Você está na página 1de 13
7 Ansiedade e construcao de gestalts Se considerarmos a psicologia como o estudo da experiencia do hhomem. a psicopatologia! designara o estudo das disfungoes de sua experiencia Se considerarmos a experiéncia co homem como fundamen- talmente singular, pois abarca o conjunto das operagdes de contato { homem e seu mundo, o estudo das disfungoes de sua essa experiéncia pode deixar de set am gue ligam experiéncia evidenciard como singular e apresentar um certo niimero de flee que mo ou interrompem o continuo de um contato auto-regulado. ‘Os modos em que a experiéncia ~ ¢ suas flexdes ~ pode ser apreendida, explicada, abarcada, classficada etc esto sujeitos 8s ccondigoes da observacio e, dentre essas, 3s premissas que organi- zam 0 olhar do observador. O observador clinico tem um olhar ‘configurado pelo aparelho tedrico e metod como base ¢ instrumento, tornando posst experiéncia singular do “observado" ‘Um modo de pensamento psicoteray organizar sobre o conceito de experiéncia vincula- ‘uma psicopatologia que descreve as flexes da experiéncia gragas 1 conceitos forjados para possibilitar a reorganizagao dessa expe- rigncia onde e quando ela se imobilizou. ‘Um outro modo de pensar, que estivesse organizado sobre 0 de sintoma em seu “dar-se a ver” ¢ sua referéncia a de designada como doenga, evaria a uma ago tera- 110 re-desdobrar da ico escolhido por se -se, portanto, a 2 orientada para o dar-se a ver (isto é 0 comportamen- » reducao do sintoma e dissolugao da doenga ou, pelo menos, Je seus sinais, : Um modo de i 1odo de pensamento embasado no bioldgico estaria no ar, heterondmico, ¢ seria |, meu ver, um movimento de ajusta- ‘mento conservador, icopatoligica torna possivel abordar o fato nosografia Como a psicopatologia gestiltica deve, segundo penso, possi- ar a compreensao da experiéncia singular do cliente e, 80, proporcionar ao terapeuta um aparelho conceitual e met dol6gico es; ja capacidade de dialeti cer uma tensao entre sua abordagem com os conhecimentos cli- cos desenvolvidos pelo conjunto do campo, com uma postura vagamente e ignore o progress reduza a experi los que nos capacitam a pensar si, ituacdo de emergéncia, interrupgoes da cia de ajustamento criativo, perturbagdes ¢ perdas de s do self, disfungdes da experiéncia na fronteira de c Hig JRAN-MARIE KORINE pacificagao pre- 16s desenvolver esses conceitos ¢ usi-los na pritica, e também na teoria que dela decorre, em vez de acreditar e fazer acreditar na insuficiéncia de dominancia, construgao/destruigao de ge: A ANSIEDADE EM GESTALT-TERAPIA. ANSIEDADE E EXCITACAO No cetne da pi parte integrante do s cimento da perso 1951). Definido com pois “nao existe realidade neutra, indiferente’, acompanha 0 con- tato e a formacao figura/fundo, Nasce com a emergéncia de toda figura e tende a se confundir com “o objeto” do contato, a tal ja ind mo € nao do la 6a “evidéncia imediata do campo organis- sta getltca,otermo “excita” éaté mesmo contato, Mas, por razdes diferent bida, ou mesmo bloqueada, e isso constitui a anguistia. A angus- \¢ao bloqueada, resultado da Essa aborda- los apenas no que diz. res tivo) é bastante compativel com a que aparece nos trabalhos de Freud. Sabemos que Freud elaborou sucessivamente trés teorias 1: a de 1893-1895, sobre a neurose de angistia; a de 1909-1917, em que examinou as relagdes entre angiistia reprimida; e a tltima, em 1926-1932, na qual retomou sts teo- rias anteriores a luz de seu conceito do aparelho psiquico. A concepgao gestaltica assemelha-se especialmente as duas pri- ™meiras, com as reservas impostas ao se levar em conta as diferen- ‘¢as dos sistemas teéricos. ANSIEDADE E SUPORTE Outras teorizagaes sobre a ansiedade permeiam os textos gestal- ticos. Manteremos, ao longo deste estudo, e como complemento a abordagem de Perls e Goodman, a perspectiva aberta por Laura erls (1993b), que articula angtistia e auséncia de suporte essen- cial na experiéncia de contato. Quando, na seqiiéncia do contato, chega a faltar 0 suporte essencial ao desdobramento para a etapa quando se dé uma pedo nao-aware jada a uma patologizagao do que esté em jogo na etapa em curso ou na etapa seguinte, a angtistia surge € impede 0 sujeito de acessar, tanto em si mesmo quanto no ambiente, os recursos necessérios ao suporte. Assim, 0 que deve ser apoiado pelo terapeuta nao é (no sentido em que se nas sim a construgio finamica, uma tarefa, € nao das mais simples, dade, para excitagao ativa e, portar imobilizagao. E essa ocorréncia da a objeto deste estudo e também em seu limite, evidentemente sem que se pretenda, de modo algum, esgotar a problematica da ansiedade e da angustia dentro de tas i ‘A ANSIEDADE NA CONSTRUCAO DA GESTALT EMERGENCIA DE UMA FIGURA VERSUS CONFLUENCIA Na primeira fase, denominada fase de pré-contato, 0 corpo, a fisiologia priméria e secundéria compoem o fundo. (Lembremos brevemente que a Gestalt-terapia designa por “fisiologia primé- ria” 0 aspecto biol6gico do animal-humano, e por “fisiologia secundiria” a c 0,2 historia -xto, em inscrigOes corporais.’) Na situagao em curso, quer se trate de uma situagao de repouso em que nada 10 cor + de uma atividade qualquer na qual individuo esteja envolvido e da qual ele pode, em graus diversifi- cados de consciéncia, se deixar distrai, “algo” surge. Essa alguma coisa, esse “id” da situagao pode tomar diversas formas: pro cepsa0 de uma sensacao corporal, percepgao de um estimulo ambiental, necessidade, desejo, apetite, atragio, impulso, situagao inacabada que venha a cruzar 0 presente... O conceito de “id” designa corretamente esse impulso, € a sua awareness, sem nenhuma especulagao a respeito de sua possivel origem. Indissociavel da awareness, a fungao id é uma modalidade do self que, a partir de percepsdes e sensagées corporais, constitui a ‘emergéncia da figura “seguinte” (next) da situagio. E certo que nessa fase da seqiiéncia o self sobretudo uma fun- jologia, e como que faz parte do organismo. Em outros (0s, como sera visto, o self aparecera muito mais claramen- te como fungao do campo, ou mais exatamente como “a maneira como o campo inclui o organismo” (Perls; Heffe xdman, ‘0 que se constitui como figura nessa fase, portanto, wulagao ambiental que desperta um apetite. FLEXOES, ida, as vezes se mostra ansiogénica, O reconhecimento de um apetite ou de um desejo, o conhecimento imediato de uma sensagao que indica uma necessidade, 0 apare~ cimento de um tema, de uma lembranga, de uma associagao, a constituigio de uma primeira representagio, enfim, todos os n uma dire¢ao de significado sao acompa- im, eles podem gerar uma ansiedade que pommano ny seqiléncia ~ se & que podemos chamé-la de interrup¢ao, sabendo ue se trata fenomenologicamente mais de uma auséncia de ‘cio — opera por meio da confluéncia. Nao permitir essa consti sao € manter a confluéncia, ou demandar confluéncia (ef. Lapeyronnie & Robin: ‘As modalidades dispontveis para essa confluéncia tém tora lo que Goodman e Perls fizeram a respeito no capitulo XIV. A vergonha precoce dos afetos constitui a origem muito frequente desse tipo de fendmenos. ‘Uma das fungdes da manutengao dessa conflu da a ansiedade da individuagio e da diferenciag? cconsciente de seu desejo € engajar-se em uma expressio na pri- pessoa. A confluéncia, a0 manter uma indiferenciagao wo/ambiente, izagdo torna possi ter a dizer; a experiéncia é como a de um nevoeiro ou de escuri- dao, as vezes expressa como sensagdes de vazio. Quando uma figura emerge, ela € chamada a se tornar figura de contato. A criagao de uma Gestalt constitui também essa pas- sagem delicada do fisiolégico para o psicolégico. Manter a con- fluéncia permite nao levar a experiéncia do plano fisiolgico para © plano psicolégico, do corpo para o contato e, portanto, fazer que ela permanega no fisiolégico nao consciente. A excita reprimida continua a ser entdo exclusivamente corporal, a sensa- ‘0 nao pode transformar-se em afeto, € menos ainda o afeto pode passar a ser fento ou emogo. A doenca que pode ovorrer entao toma 0 corpo como objeto, pois, falando metafori- camente, a Gestalt se construira sem contato com o ambiente. E, Portanto, sob a forma de doengas freqiientemente qualificadas de Psicossomaticas, ou de hipocondria, que a excitagao se imobiliza- rd nessa fase e que a ansiedade se fixaré corpo. Em menor igidez muscular, tensdes cronicas, izagdes ou anestesias locais,

Você também pode gostar