Introdução: No AT, o homem era quem tinha a responsabilidade de apresentar e
representar o povo diante de Deus. O sacerdote era uma espécie de intermediário entre Deus e os homens. Esta visão tem sido resgatada em nossos dias, contudo, mesmo para aqueles cujo coração já se encontra aberto a esta verdade, ainda vemos muitos com uma dificuldade: a de não enxergarem o sacerdócio do lar como algo fundamental. A Bíblia afirma que “o homem é o cabeça da casa” (Ef. 5:25), e geralmente a cultura moderna reage muito negativamente a este ensinamento. A liderança dada por Deus aos homens não é para mandar e ser autoritário, mas para ser modelo espiritual e moral da sua casa. O chamado de liderança do homem não é para ser autocrático, mas para ser exemplo. Liderança espiritual é a atitude de quem traça o caminho para aqueles que estão dependendo de sua orientação. Quando se pensa em Jó, vem à mente seus sofrimentos. O livro nos revela, em Jó, como ser um sacerdote. Deus nos mostra o testemunho de um homem verdadeiro adorador, um homem de caráter, comprometido com sua família, de relacionamento, um marido e pai presente, um sacerdote que “oferecia holocaustos segundo o número de todos os filhos”. Um homem sempre cuidadoso da santidade de sua casa. Jó orava, clamava, sacrificava e intercedia pelos filhos. Vejamos abaixo alguns cuidados de Jó com a família, que precisam ser resgatados em nossa história. Jó ensinou seus filhos o significado de viver em família - "Seus filhos iam às casas uns dos outros e faziam banquetes, cada um por sua vez, e mandavam convidar as três irmãs a comerem com eles" (Jó 1:4). Eles aprenderam a viver em família (Sl. 128). Para Deus, o homem abençoado é aquele que tem a alegria de ver seus filhos reunidos ao redor da sua mesa. É desta forma que será abençoado o homem que teme ao Senhor. Nenhum sucesso profissional, dinheiro, fama, riqueza, valem a pena se o homem não consegue assentar-se ao redor da mesa com seus filhos e alegrar-se com seus netos. Jó assumiu a função de liderar espiritualmente sua casa - "...Chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles" (Jó 1:5).
1. Que tipo de investimento Jó fazia em sua família?
a) Investimento de Tempo – Jó paga preço espiritual com seu tempo. “Levantava-se de madrugada e fazia holocaustos” (Jó. 1:5). Está implícito aqui o investimento que ele faz em sua agenda. Ele priorizava seu tempo para proteger seus filhos. Levantar de madrugada nem sempre é fácil. Demonstra como isto tinha importância para sua vida e como ele levava a sério esta verdade para com sua família. Ele assume o preço do tempo. Tempo tem se tornado uma moeda cada vez mais rara. Se você não se dedicar, entender que precisa tirar do seu tempo precioso, do seu sono, da sua agenda, espaço para liderar espiritualmente a sua casa, certamente vai enfrentar sérios problemas espirituais na criação de seus filhos. Tempo revela importância, dá conceitos de valor e prioridades. b) Investimento Financeiro - Vemos na adoração de Jó a disposição de investir com seus recursos. Ele investe espiritualmente na vida de seus filhos colocando seus bens. Jó “oferecia holocaustos segundo o número de todos eles” (Jó 1:5). No sacrifício levítico, as pessoas precisavam escolher do melhor do seu rebanho, animais sem defeito, para serem queimados como sacrifício agradável a Deus. Cada sacrifício individual representava um animal do rebanho que deveria ser oferecido, isto envolve uma boa quantidade de recursos financeiros. Jó trazia holocaustos, para cada um dos filhos. Eram dez. Isto envolve recursos. O princípio é simples: “Fé que não custa nada, não vale nada!” Você pode avaliar a importância no seu coração, a partir da sua disposição em investir. Jesus afirmou: “Onde estiver seu tesouro, ai estará seu coração”. Por entender este princípio, Jó apresenta holocaustos para todos os seus filhos. Ele tirava do seu lucro, da primícias dos rebanhos, dos bens que possuía, para fazer ofertas ao Deus que ele amava. c) Investimento Contínuo – O que o texto descreve não era um ato isolado. “Assim fazia Jó continuamente” (Jó 1:5). Orar pelos filhos, interceder a seu favor, oferecer sacrifícios por eles não era um evento, era um estilo de vida de Jó. Nossa vida deve ser de total e constante alerta. Não dá para baixar a guarda. Não dá para parar de orar por aqueles que estão sob nossa responsabilidade.
2. Homem: Sacerdote sobre a Esposa
O sacerdote, segundo a Antiga Aliança, era aquele que tinha o ofício de expiar o pecado do povo de Deus. Em certo sentido ele era responsável pela vida espiritual do povo, por isso tinha de ter alguma coisa a oferecer (Hb. 8:3). Da mesma sorte, o marido é o responsável pela vida espiritual do seu lar. Sobre ele cai a responsabilidade até mesmo dos erros de sua esposa. O líder sempre vai responder pelos seus liderados. No início de tudo, a ordem divina à mulher deveria ser uma auxiliadora idônea (Gn. 2:18), Satanás tenta a Eva exatamente fazendo com que ela assuma a liderança. Ele conseguiu o seu objetivo de fazê-la pecar. O texto mostra que Adão foi absolutamente passivo em todo relato, estando ali ao lado de sua mulher, permitiu que o tentador a abordasse sem que ele tomasse a frente de sua casa. Não há dúvidas que a mulher é quem foi iludida e caiu em transgressão (I Tm. 2:14), e não o homem; por isso ficamos alarmados ao ver as palavras de Deus para Adão: Maldita é a terra por tua causa (Gn. 3:17). Percebe-se que a culpa do erro de Eva, caiu mesmo sobre as costas de Adão. Deve-se isso à passividade de Adão no relato da queda e também ao fato do homem ser o responsável pela sua casa. Esse é o conceito de liderança segundo a Escritura. O líder assume a responsabilidade e o ônus, mas exerce sua função de forma a preservar sua esposa (parte frágil), ainda que vivendo a vida comum do lar (I Pe. 3:7). Na condição de cabeça do lar, o homem é o responsável de quem Deus cobrará o exercício do sacerdócio. É óbvio que a mulher deve participar exercendo o sacerdócio juntamente com seu marido, mas a responsabilidade maior não está sobre seus ombros. Muitos maridos se acomodam por ver sua esposa fazendo bem o seu papel, mas não deveriam agir assim. Por melhor que seja a ajuda da mulher, o homem tem que fazer a sua parte! O marido deve ter um amor e um zelo incondicional pela sua esposa, vivendo para ela, tratando, cuidando, adornando, santificando, pastoreando de maneira que ela esteja sempre linda, feliz, imaculada e impecável diante de Deus. A queda trouxe consequências ao conceito de liderança/submissão (Gn. 3:16), onde o homem corrompido pensa que ser líder é exercer a tirania. A mulher não é escrava do homem, muito embora a responsabilidade da casa seja dela (Pv. 31:10-31), o homem precisa compreender as fragilidades de sua amada, ser apto não para ordenar, mas para servir, como Cristo também o fez pela sua amada Igreja. 3. Homem: Sacerdote sobre a Família Antes de ser sacerdote na igreja, o homem tem que ser sacerdote na sua própria casa (I Tm. 3:5). O homem tem que ser o pastor do seu lar; isto é requisito não só para quem ingressa no ministério de tempo integral, mas é um exemplo de vida cristã. E se a pessoa não cumpre um requisito básico da vida cristã, então não tem autoridade para ser um ministro à frente da Igreja. Portanto, o mandamento de ser sacerdote no lar é para todo cristão. E isto envolve uma excelente conduta familiar, que depois será cobrada do líder como exemplo para o restante do rebanho (Tt. 1:5-6) O homem, além de ser fiel à sua esposa, deve conduzir seus filhos no caminho do Senhor e numa vida de santidade, o que exigirá dele não só conselhos casuais, mas todo um acompanhamento, investimento e ministração na vida espiritual de seus familiares. O posicionamento de um homem de Deus sempre deve envolver sua casa. Este foi o exemplo dado por Josué: “Mas se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais, se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam dalém do Rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor”. (Js. 24:15) O texto acima reflete a responsabilidade de Josué de não apenas buscar ao Senhor, mas servi-lo com toda a sua família. Quando se trata de família, não existe a história de “cada um por si”. Embora a responsabilidade de cada um diante de Deus seja individual, precisamos aprender a lutar por nossos familiares, especialmente aqueles que possuem a incumbência de exercer o sacerdócio do lar. O plano de Deus não é apenas para o homem sozinho, mas para toda a sua família. Quando o Senhor decidiu julgar e destruir a humanidade nos dias de Noé, não proveu salvação para ele sozinho, mas para toda a sua família (Gn. 6:18). Vemos também que Deus prometeu a Abraão que nele seriam abençoadas todas as famílias da Terra (Gn.12:3). Ao tirar Ló de Sodoma, o anjo do Senhor fez com que ele saísse com toda a família (Gn.19:12). No Novo Testamento encontramos um anjo visitando Cornélio e dizendo que deveria chamar a Pedro, “o qual te dirá palavras mediante as quais será salvo, tu e toda a tua casa”. (At.11:14). E além de todas estas porções bíblicas, encontramos a clássica declaração do apóstolo Paulo ao carcereiro de Filipos: “Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e toda a tua casa”. (At. 16:31) O sacerdote do lar tem uma grande responsabilidade de afetar o destino dos seus entes queridos. 4. O Sacerdócio envolve Proteção pela Oração Também vemos na Bíblia que o sacerdote do lar deve cobrir os seus com oração. A Palavra de Deus nos mostra que Isaque orava a Deus para que abrisse a madre de Rebeca, sua mulher. E Deus ouviu suas orações (Gn. 25:21). As Escrituras ainda nos falam acerca de Jó, que periodicamente chamava seus filhos para um culto e sacrificava ao Senhor em favor deles, com medo de terem pecado contra Deus (Jó 1:5). O homem e mulher de Deus precisam ter um coração e uma vida de oração voltados para cobrir e proteger a sua família. A tarefa de cuidar da vida espiritual da família foi confiada ao chefe da casa. Em I Samuel 30 lemos acerca de Davi e seus homens saindo para a batalha e deixando suas mulheres e crianças desprotegidas em Ziclague. Enquanto eles estavam fora, os amalequitas incendiaram a cidade e levaram suas mulheres e filhos em cativeiro. Três dias depois, eles chegaram e se desesperaram pelo ocorrido. Finalmente, se fortaleceram no Senhor e foram atrás dos seus, conseguindo resgata-los. Aprendemos duas lições aqui. Primeiro que precisamos proteger os nossos familiares, cobrindo-os em oração e não permanecendo distantes deles. Segundo, que algumas vezes nos tornamos descuidados, e o inimigo pode se aproveitar de nosso descuido. Mesmo quando falhamos, Deus pode nos ajudar a consertar aquilo que erramos. O Sacerdócio envolve proteção. Deus nos mostrou isto em sua Palavra desde o início, com o que ordenou a Adão, no Jardim do Éden: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e guardar”. (Gn. 2:15) Note que além de cultivar o jardim, o homem deveria também guardá-lo, protegê-lo. Deus estava indicando a Adão que Satanás, o inimigo de nossas almas, tentaria destruir o que o Senhor estava colocando nas mãos do homem. Se Adão tivesse protegido a Eva, em vigilância, bem como ministrando-lhe sobre a importância da obediência ao Senhor, provavelmente aquilo não teria acontecido. Também nós precisamos guardar e proteger nossas famílias, e isto envolve oração e vigilância, bem como a ministração da Palavra de Deus em nossos lares.
5. A negligência do sacerdócio e suas consequências
Quais as consequências de se negligenciar o sacerdócio em casa? Juízo divino para o sacerdote, além da evidente rebeldia dos filhos. A primeira palavra profética que Samuel proferiu foi contra alguém que ele amava: o sacerdote Eli, que o criava no templo. E o que Deus disse envolvia a casa dele e sua negligência no sacerdócio familiar (I Sm. 3:13). O Senhor trouxe advertências anteriores, mas Eli não deu ouvidos. A Bíblia diz que embora conhecesse bem o pecado dos filhos, Eli não os repreendeu. Toda omissão no sacerdócio do lar sempre trará consequências sérias. Davi teve problemas com vários de seus filhos, porque era negligente em relação a seus filhos. Adonias, assim como Absalão, se exaltou, querendo usurpar o trono. Mas por trás desta atitude de rebelião, a Bíblia mostra a negligência de Davi como sacerdote em sua casa: “Jamais seu pai o contrariou, dizendo: Por que procedes assim?” (I Rs. 1:6). Vejamos algumas consequências da ausência de autoridade sacerdotal. a) Homossexualismo A ausência de valores e princípios morais por parte do pai e a superproteção da mãe geram vínculos sem limites. Praticamente todos homossexuais têm uma hiperidentificação com a mãe e uma carência do pai. Ele tenta suprir esse déficit do pai com outros homens, mas o que encontra é perversão e imoralidade. b) Inversão de Papéis Quando o marido se anula, o primeiro efeito colateral que ocorre é na esposa. E isso gera nela insegurança e essa insegurança a empurra para tentar ocupar o espaço do marido. Quanto mais o marido se abdica da sua autoridade, tentando amenizar os conflitos com a esposa, tudo o que ele consegue é injetar cada vez mais insegurança nela em relação a ele. Essa insegurança, por sua vez, leva a mulher a desrespeitar o marido. A insegurança da mulher produz falta de respeito em relação ao marido, que tende a se anular ou reagir agressivamente. Ao tentar suprir o que o marido deveria suprir, a mulher se torna frustrada e amargurada. Esse processo é cíclico e produz a inversão de papéis no casamento. O culpado nesse tipo de esquema “Jezabel” não é a mulher. Porém, só existe uma “Jezabel” onde existe um “Acabe”. O principal responsável pela situação é o marido que se ausentou e não teve força moral de sustentar sua autoridade e manter-se na sua posição de liderança. Sem liderança os relacionamentos no lar são corrompidos.