Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(Livrosparatodos Net) Arthur C Clarke As Fontes Do Paraiso
(Livrosparatodos Net) Arthur C Clarke As Fontes Do Paraiso
Clark
http://br.groups.yahoo.com/group/digital_source/
À memória ainda intensa
de
Leslie Ekanayake (13/VII/1946 - 4/VII/1977),
único amigo perfeito de uma vida, em quem se
combinavam singularmente
Lealdade, Inteligência e Compaixão.
Quando seu espírito radiante e amigo desapareceu deste mundo, apagou-
se a luz em muitas vidas.
Da tradição,
segundo o relato de frei Marignolli (1335 D.C.).
Ou menos ainda:
"Devo igualar-te a um dia de verão?
Mais afável e belo é o teu semblante" (...)1
1
Tradução de Ivo Barroso, Vinte e quatro sonetos de Shakespeare, Nova Fronteira, Rio,
1975. (N. do T.)
depois da partida de Sideronauta.
15. Bodhidharma
ou finalmente,
"Torre, orbital
Torre, espacial
Torre, (geo)síncrona
Elevador, espacial
Elevador, orbital
Elevador, (geo)síncrono".
dizia a manchete.
Muita coisa tinha sido feita nos últimos sete anos, mas
ainda restava muito por fazer. Montanhas tinham sido
deslocadas - ou, pelo menos, asteróides. A Terra possuía agora
uma segunda lua natural, que girava pouco acima da altitude
síncrona. Tinha menos de um quilômetro de diâmetro, e
diminuía de tamanho rapidamente, à medida que era
esvaziada do carbono e outros elementos leves. O que sobrasse
- o núcleo de ferro, aparas e escória industrial - constituiria o
contrapeso que manteria a tensão da torre. Seria a pedra no
estilingue de quarenta mil quilômetros, que agora girava com o
planeta a cada vinte e quatro horas.
A cinqüenta quilômetros a leste da Estação Ashoka,
flutuava o imenso complexo industrial que processava
megatons de matéria-prima e a convertia em hiperfilamento.
Como o produto final era constituído de carbono em mais de
noventa por cento, com seus átomos dispostos numa retícula
cristalina perfeita, a torre havia ganho um apelido popular - o
Diamante de um Bilhão de Toneladas. A Associação dos
joalheiros de Amsterdã observara azedamente que o
hiperfilamento não era absolutamente feito de diamante.
Essas enormes quantidades de material haviam
exaurido os recursos das colônias espaciais e a perícia dos
técnicos orbitais. Grande parte do gênio técnico da raça
humana, adquirido penosamente durante duzentos anos de
astronáutica, havia sido canalizado para minas automáticas,
usinas de produção e sistemas de montagem em gravidade
zero. Em breve, todos os componentes da torre, algumas
unidades padronizadas fabricadas aos milhões, seriam
reunidos em imensas pilhas flutuantes, à espera dos
montadores robôs.
Aí, a torre começaria a crescer em duas direções
opostas - em direção à Terra e rumo à massa de ancoragem
orbital, de modo que a torre estivesse sempre balanceada. Sua
seção transversal diminuiria regularmente a partir da órbita,
onde sofreria a tensão máxima, até a Terra e o contrapeso de
ancoragem.
Quando tudo estivesse pronto, todo o complexo de
construção seria lançado a uma órbita de transferência para
Marte. Essa parte do contrato havia causado alguma
consternação entre os políticos e financistas da Terra - agora,
tardiamente, o potencial do Elevador Espacial começava a ser
percebido.
Os marcianos haviam feito um excelente negócio.
Embora ainda tivessem de esperar mais cinco anos antes de
obter qualquer retorno sobre seu investimento, manteriam, na
prática, um monopólio da construção durante, talvez, mais
uma década. Morgan suspeitava que a Torre Pavonis seria tão-
somente a primeira de uma série. Marte parecia projetado
como um local ideal para sistemas de elevadores espaciais, e
seus enérgicos ocupantes não estavam dispostos a perder essa
oportunidade. Se queriam transformar seu mundo num centro
do comércio interplanetário nos anos vindouros, que tivessem
boa sorte. Morgan tinha outros problemas com que se
preocupar, e alguns deles ainda estavam por resolver.
A torre, apesar de suas dimensões fantásticas, era
apenas o apoio de uma estrutura muito mais complexa. Ao
longo de cada um de seus quatro lados, deviam correr trinta e
seis mil quilômetros de trilhos, capazes de operar a
velocidades que jamais haviam sido tentadas. O sistema tinha
de ser impulsionado, em toda a sua extensão, por cabos
supercondutores ligados a geradores de fusão, sendo que todo
o sistema seria controlado por uma rede de computação
inacreditavelmente complexa, e que não podia falhar.
O Terminal Superior, onde passageiros e cargas
passariam da torre à nave espacial atracada ali, seria um
projeto de imensa envergadura. O mesmo acontecia com a
Estação Intermediária. E também com o Terminal Terrestre,
que estava sendo cavado com raios laser no coração da
montanha sagrada. E, além de tudo isso, havia a Operação
Limpeza...
Durante duzentos anos, satélites de todas as formas e
dimensões, desde porcas e parafusos soltos até vilas espaciais
inteiras, vinham se acumulando na órbita da Terra. Tudo o
que pudesse ficar abaixo da elevação máxima da torre, a
qualquer época, tinha de ser catalogado agora, pois criava um
possível perigo. Três quartos desse material eram formados de
lixo, há muito esquecido. Agora, tinha de ser localizado e
recolhido.
Felizmente, os velhos fortes orbitais estavam
soberbamente equipados para essa tarefa. Seus radares,
projetados para localizar mísseis em aproximação a distâncias
extremas, sem qualquer alerta de antecedência, eram capazes
de localizar com exatidão os refugos de uma era espacial
primitiva. Então, seus raios laser vaporizavam os satélites
menores, enquanto os maiores eram transferidos para órbitas
superiores e inofensivas. Alguns, de interesse histórico, eram
recuperados e trazidos de volta à Terra. Durante essa
operação, houve algumas surpresas, como por exemplo o
resgate dos corpos de três astronautas chineses que haviam
morrido durante uma missão secreta, e vários satélites de
reconhecimento, construídos com tal mistura de componentes
que era de todo impossível descobrir que país os havia
lançado. Não, é claro, que isso ainda importasse muito, pois
tinham pelo menos cem anos de idade.
A multidão de satélites e estações espaciais ainda em
atividade, obrigados, por motivos operacionais, a permanecer
perto da Terra, tinham tido suas órbitas cuidadosamente
verificadas, e em alguns casos, modificadas. Mas,
naturalmente, nada podia ser feito com relação aos visitantes
fortuitos e imprevisíveis que podiam chegar a qualquer
momento dos confins do sistema solar. Como todas as criações
da humanidade, a torre estaria exposta a meteoritos. Várias
vezes por dia, sua rede de sismômetros detectava impactos da
ordem de miligramas. E era de se esperar que uma ou duas
vezes por ano ocorressem pequenos danos estruturais. E, mais
cedo ou mais tarde, no decorrer dos séculos, a torre poderia
encontrar um meteorito gigante capaz de pôr um ou mais
trilhos fora de ação durante algum tempo. No pior caso
possível, a torre poderia até ser secionada em algum ponto.
A probabilidade de isso acontecer era a mesma de um
grande meteorito precipitar-se sobre Londres ou Nova York —
que representavam aproximadamente a mesma área de alvo.
Os habitantes dessas cidades não perdiam muito sono
preocupando-se com essa possibilidade. Tampouco Vanne-var
Morgan. Quaisquer que fossem os problemas que estivessem
por vir, ninguém duvidava agora de que a Torre Orbital era
uma idéia cujo momento havia chegado.
V. Ascensão
38. Um lugar de tempestades silenciosas
"01 15 24
Aqui, Amizade Sete. Vou tentar descrever onde estou.
Estou no meio de uma grande massa de partículas muito
pequenas, como se fossem luminescen-tes... Estão passando
pela cápsula, e parecem estrelinhas. Vejo uma verdadeira
chuva delas...
01 16 10
Estão muito lentas. Não estão se afastando de
mim a mais de cinco ou seis quilômetros por hora...
01 19 38
O Sol acabou de nascer por trás de mim, visto
pelo periscópio... Quando olhei pela janela, vi
literalmente milhares de partículas pequenas e
luminosas que giravam em torno da cápsula..."
vezes". É de se presumir que, após a missão Apolo-Soyuz, ele dissesse: "três vezes".
talvez me postasse à frente de todos, com exceção do próprio
Artsutanov.
Uma vez que este livro é — assim espero — uma obra
de ficção, mais do que um tratado de engenharia, aqueles que
se interessarem pelos detalhes técnicos podem recorrer à
enorme literatura a respeito do tema. Exemplos recentes
incluem "Utilização da Torre Orbital para lançar diariamente
cargas ao espaço", de Jerome Pearson (Atas do 27° Congresso
da federação Astronáutica Internacional, outubro de 1976), e
um notável ensaio de Hans Moravec, "um gancho celeste
orbital não-síncrono" (Reunião Anual da Sociedade
Astronáutica Americana, 18-20 de outubro de 1977).
Tenho grandes dívidas para com vários amigos: o
falecido A. V. Cleaver, da Rolls-Royce, o dr. Harry O. Rup-pe,
professor de astronáutica da Universidade Técnica Lehrstuhl
für Raumfahtrttechnik, de Munique, e o dr. Alan Bond, dos
Laboratórios Culham, por seus valiosos comentários sobre a
Torre Orbital. Não são responsáveis por minhas modificações.
Walter L. Morgan (ao que eu saiba, não é parente de
Vannevar Morgan) e Gary Gordon, dos Laboratórios COMSAT,
bem como L. Perek, da Divisão de Assuntos de Espaço Exterior
das Nações Unidas, forneceram informações úteis sobre as
regiões estáveis da órbita sincrônica. Eles observam que forças
naturais (principalmente efeitos do Sol e da Lua) causariam
grandes oscilações, sobretudo nas direções norte e sul. Assim,
a Taprobana talvez não seja uma localização ideal, como
sugeri; no entanto, seria melhor que qualquer outra.
A importância da altitude também é discutível, e sou
grato a Sam Brand, do Núcleo de Pesquisa de Previsão
Ambiental da Marinha, de Monterey, por informações a
respeito dos ventos equatoriais. Se realmente a torre puder ser
construída com segurança a partir do nível do mar, nesse caso
a ilha de Gan, nas Maldivas (recém-eva-
cuada pela Real Força Aérea, do Reino Unido), talvez
venha a ser a propriedade imobiliária mais cara do séc. XXII.
Finalmente, parece ter havido uma coincidência muito
estranha - e até amedrontadora - no fato de que, anos antes de
pensar no assunto deste romance, eu próprio
inconscientemente gravitei (sic) na direção de seu local. Pois a
casa que comprei na década passada, em minha praia favorita
de Sri Lanka, acha-se exatamente no ponto mais próximo, em
qualquer grande extensão terrestre, do ponto de estabilidade
geossincrônica máxima.
Assim, ao me aposentar, espero poder contemplar as
outras relíquias envelhecidas da primitiva era espacial,
reunindo-se no mar dos Sargaços orbital, precisamente sobre
minha cabeça.
Colombo, 1969-1978.
Agora, uma daquelas extraordinárias coincidências
que aprendi a aceitar como naturais...
Enquanto corrigia as provas deste livro, recebi do dr.
Jerome Pearson um exemplar do memorando técnico da NASA
TM-75174, "Um 'colar' espacial em torno da Terra", de G.
Polyakov. Trata-se de uma tradução de "Kosmiches-koye
Ojere'ie Zemli", publicada em Teknica Molodeji, n.° 4, 1977,
págs. 41-43.
Neste ensaio, breve mas estimulante, o dr. Polyakov,
do Instituto de Ensino de Astracã, descreve minuciosamente o
último projeto de Morgan — um anel contínuo ao redor do
globo. Ele considera isso uma extensão natural do Elevador
Espacial, cuja construção e operação discute também de
maneira praticamente igual à que imaginei.
Saúdo o továrich Polyakov, e me ponho a imaginar se,
mais uma vez, não terei sido pessimista demais. Talvez a Torre
Orbital seja uma realização do século XXI, e não do XXII.
Talvez meus próprios netos demonstrem que - às vezes
- o grandioso é bonito.