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Temas de Direito Penal: novos e velhos problemas de teoria das normas

Prof. Dr. Frederico Horta

Aula 05 – Teoria do delito e suas perspectivas:; o problema metodológico e o aporte da teoria


das normas

Texto 07 – PUPE, Ingeborg. Naturalismo y normativismo em la dogmática jurídico-penal


moderna. In:_______. El derecho penal como ciência. pp. 137-167.

Relator: Lucas Ribeiro Garro Lourenço.

Exposição do Texto:

Pupe tem como ponto principal de seu texto estabelecer uma crítica contundente à
dogmática normativista moderna que tem se baseado majoritariamente em proposições
lógicas e em valoração, sem, contudo, levar em consideração questões fáticas próprias a cada
caso. Para apresentar essa problemática ela parte da análise da questão da causalidade,
discutindo desde a teoria naturalista, até as mais modernas e aceitas teorias, como a teoria da
causa como “conditio sine qua non”.

Naturalismo:

O Naturalismo aparece como uma teoria já superada e carregada de crítica pelos


doutrinadores modernos. Isso se dá porque essa corrente teórica se baseia na existência de leis
naturais, ou gerais, previamente dadas que determinam a casualidade dos fatos. Em outras
palavras, o naturalismo se em premissas descritivas para inferir premissas normativas.

Essa perspectiva de um dualismo metodológico é exatamente o foco das críticas


direcionadas ao naturalismo, no sentido de que, não há como se deduzir premissas normativas
de premissas descritivas, mas da relação entre enunciados dedutivos e normativos extraem-se
conclusões normativas.

Normativismo:

O normativismo vai se diferenciar da teoria naturalista ao inserir e colocar como


questão principal a valoração da realidade perante a norma. Assim, o elemento determinante
passa a ser a norma e a sua valoração, deixando as premissas descritivas em segundo plano,
enquanto as premissas normativas tomam a frente e assumem destaque.

Essa predominância do elemento normativo leva a uma abstração exagerada que pode
levar a uma desconexão entre a norma e a realidade avaliada e assim trazer problemas lógicos.
Como exemplo Pupe traz a teoria da “conditio sine qua non”, segundo a qual, causa é a
condição sem a qual não haveria o resultado. Embora muito defendida e aplicada essa
proposição não explica de maneira fundamentada o que venha a ser uma causa, ela apenas
evidencia os efeitos de uma causa.

Essa falta da fundamentação do que venha a ser uma causa permite que se tenha
problemas lógicos a aplicação dessa teoria, problemas esses que se evidenciam nas causas
substitutas. Estas causas são aqueles em que, uma poderia substituir a outra, mas ambas, em
conjunto não se configuram como “conditio sine qua non” (vide exemplo página 142).

A teoria normativista enfrentaria ainda um segundo problema, que, assim como o


problema das causas substitutivas, que advém de uma percepção mais lógica e abstrata que
não se baseia de forma mais contundente na análise dos postulados descritivos, a questão do
círculo normativista. Para explicar essa situação ela debate a questão do conceito de perigo e
o conceito de realização de perigo, ambos servem de exemplo do caminho tomado pelo
normativismo para se afastar da teoria normativista.

Este caminha foi partir ainda mais para um plano valorativo, de forma a se distanciar
do plano descritivo direcionando suas conclusões e argumentações para o plano da norma e da
valoração. Entretanto, ao assumir essa posição e se afastar ainda mais do plano descritivo o
normativismo abre espaço para uma ingerência e aplicação de arbítrios e juízos de valor
dentro da sua aplicação o que leva a esse círculo normativista.

O círculo normativista seria então a maior crítica ao normativismo elaborada por Pupe
no texto. Ela demonstra que ao se retirar por completo ao plano da valoração, criou-se todo
um conjunto de princípios e conceitos tidos como elementos a priori e que por isso não são
discutidos. Esses elementos seriam carregados de certa neutralidade e por isso são seriam
postos em discussão ou mesmo fundamentos em elementos normativos ou descritivos,
marcando assim o espaço para juízos de valor e arbitrariedade.

Diante dessa perspectiva, tais elementos primários, segundo Pupe, exerceriam o


mesmo papel que as leis da natureza exerciam para os naturalistas, já que são elementos
indiscutíveis, já dados e que influenciam e sustentam posições e entendimentos sem terem de
ser necessariamente fundamentados. Como solução a essa problema a autora propõe uma
aproximação entre normativismo e naturalismo de forma que as premissas normativas e
valorativas encontrem lastro de fundamentação nas premissas descritivas.

Conclusão:

O texto, embora bastante complexo, traz uma crítica contundente à teoria normativa,
mas acima de tudo, evidencia duas coisas importantes e que podem passar despercebidas. Em
primeiro lugar, tanto no normativismo quanto no naturalismo há escolhas e estas escolhas em
si não são problemáticas. O problema das escolhas se dá quando não são fundamentadas de
maneira profunda e com argumentos plausíveis e convincentes, já que dessa forma se afasta
essa argumentação do tipo de enunciado próprio da ciência jurídica. Assim, o convite feito
por Pupe me parece bastante atrativo que é inserir como importante elemento da discussão e
da fundamentação as premissas descritivas e assim sair um pouco do plano abstrato de
discussão da norma e adentrar também dentro da realidade fática de aplicação daquela norma,
ou seja, nas afastar, mas sim aproximar aquilo que é valorativo daquilo que é descritivo.

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