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Debora e Gaia

(Debora está na sala de consulta. Após mexer no exame, vai beber uma água quando
é surpreendida por Gaia)

G: Boa tarde...

D: Boa tarde?

G: Eu sou Gaia. Tenho um horário marcado.

D: Claro. Desculpe. Você foi indicada pela Patrícia Lamurcci?

G: isso

D: Você conhece ela de onde?

G: Ela mora ao lado do meu apartamento. Somos vizinhas... e também estudamos na


mesma faculdade.

D: Você faz arquitetura?

G: Artes Visuais

D: Ah... O que eu posso te ajudar?

G: É... estou com bastante dificuldade pra dormir

D: hm... Você tem ideia do porque?

G: Eu tenho alguns sonhos que voltam durante o dia.

D: você sonha acordada?

G: Não... não... são... só sonhos que me perturbam...

D: Então você tem alucinações ?

G: Não! São visões.


D: Isso é recente?
G: Não. Isso ocorre desde criança. Eu tomava remédios para controlar isso.

D: Você faz tratamento com outro médico?

G: Não mais.
D: Por quanto tempo?

G: O último? 5 anos...

D: e o que você tomou neste período?


G: Clorazepam...

D: E você teve outro médico antes dele?


G: (mostra 4 dedos)

D: então você já teve um diagnóstico...

G: bom... justamente porque eu não concordo com ele que eu não fui mais.

D: Você não concorda?


G: Não.

D: Então você decidiu parar o tratamento... no momento você está sob alguma
medicação?

G: Não

D: Há quanto tempo?

G: é... 4 meses

D: E porque?

G: É que ele me deixava muito dopada e não adiantava nada...


D: Você acha que foi uma boa ideia largar a medicação?
G: Foi. É que eu não aguentava mais não estar presente em nenhum lugar.
D: Eu preciso entender melhor... Você estava tomando essa medicação para controlar
essas alucinações...
G: Visões!
D: Esse sentimento de ausência é normal no seu caso... Esses remédios muitas vezes
causam um grande desconforto, mas são necessários. É para o seu bem. Você não
pode...
G: Ele me deixa tão mal quanto os remédios da Quimio...
D: Você esta tratando algum câncer?
G: Eu não! Você!
D: Do que você esta falando?
G: Você se sente mal quando te dão esses remédios. Eu me sinto assim todo dia.
D: Que brincadeira é essa?
G: Eu não estou brincando. Eu to vendo
D: Vendo o que?
(Gaia mostra com o dedo a direção do peito dela, o dedo faz um círculo no ar para
mostrar toda a região do peito. Débora se assusta e se levanta)
G: Eu tô vendo... nos seus pulmões
D: Ninguém sabe...
G: Desculpa, eu não devia ter dito nada. É sempre assim.
D: Como assim...
G: (se levantando) Desculpe... Eu não queria... (vai na direção da porta)
D: Como você sabe?
G: Eu vejo...
D: Espera...
G: por favor... para de fumar. (Sai ‘correndo’)
D: (Busca o celular. Liga para Patrícia) Alô. Patrícia? A Gaia esteve aqui... Sim..
Gaia... Como assim você não conhece nenhuma Gaia... Você indicou... Tem certeza?
Desculpa... Acho que devo ter confundido na hora de anotar... Claro... Desculpe o
incomodo... (Desliga. Pega a bolsa e sai).

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