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A Grande Depressão/ A crise de 1929

Turma: 1304
Professora: Cátia Silveira

Lucas Castro
Victor Sarmento
Guilherme Ramires
Matheus Dias
Deivid Dias
Betina De Pellegrin
A Grande Depressão

A Grande Depressão, também conhecida como Crise de 1929, foi uma grande depressão
econômica que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da década de 1930, terminando
apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão é considerada o pior e o mais
longo período de recessão econômica do século XX. Este período de depressão econômica
causou altas taxas de desemprego, quedas drásticas do produto interno bruto de diversos
países, bem como quedas drásticas na produção industrial, preços de ações, e em
praticamente todo o medidor de atividade econômica, em diversos países no mundo.
O dia 24 de outubro de 1929 é considerado popularmente o início da Grande Depressão,
mas a produção industrial americana já havia começado a cair a partir de julho do mesmo
ano, causando um período de leve recessão econômica que se estendeu até 24 de outubro,
quando valores de ações na bolsa de valores de Nova Iorque, a New York Stock Exchange,
caíram drasticamente, e tornou-se notícia em todo o mundo com o crash da
bolsa (conhecido como Quinta-Feira Negra). Assim, milhares de acionistas perderam,
literalmente da noite para o dia, grandes somas em dinheiro. Muitos perderam tudo o que
tinham. Essa quebra na bolsa de valores de Nova Iorque piorou drasticamente os efeitos da
recessão já existente, causando grande deflação e queda nas taxas de venda de produtos,
que por sua vez obrigaram ao encerramento de inúmeras empresas comerciais e industriais,
elevando assim drasticamente as taxas de desemprego. O colapso continuou no dia 28 e
no dia 29 de outubro.
Os efeitos da Grande Depressão foram sentidos no mundo inteiro. Estes efeitos, bem como
sua intensidade, variaram de país a país. Outros países, além dos Estados Unidos, que
foram duramente atingidos pela Grande Depressão foram a Alemanha, Países
Baixos, Austrália, França, Itália, o Reino Unido e, especialmente, o Canadá. Porém, em
certos países pouco industrializados naquela época, como a Argentina e o Brasil (que não
conseguiu vender o café que tinha para outros países), a Grande Depressão acelerou o
processo de industrialização. Praticamente não houve nenhum abalo na União Soviética,
que tratando-se de uma economia socialista, estava econômica e politicamente fechada
para novas tecnologias sendo assim não afetada. Entre 1929 e 1932, o PIB mundial caiu
em cerca de 15%. Em comparação, o PIB mundial caiu em menos de 1% entre 2008 e 2009
durante a Grande Recessão.
Os efeitos negativos da Grande Depressão atingiram seu ápice nos Estados Unidos em
1933. Neste ano, o Presidente americano Franklin Delano Roosevelt aprovou uma série de
medidas conhecidas como New Deal. Essas políticas econômicas, adotadas quase
simultaneamente por Roosevelt nos Estados Unidos e por Hjalmar
Schacht na Alemanha foram, três anos mais tarde, racionalizadas por John Maynard
Keynes em sua obra clássica.
O New Deal, juntamente com programas de ajuda social realizados por todos os estados
americanos, ajudou a minimizar os efeitos da Depressão a partir de 1933. A maioria dos
países atingidos pela Grande Depressão passaram a recuperar-se economicamente a partir
de então. Em alguns países, a Grande Depressão foi um dos fatores primários que ajudaram
a ascensão de regimes ditatoriais, como os nazistas comandados por Adolf Hitler na
Alemanha. O início da Segunda Guerra Mundial terminou com qualquer efeito
remanescente da Grande Depressão nos principais países atingidos, muito embora vários
economistas neoclássicos discordem disso.
Causas da Grande Depressão

PIB dos Estados Unidos no período 1910-1960. A tarja rosa destaca os anos da Grande Depressão
(1929-1939).

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, os países europeus encontravam-se devastados,


com a economia enfraquecida e com forte retração de consumo, que abalou a economia
mundial. Os Estados Unidos por sua vez, lucraram com a exportação de alimentos e
produtos industrializados aos países aliados no período entre guerras. Como resultado
disso, entre 1918 e 1928 a produção norte-americana cresceu de forma estupenda. A
prosperidade econômica gerou o chamado "American way of life" (modo de vida
americano). Havia emprego, os preços caíam, a agricultura produzia muito e
o consumo era incentivado pela expansão do crédito e pelo parcelamento do pagamento
de mercadorias. Porém, a economia europeia posteriormente se restabeleceu e passou a
importar cada vez menos dos Estados Unidos. Com a retração do consumo na Europa, as
indústrias norte-americanas não tinham mais para quem vender. Havia
mais mercadorias que consumidores, ou seja, a oferta era maior que a demanda;
consequentemente os preços caíram, a produção diminuiu e logo
o desemprego aumentou. A queda dos lucros, a retração geral da produção industrial e a
paralisação do comércio resultou na queda das ações da bolsa de valores e mais tarde na
quebra da bolsa. Portanto, a crise de 1929 foi uma crise de superprodução.

Desemprego nos Estados Unidos no período 1910-1960. A tarja rosa destaca os anos da Grande
Depressão (1929-1939).

Durante décadas, essa foi a teoria mais aceita para a causa da Grande Depressão, porém,
em contrapartida, economistas, historiadores e cientistas políticos têm criado diversas
outras teorias para a causa, ou causas, da Grande Depressão, com surpreendente pouco
consenso. A Grande Depressão permanece como um dos eventos mais estudados
da história da economia mundial. Teorias primárias incluem a quebra da bolsa de valores
de 1929, a decisão de Winston Churchill em fazer com que o Reino Unido passasse a usar
novamente o padrão-ouro em 1925, que causou maciça deflação ao longo do Império
Britânico, o colapso do comércio internacional, a aprovação do Ato da Tarifa Smoot-
Hawley, que aumentou os impostos de cerca de 20 mil produtos no país, a política
da Reserva Federal dos Estados Unidos da América, e outras influências.
Segundo teorias baseadas na economia capitalista concentram-se no relacionamento
entre produção, consumo e crédito, estudado pela macroeconomia, e em incentivos e
decisões pessoais, estudado pela microeconomia. Estas teorias são feitas para ordenar a
sequência dos eventos que causaram eventualmente a implosão do sistema monetário do
mundo industrializado e suas relações de comércio.

A produção industrial dos Estados Unidos (1928-1939)

Outras teorias econômicas heterodoxas sobre a Grande Depressão foram criadas, e


gradualmente estas teorias passaram a ganhar credibilidade. Estas teorias incluem a
teoria da atividade de longo ciclo e que a Grande Depressão foi um período na intersecção
da crista de diversos longos e concorrentes ciclos.
Mais recentemente, uma das teorias mais aceitas entre economistas é que a Grande
Depressão não foi causada primariamente pela quebra das bolsas de valores de 1929,
alegando que diversos sinais na economia americana, nos meses, e mesmo anos, que
precederam à Grande Depressão, já indicavam que esta Depressão já estava a caminho
nos Estados Unidos e na Europa. Atualmente, a teoria mais em voga entre os economistas
é de Peter Temin. Segundo Temin, a Grande Depressão foi causada por política
monetária catastroficamente mal planejada pela Reserva Monetária dos Estados Unidos,
nos anos que precederam a Grande Depressão. A política de reduzir as reservas
monetárias foi uma tentativa de reduzir uma suposta inflação, o que de fato somente
agravou o principal problema na economia americana à época, que não era a inflação e
sim a deflação.
Um outro aspecto que vem sendo apontado como uma das possíveis causas da Grande
Depressão nos anos 1930 é o da superprodução, causada pelos grandes ganhos de
produtividade industrial, obtidos com os benefícios tecnológicos do taylorismo.
Tanto Ford quanto Keynes já vinham há tempos alertando, sem serem ouvidos, que "a
aceleração dos ganhos de produtividade provocada pela revolução taylorista levaria a uma
gigantesca crise de superprodução se não fosse encontrada uma contrapartida em uma
revolução paralela do lado da demanda", que permitisse a redistribuição dos ganhos de
produtividade causados pelo taylorismo, de forma que houvesse redistribuição dessa
nova renda gerada, para dirigi-la ao consumo. Para os que defendem esta tese a Grande
Depressão dos anos 1930 foi causada por uma gigantesca crise de superprodução,
naquilo que teria sido uma trágica confirmação daquelas previsões.

A Grande Depressão em outros países


A Grande Depressão causou grande recessão econômica em diversos outros países, não
só nos Estados Unidos. Em muitos destes países, a recessão provocada pela Grande
Depressão gerou efeitos similares na economia destes países, como o fechamento de
milhares de estabelecimentos bancários, financeiros, comerciais e industriais, e
a demissão de milhares de trabalhadores.
Os efeitos da Grande Depressão em vários países foram agravados pelo Ato Tarifário
Smoot-Hawley, um ato americano introduzido em 1930, que aumentava impostos a cerca
de 20 mil produtos não-perecíveis estrangeiros, que causou a aprovação de leis e atos
semelhantes em outros países, reduzindo drasticamente exportações e o comércio
internacional.
Em vários dos países afetados, partidos políticos extremistas, de caráter nacionalista,
apareceram. Outros partidos políticos, de cunho comunista, também foram criados.
No Reino Unido, por exemplo, tanto o Partido Comunista da Grã-Bretanha quanto a União
Britânica de Fascistas receberam considerável suporte popular. O mesmo ocorreu com o
Partido Comunista canadense.
Outros partidos políticos menos extremistas também surgiram. A grande maioria, se não
todos, prometiam retirar o país (ou uma dada província/estado) da recessão. O Partido do
Crédito Social do Canadá, de cunho conservador ganhou grande suporte popular
em Alberta, província canadense severamente afetada pela Grande Depressão. Em alguns
destes países, partidos extremistas foram proibidos, como no Canadá. Outros partidos
políticos extremistas, porém, conseguiram chegar ao poder, notavelmente
os nazistas na Alemanha e os fascistas na Itália.

Brasil

Fazia quase dois anos que ocorrera o crash na Bolsa de Valores de Nova York, em
outubro de 1929. Mas os estragos provocados pela crise ainda eram sentidos em todo o
planeta – e também no Brasil. Em junho de 1931, uma nuvem de fumaça gigantesca, que
vinha de uma enorme fogueira, pairava sobre a cidade de Santos, no Litoral de São Paulo,
por onde escoava boa parte das exportações do café brasileiro. Acesa durante as festas
juninas, a fogueira duraria até o fim do ano – mas tinha pouco a ver com a comemoração
de São João. Ela fora iniciada para queimar os estoques de café, então responsável por
70% das exportações brasileiras, que se acumularam com a retração do mercado externo.
Enquanto o fogo durou, consumiu milhões de sacas. O aroma do café torrado era tão forte
que ultrapassava as fronteiras municipais. Era contido apenas pelas encostas da Serra do
Mar, que se estende pela costa paulista. O café era queimado a mando do governo de
Getúlio Vargas para tentar reduzir o impacto negativo da crise no Brasil, então responsável
por 60% das vendas mundiais do produto. Vargas assumira o poder um ano antes, por
meio de um movimento militar que se tornou conhecido como Revolução de 1930. A
economia balançava. As exportações, que atingiram US$ 445 milhões em 1929, caíram
para US$ 180 milhões em 1930. Segundo a Bolsa de Café de Santos, a cotação da saca
no mercado internacional – 200 mil-réis em agosto de 1929 – caíra quase 90%, para 21
mil-réis, em janeiro de 1930. Nas fazendas cafeicultoras, concentradas no interior paulista
e no Paraná, muitos resolveram seguir o mesmo caminho e queimaram o café colhido.

Todos os elos envolvidos na cadeia de produção do café brasileiro –


fazendeiros,comerciantes, banqueiros e trabalhadores rurais (a maior parte imigrantes) –
foram atingidos pela crise. Muitos produtores foram à bancarrota. O desemprego no
campo se multiplicou, estimulando um movimento migratório para as cidades, em especial
para São Paulo. Como se veria depois, o que acontecia naquele momento era apenas o
início de um profundo processo de mudanças que se prolongaria até o fim dos anos 30, às
vésperas da Segunda Guerra Mundial. Essas transformações marcariam para sempre a
economia nacional e internacional. Dos escombros da economia do café, surgiria um novo
modelo econômico, que se manteria praticamente o mesmo até quase os dias de hoje. Em
2009, o crash de 29 completará 80 anos coincidentemente, no momento em que parece
haver uma crise global de proporções comparáveis, com desaceleração na atividade
econômica e alta no desemprego. Embora os contextos das duas crises sejam bem
diferentes, a história da crise de 29, em particular seus desdobramentos no Brasil, pode
trazer lições preciosas sobre as medidas que ainda fazem sentido – e as que não fazem –
para reduzir o impacto do encolhimento global no país.
Naquela época, o Brasil passou por um grave problema cambial. De acordo com o
historiador Caio Prado Júnior (1907-1990), autor de História econômica do Brasil,
publicado pela primeira vez em 1945, a queda nas exportações, provocada pela crise,
gerou um desequilíbrio na balança comercial brasileira. Sem uma indústria sólida, o Brasil
exportava apenas café e outros produtos agrícolas, como algodão, cacau e borracha.
Como não eram produtos essenciais para o consumidor – portanto, suas compras
poderiam ser interrompidas a qualquer hora -, dizia-se que o país tinha uma “economia de
sobremesa”. A moeda forte obtida com essas exportações servia para pagar as
importações de boa parte dos produtos industrializados consumidos pelos brasileiros. O
aprofundamento da crise, porém, provocou a redução da demanda externa e a queda dos
preços internacionais do café. Com isso, o déficit comercial do país cresceu rapidamente.
A crise também causou a interrupção do fluxo regular de capital estrangeiro para o Brasil.
O dinheiro externo alimentava a economia brasileira desde os tempos do Império, e seu
ingresso se intensificara entre a Proclamação da República, em 1889, e a posse de
Vargas, em 1930 – período da história conhecido como República Velha. A falta do
dinheiro externo agravou ainda mais o déficit cambial brasileiro. A moeda nacional se
desvalorizava rapidamente. O valor da libra esterlina, então a moeda mais usada no
mundo, passou de 40 mil-réis, em 1929, para quase 60 mil-réis, em 1934. Com as
exportações em queda e sem financiamento externo, o governo aumentou de forma brutal
a emissão de moeda – e isso provocou alta da inflação.

Para preservar as poucas reservas em moeda forte que o Brasil tinha em caixa, o governo
Vargas impôs um rígido controle sobre o câmbio e passou a administrar com rigor as
remessas de lucro por empresas estrangeiras. Faltava moeda forte para pagar as
importações, essenciais ao atendimento da demanda interna e ao desenvolvimento do
país. Houve uma acentuada queda na compra de produtos do exterior, também
desestimulada pela desvalorização da moeda brasileira. As importações, que registraram
uma média de 5,4 milhões de toneladas de 1926 a 1930, caíram para 3,8 milhões entre
1931 e 1935, segundo Prado Júnior. Na tentativa desesperada de compensar os
cafeicultores, o governo Vargas aumentou as compras dos excedentes de café durante
praticamente toda a década de 30, segundo afirma o brasilianista Thomas Skidmore, no
clássico Brasil: de Getúlio a Castelo, lançado em 1975. Para Skidmore, mesmo com os
esforços do governo e a adoção de uma política de “socialização dos prejuízos” dos
cafeicultores, era impossível deter o declínio das receitas cambiais brasileiras. (Só
recentemente, pela primeira vez na História, o país conseguiu superar o problema crônico
de falta de divisas, com a explosão das exportações brasileiras e o acúmulo de US$ 200
bilhões em reservas cambiais.) Nem a queima dos excedentes de café foi suficiente para
amenizar o problema. Skidmore afirma que, apesar da queda nas importações, o déficit
nas contas externas se aprofundou ainda mais e obrigou o Brasil a suspender os
pagamentos da dívida externa em 1938 e 1939. Tal medida voltaria a ser adotada em
1987, meio século depois, nos tempos do Plano Cruzado, implementado no governo do
presidente José Sarney. Apesar do impacto que a crise de 29 teve na economia brasileira,
muitos acadêmicos acreditam que não foi ela o fator fundamental para deflagrar o
movimento armado que depôs o presidente Washington Luiz, em 1930. O historiador Boris
Fausto, autor de Revolução de30-a historiografia e a história, afirma que a crise teve
“pouco efeito” nos primeiros meses daquele ano no Brasil. Segundo ele, os principais
fatores que conduziram à Revolução de 30 tinham relação com a política interna.
Principalmente com a ruptura do acordo do “café com leite”, uma espécie de pacto informal
entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais para se revezar na Presidência. Na visão
de Fausto, a crise foi provocada pela insistência de Washington Luiz em lançar um
candidato paulista para sua.sucessão nas eleições de março de 1930.
Fausto diz que a derrota de Vargas, o candidato oposicionista apoiado por Minas Gerais,
gerou descontentamento em setores da sociedade. Logo em seguida, com o assassinato
de João Pessoa, o oposicionista que governava a Paraíba, o clima desfavorável se
acentuou. Acusava-se o governo federal de ter patrocinado o crime por motivação política.
Hoje, sabe-se que o assassinato de Pessoa foi um crime passional, que nada tinha a ver
com política. Mas o episódio serviu como combustível para os “revolucionários”
conduzirem Vargas ao poder. “O grande impacto da crise no país viria depois da
Revolução de 30”, afirma Fausto.
A economia cafeeira já perdia forças desde antes da crise. Com a ampliação da área de
plantio e a superprodução constante, os preços do café estavam em queda há anos. O
governo tentava manter a roda girando com a compra dos excedentes – uma estratégia
criticada asperamente pelos seguidores da política liberal do “laissez-faire” na economia.
Para eles, a tentativa de manipular o preço do café teria efeito efêmero e seria
contraproducente no longo prazo. O governo, no entanto, não dava ouvidos à oposição.
“Era uma situação paradoxal: o Brasil exportava produtos primários e importava produtos
manufaturados, como sugeriam os princípios do liberalismo econômico”, diz o brasilianista
Skidmqre. “Mas tentava, também, aumentar ao máximo sua vantagem relativa por meio de
controles de mercado e da intervenção estatal num setor vital da economia.”
Como se tudo isso não fosse suficiente, crescia a concorrência internacional – em
particular da Colômbia – ao café brasileiro. Os principais países consumidores, como
Estados Unidos, Franca, Itália, Holanda e Alemanha, que compravam 80% da produção
brasileira, passaram a diversificar seus fornecedores. Havia a percepção de que, no Brasil,
misturavam-se ao café todos os tipos de impurezas, como pedras, terra e gravetos, para
aumentar o peso das sacas. Também se acusavam os produtores nacionais de incluir café
de baixa qualidade nas sacas para aumentar o lucro. Quando a crise internacional chegou
ao Brasil, ela representou apenas o golpe final para que o sistema econômico da
República Velha, centrado na monocultura do café, entrasse em colapso.
A estratégia do governo Vargas para enfrentar a crise baseou-se principalmente na
substituição das importações, por meio do desenvolvimento da indústria local, e na
intervenção do Estado na economia. De acordo com o economista Celso Furtado (1920-
2004), ex-ministro do Planejamento no governo João Goulart (1962-1964), a economia
cafeeira, embora em decadência, gerou os recursos necessários para impulsionar a
industrialização e favoreceu o desenvolvimento de um mercado interno, formado pela mão
de obra assalariada dos imigrantes e pelos produtores rurais e suas famílias.

Inicialmente, a demanda era atendida pelas importações. Depois, passou a ser suprida
pela produção local. Sem acesso aos importados, os consumidores representavam um
mercado cativo para as empresas nacionais. Assim, apesar da crise externa, a produção
industrial brasileira pôde crescer rapidamente. Acentuou-se o processo de nacionalização
da economia. A desvalorização da moeda, em decorrência da crise, encarecia as
mercadorias estrangeiras e representava um estímulo para a incipiente industria local.
Muitos cafeicultores que conseguiram sobreviver à crise começaram a investir no setor
industrial. A política econômica de Vargas foi reforçada por dois fatores externos. O
primeiro foi o “New Deal”, um pacote de medidas para reativar a economia americana
lançado em 1933 pelo presidente Franklin Delano Roosevelt O segundo foram as teorias
do economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946), delineadas em seu livro
Teoria geral do emprego, do juro e da moeda-, publicado em 1936. Tanto Roosevelt
quanto Keynes defendiam a atuação do Estado para estimular a atividade econômica.
Keynes, de certa fornia, deu legitimidade conceituai à política implementada por Vargas.
No Brasil, um dos principais entusiastas das idéias de Roosevelt e Keynes foi o
engenheiro e empresário Roberto Simonsen (1889-1948), senador e presidente da Fiesp,
entidade que reúne os industriais paulistas.
Simonsen defendia o fortalecimento do Estado para permitir a industrialização brasileira.
Apesar de ter se oposto a Vargas no início do governo, acabou se aliando a ele. Amparado
nas idéias de Keynes e Roosevelt, temperadas por seu nacionalismo peculiar, Vargas
promoveu a criação em série de empresas estatais. Entre elas, fundou a Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), privatizada em 1993, e a Companhia Vale do Rio Doce,
privatizada em 1997. Em seu segundo mandato, Vargas voltou a investir na criação de
estatais. Em 1953, foi a vez de fundar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
(BNDE), depois rebatizado de BNDES, com “S”, para incorporar a palavra “social” no
nome. No mesmo ano, foi criada a Petrobras, depois da campanha popularizada pelo
slogan O petróleo é nosso. A política econômica de Vargas criou raízes profundas no
Brasil. Manteve-se viva mesmo durante o governo militar, que assumiu o poder após o
golpe de 1964. Ao contrário dos militares chilenos, que derrubaram o governo socialista do
presidente Salvador Allende em 1973, o regime militar que se instaurou no Brasil não
apostou no liberalismo econômico para estimular o desenvolvimento. Ao contrário, acabou
por reforçar a tendência estatizante e nacionalista que vigorava no país antes de os
militares assumirem o poder. Durante o regime militar, foram criadas diversas outras
estatais, entre elas a Telebrás (1972), privatizada em 1998, e a Nuclebrás (1975), que
continua sob o controle do Estado.
Hoje, como beneficio da perspectiva histórica, pode-se dizer que o protecionismo e o
estatismo adotados por Vargas para combater os efeitos da crise de 29 favoreceram o
desenvolvimento de um parque industrial pujante no Brasil. Mas também geraram
tremendas distorções, como a ineficiência das empresas, o encarecimento dos produtos
por falta de concorrência internacional e o desestímulo à inovação. A estatização e o
protecionismo tendem a estimular também o descontrole das contas públicas, a corrupção,
o empreguismo e o tráfico de influência.
A criação de um clima hostil ao capital estrangeiro também não ajuda o país a se
desenvolver. Atualmente, até a China, que se isolou do resto do mundo durante 30 anos,
sob o comando de Mao Tsé-tung, tem uma economia aberta. Desde 1978, quando as
reformas econômicas abriram o país, a China cresce a taxas de 10% ao ano. O Chile
também se tornou um exemplo admirado globalmente e deve se tornar o primeiro país
latino-americano a ingressar no Primeiro Mundo, graças, sobretudo, à persistência de
políticas econômicas liberais ao longo de 35 anos. A economia brasileira tem um tamanho
intermediário entre a chilena e a chinesa e, com certeza, tem lições a extrair de ambas. O
modelo econômico adotado por Vargas para combater os efeitos da crise de 1929 pode
até ter trazido bons resultados em sua época. Mas, hoje, no mundo globalizado em que
vivemos, suas idéias – baseadas no intervencionismo e no nacionalismo paternalista –
parecem pertencer ao tempo das diligências.

Fontes:
https://historiablog.org/2009/01/03/a-crise-de-1929-e-o-brasil/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Depress%C3%A3o

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