed. São Paulo: Renovar, 2008.
ŽŶĮƌĂƚĂŵďĠŵŽƐũĄĐŝƚĂĚŽƐ:Z/DĞK>/s/Z͘
8. Sobre tema, Cf. TORRES. Ob. cit.
9. MACHADO, Hugo de Brito. Processo Judicial Tributário. In: Curso de Direito Tributário. São Paulo: Editora
Malheiros. Capítulo 11. Material da 4ª aula da Disciplina Direito Processual Tributário, ministrada no Curso
de Especialização Telepresencial e Virtual de Direito Tributário – UNISUL – REDE LFG.
INTRODUÇÃO À EXECUÇÃO FISCAL 29

nem a declaração do direito, mas a efetivação deste, que se presume, por força de lei,
líquido e certo” 10.
Com efeito, a execução fiscal se destina ao cumprimento forçado da obrigação tri-
butária principal 11 não espontaneamente cumprida pelo contribuinte. Aqui, sim, com o
descumprimento do prazo para pagamento em cinco dias 12, o contribuinte poderá ter
bens de seu patrimônio penhorados 13 e levados à hasta pública 14, a fim de que a dívida
seja paga.
O estoque de dívidas da União inscritas e em fase de execução alcançava, em 2003,
a impressionante cifra de R$ 240 bilhões 15. Os relatórios de gestão da Procuradoria-
-Geral da Fazenda Nacional de 2004-2006 apontavam para valores que alcançam, hoje,
os R$ 760 bilhões em débitos inscritos em dívida ativa da União 16. Dez anos depois, os
débitos em cobrança atingiram a impressionante cifra de R$ 1.387.504.353.743,71 17.
Como se vê, aqueles valores crescem exponencialmente. A execução fiscal é o instru-
mento – o único 18, na seara judicial – de que dispõe a União para receber esses valores,
ao menos na esfera judicial 19. Não se pode negar à execução fiscal seu papel de relevo
na atividade financeira do Estado.

10. /ĚĞŵ͘ŵƌĞůĂĕĆŽĂŝŶƐĐƌŝĕĆŽĞŵĚşǀŝĚĂĂƟǀĂĚĂhŶŝĆŽ͕ƉŽƌĠŵ͕ĂĐƌĞƐĐĞŶƚĂŵŽƐĂƐŽďƐĞƌǀĂĕƁĞƐĚĞEddK
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Carneiro. KĮŶĂŶĐŝĂŵĞŶƚŽĚĂĂƟǀŝĚĂĚĞĚĞƌĞĐƵƉĞƌĂĕĆŽĚĞĐƌĠĚŝƚŽƐƉƷďůŝĐŽƐĨĞĚĞƌĂŝƐŶĆŽƉĂŐŽƐ. Brasília:
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11. ZĞƐƐĂůƚĂŵŽƐƋƵĞĂĞdžĞĐƵĕĆŽĮƐĐĂůƐĞƌǀĞƚĂŵďĠŵĂŽĐƵŵƉƌŝŵĞŶƚŽĨŽƌĕĂĚŽĚĞĚşǀŝĚĂƐŶĆŽƚƌŝďƵƚĄƌŝĂƐ͕ĐŽŵŽ
multas (trabalhistas ou eleitorais, ǀĞƌďŝŐƌĂƟĂ) e até mesmo decorrentes de contratos, como as dívidas do
FISET.
12. Lei 6.830/1980 – Lei de Execução Fiscal (LEF), art. 8º.
13. LEF, art. 10.
14. LEF, art. 22.
15. ^dZK͕ůĚĞŵĄƌŝŽƌĂƷũŽ͕EddK͕ŐŽƐƟŶŚŽĚŽEĂƐĐŝŵĞŶƚŽ͕^Kh͕ZŝĐĂƌĚŽKůŝǀĞŝƌĂWĞƐƐƀĂĚĞ͕s//Z͕
Marcelo Carneiro. KĮŶĂŶĐŝĂŵĞŶƚŽĚĂĂƟǀŝĚĂĚĞĚĞƌĞĐƵƉĞƌĂĕĆŽĚĞĐƌĠĚŝƚŽƐƉƷďůŝĐŽƐĨĞĚĞƌĂŝƐŶĆŽƉĂŐŽƐ.
Brasília: SINPROFAZ, 2005. p. 10. Esse valor é absurdamente alto; no entanto, neles não estão incluídas as
dívidas decorrentes de contribuições previdenciárias, que, apenas em 2008, por força da Lei 11.457/2007,
passaram a ser executadas pela Procuradoria da Fazenda Nacional.
16. Aqui, sim, estão incluídos dados referentes aos débitos previdenciários. Fazem parte da cifra, também,
ĚĠďŝƚŽƐŶĆŽƚƌŝďƵƚĄƌŝŽƐ͕ĞŵďŽƌĂƌĞƉƌĞƐĞŶƚĞŵǀĂůŽƌşŶĮŵŽĞŵƌĞůĂĕĆŽĂŽƚŽƚĂů͘ŽŶĮƌĂ'>,͕DĂƌĐŽ
Antônio Sarmento. KƐŶƷŵĞƌŽƐĚĂW'&E͘WĂƌĂşďĂ͕ϮϬϬϴ͘ƌƟŐŽĂƉƌĞƐĞŶƚĂĚŽĂŽ^/EWZK&ʹ^ŝŶĚŝĐĂƚŽĚŽƐ
Procuradores da Fazenda Nacional.
17. Cf. PGFN EM NÚMEROS, relatório disponível em www.pgfn.gov.br, acessado em 27/01/2017.
18. ͞EĆŽƐĞƚƌĂƚĂĚĞƵŵŝŶƐƚƌƵŵĞŶƚŽĂŵĂŝƐ͕ĞƐŝŵĚŽŝŶƐƚƌƵŵĞŶƚŽĞƐƉĞĐşĮĐŽĞƷŶŝĐŽĚĞƐƟŶĂĚŽĂŽƌĞĐĞďŝŵĞŶƚŽ
ĚĞƚŽĚŽƐŽƐĐƌĠĚŝƚŽƐĐƵũŽƐơƚƵůŽƐƐĆŽĐŽŶƐƟƚƵşĚŽƐƉĞůĂƉƌſƉƌŝĂ&ĂnjĞŶĚĂWƷďůŝĐĂ͕ĞŵƉƌŽĐĞĚŝŵĞŶƚŽƐĂĚŵŝ-
ŶŝƐƚƌĂƟǀŽƐʹǀĂůĞĚŝnjĞƌ͕ƐĞŵƋƵĞƐĞũĂŶĞĐĞƐƐĄƌŝŽŽƉƌŽĐĞƐƐŽũƵĚŝĐŝĂůĚĞĐŽŶŚĞĐŝŵĞŶƚŽ͘͟D,K͕,ƵŐŽĚĞ
Brito. Processo Judicial Tributário. In: Curso de Direito Tributário. São Paulo: Editora Malheiros. Capítulo
11. Material da 4ª aula da Disciplina Direito Processual Tributário, ministrada no Curso de Especialização
Telepresencial e Virtual de Direito Tributário – UNISUL – REDE LFG.
19. ŽŶǀĠŵĨƌŝƐĂƌƋƵĞĂW'&EƚĞŵƵƟůŝnjĂĚŽĐŽŵƐƵĐĞƐƐŽŵĠƚŽĚŽƐĞdžƚƌĂũƵĚŝĐŝĂŝƐĚĞĐŽďƌĂŶĕĂ͕ĐŽŵŽŽƉƌŽƚĞƐƚŽ
ĚĂƐĞƌƟĚƁĞƐĚĞşǀŝĚĂƟǀĂĚĂhŶŝĆŽ͕ƋƵĞƌĞĐƵƉĞƌŽƵĞŵϮϬϭϰĂĐŽŶƐŝĚĞƌĄǀĞůĐŝĨƌĂZΨϮϮϰŵŝůŚƁĞƐ͘
30      .!    ȃ Arthur Moura

Boa parte da doutrina critica a execução fiscal, atribuindo-lhe caráter ditatorial (tal-
vez em virtude de a Lei 6.830 ter sido aprovada ainda sob a égide do regime militar 20)
e excessivamente favorável ao Estado, em flagrante prejuízo à defesa do contribuinte 21.
Embora não caiba aqui um debate sobre a justeza do procedimento de execução fiscal
trazido pela Lei 6.830/80, é imprescindível referenciar que, se por um lado, ao contribuinte
são dadas inúmeras oportunidades de defesa, desde a fase administrativa da cobrança 22
até possibilidade de embargar a execução fiscal 23, o Estado, por seu turno, necessita de
um procedimento especial para cobrar os créditos do público.
Essa é uma distinção importante que desde logo merece ser feita. Os créditos tri-
butários executados não pertencem à União, mas, sim, à sociedade mesma; a União os
administra e os reverte 24 em favor do bem comum. Assim, os créditos tributários não
são meramente créditos públicos, mas créditos do público. E como tal, merecem especial
atenção e esforço na sua arrecadação e recuperação.
A verdade por trás da pecha de inquisitorial, ditatorial ou qualquer outra adjetivação
pejorativa da execução fiscal face ao contribuinte pode ser bem medida e analisada em
contraste com a eficiência desse instrumento. Entre 1994 e julho de 2004, a arrecadação
da dívida ativa da União atingiu pouco mais de R$ 13 bilhões 25. Em termos relativos
esse número é pouco expressivo, já que o estoque da dívida ativa, como visto, era de R$
240 bilhões em 2005 26 e hoje ultrapassa um trilhão de Reais.
Se a execução fiscal é tão desfavorável assim ao contribuinte e tão direcionada aos
interesses fazendários da União, por que o Estado e a sociedade vêm perdendo a guerra
contra a sonegação, com graves prejuízos para a efetivação dos direitos constitucionais
de saúde, moradia e educação, para ficar em apenas três dos principais direitos sociais?
É certo que a resposta passa, sem dúvidas, pela deficiência estrutural do órgão res-
ponsável pelo ajuizamento e acompanhamento processual da execução fiscal 27, além de
diversos outros fatores como lentidão do Poder Judiciário, demora excessiva do envio dos
créditos pela Receita Federal à Procuradoria da Fazenda, para inscrição em dívida ativa
e seu posterior ajuizamento, etc.

20. ĞĂĐŽƌĚŽĐŽŵŵĞƐŵĂ͞ůſŐŝĐĂ͕͟Ăd>ĚĞǀĞƌŝĂƌĞĐĞďĞƌŝŐƵĂůƉĞĐŚĂ͕ŽƵƉŝŽƌ͕ƉŽŝƐƌĞŵŽŶƚĂăĚŝƚĂĚƵƌĂŐĞƚƵůŝƐƚĂ͘
21. Vide, por todos, THEODORO JÚNIOR, Humberto. >ĞŝĚĞdžĞĐƵĕĆŽ&ŝƐĐĂů͗ĐŽŵĞŶƚĄƌŝŽƐĞũƵƌŝƐƉƌƵĚġŶĐŝĂ͘ 8ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
22. A propósito, vale a pena conferir o Decreto 70.235/72, e todas as possibilidades de recurso de que dispõe
o contribuinte.
23. ůĠŵĚŽƐĚĞŵĂŝƐƌĞĐƵƌƐŽƐƉƌŽĐĞƐƐƵĂŝƐƉƌĞǀŝƐƚŽƐŶŽſĚŝŐŽĚĞWƌŽĐĞƐƐŽŝǀŝůĞĚĂƵƟůŝnjĂĕĆŽĚĂĞdžĐĞĕĆŽĚĞ
ƉƌĠͲĞdžĞĐƵƟǀŝĚĂĚĞ;ŽďũĞĕĆŽĚĞŶĆŽĞdžĞĐƵƟǀŝĚĂĚĞͿ͕ũĄƉůĞŶĂŵĞŶƚĞƌĞĐŽŶŚĞĐŝĚĂƉĞůĂũƵƌŝƐƉƌƵĚġŶĐŝĂĚĞƚŽĚŽƐ
ŽƐƚƌŝďƵŶĂŝƐ͕ŝŶĐůƵŝŶĚŽŽ^ƵƉĞƌŝŽƌdƌŝďƵŶĂůĚĞ:ƵƐƟĕĂ͘
24. ŵƚĞƐĞĚĞǀĞƌŝĂƐĞƌĂƐƐŝŵ͕ƉŽƐƚŽƋƵĞŽƐǀĂůŽƌĞƐĂƌƌĞĐĂĚĂĚŽƐĞƐƚĆŽůĞŐĂůŵĞŶƚĞĚĞƐƟŶĂĚŽƐŶŽKƌĕĂŵĞŶƚŽ
ĞďĞŵĂƐƐŝŵŽĞdžŝŐĞŽŽŶƐƟƚƵŝĕĆŽ&ĞĚĞƌĂů͘KƐĚĞƐǀŝŽƐĚĞĐŽƌƌĞŶƚĞƐĚĞĐŽƌƌƵƉĕĆŽ͕ŵĂůǀĞƌƐĂĕĆŽĞŽƵƚƌĂƐ
ŵĂnjĞůĂƐĚĂĚŵŝŶŝƐƚƌĂĕĆŽWƷďůŝĐĂƐƐĆŽƋƵĞƐƚƁĞƐĞdžƚƌĂƚƌŝďƵƚĄƌŝĂƐ͕ƚƌĂƚĂĚĂƐŶĂƐĞƐĨĞƌĂƐƉĞŶĂůĞƉŽůşƟĐĂ͘
25. CASTRO, etc. Ob. Cit.
26. Vide notas 14 e 13, supra.
27. A propósito, vide os já citados GADELHA, e CASTRO, etc.
INTRODUÇÃO À EXECUÇÃO FISCAL 31

É necessário repensar a execução fiscal como instrumento de recuperação de cré-


ditos. O modelo que temos hoje claramente não responde às necessidades do Estado e
da sociedade, haja visto a baixa recuperabilidade dos créditos fiscais. Seja por meio da
execução fiscal administrativa (EFA) ou da completa reformulação da Lei 8.630 (Lei das
Execuções Fiscais), a execução fiscal precisa se tornar efetivamente o meio de igualar o
sonegador ao contribuinte honesto e bom pagador.
A PGFN tem feito seu papel, neste particular, implementando modelos de cobrança
extrajudicial que têm se mostrado bastante eficientes e que complementam a cobrança
judicial. Mesmo o processamento da execução fiscal, com o Regime Diferenciado de
Cobrança de Créditos – RDCC, passa por inegável modernização, como se verá adiante.

2. CARÁTER SOCIAL DA EXECUÇÃO FISCAL. PRINCÍPIOS DA IGUALDA-


DE E DA LIVRE CONCORRÊNCIA
Como visto, a execução é ferramenta processual utilizada pelo Estado para compelir
o contribuinte a recolher os valores que espontaneamente deixou de carrear aos cofres
públicos. Além do caráter eminentemente fiscal, esse instrumento possui funções extra-
fiscais ainda não devidamente exploradas pela doutrina. De um lado, isso decorre do
preconceito, já mencionado alhures, de que padece a execução fiscal. De outro, o próprio
Estado parece não perceber a importância extrafiscal que ela tem 28.
Em poucas linhas, será visto que, modernamente, a execução fiscal deve ser entendida
como instrumento posto a serviço do Estado a fim de igualar o devedor ao contribuinte,
impondo àquele o cumprimento forçado do dever fundamental de pagar os tributos
constitucionais.
Despida de preconceitos criados ao longo dos anos por contribuintes que viam a
execução como mais um meio de que se valia o “Estado opressor” para esmagar os direitos
do cidadão, a execução fiscal se presta à nobre e constitucional finalidade de fazer com
que o Estado possua os recursos necessários à consecução dos vários dizeres constitucionais
(sobretudo no que concerne aos indispensáveis, porém dispendiosos, direitos à saúde,
moradia, educação e segurança) e garanta a igualdade entre o cidadão que contribuiu
espontaneamente (recolhendo seus tributos) e o que se furtou a fazê-lo 29.

28. No entanto, os ventos da mudança sopram forte na direção contrária. Prova disso são os acalorados debates
ƐŽďƌĞĂŽWƌŽũĞƚŽĚĞ>ĞŝƋƵĞǀĞƌƐĂĂdžĞĐƵĕĆŽ&ŝƐĐĂůĚŵŝŶŝƐƚƌĂƟǀĂ͘ŽŶĮƌĂ͕ĂƉƌŽƉſƐŝƚŽ͕ŵĂƚĠƌŝĂƉƵďůŝĐĂĚĂŶŽ
ƐşƟŽĞůĞƚƌƀŶŝĐŽĚĂ:h&ʹƐƐŽĐŝĂĕĆŽĚŽƐ:ƵŝnjĞƐ&ĞĚĞƌĂŝƐĚŽƌĂƐŝů;ŚƩƉ͗ͬͬǁǁǁ͘ĂũƵĨĞ͘ŽƌŐ͘ďƌͬϬϬϯͬϬϬϯϬϭϬϬϵ͘
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ƐƵůƚŽƌ:ƵƌşĚŝĐŽ;ŚƩƉ͗ͬͬĐŽŶũƵƌ͘ĞƐƚĂĚĂŽ͘ĐŽŵ͘ďƌͬƐƚĂƟĐͬƚĞdžƚͬϲϯϰϭϱ͕ϭ͕ĂĐĞƐƐĂĚĂĞŵϭǑĚĞũƵŶŚŽĚĞϮϬϬϴͿ͘DĂŝƐ
ƌĞĐĞŶƚĞŵĞŶƚĞ͕ŽĚĞďĂƚĞƚĞŵƐŝĚŽƐŽďƌĞĂƌĞĨŽƌŵĂĚĂ>&͕ĐŽŵŽƐĞĚĞƉƌĞĞŶĚĞĚĞĚŝĚĄƟĐĂĂƉƌĞƐĞŶƚĂĕĆŽ
do Prof. Heleno Torres à Câmara dos Deputados sobre os Projetos de Lei 2412/2007 e 5080/2009 entre
ŽƵƚƌŽƐ;ĚŝƐƉŽŶşǀĞůĞŵŚƩƉ͗ͬͬǁǁǁϮ͘ĐĂŵĂƌĂ͘ůĞŐ͘ďƌͬĂƟǀŝĚĂĚĞͲůĞŐŝƐůĂƟǀĂͬĐŽŵŝƐƐŽĞƐͬĐŽŵŝƐƐŽĞƐͲƚĞŵƉŽƌĂƌŝĂƐͬ
ĞƐƉĞĐŝĂŝƐͬϱϱĂͲůĞŐŝƐůĂƚƵƌĂͬƉůͲϮϰϭϮͲϬϳͲĞdžĞĐƵĐĂŽͲĚĂͲĚŝǀŝĚĂͲĂƟǀĂͬĚŽĐƵŵĞŶƚŽƐͬĂƵĚŝĞŶĐŝĂƐͲƉƵďůŝĐĂƐͬŚĞůĞŶŽ-
ͲƚŽƌƌĞƐͲĚĂͲƵŶŝǀĞƌƐŝĚĂĚĞͲĚĞͲƐĂŽͲƉĂƵůŽͲƵƐƉ͕ĂĐĞƐƐĂĚŽĞŵϮϵͬϬϭͬϮϬϭϳͿ͘W'&EĞƐƚĄĞŵĨĂƐĞĮŶĂůĚĞĂƉĞƌ-
feiçoamento de sua proposta para refoma da LEF.
29. Sobre o tributo como verdadeiro dever fundamentalĐŽŵĂƐƐĞŶƚŽŶĂƉƌſƉƌŝĂĐŽŶƐƟƚƵŝĕĆŽ͕ĐĨ͘E/^͕:ŽƐĠ
Casalta. KĚĞǀĞƌĨƵŶĚĂŵĞŶƚĂůĚĞƉĂŐĂƌŝŵƉŽƐƚŽƐ. Coimbra: Almedina, 2004.
32      .!    ȃ Arthur Moura

Com efeito, é inegável que a execução fiscal atua como um dos vários instrumentos
que traduzem na prática cotidiana o magno princípio da igualdade, esculpido no art.
5º da Constituição Federal. Sem dúvidas, a maior forma de injustiça tributária é a desi-
gualdade. Em um Estado Democrático de Direito, é inadmissível que uns contribuam,
muita vez à custa de bastante esforço e suor, para a manutenção e desenvolvimento desse
mesmo Estado e da sociedade que o compõe, enquanto outros escapam ilesos às normas
de tributação que, em tese, deveriam sobre todos incidir com a mesma força e eficácia.
A execução fiscal é instrumento do princípio da igualdade 30. Esse princípio é bastante
caro ao direito tributário, constituindo verdadeiro vetor para a produção legislativa de
normas tributárias 31. Consequência direta do princípio republicano 32, e amalgamado ao
princípio da capacidade contributiva 33, o princípio da igualdade é de fácil visualização
quando da incidência da lei tributária. Mais difícil é enxergá-lo após a incidência da lei.
Explica-se.
O princípio da igualdade, ensina DERZI 34, “impõe seja o tributo quantificado
segundo a capacidade contributiva de cada um, que é diversificada (...) e constrange o
legislador a tributar, de forma idêntica, cidadãos de idêntica capacidade contributiva”.
Esse é o âmbito da produção normativa e de sua incidência. A norma tributária será
elaborada e incidirá de acordo com tais postulados. Após sua incidência, pode acontecer
de um cidadão recolher espontaneamente o tributo, enquanto outro deixa de fazê-lo.
Em tal hipótese – bastante comum 35, anote-se – como o fica o princípio da igual-
dade? Será que basta à Constituição Federal e à sociedade que os critérios de igualdade
cessem no momento em que a norma incidiu, por igual, sobre os contribuintes? Ou a
exigência vai além, demandando que os efeitos dessa incidência também sejam isonômicos
ou igualitários?
A execução fiscal fará justiça fiscal ao igualar o mau pagador ao contribuinte 36.
Compelindo o devedor a pagar o tributo devido, restabelece-se a igualdade entre ele e
o contribuinte: ambos cumpriram seu dever fundamental de pagar tributos e deram, na
medida de suas possibilidades, sua contribuição para a sociedade.

30. ^ŽďƌĞŽƉƌŝŶĐşƉŝŽĚĂŝŐƵĂůĚĂĚĞŶŽƐƚĞƌŵŽƐĚĂŽŶƐƟƚƵŝĕĆŽ&ĞĚĞƌĂů͕ĐĨ͘DKZ^͕ůĞdžĂŶĚƌĞĚĞ͘Direito cons-


ƟƚƵĐŝŽŶĂů͘16ª ed. São Paulo: Atlas, 2004; sobre o princípio da igualdade no direito tributário, cf. MARTINS,
Ives Gandra da Silva. ŝƌĞŝƚŽĐŽŶƐƟƚƵĐŝŽŶĂůŝŶƚĞƌƉƌĞƚĂĚŽ. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992.
31. Cf. AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 135.
32. Cf. CARRAZZA, Roque. ƵƌƐŽĚĞĚŝƌĞŝƚŽĐŽŶƐƟƚƵĐŝŽŶĂůƚƌŝďƵƚĄƌŝŽ͘ 23ª ed. São Paulo, 2007.
33. AMARO, Luciano. Ob. Cit. p. 137.
34. DERZI, Misabel de Abreu. KŝŵƉŽƐƚŽƐŽďƌĞĂƉƌŽƉƌŝĞĚĂĚĞƉƌĞĚŝĂůĞƚĞƌƌŝƚŽƌŝĂůƵƌďĂŶĂ. São Paulo, Saraiva:
1982; citada por COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro. 9ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2007, p. 271.
35. ,ĂũĂǀŝƐƚŽŽǀŽůƵŵŽƐŽĞƐƚŽƋƵĞĚĂĚşǀŝĚĂĂƟǀĂĚĂhŶŝĆŽ͕ĐŽŵŽũĄŵĞŶĐŝŽŶĂĚŽ.
36. sŝĚĞ͕ĂƉƌŽƉſƐŝƚŽĚĂŝŐƵĂůĚĂĚĞĐŽŵŽǀĂůŽƌĚĂĂƚƌŝďƵŝĕĆŽĐŽŶƐƟƚƵĐŝŽŶĂůĚĂWƌŽĐƵƌĂĚŽƌŝĂͲ'ĞƌĂůĚĂ&ĂnjĞŶĚĂ
EĂĐŝŽŶĂůĚĞĐŽďƌĂƌĂĚşǀŝĚĂĂƟǀĂĚĂhŶŝĆŽ͕^dZK͕ůĚĞŵĄƌŝŽƌĂƷũŽ͘Procuradoria-Geral da Fazenda Na-
ĐŝŽŶĂů͗ƵŵĂƐŽůƵĕĆŽǀŝĄǀĞůĞƐŽĐŝĂůŵĞŶƚĞũƵƐƚĂƉĂƌĂŽĂƵŵĞŶƚŽĐŽŶƐŝƐƚĞŶƚĞĞĚƵƌĂĚŽƵƌŽĚĂĂƌƌĞĐĂĚĂĕĆŽ.
ϮϬϬϯ͘ƌƟŐŽƉƵďůŝĐĂĚŽĞŵǁǁǁ͘ĂůĚĞŵĂƌŝŽ͘ĂĚǀ͘ŐŽǀ͕ĂĐĞƐƐĂĚŽĞŵϰĚĞũƵŶŚŽĚĞϮϬϬϴ͘
INTRODUÇÃO À EXECUÇÃO FISCAL 33

Além de consolidar, na seara tributária, o princípio da igualdade, a execução fiscal


também densifica, nesta mesma seara, o princípio da livre concorrência. A carga tributária
no Brasil é reconhecidamente alta 37. Deixar de recolher os tributos devidos configura
inegável abuso do poder econômico tendente à dominação do mercado, à eliminação da
concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros, fatos que à lei cabe reprimir 38.
Essa repressão não se dá apenas por uma única lei (in casu, a Lei 12.529/2011), mas
por todo o sistema normativo tributário e comercial, que deve ser interpretado e aplicado
tendo em conta essa determinação constitucional de proteção à livre concorrência. A
Jurisprudência não tem fugido a esse mister. Mais e mais os Tribunais têm encontrado
relação direta entre o não pagamento de tributos e a derrocada da livre concorrência.
Por sua clareza e precisão, dentre numerosos arestos, citam-se como exemplo os seguintes
excertos:
“No caso analisado, essas restrições decorrem da fraude nos atos de importação,
para se evitar que propaguem suas consequências danosas, sendo a imediata a
ƐŽŶĞŐĂĕĆŽĮƐĐĂůĞĂŵĞĚŝĂƚĂĂĚĞǀĂƐƚĂĕĆŽŐĞƌĂĚĂŶŽŵĞƌĐĂĚŽŝŶƚĞƌŶŽ͕ĞŵůŽŶŐŽ
ƉƌĂnjŽ͕ĐŽŵůĞƐĆŽŶĂŽƌĚĞŵĞĐŽŶƀŵŝĐĂŝŶƚĞƌŶĂ͕ĞƐƉĞĐŝĮĐĂŵĞŶƚĞŶŽ ąŵďŝƚŽĚĂ
livre concorrência” 39.
“Ademais, não se pode olvidar que a questão é grave, pois o IPI representa 46%
da carga tributária incidente sobre cigarros. Com o deferimento do pleito [liminar
para não recolher o imposto], a empresa autora comercializa os produtos abaixo
dos custos de produção dos demais fabricantes, em prejuízo da livre concorrência,
do erário e daqueles que cumprem com suas obrigações tributárias” 40.

Em ambos os casos, as Cortes Regionais entenderam que o não pagamento dos


tributos por uma empresa representa direto desequilíbrio da livre concorrência. Mesmo
os contribuintes começam a ter a exata noção do termo justiça fiscal. Segundo relatório
do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial – ETCO 41
͞KũƵƐƚŽĞƋƵŝůşďƌŝŽĞŶƚƌĞŽǀĂůŽƌĚŽƐŝŵƉŽƐƚŽƐĞĂĚĞŵŽĐƌĂƟnjĂĕĆŽĚĂďĂƐĞĚĞ
ĂƌƌĞĐĂĚĂĕĆŽĠĂĨŽƌŵĂŵĂŝƐĞĮĐĂnjĚĞŽƌŐĂŶŝnjĂƌŽƐŝƐƚĞŵĂƚƌŝďƵƚĄƌŝŽ͕ŝŶŝďŝŶĚŽĂ
ƐŽŶĞŐĂĕĆŽĞ͕ĐŽŵŽĚĞƐĚŽďƌĂŵĞŶƚŽ͕ŽƐŝŵƉĂĐƚŽƐŶĞŐĂƟǀŽƐĚĂĐŽŶĐŽƌƌġŶĐŝĂŝůĞŐĂů͘
ŽŶƚƵĚŽ͕ŽƌĂƐŝů͕ĂŽůŽŶŐŽĚĞƐƵĂŚŝƐƚſƌŝĂ͕ƚĞŵĐĂŵŝŶŚĂĚŽŶŽƐĞŶƟĚŽŝŶǀĞƌƐŽ͕
com consequências perversas para o desenvolvimento.

37. Cf. GARCIA, Fernando (coordenador). /ŵƉĂĐƚŽƐŵĂĐƌŽĞĐŽŶƀŵŝĐŽƐ͕ƌĞŐŝŽŶĂŝƐĞƐĞƚŽƌŝĂŝƐĚĂƌĞĨŽƌŵĂƚƌŝďƵ-


tária – Relatório de trabalho nº 1͘/ŶƐƟƚƵƚŽƌĂƐŝůĞŝƌŽĚĞƟĐĂŽŶĐŽƌƌĞŶĐŝĂůʹdK͘WƵďůŝĐĂĚŽĞŵŚƩƉ͗ͬͬ
ǁǁǁ͘ĞƚĐŽ͘ŽƌŐ͘ďƌͬƵƐĞƌͺĮůĞͬƐƚƵĚŽͺdKͺ&'s͘ƉĚĨ͕ĂĐĞƐƐĂĚŽĞŵϰĚĞũƵŶŚŽĚĞϮϬϬϴ͘
38. ŽŶƐƟƚƵŝĕĆŽ&ĞĚĞƌĂů͕Ăƌƚ͘ϭϳϯ͕ΑϰǑ͘
39. BRASIL. Tribunal Regional Federal da 3ª Região. TRF3. Apelação em mandado de segurança.Processual civil.
ĚŵŝŶŝƐƚƌĂƟǀŽ͘ĚƵĂŶĞŝƌĂ͘ŶǑϭϱϭ͘ϲϱϯͬD'͘ZĞůĂƚŽƌ͗:ƵşnjĂůŝĂŶĂ DĂƌĐĞůŽ͘^ĆŽWĂƵůŽ͕^W͕ϳĚĞũĂŶĞŝƌŽĚĞ
2008.
40. BRASIL. Tribunal Regional Federal da 2ª Região. TRF2. Apelação cível. IPI. Cigarros. Alteração da forma de
ĐĄůĐƵůŽƉĞůŽĞĐƌĞƚŽŶǑϯ͘ϬϳϬͬϵϵ͘ŽŶƐƟƚƵĐŝŽŶĂůŝĚĂĚĞ͘ŶǑϯϵϲ͘ϳϬϬͬZ:͘ZĞůĂƚŽƌ͗:Ƶŝnj>ƵŝnjŶƚŽŶŝŽ^ŽĂƌĞƐ͘ZŝŽ
de Janeiro, RJ. 23 de outubro de 2007.
41. ETCO. Impactos Macroeconômicos, Regionais e Setoriais da Reforma Tributária. Relatório de Trabalho nº
ϭ͘ŝƐƉŽŶşǀĞůĞŵŚƩƉ͗ͬͬǁǁǁ͘ĞƚĐŽ͘ŽƌŐ͘ďƌͬƵƐĞƌͺĮůĞͬƐƚƵĚŽͺdKͺ&'s͘ƉĚĨ͕ĂĐĞƐƐĂĚŽĞŵϮϵͬϬϭͬϮϬϭϳ͘W͘Ϭϰ͘
34      .!    ȃ Arthur Moura

“A primeira delas é a cultura da sonegação, que afeta toda a cadeia de produção e


ĐƌŝĂƵŵƉŽĚĞƌŽƐŽĚŝĨĞƌĞŶĐŝĂůĐŽŵƉĞƟƟǀŽƉĂƌĂĂƐĞŵƉƌĞƐĂƐƋƵĞĂŐĞŵŶĂŝůĞŐĂůŝĚĂ-
ĚĞ͕ƋƵĞŶĆŽĐƵŵƉƌĞŵĐŽŵƐƵĂƐŽďƌŝŐĂĕƁĞƐĮƐĐĂŝƐŽƵƐĞĚĞĚŝĐĂŵĂŽĐŽŶƚƌĂďĂŶĚŽ
ĞăƐƉƌĄƟĐĂƐĚĞƉŝƌĂƚĂƌŝĂ͘ůĠŵĚŽƐĐŽĨƌĞƐƉƷďůŝĐŽƐ͕ƉĞƌĚĞŵŽƐ ƚƌĂďĂůŚĂĚŽƌĞƐ
que, sem empregos formais, se veem privados de melhores condições de renda
ĞĂƐĐĞŶƐĆŽƉƌŽĮƐƐŝŽŶĂů͘
“Perde também a economia, porque, no embate com a concorrência ilegal, uma
ĚĂƐƉƌŝŵĞŝƌĂƐǀşƟŵĂƐĠĂĐŽŵƉĞƟƟǀŝĚĂĚĞ͘ŚĄĂŝŶĚĂƉƌĞũƵşnjŽƐĞŵĐĂĚĞŝĂƉĂƌĂ
toda a sociedade que, sem que se perceba, vão destruindo a sua capacidade de
geração de riquezas, minando seus valores essenciais.”

Para ilustrar a situação, o estudo do ETCO 42 apresenta o seguinte caso:


͞ƐƚƵĚŽĚĂ'sĐŽŶƐƵůƚƌĞĂůŝnjĂĚŽƉĂƌĂŽ^ŝŶĚŝĐĂƚŽĚĂŽŶƐƚƌƵĕĆŽŝǀŝůĚĞ^ĆŽWĂƵůŽ
ƌĞǀĞůŽƵƋƵĞĂƐĞŵƉƌĞƐĂĨŽƌŵĂŝƐĚĂĐŽŶƐƚƌƵĕĆŽĐŝǀŝů͕ĐƵũĂƉĂƌƟĐŝƉĂĕĆŽŶŽǀĂůŽƌ
ĂĚŝĐŝŽŶĂĚŽĚĂŝŶĚƷƐƚƌŝĂďƌĂƐŝůĞŝƌĂĚĂĐŽŶƐƚƌƵĕĆŽĠĚĞϯϱй͕ĨŽƌĂŵƌĞƐƉŽŶƐĄǀĞŝƐ
por 70% da arrecadação de impostos e contribuições do setor da construção. Isso
ƐŝŐŶŝĮĐĂĚŝnjĞƌƋƵĞ͕ĞŶƋƵĂŶƚŽĂƐĞŵƉƌĞƐĂƐĨŽƌŵĂŝƐĚĂĐŽŶƐƚƌƵĕĆŽĐŝǀŝůŽďƐĞƌǀĂƌĂŵ
ƵŵĂĐĂƌŐĂƚƌŝďƵƚĄƌŝĂĚĞϱϱ͕ϮйĚŽƐĞƵǀĂůŽƌĂĚŝĐŝŽŶĂĚŽ͕ĂĐĂƌŐĂƚƌŝďƵƚĄƌŝĂĚŽƐĞƚŽƌ
ŝŶĨŽƌŵĂůĚĂĐŽŶƐƚƌƵĕĆŽĨŽŝĚĞĂƉĞŶĂƐϭϮ͕ϱй͘KƵƐĞũĂ͕ĚĞŶƚƌŽĚĞƵŵŵĞƐŵŽƐĞƚŽƌĚĞ
ĂƟǀŝĚĂĚĞŚĄĞŵƉƌĞƐĂƐƋƵĞƉĂŐĂŵϰϮƉŽŶƚŽƐƉĞƌĐĞŶƚƵĂŝƐĚĞƐĞƵǀĂůŽƌĂĚŝĐŝŽŶĂĚŽ
a mais de impostos do que outras empresas, o que compromete sobremaneira
ƐƵĂĐŽŵƉĞƟƟǀŝĚĂĚĞĞĂƉƌſƉƌŝĂƉƌŽĚƵƟǀŝĚĂĚĞ͘͟

É evidente que o problema da informalidade e da sonegação como impeditivos à


plenitude da livre concorrência não se resolverá apenas com a melhoria do aparato proces-
sual para recuperação dos créditos públicos não pagos. É necessário aprimorar o próprio
sistema tributário nacional. Não pode haver dúvidas, contudo, de que a impunidade que
grassa entre os sonegadores 43 e a confiança que eles têm na dificuldade do Estado em
executar os créditos tributários, por um lado, e a facilidade com que podem “blindar”
seu patrimônio, por outro, estimulam o não pagamento de tributos.
Isso já foi percebido pelo Banco Mundial, conforme nota emitida por aquela im-
portante instituição 44:
͞/ŶĨŽƌŵĂůŝƚLJŵĂƩĞƌƐďĞĐĂƵƐĞŝƚĚĞƚĞƌƐŝŶǀĞƐƚŵĞŶƚĂŶĚƉƌŽĚƵĐƟǀŝƚLJŐƌŽǁƚŚ͘Ƶƚ
ǁŚĂƚĐĂŶďĞĚŽŶĞĂďŽƵƚŝƚ͍hŶĨŽƌƚƵŶĂƚĞůLJ͕ŐŽǀĞƌŶŵĞŶƚƐŽŌĞŶǁŽƌƐĞŶƚŚĞƐŝƚƵĂƟŽŶ
by adding to the tax and regulatory burden to compensate for poor enforcement.”
(...)
͞dĂĐŬůŝŶŐŝŶĨŽƌŵĂůŝƚLJĂůƐŽƌĞƋƵŝƌĞƐŐŽǀĞƌŶŵĞŶƚƐƚŽƉĂLJŵŽƌĞĂƩĞŶƟŽŶƚŽĞŶĨŽƌĐĞŵĞŶƚ͘͟

42. Idem. p. 14.


43. EŽƌĞůĂƚſƌŝŽ^dhK^KZ/DWdK^K^WZ>DEdK^^W//^;ĚŝƐƉŽŶşǀĞůĞŵĮůĞ͗ͬͬͬ͗ͬhƐĞƌƐͬ
pgfn/Downloads/Estudo-sobre-os-impactos-dos-parcelamentos-especiais.pdf, acessado em 29/01/2017) a
Receita Federal demonstra que a sucessão de parcelamentos com generosos descontos tem servido apenas
ĚĞĞƐơŵƵůŽăƐŽŶĞŐĂĕĆŽĞăƌŽůĂŐĞŵĚĞĚşǀŝĚĂ͕ĐŽŵŝŵƉĂĐƚŽŶĞŐĂƟǀŽƐŽďƌĞĂĂƌƌĞĐĂĚĂĕĆŽ͘ŽŵĞĨĞŝƚŽ͕Ž
ĚĞǀĞĚŽƌĐŽŶƚƵŵĂnjĮĐĂƐĞŵƉƌĞăĞƐƉĞƌĂĚĞƵŵŶŽǀŽďĞŶĞİĐŝŽĮƐĐĂů͕ĂŽŝŶǀĠƐĚĞƌĞŐƵůĂƌŝnjĂƌƉŽƌĐŽŵƉůĞƚŽ
ƐƵĂƐƉĞŶĚġŶĐŝĂƐĮƐĐĂŝƐ͘
44. KENYON, Thomas, KAPAZ, Emerson. dŚĞŝŶĨŽƌŵĂůŝƚLJƚƌĂƉ͗ƚĂdžĞǀĂƐŝŽŶ͕ĮŶĂŶĐĞĂŶĚƉƌŽĚƵĐƟǀŝƚLJŝŶƌĂnjŝů.
The World Bank Group. Private Sector Development Vice Presidency. Note number 301. December, 2005.
In͗ŚƩƉ͗ͬͬǁǁǁ͘ĞƚĐŽ͘ŽƌŐ͘ďƌͬƵƐĞƌͺĮůĞͬĞƚĐŽͺϯϬϭ<ĞŶLJŽŶͺ<ĂƉĂnj͘ƉĚĨ͘
INTRODUÇÃO À EXECUÇÃO FISCAL 35

Uma das respostas ao diminuto enforcement processual é exatamente uma execução


fiscal que consiga recuperar o crédito executado, principalmente quando a empresa não
possui patrimônio que garanta as dívidas tributárias.
Como se vê, não há liberdade de concorrência em igualdade de condições se uma
determinada empresa opera dentro da legalidade tributária, recolhendo aos cofres públicos
aquilo que lhe é devido, ao tempo em que outra empresa, do mesmo ramo, beneficia-
-se com o não pagamento de tributos. Aquela que não pagou o que era por ela devido
certamente vendeu suas mercadorias ou serviços por um melhor preço, obteve mais
capacidade de investimento e percebeu uma margem maior de lucros. Bom para aquela
empresa; péssimo para sua concorrente, que será penalizada com prejuízos pelo só fato
de ter cumprido a legislação tributária; pior ainda para a sociedade, refém de recursos já
sabidamente escassos.
De acordo com GADELHA (2008) 45,
͞WĞƐƋƵŝƐĂĚĂ&ĞĚĞƌĂĕĆŽĚŽŽŵĠƌĐŝŽĚŽƐƚĂĚŽĚŽZŝŽĚĞ:ĂŶĞŝƌŽͬ/ƉƐŽƐ͕ĞĨĞƚƵĂĚĂ
ĞŵąŵďŝƚŽŶĂĐŝŽŶĂů͕ĂƉŽŶƚĂƋƵĞϰϮйĚŽƐďƌĂƐŝůĞŝƌŽƐĐŽŵƉƌĂƌĂŵĂůŐƵŵƉƌŽĚƵƚŽ
ƉŝƌĂƚĂĞŵϮϬϬϲ͘dƌĂŶƐĨŽƌŵĂĚŽĞŵŶƷŵĞƌŽƐĂďƐŽůƵƚŽƐ͕ĞƐƚĞƉĞƌĐĞŶƚƵĂůŝŶĚŝĐĂƋƵĞ
aproximadamente 79 milhões de brasileiros adquiriram alguma mercadoria falsi-
ĮĐĂĚĂŶŽƉĞƌşŽĚŽ͘^ĞŐƵŶĚŽĂŵĞƐŵĂƉĞƐƋƵŝƐĂ͕ϵϯйĚŽƐĞŶƚƌĞǀŝƐƚĂĚŽƐĂĮƌŵĂƌĂŵ
que efetuaram a compra em razão dos menores preços dos produtos piratas.
“Produtos piratas custam bem menos, porque sobre eles não há incidência de tri-
butos, encargos sociais e trabalhistas, além de serem comercializados em situação
ĚĞĂďƐŽůƵƚĂŝŶĨŽƌŵĂůŝĚĂĚĞ͘dŽŵĂŶĚŽͲƐĞŽĐŽŵĠƌĐŝŽĚĞ͛ƐĞs͛ƐĐŽŵŽĞdžĞŵƉůŽ
(produtos mais consumidos no mercado informal), apenas a carga tributária sobre
eles incidente oscila entre 36 e 43% do preço total.
͞ŽŶƐŝĚĞƌĂŶĚŽƚĂŝƐĂƐƉĞĐƚŽƐ͕ĠŵƵŝƚŽĨĄĐŝůĐŽŶƐƚĂƚĂƌƐĞƌƉƌĂƟĐĂŵĞŶƚĞŝŵƉŽƐƐşǀĞů
ĂŽĐŽŵĞƌĐŝĂŶƚĞƌĞŐƵůĂƌĐŽŶĐŽƌƌĞƌĞŵƐŝƚƵĂĕĆŽĚĞŝŐƵĂůĚĂĚĞĐŽŵĂŝŶĚƷƐƚƌŝĂĚĂ
pirataria.
“Tendo ou não como fonte a pirataria, o não pagamento de tributos onera sempre
a classe trabalhadora e o regular comerciante, que são compelidos a pagar cada
ǀĞnjŵĂŝƐŝŵƉŽƐƚŽƐĞĐŽŶƚƌŝďƵŝĕƁĞƐ͘KƌĞƐƵůƚĂĚŽĚĞƚƵĚŽŝƐƐŽ͍DĂŝƐĚĞƐĞŵƉƌĞŐŽ͕
mais informalidade, mais sonegação e elevação da carga tributária.”

O liame entre o direito tributário e o princípio da concorrência foi objeto de recente


manifestação da Suprema Corte:
͞/ŶĚƷƐƚƌŝĂĚĞŝŐĂƌƌŽƐ͗ĂŶĐĞůĂŵĞŶƚŽĚĞZĞŐŝƐƚƌŽƐƉĞĐŝĂůĞKďƌŝŐĂĕĆŽdƌŝďƵƚĄƌŝĂ͘
O Tribunal iniciou julgamento de mérito de recurso extraordinário interposto por
ŝŶĚƷƐƚƌŝĂĚĞĐŝŐĂƌƌŽƐŶŽƋƵĂůƐĞĚŝƐĐƵƚĞĂǀĂůŝĚĂĚĞĚĞŶŽƌŵĂƋƵĞƉƌĞǀġŝŶƚĞƌĚŝĕĆŽ
de estabelecimento, por meio de cancelamento de registro especial, em caso do
ŶĆŽĐƵŵƉƌŝŵĞŶƚŽĚĞŽďƌŝŐĂĕƁĞƐƚƌŝďƵƚĄƌŝĂƐ;ĞĐƌĞƚŽͲůĞŝϭ͘ϱϵϯͬϳϳͿ͘dƌĂƚĂͲƐĞĚĞ
ƌĞĐƵƌƐŽ ŝŶƚĞƌƉŽƐƚŽ ĐŽŶƚƌĂ ĂĐſƌĚĆŽ ĚŽ dƌŝďƵŶĂů ZĞŐŝŽŶĂů &ĞĚĞƌĂů ĚĂ Ϯǐ ZĞŐŝĆŽ
ƋƵĞĞŶƚĞŶĚĞƌĂƋƵĞŽƌŝŐŽƌĮƐĐĂůƐĞĂŵƉĂƌĂƌŝĂŶĂƐĐĂƌĂĐƚĞƌşƐƟĐĂƐĚĂŝŶĚƷƐƚƌŝĂ

45. ŝƐƉŽŶşĞǀůĞŵŚƩƉ͗ͬͬǁǁǁ͘ƐŝŶƉƌŽĨĂnj͘ŽƌŐ͘ďƌͬϮϬϭϰͬƉƵďůŝĐĂĐĂŽ͘ƉŚƉ͍ŝĚсŶƵŵĞƌŽƐͺƉŐĨŶΘĂƌƋƵŝǀŽсͬƉĚĨƐͬŶƵŵĞ-
ƌŽƐͺƉŐĨŶ͘ƉĚĨΘƟƚƉƵďсKƐйϮϬEйϯйŵĞƌŽƐйϮϬĚĂйϮϬW'&EйϮϬͲйϮϬϮϬϬϴΘ͕ĂĐĞƐƐĂĚŽĞŵϮϵͬϬϭͬϮϬϭϳ͘
36      .!    ȃ Arthur Moura

ĚŽĐŝŐĂƌƌŽ͕ĚĞŶƚƌĞĂƐƋƵĂŝƐĂĐŝƌĐƵŶƐƚąŶĐŝĂĚĞĂƚƌŝďƵƚĂĕĆŽƚĞƌƉĂƉĞůĞdžƚƌĂĮƐĐĂů
ŶŽĂƌƌĞĨĞĐŝŵĞŶƚŽĚŽĐŽŶƐƵŵŽĞŶŽĂƉĂƌĞůŚĂŵĞŶƚŽĚŽƐƚĂĚŽƉĂƌĂĐŽŵďĂƚĞƌĂ
ŶŽĐŝǀŝĚĂĚĞĚŽƉƌŽĚƵƚŽăƐĂƷĚĞƉƷďůŝĐĂ͘ůĞŐĂĂƌĞĐŽƌƌĞŶƚĞƋƵĞŽĂƌƚ͘ϮǑ͕//͕ĚŽ
ƌĞĨĞƌŝĚŽ ĚĞĐƌĞƚŽ ĐŽŶƐƵďƐƚĂŶĐŝĂƌŝĂ ƵŵĂ ƐĂŶĕĆŽ ƉŽůşƟĐĂ ŶĆŽ ƌĞĐĞƉĐŝŽŶĂĚĂ ƉĞůĂ
ŽŶƐƟƚƵŝĕĆŽ͕ƉŽƌĐŽŶƚƌĂƌŝĞĚĂĚĞĂŽĚŝƌĞŝƚŽăůŝďĞƌĚĂĚĞĚĞƚƌĂďĂůŚŽ͕ĚĞĐŽŵĠƌĐŝŽ
ĞŝŶĚƷƐƚƌŝĂĞĂŽƐƉƌŝŶĐşƉŝŽƐĚĂƌĂnjŽĂďŝůŝĚĂĚĞĞĚĂƉƌŽƉŽƌĐŝŽŶĂůŝĚĂĚĞ;&͕ĂƌƟŐŽƐ
ϱǑ͕y///Ğ>/s͕ĞϭϳϬͿ͘KDŝŶ͘:ŽĂƋƵŝŵĂƌďŽƐĂ͕ƌĞůĂƚŽƌ͕ĐŽŶŚĞĐĞƵĚŽƌĞĐƵƌƐŽ͕ŵĂƐ
ůŚĞ ŶĞŐŽƵ ƉƌŽǀŝŵĞŶƚŽ͘ ^ĂůŝĞŶƚŽƵ͕ ŝŶŝĐŝĂůŵĞŶƚĞ͕ ƋƵĞ Ă ŽƌƚĞ ƚĞŵ ĐŽŶĮƌŵĂĚŽ Ğ
ŐĂƌĂŶƟĚŽĂƉƌŽŝďŝĕĆŽĐŽŶƐƟƚƵĐŝŽŶĂůăƐƐĂŶĕƁĞƐƉŽůşƟĐĂƐ͕ŝŶǀŽĐĂŶĚŽŽĚŝƌĞŝƚŽĂŽ
ĞdžĞƌĐşĐŝŽĚĞĂƟǀŝĚĂĚĞƐĞĐŽŶƀŵŝĐĂƐĞƉƌŽĮƐƐŝŽŶĂŝƐůşĐŝƚĂƐ͕ĂǀŝŽůĂĕĆŽĚŽƐƵďƐƚĂŶ-
ƟǀĞĚƵĞƉƌŽĐĞƐƐŽĨůĂǁ;ĂĨĂůƚĂĚĞƉƌŽƉŽƌĐŝŽŶĂůŝĚĂĚĞĞƌĂnjŽĂďŝůŝĚĂĚĞĚĞŵĞĚŝĚĂƐ
ŐƌĂǀŽƐĂƐƋƵĞƐĞƉƌĞĚŝƐƉƁĞŵĂƐƵďƐƟƚƵŝƌŽƐŵĞĐĂŶŝƐŵŽƐĚĞĐŽďƌĂŶĕĂĚĞĐƌĠĚŝƚŽƐ
tributários) e a violação do devido processo legal manifestado no direito de aces-
ƐŽĂŽƐſƌŐĆŽƐĚŽdžĞĐƵƟǀŽŽƵĚŽ:ƵĚŝĐŝĄƌŝŽƚĂŶƚŽƉĂƌĂĐŽŶƚƌŽůĞĚĂǀĂůŝĚĂĚĞĚŽƐ
créditos tributários quanto para controle do próprio ato que culmina na restrição.
Asseverou que essa orientação não serviria, entretanto, de escusa ao deliberado
e temerário desrespeito à legislação tributária, não havendo se falar em sanção
ƉŽůşƟĐĂƐĞĂƐƌĞƐƚƌŝĕƁĞƐăƉƌĄƟĐĂĚĞĂƟǀŝĚĂĚĞĞĐŽŶƀŵŝĐĂĐŽŵďĂƚĞƐƐĞŵĞƐƚƌƵƚƵ-
ƌĂƐĞŵƉƌĞƐĂƌŝĂŝƐƋƵĞƐĞƵƟůŝnjĂƐƐĞŵĚĂŝŶĂĚŝŵƉůġŶĐŝĂƚƌŝďƵƚĄƌŝĂƉĂƌĂŽďƚĞƌŵĂŝŽƌ
vantagem concorrencial” 46.

Mais uma vez ressalte-se: não se está a dizer que a execução fiscal, quando eficiente
na recuperação do crédito executado, é a única solução para pirataria e para a sonegação.
Ela é mais um componente dentro de uma série de medidas a serem implementadas.
A execução fiscal, portanto, não pode ser vista como instrumento de opressão e
superioridade do Estado sobre a sociedade. Muito ao contrário, é à sociedade, em última
análise, a quem a execução fiscal serve, garantindo-lhe justiça fiscal ao igualar o devedor ao
contribuinte, e assegurando ao mercado o princípio constitucional da livre concorrência.
Por isso, tendo em conta esse caráter social 47 que possui, é importante que a execução
fiscal seja funcional e eficiente. Afinal, a recuperação dos créditos públicos é peça impor-
tante da obtenção de recursos que financiam o Estado, sua manutenção e os programas
assistenciais que possui.
A funcionalidade e a eficiência da execução fiscal podem ser medidas pelos resultados
que ela obtém. Se, ao final do processo executivo, o débito tributário foi devidamente
pago, ela cumpriu sua missão; caso contrário, isto é, se ao longo de anos a fio o processo
se arrasta sem perspectiva de pagamento, prevalece a injustiça tributária.

46. ƌĂƐŝů͘^ƵƉƌĞŵŽdƌŝďƵŶĂů&ĞĚĞƌĂů͘/ŶĨŽƌŵĂƟǀŽEǑϱϬϱʹ^d&͘ƌĂƐşůŝĂ͕ϱĂϵĚĞŵĂŝŽĚĞϮϬϬϴ͘
47. WŽĚĞƌşĂŵŽƐĚŝnjĞƌĐĂƌĄƚĞƌĞdžƚƌĂĮƐĐĂů͕ĞdžƉƌĞƐƐĆŽƋƵĞĐŽŶƐŝĚĞƌĂŵŽƐŵĂŝƐĂďƌĂŶŐĞŶƚĞ͕ƵŵĂǀĞnjƋƵĞƐĞƉŽĚĞ
ĨĂůĂƌĞŵĞdžƚƌĂĮƐĐĂůŝĚĂĚĞƐŽĐŝĂů͕ĞdžƚƌĂĮƐĐĂůŝĚĂĚĞĂŵďŝĞŶƚĂůĞƚĐ͘&ĂůĂƌĞŵĐĂƌĄƚĞƌƐŽĐŝĂůĚĂĞdžĞĐƵĕĆŽĮƐĐĂů
ĠĂĐĞŶƚƵĂƌƐĞƵƐĞĨĞŝƚŽƐƉŽƐŝƟǀŽƐŶĂƐŽĐŝĞĚĂĚĞ͕ƚƌĂnjĞŶĚŽĂŽĐŝĚĂĚĆŽĐŽŶƚƌŝďƵŝŶƚĞĂƐĞŶƐĂĕĆŽĚĞƋƵĞĂůĞŝ
tributária e as obrigações dela decorrentes são igualmente aplicadas a todos.

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