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Recurso ordinário

Júnior Ananias Castro1


O recurso ordinário (art. 895, da CLT), consiste no recurso mais importante no
processo do trabalho, sendo o equivalente a apelação do processo civil. O prazo para a
sua interposição é de 08 (oito) dias, contados em dias úteis (art. 775 da CLT) tanto para
as razões quanto para as contrarrazões, respeitando, portanto, os prazos recursais
uniformes, constante no art.6º, da lei n. 5.584/70.
Este recurso não está isento do preparo, portanto, quando da sua interposição o
recorrente deverá recolher as custas e o depósito recursal. Nos termos do art. 895, da CLT,
o recurso ordinário é cabível nas seguintes situações: (i) em face de decisões definitivas
ou terminativas proferidas pelas varas e juízos; (ii) em face de decisões definitivas ou
terminativas proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho, seja nos dissídios
individuais ou coletivos;
As decisões definitivas são aquelas em que o juiz enfrenta o mérito, cujo rol está
previsto no art. 487 do CPC/2015, como, por exemplo, quando o juiz acolhe ou rejeita o
pedido formulado na ação ou reconvenção; quando decide, de ofício ou a requerimento,
sobre a ocorrência de decadência ou prescrição; quando homologa reconhecimento de
procedência do pedido, transação ou renúncia a pretensão formulada (LEITE, 2018).
Por sua vez, as decisões terminativas ou processuais, com previsão no art. 485 do
CPC/2015, são aquelas em que o juiz não enfrenta o mérito, decidindo somente questões
processuais, como, por exemplo, indeferimento da petição inicial; quando o processo fica
parado por mais de um ano, por negligências das partes; quando o autor abandona a causa
por mais de 30 (trinta) dias; quando se verificar a ausência de constituição e
desenvolvimento válido e regular do processo; reconhecer a existência de perempção,
litispendência ou coisa julgada; etc. (LEITE, 2018).
Em síntese, quanto às decisões definitivas ou terminativas proferidas pelas varas
e juízos, tem-se que é cabível a interposição de recurso ordinário nos seguintes casos:
(a) Em face de decisão definitiva (de mérito) proferida por juiz da vara do
trabalho;

1
Bacharel em Direito pela UFOP. Bacharelando em Filosofia pela UFOP. Especialista em Direito
Administrativo pela FAVENI. Mestre em Direito pela UFOP. Advogado. Professor de Direito da
FUPAC/Mariana-MG.

1
(b) Em face de decisão definitiva (de mérito) proferida por juiz de direito
investido de jurisdição trabalhista;
(c) Em face de decisão terminativa (processual) proferida por juiz da vara do
trabalho;
(d) Em face de decisão terminativa (processual) proferida por juiz de direito
investido de jurisdição trabalhista;
(e) Em face de decisão terminativa de feito proferia por juiz da vara do trabalho
ou por juiz investido de jurisdição trabalhista.
Em relação a esta última situação, as decisões terminativas de feito, trata-se
daquelas hipóteses em que de ofício ou mediante a apresentação de exceção de
incompetência o juiz da vara do trabalho ou juiz investido de jurisdição trabalhista
determina a remessa dos autos para outra justiça, terminando o feito na justiça que
tramitava (PEREIRA, 2018).
Leone Pereira (2018) apresenta dois exemplos para elucidar as decisões
terminativas de feito, são eles:
 Um processo tramita na justiça do trabalho, sendo que em preliminar
de contestação o reclamado alega incompetência absoluta do juízo, a
qual é acatada e o feito é encaminhado para a justiça comum. Tem-se
aqui uma decisão terminativa de feito, a qual pode ser desafiado pela
interposição de recurso ordinário que será julgado pelo respectivo
TRT;
 Uma reclamação trabalhista ajuizada no domicílio do reclamante e não
no local da prestação do serviço, contrariando, portanto, o art. 651 da
CLT. É importante considerar que a vara do trabalho de onde houve a
prestação do serviço pertence a TRT diverso da vara do trabalho do
domicílio do reclamante. O reclamado apresenta exceção de
incompetência relativa, que é acatada pelo juízo que determina a
remessa do feito para a vara do trabalho do local da prestação do
serviço. Essa situação está sujeita a interposição de recurso ordinário,
que deverá ser julgado pelo TRT da vara que acolheu a exceção de
incompetência.

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A segunda hipótese de cabimento de recurso ordinário, ou seja, em face de
decisões definitivas ou terminativas proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho,
diz respeito àqueles processos de competência originária dos TRTs, abarcando tanto os
dissídios individuais, quanto os dissídios coletivos. É possível apresentar como exemplos
as seguintes situações: (i) ação rescisória (ver súmula n. 158 do TST)2; (ii) mandado de
segurança (ver súmula n. 201 do TST)3; (iii) ação anulatória de cláusula convencional;
dissídio coletivo; etc. Nesse caso, o recurso ordinário será julgado pelo TST.
Leone Pereira (2018), chama a atenção para o fato curioso que ocorre quando se
compara a sistemática do recurso ordinário na justiça do trabalho com a sistemática da
apelação na justiça comum. No primeiro caso o recurso ordinário poderá ser julgado tanto
pelos TRTs (2º grau), quanto pelo TST (3º grau), já na justiça comum o recurso de
apelação somente poderá ser julgado pelos TJs, posto que o STF e STJ não têm
competência para julgar este recurso.
O recurso ordinário obedece a regra do duplo juízo de admissibilidade4, devendo
ser analisado conforme as hipóteses de cabimento do recurso apresentadas acima.
No que diz respeito a primeira hipótese de cabimento, as decisões definitivas ou
terminativas proferidas pelas varas e juízos, tem-se que: (i) o primeiro juízo de
admissibilidade é feito pelo juízo a quo, ou seja, pela vara do trabalho ou pelo juiz de
direito investido de jurisdição trabalhista; (ii) o segundo juízo de admissibilidade é feito
pelo juízo ad quem, ou seja, pelo respectivo TRT.
Quanto a segunda hipótese de cabimento, as decisões definitivas ou terminativas
proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho, tem-se que: (i) o primeiro juízo de
admissibilidade é feito pelo juízo a quo, ou seja, pelo TRT; (ii) o segundo juízo de
admissibilidade é feito pelo juízo ad quem, ou seja, pelo TST.

2
Súmula nº 158 do TST
AÇÃO RESCISÓRIA (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
Da decisão de Tribunal Regional do Trabalho, em ação rescisória, é cabível recurso ordinário para
o Tribunal Superior do Trabalho, em face da organização judiciária trabalhista (ex-Prejulgado nº
35).
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Súmula nº 201 do TST
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e
21.11.2003
Da decisão de Tribunal Regional do Trabalho em mandado de segurança cabe recurso ordinário, no
prazo de 8 (oito) dias, para o Tribunal Superior do Trabalho, e igual dilação para o recorrido e
interessados apresentarem razões de contrariedade.
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O juízo de admissibilidade consiste na análise objetiva do preenchimento dos pressupostos recursais,
também chamados de requisitos de admissibilidade recursal (PEREIRA, 2018).

3
Por fim, é importante registrar que a interposição de recurso ordinário no
procedimento sumaríssimo possui algumas especificidades, nos termos do §1º, do art.
895, da CLT. Lembrando que o procedimento sumaríssimo diz respeito aos dissídios
individuais cujo valor da causa seja superior a dois salários mínimos e não ultrapasse
quarenta salários mínimos. Ademais, tal procedimento é marcado pela celeridade,
informalidade, oralidade e simplicidade (PEREIRA, 2018).
No procedimento sumaríssimo o recurso ordinário, quando chega no Tribunal,
deve ser imediatamente distribuído, tendo o relator o prazo máximo de 10 (dez) dias para
liberá-lo, devendo a secretaria do Tribunal ou Turma colocá-lo imediatamente na pauta
de julgamento; o representante do Ministério Público deverá se manifestar oralmente na
sessão de julgamento; o acórdão será fundado tão somente na certidão de julgamento,
com a indicação precisa do processo, dispositivo e razões de decidir do voto que
prevalecer; os TRTs, divididos em Turmas, poderão indicar uma Turma específica para
o julgamento dos recursos ordinários provenientes de procedimentos sumaríssimos
(MIESSA, 2017).

REFERÊNCIAS
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. Saraiva
Educação SA, 2018.
MIESSA, Elisson; CORREIA, Henrique. Processo do trabalho. Coleção Concursos
Públicos, 2017.
PEREIRA, Leone. Manual de processo do trabalho. Editora Saraiva, 2018.

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