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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR

ESCOLA DE ENGENHARIA
CONCRETO ARMADO I

PROF.: ISABELA PEDREIRA CRUZ


ATUALIZAÇÃO JANEIRO DE 2010

SUMÁRIO

1.0 Noções básicas


1.1 Propriedades dos materiais
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1.2 Utilizações dos materiais
1.3 Ciências dos materiais
1.4 Noções básicas do concreto armado – histórico
1.5 Uma idéia sobre o concreto armado

2.0 Propriedades dos materiais componentes


2.1 Concreto/Definições
2.1.1 Dados iniciais
2.1.1.1 Classes
2.1.1.2 Massa específica
2.1.2 Propriedades de resistência
2.1.2.1 Resistência à compressão
2.1.2.2 Resistência à tração
2.1.3 Propriedades de deformação
2.1.3.1 Deformações que dependem do carregamento
2.1.3.2 Deformações que independem do carregamento
2.2 Aço
2.2.1 Categoria
2.2.2 Classificação
2.3 Concretos armado
2.3.1 Comportamento de um tirante
2.3.2 Ligação aço-concreto
2.3.2.1 Mecanismo de transferência de força
2.3.2.2 Resistência da ligação
2.3.2.3 Emendas das barras de armação

3.0 Métodos gerais de cálculo


3.1 Seguranças e estados limites
3.1.1 Critérios de segurança
3.1.2 Estado limite último
3.1.3 Estado limite de serviço
3.2 Ações
3.2.1 Generalidades
3.2.2 Classificação das ações
3.3 Combinações das ações
3.3.1 Generalidades
3.3.2 Combinações Últimas
3.3.2.1 Combinações Últimas Normais
3.3.2.2 Combinações Últimas Especiais ou de Construção
3.3.2.3 Combinações Últimas Excepcionais
3.4 Tensões de compressão em serviço do concreto

4.0 Bibliografia

1.0 NOÇÕES BÁSICAS

Os materiais são os sólidos utilizados pelo homem para a fabricação de objetos


que constituem o suporte para a sua vida. Para tanto é necessário:

- conhecer as diversas classes dos materiais e suas propriedades


- descrever a micro estrutura dos materiais e o seu comportamento
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- conhecer o ciclo dos materiais
- conhecer a ciência dos materiais

Apresentamos a seguir três grandes grupos dos materiais, classificados segundo


sua composição, sua micro-estrutura e suas propriedades:

- metais e ligas – ex. (Fe, Al, Cu), aço, latão;


- polímeros orgânicos – ex. epoxis, fibra de vidro, fibra de carbono;
- cerâmicas – ex. vidros, concreto, tijolo.

Os três tipos de materiais podem ser combinados para formar materiais


compostos ex. concretos, concreto armado, resinas epóxi reforçados com fibra de vidro
etc.
Os metais são bons condutores de calor e eletricidade. Eles são duros, rígidos e
deformáveis plasticamente.
Os materiais cerâmicos distinguem-se por sua característica refrataria, ou seja,
eles possuem resistências mecânicas e térmicas elevadas. São duras e frágeis.
Os polímeros orgânicos possuem propriedades físicas bem diversas, são bons
isolantes térmicos e elétricos, são leves, fáceis de manusear para qualquer forma, são
pouco rígidos e não suportam grandes temperaturas (t  200 C).

1.1 Propriedades dos materiais

O comportamento de um material é caracterizado por sua reação a uma


solicitação. Podemos distinguir três categorias de propriedades segundo os tipos de
solicitação externa:

- propriedades mecânicas refletem o comportamento dos materiais deformados pôr um


sistema de forcas
- propriedades físicas medem o comportamento dos materiais submetidos a ação da
temperatura , campos elétricos ou magnéticos ou da luz.
- propriedades químicas que caracterizam o comportamento dos materiais submetidos a
ambientes mais ou menos agressivos

Normalmente os projetos realizados pelos engenheiros são limitados pelas


propriedades dos materiais disponíveis.

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1.2 Utilizações dos materiais

A utilização dos materiais põe em questão a escolha do material que melhor se


adapta a aplicação destinada. Os critérios de escolha dos materiais devem levar em
conta os seguintes fatores:

- as funções principais da construção  temperatura


carregamento
condições de utilização

- o comportamento do material  resistência a ruptura


resistência a corrosão
resistência a condutibilidade

1.3 Ciência dos Materiais

A grande revolução cientifica e técnica está diretamente associada ao


desenvolvimento de novos materiais. É o caso do progresso realizado nesses últimos
vinte anos no campo da engenharia.
Para um grande número de casos, a estrutura interna dos materiais é composta
de um conjunto de grãos ou partículas microscópicas. A constituição da micro-
estrutura de um material é, em geral, definida por vários parâmetros:

- composição e arranjo atômico;


- quantidade relativa;
- morfologia;
- tamanho.

A micro-estrutura depende também dos tratamentos físicos e químicos o qual


são submetidos quando da sua fabricação e da sua concepção.

A ciência dos materiais é ainda muito jovem e esta atualmente em plena


evolução. Um dos seus objetivos é conhecer as propriedades dos materiais em função
das modificações da micro-estrutura e evidenciar os fenômenos responsáveis pelas
alterações.
Um estudo sumário do ciclo dos materiais permite demonstrar a importância das
fontes e reservas, e do custo de energia necessária a extração e a transformação das
matérias primas dos materiais, determinando assim seu preço.

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1.4 Noções básicas de concreto armado - histórico

O desenvolvimento do cimento Portland por Aspdin em 1824, na Inglaterra deu


origem aos mais recentes desenvolvimentos em obras de concreto. Em meados do
século XIX, foram adotadas pela primeira vez na França armaduras de aço em peças
de concreto. Em 1855, Lambot construiu um barco com argamassa de cimento
reforçada com ferro. Em 1861, Monier construiu um vaso de flores de concreto com
armadura de arame. Em 1861 F. Coignet publicou os princípios básicos para as
construções de concreto armado. Em 1902, Morsch publicou a primeira teoria
cientificamente consistente e comprovada experimentalmente. (Sussekind, J.C.- Curso
de Concreto Vol. I pág. 1).

1.5 Uma idéia sobre o concreto armado

O concreto é um material de construção constituído por mistura de um


aglomerante com um ou mais materiais inertes e água. Quando recém-misturado, deve
oferecer condições tais de plasticidade que facilitem as operações de manuseio
indispensáveis ao lançamento nas formas, adquirindo, com o tempo, pelas reações que
então se processarem entre aglomerante e água, coesão e resistência.
Os materiais que o compõem são: cimento, agregado e água (Petrucci, Eladio
G.R. – Concreto de Cimento Portland pág. 1).
O concreto armado é um material de construção composto (concreto com barras
de aço nele imersas) no qual a ligação entre o concreto e a armadura é devida a
aderência do cimento e a efeitos de natureza mecânica.
O concreto é um material que possui alta resistência a compressão porem
pequena resistência a tração. Tendo em vista que o concreto tracionado fissura, os
esforços de tração devem então ser absorvidos apenas pelo aço, sendo assim as barras
da armadura surgem nas peças submetidas à flexão ou a tração.

Exemplo n 1

Obs. No caso de viga de concreto simples ela romperia bruscamente após a primeira
fissura. E no caso de peças submetidas apenas a compressão, as armaduras podem
aumentar a capacidade de carga à compressão.

Toda peça de concreto armado fissura. Esse aparecimento de fissuras não é


prejudicial quando as fissuras são apenas capilares, para que isto ocorra, as barras de

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aço escolhidas devem ser bem distribuídas e de diâmetro não muito grande, não
havendo, portanto nenhum perigo de corrosão para a armadura.
O concreto armado é empregado em todos os tipos de construção e suas
principais vantagens são:

- facilmente moldável;
- resistente ao fogo, as influencias atmosféricas e ao desgaste mecânico;
- próprio para estruturas monolíticas;
- econômico.

Como desvantagens podem ser citadas:

- peso próprio;
- menor proteção térmica;
- caro nas demolições e reformas.

2.0 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS COMPONENTES

2.1 Concreto/Definições

Algumas definições usadas pela NBR 6118, item 3:

- Concreto estrutural: termo que se refere ao espectro completo da aplicação do


concreto como material estrutural.

- Elemento de concreto simples estrutural: elementos estruturais elaborados com


concreto que não possui qualquer tipo de armadura ou que a possui em quantidade
inferior ao mínimo exigido para o concreto armado.

- Elemento de concreto armado: são aqueles cujo comportamento estrutural


depende da aderência entre concreto e armadura, e nos quais não se aplicam
alongamentos iniciais das armaduras antes da materialização dessa aderência.

- Elementos de concreto protendido: são aqueles nos quais parte das armaduras
é previamente alongada por equipamentos especiais de protensão com a finalidade de,
em condições de serviço, impedir ou limitar a fissuração e os deslocamentos da
estrutura e propiciar o melhor aproveitamento de aços de alta resistência no estado
limite último (ELU).

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2.1.1 Dados iniciais

2.1.1.1 Classes

Segundo NBR 6118/2003 item 8.2.1, se aplica a concretos compreendidos nas


classes de resistência do Grupo I, indicado na NBR 8953, ou seja, ate C50.

A classe C20 ou superior se aplica a concreto com armadura passiva (qualquer


armadura que não seja utilizada para produzir forças de protensão), e a classe C25, ou
superior, a concreto com armadura ativa (destinado a produção de forças de
protensão). A classe C15 pode ser usada apenas em fundações, conforme NBR 6122, e
em obras provisórias.

2.1.1.2 Massa Específica

Segundo NBR 6118/2003 se aplica a concretos de massa específica normal que


são aqueles que, depois de secos em estufa, têm massa específica (c) compreendida
entre 2000 kg/m³ e 2800 kg/m³.

Em não se conhecendo a massa específica real, para efeito de cálculo, pode-se adotar
para o concreto simples o valor de 2400 kg/m³ e para o concreto armado 2500 kg/m³
(NBR 6118 item 8.2.2).

2.1.2 Propriedades de resistência

2.1.2.1 Resistência à compressão

A resistência à compressão simples é a propriedade mecânica mais importante


do concreto, não só porque o concreto trabalha predominantemente a compressão,
como também porque outros parâmetros físicos podem ser relacionados empiricamente
com a resistência à compressão. (Pfeil, W. Concreto Armado, vol 1 pág 27).

De modo geral, a resistência à compressão do concreto endurecido é


determinada através de ensaios padronizados. A norma brasileira, bem como a grande
maioria das normas internacionais, recomenda a adoção de corpos de prova cilíndricos
com 15 cm de diâmetro e 30 cm de altura, a serem ensaiados de um modo geral a 28
dias de sua preparação.

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O corpo de prova é então submetido a uma prensa, que possui pratos rígidos, os
quais ficam em contato direto com o corpo de prova a ser ensaiado. Com isso fica
impedida a dilatação transversal das extremidades do corpo de prova comprimido
originando-se estado triplo de tensões em grande parte do comprimento do corpo de
prova, o que pode afetar os resultados dos ensaios.
Em virtude da simetria existente, as forças de atrito mobilizadas em cada um
dos topos do corpo de prova podem ser admitidas como formando um sistema
estaticamente nulo. De acordo com o principio de Saint Venant, será desprezível a
influencia desses sistemas estaticamente nulos, em seções afastadas de pelo menos um
diâmetro da extremidade de perturbação. Justifica-se assim que os corpos de prova
tenham diâmetro e altura na relação de 1:2. Admite-se com isso que na seção media as
tensões de compressão não fiquem alteradas pelo atrito do corpo de prova com os
pratos da prensa de ensaio.
A carga vai então sendo aplicada ate romper o cilindro. Os ensaios serão sempre
de curta duração, isto é, com alta velocidade de carregamento.
Posteriormente serão feitas as correções, em seus resultados, para levar em
conta o fato da ocorrência de carregamentos de longa duração.
É valido lembrar que, na Alemanha empregam-se corpos de provas cúbicos com
20 cm de aresta, cujo resultado dos ensaios fornece valores superiores de resistência à
compressão. Esta diferença fica por conta do efeito de atrito com os pratos de ensaio
da prensa.

Ensaio rápido  é o ensaio realizado entre 2 a 3 minutos

Carregamento de longa duração  Rusch testou corpos de prova levando em


consideração que as cargas aplicadas ao concreto são bem lentas. A resistência à
compressão diminui com o carregamento de longa duração. Esta queda de resistência é
compensada em parte pelo endurecimento posterior do concreto. Apesar disso, para
carga permanente prevê-se no dimensionamento uma redução de 15 % no valor de
calculo do fck.

Efeito Rusch  redução da resistência do concreto devido à carga de longa


duração.

fclonga = 0.85 fc curta


Segundo Rusch, somente existe um serio risco de ruptura ao longo do tempo
nos concretos carregados após o seu envelhecimento, o que pode acontecer em
estruturas antigas que sofram acréscimo de solicitações. Nos concretos jovens, ou a
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ruptura acontece após algumas horas ou então ele não mais ocorrerá, porque existe
predominância do fenômeno de aumento da resistência com o tempo sobre o de
diminuição da resistência por efeito da carga de longa duração.
A evolução da resistência do concreto com o tempo depende do tipo de cimento
e das condições de cura do concreto. Esta resistência pode ser testada qualquer que
seja a idade do concreto, quando não se fizer menção em contrario entenderá por
resistência à compressão do concreto aquela correspondente aos vinte oito dias, por ser
a idade convencional em que uma estrutura usual é colocada sob seu carregamento.

Evolução da resistência do concreto com o tempo:

Idade do concreto (dias) 03 07 28 90 360


Cimento Portland comum 0,40 0,65 1,00 1,20 1,35

(Sussekind, J.C.- Curso de Concreto Vol. 1 pág 8)

2.1.2.1.1 Resistência característica do concreto à compressão (Fck)

As dificuldades existentes na aplicação do método probabilistico de cálculo,


levaram a formulação do método semiprobabilistico de cálculo, proposto pelo CEB.

Retiram-se uma amostra para a moldagem de n corpos de prova que serão


rompidos. Faremos então uma tabela com os n resultados de resistência a compressão.
Com isto traça-se o polígono de freqüência que se aproxima da curva de Gauss, à
medida que se aumenta o numero de corpos de prova.

Considerando-se uma variável qualquer de interesse para a segurança estrutural


chama-se valor característico dessa variável o valor que tenha certa probabilidade,
fixada a priori de não ser ultrapassada por valores mais desfavoráveis.

A resistência característica do concreto à compressão é determinada pelo valor


correspondente ao quartil de 5% da distribuição considerada (NBR 6118 item 12.2), ou
seja, se aceita a probabilidade de se obter ate 5% de resultados experimentais abaixo
do valor característico (resultados de resistência a compressão inferior ao valor de fck).

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(Sussekind, J.C.- Curso de Concreto Vol. 1 pág 9)

2.1.2.2 Resistência à tração

A resistência à tração depende de muitos fatores, especialmente da aderência


dos grãos dos agregados com a argamassa de cimento. Os valores de ensaio são muito
dispersos, porque as tensões devidas à variação de temperatura e a retração, por
exemplo, não são totalmente evitáveis. De acordo com o método de ensaio,
distinguem-se:

- resistência à tração axial;


- resistência à tração por fendilhamento;
- resistência à tração na flexão.

Resistência à tração axial

As novas colas artificiais de alta qualidade possibilitam os ensaios de corpo de


prova padronizados, de forma especial, à tração axial, sem influencias colaterais
perturbadora de valor ponderável.

(Pfeil, W. - Concreto Armado vol. 1 pág 38)

Resistência à tração por fendilhamento (compressão diametral)

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Utilizando o corpo de prova cilíndrico aplica-se uma compressão transversal nas
duas arestas diametralmente opostas surgindo tensões de tração praticamente
constantes na direção perpendicular aquela da aplicação do carregamento, rompendo o
corpo de prova por fendilhamento, quando for atingida sua resistência a tração ft.

Este resultado apresentado pelo ensaio Lobo Carneiro nos apresenta resultados
maiores do que a verdadeira tração pura.

fct = 0,55P
dh

(Pfeil, W. – Concreto Armado vol1 pág. 38).

Resistência à Tração na Flexão

A resistência à tração na flexão é determinada, submetendo-se a flexão uma viga


de concreto simples. Esta resistência depende muito das dimensões dos corpos de
prova e da posição da carga e é atualmente empregada apenas nas obras de
pavimentação rodoviária com concreto.
A resistência a tração na flexão é maior do que a resistência a tração axial ou
obtida por compressão diametral, porque a maior tensão ocorre apenas na fibra mais
externa e, por conseguinte as fibras vizinhas, menos solicitadas, colaboram na
resistência.

(Pfeil, W. – Concreto Armado vol 1 pág 38)

2.1.2.2.1 Resistência característica do concreto à tração

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A resistência a tração indireta fct,sp e a resistência a tração na flexão fct,f devem
ser obtidas segundo NBR 7222 e a NBR 12142, respectivamente.

Segundo a NBR 6118 item 8.2.5 a resistência a tração direta fct pode ser considerada
igual a 0,9 fct,sup ou 0,7 fct,inf ou, na falta de ensaios para obtenção de fct,sup e fct,inf, pode
ser avaliada por meio das equações seguintes:

fctm = 0,3 fck2/3


fctk,inf = 0,7 fctm
fctk,sup = 1,3 fctm

onde: fctm e fck são expressos em megapascal.

2.1.3 Propriedades de Deformação

2.1.3.1 Deformações que dependem do Carregamento

Pelo fato do concreto ser um material obtido pela mistura de cimento, água
agregados miúdos e graúdos, com os quais ocorrem diferentes fenômenos físicos e
químicos durante o processo de endurecimento, as propriedades do concreto
endurecido são grandemente influenciadas por sua estrutura interna.
No concreto endurecido devem ser distinguidas:
- deformações elásticas, devido ao carregamento ou a temperatura, desaparecem
completamente com a retirada do carregamento;
- deformações plásticas, devido as cargas elevadas de curta duração, não
desaparecem totalmente com a retirada da carga;
- deformação lenta e deformação lenta recuperável deformações que dependem do
carregamento e que são devidas a variação do volume do gel do cimento
ocasionada pelo carregamento e descarregamento.

Com o carregamento, tem inicio a deformação lenta, após pouco tempo de


aplicação da carga, de modo que é difícil constatar a ocorrência de deformações
puramente elásticas.
O calculo das deformações é realizado com auxilio da teoria da elasticidade

   .E

Onde:  é a tensão aplicada;  é a deformação resultante e E é o módulo de


elasticidade.

2.1.3.1.1 Deformações elásticas

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O diagrama tensão x deformação ( x ) de qualquer tipo de concreto é sempre
curvo não tendo um limite de proporcionalidade e consequentemente, um domínio
elástico tão bem caracterizado como no caso do aço.

(Pfeil, W. – Concreto Armado vol 1 pág 40)

2.1.3.1.2 Modulo de elasticidade

Existem varias maneiras de se calcular o modulo de deformação. No estado


atual de conhecimentos não existe um modelo matemático que considere a influencia
de todos os parâmetros sobre a deformabilidade do concreto como:

- a resistência à compressão;
- a composição do concreto;
- a idade do concreto no inicio do carregamento;
- a intensidade e repetição do carregamento;
- gradiente de tensões;
- geometria do corpo de provas etc.

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(Sussekind, J.C.- Curso de Concreto Vol. 1 pág 12)

Eci = tg 0  modulo de elasticidade tangente na origem

O valor do modulo de elasticidade tangente na origem, a partir de vários ensaios, pode


ser estimado em função de resistência de compressão fck do concreto, (NBR 6118:
2003 item 8.2.8)

Eci = 5600 fck1/2

onde: Eci e fck são dados em megapascal

Modulo de elasticidade secante ou modulo de deformação longitudinal

Ecs = tg s  definido entre um ponto da curva e a origem. Ponto este


correspondente a 40 % ou 50 % da tensão de ruptura (carga de serviço).

A razão da introdução deste conceito reside no fato de que se, trabalharmos com
o modulo secante para as cargas de serviço quando do calculo de deformações,
podemos eliminar o erro que cometeríamos com o modulo tangente na origem. Assim,
no calculo de deformações para cargas em serviço, deve-se considerar, para o concreto:

Ecs = 0,85 Eci

Coeficiente de Poisson - Modulo de deformação transversal

Toda força ou tensão provoca, juntamente com as deformações no sentido da


força, também deformações na direção transversal. A relação entre a deformação
transversal e a deformação longitudinal é o coeficiente de Poisson () que é variável
com a resistência à compressão do concreto e com o grau de solicitação, situando-se
entre 0,15 e 0,25.
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A NBR 6118:2003 item 8.2.9 sugere a adoção do valor constante =0,20 para
tensões de compressão menores que 0,5 fc e tensões de tração menores que fct.

Diagrama Tensão x Deformação - Concreto

Os diagramas  x  de concreto, medidos em ensaio de compressão axial de


curta duração sofrem influencias de diversos fatores, notadamente a velocidade de
aplicação das tensões (c) ou deformações unitárias (c), repetições de cargas etc.
Por outro lado, as variações possíveis na forma do diagrama, têm pequena
influencia nos resultados numéricos de analise.
A NBR-6118:2003 item 8.2.10.1 adota o diagrama  x  idealizado para todos
os concretos em função unicamente da resistência para carregamento de curta e longa
duração (efeito Rush – 0,85.fcd).
Para tensões de compressão menores que 0,5.fc, pode-se admitir uma relação
linear entre tensões e deformações, adotando-se para módulo de elasticidade o valor
secante dado pela expressão constante do item 8.2.8.

Gráfico tensão x deformação idealizado da compressão

(Sussekind, J.C.- Curso de Concreto Vol. 1 pág 15)


A adoção do diagrama parábola retângulo, base para o dimensionamento das
seções de concreto, apresenta um trecho parabólico que vai da origem ate o ponto
correspondente ao encurtamento unitário de 0,2%, onde a tensão de compressão atinge
o valor da resistência considerada. Em seguida o diagrama apresenta um trecho
horizontal que vai ate o ponto correspondente ao encurtamento unitário de 0,35%,
considerando atingida a ruptura.

Para o concreto não fissurado, pode ser adotado o diagrama tensão –


deformação bilinear de tração, indicado abaixo.

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Diagrama tensão-deformação bilinear na tração

2.1.3.2 Deformações que independem do carregamento

2.1.3.2.1 Retração

A retração é o fenômeno de variação espontânea de volume que ocorre no


concreto e em outros materiais cuja estrutura interna seja de natureza porosa, na
ausência de tensões mecânicas e de variações de temperatura. Essa variação é
usualmente constituída por uma redução de volume, embora também possa ocorrer o
fenômeno inverso, de expansão, quando a peça estiver mergulhada em água.
Para as peças de concreto curadas ao ar livre, existem basicamente três causas
distintas de retração:
Retração química  provocada pela contração da água não evaporavel que vai
sendo combinada com o cimento durante todo o processo de endurecimento do
concreto.
Retração decorrente da evaporação da água capilar que permanece no concreto
após o seu endurecimento.
Retração por carbonatação dos produtos decorrentes da hidratação do cimento
(dissolução dos cristais de hidróxido de cálcio seguida da transformação em carbonato
de cálcio).

No caso das peças curadas debaixo d’água, a expansão pode ser justificada pela
absorção de água, que vai ocupar, pelo menos parcialmente, os vazios decorrentes da
retração química ocorrida durante o período de pega do concreto e os vazios
preenchidos pelo ar incorporado durante a mistura mecânica do concreto e que não
puderam ser eliminados durante o seu adensamento.
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Fatores que influenciam a retração:

- umidade do ar;
- idade e grau de maturidade do concreto por ocasião do inicio da secagem;
- espessura;
- teor de cimento e fator agua-cimento;
- temperatura do ar ambiente.

A retração começa sempre nas superfícies externas das pecas estruturais, sendo
impedida pelas zonas internas, gerando tensões internas, em especial nas peças
espessas. Estas tensões produzem fissuras de retração no lado externo do concreto
novo onde ha uma pequena resistência à tração. O começo da retração deve ser
prorrogado tanto quanto possível, através da proteção do concreto contra secagem
(cura).

De um modo geral, as deformações de retração podem ser consideradas como


praticamente irreversíveis.

Efeitos indesejáveis da retração:

- aumento das flechas em vigas e lajes;


- aumento da curvatura dos pilares;
- fissuras nas superfícies externas.

Obs. A cura do concreto tem pôr finalidade impedir a evaporação da água


empregada no traço do concreto, durante o período inicial de hidratação. Em geral a
cura se faz mantendo-se úmida as superfícies do concreto, jogando-se água sobre as
mesmas, recobrindo-se com areia ou tecido úmido. Em zonas quentes e sujeitas a
vento, a evaporação é muito rápida, logo após a pega o concreto deve ser coberto com
sacos de aniagem ou lona mantida úmida segundo recomendação NBR 6118:2003 item
8.2.11.

2.1.3.2.2 Variação de Temperatura

Supõe-se para o calculo que as variações de temperatura sejam uniformes ao


longo da estrutura, salvo quando a desigualdade dessas variações, entre partes
diferentes da estrutura seja muito acentuada.
A seção de uma peça então submetida a uma variação de temperatura uniforme
igual a t C terá uma deformação especifica axial igual a:

=t
onde:  é o coeficiente de dilatação linear do material. No caso do concreto armado a
NBR 6118:2003 item 8.3.4, recomenda  =10-5/C, para intervalos de temperatura
entre –20°C e 150°C
Obs. Para o concreto o coeficiente de dilatação térmica  se situa entre 0,9 a 1,4 x 10-
5
/C, ao passo que o aço possui  = 1,2 x 10-5/ C, esta diferença é irrisória,
possibilitando a viabilidade do concreto.
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No caso de estruturas que em condições de funcionamento são submetidas a


grandes diferenças de temperatura deve-se então levar em conta a variação diferencial
das fibras superiores em relação as inferiores. Ex. chaminés, alto-fornos, frigoríficos
etc. Em alguns casos, protegemos a estrutura de concreto, com um material de
revestimento capaz de corrigir o gradiente térmico, ex. tijolo refratário.
A variação de temperatura, ocasionando alterações de volume do esqueleto
solida e da água contida nos seus interstícios, diferentes em ambos os materiais, dá
lugar a alterações das tensões capilares. A deformação do concreto resultante desses
fatores não obedece a uma lei certa que, como no caso de sólidos perfeitos, para as
temperaturas comuns, possa ser representada pelo produto da diferença de temperatura
por um coeficiente de dilatação constante.

Não sendo possível, nas obras de concreto, considerar com rigorosa exatidão, as
deformações oriundas das variações de temperatura, costuma-se adotar para diminuir
seus efeitos o valor de L (distância do centro de dilatação a seção considerada).

L =  t L

Para as deformações oriundas de variações de temperatura, a norma brasileira


recomenda o controle em pecas com dimensão não interrompida por junta de dilatação
maior que 30m.

2.2 Aço

O aço é uma liga ferro-carbono, fabricado nas usinas siderúrgicas pela


descarbonatação (diminuição do teor de carbono) do ferro gusa. O ferro gusa é obtido
pela reação química de redução do minério de ferro calcinado + coque (destilação seca
do carvão de pedra) + calcário.

2.2.1 Categoria

Para a NBR 6118:2003 item 8.3.1, nos projetos de estruturas de concreto


armado devem ser utilizados aço classificado pela NBR 7480 com o valor
característico da resistência de escoamento nas categorias CA-25, CA-50 e CA-60. Os
diâmetros e as seções transversais nominais devem ser os estabelecidos na NBR 7480.

Os aços usados no concreto armado diferenciam-se por:

Tipo de fabricação  laminado de dureza natural


 deformado a frio

Qualidade  limite de escoamento


 resistência a tração
 alongamento de ruptura

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Tipo de superfície  liso
 nervurado

2.2.2 Classificação

2.2.2.1 Quanto ao tipo de fabricação:

Os aços utilizados em concreto armado são obtidos por laminação a quente.


Quando após o processo de laminação o aço é resfriado naturalmente, isto é, ao ar
livre, chamamos estes aços de laminado de dureza natural. Quando após a laminação à
quente as barras de aço são encruadas por deformação a frio, chamamos estes aços de
deformado a frio.

O encruamento consiste numa deformação permanente imposta ao material, a


frio, através de um dos seguintes processos:

- torção;
- tração;
- trefilação;
- deformações transversais com prensas.

O encruamento provoca um aumento da resistência devido a uma reorientação


dos cristais de aço. Este efeito pode ser anulado se o aço for submetido a temperaturas
elevadas, alem de que, os aços encruados, são mais duros, menos flexíveis e possuem
menor resistência a corrosão e a fadiga.

2.2.2.2 Quanto ao limite de escoamento:

De acordo com as características mecânicas os aços são classificados em


categorias, denominadas pelas letras C e A (concreto armado) seguidas do limite de
escoamento em Kgf/cm2 (real ou convencional).
De acordo com o valor característico da resistência de escoamento, as barras de
aço são classificadas nas categorias:

CA - 25  fyk = 250 MPa


CA - 50  fyk = 500 MPa
E os fios de aço na categoria:

CA - 60  fyk = 600 MPa

Armaduras para concreto armado

Segundo a NBR 7480/96, classificam-se como barras os produtos de diâmetro


nominal iguais a 5,0mm ou superior, obtidos exclusivamente por laminação a quente, e
classificam-se como fios aqueles de diâmetro nominal 10,0mm ou inferior, obtidos por
trefilação ou processo equivalente.

1 – Barras  possuem seção circular


comprimentos de 11m
20
21
com ou sem deformações superficiais

2 – Fios  produtos com diâmetro  10mm


obtidos por trefilação a frio
em geral possuem superfície lisa

3 – Malhas ou telas  produtos formados por fios de aço soldados entre si,
por caldeamento, nos pontos de cruzamento.

Bitolas comerciais

Os diâmetros das barras e fios são padronizados, de acordo com a norma


brasileira NBR 7480/96, em milímetros.

* Barras


(mm) 5,0 6,3 8,0 10,0 12,5 16,0 20,0 22,0 25,0 32,0 40,0
Área
(cm²) 0,196 0,312 0,503 0,785 1,227 2,011 3,142 3,801 4,909 8,042 12,566

* Fios


(mm) 2,4 3,4 3,8 4,2 4,6 5,0 5,5 6,0 6,4 7,0 8,0 9,5 10,0
Área 0,0 0,3 0,5 0,78
(cm²) 45 0,091 0,113 0,139 0,166 0,196 0,238 0,283 22 0,385 03 0,709 5

2.2.2.3 Quanto à resistência à tração:

Uma vez realizados os ensaios de tração dos aços, com o preparo de corpo de
prova, aplicação da carga e obtenção dos dados do ensaio, calcula-se o valor da
resistência característica de acordo com o quantil especificado na NBR 6118 (5%). O
calculo da resistência característica será da seguinte forma:

fyk = fy – 1,65 S

onde:

fy - resistência media do escoamento;


S - desvio padrão;
fyk - resistência característica do aço.

21
22

Diagrama Tensão x Deformação - Aço

O diagrama tensão-deformação do aço, os valores característicos da resistência


ao escoamento fyk, da resistência à tração fstk e da deformação na ruptura ε uk devem
ser obtidos de ensaios de tração realizados segundo a NBR 6152. O valor de fyk para
os aços sem patamar de escoamento é o valor da tensão correspondente à deformação
permanente de 0,2%.

Para o cálculo a NBR 6118:2003 item 8.3.6 recomenda que nos estados-limite de
serviço e último pode-se utilizar o diagrama simplificado, para os aços com ou sem
patamar de escoamento.

Diagrama tensão-deformação para aços de armaduras passivas

O modulo de elasticidade do aço (Ecs) é constante e igual a 210GPa para


qualquer tipo de aço.

2.2.2.4 Quanto ao alongamento de ruptura:

Para caracterizar a capacidade de deformação dos aços (ductilidade), define-se


o alongamento de ruptura, isto é, a capacidade de se deformar muito sob ação das
cargas próximas da resistência de ruptura.
A ductibilidade das barras é ainda necessária para permitir a dobragem das
mesmas, para formação de curvas e ganchos de ancoragem.
O alongamento unitário é limitado ao máximo de 1,0% com a finalidade de
evitar no calculo valores excessivos para a deformação plástica das armaduras
tracionadas.
A deformação relativa de compressão é limitada a 0,35% por corresponder esse
limite ao máximo valor absoluto do encurtamento unitário do concreto comprimido.
Esta limitação é devida ao fato de se considerar para o aço o mesmo encurtamento
unitário do que o concreto.

22
23

Fadiga das Armaduras:

A resistência a fadiga dos aços para concreto é estabelecida por uma resistência
a oscilações repetidas de um grande numero de ciclos de carga à tração. A resistência à
fadiga é bem menor do que a resistência determinada para carregamentos únicos de
curta duração.

Comportamento dos aços:


O aço CA-25 não apresenta problemas de diminuição de resistência devido à
solicitação alternada; os aços CA-50 e CA-60 registram problemas de diminuição de
resistência para cargas alternadas. Observa-se também que a presença de nervuras
inclinadas nas barras CA-50 e CA-60 diminuem os problemas com a fadiga.

2.2.2.5 Quanto ao coeficiente de aderência (b):

O coeficiente de aderência, para barras   10mm, é um número adimensional


comparativo entre a aderência da barra ensaiada e a de uma barra com superfície lisa.
O coeficiente de aderência é medido em ensaios padronizados de fissuração de tirantes
de concreto armado. Segundo a NBR 6118:2003 item 8.3.2, temos:

Tipo de Barra b
Lisa 1,0
Dentada 1,2
Alta aderência  1,5

2.2.2.6 Quanto à conformação superficial (1):

As barras de aço podem ter superfície lisa ou com deformações superficiais.


Essas deformações permitem aumentar a aderência entre a armadura e o concreto. Ela
pode ser aplicada durante a laminação a quente ou impressa após a laminação.
As barras da categoria CA-50 são obrigatoriamente providas de nervuras
transversais ou obliquas.
Normalmente, as barras de aço para concreto armado se apresentam da seguinte
forma:

CA-25  laminado em vergalhão liso;


CA-50  laminado com nervuras;
CA-60  fios encruados com superfície lisa.

23
24
Obs. Os fios de diâmetro nominal igual a 10,0mm (CA-60) devem ter
obrigatoriamente entalhes ou nervuras, de forma a atender o coeficiente de
conformação superficial 1.

2.3 Concreto armado

O concreto armado é constituído por dois materiais: concreto e barras de aço, de


naturezas muito diferentes, mas com propriedades complementares: aderência e
coeficientes de dilatação. (Pfeil, W - Concreto Armado vol 1 pág 92).
Aderência é a firme ligação entre o concreto e as barras da armadura que
permite o uso do concreto armado como material de construção.
O aço e concreto têm aderência recíproca que permite a transmissão de esforços
de um material para outro por tensões cisalhantes (tensões de aderência), atuando na
superfície das armações. A aderência é favorecida pela retração do concreto, que aperta
este material contra as barras da armação.
O aço e o concreto têm aproximadamente o mesmo coeficiente de dilatação
térmica (  10-5/C), o que permite que os dois materiais sofram dilatações térmicas
sem destruir as ligações de aderência.
Como a resistência à tração do concreto é pequena, o concreto fissura por efeito
de retração, antes mesmo de ser carregado, tendo as barras que absorverem os esforços
de tração.
A aderência impede que haja escorregamento relativo entre a armadura e o
concreto que a envolve, dai, a aderência serve para ancorar as armaduras, nas
extremidades ou nos pontos de emenda por traspasse e para impedir o escorregamento
das armaduras nos segmentos entre fissuras, limitando assim a abertura de fissuras.
A aderência então deve ser desenvolvida de modo que as aberturas de fissuras
permaneçam pequenas.

2.3.1 Comportamento de um tirante

Nas peças de concreto armado são definidos dois comportamentos particulares,


designados comportamentos de estádio I e de estádio II.

Estádio I  o concreto não está fissurado e absorve os esforços de tração. As


cargas são tão baixas que não atingem a resistência à tração.

Estádio II o concreto está fissurado e a armadura absorve os esforços de


tração. O concreto não foi suficiente para atender os esforços de tração.

No estádio I é admitida a linearidade dos materiais, permanecendo íntegro o


concreto tracionado. O concreto tracionado está, portanto no estado não fissurado.
No estádio II é admitida a linearidade física do aço e do concreto comprimido,
considerando o concreto tracionado como totalmente fissurado. A passagem do estádio
I para o estádio II é gradual, pois não ocorre a fissuração do concreto tracionado
simultaneamente em todos os pontos da peça.
24
25
Além dos estádios I e II também é usual a consideração do chamado estádio III.
O estádio III corresponde apenas ao estado de ruptura do concreto comprimido não
existindo, portanto um novo comportamento. De acordo com o método dos estados
limites, o estádio III passa a ser designado por estado limite último de ruptura do
concreto.

Estádio I

(Leonhardt F. e Mönnig: - Construções de Concreto Vol. I pág. 46).

25
26
Estádio II

(Leonhardt F. e Mönnig: - Construções de Concreto Vol. I pág. 47).

Obs: No ponto de fissura deixa de existir aderência entre concreto e o aço. Somente o
aço absorve os esforços de tração.

As tensões de aderência aparecem desde que ocorra uma variação de tensão no


aço em um determinado trecho. As causas podem ser as seguintes:

- Cargas;
- Fissuras;
- Forças de ancoragem nos extremos das barras;
- Variações de temperatura;
- Retração do concreto;
- Deformação lenta do concreto em peças comprimidas de concreto armado (pilares).

26
27
Comportamento de uma viga

(Leonhardt F. e Mönnig: - Construções de Concreto Vol. I pág. 64).

27
28
2.3.2 Ligação aço - concreto

2.3.2.1 Mecanismos de transferência de força

Na realidade, a aderência entre o concreto e o aço é composta por diversas


parcelas, as quais decorrem de diferentes fenômenos que intervêm na ligação dos dois
materiais. Esquematicamente, podem ser consideradas as seguintes parcelas:
Aderência por adesão  ação de colagem entre o aço e a nata de cimento. O
concreto ainda fluido envolve a barra de aço e através de ligações físico-químicas que
se estabelecem na interface dos dois materiais durante as reações de pega do cimento,
aparece certa resistência de adesão.

(Fusco, P.B. – Fundamentos da Técnica de Armar Vol. III pág. 47).

Esta colagem depende da rugosidade, da limpeza e da superfície das armaduras.


Aderência por atrito  uma vez rompida a adesão, aparece uma resistência de
atrito entre o aço e o concreto, desde que existam pressões transversais às armaduras.
O coeficiente de atrito é alto devido a rugosidade da superfície do aço.

F=N  = 0,3 a 0,6

(Fusco, P.B. – Fundamentos da Técnica de Armar Vol. III pág. 48).

28
29
Aderência Mecânica  através do aspecto mecânico do tipo encaixe entre a
superfície da armadura e o concreto. Este tipo de ligação é obtido através das nervuras
(saliências na superfície da barra).
Nas barras nervuradas, o valor da resistência por aderência mecânica depende
da forma e da inclinação das nervuras, da altura e da distância livre entre elas. O efeito
de aderência mecânica também esta presente nas chamadas barras lisas, em virtude das
irregularidades superficiais inerentes ao processo de laminação.

(Fusco, P.B. – Fundamentos da Técnica de Armar Vol. III pág. 49).

2.3.2.2 Resistência da ligação

A aderência entre uma barra de aço e o concreto pode ser medida em diversos
tipos de ensaios, um deles é o ensaio de arrancamento da barra que consiste em aplicar
uma força Pu a uma barra com um comprimento de ancoragem (lb), num bloco de
concreto, medindo-se o escorregamento () da barra.

(Pfeil, W. - Concreto Armado Vol. 1 pág 94).

29
30
lb  é o comprimento de ancoragem por aderência de uma barra no concreto. É
o comprimento mínimo necessário para que a mesma transmita ao concreto sua força
Pu.

Diagrama de tensão de aderência x deslocamento

(Pfeil, W. - Concreto Armado Vol. 1 pág 95).

 = 0,1mm  valor limite da tensão de aderência

fbd – resistência de aderência de cálculo

Pu = fyd x As
Pu = fbd ( ) lb
 2 x fyd =   lb fbd
4

 fyd
lb  x ;
4 fbd

onde:

fbd = 1 2 3 fctd

1 1,00 para barras lisas


1,40 para barras dentadas
2,25 para barras nervuradas
2 1,00 para situação de boa aderência
0,70 para situação de má aderência
3 1,00 para   32mm
(132 - )/100 para   32mm

Sendo que:
fctd = fctk,inf / c (ver 2.1.2.2.1)

Fatores que influenciam as condições de ancoragem

- Qualidade do concreto;
30
31
- Conformação superficial da barra;
- Diâmetro da barra;
- Posição relativa da barra no interior do concreto.

Zonas de Boa Aderência:

Situação que podemos garantir que o concreto será bem vibrado e adensado.

Conforme a NBR 6118:2003 item 9.3.1:


Considera-se em boa situação quanto à aderência os trechos das barras que estejam em
uma das posições seguintes:

a) Com inclinação maior que 450 sobre a horizontal;


b) Horizontais ou com inclinação inferior a 450 sobre a horizontal, desde que:

- para elementos estruturais com h < 60cm, localizados no máximo 30cm acima da
face inferior do elemento ou da junta de concretagem mais próxima;

- para elementos estruturais com h  60cm, localizados no máximo 30cm abaixo da


face superior do elemento ou da junta de concretagem mais próxima.

(Sussekind, J.C.- Curso de Concreto Vol. 1 pág. 67).

Zonas de má aderência:

Os trechos das barras em outras posições e quando do uso de formas deslizantes


devem ser considerados em má situação de aderência.
31
32

Comprimento de ancoragem necessário:

Segundo a NBR 6118:2003 item 9.4.2.5, o comprimento de ancoragem necessário


pode ser calculado por:

As, calc
lbnec  1.lb.  lb, min
As, ef

sendo:

1 = 1,0 para barras sem gancho;


1 = 0,7 para barras tracionadas com gancho, com cobrimento no plano normal ao do
gancho  3;

lb = comprimento básico de ancoragem;


lb,min = o maior valor entre 0,3 lb, 10 e 100mm.

Caso não haja espaço na peça para o comprimento de ancoragem devemos:

- Diminuir o diâmetro da barra;


- Usar mecanismos;
- Usar ganchos de ancoragem.

Ganchos de ancoragem:

O gancho funciona mais a base de atrito do que aderência, ele absorve uma
parte da força a ser transferida do aço para o concreto, ficando a parte restante a ser
absorvida na parte retilínea da ancoragem.

- o gancho deve ser obrigatório para barras lisas;


- sem gancho nas que tenham alternância de solicitação, de tração e compressão;
- com ou sem gancho nos demais casos, não sendo recomendado o gancho para
barras de  > 32mm ou para feixe de barras.

Os ganchos apresentam os seguintes aspectos negativos:

- elemento que pode levar a concentração de tensões;


- elemento difícil de executar.

Tipos de Gancho

a) semicirculares com ponta reta de comprimento mínimo igual a 2

32
33

b) em angulo de 45 (interno), com ponta reta de comprimento mínimo  4

c) em angulo reto com ponta reta de comprimento  8

(Sussekind, J.C.- Curso de Concreto Vol. 1 pág 71).

O diâmetro interno da curvatura dos ganchos das armaduras longitudinais de


tração deve ser pelo menos igual ao estabelecido na tabela abaixo (NBR 6118:2003
item 9.4.2.3).

Vitola Tipos de Aço


CA-25 CA-50 CA-60
< 20mm 4 5 6
> 20mm 5 8 -

Em barras nervuradas o efeito gancho não é tão significativo como nas barras
lisas.

33
34
Ancoragem de Barras Comprimidas

No caso de barras que sempre forem comprimidas, devem ser ancoradas em


trecho reto, sem gancho, pois tende a provocar rupturas localizadas no concreto a sua
volta.

2.3.2.3 Emendas das Barras de Armação

Sendo o comprimento normal de fabricação das barras de 11m, toda vez que
tivermos necessidade de barras mais longas, seremos obrigados a adotar emendas na
armadura, seja ela tracionada ou comprimida (Sussekind, J.C.- Curso de Concreto Vol.
1 pág 80).
Observa-se que a utilização das emendas permite manter os esquemas normais
de laminação e transporte e, também possibilita o aproveitamento das pontas,
reduzindo as perdas.
As emendas têm, por finalidade, dar continuidade na transmissão dos esforços
nas armaduras, dando-se desta forma, condições de considerar a estrutura como
monolítica.

Processos para emendas de barras de aço para concreto armado:

- emendas por traspasse (justaposição);


- emendas por solda;
- emendas topo a topo.

2.3.2.3.1 Emendas por Traspasse (Justaposição)

São as de uso mais freqüente, sobretudo nas bitolas mais finas (não sendo
permitida em barras de bitola maior que 32mm), nem para tirantes e pendurais. No
caso de feixes, o diâmetro do circulo de mesma área, para cada feixe, não deve ser
superior a 45mm.
Com esse tipo de emenda os esforços nas barras são transmitidos pela aderência
do concreto com o aço. Prevê-se então, um determinado comprimento de barra, de
modo que a mesma fique ancorada no concreto, sendo assim poderíamos considerar o
comprimento de emenda igual ao comprimento de ancoragem. Tal fato, só seria
possível, caso não houvesse uma grande quantidade de barras emendadas próximas
uma das outras, o que perturbaria as condições de aderência do conjunto.
(NBR 6118 item 9.5.2)

Tipos de emenda por traspasse:

- comprimento de traspasse de barras tracionadas


- comprimento de traspasse de barras comprimidas

Barras tracionadas:

34
35
As proporções máximas das barras tracionadas da armadura principal
emendadas por traspasse na mesma seção transversal do elemento estrutural devêm ser
indicadas conforme tabela abaixo:

Tipo de barra Situação Tipo de carregamento


Estático Dinâmico
Alta Aderência Em uma camada 100% 100%
Em mais de uma camada 50% 50%
Lisa  < 16mm 50% 25%
  16mm 25% 25%

Cálculo do comprimento de traspasse de barras tracionadas:

Lot = ot x lb,nec  Lot,min

sendo:
Lot,min é o maior valor entre 0,3.ot.lb, 15 e 200mm

onde:
ot é o coeficiente em função das barras emendadas na mesma seção conforme tabela
abaixo:

Barras emendadas na mesma seção (%)  20 25 33 50 > 50


Valores de ot 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0

Barras comprimidas:

Quando as barras estiverem comprimidas, adota-se a seguinte expressão para o


cálculo do comprimento de traspasse:

Loc = lb,nec  Loc,min

sendo:
Loc,min o maior valor entre 0,3.lb, 15 e 200mm.

2.3.2.3.2 Emendas por Solda

São geralmente feitas por caldeamento, isto é, por fusão do próprio material das
barras, ou por soldagem manual com eletrodos revestidos. Tem a vantagem de poderem
35
36
ser executadas em comprimentos de barras pequenos, mas, como desvantagem a
necessidade do emprego de mão de obra especializada, de controle rigoroso de
qualidade, alem de controles especiais para os aços encruados, para que não percam
sua resistência na região da solda.

Tipos de emendas por solda:

- Emendas por sobreposição, com peças de eletrodos:

Essa emenda é semelhante àquela feita por traspasse sendo somente que a
transmissão dos esforços é pelo material depositado na soldagem, e não por aderência
concreto-aço. Dentre as emendas soldadas é a menos usada.

- Emendas por soldagem de pontos:

É a conexão de barras sobrepostas através de pequenos arcos de solda chamados


pontos de solda. Embora sejam feitos com os procedimentos normalmente
recomendados, são muitos empregados na produção de malha soldada.
(NBR 6118:2003 item 9.5.4)

2.3.2.3.3 Emendas topo a topo

- Emendas topo a topo por deposição de metal de eletrodos:

É a conexão de barras topo a topo, por meio da deposição de metal solda. Com
esse tipo de emenda os esforços são transferidos diretos ou concentricamente através
da solda, constituindo uma emenda que é compacta e eficiente.

- Emendas topo a topo por fusão:

É um processo de emenda topo a topo no qual as extremidades são soldadas por


fusão. Este sistema é muito empregado na emenda de barras de grande diâmetro.

- Emendas topo a topo com luva:

Nesse sistema a emenda é feita por meios mecânicos, é utilizada nesse caso a
rugosidade das barras a serem emendadas em termos básicos, seria como a ação das
roscas dos parafusos e porcas. É um processo caro, normalmente adotado quando não
queremos deixar ferros em espera.
Não é aconselhado esse tipo de emenda para aços tipo B, salvo rigoroso
controle.

36
37
- Emendas topo a topo por caldeamento:

Nesse processo de emenda as barras são colocadas topo a topo em cabeçotes


moveis de uma maquina. Através da passagem de corrente elétrica, aquece-se o
material, e por intermédio de uma alavanca move-se um dos cabeçotes deformando o
material.
No Brasil, o tipo de emenda mais usado é a emenda por traspasse, isto por sua
simplicidade de execução tornando-se um fator de economia.

3.0 MÉTODOS GERAIS DE CALCULO

3.1 Segurança e estados limites

3.1.1 Critérios de segurança

Para todos os efeitos devem ser considerados os estados limites últimos e os estados
limites de serviço.

Justificativas de cálculo

As estruturas ou elementos estruturais devem ser concebidos e calculados de


maneira que possam resistir com segurança apropriada a todas as solicitações previstas
e apresentar durabilidade satisfatória durante um período previsto (NBR 6118:2003
item 6.2).
Uma concepção correta é essencial no que concerne as disposições gerais da
obra e dos detalhes construtivos.
O calculo permite justificar, na medida em que não existe erro de concepção,
uma segurança:

- seja do ponto de vista de ruína da estrutura ou de um de seus elementos estruturais;


- seja do ponto de vista de um comportamento não satisfatório em serviço (no que diz
respeito ao aspecto, a durabilidade, ao conforto dos usuários etc.).

Estados limites das estruturas de concreto

De um modo geral, uma estrutura de concreto deve ter a sua segurança


verificada contra diferentes estados limites, nos quais ela deixa de cumprir as suas
finalidades isto é, não responde mais as funções para as quais ela foi concebida.

3.1.2 Estados Limites Últimos

37
38
Certamente o aspecto mais importante do problema de segurança é o perigo de
colapso da estrutura. Em face às dificuldades para a determinação da segurança. O
estado limite último é caracterizado ou pela ruptura do concreto ou pela deformação
plástica excessiva da armadura, a qual se determina a paralisação do uso da estrutura.
Admite-se, convencionalmente que a ruptura do concreto seja atingida com
encurtamentos cd variando de 0,2% na compressão axial ate 0,35% na flexão pura. De
forma análoga, para qualquer aço de armadura, admite-se que a deformação sd = 1,0%
já seja um valor excessivo.
Dessa forma, admite-se que haja uma segurança adequada contra o colapso,
desde que seja imposta uma margem de segurança contra o estado limite ultimo
convencional de ruptura ou de deformações plásticas excessivas.
(NBR 6118:2003 item 10.3)

3.1.3 Estados Limites de Utilização

A fim de que uma construção possa ser considerada como segura, alem dos
estados limites últimos de sua estrutura também devem ser considerados os estados
limites de utilização.
Sob a ação das cargas de utilização normal as estruturas não devem apresentar
deformações exageradas. Devem ser consideradas as possibilidades de danos nos
revestimentos, nas alvenarias, nas caixilharias ligadas a estrutura etc., pois que o efeito
psicológico de insegurança deve ser evitado.
Desse modo, é preciso que a rigidez das peças estruturais seja adequada a
utilização da construção.
De qualquer forma, quando a estrutura atingir os valores limites previstos para
as suas deformações, tem-se um estado limite de deformação.
Outro aspecto da rigidez da estrutura é o que se apresenta sob a ação de
carregamentos dinâmicos. Sob ação deste carregamento podem surgir estados de
vibração caracterizando um estado limite de utilização, no caso, um estado limite de
vibração excessiva.
No caso de deslocamentos excessivos, devido a deformação do terreno de
fundação (recalques e etc.), devem ser considerados o estado limite de deslocamentos
excessivos sem perda de equilíbrio. O fenômeno da fissuração do concreto também
define estado limite de utilização. As aberturas fissuras são limitadas a valores
admissíveis, destinados a garantir proteção das armaduras contra corrosão, e ainda
evitar efeitos estéticos desagradáveis, provocados por uma fissuração muito acentuada.
Alem desses casos, outros estados poderão também se constituir em estado limite de
utilização, seja por problemas de manutenção da estrutura (ex. corrosão) seja por
problemas de funcionamento da própria construção (compressão do concreto, fadiga).

Fatores de insegurança

Um estado limite pode ser atingido em seguida a intervenção combinada de


múltiplos fatores aleatórios de insegurança que podem se classificar em 3 grupos:
38
39

Grupo 1 - incertezas sobre os valores das ações no momento de concepção da


estrutura;
- possibilidade de ações anormais ou imprevistas;
- pequena possibilidade de ações simultâneas atingirem seus valores
máximos previstos.

Grupo 2 - incertezas sobre as resistências dos materiais;


- incertezas sobre os valores obtidos nos ensaios;
- incertezas sobre as resistências efetivas no interior da obra (defeitos
locais de concretagem).

Grupo 3 - incertezas nas avaliações das solicitações;


- aproximações inevitáveis sobre as hipóteses de calculo;
- falta de exatidão geométrica quando da execução.

3.2 Ações

São as diferentes ações as quais serão submetidas à construção, elas são


classificadas em três categorias, em função da freqüência de aplicação.
Os valores destas ações que serão introduzidos no calculo possuem um caracter
normal e são constituídos de valores característicos aproximados, definidos nas
diversas normas regulamentares.
(NBR 6118:2003 item 11)

3.2.1 Generalidades

Na análise estrutural deve ser considerada a influência de todas as ações que


possam produzir efeitos significativos para a segurança da estrutura em exame,
levando-se em conta os possíveis estados limites últimos e os de serviço.

3.2.2 Classificação das ações

As ações a considerar classificam-se de acordo com a NBR8681 em


permanentes, variáveis e excepcionais. Para cada tipo de construção, as ações a
considerar devem respeitar suas peculiaridades e as normas a elas aplicáveis.

I - Ações permanentes (G)

Elas são aplicadas praticamente com a mesma intensidade durante toda a


duração de vida da obra, ela compreende:

39
40
- o peso próprio da estrutura, calculado de acordo com as dimensões previstas nos
desenhos de execução. O peso específico do concreto armado é igual a 2,5tf/m 3 (NBR
6118:2003 item 8.2.2);
- as cargas das superestruturas, os equipamentos fixos, os esforços devido a terra ou
líquidos, nos quais o nível pouco varia, os esforços devido às deformações
permanentes impostas a estrutura etc.

II - Ações Variáveis (Q)

São as ações na qual a intensidade é mais ou menos constante, mas são


aplicadas durante um tempo curto em relação às ações permanentes.

Elas são definidas pelas normas em vigor:

As ações devido às sobrecargas de utilização são definidas pelas condições


próprias de utilização da obra ou pelas normas como:

- as ações climáticas;
- ações do vento;
- ações da água;
- ações aplicadas durante a execução.

III - Ações Excepcionais

- movimentos sísmicos, ação do fogo, choque de veículos, etc. não serão consideradas,
somente em casos previstos.

3.3 Combinações das ações

3.3.1 Generalidades

Um carregamento é definido pela combinação das ações que tem probabilidade


não desprezível de atuarem simultaneamente sobre a estrutura, durante um período
pré-estabelecido.
A combinação das ações deve ser feita de forma que possam ser determinados
os efeitos mais desfavoráveis para a estrutura e a verificação da segurança em relação
aos estados limites últimos e aos estados limites de serviço deve ser realizada em
função das combinações ultimas e combinações de serviço respectivamente.

3.3.2 Combinações Últimas

Uma combinação pode ser classificada em normal, especial ou de construção e


excepcional.

40
41
3.3.2.1 Combinações Últimas Normais

Em cada combinação devem figurar: as ações permanentes e a ação variável


principal, com seus valores característicos e as demais ações variáveis, consideradas
como secundaria, com seus valores reduzidos de combinação, conforme NBR 8681.

3.3.2.2 Combinações Últimas Especiais ou de Construção

Em cada combinação devem figurar: as ações permanentes e a ação variável


especial, quando existir, com seus valores característicos e as demais ações variáveis,
com probabilidade não desprezível de ocorrência simultânea, com seus valores
reduzidos de combinação, conforme NBR 8681.

3.3.2.3 Combinações Últimas Excepcionais

Em cada combinação devem figurar: as ações permanentes e a ação variável


excepcional, quando existir, com seus valores representativos e as demais ações
variáveis, com probabilidade não desprezível de ocorrência simultânea, com seus
valores reduzidos de combinação, conforme NBR 8681.

Solicitações de Cálculo

As solicitações são os esforços provocados, em cada ponto e sobre cada seção


da estrutura, pelas ações que exercem sobre ela. As solicitações são expressas sob
forma de forças, de esforços (normal ou cortante), de momentos (de flexão, torção) e
etc.

Conceitos de Estado Limite Último

A resistência interna da seção (R) é calculada em função da resistência


característica permanente do concreto (0,85fck) e do valor característico do limite de
escoamento das armaduras (fyk). Os coeficientes de segurança aplicam-se as
solicitações atuantes nas seções

 0,85. fck fyk 


Rd  R. ,   Sd  f .S
 c s 

Coeficiente de segurança dos materiais, no estado limite de projeto:

Material Notação (m) NBR 6118


Aço s 1,15
Concreto de dosagem c 1,40
racional fabricado em
obra ou usina
41
42
Concreto rigorosamente c 1,30
dosado e controlado

Coeficiente de segurança das solicitações:

As solicitações de projeto Sd são obtidas multiplicando-se as solicitações


atuantes (S) por coeficientes de segurança das solicitações f, de acordo com o tipo de
combinação.

Combinações Descrição Cálculo das Solicitações


Últimas (ELU)
Esgotamento
da capacidade
resistente
para Fd = gFgk + gFgk + q(Fq1k + 0jFqjk) + q0Fqk
elementos
estruturais de
concreto
armado
Esgotamento
Normais da capacidade
resistente Deve ser considerada, quando necessário, a força de
para protenção como carregamento externo com os valores
elementos Pkmax e Pkmin para a força desfavorável e favorável
estruturais de respectivamente.
concreto
protendido
Perda de S (Fsd)  S (Fnd)
equilíbrio Fsd = gs Gsk + Rd
como corpo Fnd = gn Gnk + q Qnk - qs Qsmin
rígido onde: Qnk = Q1k + 0j Qjk
Especiais ou Fd = gFgk + gFgk + q(Fq1k + 0jFqjk) + q0Fqk
de Construção
Excepcionais Fd = gFgk + gFgk + Fq1exc + q0jFqjk + q0Fqk

(NBR 6118:2003 item 11.8.2.4)


Coeficientes de segurança das solicitações, no estado limite de projeto:

Tipo de solicitação Notação (f) NBR 6118


Fg (efeito desfavorável) g 1,40
Fg (efeito favorável) g 0,90
Fq q 1,40
F  1,20

(Sussekind, J.C.- Curso de Concreto Vol. 1 pág 205).

42
43
No caso de varias ações acidentais atuantes, a NBR 6118 adota a seguinte
simplificação:

Sq = Sq1 + 0,8 (Sq2 + Sq3 +….)

sendo:
Sq1 a maior solicitação provocada na seção considerada, por uma carga variável.

Conceitos de Estados Limites de Serviço

Sob ação das cargas em serviço, os materiais serão considerados com suas
resistências características e os coeficientes de segurança das solicitações (f) e dos
materiais (m) são tomados iguais a 1.

As solicitações (S) também denominadas solicitações em serviço são formadas


por combinações das cargas permanentes (atua em todo o período da obra), freqüentes
(se repetem diversas vezes durante o período de vida útil da obra) e raras (ocorrem
raríssimas vezes durante o período de vida da estrutura).

Solicitações de Serviço Permanentes:

Fd,ser = Sgi,k + 2j. Sqj,k

Solicitações de Serviço Freqüentes:

Sd,ser = Sgi,k + 1Sq1,k + 2j. Sqj,k

Solicitações de Serviço Raras:

Sd,ser = Sgi,k + Sq1,k + 1j.Sqj,k

onde  é o coeficiente de combinação das cargas variáveis, apresentado na tabela a


seguir:

Ações f2
0 1 2
Locais em que não há predominância de pesos
de equipamentos que permanecem fixos por 0,5 0,4 0,3
longos períodos de tempo, nem de elevadas
Cargas concentrações de pessoas.
acidentais Locais em que há predominância de pesos de
de edifício equipamentos que permanecem fixos por 0,7 0,6 0,4
longos períodos de tempo, ou de elevada
concentração de pessoas.
Bibliotecas, arquivos,oficinas e garagens. 0,8 --- 0,6
Vento Pressão dinâmica dos ventos nas estruturas em 0,6 0,3 0,0
geral.
Temperatura Variações uniformes de temperatura em relação 0,6 0,5 0,3
43
44
a media anual local.

(NBR 6118 item 11.7.1)

Verificações efetuadas nos estados limites de utilização

- tensão máxima de compressão no concreto (c);


- abertura máxima das fissuras (wmax);
- limitação de deformações (flechas);
- fadiga das armaduras (s).

3.4 Tensões de compressão em serviço do concreto

Quando o concreto trabalha com tensões normais superiores a 30% da tensão de


ruptura, sua estrutura interna fica cortada pôr micro fissuras. Inicialmente na interface
entre o agregado graúdo e a argamassa e posteriormente atravessando a própria
argamassa. Este fenômeno, denominado micro fissuração devera ser evitado através do
controle das tensões normais.
Para limitar os fenômenos mencionados o CEB, limita as tensões normais do
concreto, provocadas por combinações de cargas em serviço, aos seguintes valores:
c  0,6 fck (combinações raras)
c  0,4 fck (combinações quase permanentes)

Controle de fissuração

Os tipos de fissuras mais usuais, em concreto armado, podem ser agrupadas em:

- fissuras provocadas por coação do concreto;


- fissuras provocadas por tensões de tração.
As fissuras de coação do concreto são produzidas por impedimentos as
deformações do concreto, dando origem a tensões internas.
Os agentes causadores de coações são a retração e a variação de temperatura. As
fissuras provocadas por tensões de tração são devidas a pequena resistência do
concreto à tração.

Os principais fatores influentes, na abertura de fissuras em vigas de concreto


armado, são:

- o grau de aderência entre o concreto e o aço;


- tensão na armadura longitudinal (s), calculada na tensão fissurada;
- diâmetro das barras de armação ();
- áreas dos tirantes fictícios formados pelo concreto de envolvimento das barras da
armadura.

A verificação da fissuração pode ser feita pelo atendimento de uma das duas
condições seguintes (NBR 6118)

44
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  0,19 
x
6
Wk  x
s 
x 2,14  x10  W lim
2b  0,75   r 

x  s x10  W lim
2
 6
Wk  0,14 x
2b  0,75 fctk

b = coeficiente de conformação superficial da barra;


s = tensão na armadura, na seção fissurada, sob ação das cargas em serviço
consideradas;
r = porcentagem geométrica da armadura, na seção transversal de concreto
interessado a fissuração (Ac).
r = As / Acr
Acr = 0,25 bw.d (flexão simples - CEB)

Abertura de fissuras (NBR 6118)

wlim  0,1mm para peças não protegidas, em meio agressivo;


wlim  0,2mm para peças não protegidas, em meio não agressivo;
wlim  0,3mm para peças protegidas.

4.0 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

01. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Cargas para o


calculo de estruturas de fundação. NBR 6120 nov/1980

02. Barras e fios de aço destinados a armaduras para concreto armado. NBR
7480. fev/ 1996.

03. Projeto e execução de obras de concreto armado. NBR 6118. 1978

04. FUSCO, P. B. Estruturas de concreto - Fundamentos do projeto estrutural.


São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1979.

05. Estruturas de concreto - Fundamentos da técnica de armar. São Paulo,


Grêmio Politécnico, 1973.

06. LEONHARDT, F.; MONNIG, E. Construções de concreto. Rio de Janeiro,


Interciência, 1982. 6v. V.1.
45
46

07. MOUGIN, J. Cours de béton armé. Paris, Eyrolles, 1994

08. PERCHAT, J.; ROUX, J. Pratique du BAEL 91, Paris, Eyrolles, 1995

09. Maîtrise du BAEL 91, Paris, Eyrolles, 1995

10. PFEIL, W. Concreto Armado. Rio de Janeiro, LTC, 1985.3v.

11. SUSSEKIND, J. C. Curso de concreto. Rio de Janeiro, Globo, 1985. 2v.

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