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Finanças Empresariais

Crisanto Soares Ribeiro


UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEaD

Finanças Empresariais
Livro-texto EaD

Natal/RN
2011
DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP

Reitoria
Sâmela Soraya Gomes de Oliveira

Pró-Reitoria de Graduação e Ação Comunitária


Sandra Amaral de Araújo

Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação


Aarão Lyra

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP

Coordenação Geral Revisão de Linguagem


Barney Silveira Arruda e Estrutura em EaD
Luciana Lopes Xavier Priscilla Carla Silveira Menezes
Thalyta Mabel Nobre Barbosa
Coordenação Pedagógica Úrsula Andréa de Araújo Silva
Edilene Cândido da Silva
Apoio Acadêmico
Coordenação de Produção Flávia Helena Miranda de Araújo Freire
de Recursos Didáticos
Michelle Cristine Mazzetto Betti Assistente Administrativo
Eliane Ferreira de Santana
Coordenação de Produção de Vídeos Gabriella Souza de Azevedo
Bruna Werner Gabriel Gibson Marcelo Galvão de Sousa
Giselly Jordan Virginia Portella
Coordenação de Logística
Helionara Lucena Nunes

R484f Ribeiro, Crisanto Soares.


Finanças empresariais / Crisanto Soares Ribeiro. – Natal:
EdunP, 2011.
296p. : il. ; 20 cm

Ebook – Livro eletrônico disponível on-line.


ISBN 978-85-61140-93-9

1. Finanças empresariais. I.Título.

RN/UnP/BCSF CDU 336.13


Crisanto Soares Ribeiro

Finanças Empresariais
1a Edição

Natal/RN
2011
EQUIPE DE PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS DA UnP

Coordenação de Produção de Recursos Didáticos


Michelle Cristine Mazzetto Betti

Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD


Úrsula Andréa de Araújo Silva

Ilustração do Mascote
Lucio Masaaki Matsuno

EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO


Delinea - Tecnologia Educacional

Coordenação Pedagógica
Margarete Lazzaris Kleis

Coordenação de Editoração
Charlie Anderson Olsen
Larissa Kleis Pereira

Coordenação de Revisão e Linguagem em EaD


Simone Regina Dias

Revisão Gramatical e Linguagem em EaD


Eduard Marquardt

Coordenação de Diagramação
Cristina Assumpção

Diagramação
Valdir Siqueira

Ilustrações
Alexandre Beck
CONHECENDO O AUTOR
CRISANTO SOARES RIBEIRO

Sou graduado em Ciências Econômicas pela Associação


Educacional Dom Bosco (AEDB), de Resende (RJ), 1985. Em 1989
concluí minha primeira especialização, Engenharia Econômica,
também pela AEDB, e em 1998 me especializei em Gestão
Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas.

Atuo como docente desde 1998, primeiro na Universidade do


Extremo Sul de Santa Catarina, em disciplinas como Mercado de
Capitais e Economia Brasileira. A partir de 2001 passei a lecionar
na Universidade do Vale do Itajaí as disciplinas de Administração
Financeira e Orçamentária I e II, Mercado de Capitais e Projetos
Organizacionais, na graduação, e os módulos de Análise Financeira
do Setor Público em cursos de pós-graduação. Desde 2002 atuo
como consultor da ABACE – Associação Brasileira de Bancos
Estaduais e Regionais, hoje ATP, que desenvolve tecnologia em
programas de certificação de agentes autônomos de investimentos
junto a instituições financeiras, como o Banco da Amazônia, do
Estado do Pará, de Sergipe, do Piauí, do Espírito Santo e no Sicoob
(SC). Neste programa atuei tanto na modalidade presencial quanto
a distância. Em 2009 iniciei as atividades de consultoria financeira
e projetos de viabilidade econômica que desenvolvo até os dias
atuais. Além das atividades de docência, completei 21 anos como
profissional da Caixa Econômica Federal, atuando há mais de 14
anos na área de análise de risco de crédito empresarial.
CONHECENDO A DISCIPLINA
FINANÇAS EMPRESARIAIS

O que vem a ser esta disciplina? Qual a razão de ela estar


inserida neste curso? Será só teoria ou terei de enfrentar “o
pavor” de inúmeros cálculos? – Estas questões provavelmente
habitam a sua cabeça neste momento, mas temos que buscar neste
ambiente de riscos e incertezas informações que nos permitirão
tomar decisões de forma mais acertada.

Se observar com cuidado, você verá que todas as suas ações,


como as de qualquer pessoa, apresentam repercussões financeiras:
casar, descasar, ter ou não filhos, estudar ou não estudar, comprar
ou locar um carro ou um apartamento, fazer um concurso público
ou trabalhar na iniciativa privada, ou, ainda, montar seu próprio
negócio. Suas decisões poderão apresentar resultados positivos ou
negativos, a curto, médio ou longo prazo, e o que está em jogo
aqui é relação custo-benefício, bem como seus valores.

Ao optar por um curso superior, seja desenvolvido na forma


presencial ou a distância, você já deve, mesmo que de forma elementar,
ter traçado cenários nos quais objetiva mudanças no estágio em que
sua vida atualmente se encontra. É claro que esta sua primeira decisão
o remeterá a outras, abandonar algumas práticas em benefício de
outras, e dentre elas destaco algumas que entendo serem essenciais
para você alcançar êxito: tornar-se uma pessoa ávida pela leitura,
pesquisar sempre (a informação no ambiente financeiro é a diferença
entre o sucesso e o fracasso), fazer os exercícios solicitados e, por fim,
questionar sempre. O nosso ambiente permitirá a você uma interação
constante com este professor.

Mas voltemos à nossa disciplina. Convido você para buscarmos a


construção de um conhecimento que possibilite não só compreender
a dinâmica financeira de uma empresa, mas habilitar a utilização
das inúmeras ferramentas e estratégias inerentes ao processo de
planejamento de curto e longo prazo. Por meio de proposta interativa,
veremos os conceitos de finanças, o papel dos profissionais que atuam
nesta área, os documentos e relatórios que embasam o processo de
decisões financeiras, ou seja, todo o processo de gestão financeira.
Aceite este convite para explorar um campo de inúmeras oportunidades
que se abrem a partir deste momento. Está lançado o desafio, e se quiser me
acompanhar, comece agora conhecendo a minha proposta de trabalho.
Capítulo 1 - Função financeira ................................................................... 13

SUMÁRIO
1.1 Contextualizando .......................................................................................................... 13
1.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 13
1.2.1 Função financeira – conceito ........................................................................... 13
1.2.2 Objetivos das finanças empresariais ............................................................. 25
1.2.3 As tomadas de decisão financeiras................................................................ 28
1.2.4 O papel do gestor financeiro e a importância da postura
ética em suas ações e decisões ................................................................................ 36
1.3 Aplicando a teoria na prática .................................................................................... 40
1.4 Para saber mais .............................................................................................................. 40
1.5 Relembrando .................................................................................................................. 41
1.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 42
Onde encontrar ..................................................................................................................... 43

Capítulo 2 - Planejamento e controle financeiro ..................................... 45


2.1 Contextualizando .......................................................................................................... 45
2.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 45
2.2.1 Planejamento financeiro – conceito ............................................................. 45
2.2.2 Planejamento financeiro de curto prazo ..................................................... 51
2.2.3 Planejamento financeiro de longo prazo .................................................... 53
2.2.4 Instrumentos de planejamento financeiro – orçamento ...................... 56
2.2.5 Métodos de controle financeiro ..................................................................... 68
2.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 71
2.4 Para saber mais .............................................................................................................. 73
2.5 Relembrando .................................................................................................................. 74
2.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 75
Onde encontrar ..................................................................................................................... 76

Capítulo 3 - Mercado financeiro ................................................................ 81


3.1 Contextualizando .......................................................................................................... 81
3.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 82
3.2.1 Mercado financeiro – conceito........................................................................ 82
3.2.2 Estrutura do mercado financeiro.................................................................... 85
3.2.3 Política econômica .............................................................................................. 99
3.2.4 Operações ativas e passivas ..........................................................................103
3.2.5 Taxas de juros ......................................................................................................109
3.3 Aplicando a teoria na prática ...................................................................................112
3.4 Para saber mais ............................................................................................................113
3.5 Relembrando ................................................................................................................114
3.6 Testando os seus conhecimentos ..........................................................................114
Onde encontrar ...................................................................................................................115
Capítulo 4 - Demonstrações financeiras e balanço patrimonial ..............................117
4.1 Contextualizando .................................................................................................................................117
4.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................118
4.2.1 Exigência legal .............................................................................................................................119
4.2.2 Balanço patrimonial ...................................................................................................................121
4.2.3 Demonstração de resultado....................................................................................................126
4.2.4 Demonstração de mutações do patrimônio líquido......................................................128
4.2.5 Demonstração de valor adicionado .....................................................................................130
4.2.6 Demonstração de fluxo de caixa ...........................................................................................133
4.2.7 Relatório de administração, notas explicativas e parecer de auditoria ...................137
4.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................142
4.4 Para saber mais .....................................................................................................................................145
4.5 Relembrando .........................................................................................................................................146
4.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................146
Onde encontrar ............................................................................................................................................148

Capítulo 5 - Análise estratégica das demonstrações financeiras ..............................151


5.1 Contextualizando .................................................................................................................................151
5.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................151
5.2.1 Análise horizontal .......................................................................................................................154
5.2.2 Análise vertical .............................................................................................................................156
5.2.3 Análise de liquidez .....................................................................................................................157
5.2.4 Análise de estrutura e financiamento..................................................................................161
5.2.5 Análise de lucratividade e rentabilidade ............................................................................165
5.2.6 Análise de atividade ou ciclo ..................................................................................................170
5.2.7 Análise de necessidade financeira ........................................................................................173
5.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................176
5.4 Para saber mais .....................................................................................................................................178
5.5 Relembrando .........................................................................................................................................179
5.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................180
Onde encontrar ............................................................................................................................................182

Capítulo 6 - Fluxo de caixa ...........................................................................................185


6.1 Contextualizando .................................................................................................................................185
6.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................185
6.2.1 Fluxo de caixa – objetivos ........................................................................................................190
6.2.2 Método direto ..............................................................................................................................194
6.2.3 Método indireto ..........................................................................................................................200
6.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................213
6.4 Para saber mais .....................................................................................................................................215
6.5 Relembrando .........................................................................................................................................216
6.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................217
Onde encontrar ............................................................................................................................................218
Capítulo 7 - Análise de viabilidade, rentabilidade e risco ..........................................221
7.1 Contextualizando .................................................................................................................................221
7.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................222
7.2.1 Valor presente líquido ...............................................................................................................222
7.2.2 Taxa interna de retorno .............................................................................................................225
7.2.3 Prazo de retorno do investimento ........................................................................................227
7.2.4 Ponto de equilíbrio .....................................................................................................................231
7.2.5 Retorno – conceitos e metodologia de avaliação ..........................................................232
7.2.6 Risco – conceitos, tipologia e metodologia de avaliação.............................................233
7.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................245
7.4 Para saber mais .....................................................................................................................................247
7.5 Relembrando .........................................................................................................................................248
7.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................249
Onde encontrar ............................................................................................................................................250

Capítulo 8 - Estratégias comerciais de compra e venda .............................................253


8.1 Contextualizando .................................................................................................................................253
8.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................253
8.2.1 Estratégias aplicadas às compras ..........................................................................................257
8.2.2 Estratégias aplicadas às vendas .............................................................................................258
8.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................276
8.4 Para saber mais .....................................................................................................................................278
8.5 Relembrando .........................................................................................................................................279
8.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................279
Onde encontrar ............................................................................................................................................281

Referências ....................................................................................................................285
Capítulo 1

CAPÍTULO 1
FUNÇÃO FINANCEIRA

1.1 Contextualizando
Conhecer a origem do que estudamos permite uma melhor visualização
para o aprendizado, situando-nos no conteúdo. Este capítulo ajudará você a
compreender a função financeira da empresa e o campo geral de atuação do
administrador financeiro.

O texto mostrará que o campo de atuação das finanças empresariais


é muito mais amplo do que se pode imaginar, e quanto maior a nossa
compreensão, maior será o nosso desafio.

O capítulo 1 apresentará noções da função financeira, sua evolução


histórica, seus objetivos, como ela se processa no contexto de uma sociedade
empresarial e, por fim, o papel do gestor financeiro e suas implicações éticas.
Você perceberá quão abrangente é o campo de atuação do profissional da
área financeira e os desafios que ele enfrenta no seu dia a dia.

Espera-se que, ao final do estudo, você seja capaz de descrever o processo


financeiro, seus desdobramentos e, principalmente, consiga visualizar porque
este assunto é apresentado nesta disciplina.

1.2 Conhecendo a teoria

1.2.1 Função financeira – conceito

Quando alguém começa a falar sobre assuntos da área financeira, tais


como crédito, juros, câmbio, ações, inflação, nível de produção e emprego,

Finanças Empresariais 13
Capítulo 1

tributação, lucro ou prejuízo, concentração de mercado e fusões, qual a sua


primeira impressão? Caso você pense apenas em números, cálculos complicados,
deverá rever as suas ideias, pois a função financeira envolve mais que isso. Ela
envolve estratégias que podem determinar a continuidade ou não de uma
sociedade empresarial.

Mas primeiramente temos que entender alguns conceitos, tais como


função e finanças.

CONCEITO
Função, segundo Michaelis (2008, p. 404), “é a
ação de um órgão, aparelho ou máquina”. Se
portanto entendermos uma sociedade empresarial
desta forma, perceberemos que a empresa, por
analogia, é um conjunto de órgãos, constituído
por diferentes departamentos ou setores, cada
um com responsabilidades definidas: Recursos
Humanos, Marketing, Produção, Pesquisa e
Desenvolvimento, Comercial, Administrativo e
Financeiro. A integração das ações destes setores
ou funções é que proporciona o equilíbrio
necessário à perpetuação da vida de uma empresa.

Na concepção de Gitman (2001), as finanças podem ser definidas como


“a arte e a ciência de gerenciamento de fundos”. Já para Gropelli e Nikbakht
(2001), o termo finanças concerne à aplicação de uma série de princípios
econômicos para maximizar a riqueza ou o valor total dos negócios. Pois bem,
a função financeira, como veremos a seguir, é muito mais que isso e passou
por diversas transformações ao longo do tempo.

Segundo Archer e D’Ambrosio (1969, p. 367),

(...) a função financeira compreende os esforços dispendidos


objetivando a formulação de um esquema que seja adequado à
maximização dos retornos dos proprietários das ações ordinárias da
empresa, ao mesmo tempo em que possa propiciar a manutenção
de um certo grau de liquidez.

O campo de atuação de seus profissionais ampliou-se consideravelmente


ao longo das últimas décadas, assim como os instrumentos financeiros também

14 Finanças Empresariais
Capítulo 1

foram aperfeiçoados, exigindo cada vez mais dos que adentram esta área de
conhecimento.

Segundo Lemes Junior, Miesa e Cherobim (2005, p. 4) o profissional de


finanças se envolve com atividades que incluem o processo financeiro, os
mercados, os instrumentos e as instituições financeiras, podendo ainda se
dedicar às áreas que envolvem as questões de natureza pessoal e pública, além
é claro da corporativa, que será o foco de seu estudo.

Silva (2006, p. 32) afirma que

o papel do administrador financeiro depende também do porte


da empresa. Numa empresa pequena, não há um órgão especifico
responsável pelo gerenciamento das operações financeiras,
ficando estas atribuições distribuídas entre a contabilidade e o
proprietário. À medida que a empresa cresce ,torna-se necessária
a profissionalização do gerenciamento das funções financeiras.
Nas grandes organizações normalmente há separação entre
finanças e controladoria .

Agora que você já compreende que uma empresa é este conjunto de


atividades e/ou funções, funções estas que guardam uma interdependência,
não há como se tomar uma decisão na área comercial sem que a mesma
tenha implicações financeiras, da mesma forma que não se pode adotar
procedimentos na área de recursos humanos ou produção sem observar as
questões de natureza financeira.

Mas o que vem a ser a função financeira?

Leia a seguinte explicação: Braga (1989) afirma que a função financeira


compreende um conjunto de atividades relacionadas à gestão dos recursos
financeiros utilizados pelas diferentes áreas de uma organização. Segundo
o mesmo autor, a função financeira desempenha papel importantíssimo
no desenvolvimento das atividades operacionais, podendo suas ações
determinarem o sucesso ou insucesso de um empreendimento.

De acordo com Braga (1989, p. 27), a função financeira engloba diversos


aspectos, tais como
Fluxo de fundos: elementos da administração financeira que requer
investimentos em bens que constituem os meios de produção, dos
quais são geradores dos produtos a serem colocados no mercado;

Finanças Empresariais 15
Capítulo 1

Investimentos: neste caso, representam a preocupação primordial


no que diz respeito à avaliação e escolha de alternativas para a
aplicação de recursos nas atividades da empresa;

Financiamento: esta área compreende o que se deseja definir e


alcançar para obter uma estrutura ideal em termos de fontes de
recursos da composição de investimentos.

Utilização (destinação) do lucro líquido: significa uma área


de decisões, também comumente conhecido como política do
dividendo, a qual se preocupa com a destinação dado aos recursos
financeiros que a empresa gera em suas atividades gerenciais extra-
operacionais e operacionais.

Lemes Junior, Miesa e Cherobim (2005, p. 4) entendem que a função


financeira envolve um conjunto de ações que objetivam a criação de valor e a
maximização de riqueza. Estas ações basicamente acarretam em decisões ora
de investimentos, ora financiamentos ou de dividendos.

Os mesmos autores apresentam um quadro que resume as principais


funções financeiras, destacando que estas podem ser segregadas em dois
grupos, de acordo com a responsabilidade da gestão: as de tesouraria e as de
controladoria. Vejamos:

FUNÇÕES FINANCEIRAS
TESOURARIA CONTROLADORIA

• Administração do caixa; • Administração de custos e preços;


• administração de crédito e • auditoria Interna;
cobrança; • contabilidade;
• administração de risco; • orçamento;
• administração de câmbio; • patrimônio;
• decisões de financiamento; • planejamento Tributário;
• planejamento e controle • relatórios gerenciais;
financeiro;
• desenvolvimento e
• proteção de ativos; acompanhamento de sistemas de
• administração de câmbio; gestão financeira.
• relações com acionistas e
investidores;
• relações com os bancos.

Quadro 1 - Funções financeiras


Fonte: Adaptado de Lemes Junior, Miesa e Cherobim (2005, p. 5).

16 Finanças Empresariais
Capítulo 1

Como você pode constatar, existe uma diferença clara entre as funções
financeiras desenvolvidas pelo profissional que ocupa a tesouraria e o que
ocupa a controladoria. Se observar atentamente o quadro 1 apresentado, as
funções desempenhadas pelo primeiro se ocupam de decisões que afetam as
organizações no curto prazo. Por exemplo, quando há um descasamento entre
os prazos de recebimentos e pagamentos, a empresa terá de captar recursos
no mercado financeiro para fazer face as suas necessidades operacionais.
Já as funções de controladoria envolvem decisões estratégicas e, portanto,
assumem um caráter de longo prazo.

DESAFIO

Busque identificar em sua empresa ou na de


alguém conhecido se todas estas funções são
desenvolvidas.

Mas será que as funções financeiras não podem ser apresentadas de


outras formas?

Assaf Neto (2003, p. 29) buscou agrupá-las em quatro grandes grupos:

• planejamento financeiro, que envolve decisões que visam avaliar as


necessidades de recursos das empresas para seus planos de expansão,
bem como evitar percalços futuros;

• controle financeiro, que trata do acompanhamento e avaliação do


desempenho da empresa, objetivando a correção de rumos;

• administração de ativos, sejam estes de giro (envolvem a manutenção das


atividades operacionais) ou fixos, tendo como principal objetivo buscar a
estrutura que melhor rentabilize os investimentos e minimize riscos;

• administração de passivos, que busca a evidenciação das fontes de


recursos próprios ou de terceiros, possibilitando menor custo de
captação e menores riscos financeiros.

Finanças Empresariais 17
Capítulo 1

Mas até aqui, a função financeira já percorreu um longo caminho. Que tal
viajarmos juntos no tempo?

O estudo das finanças se ajustou aos diferentes momentos da economia, e


nos ateremos aqui ao período de 1920 até os dias atuais, quando se percebem as
alterações mais significativas neste campo do conhecimento.

No período anterior ao que enfatizo, as obras de finanças, segundo Archer


e Ambrósio (1969), foram caracterizadas pela abordagem tradicional, focando os
principais acontecimentos da vida financeira das empresas, ao invés dos problemas
administrativos rotineiros.

Na década de 1920, segundo Weston (1975 apud ASSAF NETO, 2003), a


expansão industrial se acentuou, presenciando-se uma avalanche de fusões de
empresas para ampliar suas linhas de produtos. A lucratividade era grande, mas nem
tudo era um mar de rosas, os preços oscilavam muito e os recursos eram escassos, o
que exigia das empresas uma análise mais precisa de suas estruturas financeiras, ou
seja, onde captavam os recursos e onde estes eram alocados. No final desta década,
mais precisamente, o mundo atravessou uma primeira grande crise, também
chamada de Grande Depressão de 1929. A preocupação da função financeira passou
a ser os estudos que envolvem a recuperação financeira das empresas.

Passado este momento de turbulência, o que você acha, será que a situação
dos gestores financeiros melhorou?

Não. A 2.ª Grande Guerra desestabilizou o mundo financeiro. A função


financeira neste período se preocupava basicamente com a obtenção de recursos
para a manutenção da atividade empresarial. Cinco anos após o término da guerra,
a economia mundial ainda caminhava a passos lentos e o foco passou a ser a
reestruturação interna das empresas. As empresas tiveram de conviver com recursos
financeiros escassos e perda de rentabilidade.

Neste período, segundo Assaf Neto (2003 p. 27), duas correntes de estudiosos
lançaram as bases das chamadas “Finanças modernas”: a primeira, iniciada por
Hewry Markowitz (1952), introduziu os estudos de carteira e o trade-off (risco
X retorno). Já sobre a segunda, denominada “Finanças corporativas”, Miller e
Modigliani (1958) buscam demonstrar que o valor de uma empresa não está
atrelado à estrutura de capital. Aliás, anos mais tarde, seriam eles os ganhadores do
Prêmio Nobel de Economia.

18 Finanças Empresariais
Capítulo 1

BIOGRAFIA
Merton H. Miller (1923-2000), economista
norte-americano, professor da Universidade
de Chicago, obteve o Prêmio Nobel de
Economia em 1990, compartilhado com Harry
M. Markowitz e William F. Sharpe, por seu
trabalho pioneiro sobre a teoria da economia
financeira. Nascido em Boston, estudou em
Harvard, onde foi estudante junto com Robert
M. Solow. Obteve seu doutorado em 1952
na Johns Hopkins University, em Baltimore,
sendo discípulo de Fritz Machlup. Trabalhou na London School of
Economics 1952-53 e na Carnegie-Mellon University, iniciando sua
colaboração sobre finanças corporativas com Franco Modigliani.
Em 1961 mudou-se para a Universidade de Chicago, tendo sido
também professor visitante na Universidade de Lovaina, na Bélgica,
em 1966-67.

Saiba que o estudo de Modigliani e Miller (1958) pode ser dividido em


três proposições, as quais contestam a Teoria Tradicional, ou seja, a existência
de um ponto (ou intervalo) ótimo na estrutura de capital, onde o valor da
empresa é maximizado.

A Proposição I de Modigliani e Miller (1958) define a essência de sua


teoria sobre a estrutura de capital afirmando que o valor de mercado de
qualquer empresa é independente de sua estrutura de capital e é dado pela
capitalização de seu retorno esperado à taxa apropriada a sua classe de risco.

A Proposição II de Modigliani e Miller (1958) afirma que o retorno


esperado de uma ação é igual ao retorno esperado de uma empresa sem
dívidas acrescido de um prêmio pelo risco financeiro.

Já na Proposição III, Modigliani e Miller (1958) afirmam que tendo como


base suas proposições acerca do custo de capital e estrutura financeira, uma
regra simples para a política ótima de capital da empresa seria a seguinte
situação: o retorno mínimo exigido para determinado investimento independe
de como ele é financiado. Além disso, a taxa mínima de atratividade para um
investimento seria tal que haveria uma completa separação entre as decisões
de investimento e as decisões de financiamento.

Finanças Empresariais 19
Capítulo 1

Na década seguinte, a contribuição mais representativa foi


desenvolvida por Sharpe (1964 apud Assaf Neto, 2009, p. 7), que apresentou
seu modelo de precificação de ativos, mais popularmente conhecido como
modelo CAPM – Capital Asset Pricing Model, baseado na identificação
dos retornos mínimos exigidos para o nível de risco incorrido.

Na década de 70, as sucessivas crises do petróleo e a nova crise da


Bolsa de Nova York aumentaram ainda mais os riscos e as incertezas do
ambiente econômico, fazendo com que métodos quantitativos fossem
resgatados. Nesta época, a maior contribuição, segundo Assaf Neto
(2003, p. 8), foi o surgimento do modelo APT – Arbitrage Pricing Theory,
enunciado por Ross em 1976.

Saiba também que o CAPM busca evidenciar, de maneira objetiva,


a relação entre a rentabilidade esperada de um ativo qualquer num
mercado em equilíbrio, e o risco não diversificável demonstrado pelo
coeficiente beta.

Para Damodaran (2003), o CAPM é construído sobre a premissa de


que a variância de retornos é a medida de risco apropriada, mas somente
a variação que é não- diversificável é recompensada. O CAPM mede essa
variância não-diversificável utilizando uma estimativa beta; ou seja,
no CAPM mede-se o investimento em duas dimensões: o rendimento
esperado sobre o investimento que nada mais é do que a recompensa
por essa aplicação, e a variância nos ganhos esperados, que reflete o risco
existente no investimento.

O modelo pressupõe que os retornos sobre ativos sejam gerados por


uma série de fatores de âmbito setorial ou macroeconômico.

20 Finanças Empresariais
Capítulo 1

BIOGRAFIA
Franco Modigliani (1918-2003), economista
italiano, nacionalizado norte-americano em
1946, Modigliani foi professor de Economia nas
Universidades de Columbia, Illinois, Carnegie
I.T., Northwestern e do Massachussets I.T. Aluno
de Jacob Marschak, em sua tese doutorado de
1944 elaborou o que veio a ser o núcleo da
síntese neokeynesiana da macroeconomia do
pós-guerra. Contribuiu na teoria do dinheiro
com o teorema Modigliani-Miller, de 1958, que
afirma que um investidor racional considera
somente a rentabilidade futura da empresa, não
o montante da sua dívida, nem sua estrutura.

No decorrer da nossa disciplina, estudaremos de forma mais aprofundada


as ideias desses estudiosos da ciência financeira. E vamos em frente!

Os anos 80, para muitos, foram considerados “a década perdida”. Com


o aumento considerável das taxas de juros internacionais, fez com que muitos
países em desenvolvimento não tivessem condições de honrar os empréstimos
tomados anteriormente, o que acarretou em vários processos de rolagem
de dívida e moratórias. Como exemplos, cite-se o Brasil (1983, 1987 e 1988),
México (1982), Venezuela (1985), Chile (1983-84) e Bolívia (1985).

SAIBA QUE

Uma moratória consiste no “adiamento dos


vencimentos das dívidas, com a suspensão dos
pagamentos e da ação na justiça, decretada
pelo governo quando o país enfrenta
circunstâncias excepcionalmente graves”?
(MICHAELIS, 2008, p. 587).

Agora, se você imagina que a década seguinte foi mais fácil, está
redondamente enganado. O maior fluxo de capitais internacionais
decorrente da exacerbação do processo de globalização da economia trouxe
consequências desastrosas. Várias instituições financeiras encerraram suas

Finanças Empresariais 21
Capítulo 1

atividades, com destaque para o Banco Barings, em 1995, e para o fundo de


Investimento Long Term Capital Management, em 1998. Estas ocorrências
motivaram a revisão de vários procedimentos de supervisão bancária no
mundo, o que se convencionou no mercado financeiro como Acordo da
Basileia II. Mas, por outro lado, ocorreram também vários aprimoramentos,
com destaque para a técnica desenvolvida por Kaplan e Norton, denominada
BSC – Balanced Scorecard.

Observe a explicação de Kaplan e Norton (1997, p. 56):

O Balanced Scorecard é basicamente um mecanismo para a


implementação da estratégia, não para sua formulação [...].
qualquer que seja a abordagem utilizada [...] para a formulação
de sua estratégia, o Balanced Scorecard oferecerá um mecanismo
valioso para a tradução dessa estratégia em objetivos, medidas e
metas específicos [...].

Kaplan e Norton (1997) sugerem, em seu modelo, a adoção de quatro


perspectivas de análise, as quais têm se revelado adequadas em diversas
empresas e setores de mercado. São elas: financeira, dos clientes, dos processos
internos e do aprendizado e crescimento.

A perspectiva financeira busca avaliar a lucratividade da estratégia, a


partir de diversos indicadores, que serão objeto de estudo em outra unidade.
Entre os indicadores financeiros que podem ser considerados, constam
retornos sobre o investimento, o valor econômico agregado, a lucratividade, o
aumento de receitas, redução de custos e outros objetivos de cunho financeiro
que estejam alinhados com a estratégia da organização. Na perspectiva
financeira, as medidas financeiras indicam se a empresa está obtendo êxito
com as estratégias definidas, implementadas e executadas.

Vejamos também outra consideração de Kaplan e Norton (1997): a


perspectiva do cliente permite aos gestores identificar segmentos de clientes
e de mercado nos quais as unidades de negócio possam competir, bem como
definir as medidas de desempenho das unidades nos seus segmentos-alvo.

Em sua proposição, os autores orientam que a perspectiva do cliente


deve estruturada de forma a apreciar aos seguintes pontos-chave:

• Participação de mercado: representação da proporção de vendas

22 Finanças Empresariais
Capítulo 1

da unidade de negócio no mercado em que atua determinada em


termos de número de clientes, capital investido, unidades vendidas ou
instaladas.

• Retenção de clientes: acompanhamento, em números absolutos ou


relativos, do percentual de clientes com os quais a unidade de negócio
continua mantendo relações comerciais.

• Captação de clientes: medição, em termos absolutos ou relativos,


do percentual de clientes novos ou de novos negócios ganhos pela
organização.

• Satisfação dos clientes: registro do nível de satisfação dos clientes


em relação a critérios preestabelecidos de desempenho ou de valor
agregado.

• Lucratividade do cliente: medição da lucratividade da empresa no


negócio ou nos negócios com um cliente ou com um segmento de
mercado, depois de levantar as despesas específicas requeridas para
atender esse cliente ou esse mercado.

As medidas de processo interno, segundo Kaplan (1997), devem ser


voltadas para aqueles que terão maior impacto na satisfação do cliente e na
consecução dos objetivos financeiros da empresa que inclui três processos
principais:

• Inovação: devem ser pesquisadas as necessidades reais e futuras dos


clientes-alvos. Em seguida são desenvolvidos os produtos e/ou serviços
que deverão satisfazer as necessidades identificadas.

• Operação: as principais medidas operacionais genéricas são custo,


qualidade e tempo de resposta. Esta etapa tem início com o
recebimento de um pedido e termina com a entrega do produto ou
prestação de serviço.

• Serviço pós-venda: tem grande influência no processo de criação


de imagem e reputação da organização na cadeia de valor do
cliente, incluindo treinamentos, garantias, consertos, devoluções e
processamento de pagamentos.

Finanças Empresariais 23
Capítulo 1

Então, temos a seguinte situação: o aprendizado e o crescimento


da organização vêm de três principais fontes – as pessoas, os sistemas e os
procedimentos organizacionais. É a base para a obtenção dos objetivos das
outras perspectivas e representa o maior interesse do executivo principal e
dos arquitetos do plano de negócios de longo prazo. Identifica também as
capacidades de que a empresa deve dispor para conseguir processos interno
capazes de criar valor para clientes e acionistas.

Como indicadores importantes, podem ser considerados: nível de


satisfação dos funcionários, rotatividade dos funcionários, lucratividade por
funcionário, capacitação e treinamento dos funcionários e participação dos
funcionários com sugestões para redução de custos ou aumento de receitas.

CURIOSIDADE
Em 1998, foi lançada uma produção inglesa
intitulada Rogue Trader (A fraude), que narra a
história da quebra do Banco Barings, decorrente
de operações com mercados derivativos na
filial de Singapura, por meio de um de seus
empregados, Nick Leeson. O filme tem como
protagonista Ewan McGregor, em ótima
atuação. Assista!

Um novo século se inicia. Parece que os sobressaltos do mercado


financeiro acabaram. Ledo engano. Escândalos envolvendo empresas norte-
americanas, reconhecidas internacionalmente, ENRON (2001), XEROX (2002),
WORLDCOM (2002), abalaram a confiança dos mercados. Nos Estados Unidos
a mobilização proporcionou alterações significativas, a principal delas foi a Lei
SOX, Sarbanes Oxley, que estabeleceu maior proteção aos investidores ao exigir
que as empresas adotassem melhores práticas de governança corporativa.

Segundo o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2010),


“Governança corporativa é o sistema que assegura aos sócios-proprietários o
governo estratégico da empresa e a efetiva monitoração da diretoria executiva. A
relação entre propriedade e gestão se dá por meio do conselho de administração,
a auditoria independente e o conselho fiscal, instrumentos fundamentais para
o exercício do controle. A boa governança corporativa garante equidade aos
sócios, transparência e responsabilidade pelos resultados (accountability)”.

24 Finanças Empresariais
Capítulo 1

Mais recentemente, em 6 de setembro de 2008, o mundo viveu – e ainda


vive – os reflexos uma nova crise financeira mundial. Para se ter uma noção do
estrago, somente nos Estados Unidos mais de uma centena bancos quebraram
desde o início da crise. Tudo isso reforça a necessidade de continuar a aprimorar
seus conhecimentos sobre finanças, pois este ambiente exige cada vez mais
profissionais qualificados.

1.2.2 Objetivos das finanças empresariais

DESAFIO

Após conhecermos as funções financeiras, você


saberia identificar qual ou quais são os objetivos
das finanças empresariais?

São diversas as opiniões sobre o objetivo, ou objetivos, das finanças


empresariais. Vejamos algumas delas.

Lemes Junior, Cherobim e Miesa (2005, p. 4) afirmam que “o objetivo da


administração financeira é a maximização da riqueza dos acionistas”.

Ross (1998), em outra perspectiva, informa que o objetivo é a maximização


do valor de mercado do capital dos proprietários existentes.

Na percepção de Assaf Neto (2009, p. 16), o objetivo deve estar voltado


“para a satisfação do retorno exigido pelos seus proprietários ou por algum
parâmetro de desempenho mais abrangente, que incorpore o bem-estar de
toda a sociedade”.

Algumas considerações devem ser realizadas:

• Primeiramente, quem são os acionistas? Em uma economia de mercado


mais madura, muitos de nós, de forma a potencializarmos nossas
economias, investimos na participação em empresas por meio da

Finanças Empresariais 25
Capítulo 1

compra de ações, pois as próprias empresas entendem que o mercado


de capitais é uma fonte de recursos menos onerosa que empréstimos
e financiamentos tradicionais.

• Você conhece Adam Smith? Não? Deveria! Smith, ao escrever o livro A


riqueza das nações, trouxe as bases da economia liberal e o principio
da Mão Invisível, pelo qual considerava que as empresas ao buscarem
a satisfação de seus interesses acabariam por satisfazer os interesses
da sociedade como um todo.

Em perspectiva complementar, Assaf Neto (2003, p. 34) assevera que na


atualidade as questões econômicas consideradas como essenciais – o que, como
e para quem produzir – são respondidas pelas forças do mercado. O autor
observa também que esta abordagem está presente nos objetivos das finanças
empresariais ou corporativas que priorizam as decisões de investimento,
financiamento e dividendos. Estas decisões objetivam a promoção da riqueza
dos acionistas de forma mais eficaz e com riscos menores.

Verificamos então que as diferentes percepções do objetivo ou objetivos


podem ser sintetizados, conforme Assaf Neto (2009), da seguinte forma:

• maximizar o lucro;
• maximizar o valor de mercado;
• maximizar a riqueza do acionista e sustentabilidade.

BIOGRAFIA
Adam Smith nasceu em Kirkcaldy, Escócia. Seu
pai, inspetor de alfândegas, morreu pouco antes
de seu nascimento. Aos 14 anos ingressou na
Universidade de Glasgow, onde se converteu
em discípulo do professor de filosofia moral F.
Hutchison. Depois ingressou na Universidade
de Oxford, onde permaneceu por seis anos. Em
1748 ocupou um posto de professor de literatura
na Universidade de Edimburgo, e em 1751 foi à
Universidade de Glasgow para substituir Hutchison
na cátedra de filosofia moral. A publicação do livro Investigação sobre
a natureza e causas da riqueza das nações, em 1776, é considerada a
origem da economia como ciência.

26 Finanças Empresariais
Capítulo 1

Mas o que vem a ser o lucro empresarial?

O precursor da definição de lucro como sendo o montante que pode


ser consumido sem a redução do capital é Adam Smith, que você acabou de
conhecer.

Segundo Araújo e Assaf Neto (2004, p. 44),

no contexto empresarial, o lucro pode ser entendido como o


resultado obtido com o uso do capital. Avançando esse raciocínio,
a empresa não visa somente interesses próprios, busca também,
um fluxo de riqueza aos seus acionistas. O capital é o estoque de
riqueza capaz de gerar resultados futuros e o lucro é o fluxo de
riqueza superior ao necessário para manter o capital constante.

De acordo com Copeland, Koller e Murrin (2000), o lucro econômico é o


resultado entre o valor do capital investido, multiplicado pelo retorno sobre o
capital investido, menos o custo de oportunidade do capital.

Segundo Helfert (2000), a geração de lucro para o acionista, em última


instância, depende de uma administração apropriada dessas áreas básicas de
decisão, comuns a todas as organizações.

Contudo, independente da percepção que você possa entender como a


melhor, lembre-se que qualquer objetivo deve ser mensurado. Preliminarmente,
já que aprofundaremos estes itens ao longo de nossa disciplina, apresento os
principais instrumentos de mensuração dos objetivos.

A maximização do lucro, segundo Assaf Neto (2009), representa a medida


de eficácia econômica, todavia o lucro apresentado não necessariamente
corresponde à efetiva capacidade financeira de pagamento de uma empresa,
pois, como sabemos, a demonstração dos resultados (DRE) registra os fatos
pelo regime de competência e não de caixa. Cabe ainda considerar como
restrições a não consideração dos riscos envolvidos da atividade e a forma de
distribuição dos resultados.

Finanças Empresariais 27
Capítulo 1

DESAFIO

Você saberia diferenciar regime de competência


do regime de caixa?

A maximização, no conceito de valor de mercado, se constitui no melhor


critério para a tomada de decisões financeiras, pois contempla a elaboração de
fluxo de caixa descontada uma taxa mínima de atratividade, que embute os riscos
associados à atividade (ASSAF NETO, 2009). Os riscos podem ser classificados em:

• econômicos – também denominados operacionais, são inerentes à


própria atividade da empresa e às características do mercado em que
opera, independente das fontes de recursos que financiam a empresa;

• financeiros – refletem o risco associado às decisões de financiamento,


buscando evidenciar a capacidade de pagamento que a empresa tem
ou terá para arcar com os compromissos assumidos.

1.2.3 As tomadas de decisão financeiras

Como você já pode perceber, as finanças empresariais se ocupam de


decisões que envolvem investimentos, financiamentos e dividendos, e envolvem
riscos ora inerentes à própria atividade, ora financeiros.

Lunkes (2007) destaca que um modelo de tomada de decisões deve


apresentar pelo menos quatro etapas, a saber: a definição do problema, a
formulação do objetivo e as alternativas de ação; identificar e avaliar as diversas
opções e, por fim, selecionar a melhor opção.

A partir de agora, você aprofundará os seus conhecimentos, percebendo


que toda e qualquer decisão em uma empresa apresenta reflexos financeiros
positivos ou negativos. A concepção de Assaf Neto (2009) é evidenciada na
figura apresenta a seguir.

28 Finanças Empresariais
Capítulo 1

R R
i i
s s
c c
Recursos de Custo de
o o
Terceiros Captação
E Lucro Investi-
F
c Operacional mentos
i
o Riscos X
n
n Retornos Custo do
Recursos de a
ô Capital n
Próprios
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i e
c i
o Decisões de Decisões de r
Investimentos Financiamentos o

Figura 1 – Representação gráfica das decisões financeiras


Fonte: adaptado de Assaf Neto (2009).

Decisões de investimentos

As decisões de investimentos envolvem as atividades operacionais (caixa,


clientes, estoques), bem como os investimentos permanentes (máquinas,
equipamentos, imóveis e pesquisas), dentre outros. Você pode notar que
nem sempre estes itens têm seu valor percebido materialmente falando.
Este conjunto de bens e direitos de qualquer empresa nos remetem a várias
questões. Vejamos algumas.

• Os recursos financeiros encontram-se disponíveis para utilização imediata


ou estão alocados em aplicações financeiras que apresentam carência?

• Os saldos em caixa atendem às necessidades operacionais da empresa


ou estão sendo subutilizados?

• A conta clientes que representa as vendas a prazo que tenho a receber


contemplam retorno adequado. Não seria melhor vender à vista com
algum desconto?

• Ainda nesta linha, a política de crédito que adoto contempla a


avaliação da inadimplência?

Finanças Empresariais 29
Capítulo 1

• Os níveis de estoque são compatíveis com minhas operações? – Lembre


que a falta ou excesso são prejudiciais a qualquer empresa.

• Minha produção será própria ou terceirizada?

• Os investimentos em máquinas, equipamentos e instalações atendem


às necessidades operacionais da empresa ou são subutilizados?

Lembre-se que todas estas decisões estão atreladas às atividades da


empresa; não podemos tratar uma empresa industrial da mesma forma
que uma empresa comercial ou uma prestadora de serviços. Tenha em
vista também que o porte das empresas pode influenciar nas decisões.

As decisões de investimento, segundo Brealey e Myers (1997, p.


3) estão relacionadas a quanto a empresa pretende investir e em quais
ativos. Acrescenta Van Horne (1995, p. 5) a essas ponderações a decisão
de realocar capital, bem como a necessidade de considerar os riscos
relacionados ao investimento desejado.

Santos (2006) afirma que a decisão de fazer investimento de capital


é parte de um processo que envolve a geração e avaliação das diversas
alternativas que atendam às especificações técnicas do investimento.

Numa decisão de investimento, Ramos (1996, p. 109) ressalta que os


“aspectos financeiros devem ser analisados, cuidadosamente, a fim de que
a decisão de realizar ou não o determinado investimento não contrarie o
objetivo de maximização da riqueza dos acionistas”.

Assaf Neto (2009, p. 12) afirma que as decisões financeiras são tomadas
de forma contínua e inadiável. O autor considera as decisões de investimentos
como as mais importantes, pois envolvem todo um processo que inicia na
identificação, se estende pela avaliação, e finaliza na seleção das alternativas
de aplicação dos recursos. Como estamos falando de resultados futuros, os
níveis de risco e incerteza são maiores.

Você pode, então, concluir que todo e qualquer investimento só será


viável aos olhos da empresa quando gerarem os retornos esperados. No
decorrer da disciplina aprofundaremos isso.

30 Finanças Empresariais
Capítulo 1

CURIOSIDADE
99,52% das empresas brasileiras são classificadas
como micro e/ou pequenas empresas, com
faturamento não superior a R$ 2.400.000,00,
e por adotarem o regime simplificado de
tributação, descuidam do registro de suas
informações contábeis e financeiras, sem
qualquer planejamento de suas atividades e/ou
investimentos (SEBRAE, 2010).

Decisões de financiamento

Você já deve ter se perguntado inúmeras vezes se deveria comprar


uma TV, um carro ou um imóvel à vista ou a prazo, não? Quanta inquietação.
E você está certo, se esta decisão já é difícil para muitos de nós, imagine
numa empresa, onde os valores envolvidos são bem mais expressivos.

As decisões de financiamento, segundo Hoji (2008, p. 8), são


tomadas para captação de recursos para o financiamento das atividades
operacionais ou não, levando-se em conta a combinação dos empréstimos
e financiamentos de curto e longo prazo, bem como a estrutura de capital,
ou seja, o quanto empregarei de recursos próprios e de terceiros.

Van Horne (1995, p. 5) afirma que o gestor financeiro está preocupado


em determinar a melhor estrutura de capital, buscando a composição
ótima entre o capital próprio e de terceiros.

Na mesma direção, Assaf Neto (2003, p. 30) afirma que as decisões


de financiamento se preocupam com a escolha das melhores ofertas de
recursos e a melhor proporção entre o capital próprio e o de terceiros.
O mesmo autor objetivamente afirma que a decisão de financiamento
deverá não só preservar a capacidade de pagamento do tomador, mas
também ser realizado a custos reduzidos. Não basta viabilidade financeira;
ela deverá apresentar viabilidade econômica.

As decisões de financiamento podem ser classificadas, conforme


Lemes Junior, Miesa e Cherobim (2005), em operacionais e financeiras
(onerosas). Quando uma empresa efetua compras a prazo, ela está

Finanças Empresariais 31
Capítulo 1

sendo financiada pelo seu fornecedor; os salários, os encargos sociais


e tributários, também se constituem em outras fontes operacionais de
recursos para as empresas.

Você já se perguntou como isso ocorre? Simples, vamos ao exemplo do


salário: um trabalhador trabalha ao longo do mês e somente receberá o salário
no quinto dia útil do mês seguinte. Durante este período, a empresa utiliza
estes recursos para realizar as suas atividades.

Em relação aos fornecedores ocorre a mesma coisa: imagine que eu


compro uma mercadoria para pagá-la em 30, 60 e 90 dias. Dependendo do
giro do meu estoque e dos prazos que concedo aos meus clientes, se forem
menores dos obtidos junto aos fornecedores, quem estará financiando minhas
vendas é o próprio fornecedor.

Percebe-se que uma empresa pode obter recursos sem recorrer às


instituições financeiras caso o ciclo de sua atividade operacional esteja
adequado. Mas esta ação não é tão simples, por isso as empresas buscam no
mercado financeiro os recursos necessários ao seu funcionamento.

As fontes de recursos podem ser assim classificadas:

• empréstimos;
• financiamentos.

Os empréstimos são recursos captados normalmente em curto prazo, e


não apresentam destinação específica. Já os financiamentos são operações de
maior prazo e apresentam sim destinação específica.

REFLEXÃO
O mercado financeiro oportuniza uma série de
instrumentos financeiros que possibilitam às
empresas o financiamento de suas necessidades
operacionais e permanentes. Você consegue
identificar duas opções existentes no mercado,
sendo uma de empréstimo e outra de
financiamento?

32 Finanças Empresariais
Capítulo 1

Conseguiu identificar? Parabéns! Se não, isso não é motivo de desânimo,


pois oportunamente, no decorrer da disciplina, apresentarei a você as principais
operações existentes no mercado.

Mas voltemos às decisões de financiamento, a uma questão primordial:


o custo de capital. Lembre-se: não basta ter acesso ao dinheiro, devemos nos
preocupar com o custo dele.

O custo de capital pode ser apurado de acordo com a fonte de recursos.


E como você já percebeu, as empresas se utilizam de recursos próprios e de
terceiros. Um grande engano de muitas empresas é achar que o capital próprio
não tem custo. O que você acha?

Pois bem, na opinião de Assaf Neto (2003), o custo do capital próprio


revela o retorno desejado pelos acionistas de uma empresa em decorrência
das decisões de alocação dos recursos próprios.

Por exemplo:

Imagine que você aplicou R$ 100.000,00 para montar a sua empresa


e ao final de um ano tenha retirado R$ 13.000,00. Isso representa
uma taxa de retorno de 13% ao ano.

A conclusão é de que os acionistas estão exigindo uma remuneração de


13% ao ano. Se encontrarmos no mercado financeiro uma operação com uma
taxa menor que essa, é melhor utilizar o capital de terceiros.

Ainda conforme Assaf Neto (2003), o custo de capital de terceiros é


definido de acordo com as fontes onerosas, sejam elas representadas por
empréstimos ou financiamentos. Além das taxas de juros, devemos analisar
os impactos dos prazos de carência e amortização, as garantias exigidas. Algo
que poucas empresas avaliam na análise das operações é o benefício fiscal –
redução do imposto de renda a pagar, decorrente do impacto das despesas
financeiras nos seus resultados.

Finanças Empresariais 33
Capítulo 1

Decisões de dividendos

Hoji (2008) e Assaf Neto (2009), dentre muitos outros, ressaltam que as
decisões anteriores se integram a uma terceira, as decisões de dividendos. Mas
antes de prosseguir, você sabe o que são dividendos?

Na opinião de Lemes Junior, Miesa e Cherobim (2005, p. 298), dividendo é


a distribuição parcial ou total em dinheiro do lucro auferido por uma empresa
em um determinado período, ou, ainda, dos lucros acumulados ao longo de
sucessivos períodos.

Na percepção de Van Horne (1995, p. 6), o valor dos dividendos deve ser
comparado ao custo de oportunidade de reter os lucros, ou seja, a política de
dividendos interfere nas decisões de financiamentos. Em outra perspectiva,
Kayo (1997, p. 2) ressalta que a decisão de reter o lucro “afeta o nível do
fluxo de caixa da empresa e, portanto, determina a quantidade de recursos
disponíveis para novos investimentos”, relacionando-a, dessa forma, às
decisões de investimentos.

DESAFIO

Agora que você já sabe o que significam


dividendos, responda: caso estivesse na condição
de um empresário, o que faria com os resultados
auferidos?

Se você respondeu que faria a distribuição total, faz parte de um grupo


de empresários que carecem de uma melhor gestão financeira. Você inclusive
já deve ter ouvido a expressão “A empresa vai mal, mas os empresários muito
bem, graças a Deus”. Observo, ao longo da minha carreira, seja na condição
de docente ou de profissional de mercado, que muitas empresas não avaliam
adequadamente suas ações financeiras e acabam muitas vezes por sucumbirem
diante das primeiras crises.

Se você respondeu que distribuiria uma parte e outra reinvestiria na


empresa, você pode ter escolhido um caminho melhor. Mas por quê?

34 Finanças Empresariais
Capítulo 1

Como já viu anteriormente, os recursos para investimentos na empresa


podem ser obtidos na forma de capital próprio ou de terceiros, e que um e
outro apresentam um custo que pode se revelar maior ou menor em dado
momento. Portanto, a definição de uma política de investimentos torna-se um
imperativo para qualquer empresa.

Na percepção de Assaf Neto (2009, p. 588), uma política de investimentos


deve contemplar duas situações: uma primeira, na qual pode restringir a
atual distribuição na expectativa de futuras distribuições em valores mais
representativos; numa outra, pode optar por uma maior taxa de distribuição
e, consequentemente, a postergação de seus investimentos.

Em linha com Assaf Neto, Lemes Junior, Miesa e Cherobim (2005, p. 306)
afirmam ser complexa a escolha da melhor política de dividendos, e consideram
ainda que esta deva atender às seguintes recomendações:

• priorizar a implementação de todos os projetos de investimentos que


possam resultar em agregação de valor;

• buscar estruturar o capital necessário aos investimentos que


representem o menor custo total do capital;

• respeitar as preferências dos investidores em relação ao fluxo de


pagamentos dos dividendos;

• evitar alterações constantes e relevantes, pois estas podem aumentar


a percepção de incerteza e risco dos investidores.

Os mesmos autores ainda consideram que as variáveis liquidez, acesso


às fontes externas de financiamento e o comportamento da inflação e das
taxas de juros são importantes no processo de definição de uma política de
dividendos consistente.

Finanças Empresariais 35
Capítulo 1

1.2.4 O papel do gestor financeiro e a importância da postura


ética em suas ações e decisões

Saiba que o gestor financeiro é o principal responsável pela criação


de valor para o acionista ou proprietário da empresa.

Sanvicente (1997, p.17) ressalta que:

O administrador financeiro é um indivíduo ou grupo de


indivíduos preocupados com a obtenção de monetários para
que a empresa desenvolva suas atividades correntes e expanda
sua escala de operações, se assim for desejável, e com a análise
da eficiência com a qual os recursos são utilizados pelos diversos
setores e áreas de atuação da empresa. O administrador
financeiro é membro de um grupo assessor da alta direção em
qualquer empresa.

Sobre o assunto, Silva (2008) acrescenta que o gestor financeiro, na


busca por alcançar o objetivo da maximização da riqueza aos acionistas,
deverá observar as seguintes variáveis: perspectiva de longo prazo,
valorização do dinheiro no tempo, retorno do capital próprio, análise de
risco e política de distribuição de dividendos.

Em perspectiva complementar, Gropelli e Nikbakth (2001) enfatizam


que a responsabilidade do gestor financeiro reside em conciliar as
necessidades ambientais e sociais com o objetivo fim de qualquer
organização, que é o lucro, contudo, afirmam os autores, a observância
dessas necessidades pode implicar menor grau de eficiência dos recursos
financeiros, sendo, no entanto, compensados pelos ganhos de imagem da
organização, que sofre mudanças significativas ao longo do tempo: mas
seu campo de atuação fica maior.

O gestor financeiro é o principal responsável pela criação de valor


para o acionista ou proprietário da empresa. O papel deste sofreu
significativas mudanças ao longo do tempo: seu campo de atuação ficou
maior. Gitman (2001) demonstra que este profissional poderá atuar como
analista financeiro, gerente de orçamento de capital, gerente de projetos
de investimentos, gerente de caixa, analista ou gerente de crédito e
gerente de fundos de pensão, sem falar no surgimento nos últimos anos
do “personal finance”. Do gestor, ainda são requeridos conhecimentos
sobre economia, contabilidade, dentre outros.

36 Finanças Empresariais
Capítulo 1

Vejamos então alguns dos principais conceitos de cada uma destas


áreas.

Na percepção de Gitman (2001), o gestor financeiro deve entender


o quadro geral da economia, conhecer as estruturas de mercado, noções
de macroeconomia, tais como taxa de juros, nível de emprego, inflação e
câmbio. A contabilidade contribui com a elaboração de relatórios, como
balanços patrimoniais, demonstrações de resultado e fluxo de caixa.

Em qualquer das situações anteriormente expostas, e ainda revendo o


que já estudamos no item 1.2.1, o gestor financeiro também mantém relação
com inúmeras organizações lucrativas ou não e opera com informações de
naturezas fiscais, financeiras, contábeis, cadastrais, dentre outras.

Estas informações, dependendo do porte da empresa, estão acessíveis


a qualquer pessoa em sites como o da Comissão de Valores Mobiliários,
Bolsa de Valores de São Paulo, Banco Central do Brasil, além dos sites das
próprias empresas, que mantêm uma página de relação com investidores.

Neste contexto, surgem inúmeros questionamentos sobre a postura


ética. Mas o que vem a ser isso, ética?

Segundo Michaelis (2009, p. 365), a ética pode ser entendida de duas


formas: uma primeira a preconiza como parte da filosofia que se dedica
ao estudo os valores morais e os princípios ideais de conduta humana.
Ainda segundo o mesmo autor, pode ser considerada como um conjunto
de princípios morais que devem ser respeitados no exercício de qualquer
profissão.

Dobson (1993, p. 57), buscando demonstrar o papel da ética em finanças,


diz que

a teoria econômico-financeira promulgou seu tipo particular de


hedonismo. Ressaltando ainda que a única motivação razoável para o
comportamento humano é a maximização da riqueza pessoal, sancionou
e promoveu tal comportamento entre a comunidade financeira.

Sob esse prisma, ressalta o autor que a ética em finanças tende a ser
vista apenas dentro do rígido conceito da teoria financeira, e que, por
isso, assume o papel ambíguo e subserviente de legitimar alguns objetivos

Finanças Empresariais 37
Capítulo 1

materialistas. Afirma ainda que a atual concepção de ética, como uma


restrição ao comportamento, é ilógica, pois sanciona comportamentos
não éticos se estes levarem a ganhos financeiros; nessa mesma linha de
raciocínio, critica os que afirmam que o comportamento ético é uma
restrição necessária e desejável por manter o nível de confiança no
mercado.

Segundo Gropelli e Nikbakht (1998), observa-se que a administração


financeira é uma área desafiadora e compensadora, sendo estimulante
pelo fato de aos gestores financeiros ser atribuída a responsabilidade
de planejar o crescimento e a direção futuros de uma empresa, o que
pode afetar de forma considerável a sociedade na qual ela está inserida.
Portanto, os deveres para com a sociedade podem interferir nos lucros das
empresas.

Nessa relação devem ser observados os aspectos sociais, morais,


ambientais e éticos, pois estes fazem parte do processo de decisão de
investimento e não podem ser ignorados pelos gestores financeiros.

Gitman (2001, p. 45) retrata que em virtude de inúmeras ações


tomadas em grandes negócios que passaram a figurar nas coberturas da
mídia, ações estas que envolveram praticamente todos os setores (bancos,
fábricas de confecções e cigarros são alguns exemplos citados pelo autor),
foram adotados padrões de comportamentos éticos pela comunidade
financeira e de negócios.

Os marcos legais, por meio de leis, regulamentações e instruções,


passaram a nortear todas as ações e práticas profissionais.

O mesmo autor (2001) relata ainda que, em pesquisa realizada com


empresários, representantes do congresso dos Estados Unidos e reitores
de cursos de administração, 63% das respostas afirmaram que a maior
competitividade estava relacionada à adoção de padrões elevados de ética.
O resultado da pesquisa foi determinante na implantação de códigos de
ética formais em muitas empresas. No Brasil, várias empresas públicas e
privadas já adotam estes códigos.

38 Finanças Empresariais
Capítulo 1

EXPLORANDO

Busque em revistas, jornais e na própria


internet cinco empresas no Brasil, entre públicas
e privadas, que possuam o código de ética
formalizado.

O gestor financeiro deverá sempre avaliar as seguintes questões,


conforme Robert A. Cooke (1991 apud ASSAF NETO, 2009), para determinar
a viabilidade ética de uma ação proposta:

• Trata-se de uma ação arbitrária ou extravagante? Ela aponta de


forma injusta para um indivíduo ou grupo?

• Essa ação viola a moral ou os direitos legais de algum indivíduo


ou grupo?

• A ação está de acordo com padrões morais aceitáveis?

• Existem cursos alternativos de ação que teriam menos


probabilidade de causar dano real ou potencial?

Caccese (1997) indica algumas possíveis razões para o crescente


interesse por ética tanto em finanças como em outras empresas voltadas
para o lucro:

• pressão dos consumidores;


• melhorar a produtividade e o serviço aos clientes;
• competitividade (ser ético é uma estratégia de marketing);
• mudanças nos valores da sociedade (pessoas primeiro, lucro
depois);
• temor de dano monetário e na reputação por procedimento não
ético.

Finanças Empresariais 39
Capítulo 1

1.3 Aplicando a teoria na prática

A seguir, apresento um caso rotineiro, usando um nome fictício para


narrar uma situação em que você pode se reconhecer.

A empresa Alpha Três, que atua há mais de 10 anos no segmento de


móveis, comercializando seus produtos para clientes no mercado interno e
também externo, percebeu uma elevação significativa dos pedidos nos últimos
meses. Preocupada em atender a demanda crescente por seus produtos, que
se caracterizam pelo excelente padrão de qualidade, identificou que seriam
necessários investimentos na ampliação de sua planta industrial da ordem de
R$ 1 milhão de reais, exclusivamente em máquinas e equipamentos. O gerente
financeiro apresentou diversas propostas de financiamento: uma primeira
pela FINAME PSI, com prazos de carência de 24 meses e outros 96 meses de
amortização da dívida, a uma taxa de 5,5% ao ano. Outra, na forma de leasing
com prazo de 48 meses, com prestações fixas mensais de R$ 26.500,00. Os
donos da empresa, no entanto, não são favoráveis à captação de recursos
junto a bancos, e como eles dispõem deste recurso em aplicações financeiras,
julgam melhor resgatar as aplicações e realizar os investimentos.

Considerando os estudos que realizou, identifique, no caso apresentado,


aspectos relacionados aos assuntos abordados neste capítulo. Lembre: você
estudou a função financeira, os objetivos das finanças empresariais, o processo
de tomada de decisão, o papel do gestor financeiro e as implicações éticas. É
possível, portanto, que em uma determinada situação você encontre relação
com mais de um tópico do estudo.

E aí? Conseguiu?

Ao apresentar uma solução para o caso, destaco os principais


aspectos encontrados. É possível que você encontre outras informações que
complementarão a resposta.

Em relação à situação apresentada, a mesma envolve inicialmente uma


discussão a respeito das decisões de investimento (ampliar a planta industrial)
em decorrência de questão de natureza econômica (aumento da demanda).
Este último item evidencia a necessidade do profissional que atua como gestor
financeiro ser um conhecedor do mercado de atuação da empresa.

40 Finanças Empresariais
Capítulo 1

Num segundo momento, o gerente financeiro se viu envolvido na análise


de alternativas de financiamento. Ele procurou verificar as opções existentes
no mercado, de forma a atingir o objetivo, que era rentabilizar o investimento
da empresa por meio de operação que representasse o menor custo.

1.4 Para saber mais

Sugiro algumas leituras para que você se atualize sobre o tema estudado
neste capítulo.

Título: Administração financeira nas empresas de pequeno porte


Autor: Matias, A.B. Editora: Manole, SP Ano: 2002

Nesta obra, principalmente no capítulo 2, você pode ampliar os


conhecimentos e a aplicabilidade das funções financeiras no âmbito
de empresas de menor porte.

Site: RAUSP - Revista de Administração da USP


URL: <http://www.rausp.usp.br/>.

O periódico apresenta artigos sobre a administração em suas diversas


áreas.

1.5 Relembrando

O capítulo 1 apresentou:

• noções de função financeira, em que elencamos os principais conceitos,


sua evolução histórica, identificando a sua correlação com a economia.
Foi possível vislumbrar vários estudiosos considerados relevantes para
o desenvolvimento da área;

• objetivos da função financeira: a fim de situá-lo e auxiliar na


compreensão das finanças empresariais, foram apresentadas as
diferentes visões sobre o assunto;

• as tomadas de decisão financeiras: a compreensão de que o processo


de decisões financeiras é complexo, envolvendo constantes avaliações
de origem e destinação de recursos, riscos e retornos;

Finanças Empresariais 41
Capítulo 1

• o papel do gestor financeiro e suas implicações éticas: a compreensão


do contexto ético deve imperar nas relações do gestor financeiro e os
diferentes agentes, sejam eles econômicos, políticos ou sociais.

1.6 Testando os seus conhecimentos

1) Ética pode ser entendida como:

a) uma série de proibições ligadas ao sexo.

b) um sistema ideal de grande nobreza na teoria, mas inaproveitável na


prática.

c) algo entendível apenas no contexto da religião.

d) algo relativo ou subjetivo, ou seja, depende exclusivamente da


situação.

e) nenhuma das afirmativas anteriores.

2) Quais são os riscos da empresa associados às decisões financeiras? Explique.

3) A dinâmica das decisões financeiras impõe às empresas a análise de três


padrões. Discorra sobre eles.

4) A função financeira pode ser agrupada em quatro grandes grupos. Das


atividades relacionadas, qual está relacionada ao grupo administração de passivos?

a) Gestão de contas a receber.

b) Controle do estoque.

c) Captação de recursos.

d) Gestão do fluxo de caixa.

e) Administração do imobilizado.

42 Finanças Empresariais
Capítulo 1

Onde encontrar

ARCHER, S. H.; D’AMBROSIO, E. C. Administração financeira: teoria e


aplicação. São Paulo: Atlas, 1969.

ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. São Paulo: Atlas, 2003.

______; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2009.

BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo:


Atlas, 1989-1995.

BREALEY, R. A.; MYERS, S. C. Princípios de finanças empresariais. Lisboa:


McGraw-Hill. 5. ed, 1997.

CACCESE, M. S. Ethics and the financial analyst. Financial Analysts Journal, v.


53, n. 1, p. 9-14, jan./fev. 1997.

COPELAND, T.; KOLLER, T.; MURRIN, J. Avaliação de empresas – Valuation.


São Paulo: Makron Books, 2000.

DOBSON, J. Ethics in finance II. Financial Analysts Journal, v. 53, n. 1, p. 15-


25, jan./fev. 1997.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira essencial. São Paulo:


Bookman, 2001-2002.

GROPPELLI, A. A.; NIKBAKHT, E. Administração financeira. São Paulo: Saraiva,


2001.

HELFERT, E. A. Técnicas de análise financeira. Porto Alegre: Bookman Cia.


Editora, 2000.

HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira


aplicada, estratégias financeiras e orçamento empresarial. São Paulo: Atlas, 2008.

KAYO, E. K. Estrutura de capital e oportunidades de crescimento: uma


análise dos determinantes do endividamento em diferentes contextos
empresariais. Dissertação de mestrado, FEA- USP, São Paulo, 1997.

Finanças Empresariais 43
Capítulo 1

LEMES JÚNIOR, A. B.; RIGO, C. M.; CHEROBIM, A. P. M. S. Administração


financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. Rio de Janeiro:
Elsevier; Campus, 2005.

MARTINS, E. Administração financeira. São Paulo: Atlas, 1996.

MICHAELIS. Dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos,


2008.

RAMOS, C. F. Decisões de investimento de capital: a consideração de aspectos


estratégicos. 20º ENANPAD, 1996.

ROSS, S. A.; JAFFE, J. F.; WESTERFIELD, R. Administração financeira. São Paulo:


Atlas, 2002.

SANTOS, José Odálio dos. Avaliação de empresas. São Paulo: Saraiva, 2006.

SANVICENTE, A. Z. Administração financeira. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1997.

SILVA, J. P. Análise financeira das empresas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

VAN HORNE, J.C. Financial Management and Policy. New Jersey: Prentice
Hall, 1995.

44 Finanças Empresariais
Capítulo 2

CAPÍTULO 2
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

2.1 Contextualizando
Este capítulo ajudará você a compreender o processo de planejamento
e controle financeiro na empresa e o uso de ferramenta para a confecção do
orçamento empresarial.

O texto mostrará que o planejamento financeiro nos dias atuais se revela


de extrema importância não só para as empresas, mas também para as pessoas
físicas, e quanto maior a nossa compreensão, maior será o nosso desafio.

Serão apresentadas noções de planejamento financeiro, suas aplicações


em curto e longo prazo, o orçamento como principal instrumento de
planejamento e, por fim, os métodos de controle financeiro. Você perceberá
quão abrangente é o campo de aplicação das informações contidas neste
capítulo e os desafios que o administrador financeiro enfrenta no seu dia a
dia para pô-las em prática.

Espera-se que, ao final do estudo, você seja capaz de descrever o


planejamento financeiro, seus desdobramentos e, principalmente, consiga
visualizar por que este assunto é apresentado nesta disciplina.

2.2 Conhecendo a teoria

2.2.1 Planejamento financeiro – conceito

É comum o ato de planejar em todas as atividades do nosso dia a dia,


já pensou nisso? Quando pensamos em nossos atos dentro de uma empresa

Finanças Empresariais 45
Capítulo 2

ou mesmo em nossa vida pessoal, sempre estamos a analisar objetivos, traçar


cenários e avaliar resultados. Isso envolve diferentes estratégias ao longo do
tempo, que pode ser de curto, médio ou longo prazo.

Para visualizar esse processo, vejamos antes alguns conceitos, tais como
o processo de gestão e os níveis de planejamento.

CONCEITO
Os termos gestão e administração estão
presentes no dia a dia das pessoas. Você já
avaliou que muitos de nós usamos estas palavras
como se apresentassem o mesmo significado?

Gestão, segundo Michaelis (2008, p. 417), é o ato de gerir, administrar


e/ou dirigir. O mesmo autor (2008, p. 18) afirma que administração
é o ato de administrar, governar, exercer cargo.

Dias (2002, p. 10), por sua vez, afirma que administrar é “planejar,
organizar, dirigir e controlar pessoas para atingir de forma eficiente
e eficaz os objetivos de uma organização”. Já em relação à gestão,
Dias considera como lançar mão de todas as funções e conhecimentos
necessários por meio de pessoas, a fim de atingir os objetivos de
uma organização, de forma eficiente e eficaz.

Uma boa leitura, neste momento, é o artigo de Emerson de Paulo


Dias, “Conceitos de gestão e administração. Uma revisão crítica”.
Acesse: <http://www.facef.br/rea/edicao01/ed01_art01.pdf>.

Na concepção de Padoveze (2005), o processo de gestão é definido


como um conjunto de atividades administrativas dispostas em sequência
para a gestão dos objetivos de uma entidade. Ele envolve um ciclo que
começa com o planejamento, segue na execução e finaliza no controle. A
figura 1 representa o que acabamos de mencionar.

46 Finanças Empresariais
Capítulo 2

Planejamento

Controle Execução

Figura 1 - Processo de gestão


Fonte:Adaptada de Lunkes (2007).

Neste primeiro momento, o planejamento será a nossa maior preocupação.

Segundo Hoji (2010, p. 6), o planejamento é “a função administrativa


que determina com antecedência as ações a serem executadas dentro de
cenários e condições preestabelecidas para atingir os objetivos fixados”. Ele
pode ser classificado, segundo o mesmo autor, em três níveis: estratégico,
tático e operacional.

Hoji (2010, p.7) considera que o planejamento estratégico é de longo


prazo e de responsabilidade dos gestores que ocupam os níveis mais altos
da entidade. Já o planejamento tático é uma derivação do primeiro e tem
por objetivo a otimização de determinada área de resultado, não a entidade
como um todo, pois seu horizonte de tempo é mais curto. Finalmente, o
planejamento operacional objetiva maximizar os recursos alocados nas
operações da entidade, num determinado período de tempo.

Para Mintzberg (1995), o planejamento estratégico é um processo


formalizado que leva em conta as oportunidades e ameaças do ambiente,
bem como os pontos fortes e fracos da organização, para produzir os
resultados, estabelecendo os objetivos, as estratégias e as ações na forma
de um sistema integrado de decisões.

Finanças Empresariais 47
Capítulo 2

Segundo Maximiano (2000), o processo de planejamento é uma


estratégia que as pessoas e organizações recorrem para administrar
suas relações com o futuro, sendo considerada uma forma específica de
aplicação do processo decisório. Portanto, numa organização inovadora,
a adoção de técnicas de planejamento permite elevar seu grau de controle
sobre o futuro dos sistemas internos e das relações com o ambiente.

Esse processo formalizado é composto por etapas e, segundo Oliveira


(1991), as principais incluem a formulação da missão, a análise dos ambientes
externos e internos, a avaliação estratégica, a definição das áreas estratégicas
e os processos de acompanhamento, o controle e a avaliação do plano.

Para Oliveira (1999, p. 35), o planejamento estratégico constitui-se


de três momentos:

• planejamento estratégico – que pode ser entendido como um


processo gerencial que possibilita ao gestor estabelecer o rumo a
ser seguido pela empresa;

• tático – tem por objetivo aperfeiçoar determinada área de resultado


e não a empresa como um todo; e

• operacional – entenda-se como sendo a formalização, principalmente


por meio de metodologias de desenvolvimento e implantação
estabelecidas.

Em perspectiva similar, Bateman e Snell (1998) abordam que o contexto


estratégico retrata os objetivos e ações de longo prazo, o tático, as áreas
funcionais e o operacional, os procedimentos e processos dos níveis hierárquicos
inferiores de uma organização.

Agora que você já compreende o que é planejamento, questiono: o que


vem a ser, de forma específica, o planejamento financeiro?

Assaf Neto (2003, p. 29) afirma que o planejamento financeiro envolve


decisões que visam avaliar as necessidades de recursos das empresas para seus
planos de expansão, bem como evitar percalços futuros.

Na percepção de Padoveze (2005), o planejamento financeiro envolve

48 Finanças Empresariais
Capítulo 2

decisões de investimento e estruturação do ativo, decisões de financiamento


e estruturação do passivo, política de dividendos e gestão de capital de giro.

Hoji (2010) vai mais além e afirma que o planejamento financeiro é parte
essencial da atividade empresarial. Subestimá-lo pode ser a diferença entre a
falência e o êxito.

Ross, Westerfield e Jaffe (2002) ponderam que o planejamento financeiro


estabelece diretrizes de mudanças na empresa. Para que este seja viabilizado,
é necessário que a empresa defina metas e que estas possam ser confrontadas
com a situação corrente da empresa.

O planejamento econômico-financeiro, na concepção de Lemes Junior,


Rigo e Cherobim (2005, p. 405) é “a ferramenta adequada para os estudos
de viabilidade do planejamento da empresa”. Os autores ainda asseveram
que por meio dele são avaliados os resultados relativos a objetivos, decisões
e alternativas constantes do planejamento da empresa, indicando ou não um
investimento, sob o prisma financeiro.

Gitman (2001) complementa e afirma que o planejamento financeiro é “um


aspecto importante das operações da empresa, porque ele mapeia os caminhos
para guiar, coordenar e controlar as ações das empresas para atingir seus objetivos”.

Segundo Brealey e Myers (1997), o planejamento financeiro é


necessário porque as decisões de investimento e de financiamento são
interdependentes e não devem ser tomadas isoladamente. Em outras
palavras, o todo pode ser maior ou menor do que a soma das partes. Estes
autores ressaltam que o resultado final do processo de planejamento
financeiro é o plano financeiro. O plano financeiro de uma pequena
empresa contém os mesmos elementos de uma grande empresa, porém,
menos pormenorizadas e documentadas podendo estar totalmente na
cabeça do proprietário. O plano apresenta balanços, demonstrações de
resultados, demonstrativos de origens e aplicações de recursos pro forma
(isto é, projetados/previsionais).

Halloran (1994, p. 22), sobre o planejamento financeiro presume a sua


elaboração e resume: “embora as projeções financeiras sejam apenas uma
estimativa, elas tornam-se mais concretas à medida que você colhe um numero
maior de informações”. Tal estimativa, segundo Zdanowicz (1998, p. 22), leva a

Finanças Empresariais 49
Capítulo 2

projeção financeira ser procedida de atitudes dentro da empresa, de projeção


para o futuro – a apresentação do orçamento determinará as novas condições
de trabalho assim como as estimativas (das vendas, dos custos de aquisições de
matéria prima, das contratações de mão de obra, dos demais custos indiretos
de fabricação e das despesas operacionais da empresa).

Segundo Weston (2000, p. 342), “O planejamento financeiro


envolve a realização de projeções de vendas, renda e ativos baseados
em estratégias alternativas de produção e de marketing, seguidas pela
decisão de como atendes às necessidades financeiras previstas”. Diz
também o autor que “o processo de planejamento financeiro começa
com a especificação dos objetivos da empresa, após o que a administração
divulga uma série de previsões e orçamentos para cada área significativa
da empresa” (2000, p. 343).

Silva (2006, p. 48), por sua vez, atenta que “o planejamento envolve
decisões em relação ao futuro, visando identificar e avaliar as melhores
alternativas e suas consequências”.

O plano financeiro permite determinar o tipo e a natureza das


necessidades de financiamento. O uso eficiente de um plano financeiro é
resumido por Cherry (1977, p. 35) como

estreitamente associado com a aquisição eficiente de fundos e


seu uso adequado está o planejamento da função financeira. O
planejamento financeiro ajuda a garantir a disponibilidade de
fundos suficientes quando necessários, informa com antecedência
as necessidades de fundos de maneira que as negociações sejam
eficientes e aumentem as possibilidades de rendimento.

Para Braga (1992, p. 230), o planejamento financeiro compreende a


programação avançada de todos os planos da administração financeira e a
integração e coordenação destes com os planos operacionais de todas as áreas
da empresa.

50 Finanças Empresariais
Capítulo 2

Para Groppelli e Nikbakht (1998, p. 364),

planejamento financeiro é o processo de estimar a quantia


necessária para continuar as operações de uma companhia e
decidir quando e como a necessidade de fundos seria financiada.
Sem um procedimento confiável para estimar as necessidades de
financiamento, uma companhia pode acabar não tendo fundos
suficientes para pagar seus compromissos, tais como juros sobre
empréstimos, duplicatas a pagar, despesas de aluguel e as despesas
de luz e telefone.

Como você pode constatar, diversos autores ressaltam a importância do


planejamento financeiro, que pode ser desenvolvido em horizontes de tempos
diferenciados: quando se tratar do curto prazo, estamos nos remetendo a
aspectos operacionais; quando de longo prazo, estarão envolvidas questões
mais estratégicas.

Na sequência deste capítulo veremos o detalhamento destas abordagens.


Mas antes de prosseguir, vamos a um desafio.

DESAFIO

Procure identificar duas empresas que


elaborem seus planejamentos financeiros.
Caso tenha acesso autorizado às informações,
procure descrever detalhadamente o processo
de elaboração, quais seus facilitadores e
dificuldades para elaborá-lo.

2.2.2 Planejamento financeiro de curto prazo

Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2005, p. 406) afirmam que

as atividades desenvolvidas pela empresa para a preparação


do planejamento econômico-financeiro de curto prazo visam
preparar quatro demonstrativos financeiros que serão utilizados
para a análise de viabilidade do planejamento das empresas e, se
aprovados, seus conteúdos constituirão os objetivos financeiros
a serem perseguidos.

Finanças Empresariais 51
Capítulo 2

Os mesmos autores apontam que os quatro demonstrativos são:

• o orçamento de capital, também denominado orçamento de


investimentos;
• a projeção do fluxo de caixa, também denominado orçamento de caixa;
• a demonstração de resultados projetada, ou orçamento operacional;
• os balanços patrimoniais projetados.

Segundo Gitman (2001), o planejamento financeiro de curto prazo


também pode ser denominado operacional, e busca especificar as ações
financeiras em curto prazo, bem como o possível impacto dessas ações.
No entendimento de Gitman, o planejamento de curto prazo implica
em períodos de um a dois anos. O autor ainda descreve o processo de
planejamento financeiro pelo fluxograma, representado pela figura 2.

Informação necessária
Previsão de Saídas para análise
Vendas

Plano de
financiamento
Planos de a longo prazo
Produção

Plano de
Orçamento de
dispêndio de
Demonstração de Caixa
Capital
Resultados
Balanço
projetada
patrimonial do
período atual

Balanço
patrimonial
projetado

Figura 2 - Planejamento financeiro de curto prazo


Fonte: Gitman (2001).

A principal metas do planejamento a curto prazo, segundo Gitman


(1997, p. 588) é a previsão de vendas juntamente com os dados operacionais
e financeiros. Como resultado da análise do planejamento a curto prazo têm-
se como mais importantes os orçamentos operacionais, orçamento de caixa e
demonstrações financeiras projetadas.

52 Finanças Empresariais
Capítulo 2

Segundo Ross (1998, p. 609), “as finanças a curto prazo consistem em


uma análise das decisões que afetam os ativos e passivos circulantes, com
efeitos sobre a empresa dentro do prazo de um ano”. As finanças a curto
prazo fazem a empresa ter uma abordagem mais técnica sobre aspectos no que
dizem respeito ao nível de caixa a ser mantido num banco para pagamento
de contas, quanto de matéria prima deve-se encomendar e quanto de crédito
deve ser concedido aos clientes.

Para Brealey (1992, p. 839),

O planejamento financeiro a curto prazo preocupa-se com gestão


do ativo a curto prazo, ou circulante, e do passivo de curto prazo da
empresa. Os elementos mais importantes do ativo circulante são as
disponibilidades, os títulos negociáveis, as exigências e as contas a
receber. Os elementos mais importantes do passivo de curto prazo são
empréstimos bancários e as contas a pagar. A diferença entre o ativo
circulante e o passivo de curto prazo e chamado de fundo de maneio.

Você já deve estar pensando “lá vem complicação...”, mas não se preocupe.
Com o avançar do conteúdo, você irá gradativamente obtendo as informações
necessárias para elaborar projeções desses diferentes demonstrativos.

2.2.3 Planejamento financeiro de longo prazo

A maioria das empresas tem como componente básico de seu


planejamento financeiro de longo prazo uma taxa de crescimento global e
explícita. Portanto, há uma interação direta entre a taxa de crescimento e
sua política financeira (ROSS, 1998, p. 589).

Gitman (2001) ressalta que os planos de longo prazo compreendem


decisões estratégicas e buscam antecipar o impacto das ações financeiras
das empresas por um período superior a dois anos, sendo o seu alcance
limitado a dez anos. Envolvem ainda, na percepção do autor, investimentos
em pesquisas e desenvolvimento de novos produtos, ações de marketing,
estrutura de capital e fontes de recursos.

Já Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2005) atestam que a maioria das


empresas cobrem um período entre dois e cinco anos, embora tenham
identificado empresas que projetaram para vinte e cinco anos.

Finanças Empresariais 53
Capítulo 2

Padoveze (2005, p. 102) retrata que a “terminologia orçamento de


capital é muito utilizada em finanças sem a existência de uma definição
apropriada”. O autor afirma também que o “orçamento de capital é o
procedimento para o planejamento financeiro de longo prazo”. Envolve
conceitos e técnicas que permitirão a você avaliar projetos de investimentos
de uma empresa. No capítulo 7 desta disciplina você aplicará os conceitos
e técnicas de avaliação.

As decisões de investimentos têm origem, segundo Assaf Neto (2003, p.


276), nas seguintes modalidades:

• ampliação ou expansão do volume de atividade – ocorre quando


a capacidade instalada se mostra insuficiente ao atendimento da
demanda pelos produtos ou serviços de uma empresa;

• reposição e modernização de ativos fixos – ocorre quando os


equipamentos ficam obsoletos ou desgastados pelo uso;

• arrendamento ou aquisição – a empresa em alguns momentos


tenderá pelos custos envolvidos a optar por arrendar uma máquina
ou equipamento ao invés de adquiri-la.

O mesmo autor afirma que os investimentos podem ser tipificados em


cinco padrões:

• economicamente independentes – dois ou mais projetos são


considerados independentes quando a aceitação de um deles não
implica na aceitação dos outros;

• restrição orçamentária – muitos investimentos podem estar acima da


capacidade de financiamento da empresa, seja por recursos próprios
ou de acesso a recursos de terceiros, o que obriga a empresa a buscar
priorizar um projeto;

• mutuamente excludentes – a aceitação de um projeto obrigatoriamente


rejeita o outro;

• dependência estatística – envolvem a análise de indicadores de


mercado, juros, inflação, dentre outras variáveis macroeconômicas.

54 Finanças Empresariais
Capítulo 2

PRATICANDO

Busque exemplificar situações em que os


projetos de investimentos são enquadrados
como mutuamente excludentes e restrição
orçamentária.

Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2005) afirmam que o planejamento


econômico-financeiro de longo prazo tem por objetivo determinar os
resultados futuros em face das decisões da empresa tomadas no presente.

Um dos principais instrumentos se constitui no orçamento de capital,


que na opinião dos referidos autores contempla cinco fases:

• geração de propostas;
• a determinação das alternativas viáveis;
• tomada de decisão;
• implantação;
• avaliação de desempenho.

O orçamento de capital envolve as estimativas de investimentos tanto


em capital fixo (instalações, máquinas e equipamentos, veículos, gastos
com pesquisas, dentre outros) quanto em capital de giro (investimentos na
atividade operacional).

O quadro a seguir traz um modelo de orçamento de capital, também


denominado “quadro de usos e fontes”, utilizado pelo BNDES – Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social nos pleitos direcionados
pelas empresas. Ele busca detalhar não só a destinação dos recursos, se já
realizados ou a realizar, bem como as possíveis fontes destes.

Finanças Empresariais 55
Capítulo 2

DATA BASE R$ MIL


REALIZADO TOTAL A TOTAL % SOBRE
ITENS DISCRIMINAÇÃO
ATÉ.../... REALIZAR PROJETO PROJETO

USOS

INVESTIMENTOS FINANCIÁVEIS

1. Itens gerais

1.1 Estudos, projetos e tecnologia

1.2 Obras civis

1.3 Montagem e instalações

1.4 Móveis e utensílios

1.5 Treinamento

1.6 Despesas pré-operacionais

1.7 Capital de giro

1.8 Outros

2. Máquinas e equipamentos nacionais

Investimentos não-financiáveis

3. Terrenos

4. Máquinas e equipamentos usados

5. Máquinas e equipamentos
importados

6. Outros

FONTES

Recursos próprios

Recursos de terceiros

Outros
Quadro 1 - Exemplo de orçamento
Fonte: <http://www.bndes.gov.br>.

2.2.4 Instrumentos de planejamento financeiro – orçamento

Você já deve ter ouvido ou mesmo utilizado o termo orçar várias vezes
ao longo de sua vida – a reforma da casa, a cozinha por fazer, o conserto
do carro –, todavia numa empresa este termo se amplia, como você poderá
constatar daqui para frente.

56 Finanças Empresariais
Capítulo 2

Padoveze (2005, p. 235) afirma que o orçamento “é a ferramenta de


controle por excelência de todo o processo operacional da empresa, pois
envolve todos os seus setores”. Na mesma linha, Hoji (2010, p. 19) ressalta que
o “orçamento é um excelente instrumento de controle de todos os processos
operacionais da empresa”. O autor ainda retrata que o orçamento revela
a estratégia da empresa no curto prazo, e por meio de relatórios evidencia
quantitativamente as ações e políticas em relação a um período futuro.

No ambiente empresarial, Welsch (1986) afirma que planejar


significa estabelecer sistematicamente os objetivos relevantes da empresa
e formular estratégias e planos realistas para alcançar tais objetivos de
curto e longo prazo.

Horngren (2000) afirma que os orçamentos são a expressão quantitativa


de um plano de ação. Nesse contexto, o orçamento deve abranger a empresa
como um todo, proporcionando diversas tomadas de decisões presentes sob a
visão do futuro.

De acordo com Tavares (2000), o orçamento abrange funções e operações


que envolvem todas as áreas da empresa com necessidade de alocação de
algum tipo de recurso financeiro, para fazer face às despesas de suas ações;
assim o orçamento se constitui na etapa do processo de planejamento
estratégico em que se estima e determina a melhor relação entre os resultados
e despesas para atender às necessidades, características e objetivos da empresa
no período esperado.

Figueiredo e Caggiano (1997, p. 36) definem orçamento como

um instrumento direcional. Constitui-se de planos específicos em


termos de datas e de unidades monetárias, visando orientar a
administração, para atingir os fins específicos em mente, ou seja, os
objetivos empresariais.

Nakagawa (1993) entende que os orçamentos refletem a necessidade que


a empresa tem de comunicar aos gerentes os planos de ação, e que se forem
executados de acordo com as políticas e diretrizes nele embutidos, deverão
dar origem a resultados operacionais eficientes e eficazes que mensurados
em termos econômicos e financeiros corresponderão às metas e objetivos que
possibilitarão à empresa atingir sua missão e propósitos básicos.

Finanças Empresariais 57
Capítulo 2

Frezatti (2000) observa que, embora importantes, o planejamento, a


execução e o controle do negócio, em muitas empresas, se constituem em
ações que ainda não são adequadamente entendidas pelos executivos.

Para Parsloe e Wright (2001, p. 11), “um orçamento é um plano financeiro


que estabelece, de forma mais precisa possível, como se espera que transcorram
os negócios de um departamento ou de uma empresa, geralmente num prazo
mínimo de um ano”.

Sá e Moraes (2005) ressaltam que o orçamento é a expressão do


planejamento estratégico em números, compatibilizando as diferentes
políticas pulsantes em uma organização (de concessão de crédito a clientes,
de reposição de estoques, de imobilização, de financiamento, de pagamento
de dividendos etc.).

Veja só o que Oliveira, Perez Junior e Silva (2009, p.105 apud HOJI, 2010)
nos informam:

O orçamento é a expressão quantitativa e formal dos planos


da Administração, e é utilizado para apoiar a coordenação e
implementação desses planos. O orçamento geral resume os objetivos
de todas as subunidades de uma organização (vendas, produção,
logística de suprimentos de matérias-primas, distribuição dos produtos
acabados, finanças, investimentos em tecnologias de informação etc.

Padoveze (2005, p. 237) afirma que “não existe uma única maneira de
estruturar o orçamento”. Hoji (2010, p. 23), de forma complementar, apresenta
estrutura de um sistema orçamentário, composto pelo orçamento geral e
específicos, podendo ser segregado em três níveis:

• operacional;
• investimentos;
• financiamentos.

O orçamento operacional busca evidenciar as atividades do dia a dia


da empresa e engloba diferentes áreas tais como: produção, vendas e de
administração.

58 Finanças Empresariais
Capítulo 2

Na opinião de Hoji (2010, p. 25), o orçamento operacional é composto


por orçamentos detalhados de vendas, produção, compras e faturamento e
despesas.

Orçamento de vendas

O orçamento de vendas se constitui como o primeiro a ser realizado,


devendo especificar as quantidades, preços e receitas de cada produto ou serviço
que a empresa pretende comercializar ou prestar. Normalmente, é elaborado
pelas áreas de marketing ou comercial. Ele poderá ser apresentado de diferentes
formas, tais como: produtos, matriz e filiais, regiões, dentre outras.

Sanvicente e Santos (2000) indicam que o orçamento de vendas constitui


um plano de vendas futuras da empresa, para um determinado período de
tempo. Neste orçamento são estimadas as quantidades de cada produto que
a empresa planeja vender e o preço pretendido. É a base para todas as outras
peças orçamentárias.

PRATICANDO
Considerando o orçamento de vendas para uma
fábrica de sorvetes, elabore uma planilha que
contemple as variáveis apresentadas. Que fatores
externos e internos devem ser apreciados, a seu
ver, para a construção do orçamento?

Se você apresentou algo similar à representação a seguir, está no caminho


certo. Se não, não se desespere, você está tendo apenas um primeiro contato
com a prática orçamentária.

Finanças Empresariais 59
Capítulo 2

Tabela 1 - Modelo de orçamento de vendas


VENDA DA FILIAL 1 JAN FEV MAR
PRODUTO: TRADICIONAL

1. Quantidade

2. Preço unitário de venda 0,00 0,00 0,00

3. Valor de venda 0 0 0

PRODUTO: MODERNO

4. Quantidade

5. Preço unitário de venda 0,00 0,00 0,00

6. Valor de venda 0 0 0

7. Total da venda da filial 1 0 0 0

VENDA DA FILIAL 2
PRODUTO: TRADICIONAL

1. Quantidade

2. Preço unitário de venda 0,00 0,00 0,00

3. Valor de venda 0 0 0

PRODUTO: MODERNO

4. Quantidade

5. Preço unitário de venda 0,00 0,00 0,00

6. Valor de venda 0 0 0

7. Total da venda da filial 2 0 0 0


Fonte: adaptado de Hoji (2008).

Vamos em frente que você ainda precisa conhecer os outros tipos de orçamento.

Orçamento de produção

O orçamento de produção objetiva quantificar o volume de produção e


insumos necessários ao processo. São estimados os custos de matéria-prima,
mão-de-obra direta e gastos gerais de fabricação. A seguir, serão apresentadas
as estruturas do orçamento de produção:

60 Finanças Empresariais
Capítulo 2

Tabela 2 - Orçamento de quantidades a produzir


ORÇAMENTO DE PRODUÇÃO
QUANTIDADES A PRODUZIR
JAN FEV MAR
PRODUTO: TRADICIONAL

Produtos acabados

1. Vendas orçadas 0 0 0

2. (-) Estoque inicial 0 0 0

3. (=) Estoque final 0 0 0

4. Quantidade a acabar 0 0 0

Produtos em elaboração

5. (-) Estoque inicial 0 0 0

6. (=) Estoque final 0 0 0

7. Quantidade a iniciar 0 0 0

8. Quantidade iniciada e acabada 0 0 0


Fonte: adaptado de Hoji (2008).

Como você pode observar, o orçamento da produção tem como ponto


de partida o orçamento de vendas, que determinará os níveis de estoque
necessários ao processo como um todo.

Na sequência, temos de definir os demais itens que compõem o processo


produtivo. O primeiro passo é orçarmos a matéria-prima a ser utilizada, bem
como os custos inerentes à sua aquisição.

Preste bem atenção: o processo orçamentário envolve várias etapas.

Pense que neste momento que estamos dentro de uma indústria de


embalagens plásticas e que você é o responsável pela elaboração do orçamento,
sua vida será facilitada, pois a empresa já tem estruturado em planilhas todo o
processo. Vamos percorrer o caminho das planilhas apresentadas nos quadros
a seguir:

Finanças Empresariais 61
Capítulo 2

Tabela 3 - Orçamento de matérias-primas a consumir


ORÇAMENTO DE MATÉRIAS-PRIMAS
QUANTIDADE DE MATÉRIAS-PRIMAS A CONSUMIR
CONSUMO POR JAN FEV MAR
UNIDADE
PRODUTO: TRADICIONAL

Quantidade a produzir 0 0 0

1. Matérias-primas a consumir

2. Papel 0,00 0 0 0

3. Plástico 0 0 0 0

PRODUTO: MODERNO

4. Quantidade a produzir 0 0 0

Matérias-primas a consumir

5. Papel 0,00 0 0 0

6. Resina 0,00 0 0 0

RESUMO DE MATÉRIAS-PRIMAS A CONSUMIR

7. Papel (t) 0 0 0

8. Plástico (Kg) 0 0 0

9. Resina (peça) 0 0 0
Fonte: adaptado de Hoji (2008).

PRATICANDO
Na primeira planilha, você pode constatar a
necessidade de identificar algumas variáveis. O que
você destaca como relevante neste momento?
Lembre-se que o orçamento pretende atender aos
objetivos de cada empresa, então não se prenda
nunca a fórmulas preestabelecidas.

Um próximo passo é a definição dos custos inerentes ao processo.


Dentre estes, um dos primeiros envolve o aspecto tributário sobre a
atividade empresarial; em face do setor de atuação incidem impostos,
taxas e contribuições diversos, ora cobrados pelo governo federal, ora
estadual, ora municipal. São cobrados de forma direta ou indireta. Dentre
os principais, podemos destacar:

62 Finanças Empresariais
Capítulo 2

• ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. Apresenta


alíquotas diferenciadas, normalmente são cobrados 17% nas operações
internas (dentro do próprio estado) e 12% quando da realização de
operações com outros estados;

• PIS – Programa de Integração Social. Apresenta alíquota de 0,65%;

• COFINS – Contribuição Financeira sobre a Seguridade Social. A alíquota


pode variar de 3% a 7,8%.

Em exemplo adaptado de Hoji (2008, p. 435), apresentaremos no


quadro a seguir apenas o impacto do ICMS. Foi utilizada pelo autor uma
alíquota de 18%.

Tabela 4 - Orçamento de matéria-prima


ORÇAMENTO DE MATÉRIAS-PRIMAS
PROJEÇÃO DE CUSTOS UNITÁRIOS DE MATÉRIAS-PRIMAS
BASE:
DEZ/19X6 JAN FEV MAR

Matéria-prima: papel

1. Custo unitário com ICMS 0,0000 0,0000 0,0000

2. (-) ICMS - 18% 0,0000 0,0000 0,0000

3. (=) Custo unitário líquido 0,0000 0,0000 0,0000

4. Matéria-prima: plástico

Custo unitário com ICMS 0,0000 0,0000 0,0000

5. (-) ICMS - 18% 0,0000 0,0000 0,0000

6. (=) Custo unitário líquido 0,0000 0,0000 0,0000

Matéria-prima: resina

7. Custo unitário com ICMS 0,0000 0,0000 0,0000

8. (-) ICMS - 18% 0,0000 0,0000 0,0000

9. (=) Custo unitário líquido 0,0000 0,0000 0,0000


Fonte: adaptado de Hoji (2008).

Finanças Empresariais 63
Capítulo 2

CURIOSIDADE
Hoje as empresas devem cumprir 3.422 normas,
ou 38.429 artigos, 89.540 parágrafos, 286.296
incisos e 37.660 alíneas, ou o equivalente a
5,9 quilômetros de normas tributárias, caso
impressas em papel A4. Em decorrência desta
quantidade de normas, as empresas gastam cerca
de R$ 42 bilhões por ano para manter pessoal,
sistemas e equipamentos no acompanhamento
das modificações da legislação. Quer saber
mais? Acesse <http://www.ibpt.com.br>.

Ainda dentro dos orçamentos específicos da área de produção temos os


orçamentos que envolvem os custos de mão-de-obra direta. Lemes Junior, Rigo
e Cherobim (2005, p. 417) ressaltam que a mão-de-obra direta é classificada
como custo variável, sendo necessário fazer projeções de horas trabalhadas
por produto e, de forma complementar, o custo de cada hora.

Vejamos o exemplo que os referidos autores trazem em sua obra.

Tabela 5 - Orçamento de mão-de-obra direta


PRODUÇÃO Nº HORAS CUSTO HORA VALOR ORÇADO
PRODUTO
UNIDADE PADRÃO/UNIDADE PADRÃO EM R$
A 1.600 1,50 4,00 9.600,00

B 1.800,00 1,25 5,00 11.250,00

Total 20.850,00
Fonte: Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2005).

O final do processo de orçamentação da área de produção envolve, na


opinião de autores como Padoveze (2005), Assaf Neto (2003), Lemes Júnior,
Rigo e Cherobim (2008) e Hoji (2010), uma das etapas mais complexas. Entram,
na concepção destes autores, gastos como mão-de-obra indireta, seguros,
depreciações, aluguéis, energia elétrica, combustíveis, dentre outros.

O modelo de Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2008) apresenta uma


simplificação do processo, vejamos a representação.

64 Finanças Empresariais
Capítulo 2

Tabela 6 - Orçamentos de custos indiretos de fabricação


CUSTOS TOTAL PRODUTO A PRODUTO B
Mão de obra indireta 12.000,00 5.647,00 6.352,94

Materiais indiretos 5.000,00 2.352,94 2.647,06

Seguros 1.000,00 470,59 529,41

Aluguéis 4.000,00 1.882,35 2.117,65

Depreciação 15.000,00 7.058,82 7.941,18

Energia elétrica 8.000,00 3.764,71 4.235,29

Água 2.500,00 1.176,47 1.323,53

Outras 1.500,00 705,88 794,12

Total 49.000,00 23.058,82 25.941,18


Fonte: Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2005).

REFLEXÃO

Como disse anteriormente, você é o responsável


pela elaboração do orçamento. Ao analisar os
dados contidos nos quadros, a que constatação
você chega quanto ao critério de alocação dos
custos indiretos de fabricação adotados pela
empresa?

Orçamento de despesas operacionais

O orçamento de despesas operacionais compreende, na percepção de


Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2005), todas as despesas necessárias para a
venda dos produtos e/ou serviços de uma empresa. Os autores estratificam em
quatro níveis:

• administrativas;
• vendas, também chamadas de comerciais;
• tributárias;
• financeiras.

Vamos entender um pouco mais de cada uma destas despesas?

Finanças Empresariais 65
Capítulo 2

As despesas administrativas estão associadas à manutenção da estrutura


fixa da empresa. São classificados nesta rubrica os gastos com salários do pessoal
administrativo, material de expediente, seguros e depreciação da área administrativa.
Lembre-se de que também podemos ter depreciação alocada como custo – esta
parte refere-se às instalações, máquinas e equipamentos da área produtiva.

As despesas com vendas ou comerciais consideram todos os gastos


envolvidos no esforço de venda dos produtos ou serviços, tais como: salários
e comissões dos vendedores, gastos com promoção e publicidade, expedição,
fretes, assistência técnica dentre outros.

As despesas tributárias, aqui consideradas, não envolvem os tributos e


demais encargos que tenham como base de cálculo o faturamento da empresa,
mas sim a propriedade.

As despesas financeiras envolvem o pagamento de juros, descontos


concedidos, variações monetárias e cambiais.

Mas se você acredita já ter visto tudo sobre orçamento, está enganado.
Há ainda outras classificações na literatura financeira.

Padoveze (2005) traz dois conceitos importantes: o orçamento de


tendências e o de base zero. O autor afirma que o orçamento de tendências
é uma pratica orçamentária muito comum que se caracteriza por utilizar
dados passados para projeções das situações futuras, comumente produzindo
bons resultados, uma vez que os eventos passados decorrentes de estruturas
organizacionais já existem, tendo forte tendência de tais eventos se repetirem.

De igual modo, Atkinson et al. (2000, p. 495) afirma que o orçamento


baseia-se no nível das despesas de um período, de forma incremental,
diminuindo ou aumentando a alocação de recursos para as mesmas despesas
previstas para o próximo período; para determinado item, sobre a quantia
gasta pelo mesmo item durante o período anterior. Contudo, também ressalta
as críticas acerca deste tipo de orçamento, porque ele não requer justificativas
para as metas organizacionais quanto às despesas discricionárias, não incluindo
provisões para reduzir ou eliminar despesas à medida que a empresa sofre por
mudanças, nem fornece apoio aos itens que renderão benefícios significativos
à organização.

66 Finanças Empresariais
Capítulo 2

Já o orçamento de base zero vem justamente na contramão do anterior,


pois despreza as informações precedentes. Padoveze (2005) afirma que a
questão fundamental permanente para este orçamento é a seguinte: não é
porque aconteceu que deverá acontecer. Sendo assim, o orçamento base zero
rediscute toda a empresa sempre que se elabora o orçamento, questionando
cada gasto e cada estrutura, repensando sua real necessidade, onde
independente dos valores de cada atividade, mas sim de sua razão de existir,
cada atividade da empresa é rediscutida. Partindo da definição da existência
da atividade, elabora-se um estudo, a partir do zero, de quanto devem ser
os gastos para estruturação e manutenção desta atividade e quais serão suas
metas e objetivos.

Atkinson et al. (2000) também considera que para cada período de


planejamento o ponto de partida para cada atividade ou item orçado é zero,
sendo de responsabilidade dos gestores justificar a manutenção de cada
despesa, desta forma fazendo com que o orçamento base zero deva ter como
foco combater orçamentos de tendência indiscriminados que resultam em má
alocação de recursos.

“O objetivo do orçamento base zero é o de viver de acordo com os


recursos disponíveis; e corresponde a um meio de analisar, reestruturar e
eliminar despesas, programas e projetos não econômicos” (PREMCHAND;
ANTONAYA, 1998, p. 78).

Os orçamentos podem ainda ser classificados em estáticos, flexíveis,


ajustados ou corrigidos.

• Estático – consiste na elaboração a partir de um certo volume de produção


ou vendas. É utilizado mais frequentemente por grandes empresas com
atuação em diversos países. Cabe considerar que se houver alterações
significativas de volume, perde sentido a sua utilização.

• Flexível – na concepção de Hongren (1985 apud PADOVEZE, 2005), é


definido como um conjunto de orçamentos que podem ser ajustados
a qualquer nível de atividades, caracterizadas pela identificação
adequada dos custos fixos e variáveis.

Finanças Empresariais 67
Capítulo 2

• Ajustado – na opinião de Padoveze (2005), configura-se pelo ajuste


efetuado nos volumes planejados dentro do conceito de orçamento
estático ou inicial.

• Corrigido – consiste no impacto de possíveis variações de preços ou


câmbio ao orçamento original.

Agora que conhecemos os diferentes padrões de orçamento, de nada


adianta termos os registros das informações se não as utilizarmos no processo
decisório, promovendo os ajustes de rumo, quando necessários.

2.2.5 Métodos de controle financeiro

Na concepção de Hoji e Silva (2010), a função controle é a coordenação


de meios e recursos para atingir os objetivos ou metas, monitorando o que foi
traçado no planejamento da empresa.

Portanto, não temos como dissociar planejamento de controle. Figueiredo


e Cagiano (2006 apud HOJI, 2010) afirmam que o controle efetivamente é
um sistema de feedback das informações que possibilita a confrontação dos
desempenhos traçados com os realizados.

Zdanowicz (1998, p. 124) assevera, de maneira mais específica, que

o controle orçamentário é a técnica que procurará acompanhar,


avaliar e analisar o planejamento financeiro em suas várias etapas,
verificando as defasagens entre os valores orçados e realizados,
para sugerir as medidas saneadoras que deverão ser implementadas
na próxima proposta orçamentária da empresa.

Gomes e Salas (2001, p. 22), assim definem:

O controle, seja muito ou pouco formalizado, é fundamental


para assegurar que as atividades de uma empresa se realizem
de forma desejada pelos membros da organização e contribuam
para a manutenção e melhoria da posição competitiva e a
consecução das estratégias, planos, programas e operações,
consentâneos com as necessidades identificadas pelos clientes.
Para alcançar estes objetivos, a administração se assegura de
obter a informação e influenciar o comportamento das pessoas
para atuar sobre as variáveis internas e externas de que depende
o funcionamento da organização.

68 Finanças Empresariais
Capítulo 2

Segundo Antony e Govindarajan (2001), um sistema de controle gerencial


deve estar sincronizado com as necessidades de qualquer organização,
objetivando a convergência de atividades e tarefas de todos os elementos
da estrutura produtiva numa mesma direção, de forma sinérgica, dentro da
ideia de congruência dos objetivos. Como instrumento para o controle, as
organizações requerem uma estrutura sistêmica básica onde comportamentos
e desempenhos desejados constituem um padrão a ser atingido; quando
confrontados com os efetivamente realizados poderão ensejar revisões. Este
processo, entretanto, não ocorre de forma automática e/ou precisa, uma
vez que os limites da definição de comportamento e desempenho correto
dependem da subjetividade das decisões humanas. O processo de gestão
e controle exige, portanto, negociações permanentes, pois não se pode
desconsiderar o jogo de forças existente na organização, e a busca por conciliar
os objetivos estabelecidos pela administração deve convergir com os anseios
dos profissionais dos demais níveis hierárquicos.

Frezatti (2006, p. 80) afirma que controle orçamentário “é um instrumento


da contabilidade gerencial que deve permitir à organização identificar quão
próximos estão os resultados em relação ao que planejou para dado período”.

No ponto de vista de Sanvicente e Santos (2000), controlar é


essencialmente, acompanhar a execução de atividades da maneira mais rápida
possível, e comparar o desempenho efetivo com o planejado.

Através da sistematização do processo de planejamento e controle,


graças ao uso de orçamentos, isto introduz o hábito do exame prévio
e cuidadoso de “todos” os fatores antes da tomada de decisões
importantes, além de obrigar a administração da empresa a dedicar
atenção adequada e oportuna aos efeitos eventualmente causados
pelo surgimento de novas condições externas (SANVICENTE;
SANTOS 2000, p. 23).

Cabe considerar que o ambiente em que as empresas operam atualmente


exige destas desenvolverem sistemas de informações gerenciais cada vez mais
eficazes. E por isso vale reafirmar que um planejamento sem controle e nada
são a mesma coisa.

A empresa deverá, por meio de relatórios sistematizados, monitorar


todos os aspectos relevantes de seu planejamento. A inobservância deste
preceito poderá ser determinante no êxito ou no fracasso de uma estratégia.

Finanças Empresariais 69
Capítulo 2

Um sistema integrado de informações permitirá às empresas a flexibilidade


e o dinamismo exigidos do planejamento nos dias atuais. Nakagawa (1993
apud HOJI; SILVA, 2010) representa graficamente o processo de estruturação
de um sistema. Observe.
Processo de
tomada de
decisões

Planejamento Execução Controle


Sistema de informações

Sostema de
Custo-padrão

Sistema
Fichas-padrão contábil
(real)

Sistema de Orçamento Relatório de


orçamentos aprovado desempenho

Figura 2 - Planejamento financeiro de curto prazo


Fonte: Gitman (2001).

DESAFIO

A partir da estrutura de sua empresa ou de


alguma a que você tenha acesso, procure
identificar se a mesma utiliza de algum sistema
de informação e se este é compatível com a
estrutura proposta por Nakagawa.

70 Finanças Empresariais
Capítulo 2

2.3 Aplicando a teoria na prática

A empresa ABC resolveu investir na ampliação de suas atividades com a


aquisição de máquina injetora avaliada em R$ 100.000,00. Considerando os
dados a seguir, elabore uma demonstração de resultado:

• o capital social da empresa devidamente integralizado é de R$


100.000,00;
• o valor do financiamento importará em 90% do valor total da máquina
a ser pago, num período de cinco anos;
• o equipamento será depreciado durante estes cinco anos de forma linear;
• as projeções de receitas dos produtos oferecidos pela empresa são:

PRODUTOS ANO I ANO II ANO III ANO IV ANO V


Garrafas 150.000 180.000 200.000 230.000 250.000

Potes 200.000 220.000 240.000 260.000 280.000

• os custos com matéria-prima representam 40% das receitas projetadas;


os custos com mão-de-obra direta, 12%, e os demais custos de
produção representam 8%;

• as despesas com vendas representam 5% das receitas e a despesas


administrativas, hoje em R$ 15.000,00, segundo planejamento da
empresa, deverão ser reduzidas em 10% a partir do segundo ano;

• a empresa apresenta uma alíquota de 12% de impostos sobre vendas;

• as despesas financeiras representam em termos anuais uma taxa


fixa de 5% sobre o saldo devedor. Lembre-se que a cada ano você
amortiza R$ 20.000,00. Para fins do nosso exercício, os juros são pagos
uma única vez no ano.

Para auxiliá-lo nesta primeira atividade de projeção de resultados,


apresento a estrutura que você deve observar na resolução do caso prático.
Ao final da demonstração, pergunto: Na condição de gestor financeiro da
empresa, você realizaria o investimento? Justifique.

Finanças Empresariais 71
Capítulo 2

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS
ANO I ANO II ANO III ANO IV ANO V
Receita bruta de vendas

Dedução de impostos

Resultado líquido das vendas - - - - -

Custo da produção - - - - -

Lucro bruto - - - - -

Despesas com vendas - - - - -

Despesas administrativas

Despesas com depreciação

Resultado operacional - - - - -

Despesas financeiras

Resultado operacional
- - - - -
líquido

E aí? Conseguiu? Vejamos como fica.

A partir da estrutura apresentada, temos como demonstração de resultado


final para os cinco anos de atividade da empresa a representação a seguir:

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS
ANO I ANO II ANO III ANO IV ANO V
Receita bruta de vendas 350.000 400.000 440.000 490.000 530.000

Dedução de impostos 42.000 48.000 52.800 58.800 63.600

Resultado líquido das vendas 308.000 352.000 387.200 431.200 466.400

Custo da produção 210.000 240.000 264.000 294.000 318.000

Lucro bruto 98.000 112.000 123.200 137.200 148.400

Despesas com vendas 17.500 20.000 22.000 24.500 26.500

Despesas administrativas 15.000 13.500 13.500 13.500 13.500

Despesas com depreciação 20.000 20.000 20.000 20.000 20.000

Resultado operacional 45.500 58.500 67.700 79.200 88.400

Despesas financeiras 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000

Resultado operacional líquido 40.500 54.500 64.700 77.200 87.400

72 Finanças Empresariais
Capítulo 2

As receitas brutas de vendas foram apuradas ano a ano a partir do somatório


das receitas dos dois produtos vendidos pela empresa, as garrafas e os potes plásticos.

As deduções de impostos foram calculadas aplicando a alíquota de 12%


sobre as vendas totais da empresa.

Os custos de produção perfazem, entre matéria-prima, mão-de-obra e


demais custos, um total de 60% sobre as receitas.

As despesas administrativas apresentam uma redução de 10% sobre os


valores atualmente conhecidos, portanto passam a ser de R$ 13.500,00 a partir
do segundo ano.

As despesas financeiras foram calculadas aplicando 5% sobre o saldo


devedor ao final de cada ano, considerando que a cada ano temos uma
redução de R$ 20.000,00 no saldo devedor, os juros são decrescentes.

Em relação à condição do investimento ser viável ou não, pode-se afirmar


que a partir da demonstração o projeto é viável, sendo os resultados gerados
suficientes para a cobertura dos encargos do financiamento.

2.4 Para saber mais

Sugiro algumas leituras para que você se atualize sobre o tema estudado
neste capítulo:

Título: Manual de orçamento


Autor: LUNKES, R.J. Editora: Atlas, SP Ano: 2007

Este livro aborda o processo de planejamento e controle de uma


empresa, detalhando as formas como esse sistema pode ser gerenciado.
Apresenta ainda os métodos orçamentários (orçamento empresarial,
orçamento contínuo, orçamento base zero, orçamento flexível,
orçamento por atividades e orçamento perpétuo), além de englobar
tipos de orçamentos mais adaptados a necessidades de gestores, como
flexibilidade, capital intelectual, intangíveis, valorização dos clientes
internos e externos, entre outras contribuições.

Finanças Empresariais 73
Capítulo 2

Título: Planejamento e controle financeiro: fundamentos e


casos práticos de orçamento empresarial
Autor: HOJI, M.; SILVA, H.A. Editora: Atlas, SP Ano: 2010

Nesta obra, principalmente no capítulo 2, você pode ampliar os


conhecimentos e a aplicabilidade do processo de elaboração dos
orçamentos empresariais. Nos capítulos 3 e 5 constam exemplos de
casos práticos no setor industrial e de prestação de serviços.

Título: Planejamento financeiro e orçamento


Autor: ZDANOWICZ, J.E. Editora: Sagra-Luzzatto, RS Ano: 2001

O livro apresenta a metodologia de elaboração do sistema de


planejamento financeiro.

2.5 Relembrando

O capítulo 2 apresentou:

• noções de planejamento financeiro, em que elencamos os principais


conceitos e a influência do tempo na construção do mesmo;

• o planejamento financeiro de curto e longo prazo, a fim de situá-


lo e auxiliar na compreensão do processo de planejamento, foram
apresentadas as diferentes visões sobre o assunto. Ficou claro que
os planos financeiros de curto prazo não são elaborados em prazo
superior a dois anos; já os de longo prazo atingem até dez anos,
segundo diferentes autores;

• o orçamento: foram detalhados os principais modelos de orçamentos e


suas implicações no processo de planejamento financeiro de uma empresa;

• os métodos de controle financeiro: foi ressaltada a importância dos


sistemas de gestão e sua representação gráfica.

74 Finanças Empresariais
Capítulo 2

2.6 Testando os seus conhecimentos

1) A empresa Olhos Felinos atua na comercialização de produtos da linha pet


shops. Estima o crescimento de suas vendas em 5% a cada ano, considerando
que a empresa fatura hoje R$ 50.000,00 por mês, distribuídos em mais de 200
itens. Considerando os dados apresentados, estamos retratando um orçamento:

a) estático.
b) flexível.
c) dinâmico.
d) tendências.
e) base zero.

2) Com base nos dados apresentados na demonstração de resultados da


Empresa MCT – Equipamentos Eletrônicos, pede-se apurar o custo de
matéria-prima incorrido, sabendo-se que os custos com mão de obra direta
representam 10% da receita total da empresa, e que os demais custos de
fabricação representam 8%.

DEMONSTRAÇÃO DE
RESULTADOS
ANO I
Receita bruta de vendas 500.000

Dedução de impostos 12.000


Resultado líquido das vendas 488.000
Custo da produção 300.000
Lucro bruto 188.000
Despesas com vendas 25.000
Despesas administrativas 10.000
Despesas com depreciação 15.000
Resultado operacional 138.000
Despesas financeiras 20.000
Resultado operacional líquido 118.000

a) 90.000,00
b) 120.000,00
c) 210.000,00
d) 25.000,00
e) 50.000,00

Finanças Empresariais 75
Capítulo 2

3) Considerando a demonstração de resultados do item anterior, pede-se apurar


o percentual total das despesas operacionais incorridas pela empresa MCT.

a) 25.000,00
b) 35.000,00
c) 20.000,00
d) 12.000,00
e) 50.000,00

Você pode ao longo deste capítulo observar a existência de diferentes


tipos de orçamentos. Dos itens a seguir, qual melhor se enquadra para a
utilização da programação de investimentos?

d) Orçamento de vendas.
e) Orçamento de custos de produção.
f) Orçamento de capital.
g) Orçamento estático.
h) Orçamento corrigido.

Onde encontrar

ANTHONY, R N.; GOVINDARAJAN, V. Sistemas de controle gerencial. São


Paulo: Atlas, 2001.

ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. São Paulo: Atlas, 2003.

______; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2009.

ATKINSON A. A. et. al. Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas, 2000.

BATEMAN, T. S.; SNELL, S. A. Administração: construindo vantagem


competitiva. São Paulo: Atlas, 1998.

BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo:


Atlas, 1989-1992.

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ed. Lisboa: McGraw-Hill, 1992-1997.

76 Finanças Empresariais
Capítulo 2

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Disponível em: <http://www.facef.br/rea/edicao01/ed01_art01.pdf>. Acesso:
18 out. 2010.

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Paulo: Atlas, 1997.

FREZATTI, F. Orçamento empresarial, planejamento e controle gerencial. São


Paulo: Atlas, 2000-2006.

GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. São Paulo: Habra, 1997-


2002.

______. Princípios de administração financeira essencial. São Paulo:


Bookman, 2001.

GOMES, J. S.; SALAS, J. M. A. Controle de gestão: uma abordagem contextual


e organizacional. São Paulo: Atlas, 2001.

GROPELLI, A. A.; NIKBAKHT, E. Administração financeira. 3 ed. . São Paulo:


Saraiva, 1998-2001.

HALLORAN, J. W. Porque os empreendedores falham. São Paulo: Makron


Books, 1994.

HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira


aplicada, estratégias financeiras e orçamento empresarial. São Paulo:
Atlas, 2008.

______; SILVA. H. A. Planejamento e controle financeiro: fundamentos e casos


práticos de orçamento empresarial. São Paulo: Atlas, 2010.

HORNGREN, C. Contabilidade de custos. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

LEMES JÚNIOR, A. B.; RIGO, C. M.; CHEROBIM, A. P. M. S. Administração


financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. Rio de Janeiro:
Elsevier; Campus, 2005.

Finanças Empresariais 77
Capítulo 2

LUNKES, R. J. Manual de orçamento. São Paulo: Atlas, 2007.

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MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 5. ed. São Paulo: Atlas,


2000.

MICHAELIS. Dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos,


2008.

MINTZBERG, H. Criando organizações eficazes: estruturas em cinco


configurações. São Paulo: Atlas, 1995.

NAKAGAWA, M. Introdução à controladoria: conceitos, sistemas,


implementação. São Paulo: Atlas, 1993.

OLIVEIRA, D. Estratégia empresarial: uma abordagem empreendedora. São


Paulo: Atlas, 1991.

OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico. 12. ed. São Paulo: Atlas, 1995.

PADOVEZE, C. L. Introdução à administração financeira: texto e exercícios.


São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.

PARSLOE, E.; WRIGHT, R. O orçamento. São Paulo: Nobel, 2001.

PREMCHAND, A.; ANTONAYA, A. Aspectos del presupuesto público.


Washington, DC: FMI, 1988.

ROSS, S. A., WERTERFIELD, R. W.; JORDAN, B. D. Princípios de administração


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______; JAFFE, J. F.; WESTERFIELD, R. Administração financeira. São Paulo:


Atlas, 2002.

SÁ, C. A; MORAES, J. R. Orçamento estratégico: uma visão. Rio de Janeiro:


Qualitymark, 2005.

SANVICENTE, A. Z. Administração financeira. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1997.

78 Finanças Empresariais
Capítulo 2

_______; SANTOS C. C. Orçamento na administração de empresas. 2. ed. São


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WELSCH, G. A. Orçamento empresarial. São Paulo: Atlas, 1986.

WESTON, J. F; BRIGHAM, E. F. Fundamentos da administração financeira. São


Paulo: Makron Books, 2000.

ZDANOWICZ, J. E. Planejamento financeiro e orçamento. Porto Alegre: Sagra


Luzzatto, 2001.

Finanças Empresariais 79
Capítulo 2

80 Finanças Empresariais
Capítulo 3

CAPÍTULO 3
MERCADO FINANCEIRO

3.1 Contextualizando
Este capítulo apresentará a estrutura do mercado financeiro, seus
principais agentes, as principais operações ativas e passivas e a aplicação dos
conceitos de taxas de juros inerentes a essas operações.

O texto mostrará como o mercado financeiro nos dias atuais se revela


de extrema importância, tanto para empresas quanto para pessoas físicas. É
sempre bom lembrar que quanto maior a nossa compreensão, maior será o
nosso desafio.

Serão apresentadas noções da dinâmica do mercado financeiro, de que


modo as decisões da política econômica interferem na dinâmica do mesmo,
e também uma visão geral das operações mais utilizadas pelas empresas,
sejam elas na ponta ativa, sejam na ponta passiva. Você perceberá quão
abrangente é o campo de aplicação das informações contidas neste capítulo
e os desafios que o administrador financeiro enfrenta no seu dia-a-dia para
pô-las em prática.

Espera-se que, ao final do estudo, você seja capaz de descrever o


mercado financeiro e suas implicações na gestão financeira das empresas.
Principalmente, que você consiga visualizar por que este assunto é apresentado
nesta disciplina.

Finanças Empresariais 81
Capítulo 3

3.2 Conhecendo a teoria

3.2.1 Mercado financeiro – conceito

O que vem a ser o mercado financeiro? Antes de responder a esta


pergunta, você precisa viajar pelo túnel do tempo. Vamos lá!

Pinheiro (2008) descreve o processo de origem e evolução da moeda em


cinco fases, conforme apresentado na figura 1.

Era da troca
de mercadorias

Era da
mercadoria moeda

Era da moeda
metálica

Era da moeda
papel

Era da moeda
escritural

Figura 1 - Origem e evolução da moeda


Fonte: adaptada de Pinheiro (2008).

Nem sempre as trocas entre os agentes econômicos se deram com


utilização da moeda. Nos primórdios da humanidade, as operações eram
pautadas em processos de troca direta de produtos, denominados “escambo”,
que objetivam atender às necessidades de consumo imediato. Todavia,
segundo Pinheiro (2008), o escambo trazia alguns inconvenientes:

• o custo para se manter em estoque os ativos reais;


• dificuldade de especialização e divisão do trabalho;
• perda da eficiência na alocação dos recursos.

82 Finanças Empresariais
Capítulo 3

Você já se imaginou vivendo num mundo sem moeda, sem cartão de


débito ou crédito? Numa fase seguinte, imagine então trocar alguns bois por
sacas de arroz ou sal. Qual era a base, a referência de valores? Complicado,
não é? Segundo Securato (2007), existem registros na história da utilização
de outras mercadorias, tais como conchas, pérolas, chá, couro, açúcar e fumo.

Os primeiros registros do uso de moedas metálicas datam do século


VII a.C., quando eram cunhadas na Lídia, reino da Ásia Menor, e também na
região do Peloponeso, ao sul da Grécia.

O dinheiro de papel foi utilizado primeiramente na China, durante a


Dinastia Ming. Durante muitos anos o dinheiro de papel foi lastreado em
reservas de ouro – “padrão ouro”, que em 1973 foi descartado. Em qualquer
país, somente o Banco Central tem autorização para emitir papel-moeda.

Nos dias atuais, como os bancos apresentam a capacidade de criar moeda,


ou seja, do total dos depósitos recebidos pelo banco, uma parte os bancos
empresta para outros clientes cobrando juros. Essa condição é denominada
moeda escritural.

CURIOSIDADE
De 1º de novembro de 1942 até os dias atuais,
o Brasil teve oito padrões monetários: cruzeiro,
cruzeiro novo, cruzeiro, cruzado, cruzado novo,
cruzeiro, cruzeiro real e, por fim, o real. Se você
quiser saber mais sobre a história da moeda
em nosso país, acesse o site do Banco Central:
<http://www.bcb.gov.br/?MUSEU>.

Voltemos ao mercado financeiro.

Para muitos autores, o mercado financeiro é considerado como sendo o


conjunto de operações financeiras que são realizadas em um ou entre vários
países, tendo por objeto dinheiro, capitais, moedas e seguros. Securato (2007)
entende que o mercado não diz respeito apenas às operações, mas também ao
conjunto de instituições ocupadas com o fluxo de recursos monetários entre
os agentes econômicos.

Finanças Empresariais 83
Capítulo 3

Como qualquer mercado, o mercado financeiro também tem suas figuras


básicas, que são os compradores (tomadores de empréstimos), vendedores
(poupadores) e os intermediários financeiros (instituições financeiras). A
representação expressa no esquema a seguir detalha isso:

Setores Oferta de Intermediários Demanda de Setores


superavitários recursos financeiros recursos deficitários

Figura 2 - Representação da dinâmica do mercado financeiro

Como você leu anteriormente, o mercado financeiro envolve operações


com diferentes ativos, e da mesma forma que outros mercados, é necessário
segmentá-lo para melhor compreendê-lo.

Securato (2007) afirma que o processo de intermediação financeira


contempla cinco subdivisões:

• mercado monetário;
• mercado de crédito;
• mercado de câmbio;
• mercado de capitais;
• outros mercados (seguros).

O mercado monetário envolve operações de curto e curtíssimo prazos,


proporcionando um rápido controle da liquidez da economia e das taxas básicas
de juros, conforme as metas estabelecidas pelas autoridades monetárias para
a execução da política econômica.

O mercado de crédito é constituído basicamente por bancos comerciais e


sociedades financeiras, que realizam operações de financiamento de curto e médio
prazos, direcionados aos ativos permanentes e ao capital de giro das empresas.

O mercado cambial contempla operações que envolvem a troca de


moeda de um país pela de outro, com a finalidade de suportar as transações
inerentes ao comércio internacional de bens e serviços, bem como as operações
de empréstimos e financiamentos de agentes econômicos de um país para os
agentes econômicos de outros países.

84 Finanças Empresariais
Capítulo 3

O mercado de capitais contempla as operações com ações que em geral têm


prazo indeterminado e operações financeiras de médio e longo prazos, especialmente
as de financiamento do capital de giro e do investimento das empresas.

O mercado de seguros é um segmento surgido pela necessidade que


as pessoas e as empresas têm de se associar para suportar de forma coletiva
as perdas individuais. Integra o mercado financeiro porque as seguradoras
captam recursos coletivamente junto aos agentes, com a finalidade de ressarcir
as perdas que vierem a acontecer.

Para que estes mercados funcionem adequadamente, é necessária a


atuação de órgãos regulamentadores, com leis específicas que visam resguardar
os direitos e estabelecer os deveres de cada agente econômico. A esse conjunto
de órgãos, entidades e empresas dá-se o nome Sistema Financeiro Nacional.

3.2.2 Estrutura do mercado financeiro

Histórico

O Sistema Financeiro Nacional teve sua primeira experiência com a vinda


da Família Real para o Brasil em 1808, quando D. João VI criou o 1° Banco
do Brasil, falido logo em seguida, em virtude do monarca ter levado para
Portugal, quando do seu retorno, todo o lastro de ouro nele depositado.

Após a independência, foram criados vários bancos pelo Brasil, iniciando-se


pelo Banco do Ceará (1836) e prosseguindo por bancos no Rio de Janeiro, Maranhão
e Pernambuco. Em 1845 foi fundado o 3° Banco do Brasil (o 2° não chegou a entrar
em funcionamento). A partir de então, houve um acentuado crescimento da
intermediação financeira, inclusive com a instalação de bancos estrangeiros.

Já no século XX, no período entre guerras, houve um grande aumento do


número de matrizes e agências bancárias. A captação de recursos e os empréstimos
concedidos pelos bancos comerciais cresceram de forma bastante acentuada.

No período compreendido entre 1945 e 1964, o sistema financeiro


foi objeto de diversas transformações. Como principal inovação, ocorreu a
implantação de um órgão normativo de assessoria, controle e fiscalização
do sistema financeiro: a Superintendência da Moeda e do Crédito, SUMOC,
precursor do Banco Central. Outra criação importante foi o Banco Nacional de

Finanças Empresariais 85
Capítulo 3

Desenvolvimento Econômico, BNDE, que passou a exercer a função de fomento,


suprindo a demanda por crédito a longo prazo. Foram criadas instituições
destinadas ao apoio a regiões carentes, ou seja, o Banco do Nordeste do Brasil,
o Banco de Crédito da Amazônia e o Banco Regional de Desenvolvimento
do Extremo-Sul. Os anos de 1964-65 foram os anos das reformas no sistema
financeiro, com a promulgação de três leis:

• Lei n. 4.380/64, que instituiu a correção monetária nos contratos


imobiliários de interesse social e institucionalizou o Sistema Financeiro
de Habitação, criando o Banco Nacional de Habitação;

• Lei n. 4.595/64, que foi a base de uma verdadeira reforma bancária,


criando o Banco Central do Brasil e o Conselho Monetário Nacional;

• Lei n. 4.728/65, que disciplinou o funcionamento do mercado de


capitais e estabeleceu medidas para seu desenvolvimento.

Com essas alterações, o sistema financeiro brasileiro ampliou e diversificou


o número de intermediários financeiros, com áreas de atuação específicas e
determinadas, abrindo-se um novo leque de opções de ativos financeiros.

Na década seguinte, ocorreu grande mudança no mercado de capitais


com a promulgação das Leis n. 6.385/76 e 6.404/76. A primeira criou a
Comissão de Valores Mobiliários, órgão normativo do mercado de capitais,
que substituiu o Departamento de Mercado de Capitais do Banco Central do
Brasil. A segunda estabeleceu a nova legislação das sociedades anônimas. Em
2001 foi promulgada a Lei n. 10.303, que consolidou dispositivos das leis da
CVM e das S/A, melhorando a proteção aos minoritários.

Estrutura atual

A estrutura atual do Sistema Financeiro Nacional resulta essencialmente


da estrutura criada a partir de 1964, não modificada com a aprovação da nova
constituição, em 1988. A norma constitucional estabeleceu em seu artigo 192
que lei complementar regulamentaria o sistema financeiro – esta, porém, não
foi aprovada até hoje. No momento atual, existem alguns projetos de lei em
tramitação no Congresso Nacional que, quando aprovados, deverão modificar
substancialmente o sistema financeiro.

86 Finanças Empresariais
Capítulo 3

O Sistema Financeiro Nacional é constituído por um subsistema normativo


e por outro operativo (intermediação).

COMPOSIÇÃO
ORGÃOS ENTIDADES
OPERADORES
NORMATIVOS SUPERVISORAS
Demais
Instituições instituições
Banco Central do financeiras financeiras
Conselho Brasil – Bacen captadoras de Outros intermediários
Bancos de
monetario depósitos à vista financeiros e administradores
câmbio
nacional – CMN de recursos de terceiros
Bolsas de
Comissão de Valores Bolsas de
mercadorias e
Monetários – CVM valores
futuros
Conselho Entidades
Superintendência
Nacional de Sociedades Sociedades de abertas de
de Seguros Privados Resseguradoras
Seguros Privados seguradoras capitalização previdência
– Susep
– CNSP complementar
Conselho Superintendência
Nacional de Nacional de
Entidades fechadas de previdência complementar
Previdência Previdência
(fundos de pensão)
Complementar – Complementar –
CNPC PREVIC
Quadro 1 - Estruturas do SFN
Fonte: Bacen (2010).

Você deve estar se perguntando o que são estes subsistemas. Acalme-


se. Você conhecerá a partir de agora cada um deles de forma detalhada.

O subsistema normativo regula e controla o subsistema operativo por


meio de normas legais. No quadro 2 estão destacados os órgãos. Num primeiro
nível estão o CMN, o CNSP e o CNPC, e num segundo nível tem-se o BACEN, a
CVM, A SUSEP e a PREVIC.

O subsistema operativo é constituído pelas instituições públicas


e privadas, que atuam no mercado financeiro, tendo como atividade
principal, ou acessória, a coleta, a intermediação ou a aplicação de recursos
financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira,
ou ainda a custódia de valor de propriedade de terceiros, conforme o art.
17 da Lei n. 4.595/64.

Finanças Empresariais 87
Capítulo 3

EXPLORANDO
Conheça um pouco mais sobre cada uma dessas
organizações. As informações aqui contidas
estão acessíveis no site do BACEN. Acesse:
<www.bcb.gov.br>.

Conselho Monetário Nacional

O CMN é o conselho de política econômica do país, responsável pela


fixação das diretrizes da política monetária, creditícia e cambial. Atualmente,
seu presidente é o próprio Ministro da Fazenda.

A partir da implementação do Plano Real, em 1994, criado pela medida


provisória n. 542, foi simplificada a composição do CMN, que passou a ser
integrado pelos seguintes membros:

• Ministro da Fazenda (Presidente);


• Ministro do Planejamento;
• Presidente do BACEN.

Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP

Órgão responsável por fixar as diretrizes e normas da política de


seguros privados. É composto pelo Ministro da Fazenda (presidente),
representante do Ministério da Justiça, representante do Ministério da
Previdência Social, Superintendente da Superintendência de Seguros
Privados, representante do Banco Central do Brasil e representante da
Comissão de Valores Mobiliários.

Conselho Nacional de Previdência Complementar – CNPC

É um órgão colegiado que integra a estrutura do Ministério da Previdência


Social, cuja competência é regular o regime de previdência complementar operado
pelas entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão). Mais
informações podem ser encontradas no endereço <www.previdenciasocial.gov.br>.

Como você pode perceber, estes órgãos são auxiliados em suas atividades
por outras entidades públicas. Conhecer um pouco mais do papel destas é

88 Finanças Empresariais
Capítulo 3

importante para uma melhor compreensão da dinâmica do mercado financeiro.


Normalmente, são chamadas de instituições auxiliares ou supervisoras.

A primeira delas você deve ter mais familiaridade, é o Banco Central do


Brasil, também chamado de BACEN, responsável pela execução das normas
que regulam o SFN. Suas atribuições são agir como:

• banco dos bancos;


• gestor do SFN;
• executor da política monetária;
• banco emissor;
• banqueiro do governo.

Uma segunda entidade é a CVM – Comissão de Valores Mobiliários. É


também uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, instituída pela
Lei n. 6.385, de 7 de dezembro de 1976. É responsável por regulamentar,
desenvolver, controlar e fiscalizar o mercado de valores mobiliários do país.
Mais informações poderão ser encontradas no endereço <www.cvm.gov.br>.

EXPLORANDO
Acesse o site <www.portaldoinvestidor.gov.br>.
Lá, entre no menu ”Desafios“. São cinco. De
uma forma divertida, você poderá testar seus
conhecimentos sobre o mercado. Peço a você que
faça o nível iniciante neste momento e ao final
deste módulo, busque resolver o nível avançado.

Uma terceira entidade é a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP),


autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, responsável pelo controle e
fiscalização do mercado de seguros, previdência privada aberta e capitalização.

Uma quarta e última entidade é a Superintendência Nacional de


Previdência Complementar (PREVIC), autarquia vinculada ao Ministério da
Previdência Social, responsável por fiscalizar as atividades das entidades
fechadas de previdência complementar (fundos de pensão). A Previc atua
observando as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional
e pelo Conselho Nacional de Previdência Complementar. Mais informações
podem ser encontradas no endereço <www.previdenciasocial.gov.br>.

Finanças Empresariais 89
Capítulo 3

Agora que você já sabe quem são os xerifes do mercado financeiro,


deverá conhecer um pouco mais sobre as instituições que interagem no
mercado e afetam o seu dia-a-dia de forma mais direta. Trata-se do subsistema
operativo. Você com certeza já deve ter tido contato com pelo menos duas
ou mais instituições. Na hora de contratar um empréstimo pessoal, um
cheque especial, um cartão de crédito, um seguro, um financiamento de
veículo ou imóvel, você provavelmente acessou algumas delas. Então vamos
lá, pois o caminho é longo. O primeiro grupo concentra as instituições que
são captadoras de depósitos à vista.

Alexandre Beck

Figura 3 - Instituições financeiras

Os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou públicas que


têm como objetivo principal proporcionar suprimento de recursos necessários
para financiar, a curto e médio prazos, o comércio, a indústria, as empresas
prestadoras de serviços, as pessoas físicas e terceiros em geral.

Os bancos múltiplos são instituições financeiras privadas ou públicas


que realizam as operações ativas, passivas e acessórias das diversas instituições
financeiras, por intermédio das seguintes carteiras: comercial, de investimento
e/ou de desenvolvimento, de crédito imobiliário, de arrendamento mercantil
e de crédito, financiamento e investimento. A carteira de desenvolvimento
somente poderá ser operada por banco público.

Segundo dados do BACEN, conforme a tabela a seguir, temos mais de


uma centena só de bancos comerciais e múltiplos.

90 Finanças Empresariais
Capítulo 3

Veja:
Banco Central do Brasil

Diretoria de Normas e Organização do Sistema Financeiro

Departamento de Organização do Sistema Financeiro

Tabela 1 - Quantitativo de instituições autorizadas a funcionar


QUANTITATIVO DE INSTITUIÇÕES AUTORIZADAS A FUNCIONAR
2006 2007 2008 2009
TIPO
DEZ DEZ DEZ DEZ
Banco Múltiplo 137 135 140 139

Banco Comercial1/ 21 20 19 18

Banco de Desenvolvimento 4 4 4 4

Caixa Econômica 1 1 1 1

Banco do Investimento 18 17 17 16

Sociedade de CFI 51 52 55 59

Sociedade Corretora de TVM 116 107 107 105

Sociedade Corretora do Câmbio 48 46 45 45

Sociedade Distribuidora de TVM 133 135 135 125

Sociedade de Arrendamento Mercantil 41 38 36 33

Sociedade de Crédito Imobiliário, 18 18 16 16


Associação de Poupança e Empréstimo
e Sociedade de Crédito Imobiliário
Repassadora2/

Companhia Hipotecária 6 6 6 6

Agência de Fomento3/ 12 12 12 14

subtotal 606 591 592 591


Fonte: Unicad/Bacen (2010).

A Caixa Econômica Federal, criada em 1861, está regulada pelo


Decreto-Lei n. 759, de 12 de agosto de 1969, como empresa pública vinculada
ao Ministério da Fazenda. Trata-se de instituição semelhante aos bancos
comerciais, podendo captar depósitos à vista, realizar operações ativas e
efetuar prestação de serviços. Ela detém os monopólios do empréstimo sob
penhor de bens pessoais e sob consignação e da venda de bilhetes de loteria
federal. Além de centralizar o recolhimento e posterior aplicação de todos
os recursos oriundos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS),

Finanças Empresariais 91
Capítulo 3

integra o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e o Sistema


Financeiro da Habitação (SFH). Mais informações podem ser encontradas
no endereço <www.caixa.gov.br>.

As cooperativas de crédito observam, além da legislação e normas do


sistema financeiro, a Lei n. 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que define a
política nacional de cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades
cooperativas. Atuando tanto no setor rural quanto no urbano, as cooperativas
de crédito podem se originar da associação de funcionários de uma mesma
empresa ou grupo de empresas, de profissionais de determinado segmento,
de empresários ou mesmo adotar a livre admissão de associados em uma área
determinada de atuação, sob certas condições.

Tabela 2 - Instituições autorizadas a funcionar no Brasil


QUANTITATIVO DE INSTITUIÇÕES AUTORIZADAS A FUNCIONAR
2006 2007 2008 2009
TIPO
DEZ DEZ DEZ DEZ
Cooperativa de Crédito 1.452 1.465 1.453 1.405

Sociedade de Crédito ao 56 52 47 45
Microempreendedor4/

subtotal 2.114 2.108 2.092 2.031

Consórcio 333 329 317 308

Total 2.447 2.437 2.409 2.339


Fonte: Unicad/Bacen (2010).

1/ Inclui as Filiais de bancos estrangeiros


2/ Inclui Sociedades de Crédito Imobiliário Repassadoras (SCIR)
que não podem captar recursos junto ao público
3/ Em Jan/1999 foi constituída a primeira Agência de Fomento,
nos termos da Resolução 2.574/98
4/ Em Out/1999 foi constituída a primeira SCM, nos termos da
Resolução 2.627/99

Um segundo grupo é composto por diferentes instituições, umas atuam


na área de crédito e financiamento, outras no fomento e desenvolvimento
econômico. Você tinha conhecimento de tamanha diversificação do sistema?
Se a resposta for negativa, não se preocupe, isso não é privilégio seu. Vamos
então conhecê-las.

92 Finanças Empresariais
Capítulo 3

Alexandre Beck
As associações de poupança e
empréstimo são constituídas sob a forma
de sociedade civil, sendo de propriedade
comum de seus associados. Suas operações
ativas são, basicamente, direcionadas
ao mercado imobiliário e ao Sistema
Financeiro da Habitação (SFH).

Os bancos de câmbio são instituições


financeiras autorizadas a realizar,
sem restrições, operações de câmbio
Figura 4 - A poupança
e operações de crédito vinculadas às
de câmbio, tais como financiamentos à exportação e importação e
adiantamentos sobre contratos de câmbio, e ainda receber depósitos em
contas sem remuneração, não movimentáveis por cheque ou por meio
eletrônico pelo titular, cujos recursos sejam destinados à realização das
operações citadas.

Ainda no segmento cambial, temos as sociedades corretoras de


câmbio, constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por quotas de
responsabilidade limitada, devendo constar na sua denominação social
a expressão “Corretora de Câmbio”. Têm por objeto social exclusivo a
intermediação em operações de câmbio e a prática de operações no
mercado de câmbio de taxas flutuantes.

Os bancos de investimento são instituições financeiras privadas


especializadas em operações de participação societária de caráter temporário,
de financiamento da atividade produtiva para suprimento de capital fixo, de
giro e de administração de recursos de terceiros. As principais operações ativas
são financiamento de capital de giro e capital fixo, subscrição ou aquisição
de títulos e valores mobiliários, depósitos interfinanceiros e repasses de
empréstimos externos (Resolução CMN 2.624, de 1999).

No segmento de fomento ao desenvolvimento regional e nacional,


temos a presença de três entidades representativas. As agências de fomento
têm como objeto social a concessão de financiamento de capital fixo e de
giro associado a projetos na Unidade da Federação onde tenham sede.

Finanças Empresariais 93
Capítulo 3

Você conhece a agência de fomento de seu Estado? Procure se informar!

Os bancos de desenvolvimento são instituições financeiras controladas


pelos governos estaduais, e têm como objetivo proporcionar o suprimento
oportuno e adequado dos recursos necessários ao financiamento, em
médio e longo prazos, de programas e projetos que visem a promover o
desenvolvimento econômico e social do respectivo Estado.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),


criado em 1952 como autarquia federal, foi enquadrado como uma
empresa pública federal, com personalidade jurídica de direito privado
e patrimônio próprio, pela Lei 5.662, de 21 de junho de 1971. Suas
linhas de apoio contemplam financiamentos de longo prazo e custos
competitivos, para o desenvolvimento de projetos de investimentos e
para a comercialização de máquinas e equipamentos novos, fabricados no
país, bem como para o incremento das exportações brasileiras. Contribui,
também, para o fortalecimento da estrutura de capital das empresas
privadas e desenvolvimento do mercado de capitais.

Mais informações podem ser encontradas no endereço <www.bndes.


gov.br>.

EXPLORANDO
No site do BNDES, acesse o link trein@bndes.
Nele você terá acesso a um curso on-line sobre as
principais operações do banco. Ao concluir, você
com certeza perceberá que o seu conhecimento
financeiro foi enriquecido.

Mas se você acha que são apenas esses os agentes do mercado, está
enganado. Temos muito caminho pela frente.

As companhias hipotecárias são instituições financeiras constituídas


sob a forma de sociedade anônima, que têm por objeto social conceder
financiamentos destinados à produção, reforma ou comercialização de
imóveis residenciais ou comerciais aos quais não se aplicam as normas do

94 Finanças Empresariais
Capítulo 3

Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Tais entidades têm como operações


especiais a administração de créditos hipotecários de terceiros e de fundos de
investimento imobiliário (Resolução CMN 2.122, de 1994).

As sociedades de crédito imobiliário são instituições financeiras criadas pela


Lei 4.380, de 21 de agosto de 1964, para atuar no financiamento habitacional.
Constituem operações passivas dessas instituições os depósitos de poupança,
a emissão de letras e cédulas hipotecárias e depósitos interfinanceiros.As
sociedades de crédito, financiamento e investimento, também conhecidas
por financeiras, foram instituídas pela Portaria do Ministério da Fazenda 309,
de 30 de novembro de 1959. São instituições financeiras privadas que têm
como objetivo básico a realização de financiamento para a aquisição de bens,
serviços e capital de giro. Tais entidades captam recursos por meio de aceite
e colocação de Letras de Câmbio (Resolução CMN 45, de 1966) e Recibos de
Depósitos Bancários (Resolução CMN 3.454, de 2007).

As sociedades de crédito ao microempreendedor, criadas pela Lei 10.194,


de 14 de fevereiro de 2001, são entidades que têm por objeto social exclusivo
a concessão de financiamentos e a prestação de garantias a pessoas físicas,
bem como a pessoas jurídicas classificadas como microempresas, com vistas a
viabilizar empreendimentos de natureza profissional, comercial ou industrial
de pequeno porte.

No segmento de mercado de capitais, as entidades representativas são: as


bolsas de mercadorias e futuros, as bolsas de valores, as sociedades corretoras
e as distribuidoras de valores mobiliários.

As bolsas de mercadorias e futuros são associações privadas civis,


com objetivo de efetuar o registro, a compensação e a liquidação, física e
financeira, das operações realizadas em pregão ou em sistema eletrônico.
Possuem autonomia financeira, patrimonial e administrativa e são fiscalizadas
pela Comissão de Valores Mobiliários.

As bolsas de valores são sociedades anônimas ou associações civis,


com o objetivo de manter local ou sistema adequado ao encontro de seus
membros e à realização entre eles de transações de compra e venda de títulos
e valores mobiliários, em mercado livre e aberto, especialmente organizado
e fiscalizado por seus membros e pela Comissão de Valores Mobiliários.

Finanças Empresariais 95
Capítulo 3

SAIBA QUE
No Brasil, em 2008, a Bolsa de Mercadorias e
Futuros (BMF) e a Bolsa de Valores de São Paulo
(BOVESPA) fundiram-se em única bolsa, que
está estruturada na forma de companhia de
capital aberto? Hoje é a única bolsa de valores,
mercadorias e futuros em operação no país.
Ela oferece uma série de cursos gratuitos pela
internet. Visite o site: <www.bovespa.com.br>.

As sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários são


constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por quotas de
responsabilidade limitada. Dentre seus objetivos, destacam-se: operar em
bolsas de valores, subscrever emissões de títulos e valores mobiliários no
mercado; comprar e vender títulos e valores mobiliários por conta própria
e de terceiros; encarregar-se da administração de carteiras e da custódia
de títulos e valores mobiliários; instituir, organizar e administrar fundos e
clubes de investimento; emitir certificados de depósito de ações e cédulas
pignoratícias de debêntures; operar em bolsas de mercadorias e de futuros
por conta própria e de terceiros. São supervisionadas pelo Banco Central
do Brasil (Resolução CMN 1.655, de 1989). A normatização, concessão de
autorização, registro e a supervisão dos fundos de investimento são de
competência da Comissão de Valores Mobiliários.

As sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários


são constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por quotas de
responsabilidade limitada, devendo constar na sua denominação social
a expressão “Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários”. Algumas de
suas atividades: intermedeiam a oferta pública e distribuição de títulos e
valores mobiliários no mercado; administram e custodiam as carteiras de
títulos e valores mobiliários; instituem, organizam e administram fundos
e clubes de investimento; operam no mercado acionário, comprando,
vendendo e distribuindo títulos e valores mobiliários, inclusive ouro
financeiro, por conta de terceiros; fazem a intermediação com as bolsas
de valores e de mercadorias; São supervisionadas pelo Banco Central do
Brasil (Resolução CMN 1.120, de 1986).

96 Finanças Empresariais
Capítulo 3

No segmento de seguros, previdência privada e capitalização,


encontramos algumas instituições. Primeiramente, os resseguradores são
entidades constituídas sob a forma de sociedades anônimas, que têm por
objeto exclusivo a realização de operações de resseguro e retrocessão. O
Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) é empresa resseguradora vinculada
ao Ministério da Fazenda.

Alexandre Beck
As sociedades seguradoras são
também entidades constituídas sob a forma
de sociedades anônimas, especializadas em
pactuar contrato, por meio do qual assumem
a obrigação de pagar ao contratante
(segurado), ou a quem este designar, uma
indenização, no caso em que advenha o risco
indicado e temido, recebendo, para isso, o
prêmio estabelecido.

As entidades abertas de previdência Figura 5 - Sociedades seguradoras e o segurado


complementar são entidades constituídas
unicamente sob a forma de sociedades anônimas e têm por objetivo instituir
e operar planos de benefícios de caráter previdenciário concedidos em forma
de renda continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas
físicas. São regidas pelo Decreto-Lei 73, de 21 de novembro de 1966, e pela Lei
Complementar 109, de 29 de maio de 2001. As funções do órgão regulador e
do órgão fiscalizador são exercidas pelo Ministério da Fazenda, por intermédio
do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e da Superintendência de
Seguros Privados (SUSEP).

As entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) são


organizadas sob a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos e são
acessíveis, exclusivamente, aos empregados de uma empresa ou grupo de empresas
ou aos servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, entes
denominados patrocinadores ou aos associados ou membros de pessoas jurídicas de
caráter profissional, classista ou setorial, denominadas instituidores. As entidades
de previdência fechada devem seguir as diretrizes estabelecidas pelo Conselho
Monetário Nacional, por meio da Resolução 3.121, de 25 de setembro de 2003, no
que tange à aplicação dos recursos dos planos de benefícios. Também são regidas
pela Lei Complementar 109, de 29 de maio de 2001.

Finanças Empresariais 97
Capítulo 3

As sociedades de capitalização são entidades, constituídas sob


a forma de sociedades anônimas, que negociam contratos (títulos de
capitalização) que têm por objeto o depósito periódico de prestações
pecuniárias pelo contratante, o qual terá, depois de cumprido o prazo
contratado, o direito de resgatar parte dos valores depositados corrigidos
por uma taxa de juros estabelecida contratualmente, conferindo, ainda,
quando previsto, o direito de concorrer a sorteios de prêmios em dinheiro.

As administradoras de consórcio são pessoas jurídicas prestadoras


de serviços relativos à formação, organização e administração de grupos
de consórcio, cujas operações estão estabelecidas na Lei 5.768, de 20 de
dezembro de 1971. Ao Banco Central do Brasil (BACEN), por força do
disposto no art. 33 da Lei 8.177, de 1º de março de 1991, cabe autorizar
a constituição de grupos de consórcio a pedido de administradoras
previamente constituídas sem interferência expressa da referida autarquia,
mas que atendam a requisitos estabelecidos, particularmente quanto à
capacidade financeira, econômica e gerencial da empresa. Também cabe
ao BACEN fiscalizar as operações da espécie e aplicar as penalidades
cabíveis.

As sociedades de arrendamento mercantil são constituídas sob


a forma de sociedade anônima, devendo constar obrigatoriamente
na sua denominação social a expressão “Arrendamento Mercantil”. As
operações passivas dessas sociedades são emissão de debêntures, dívida
externa, empréstimos e financiamentos de instituições financeiras. Suas
operações ativas são constituídas por títulos da dívida pública, cessão de
direitos creditórios e, principalmente, por operações de arrendamento
mercantil de bens móveis, de produção nacional ou estrangeira, e bens
imóveis adquiridos pela entidade arrendadora para fins de uso próprio do
arrendatário. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Resolução
CMN 2.309, de 1996).

Pois bem, agora que você conhece os principais agentes normativos


e operativos, precisará saber identificar os principais instrumentos da
política econômica que influenciam o dia-a-dia do mercado financeiro.

98 Finanças Empresariais
Capítulo 3

3.2.3 Política econômica

Cavalcante e Misumi (2001) ressaltam que o Estado tem a seu dispor


uma série de instrumentos que envolvem uma série de variáveis econômicas,
que têm por finalidade a promoção do desenvolvimento econômico, além do
atendimento das necessidades de bens e serviços da sociedade. Respondem
ainda pela garantia do emprego e pela estabilidade dos preços. A este conjunto
de instrumentos denominamos política econômica.

Em perspectiva complementar, Fortuna (2005) afirma que além dos


objetivos enunciados por Cavalcante e Misumi, devem ser considerados o
controle da inflação e a distribuição da riqueza e renda.

Sintetizando, pode-se afirmar que é a ação governamental que envolve o


complexo sistema de aspirações da sociedade, incluindo itens como segurança
nacional e política. Seus objetivos, portanto, são o crescimento econômico, a
estabilidade econômica e a equitatividade.

Os principais instrumentos de política econômica podem ser segregados


em outras políticas, a saber:

• política monetária;
• política fiscal;
• política cambial;
• política de rendas.

A partir deste momento, espero que você perceba como estes diferentes
instrumentos impactam a economia de um país em diferentes horizontes de tempo.

Política monetária

A política monetária envolve, segundo Fortuna (2005), o controle da oferta


da moeda e das taxas de juros de curto prazo, tendo por premissa a garantia da
liquidez da economia. A responsabilidade da condução da política monetária
compete ao BACEN, que poderá adotar quatro instrumentos. Vejamos.

Cavalcante e Misumi (2001), Assaf Neto (2001) e Fortuna (2005) ressaltam


que os recolhimentos compulsórios se constituem em percentual cobrado
sobre os depósitos à vista e/ou a prazo pela rede bancária.

Finanças Empresariais 99
Capítulo 3

Se a autoridade monetária desejar expandir o volume de recursos


na economia, promoverá a redução do percentual. Caso contrário, se ela
expandir o percentual, objetiva controlar a demanda agregada. É um
instrumento utilizado em horizontes de tempo mais longos.

Segundo Assaf Neto (2001), o Banco Central costuma realizar diversos


empréstimos de assistência à liquidez ou redesconto às instituições
financeiras. Normalmente, estas operações somente são realizadas em caso
mais graves, pois em princípio o próprio mercado financeiro, por meio de
operações no mercado interbancário, atende às necessidades momentâneas
de caixa das instituições. O redesconto, portanto, tem uma característica
punitiva.

Você deve compreender que uma taxa de redesconto mais elevada


desestimula os bancos comerciais a tomarem empréstimos, reduzindo
a oferta de moeda. De modo contrário, uma taxa de redesconto menor
incentiva os bancos a tomarem empréstimos e aumenta a quantidade de
oferta de moeda na economia.

Em essência, as operações de mercado aberto consistem em vendas ou


compras, por parte do Banco Central, de títulos governamentais no mercado
de capitais. Para aumentar a oferta de moeda na economia, o BC realiza a
compra de títulos do governo nos mercados de títulos do país.

Cada novo real mantido como moeda corrente aumenta a oferta de


moeda em exatamente um real. Cada novo real depositado em um banco
comercial aumenta a oferta de moeda numa magnitude maior, devido à
ação do multiplicador monetário.

Para reduzir a oferta de moeda, o BACEN faz justamente o contrário:


vende títulos do governo ao público, que paga em moeda corrente ou por
meio dos depósitos bancários que possui, reduzindo diretamente a oferta de
moeda da economia.

Um último instrumento utilizado pelo BACEN constitui-se em


intervenção direta deste no mercado de crédito, por meio do controle e
seleção dos recursos. Nesse sentido, é um instrumento de controle da oferta
monetária que se diferencia do trinômio “reservas, redesconto e mercado
aberto” em pelo menos três aspectos:

100 Finanças Empresariais


Capítulo 3

• alcança as operações de empréstimos de todo o sistema financeiro;


• condiciona diretamente, e não por vias indiretas, o volume e os custos
dos empréstimos do setor financeiro;
• atua sobre o conceito mais abrangente da oferta monetária, M4.

Política fiscal

Refere-se ao manejo das finanças públicas, isto é, às várias categorias


de receitas e de dispêndio das diferentes esferas do governo. As receitas
do governo provêm de tributos que incidem sobre diferentes atividades
econômicas: a produção e a circulação de mercadorias, a geração de
rendas, a transferência de propriedades, operações financeiras etc. As
despesas são com custeio da máquina burocrática, investimentos em
infra-estrutura, subsídios, juros da dívida pública, transferências etc.

Exercida essencialmente pelo Ministério da Fazenda, a política


fiscal refere-se aos instrumentos de que o governo dispõe para arrecadar
tributos (política tributária) e controlar suas despesas (política de gastos).

O quadro a seguir apresenta as principais medidas de política fiscal


passíveis de serem adotadas por um governo.

QUESTÕES A
DECISÕES CONSEQUÊNCIA
ENFRENTAR

Combate à Aumenta a carga tributária


Retração e/ou inibição do consumo
inflação Diminuição dos gastos públicos

Estímulo à Redução da carga tributária


Expansão do nível de emprego e maior consumo
economia Expansão dos gastos públicos

Seletividade
Distribuição Expansão econômica de regiões menos
Impostos progressivos
de renda favorecidas e aumento do consumo
Programas assistenciais
Quadro 2 - Medidas fiscais

Finanças Empresariais 101


Capítulo 3

DESAFIO
Você saberia dizer quantos impostos, taxas e
contribuições temos no Brasil hoje? Procure
listar pelo menos três impostos, taxas e/ou
contribuições. Caso você não saiba identificar,
acesse o site <www.receita.fazenda.gov.br>,
nele você identificará os tributos da esfera
federal. Se desejar conhecer os de seu estado,
acesse o site da Secretaria Estadual da Fazenda.

Política cambial

As relações econômicas internacionais envolvem diferentes unidades


monetárias nas transações realizadas. A exemplo, se dois países efetuam
transações econômicas entre si, necessariamente entram em jogo duas moedas,
havendo a necessidade de se fixar a relação de troca entre ambas. A isso se
chama taxa de câmbio.

A política cambial está baseada, segundo Assaf Neto (2001), na


administração das taxas de câmbio, e busca promover as alterações das
cotações das moedas. Normalmente, as operações que envolvem o mercado
são balizadas no dólar norte-americano e no euro.

Um conceito importante que você deve assimilar refere-se ao regime


cambial. Securato (2007) afirma serem três os regimes cambiais: fixo, flexível
e de bandas cambiais.

Caso você queira ampliar seu conhecimento, visite o site do Bacen:


<www.bcb.gov.br/?cambio>.

CURIOSIDADE
No site do BACEN, você pode fazer a conversão
de reais para 163 moedas de diferentes
países. Basta acessar o link e se divertir com os
resultados:
<www4.bcb.gov.br/pec/conversao/conversao.
asp?idioma=P>.

102 Finanças Empresariais


Capítulo 3

Política de rendas

Cavalcante e Misumi (2001) definem política de rendas como os


instrumentos de controle dos fatores de produção, tais como salários, encargos,
distribuição de lucros, dentre outros. Fortuna (2005) complementa dizendo ser
o exercício do controle direto sobre todo e qualquer fator de produção pelo
governo. Afirma ainda que a melhora dos níveis de renda é condição para
expansão do sistema financeiro nacional.

Agora que você já sabe como funciona a atuação das autoridades


monetárias na gestão do sistema financeiro, que tal aprofundar seus
conhecimentos sobre as principais operações existentes no mercado?

3.2.4 Operações ativas e passivas

Como você estudou no início do nosso módulo, as instituições


financeiras fazem o repasse dos recursos captados dos agentes econômicos
superavitários aos agentes econômicos deficitários.

Tem-se no mercado financeiro uma enorme variedade de produtos


disponíveis que se diferenciam em face de prazos, taxas, formas de
pagamento e garantias.

São identificadas nesta categoria as operações financeiras de


empréstimos e financiamentos de diferentes prazos, também chamadas de
operações ativas.

Por outro lado, existem as operações passivas das instituições


financeiras, que se constituem nas captações de recursos juntos às pessoas
físicas e jurídicas, financeiras ou não, para posterior empréstimo aos clientes
nas chamadas operações ativas.

Existem normas estabelecidas pelo Banco Central para essas


captações, que variam em função do depositante e do depositário.

Operações ativas

Como você pôde observar no item anterior, as operações ativas são


classificadas em empréstimos e financiamentos.

Finanças Empresariais 103


Capítulo 3

DESAFIO

Você saberia diferenciar uma operação de


empréstimo de uma operação de financiamento?

Pois bem, se não souber estabelecer a diferenciação, vou ajudá-lo.


Empréstimos são operações sem destinação específica; já os financiamentos
estão atrelados à aquisição de um bem, por exemplo: a compra de sua casa
própria ou a aquisição de uma máquina por parte de sua empresa.

Agora que você já sabe a diferença, serão apresentados os conceitos das


principais operações existentes no mercado. Cabe ressaltar que as definições
aqui expressas têm por referência Fortuna (2005).

Hot-Money – são operações de empréstimos de curtos e curtíssimos


prazos, normalmente de um a dez dias, utilizadas na cobertura de necessidades
mais perenes de caixa, por parte das empresas.

Por ser uma operação de curto prazo, o hot-money tem a vantagem de


permitir uma rápida mudança de posição no caso de uma variação brusca nas
taxas de juros para baixo. É também conhecida, conforme Fortuna (2005, p.
185), como o “seguro dos executivos financeiros contra o desemprego”.

Desconto de títulos – é uma operação de crédito típica do sistema


bancário, que envolve principalmente duplicatas, notas promissórias,
fatura de cartão de crédito e cheques pré-datados. A instituição concede
empréstimo mediante a garantia de um título representativo de um crédito
futuro.

Contas Garantidas/Cheques Especiais – consistem na abertura de uma


conta com limite de crédito garantido pela instituição financeira. O tomador
ou mutuário da operação saca recursos até o limite contratado, objetivando
suprir suas necessidades mais imediatas de caixa.

104 Finanças Empresariais


Capítulo 3

Sua movimentação é efetivada geralmente mediante a utilização de


cheques, podendo ser admitidos depósitos para cobrir ou reduzir o saldo
devedor existente. Os encargos financeiros são calculados sobre o saldo
que permanecer a descoberto e cobrados dos clientes, normalmente, ao no
primeiro dia útil do mês seguinte ao de movimentação.

Créditos rotativos – são linhas de crédito abertas pelas instituições


financeiras que objetivam o financiamento das necessidades de curto
prazo (capital de giro) das empresas e são movimentadas por meio de
cheques. Diferenciam-se das operações de conta garantida, por serem
operadas normalmente com garantias de duplicatas (caução). O limite é
definido com base num percentual calculado sobre o valor caucionado e
conforme as duplicatas são resgatadas pelos sacados, o cedente deverá
providenciar a substituição destas por outras de forma a manter o limite
e a rotatividade de crédito concedido. Os encargos (juros e IOF) são
cobrados de acordo com a utilização dos recursos, da mesma forma que
nas contas garantidas.

Leasing – a operação de leasing ou arrendamento mercantil pode


ser compreendida como uma forma especial de financiamento. Consiste
na celebração de um contrato de arrendamento (aluguel) efetuado entre
um cliente (arrendatário) e uma sociedade de arrendamento mercantil
(arrendadora), objetivando a utilização, por parte do primeiro, do bem
especificado no contrato durante prazo determinado, cujo pagamento
é efetuado na forma de “aluguel”. Diferencia-se conceitualmente do
aluguel em virtude de possibilitar ao arrendatário a opção de adquirir
o bem, de forma definitiva ao final do contrato, mediante o pagamento
de valor residual garantido (VRG). Pode ser realizado em três diferentes
modalidades.

O leasing operacional constitui-se na locação de um bem. A empresa,


manifestando interesse em adquirir o bem, pagará pelo mesmo o seu
preço de mercado.

O leasing-back, modalidade praticada por empresas carentes


de recursos de longo prazo para investimentos em giro. A empresa
tomadora de recursos, proprietária de um bem, por meio de um único
contrato de arrendamento, vende para a sociedade de leasing o ativo e
simultaneamente o arrenda.

Finanças Empresariais 105


Capítulo 3

O leasing financeiro, ou modalidade clássica, caracteriza-se pelo


pagamento de prestações ou contraprestações mensais, iguais e sucessivas,
embora não haja impedimento de outras formas de pagamento. O valor
residual garantido é uma constante nesta modalidade.

Vendor – é uma operação de crédito em que uma instituição financeira


paga à vista a uma empresa os direitos relativos às vendas realizadas e
recebidos em cessão, em troca de uma taxa de juros de intermediação, pré-
fixada. A figura 3 retrata o fluxo de uma operação de vendor.

Sem o vendor
à vista R$ 100,00
Empresa ou Empresa
vendedora a prazo R$ 110,00 compradora

Com o vendor
Empresa Empresa
vendedora compradora
Bancos
à vista R$ 100,00 a prazo R$ 108,00

Figura 3 - Fluxo de operação de vendor


Fonte: adaptada de Fortuna (2005).

Compror – consiste em operação inversa ao vendor que se efetiva no


momento em que pequenas indústrias vendem para grandes lojas comerciais.
Neste caso, em vez do vendedor (indústria) ser o fiador do contrato, o próprio
comprador é que funciona como tal.

A operação consiste na abertura de um limite para o financiamento do


estoque de sua empresa. Por meio desse limite, você efetua suas compras,
negociando as melhores condições de preço. O fornecedor recebe à vista, e
você escolhe o prazo mais adequado para pagamento junto ao Banco.

Empréstimos de capital de giro – são operações tradicionais de


empréstimos vinculadas a um contrato específico que estabeleça prazo, taxas,
valores e garantias necessárias e que atendem às necessidades de capital de
giro das empresas.

106 Finanças Empresariais


Capítulo 3

Entende-se por necessidade de capital de giro, os recursos necessários


à cobertura do ciclo operacional da empresa. O pagamento das parcelas
será mensal e igual, contendo o valor do principal financiado mais juros,
normalmente prefixados.

Financiamentos para investimentos – são operações aplicadas no longo


prazo, em nosso país, de forma preponderante realizadas com entidades e
instituições financeiras governamentais. Dentre elas, destaca-se o BNDES,
como o grande financiador das empresas no longo prazo. Convém destacar as
modalidades mais acessadas pelas empresas brasileiras:

BNDES Automático – financiamentos de até R$ 10 milhões para a


realização de projetos de implantação, expansão e modernização, incluída
a aquisição de máquinas e equipamentos novos, de fabricação nacional,
credenciados pelo BNDES, e capital de giro associado, através de instituições
financeiras credenciadas.

FINAME – financiamentos, sem limite de valor, para aquisição isolada


de máquinas e equipamentos novos, de fabricação nacional, credenciados
pelo BNDES, através de instituições financeiras credenciadas. Você encontrará
esta modalidade na forma tradicional, agrícola, leasing e concorrência
internacional.

INTERAGINDO
Acesse o site do BNDES <www.bndes.gov.br>
e realize uma pesquisa sobre quais itens são
passíveis de financiamento. Houve alguma
surpresa? Caso tenha ocorrido, procure discutir
com os demais alunos e perceber se a sua
percepção foi a mesma que eles tiveram.

Agora que você já é um expert em linhas de empréstimos e financiamento,


que tal conhecer a outra ponta, as operações passivas disponibilizadas pelo
mercado financeiro?

Operações passivas, como você percebeu no início deste capítulo,


representam as diferentes formas de captação de recursos pelas instituições
financeiras. Veja:

Finanças Empresariais 107


Capítulo 3

Depósitos à vista – a captação de depósitos à vista, livremente


movimentáveis, é atividade típica e distintiva dos bancos comerciais, o
que os configura como instituições financeiras monetárias. É a chamada
captação a custo zero. Assim, o depósito à vista, para o banco, é um
dinheiro gratuito.

A conta corrente é o produto básico da relação entre o cliente e o banco,


pois com ela são movimentados os recursos do cliente, via depósito, cheques,
ordens de pagamento, DOC ou TED (Transferência Eletrônica Disponível).
Podem ser pessoais ou conjuntas. A conta corrente conjunta pode, por sua
vez, ser simples ou solidária.

CURIOSIDADE
Com a implantação do SPB – Sistema de
Pagamentos Brasileiro, as movimentações com
valor superior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais)
passaram a ser efetivadas por meio da TED,
que garante a transferência em tempo real dos
recursos de uma conta para outra, independente
do banco ser ou não o mesmo.

• Depósitos a prazo – as modernas instituições financeiras criaram


o conceito de mesa de operações, que centralizam a maioria das
operações de suas áreas de mercado, ou seja, que envolvam a
definição de taxas de juros e, portanto, o conceito de spread,
que é a diferença entre o custo do dinheiro tomado e o preço do
dinheiro vendido, como, por exemplo, na forma de empréstimo.

Diversos são os instrumentos que possibilitam ao investidor aplicar


seus recursos disponíveis em troca de alguma rentabilidade. Ao procurar
uma instituição financeira, você encontrará: uma Caderneta de Poupança,
um Certificado ou Recibo de Depósito Bancário (CDB/RDB), Letras
Hipotecárias (LH), Letras de Câmbio (LC), Letras de Crédito Imobiliário
(LCI), dentre outros. O que os diferencia são a rentabilidade, os níveis de
risco, a isenção ou não de imposto de renda.

108 Finanças Empresariais


Capítulo 3

DESAFIO

Elabore um quadro resumo com as principais


aplicações financeiras citadas no parágrafo
anterior, apresentando a definição de cada
uma, os prazos de aplicação, riscos envolvidos e
a rentabilidade equivalente.

Agora que você conhece as operações ativas e passivas das instituições


financeiras, verá que estas se utilizam das taxas de juros para numa ponta cobrarem os
recursos emprestados e, na outra, ponta remunerarem os investidores ou aplicadores.

3.2.5 Taxas de juros

Toda operação que envolva uma remuneração de juros identifica a


participação de dois agentes econômicos: o poupador e o tomador. A taxa de
juro é o resultado das interações das ações de mercado executadas pelos agentes
econômicos, servindo de balizador de suas decisões de consumo e poupança.

São as leis da oferta e procura que definem sua taxa. No Brasil, o spread
bancário é medido pela diferença entre o custo de um empréstimo e a
remuneração paga ao poupador. Pode ser representado pela fórmula a seguir:

1 + iAPLICAÇÃO
1 + iSPREAD =
1 + iCAPTAÇÃO

Diversos são os fatores que compõem o spread:

• taxa de captação do banco, incluso o custo do depósito compulsório;


• impostos e contribuições (IR, CSLL, PIS, COFINS, IOF e FGPC-FGC –
Fundo Garantidor do Empréstimo, calculado por meio de percentual
incidente sobre o saldo mensal de captação);
• despesas administrativas;
• inadimplência;
• margem de lucro.

Finanças Empresariais 109


Capítulo 3

O mercado financeiro se utiliza de taxas padrão na remuneração das


diversas aplicações financeiras. Fortuna (2005) destaca como principais as
relacionadas a seguir:

• Taxa Básica Financeira – TBF;


• Taxa Referencial – TR;
• Taxa de Juros de Longo Prazo – TJLP;
• Taxa Over Selic.

Serão apresentadas a partir de agora as principais características destas


que, na opinião de Fortuna (2005), são as taxas mais utilizadas no mercado.

Taxa Básica Financeira – TBF

Essa taxa foi criada pela Resolução n. 2.171, de 30 de junho de 1995, pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN), com a finalidade de estimular os investidores
a alongar o perfil das aplicações em títulos de renda fixa. É calculada diariamente
pelo BACEN por meio do DEPEC – Departamento de Política Econômica, sempre
com quatro casas decimais e com base nos rendimentos médios mensais oferecidos
pelos CDB/RDB pré-fixados de 30 a 35 dias corridos, dos 30 maiores conglomerados
financeiros do país. A amostra é revista por ocasião da realização dos balanços
semestrais, um ou dois participantes são substituídos. É utilizada para:

• servir como projeção ou estimativa das taxas de juros futuros para 30 dias;
• atuar, como indexador, para operações ativas e passivas dos bancos,
desde que obedecido o prazo mínimo de dois meses;
• servir de balizador, no curto prazo, para a tomada de decisões
domésticas e comerciais;
• servir de base de cálculo da TR.

Taxa Referencial – TR

Criada pelo Plano Collor 11 (1991) para ser utilizada como uma taxa
básica referencial dos juros. Atualmente, é calculada a cada dia, tendo como
base o dia anterior. Para cálculo da TR do mês deduzido, da taxa média de
captação dos bancos, um redutor que deve refletir a tributação incidente
sobre os CDB/RDB e a taxa real de juros da economia. O redutor reflete a
taxa de real de juros admitida pelo governo nos próximos 30 dias, e pode ser

110 Finanças Empresariais


Capítulo 3

entendida ainda como a taxa esperada de inflação, embutida pelos agentes


econômicos na remuneração dos títulos de renda fixa. Seve como indexador:

• da caderneta de poupança;
• das contas do FGTS;
• dos financiamentos habitacionais;
• das operações ativas e passivas com prazo mínimo de um mês;
• das NTN-H (Notas do Tesouro Nacional).

Taxa de Juros de Longo Prazo – TJLP

A Taxa de Juros de Longo Prazo – TJLP foi instituída pela Medida Provisória
n. 684, de 31.10.94, publicada no Diário Oficial da União em 03 de novembro
de 1994, sendo definida como o custo básico dos financiamentos concedidos
pelo BNDES. Posteriores alterações ocorreram por meio da Medida Provisória
n. 1.790, de 29 de dezembro de 1998 e da Medida Provisória n. 1.921, de 30
de setembro de 1999, convertida na Lei n. 10.183 de 12 de fevereiro de 2001.

Essa taxa é aplicada para remunerar o PIS/PASEP, o FAT (Fundo de


Amparo ao Trabalhador) e o Fundo de Marinha Mercante. Também é aplicada
nos empréstimos de longo prazo do BNDES.

O prazo de vigência da TJLP é de três meses, sendo divulgada pelo Banco


Central como taxa nominal anual, no primeiro dia útil do período de aplicação.

Taxa SELIC

Essa taxa é divulgada nas reuniões mensais do Comitê de Política


Monetária (COPOM), podendo ser alterada pelo presidente do Banco
Central entre as reuniões mensais do CMN caso o Conselho defina um viés
de alta ou de baixa.

A taxa overnight do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC),


expressa na forma anual, é a taxa média ponderada pelo volume das operações
de financiamento por um dia, lastreadas em títulos públicos federais e
realizadas no SELIC na forma de operações compromissadas. É a taxa básica
utilizada como referência pela política monetária.

Finanças Empresariais 111


Capítulo 3

A denominada taxa over é uma taxa de juros nominal com capitalização


diária, porém válida somente para dias úteis, ou seja, sua capitalização
ocorre unicamente em dia de funcionamento do mercado financeiro. A
taxa costuma ser expressa ao mês, obtida pela simples multiplicação da
taxa ao dia por 30.

Admita, assim, que em determinado mês a taxa over esteja fixada em


2,75%, sendo computados 22 dias úteis no período. Logo, a taxa de juro a ser
considerada em cada dia útil é a proporcional de 0,0917%, ou seja, 2,75% ao
mês/30 dias. Estando definidos 21 dias úteis no prazo de referência da taxa
over, a taxa efetiva apurada por capitalização composta atinge:
du

T efetiva = 1 + over -21


30
21

T efetiva = 1 + 0.0275 -1
30

T efetiva = 1,9427% a.m.

3.3 Aplicando a teoria na prática

A empresa Radical Surf, que atua no mercado de produtos relacionados


a essa modalidade esportiva, vem realizando investimentos ao longo dos
últimos anos em modernização de seu espaço comercial e em tecnologia, o
que resultou nos últimos 12 meses num volume de vendas considerável. Ao
apurar seus resultados finais, os proprietários, após procederem à distribuição
dos lucros, identificaram ainda uma sobra de caixa significativa, da ordem de
R$ 125.000,00. Procuraram então o gerente do banco, que lhes ofereceu um
CDB a uma taxa efetiva (já descontadas todas as demais taxas e impostos)
de 12,5% ao ano, ou 0,99% ao mês. Se a Radical Surf mantiver os recursos
aplicados por dois meses, qual será o retorno alcançado na operação. Lembre
que o mercado financeiro atua com juros compostos.

E aí? Chegou à resposta? É simples, acompanhe.

Considere a fórmula básica de juros compostos apresentada a seguir:

112 Finanças Empresariais


Capítulo 3

S = P (1+i)n
S = 125.000 (1+0,99/100)²
S = 127.487,25
J = 127.487,25-125.000,00 = 2.487,25

O rendimento alcançado, portanto, será de R$ 2.487,25 ao final do


período de dois meses.

3.4 Para saber mais


Sugiro algumas leituras para que você se aprofunde no tema estudado
neste capítulo:

Título: Mercado financeiro


Autor: BRITO, O. S. Editora: Saraiva, SP Ano: 2005

Este livro aborda em suas 400 páginas o mercado financeiro como um


ambiente bastante complexo, composto por agentes orientados à
obtenção de resultado, órgãos reguladores do controle de risco sistêmico
e agentes econômicos, responsáveis pela gestão maior da economia.

Título: Negócios em bolsas de valores


Autor: LAMEIRA, V. Editora: Bovespa, SP Ano: 2003

Esta publicação traz uma abordagem sobre a estrutura do mercado


financeiro e procedimentos de análise a serem observados por
quaisquer investidores.

Site: Andima
URL: http://www.andima.com.br

Neste site você encontrará artigos sobre o mercado financeiro, seus


produtos, oportunidades de curso, dentre outras informações.

Site: BCB
URL: http://www.bcb.gov.br

Site obrigatório para qualquer profissional da área financeira. Traz


estatísticas, artigos sobre o mercado, toda a legislação da área
financeira, bem como calculadoras diversas.

Finanças Empresariais 113


Capítulo 3

3.5 Relembrando

O capítulo 3 apresentou:

• a caracterização do mercado financeiro, sua estrutura de


funcionamento, bem como seu contexto histórico;

• os principais instrumentos de política econômica, destacando-se o


impacto das ações monetárias, fiscais, cambiais e creditícias;

• as principais operações ativas e passivas realizadas pelo conjunto de


instituições financeiras;

• os conceitos de taxas de juros, como elas são formadas e ainda as mais


utilizadas pelo mercado.

3.6 Testando os seus conhecimentos

1) Assinale qual a taxa de juros utilizada em operações com prazos mínimos


de um mês e ainda nos financiamentos habitacionais.

a) TBF.
b) SELIC.
c) TR.
d) TJLP.
e) TBAN.

2) A política monetária envolve, segundo Fortuna (2005), o controle da oferta


da moeda e das taxas de juros de curto prazo, tendo por premissa a garantia
da liquidez da economia. O Banco Central poderá se utilizar de instrumentos
diversos, dentre eles:

a) linhas de redescontos.
b) aumento dos impostos.
c) redução da taxa de câmbio.
d) aumento de salários.
e) redução de impostos.

114 Finanças Empresariais


Capítulo 3

3) Autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, instituída pela Lei 6.385,


de 7 de dezembro de 1976. É responsável por regulamentar, desenvolver,
controlar e fiscalizar o mercado de valores mobiliários do país:

a) Bacen.
b) CMN.
c) Bovespa.
d) CVM.
e) BNDES.

4) Operação de crédito típica do sistema bancário, que envolve principalmente


duplicatas, notas promissórias, fatura de cartão de crédito e cheques pré-
datados. A instituição concede empréstimo mediante a garantia de um título
representativo de um crédito futuro.

a) Compror.
b) Leasing.
c) Finame
d) Desconto de títulos.
e) Vendor.

Onde encontrar

ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Manual de títulos e valores mobiliários. 4. ed.


Brasília, 1997.

CAVALCANTE, F.; MISUMI, J.Y. Mercado de capitais. São Paulo: Campus, 2001.

FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e serviços. 16. ed. Rio de Janeiro:


Qualitymark, 2005.

PINHEIRO, J. L. Mercado de capitais: fundamentos e técnicas. 4. ed. São Paulo:


Atlas, 2008.

SECURATO, J. R. Mercado financeiro e análise de investimentos. São Paulo:


Saint Paul Editora, 2007.

Finanças Empresariais 115


Capítulo 3

116 Finanças Empresariais


Capítulo 4

CAPÍTULO 4
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

4.1 Contextualizando
Este capítulo apresentará a você as chamadas “demonstrações
financeiras”, ou contábeis, em seu contexto legal. No mercado
financeiro, tudo está respaldado em leis, normas, instruções, resoluções e
pronunciamentos.

O texto mostrará a estrutura das demonstrações exigidas pelas normas


brasileiras, destacando que algumas, como você poderá observar ao longo
do capítulo, não são obrigatórias para todas as empresas, podendo variar
de acordo com a estrutura patrimonial ou os seus resultados.

Você perceberá quão abrangente é o campo de aplicação das


informações contidas neste capítulo e os desafios que o administrador
financeiro enfrenta no seu dia-a-dia para pô-las em prática, principalmente
em decorrência da falta de valorização por parte das empresas em relação
à elaboração das demonstrações. A ideia aqui não é ensinar você a
elaborar as demonstrações, mas sim evidenciar a importância das mesmas
no cotidiano do gestor financeiro.

Espera-se que, ao final do estudo, você seja capaz de descrever a


estrutura das demonstrações financeiras, as implicações na gestão das
empresas e, principalmente, consiga visualizar por que este assunto é
apresentado nesta disciplina.

Finanças Empresariais 117


Capítulo 4

4.2 Conhecendo a teoria

As demonstrações contábeis ou financeiras, segundo Assaf Neto e


Lima (2009, p. 188), equivalem a um conjunto de informações apuradas
e divulgadas pelas empresas, que visa espelhar o desempenho destas ao
longo de um período ou exercício social, normalmente equivalente a um
ano.

As informações contidas nas demonstrações financeiras são objeto de


análises internas e externas. Internamente, elas municiam os gestores no
processo de tomada de decisão; externamente, são utilizadas por governos,
instituições financeiras, empresas de classificação de risco, fornecedores,
acionistas – para citar apenas alguns stakeholders.

SAIBA QUE
Stakeholder (em português, parte interessada
ou interveniente) é um termo usado em
administração referente às partes interessadas
que devem estar de acordo com as práticas
de governança corporativa executadas pela
empresa. O termo foi usado pela primeira vez pelo
filósofo Robert Edward Freeman. Segundo este
autor, os stakeholders são elementos essenciais
ao planejamento estratégico de negócios.
De maneira mais ampla, compreende todos os envolvidos em um processo,
que pode ser de caráter temporário (como um projeto) ou duradouro
(como o negócio de uma empresa ou a missão de uma organização).
Uma organização que pretende ter uma existência estável e
duradoura deve atender simultaneamente as necessidades de todas
as suas partes interessadas. Para fazer isso, ela precisa “gerar valor”,
isto é, a aplicação dos recursos usados deve gerar um benefício
maior do que seu custo total.
<http://www.businessdictionary.com>

Após esta breve introdução, você precisa conhecer as principais leis que
regem a apresentação das demonstrações financeiras. Elas são relativamente
recentes em se tratando do nosso país.

118 Finanças Empresariais


Capítulo 4

4.2.1 Exigência legal

Até 1976, com o advento da Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, a


denominada “Lei das Sociedades por Ações”, os aspectos de ordem contábil,
para elaboração das demonstrações contábeis das empresas, eram regidos
pelo Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940.

O texto original da Lei n. 6.404/76 foi alterado em 5 de maio de 1997


pela Lei n. 9.457 no que dispõe sobre as sociedades por ações e pela Lei
n. 10.303, de 31 de outubro de 2001, principalmente no que tange aos
dispositivos de matéria societária e do direito dos acionistas

O advento da Lei n. 6.404/76, à época e até fins de 2007, representou


um avanço na técnica de elaboração das demonstrações contábeis e na
forma de avaliação dos elementos componentes do patrimônio contábil das
empresas.

Cumpriu, também, seu papel no acompanhamento dos mercados


de capital e financeiro, fornecendo elementos valiosos, pela forma de
apresentação das demonstrações contábeis, a analistas financeiros e aos
diversos interessados nas informações contábeis.

Ao final de 2007, foi promulgada a Lei n. 11.638, que altera e revoga a


Lei das Sociedades por Ações (Lei n. 6.404/76). Publicada no Diário Oficial da
União de 28 de dezembro de 2007, passou a vigorar para as demonstrações
contábeis do exercício social iniciado a partir de 1º de janeiro de 2008.

Portanto, as alterações contidas na Lei n. 11.638/07 deverão produzir


seus efeitos nas demonstrações contábeis, cujo exercício se iniciou
a partir de 1º de janeiro de 2008, independentemente da data do seu
encerramento, em atendimento ao art. 176, da Lei n. 6.404/76, que regula
as demonstrações contábeis elaboradas ao final do exercício social das
empresas. Esse entendimento foi manifestado pela Comissão de Valores
Mobiliários - CVM.

A Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009 (antiga medida provisória n. 449),


alterou a legislação tributária federal relativa ao parcelamento ordinário de
débitos tributários, concedeu remissão nos casos em que especifica, instituiu
o regime tributário de transição (RTT), assim como a Lei n. 6.404/76.

Finanças Empresariais 119


Capítulo 4

A promulgação da Lei n. 11.638/07 constitui marco importante da história


brasileira para os mercados de capital e financeiro, de forma a direcionar
a harmonização das práticas contábeis adotadas no Brasil com as normas
contábeis internacionais, permitindo a inserção das empresas brasileiras no
processo de convergência contábil internacional e contribuindo para agregar
maior grau de transparência às demonstrações contábeis em geral.

Com o advento da Lei n. 11.638/07, um novo ciclo se inicia e demandará,


certamente, a concentração de esforços das empresas, dos auditores, dos
diversos organismos e profissionais de contabilidade e finanças e da Comissão
de Valores Mobiliários no processo de regulação, disseminação, orientação e
aprendizado das modificações produzidas pela nova Lei e das matérias dela
decorrentes, cuja normatização é requerida.

Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC

A Lei n. 11.638/07 reforçou o entendimento de que a regulação contábil


no Brasil pode ser baseada em trabalhos desenvolvidos por organismo
multirepresentativo, que tenha por objeto o estudo e divulgação de padrões
contábeis e de auditoria.

Nesse sentido, a lei introduziu a possibilidade de a CVM, do BACEN e dos


demais reguladores firmarem convênios com esse tipo de organismo, ficando
então reforçados o papel e a importância do Comitê de Pronunciamentos
Contábeis – CPC, já em atividade.

EXPLORANDO
O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC)
foi idealizado a partir da união de esforços e
comunhão de objetivos das seguintes entidades:
ABRASCA, APIMEC NACIONAL, BOVESPA,
Conselho Federal de Contabilidade, FIPECAFI e
IBRACON. Visite o site <www.cpc.org.br> para
saber mais sobre a dinâmica do CPC.

120 Finanças Empresariais


Capítulo 4

Sociedades de grande porte

A Lei n. 11.638/07 estendeu às sociedades de grande porte a


obrigatoriedade de manter escrituração e de elaborar demonstrações
contábeis com observância das disposições da lei societária.

São consideradas de grande porte as sociedades que, individualmente


ou sob controle comum, possuam ativo total superior a R$ 240 milhões ou
receita bruta superior a R$ 300 milhões.

Agora que você conhece o contexto legal, precisa saber quais as principais
demonstrações financeiras utilizadas, ou as que as empresas brasileiras
deverão, em algum momento, apresentar. Uma primeira demonstração é o
balanço patrimonial.

4.2.2 O balanço patrimonial – BP

O balanço patrimonial é como uma fotografia da situação financeira da


empresa em uma determinada data. Trata-se da demonstração contábil destinada
a evidenciar, qualitativa e quantitativamente, a posição patrimonial e financeira
da entidade. Os elementos diretamente relacionados com a mensuração da
posição patrimonial financeira são ativos, passivos e patrimônio líquido.

Sua estruturação, conforme Santos, Schmidt e Martins (2006), deve


atender aos preceitos da lei das sociedades anônimas e aos princípios
fundamentais da contabilidade.

Segundo Hendriksen e Breda (1999, p. 282), o balanço patrimonial é


“um resumo dos recursos e das obrigações de uma empresa aos acionistas e
outros investidores, a intervalos regulares, sob a forma de uma demonstração
da posição financeira”, ou seja, é uma demonstração contábil estática, que
informa em um determinado momento, a posição financeira e patrimonial de
uma empresa.

Crepaldi (1999) corrobora com Hendriksen e Breda ao afirmar que o


balanço patrimonial é um demonstrativo contábil que, em dado momento,
evidencia de forma sintética e ordenada as contas patrimoniais, agrupadas de
acordo com a natureza dos bens e direitos (ativos) ou obrigações (passivos), e
busca retratar a situação patrimonial no período analisado. Ele reflete, conforme

Finanças Empresariais 121


Capítulo 4

Silva (1999) a posição financeira em determinado momento, normalmente no


encerramento do exercício ou ainda podendo ser apresentado, no caso das
sociedades anónimas de capital aberto, trimestralmente. É a demonstração
que encerra a sequência dos procedimentos contábeis, apresentando de
forma ordenada os três elementos componentes do patrimônio, de acordo
com Marion (1998, p. 65): ativo, passivo e patrimônio líquido.

DESAFIO
Os Princípios fundamentais da contabilidade,
também denominados Princípios contábeis
geralmente aceitos, em nosso país são
estabelecidos pelo IBRACON – Instituto Brasileiro
de Contabilidade e pela CVM – Comissão de
Valores Mobiliários. Faça uma pesquisa e busque
identificar quantos e quais são esses princípios.

Figura 1 - O balanço
Fonte: <www.freedigitalphotos.net>.

O balanço patrimonial apresenta, ao lado esquerdo, contas ativas e, ao


lado direito, contas passivas.

O balanço compõe-se em três partes essenciais: ativo, passivo


e patrimônio líquido. Cada uma dessas partes apresenta suas
diversas contas classificadas em grupos, os quais, por sua vez, são
dispostos em ordem decrescente de grau de liquidez para o ativo
e em ordem decrescente de exigibilidade para o passivo (ASSAF
NETO, 2006, p. 65).

122 Finanças Empresariais


Capítulo 4

Segundo Iudícibus (1995, p. 29), o balanço patrimonial corresponde a


um dos mais importantes demonstrativos contábeis, destinado a evidenciar a
situação patrimonial e financeira de uma organização em determinado período.

O ativo, segundo Santos, Schmidt e Martins (2006, p. 27), compreende


“os recursos controlados pela empresa capazes de gerar fluxo futuros de caixa
e são representados por bens e direitos”. Já o passivo retrata, conforme os
referidos autores, as obrigações de uma empresa tanto para com terceiros
quanto para com seus sócios ou acionistas.

As contas do ativo devem ser dispostas em ordem decrescente de liquidez


dos elementos nela registrados e as contas do passivo devem ser dispostas
em ordem crescente dos prazos de exigibilidade, estabelecidos ou esperados,
observando-se iguais procedimentos para os grupos e os subgrupos.

São classificados em grupos do circulante os ativos e passivos desde que


os prazos esperados de realização dos direitos e os prazos das obrigações,
estabelecidos ou esperados, situem-se até o término do exercício subsequente
à data do balanço patrimonial.

Assaf Neto e Lima (2009, p. 191) apresentam a composição do ativo


circulante de forma mais detalhada. Segundo os autores, as contas mais
representativas deste grupo são:

• disponibilidades que englobam os saldos de caixa e bancários, além


das aplicações financeiras de liquidez imediata;

• créditos que englobam principalmente os valores a receber de clientes,


impostos a recuperar, etc.;

• estoques, que de acordo com o setor de atuação da empresa, podem


ser segregados em mercadorias, produtos acabados, produtos em
elaboração e matéria-prima;

• despesas antecipadas que se referem a valores pagos a título de


seguros, assinaturas de jornais e revistas, dentre outros.

Finanças Empresariais 123


Capítulo 4

Em relação à composição do passivo circulante, Santos, Schmidt e Martins


(2006) afirmam que deve constar, no mínimo, os seguintes subgrupos:

• empréstimos e financiamentos que, por sua exigibilidade, deverão ser


saldados em até 360 dias;

• fornecedores que englobam as compras a prazo efetuadas pela


empresa para a manutenção de suas atividades operacionais;

• obrigações sociais, trabalhistas e tributárias que englobam contas


como: salários a pagar, FGTS a recolher, INSS a recolher, PIS, COFINS,
imposto de renda a pagar, contribuição social a pagar, dentre outras.
Incluem-se aqui as provisões de pagamentos de férias e 13º salário.

São classificados, respectivamente, nos grupos ativo não circulante


e passivo não circulante os ativos e passivos cujos prazos esperados
de realização dos direitos e os prazos das obrigações estabelecidos ou
esperados situem-se após o término do exercício subsequente à data do
balanço patrimonial.

Conforme Assaf Neto e Lima (2009), a composição do ativo não circulante


agrega as seguintes contas:

• realizável a longo prazo – operações de créditos junto a pessoas ligadas,


sejam elas pessoas físicas ou jurídicas, depósitos em caução, dentre outras;
• permanente – contas de investimentos, imobilizado, intangível e diferido.

Hendriksen e Breda (1999, p. 388) destacam que “a palavra intangível


vem do latim tangere, ou ‘tocar’. Os bens intangíveis, portanto, são bens que
não podem ser tocados, porque não têm corpo. Mais formalmente, diz-se que
os ativos intangíveis são incorpóreos”.

Hoji (2008), por sua vez, ressalta que o passivo não circulante
é composto principalmente pelo exigível a longo e tem por contas os
empréstimos de financiamentos, as debêntures e as provisões para
imposto de renda e riscos fiscais.

124 Finanças Empresariais


Capítulo 4

Assaf Neto e Lima (2009) acrescentam neste grupo a conta de resultados


de exercícios futuros. Mas o que são resultados de exercícios futuros?

Ainda do lado direito, temos a representação do patrimônio líquido


que, de acordo com Hoji (2008), é a representação dos recursos próprios da
empresa. Sua constituição engloba os seguintes subgrupos:

• capital social – reflete o investimento realizado pelos sócios ou acionistas;

• reservas de capital – constituem os valores recebidos pela empresa de


sócios ou acionistas, mas também de terceiros;

• reservas de lucro – constituídas pela apropriação dos lucros gerados pela


empresa. Podem ser classificadas em: legal, estatutária, contingências e
incentivos fiscais;

• prejuízos acumulados.

A Lei n. 11638/2007 agregou um novo grupo, “ajustes de avaliação


patrimonial”, que representam as variações positivas e/ou negativas dos
elementos do ativo e passivo, decorrentes, por exemplo, das variações
monetárias ou cambiais.

SAIBA QUE
A Lei n. 11.638/2007, em seu artigo 178, exclui
o subgrupo lucros acumulados. A partir dos
demonstrativos contábeis do exercício de 2008, os
lucros existentes deverão ser obrigatoriamente
destinados às demais contas do patrimônio
líquido e/ou distribuídos aos sócios ou acionistas.
Constate em <www.planalto.gov.br>.

A partir da vigência da Lei n. 11.638, o balanço patrimonial apresenta a


seguinte estrutura:

Finanças Empresariais 125


Capítulo 4

ATIVO PASSIVO

Ativo Circulante Passivo Circulante

Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante

• Realizável a Longo Prazo Patrimônio Líquido

• Investimentos • Capital Social

• Imobilizado • Reservas de Capital

• Intangível • Reservas de Lucros

• (-) Ações em Tesouraria

• Ajuste de Avaliação Patrimonial

• Prejuízos Acumulados
Quadro 1 - Balanço patrimonial
Fonte: Brasil (2007).

Agora que você já conhece a principal demonstração financeira elaborada


pelas empresas, apresentarei a você outra demonstração cujo papel é relevante
dentro de qualquer empresa, a demonstração de resultados, que busca
identificar os desempenhos operacional e líquido da empresa em questão.

4.2.3 Demonstração de resultado do exercício – DRE

Segundo Hoji (2008) a Demonstração de Resultado do Exercício se


constitui na representação contábil que detalha o fluxo de receitas e despesas,
operacionais ou não; tem como consequência final o aumento ou a redução
do patrimônio líquido no período observado.

Mota e Calôba (2006) destacam que a DRE compreende todo o processo de


dedução de custos operacionais, despesas operacionais ou não e impostos incidentes
sobre a receita, tendo como resultante desse processo a apuração do lucro ou prejuízo.

Na mesma perspectiva, Iudícibus (1998) a DRE apresenta de uma forma


estruturada, os componentes que provocaram a alteração na situação líquida
patrimonial em determinado período, e mostra se a empresa auferiu lucros ou
incorreu prejuízos em determinado período.

Reis (2003) ressalta que a demonstração do resultado pode ser considerada


como uma demonstração de origem e aplicação de recursos, na qual as origens
são representadas pelas receitas e as aplicações configuradas em despesas. A
demonstração do resultado, observado o princípio de competência, resultará

126 Finanças Empresariais


Capítulo 4

na formação dos vários níveis de resultados mediante confronto entre as


receitas, e os correspondentes custos e despesas operacionais ou não.

Segundo Crepaldi (1999), a demonstração de resultado é um resumo que


apresenta, de forma ordenada, a movimentação das contas operacionais e
não operacionais de uma empresa.

Esta demonstração, diferentemente do balanço, representa uma


situação “dinâmica”, pois acumula as receitas e despesas de um determinado
período de tempo. É a demonstração contábil destinada a evidenciar a
composição do resultado formado em determinado período de operações
da entidade. Assaf Neto e Lima (2009, p. 195) afirmam que a DRE tem por
finalidade exclusiva “apurar o lucro ou prejuízo do exercício”.

A demonstração de resultado do exercício apresenta a seguinte estrutura:

RECEITAS BRUTAS DE VENDAS


- Impostos sobre vendas

= Receita líquida de vendas

- Custo de produtos vendidos

= Lucro bruto

- Despesas operacionais

+ Outras receitas operacionais

- Outras despesas operacionais

= Lucro operacional antes do resultado financeiro

+ Receitas financeiras

- Despesas financeiras

= Lucro operacional

+ Receitas não operacionais

- Despesas não operacionais

= Lucro antes do IRPJ, CSLL e Participações

- IRPJ e CSLL

- Participações

= Lucro líquido
Quadro 2 - Demonstração de resultado
Fonte: Assaf Neto e Lima (2009).

Finanças Empresariais 127


Capítulo 4

4.2.4 Demonstração de mutações do patrimônio líquido – DMPL

Conforme Borinelli e Pimentel (2010), a demonstração de mutações


do patrimônio líquido é um relatório que apresenta, de forma resumida,
as variações ocorridas nas diversas contas que compõem o patrimônio
líquido de uma empresa durante um determinado exercício social.

A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido é uma


demonstração facultativa e, de acordo com o parágrafo 2º do artigo
186 da Lei n. 6.404/1976, poderá incorporar a Demonstração de Lucros
ou Prejuízos Acumulados (DLPA). Entretanto, a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), por meio da Instrução CVM n. 59/1986, tornou de
caráter obrigatório a elaboração e publicação desta demonstração para
as companhias abertas, em substituição à demonstração dos lucros ou
prejuízos acumulados.

Reis (2003) afirma que a DMPL tem por objetivo evidenciar as


variações ocorridas em cada uma das contas integrantes do grupo
patrimônio líquido, assim englobando a Demonstração de Lucros e
Prejuízos Acumulados, tornando desnecessária a sua elaboração.

A demonstração de mutações do patrimônio líquido apresenta


a seguinte estrutura, conforme orientações estabelecidas pela CVM –
Comissão de Valores Mobiliários:

128 Finanças Empresariais


Capítulo 4

RESERVAS LUCROS OU AJUSTES DE TOTAL DO


DESCRIÇÃO CAPITAL RESERVAS DE RESERVAS
DE PREJUÍZOS AVALIAÇÃO PATRIMÔNIO
DA CONTA SOCIAL REAVALIAÇÃO DE LUCRO
CAPITAL ACUMULADOS PATRIMONIAL LÍQUIDO

Saldo inicial

Ajustes
exercícios
anteriores

Saldo
ajustado

Lucro/Prejuízo
do período

Destinações

Dividendos

Juros sobre
capital
próprio

Outras
destinações

Realização de
reservas de
lucros

Ajustes de
avaliação
patrimonial

Ajustes
acumulados
de conversão

Ajustes de
combinação
de negócios

Constituição/
realização de
reservas de
capital

Ações em
tesouraria

Outras
transações
de capital

Outros

Saldo final
Quadro 3 - Demonstração de mutações do patrimônio líquido
Fonte: adaptado de CVM (2010).

Finanças Empresariais 129


Capítulo 4

Como você pôde constatar na estrutura apresentada, a DMPL se constitui


em fonte de informações para os proprietários e/ou acionistas, bem como para
potenciais investidores sobre a evolução ou retração do desempenho da empresa.

4.2.5 Demonstração do Valor Adicionado – DVA

A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) é o informe contábil que


evidencia, de forma sintética, os valores correspondentes à formação da riqueza
gerada pela empresa em determinado período e sua respectiva distribuição.

A riqueza gerada pela empresa, medida no conceito de valor adicionado,


é calculada a partir da diferença entre o valor de sua produção e o dos bens e
serviços produzidos por terceiros utilizados no processo de produção.

Na concepção de Borinelli e Pimentel (2010, p. 286), a DVA é um dos


componentes elementares para a elaboração do Balanço Social de uma
organização, pois ela evidencia de forma específica o seu contexto econômico.

A Demonstração do Valor Adicionado fornece uma visão mais


abrangente sobre a efetiva capacidade de uma empresa gerar riqueza,
e como ela é distribuída entre os diversos fatores da produção. Por isso, se
constitui em instrumento auxiliar na elaboração do Balanço Social, em virtude
de evidenciar para a sociedade qual a efetiva contribuição da empresa para
a geração de riqueza no país e como as parcelas agregadas são distribuídas
pelos diversos agentes econômicos que participaram o processo de produção
(NEVES; VICECONTI, 2002).

Iudícibus, Martins e Gelbcke (2000, p. 31) afirmam que a Demonstração


de Valor Adicionado objetiva evidenciar a contribuição social da empresa para
o desenvolvimento econômico-social da região onde está instalada. Discrimina
o que a empresa agrega de riqueza à economia local e, em seguida, a forma
como distribui tal riqueza.

130 Finanças Empresariais


Capítulo 4

Santos (2003) afirma que a DVA é a criação da contabilidade que melhor


auxilia na mensuração e evidenciação da capacidade de geração de riqueza e
sua distribuição por uma empresa.

Kroetz e Cosenza (2003) indicam os principais usuários das informações


contidas na DVA, que são os seguintes: empregados, administradores,
proprietários e acionistas, governo, sindicatos, associações de moradores,
entidades de classe, financiadores e credores.

Seu processo de elaboração é relativamente simples, sendo a maioria


dos dados obtida a partir da demonstração de resultados. Santos (2007, p.
13) assevera que a DVA

objetiva evidenciar a contribuição da empresa para o


desenvolvimento econômico-social da região em que está instalada,
discriminando o que a empresa agrega de riqueza à economia local
e, em seguida, a forma como distribui tal riqueza.

A demonstração de valor adicionado está estruturada conforme


orientações da CVM na forma seguinte:

Finanças Empresariais 131


Capítulo 4

DESCRIÇÃO DA CONTA 2009 2008


Receitas
Vendas de mercadorias, produtos e serviços
Outras receitas
Receitas refs. à construção Ativos próprios
Provisão/Reversão de créditos liquidação duvidosa
Insumos adquiridos de terceiros
Custos de produtos, mercadorias e serviços vendidos
Materiais –energia – serviços de terceiros – outros
Perda/recuperação de valores ativos
Outros
Valor adicionado bruto
Retenções
Depreciação, amortização e exaustão
Outras
Valor adicionado líquido
Valor adicionado recebido em transferência
Resultado da equivalência patrimonial
Receitas financeiras
Outros
Valor adicionado total a distribuir
Distribuição do valor adicionado
Pessoal
Remuneração direta
Benefícios
FGTS
Outros
Impostos, taxas e contribuições
Federais
Estaduais
Municipais
Remuneração de capitais de terceiros
Juros
Aluguéis
Outras
Remuneração capital próprio
Juros sobre capital próprio
Dividendos
Lucro ou prejuízo do exercício
Outros
Quadro 4 – Demonstração do valor adicionado
Fonte: adaptado de CVM (2010).

132 Finanças Empresariais


Capítulo 4

PRATICANDO
Como você pode perceber, a DVA apresenta
apenas o enfoque econômico do balanço social.
Solicito que você busque em jornais, revistas ou
sites, um balanço social publicado e descreva os
demais enfoques, o texto deverá ser elaborado
em pelo menos uma página. Não esqueça de
observar os aspectos metodológicos requeridos
na apresentação dos trabalhos acadêmicos.

4.2.6 Demonstrativo de fluxo de caixa – DFC

Conforme Santos, Schmidt e Martins (2006, p. 93), a demonstração dos


fluxos de caixa passou a ser exigida no Brasil a partir dos exercícios sociais
iniciados em 2008, em razão da nova redação dada ao inciso IV do art. 176 da
Lei das S. A. pela Lei n. 11.638/2007, e substituiu a demonstração das origens e
aplicações de recursos (DOAR). A obrigatoriedade de elaboração e divulgação
da DFC não se aplica às companhias fechadas com patrimônio líquido, na data
do balanço, inferior a dois milhões de (§ 6º do art. 176 da Lei das S. A.).

Chamamos de fluxo de caixa ao método de captura e registro dos


fatos e valores que provoquem alterações no saldo de caixa e sua
apresentação em relatórios estruturados, de forma a permitir sua
compreensão e análise. Para efeitos desta definição, a expressão
“caixa” significa “moeda” e todos os valores que possam ser
prontamente convertidos em moeda, tais como depósitos bancários,
cheques que possam ser depositados irrestrita e imediatamente, e
aplicações de curtíssimo prazo” (SÁ, 2006, p. 11).

Segundo Marion (1998, p. 380), “a Demonstração de Fluxo de Caixa


(DFC) indica a origem de todo o dinheiro que entrou no Caixa, bem como a
aplicação de todo o dinheiro que saiu do Caixa em determinado período, e,
ainda o Resultado do Fluxo Financeiro”.

Iudícibus e Marion (1999, p. 218) afirmam que a DFC “demonstra a


origem e a aplicação de todo o dinheiro que transitou pelo caixa em um
determinado período e o resultado desse fluxo”, devendo ser ressaltado
que caixa são considerados todos os recursos disponíveis da empresa, isto é,
os valores em espécie mantidos pela empresa e os recursos depositados em
instituições financeiras.

Finanças Empresariais 133


Capítulo 4

Segundo Pinho (1996, p. 9),

A demonstração dos fluxos de caixa para um determinado período


deve apresentar o fluxo de caixa líquido oriundo ou aplicado nas
atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos e o
seu efeito líquido sobre os saldos de caixa, conciliando seus saldos
no início e no final do período.

Para Zdanowicz (1998, p. 19), “o fluxo de caixa é o instrumento que


permite ao administrador financeiro planejar, organizar, coordenar, dirigir
e controlar os recursos financeiros de sua empresa para um determinado
período.”

Matarazzo (1995) ressalta que a DFC é uma das demonstrações financeiras


mais úteis, em face de ela evidenciar problemas de insolvência ou falta de
liquidez em decorrência da ausência de administração do fluxo de caixa.
“Muitas empresas vão à falência por não saberem administrar seu fluxo de
caixa” (MATARAZZO, 1995, p. 370).

Iudícibus, Martins e Gelbcke (2000, p. 351) afirmam que a Demonstração


do Fluxo de Caixa é uma demonstração financeira destinada a fornecer
informações relevantes sobre os pagamentos e recebimentos em dinheiro,
ocorridos durante determinado período. A referida demonstração possui
ainda dois métodos de apresentação, a saber:

• direto: apresenta entradas e saídas de recursos dos principais


componentes das atividades operacionais; e

• indireto: que apresenta uma conciliação entre o resultado do exercício


e o caixa gerado pelas operações da empresa.

Trata-se da demonstração acerca das alterações históricas de caixa


e equivalentes de caixa de uma entidade por meio de demonstrativo que
classifique os fluxos do período por atividades operacionais, de investimento
e de financiamento.

Basicamente, a DFC é elaborada por meio de dois métodos: direto e


indireto.

134 Finanças Empresariais


Capítulo 4

O método direto

São apresentadas nesse método as três atividades (operacionais,


investimento e financiamento), porém a atividade operacional tem
característica diferente se comparada ao método indireto. No método
direto, são consideradas as entradas e saídas brutas que fazem parte da
operação, como, por exemplo, os recebimentos de vendas de produtos,
mercadorias e serviços e, por consequência, os pagamentos a fornecedores
e funcionários.

O método direto, chamado por Marion (2003, p. 431) de “Fluxo de


Caixa no Sentido Restrito” ou “verdadeiro fluxo de caixa”, descreve todas
as entradas e saídas de caixa que efetivamente provocaram a variação
das disponibilidades do período. A exigência de controles para a devida
evidenciação da movimentação financeira, devidamente segregada, torna
sua apuração mais trabalhosa, contudo, ela possibilita um maior nível de
compreensão dos usuários externos.

O método indireto

São incluídos nesse método os saldos apresentados na demonstração


do resultado do exercício, enviando pelo lucro líquido e ajustando pelos
fatos que não afetam o caixa (depreciação, amortização, etc.), fatos que
não pertencem à atividade operacional (ganho ou perda na venda de ativo
imobilizado). Somam-se as reduções ou subtraem-se os acréscimos do ativo
circulante e do ativo não circulante (apenas o realizável a longo prazo) e
subtraem-se as reduções dos saldos do passivo circulante e do passivo não
circulante (apenas o exigível a longo prazo). A seguir, são apresentadas as
estruturas da DFC pelos dois métodos.

O método indireto, chamado por Marion (2003, p. 431) de “Fluxo de


Caixa no Sentido Amplo”, descreve de forma menos detalhada as entradas e
saídas de caixa se confrontadas com o método direto. A sua estrutura é similar
a Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos (DOAR), o que possibilita
a sua apuração de forma mais ágil. Sua construção é baseada na evidenciação
das variações das contas que afetam o caixa.

Finanças Empresariais 135


Capítulo 4

DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA


PELO MÉTODO DIRETO PELO MÉTODO INDIRETO

Fluxo de caixa de atividades operacionais Fluxo de caixa de atividades operacionais

• Recebimento de clientes • Lucro líquido antes do imposto de renda


• Pagamento a fornecedores e empregados e contribuição social
• Caixa gerado de operações • Ajustes por:
• Juros pagos • Depreciação
• Imposto de renda e contribuição social pagos • Perda Cambial
• Imposto de renda e contribuição social • Renda de investimentos
sobre dividendos recebidos • Despesas de juros

Caixa líquido proveniente das atividades • Aumento nas contas a receber de


operacionais clientes e outros
• Diminuição dos estoques
• Diminuição nas contas a pagar – fornecedores
• Caixa proveniente das operações
• Juros pagos
• Imposto de renda e contribuição social pagos
• Imposto de renda e contribuição social
sobre dividendos recebidos

Fluxo de caixa das atividades de Fluxo de caixa das atividades de


investimentos investimentos

• Aquisição de controlada x líquido de • Aquisição de controlada x líquido de


caixa incluído na aquisição caixa incluído na aquisição
• Compra de ativo imobilizado • Compra de ativo imobilizado
• Juros recebidos • Juros recebidos
• Dividendos recebidos • Dividendos recebidos

Caixa líquido usado nas atividades de Caixa líquido usado nas atividades de
investimento investimento

Fluxo de caixa das atividades de Fluxo de caixa das atividades de


financiamentos financiamentos

• Recebidos pela emissão de ações • Recebidos pela emissão de ações


• Recebido por empréstimos de longo prazo • Recebido por empréstimos de longo prazo
• Pagamento de passivo por arrendamento • Pagamento de passivo por arrendamento
• Dividendos pagos • Dividendos pagos

Caixa líquido usado nas atividades de Caixa líquido usado nas atividades de
financiamento financiamento

Aumento líquido de caixa e equivalentes de caixa Aumento líquido de caixa e equivalentes de caixa

Caixa e equivalentes de caixa no início do período Caixa e equivalentes de caixa no início do período

Caixa e equivalentes de caixa no fim do período Caixa e equivalentes de caixa no fim do período
Quadro 5 - Demonstração do fluxo de caixa

136 Finanças Empresariais


Capítulo 4

Busquei apresentar a você apenas a estrutura desta demonstração, pois


no capítulo 6 aprofundaremos esta abordagem.

Podemos considerar como demonstrativos contábeis acessórios os


seguintes relatórios: da administração, as notas explicativas e os pareceres de
auditoria. Na sequência, constam as principais características de cada um deles.

4.2.7 Relatórios de administração, notas explicativas e parecer


de auditoria

Conforme explicitado anteriormente, as S.A.s (sociedades anônimas)


são obrigadas a publicar suas demonstrações financeiras em jornal de grande
circulação, acompanhadas de relatórios diversos. Atualmente, as empresas
disponibilizam em seus sites todas estas informações. Um exemplo é a AMBEV,
que traz um link para investidores: <www.ambev.com.br>.

Relatório de administração

O relatório de administração, segundo Iudícibus (1995), representa


um necessário e importante complemento às demonstrações financeiras
publicadas por uma empresa, em termos de permitir o fornecimento de dados
e informações adicionais úteis aos usuários no seu julgamento e processo de
tomada de decisões. Caracteriza-se por ser orientado para o futuro, ou seja,
ao fornecer projeções e operações previstas e análises do passado, apresenta
indicativas de tendências futuras.

Outra característica relevante na percepção do mesmo autor é o caráter


descritivo e menos técnico que permite a uma gama maior de usuários o seu
entendimento. Sua estrutura básica retrata as atividades globais do grupo ou
empresa em questão (a análise setorial e a posição financeira e de resultados).

Na primeira parte são normalmente abordados a estratégia corporativa,


eventos não recorrentes, recursos humanos, responsabilidade social, atividades
de pesquisa e desenvolvimento, além de programas de investimentos e projeções
futuras. Na segunda parte, a análise setorial deve contemplar os mercados internos
e externos, tendências futuras, dentre outras informações julgadas oportunas. Na
terceira e última parte são apresentados os resultados operacionais, os indicadores
de liquidez e fontes de capital e a avaliação de ativos.

Finanças Empresariais 137


Capítulo 4

O Relatório da Administração, em sua essência, tem o objetivo de descrever a


situação econômica, financeira e patrimonial de uma organização. Pode-se afirmar,
após anos de estudos, que nenhuma outra peça contábil proporciona a narrativa dos
fatos contábeis de maneira tão peculiar às necessidades de cada empresa quanto
este relatório. Por isso, o Relatório da Administração deve fornecer aos usuários
dados que lhes permitam analisar o contexto em que a organização está inserida,
ou seja, prover aos usuários “demonstrações e análises de natureza econômica,
financeira, física e de produtividade” (PADOVEZE, 2007, p. 47).

Dias Filho (2001) considera que o enfoque central não está em


apresentar os percentuais encontrados nas demonstrações financeiras,
e sim em possibilitar aos seus a efetiva comparação de dados e permitir a
realização de projeções em relação ao futuro da organização. Portanto,
além de procurar demonstrar a real situação da empresa, o Relatório da
Administração busca, ainda, enunciar quadro completo da postura e
de desempenho da administração no que se refere a aspectos tais como:
alocação de recursos, seu desempenho operacional, os investimentos em
recursos humanos, atividades sociais e ambientais.

A divulgação das notas explicativas, normalmente exigidas das sociedades


anônimas, pode evidenciar finalidades diversas, tais como: descrever as
práticas contábeis utilizadas pelas empresas, fornecer informações adicionais
sobre determinadas contas ou operações. A utilização de quadros, tabelas
e gráficos facilitam a visualização objetiva das informações. O pressuposto
básico da divulgação dessas é municiar tanto a administração quanto a outros
interessados como: bancos, governos e investidores. “Ocultar informações
ou fornecê-las de forma demasiadamente resumida é tão prejudicial quanto
fornecer informação em excesso” (IUDÍCIBUS, 1997, p. 115). Por isso, a
utilização das notas explicativas se constitui em exercício de transparência
por parte da empresa que se dispõe a fornecer informações relevantes e de
qualidade aos seus interessados.

EXPLORANDO
Acesse o site e veja a configuração de um
relatório de administração. Você perceberá a
riqueza de detalhes apresentados. Confira!
<www.ambev.com.br/media/29728/ambev_
ra_2009_pt.pdf>.

138 Finanças Empresariais


Capítulo 4

Notas explicativas

As notas explicativas são parte integrante das demonstrações contábeis.


As informações contidas nas notas explicativas devem ser relevantes,
complementares e/ou suplementares àquelas não suficientemente evidenciadas
ou não constantes nas demonstrações contábeis propriamente ditas.

As notas explicativas incluem informações de natureza patrimonial,


econômica, financeira, legal, física e social, bem como os critérios utilizados na
elaboração das demonstrações contábeis e eventos subsequentes ao balanço.

Assaf Neto e Lima (2010, p. 199) enumeram como aspectos relevantes o


seguinte conteúdo para as notas explicativas.

CONTEÚDO DAS NOTAS EXPLICATIVAS

• Ramo de atividade da empresa, objeto social, localização, etc.;


• Sumário das práticas contábeis, com a explicação resumida dos critérios de avaliação dos
estoques, ativo, permanente, das aplicações financeiras, das exigibilidades dos créditos,
das provisões para retificações de ativos e do registro dos riscos e das contingências, dos
critérios de apropriação das receitas e despesas, etc.;
• Detalhamento dos investimentos relevantes em outras empresas, com dados sobre o
nome, capital, patrimônio líquido, porcentagem de participação, receitas e despesas
intercompanhias, saldos a receber e a pagar;
• Reavaliações realizadas no exercício e seu tratamento contábil
• Ônus que gravem ativos da empresas, garantias prestadas a terceiros, fianças, avais e
outras contingências;
• Detalhamento das dívidas de longo prazo com o perfil quanto às épocas de vencimento,
taxas de encargos, tipos de indexação;
• Detalhamento do capital social quanto ao número, espécies e classes de ações;
• Ajustes de exercícios anteriores realizados no exercício;
• Eventos subseqüentes à data do balanço que possam alterar significativamente a
posição financeira e patrimonial futuras da empresa;
• Detalhamento das contas agrupadas no balanço, tais como despesas financeiras
líquidas, ativo imobilizado, etc.;
• Cálculo do lucro e do dividendo por ação e do dividendo mínimo obrigatório.
Quadro 6 - Conteúdo das notas explicativas
Fonte: Assaf Neto e Lima (2009, p. 199).

Relatório e parecer de auditoria

Franco e Marra (2001, p. 28) afirmam que o objetivo da auditoria


compreende o exame de documentos, livros e registros, inspeções e obtenção
de informações e confirmações, internas e externas, relacionados com o
controle do patrimônio, objetivando mensurar a exatidão desses registros
e das demonstrações contábeis deles decorrentes. Os exames são efetuados

Finanças Empresariais 139


Capítulo 4

de acordo com as normas de auditoria usualmente aceitas e incluem os


procedimentos que os auditores julgarem necessários, em cada circunstância,
para obter elementos de convicção, com o objetivo de comprovar se os registros
contábeis estão em consonância com princípios fundamentais e normas de
contabilidade, se as demonstrações contábeis deles decorrentes refletem
adequadamente a situação econômico-financeira, os resultados do exercício
auditado e outras situações nelas evidenciadas.

O relatório de auditoria tem por finalidade evidenciar a observância dos


princípios contábeis geralmente aceitos e serve de base para a elaboração do
parecer, que poderá ser emitido com ou sem ressalvas.

O parecer de auditoria consiste em manifestação de opinião,


fundamentada nas evidências e provas que o auditor reúne ao longo
da execução dos trabalhos, as quais são obtidas por determinados
procedimentos, definidos como “um conjunto de técnicas que o auditor
utiliza para colher as evidências sobre as informações das demonstrações
financeiras” (ALMEIDA, 2003, p. 55).

O parecer emitido pelo auditor independente compõe-se, basicamente,


de três parágrafos:

• o referente à identificação das demonstrações contábeis e definição


das responsabilidades da administração e dos auditores;
• o relativo à extensão dos trabalhos;
• o que expressa a opinião sobre as demonstrações contábeis.
Em condições normais, o parecer é dirigido aos acionistas, cotistas ou
sócios, ao conselho de administração, à diretoria da entidade ou outro órgão
equivalente, segundo a natureza. Em circunstâncias próprias, o parecer é
dirigido ao contratante dos serviços e deve identificar as demonstrações
contábeis sobre as quais o auditor está expressando sua opinião, indicando,
outrossim, o nome da entidade, as datas e os períodos a que correspondem.

Para você compreender melhor, segue o parecer emitido pela KPMG


Auditores Independentes em relação às demonstrações financeiras da Petrobras
referentes aos exercícios de 2008 e 2009. Ressalto que estas informações,
bem como as demonstrações financeiras, notas explicativas, relatório de
administração da referida empresa podem ser acessados no site da própria
Petrobras: <www.petrobras.com.br>.

140 Finanças Empresariais


Capítulo 4

Parecer dos Auditores Independentes


Ao Conselho de Administração e aos Acionistas da
Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras
Rio de Janeiro - RJ

1. Examinamos os balanços patrimoniais da Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras


(“Companhia”) e os balanços patrimoniais consolidados dessa Companhia e suas
controladas, levantados em 31 de dezembro de 2009 e 2008, e as respectivas
demonstrações dos resultados, das mutações do patrimônio líquido, dos fluxos de
caixa e do valor adicionado correspondentes aos exercícios findos naquelas datas,
elaborados sob a responsabilidade de sua Administração. Nossa responsabilidade
é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis.
2. Nossos exames foram conduzidos de acordo com as normas de auditoria aplicáveis
no Brasil e compreenderam: a) o planejamento dos trabalhos, considerando
a relevância dos saldos, o volume de transações e os sistemas contábil e de
controles internos da Companhia e suas controladas; b) a constatação, com
base em testes, das evidências e dos registros que suportam os valores e as
informações contábeis divulgados; e c) a avaliação das práticas e das estimativas
contábeis mais representativas adotadas pela Administração da Companhia
e suas controladas, bem como da apresentação das demonstrações contábeis
tomadas em conjunto.
3. Em nossa opinião, as demonstrações contábeis acima referidas representam,
adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial
e financeira da Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras e a posição patrimonial e
financeira consolidada dessa Companhia e suas controladas em 31 de dezembro
de 2009 e 2008, os resultados de suas operações, as mutações de seu patrimônio
líquido, os seus fluxos de caixa e os valores adicionados referentes aos exercícios
findos naquelas datas, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil.
4. Nossos exames foram conduzidos com o objetivo de formarmos uma opinião
sobre as demonstrações contábeis acima referidas, tomadas em conjunto. As
demonstrações da segmentação de negócios e das informações contábeis contidas
no balanço social, referentes aos exercícios findos em 31 de dezembro de 2009 e
2008, representam informações complementares a essas demonstrações, não são
requeridas pelas práticas contábeis adotadas no Brasil e estão sendo apresentadas
para possibilitar uma análise adicional. Essas informações complementares foram
submetidas aos mesmos procedimentos de auditoria aplicados às demonstrações
contábeis e, em nossa opinião, estão apresentadas, em todos os aspectos relevantes,
adequadamente em relação às demonstrações contábeis referidas no primeiro
parágrafo, tomadas em conjunto
19 de março de 2010.

KPMG Auditores Independentes


CRC-SP-14428/O-6-F-RJ
Manuel Fernandes Rodrigues de Sousa
Contador CRC-RJ-052.428/O-2
Figura 2 - Parecer Auditoria
Fonte: Petrobrás (2010).

Finanças Empresariais 141


Capítulo 4

O parecer apresentado na apostila se enquadra em relatório sem


ressalva, isto é, quando o auditor opina que os exames das demonstrações
contábeis têm perfeita aderência aos princípios fundamentais da
contabilidade. Mas nem sempre é assim. Os pareceres podem ser classificados
de acordo com a natureza da opinião: sem ressalva; com ressalva; adverso;
e com abstenção de opinião.

Franco e Marra (2001) asseveram que o auditor, ao identificar que


as demonstrações não expressam corretamente a situação patrimonial e
financeira, os resultados do exercício e as alterações no capital circulante da
empresa em consonância com os princípios fundamentais de contabilidade,
deve emitir o parecer adverso.

De acordo com Franco e Marra (2001, p. 557), a abstenção de opinião

geralmente é adequada quando o auditor não teve condições de


realizar um exame que compreendesse o alcance necessário para
que ele pudesse reunir os elementos de juízo suficientes para
permitir-lhe formar uma opinião sobre as demonstrações contábeis
objeto de seu exame.

Agora, vamos resolver um pequeno estudo de caso!

4.3 Aplicando a teoria na prática

A Marmoraria Pedra Alta precisa de auxílio na elaboração do seu


balanço.

A partir dos dados que seguem, identifique a quais grupos pertencem


cada conta e a partir desta identificação elabore o balanço da empresa,
tendo por base o modelo apresentado neste capítulo.

142 Finanças Empresariais


Capítulo 4

CONTAS VALORES

Caixa e bancos 1.000,00

Fornecedores 5.000,00

Empréstimos de capital de giro 5.000,00

Capital social 15.000,00

Reservas de capital 6.800,00

Contas a receber 10.000,00

Impostos a recuperar 3.000,00

FGTS a recolher 200,00

Estoque de produtos acabados 5.000,00

Imobilizado 12.000,00

Salários a pagar 2.000,00

Intangível 3.000,00

Para fins de classificação, utilize as siglas a seguir:

• AC – Ativo Circulante
• ANC – Ativo Não Circulante
• PC – Passivo Circulante
• PNC – Passivo Não Circulante
• PL – Patrimônio Líquido

Lembre-se de que na estruturação do balanço patrimonial você deverá


relacionar as contas do ativo, passivo e patrimônio líquido respeitando a
ordem de liquidez para o ativo e exigibilidade para os demais grupos.

Finanças Empresariais 143


Capítulo 4

Então, como ficou?

Para resolver o problema da Marmoraria Pedra Alta, primeiramente você


deve ter classificado as contas conforme a tabela a seguir.

CONTAS VALORES EM R$

Caixa e bancos 1.000,00 AC

Fornecedores 5.000,00 PC

Empréstimos de capital de giro 5.000,00 PC

Capital social 15.000,00 PL

Reservas de capital 6.800,00 AC

Contas a receber 10.000,00 AC

Impostos a recuperar 3.000,00 AC

FGTS a recolher 200,00 PC

Estoque de produtos 5.000,00 AC


acabados

Imobilizado 12.000,00 ANC

Salários a pagar 2.000,00 AC

Intangível 3.000,00 ANC

Na sequência, você deve ter estruturado o balanço seguindo o modelo


apresentado em nosso capítulo. Desta forma, a solução final apresentada é:

ATIVO 34.000,00 PASSIVO 34.000,00

Ativo circulante 19.000,00 Passivo circulante 12.200,00

Caixa e bancos 1.000,00 Empréstimos de 5.000,00


capital de giro

Contas a receber 10.000,00 Fornecedores 5.000,00

Estoques produtos acabados 5.000,00 FGTS a recolher 200,00

Impostos a recuperar 3.000,00 Salários a pagar 2.000,00

Ativo não circulante 15.000,00 Patrimônio líquido 21.800,00

Imobilizado 12.000,00 Capital social 15.000,00

Intangível 3.000,00 Reservas de capital 6.800,00

144 Finanças Empresariais


Capítulo 4

4.4 Para saber mais


Título: Administração financeira: princípios, fundamentos e
práticas brasileiras
Autor: CHEROBIN, A. P. M. S.;
Editora: Campus, SP Ano: 2005
LEMES, A. B.; RIGO, C. M.

Este livro aborda, no capítulo 3, as demonstrações financeiras como


instrumentos complementares de gestão.

Título: Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as


sociedades de acordo com as normas internacionais e do CPC
Autor: IUDÍCIBUS, S.; MARTINS,
Editora: Atlas, SP Ano: 2010
E.; GELBCKE; E. R.; SANTOS, A.

Este livro é leitura obrigatória para quem deseja atuar no mercado


financeiro. Traz, de forma detalhada, toda a regulamentação
contábil utilizada em nosso país, convergindo com as normas
internacionais e as mudanças recentes da legislação.

Site: Balanço social


URL: http://www.balancosocial.org.br

Neste site, você conhecerá o histórico do balanço social, os modelos


sugeridos e ainda acessa uma base de dados que contém os balanços
sociais de inúmeras organizações.

Site: Comissão de valores mobiliários


URL: http://www.cvm.gov.br

Neste site, você tem a oportunidade de acessar dados sobre


empresas de capital aberto, toda a legislação necessária ao pleno
entendimento do mercado, dentre outras informações relevantes.

Site: Portal da Contabilidade


URL: http://www.portaldacontabilidade.com.br

Neste site, além de encontrar textos sobre as demonstrações


financeiras, você poderá acessar planilhas de cálculo, tabelas de
impostos e encargos sociais, dentre outras informações.

Finanças Empresariais 145


Capítulo 4

4.5 Relembrando

O capítulo 4 apresentou:

• as implicações legais das demonstrações, as alterações ao longo do


tempo, e que estas caminham para a convergência com as normas
internacionais da contabilidade;

• a estrutura das principais demonstrações financeiras, suas aplicações


no ambiente financeiro e, de forma preliminar, informações que
evidenciam os níveis de desempenho de uma empresa;

• os diversos relatórios que acompanham as demonstrações financeiras,


que visam informar não só aos acionistas, mas também investidores e
outros agentes envolvidos na atividade da empresa. Por meio destes
relatórios, você tem acesso às principais estratégias e procedimentos
contábeis adotados.

4.6 Testando os seus conhecimentos

1) É o informe contábil que evidencia, de forma sintética, os valores


correspondentes à formação da riqueza gerada pela empresa em determinado
período e sua respectiva distribuição.

a) Balanço patrimonial.
b) Demonstração do fluxo de caixa.
c) Demonstração do valor agregado.
d) Demonstração de resultado.
e) Demonstração de origens e aplicações de recursos.

146 Finanças Empresariais


Capítulo 4

2) Demonstrativo que funciona como uma espécie de fotografia da situação


financeira da empresa, em uma determinada data. É a demonstração contábil
destinada a evidenciar, qualitativa e quantitativamente a posição patrimonial
e financeira da entidade em um período específico. Os elementos diretamente
relacionados com a mensuração da posição patrimonial financeira são ativos,
passivos e patrimônio líquido. Qual é este demonstrativo?

a) Balanço patrimonial.
b) Demonstração do fluxo de caixa.
c) Demonstração do valor agregado.
d) Demonstração de resultado.
e) Demonstração de origens e aplicações de recursos.

3) Passou a ser exigida no Brasil a partir dos exercícios sociais iniciados em


2008, em razão da nova redação dada ao inciso IV do art. 176 da Lei das S. A.
pela Lei n. 11.638/2007, e substituiu a demonstração das origens e aplicações
de recursos (DOAR).

a) Balanço patrimonial.
b) Demonstração do fluxo de caixa.
c) Demonstração do valor agregado.
d) Demonstração de resultado.
e) Demonstração de origens e aplicações de recursos.

4) A Lei n. 11.638/07 estendeu às sociedades de grande porte a obrigatoriedade


de manter escrituração e elaborar demonstrações contábeis com observância
das disposições da lei societária. São consideradas de grande porte as empresas
que, individualmente ou sob controle comum, apresentem:

a) faturamento de até R$ 240 mil ao ano.


b) faturamento igual o inferior a R$ 25 milhões.
c) ativos superiores a R$ 10 milhões.
d) ativos totais superiores a R$ 240 milhões ou receita bruta superior a
R$ 300 milhões.
e) ativos superiores a R$ 50 milhões em mais de um exercício.

Finanças Empresariais 147


Capítulo 4

Onde encontrar

ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 6. ed. São Paulo:


Atlas, 2003.

AMBEV (BRASIL). Desenvolvido por AmBev. Disponível em: <www.ambev.


com.br>. Acesso em: 26 nov. 2010.

ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-


financeiro. 8. ed. São Paulo, Atlas, 2006

______; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2009.

BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C.; Curso de contabilidade para gestores,


analistas e outros profissionais: São Paulo: Atlas, 2010.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (BRASIL). Desenvolvido por


CPC. Disponível em: <www.cpc.org.br>. Acesso em: 26 nov. 2010.

CREPALDI, S. A Curso básico de contabilidade. 2 ed. São Paulo: Atlas.1999

DIAS FILHO, J. M. Características qualitativas da informação contábil: o


problema da compreensibilidade à luz da teoria semiótica e da comunicação.
Dissertação (Mestrado). Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

FRANCO, H.; MARRA, E. Auditoria contábil. 4. ed. São Paulo: Editora Atlas,
2001.

HENDRICKSEN, E, BREDA M. F. V. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas.


1999.

HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira


aplicada, estratégias financeiras e orçamento empresarial. São Paulo: Atlas,
2008.

IUDÍCIBUS, S. Manual de contabilidade. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1995.

______. Teoria da contabilidade. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1997.

148 Finanças Empresariais


Capítulo 4

______, MARTINS, E. e GELBCKE E R. Manual de contabilidade das sociedades


por ações. São Paulo: Atlas, 2000.

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adicionado para a mensuração do resultado econômico e social. IX
Convenção de Contabilidade do Rio Grande do Sul, Gramado. Anais. 2003.

MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços. 3. ed. São Paulo: Atlas,


1995.

MOTTA, R. R.; CALÔBA, G. M. Análise de investimentos: tomada de decisão


em projetos industriais. São Paulo: Atlas, 2006.

NEVES, S., VICECONTI, P. E. Contabilidade avançada e análise das


demonstrações financeiras. 11. Ed. São Paulo: Frase Editora, 2002.

PADOVEZE, C. L. Contabilidade gerencial. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

PETROBRAS. Desenvolvido por Petrobras. Disponível em: <www.petrobras.


com.br>. Acesso em: 26 nov. 2010.

PINHO, A. D. Demonstração dos fluxos de caixa. São Paulo: Boletim do


Ibracon, n. 220, set. 1996.

REIS, A. C. R. Demonstrações contábeis: estrutura e análise. São Paulo:


Saraiva, 2003.

SÁ, C. A. Fluxo de caixa: a visão da tesouraria e da controladoria. São Paulo:


Atlas, 2006.

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financeiros. 7. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1998.

Finanças Empresariais 149


Capítulo 4

150 Finanças Empresariais


Capítulo 5

CAPÍTULO 5
ANÁLISE ESTRATÉGICA DAS
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

5.1 Contextualizando
Este capítulo apresentará as principais técnicas de análise estratégica das
demonstrações financeiras que você conheceu no capítulo anterior.

O texto mostrará os aspectos teóricos e práticos do processo de análise,


e você perceberá que não consiste em meramente transcrever os dados dos
demonstrativos para uma planilha, pois a crítica dos dados é a primeira etapa,
e muitas vezes reclassificações das informações serão necessárias, o que exige
do profissional uma boa dose de leitura de revistas e jornais especializados. Um
número não pode ser visto de forma isolada, mas sempre integrado aos demais.

Espera-se que, ao final do estudo, você seja capaz de desenvolver uma


análise econômico-financeira e as suas implicações na gestão estratégica das
empresas. Principalmente, que você consiga visualizar por que este assunto é
apresentado nesta disciplina. E aí, pronto?

5.2 Conhecendo a teoria

O mercado financeiro se utiliza das informações contidas nas


demonstrações financeiras para o processo de tomada de decisão. Uma
instituição financeira, por exemplo, busca analisar os dados para a concessão
ou não de crédito para esta ou aquela empresa. Os investidores, em razão dos
números apresentados, poderão se sentir estimulados a comprar ações desta
ou daquela companhia. O que o mercado busca, seja numa condição ou outra,
é a análise dos fundamentos de uma empresa. Apresentarei a você alguns
conceitos deste processo na percepção de diferentes autores.

Finanças Empresariais 151


Capítulo 5

A análise econômico-financeira ou das demonstrações contábeis


visa fundamentalmente ao estudo do desempenho econômico-
financeiro de uma empresa em determinado período passado,
para diagnosticar, em consequência, sua posição atual, e produzir
resultados que sirvam de base para a previsão de tendências
futuras. Na realidade, o que pretende são os reflexos que as
decisões tomadas por uma empresa determinam sobre sua liquidez,
estrutura patrimonial e rentabilidade (MARTINS, 1993, p. 234-235).

Padoveze (2005, p. 215) ratifica o conceito de Martins ao afirmar que a


análise financeira ou de balanço “trata-se de um processo de meditação sobre
os demonstrativos contábeis, objetivando uma avaliação da situação da empresa
em seus aspectos operacionais, econômicos, patrimoniais e financeiros”.

Na percepção de Borinelli e Pimentel (2010, p. 352), “as demonstrações


contábeis são importante instrumento de comunicação entre uma empresa e
seus acionistas, credores, financiadores, clientes, funcionários, governo, além
do público em geral”.

Sanvicente (1987, p. 172), por sua vez, explicita:

Entende-se por análise de demonstrações financeiras o acompanhamento


da evolução, no tempo, de um dado item de uma demonstração.
Consequentemente ele envolve o cálculo de percentagens de variação
de cada item considerado, entre um ano (ou período) e outro, quando
se trata de Balanço Patrimonial e Demonstrações de Resultado.

A análise de balanços envolve a avaliação das diversas demonstrações


financeiras legalmente exigidas e demais informações fornecidas pelas
empresas, não se limitando exclusivamente ao Balanço Patrimonial e à
Demonstração de Resultado do Exercício (SCHRICKEL, 1999, p. 118).

Iudícibus (2008, p. 89) enfatiza que “a análise de balanços encontra seu ponto
de maior expressividade no cálculo e avaliação do significado de quocientes com
o objetivo de extrair tendências e compará-los com padrões já preestabelecidos”.

Borinelli e Pimentel (2010, p. 376), na mesma linha, destacam que

a análise das demonstrações contábeis está quase que exclusivamente


baseada em comparações. Tais comparações podem ser entre uma
empresa específica e outras do mesmo setor ou comparações, na
mesma empresa de valores obtidos em determinado período com
valores de períodos anteriores, ou ainda como valores projetados.

152 Finanças Empresariais


Capítulo 5

A análise de balanços é considerada uma arte, apesar de utilizar fórmulas


matemáticas e métodos científicos para extrair dados, pois depende, segundo
Hoji (2008, p. 275), do grau de conhecimento teórico, conhecimento do ramo,
experiência prática, sensibilidade e intuição do analista.

A análise na concepção de diversos autores é precedida de etapa na


qual os dados são criticados e reclassificados. Hoji (2008, p. 276) resume os
principais itens:

• no ativo existem contas retificadoras do subgrupo contas a


receber, tais como: duplicatas descontadas e adiantamentos de
contratos de exportação, que na realidade são considerados como
empréstimos. Portanto, embora estas sejam apresentadas no
balanço da empresa no ativo circulante deverão ser reclassificadas
como empréstimos e financiamentos de curto prazo, no passivo.
Logo, você pode concluir que o ativo e o passivo terão seus valores
corrigidos para cima;

• as contas do ativo circulante e passivo circulante deverão ser


separadas em operacionais e não operacionais. Como exemplo de
contas não operacionais, posso mencionar: os parcelamentos de
impostos e demais obrigações sociais e trabalhistas, o imposto de
renda e a contribuição social, os empréstimos e financiamentos, as
disponibilidades e as aplicações financeiras. Como operacionais:
contas a receber, fornecedores, os impostos sobre as vendas (ICMS,
PIS, COFINS), o FGTS, o INSS e os salários.

Você deve estar se perguntando: qual a necessidade destes procedimentos?


A não adequação destes itens interfere, segundo Assaf Neto (2010), Santos,
Schmidt e Martins (2006) e Borinelli e Pimentel (2010), na análise do capital de
giro necessário à manutenção das atividades da empresa.

Finanças Empresariais 153


Capítulo 5

PRATICANDO
Busque identificar numa demonstração
financeira publicada em jornais, revistas ou
mesmo na internet, as contas operacionais e
não operacionais. Lembre-se que a necessidade
desta segregação somente é exigida nos ativos
e passivos circulantes.

Agora que você já compreendeu o objetivo da análise das demonstrações


financeiras, convido você a aprofundar o seu conhecimento por meio do
estudo dos diferentes processos de análise. Os diversos autores aqui já citados
concordam na existência de três processos principais:

• análise horizontal;
• análise vertical;
• análise de indicadores.

5.2.1 Análise horizontal

Matarazzo (2003, p.249) afirma que a análise horizontal “baseia-se


na evolução de cada conta de uma série de demonstrações financeiras em
relação à demonstração anterior e/ou em relação a uma demonstração
financeira básica, geralmente a mais antiga da série”.

Segundo Borinelli e Pimentel (2010, p. 381), pela análise horizontal é


identificado e analisado o desempenho na gestão de determinadas áreas
das empresas, bem como expansões ou retrações das atividades ao longo do
tempo. Ressaltam ainda a necessidade de mensurar os efeitos inflacionários.

Santos, Schmidt e Martins (2006, p. 110) ressaltam que a análise


horizontal das demonstrações contábeis evidencia a variação ocorrida a
cada período, em termos percentuais, de uma rubrica de determinada
demonstração em relação a determinado ano. Hoji (2008, p. 281),
na mesma linha, afirma que “a análise horizontal tem a finalidade
de evidenciar a evolução dos itens das demonstrações contábeis, por
períodos”. Ela permite que se avalie a evolução nominal dos vários itens
de cada demonstração contábil apresentada em intervalos sequenciais de
te mpo. Como exemplo, veja a variação da conta caixa:

154 Finanças Empresariais


Capítulo 5

Tabela 1 - Análise horizontal


ANÁLISE
CONTA 2008 2009
HORIZONTAL
Caixa 150 200 1,33

Análise: o saldo da conta caixa apresentou expansão de 33% no exercício


de 2009 se comparado ao de 2008.

Observe outro exemplo:

Tabela 2 - Análise horizontal


ANÁLISE
CONTA 2008 2009
HORIZONTAL
Caixa 200 150 0,75

Análise: neste caso, a conta Caixa apresentou retração de 25% no período


analisado.

PRATICANDO
Considerando os dados apresentados na tabela
a seguir, peço a você que calcule a retração dos
resultados obtidos pela empresa.

ANÁLISE
CONTA 2008 2009
HORIZONTAL
Lucro/prejuízo 2500 -1500
operacional

Se você respondeu 160% está correto, se não, veja a observação a seguir.

Quando o valor base for negativo e o valor posterior for positivo, o


número índice será matematicamente negativo e vice-versa. Assim, quando o
valor base for negativo, deve-se adotar um número índice igual a -100.

Finanças Empresariais 155


Capítulo 5

5.2.2 Análise vertical

A análise vertical, na percepção de Hoji (2008, p. 281), “facilita a avaliação


da estrutura do ativo e do passivo, bem como a participação de cada item da
demonstração de resultado na formação do lucro ou prejuízo”.

Santos, Schmidt e Martins (2006, p. 110) ressaltam que a análise


vertical “evidencia a participação em termos percentuais de cada rubrica de
determinada demonstração em relação a um totalizador, a exemplo do total
do ativo, receita líquida”. A análise vertical permite ao analista identificar os
itens mais relevantes da estrutura patrimonial ou ainda projetar uma tendência
futura quando da realização da análise por mais de um período.

O objetivo da análise vertical, segundo Matarazzo (2003), é demonstrar


a importância de cada conta em relação à demonstração financeira a que
pertence e, pela comparação das contas do demonstrativo em relação a
empresas concorrentes do mesmo ramo de atividades ou com percentuais da
própria empresa em anos anteriores, a análise possibilita ao gestor inferir se
há contas fora dos padrões.

Segundo Borinelli e Pimentel (2010, p. 376), “a análise vertical concentra-


se na verificação da estrutura de composição dos itens dos demonstrativos
e a sua evolução no tempo, com enfoque especial, também, ao estudo de
tendências”.

Em síntese, a análise vertical permite que se avalie de forma comparativa


a estrutura de uma mesma demonstração contábil, qual o comportamento de
cada subgrupo contábil. Observe o exemplo apresentado na tabela.

156 Finanças Empresariais


Capítulo 5

Tabela 3 - Análise vertical


31-12-X0 AV 31-12-X1 AV 31-12-X2 AV

($) (%) ($) (%) ($) (%)

Ativo circulante 4.585 50 3.922 46 3.732 44

Realizável a longo 739 8 872 10 952 11


prazo

Ativo permanente 3.936 42 3.783 44 3.826 45

Ativo/passivo total 9.260 100 8.577 100 8.510 100

Passivo circulante 4.012 43 3.624 42 3.917 46

Exigível a longo 2.102 23 2.031 24 1.629 19


prazo

Patrimônio líquido 3.147 34 2.923 34 2.964 35

Fonte: adaptada de Assaf Neto (2009).

Outra forma de se analisar as demonstrações financeiras é a utilização


de indicadores econômico-financeiros. Esses podem ser agrupados em face da
natureza da informação que se deseja obter, tais como:

• liquidez;
• estrutura;
• rentabilidade;
• atividade;
• necessidade financeira.

Você verá com detalhes cada um destes grupos de indicadores a partir de agora.

5.2.3 Análise de liquidez

Hoji (2008, p. 286) afirma que “os indicadores de liquidez mostram a situação
financeira da empresa”. Borinelli e Pimentel (2010, p. 404) complementam, ressaltando
que estes indicadores têm como preocupação fundamental revelar como está a
situação da empresa em determinado período, para fazer frente às suas obrigações.

Os indicadores de liquidez têm por objetivo medir a capacidade de


pagamento de uma empresa, ou seja , sua habilidade em cumprir corretamente
as obrigações contratadas.

Finanças Empresariais 157


Capítulo 5

Na percepção de diferentes autores aqui citados, a capacidade de


pagamento ou solvência da empresa é classificada em quatro níveis. Vejamos.

“A análise, por meio de índices financeiros, é usada para comparar o


desempenho e a situação de uma empresa com outras empresas, ou consigo
mesma ao longo do tempo” (GITMAN, 1997, p. 102).

Borinelli e Pimentel (2010, p. 403) afirmam que um índice econômico-


financeiro é a representação da relação entre contas ou grupos de contas
contábeis que sinalizam a condição satisfatória ou não em termos econômicos
(geração de lucros) e financeiros (gestão de caixa).

Iudícibus (2008) enfatiza que as análises baseadas em indicadores deverão


ser realizadas considerando a relevância dos mesmos, pois não adianta apurar
uma infinidade de índices se com um grupo menor você obtém o mesmo
resultado.

Liquidez geral

Na concepção de Iudícibus (1998), Silva (2001) e Matarazzo (2003), o índice


de liquidez geral evidencia de forma quantitativa a representatividade do ativo
circulante acrescido com o realizável a longo prazo (não circulante) em relação ao
passivo deduzido de seu patrimônio líquido. Esse índice demonstra a capacidade de
pagamento total das dívidas, representadas pelo curto e longo prazo.

Evidencia a relação entre os valores classificados no ativo circulante (AC)


(disponível, clientes, estoques) e realizável a longo prazo (ARLP) com os valores do
passivo circulante (empréstimos, fornecedores, obrigações sociais e fiscais) PN e PNC.

AC + ARLP
LG =
PC + PNC

O resultado dessa equação indica a liquidez, ou seja, a solvência da


empresa, considerando o impacto dos valores totais (a curto e a longo prazos).
Quando esse resultado for maior que 1, de modo geral, a situação da empresa
pode ser considerada favorável (contas a receber são maiores que as contas a
pagar no curto e no longo prazo).

158 Finanças Empresariais


Capítulo 5

Já em caso contrário, ou seja, se o resultado for menor que 1, a liquidez


da empresa está comprometida.

Segundo Borinelli e Pimentel (2010, p. 406), a análise do indicador de


liquidez geral, como de qualquer outro indicador, não pode ser realizada de
forma isolada. O fato de a empresa apresentar um quociente menor que 1,0
não significa que ela apresente situação financeira insatisfatória, esta condição
será confirmada a partir da análise dos demais indicadores de liquidez,
principalmente, o corrente.

Liquidez corrente

Demonstra a relação entre os valores classificados no ativo circulante


com os classificados no passivo circulante.

AC
LC =
PC

O resultado dessa equação indica a situação da empresa a curto prazo


(até 360 dias). Quando esse resultado for maior que 1, de modo geral, a
situação da empresa pode ser considerada favorável, somente no curto prazo.

Já em caso contrário, ou seja, se esse resultado for menor que 1, podemos dizer
que a empresa está comprometida a curto prazo. Devemos, então, analisar o motivo
dessa discrepância, que pode ser momentânea ou já indicar um sinal de deterioração.

Matarazzo (2003, p. 286) relata que “quanto maior o índice de liquidez


corrente, maior a independência da empresa em relação aos credores e maior
a sua capacidade de enfrentar crises e dificuldades inesperadas”.

O índice mais utilizado para avaliar a exposição à dívida representada


no balanço patrimonial é o índice de liquidez corrente, segundo Helfert
(2000) e Silva (2001). Em publicações como Valor 1000, do jornal Valor
Econômico, e Maiores e Melhores, da revista Exame, você encontrará,
dentre outros, esse indicador.

Finanças Empresariais 159


Capítulo 5

Borinelli e Pimentel (2010, p. 407) comentam que este indicador, para


apresentar um índice mais acurado, deve excluir as despesas antecipadas,
tais como: seguros e aluguéis, que figuram no ativo circulante por serem
direitos – direitos de uso e não realização de dinheiro.

Liquidez seca

Retrata a relação anterior com a exclusão dos estoques (E) e despesas


antecipadas (DA), que na maioria das vezes não se constituem como valores
de fácil conversão para valores disponíveis.

AC − E − DA
LS =
PC

O resultado dessa equação indica a capacidade da empresa em honrar


seus compromissos a curto prazo, apenas com o montante disponível, acrescido
das duplicatas a receber.

Segundo Borinelli e Pimentel (2010, p. 407), o índice liquidez seca


assemelha-se ao de liquidez corrente; eles se diferenciam pelo fato de
serem deduzidos de seu cálculo os valores contabilizados em estoques e
despesas antecipadas. Seu quociente definirá o grau de dependência da
realização dos estoques para que a empresa cumpra com o pagamento de
suas obrigações nos prazos acordados.

Liquidez imediata

Revela a relação entre os valores disponíveis (D) com os classificados no


passivo circulante. É calculado por meio da seguinte fórmula:

D
LI =
PC

Borinelli e Pimentel (2010, p. 407) afirmam que quanto maior for o valor
apurado deste indicador, melhor será o nível de solvência imediata, e, ainda,
na prática, este índice tende a ser baixo, em virtude de que o potencial de

160 Finanças Empresariais


Capítulo 5

rentabilidade dos ativos operacionais (investimentos em clientes e estoques)


tende a ser superior ao das disponibilidades.

Vale ressaltar que um “índice” isolado não traduz a situação real


da empresa. Uma série de outros fatores deve ser considerada como
complementação para que se tenha uma situação real da empresa. Dentre
eles, destaca-se:

• evolução histórica do índice na própria empresa (deverá ser comparado


pelo balanço, 3 anos, mais balancete recente);

• comparação desses índices, com os índices de outras empresas, do


mesmo ramo;

• análise da qualidade dos ativos a serem convertidos (ativo corrente


maior que passivo corrente), sendo necessária, portanto, a análise do
ciclo operacional, pois definirá o montante a ser emprestado ou não
à empresa.

5.2.4 Análise de estrutura e endividamento

Os índices de estrutura, conforme apresentado por Perez Junior e


Begalli (2009, p. 252), expressam o nível de participação de capital de
terceiros na atividade da empresa, evidenciando sua situação financeira
e servindo de norteador para as decisões, sejam de investimento ou
financiamento, bem como demonstram o atual nível de endividamento
da empresa.

Este grupo de índices, conforme ressaltam Borinelli e Pimentel (2010,


p. 411), evidencia a situação patrimonial da empresa, demonstrando os
caminhos adotados em termos de obtenção e aplicação de recursos.

Os indicadores de estrutura de capital, na percepção de Hoji (2008,


p. 285), são “índices calculados relacionando-se as fontes de capital entre
si e com o ativo permanente. Indicam ainda o grau de dependência da
empresa em relação à capital de terceiros e o nível de imobilização do
capital”. Portanto, os indicadores de estrutura e de endividamento têm
por objetivo aferir a composição das fontes passivas de recursos de uma
empresa. Podem ainda demonstrar como os recursos obtidos junto a

Finanças Empresariais 161


Capítulo 5

terceiros são alocados dentro da empresa e qual o nível de participação


destes. Destaco a seguir os principais indicadores.

Imobilização do capital próprio (ICP)

Revela a porcentagem dos recursos passivos em longo prazo (de


natureza permanente) que se encontra imobilizada em itens ativos, também
de natureza permanente. Este índice mede o grau de comprometimento dos
recursos próprios com a imobilização da empresa.

AP
ICP =
PL

As aplicações dos recursos do Patrimônio Líquido são mutuamente


exclusivas do Ativo Permanente e do Ativo Circulante. Quanto mais
a empresa investir no Ativo Permanente, menos recursos próprios
sobrarão para o Ativo Circulante e, em consequência, maior será a
dependência a capitais de terceiros para o financiamento do Ativo
Circulante (MATARAZZO, 2003, p. 162).

Na mesma perspectiva, Borinelli e Pimentel (2010, p. 414) destacam


que a imobilização de recursos é considerada o inverso da liquidez geral,
em face de que uma alta imobilização repercute em menor valor aplicado
nas atividades operacionais, e, por consequência, menor capital de giro e
menor liquidez.

Participação de capitais de terceiros

Busca identificar o nível de dependência da empresa em relação aos


recursos próprios investidos. Este indicador mede o grau de risco financeiro da
empresa, em decorrência do grau de utilização de recursos de terceiros (PC e
PNC) em sua estrutura financeira.

PC + PNC
PCT =
PL

162 Finanças Empresariais


Capítulo 5

O índice de participação de capitais de terceiros relaciona, portanto,


as duas fontes de recursos da empresa, ou seja, capitais próprios e
capitais de terceiros. É um indicador de risco ou de dependência
a terceiros por parte da empresa. Também pode ser chamado
índice de grau de endividamento. Do ponto de vista estritamente
financeiro, quanto maior a relação capitais terceiros/patrimônio
líquido, menor a liberdade de decisões financeiras da empresa
ou maior a dependência a esses terceiros, e do ponto de vista de
obtenção de lucro, pode ser vantajoso para a empresa trabalhar
com capitais de terceiros, se a remuneração paga a esses capitais de
terceiros for menor do que o lucro conseguido com a sua aplicação
nos negócios (MATARAZZO, 2003, p. 160).

Borinelli e Pimentel (2010, p. 412) corroboram com Matarazzo (2003) ao


enfatizarem que “sob o prisma financeiro, pode-se afirmar que quanto menor
este índice, melhor, isso porque quanto maior ele for maior será a dependência
da empresa, junto a terceiros e menor será, então, a sua liberdade de decisões
financeiras”.

Composição do endividamento

A composição do endividamento revela qual a porcentagem das dívidas


financeiras, ou não, alocadas no curto prazo em relação ao endividamento
total da empresa.

PC
CE =
PC + PNC

Logo após conhecer o grau de participação de capitais de terceiros


é saber qual a composição dessas dividas, uma coisa é ter dívidas
de curto prazo que precisam ser pagas com recursos possuídos
hoje; outra situação é possuir dívidas a longo prazo, pois a empresa
dispõe de tempo para gerar recursos para pagá-las (MATARAZZO,
2003, p. 161).

Borinelli e Pimentel (2010, p. 412) enfatizam que a composição de


endividamento com perfil de concentração no longo prazo possibilita à
empresa um maior prazo para gerar os recursos necessários à liquidação dos
compromissos; por outro lado, a concentração no curto prazo poderá resultar
em dificultadores, principalmente no que se refere à captação de recursos que
apresentam taxas mais elevadas.

Finanças Empresariais 163


Capítulo 5

Endividamento oneroso ou financeiro

O endividamento oneroso ou financeiro revela a porcentagem


dos recursos financeiros – empréstimos (EMP) e financiamentos (FIN) –
captados no curto prazo e longo prazo em relação aos recursos próprios da
empresa. Este indicador mede exclusivamente os empréstimos bancários
sobre o patrimônio líquido.

EMP + FIN
EF =
PL

Imobilização dos recursos não correntes

Este índice informa quanto dos recursos permanentes (PL) e de longo


prazo (PNC) está alocado no ativo permanente.

AP
IRNC =
PNC + PL

O índice de imobilização dos recursos não correntes apresenta, na


opinião de Borinelli e Pimentel (2010, p. 412), uma particularidade:

os elementos do ativo permanente possuem vida útil que


pode variar de 5 até 50 anos. Dessa feita, desde que a firma
possua recursos no exigível , cujos prazos sejam compatíveis
com a duração dos elementos, ou suficientes para a empresa
gerar recursos capazes de resgatar as dívidas de longo prazo.
É perfeitamente possível que não se financie todo o ativo não
circulante permanente somente com recursos próprios.

Alavancagem financeira

Revela a capacidade que os recursos de terceiros apresentam de expandir


a rentabilidade dos proprietários da empresa. O grau de alavancagem
financeira (GAF) pode ser calculado pela fórmula:

164 Finanças Empresariais


Capítulo 5

RPL
GAF =
RSA

A alavancagem financeira, segundo Gitman (1997), resulta da presença


de encargos financeiros fixos no fluxo de lucros da empresa, isto é, a capacidade
da empresa usar os encargos financeiros fixos a fim de maximizar os efeitos de
variações no lucro antes dos juros e impostos (LAJIR) sobre os lucros.

Índice de cobertura de juros

Revela a o número de vezes que os resultados operacionais da empresa


cobrem a remuneração (despesas financeiras – juros) devido ao capital de
terceiros. É calculado pela fórmula:

Gitman (1997, p. 118) afirma que “o índice de cobertura de juros mede


a capacidade da empresa para realizar pagamentos contratuais.” Geralmente,
quanto maior for este número índice, maior é a capacidade da empresa para
liquidar suas obrigações com juros

LOARF
ICJ =
DF

Na percepção de Hoji (2008), Assaf Neto (2009) e Borinelli e Pimentel


(2010) estes indicadores devem apresentar valores menores que 1, excetuando-se
os indicadores de cobertura de juros e alavancagem financeira, pois quanto
maiores os resultados, melhores são estes indicadores.

5.2.5 Análise de lucratividade e rentabilidade

Hoji (2008, p. 292) afirma que os indicadores de rentabilidade objetivam


avaliar os resultados auferidos por uma empresa em relação a parâmetros
que melhor revelem suas dimensões. São índices que têm por base de
comparação o ativo total, o patrimônio líquido e as receitas. Evidenciam
a condição de sucesso ou insucesso empresarial. A seguir, apresento os
principais indicadores deste grupo.

Finanças Empresariais 165


Capítulo 5

Ross, Westerfield e Jaffe (2007) destacam que a visualização e mensuração


da rentabilidade de uma empresa são extremamente complexas. Segundo os
autores, não há como afirmar seguramente que uma companhia é rentável,
uma vez que as afirmações somente podem ser realizadas a partir de dados
históricos ou correntes, porém, nunca futuros. Cabe ainda salientar que
muitas oportunidades empresariais exigem o sacrifício de lucros no momento
presente na expectativa de resultados futuros.

Estes quocientes apurados mensuram o quanto uma determinada


empresa está sendo lucrativa ou não, pelo do capital investido, pelo
rendimento dos investimentos e pelo resultado econômico. Normalmente,
quanto maiores os índices de rentabilidade, melhor para a empresa
(CAMELO et al., 2007).

Segundo Matarazzo (2003), os índices de rentabilidade mostram qual o


grau de retorno dos capitais investidos, demonstrando a eficiência econômica
da empresa. Em perspectiva complementar, Gitman (2004, p. 52) destaca que
existem inúmeras medições de rentabilidade:

Como grupo, essas medições permitem ao analista avaliar os lucros


da empresa em relação a certo nível de vendas, a certo nível de ativos
ou ao volume de capital investido pelos proprietários. Sem lucros
uma empresa não poderia atrair capital externo. Os proprietários,
credores e administradores preocupam-se muito com lucro, pois
isso é visto como algo muito importante no mercado.

Na opinião de Borinelli e Pimentel (2010, p. 417), os índices de


lucratividade e rentabilidade buscam evidenciar qual foi a rentabilidade dos
capitais investidos na empresa e a lucratividade das operações realizadas.
Ressaltam ainda que o valor alto ou baixo dependerá de variáveis, tais como:
segmento de mercado, porte da empresa, tempo de atividade, dentre outras.

Margem bruta

A margem bruta identifica o desempenho dos custos de produção ou


comercialização. Dado que o lucro bruto (LB) é obtido pela diferença entre
as vendas líquidas e o custo dos produtos vendidos ou das mercadorias
vendidas, o aumento ou diminuição deste índice significa uma melhor ou
pior eficiência produtiva da empresa no que se refere aos seus custos. É
dada pela fórmula:

166 Finanças Empresariais


Capítulo 5

LB
MB =
ROL

Margem operacional

Identifica o desempenho operacional da empresa computando o


resultado financeiro (RF) mais o resultado da equivalência patrimonial. É
dada pela fórmula:

LOP
MO =
ROL

Margem operacional antes do resultado financeiro

Identifica o desempenho operacional da empresa em função de


valores efetivamente utilizados em sua atividade operacional. É dada
pela fórmula:

LOP − RF
MOARF =
ROL

Margem líquida

Representa a percentagem de cada real que permaneceu na empresa


sob a forma de lucro após os pagamentos de todas as despesas, inclusive
financeiras e tributárias. É dada pela fórmula:

Ll
Ml =
ROL

A Margem Liquida (ML) indica o quanto a empresa obtém de lucro


para cada cem unidades monetárias vendidas, ou seja, para cada cem reais
provenientes de venda, o quanto a empresa recebe como lucro (MATARAZZO,
2008; SILVA, 2001).

Finanças Empresariais 167


Capítulo 5

Demonstra, conforme Camelo et al. (2007), o lucro puro adquirido em


cada unidade monetária provinda de venda, considerando para tal somente
os lucros aferidos pela empresa, desconsiderando despesas financeiras ou
obrigações.

Retorno sobre o patrimônio líquido

Revela a relação entre o lucro líquido e o patrimônio líquido médio (PLM)


da empresa. Busca mensurar o retorno produzido dos recursos aplicados pelos
sócio-acionistas da empresa. Exerce influência a médio e longo prazo sobre o
valor de mercado das ações. É dado pela fórmula:

LL
RPL =
PLM

PL x2 + PL x1
PLM =
2

Lembre-se de que o saldo final de uma conta patrimonial é o saldo inicial


do ano seguinte.

Borinelli e Pimentel (2010, p. 421) destacam que a rentabilidade do


patrimônio líquido é “um índice que retrata quanto vai para o acionista
do lucro gerado pelo uso do ativo, quaisquer que tenham sido as fontes de
recursos, próprias ou de terceiros.”

REFLEXÃO

Sabendo que pode obter uma remuneração em


aplicação financeira de renda fixa à taxa SELIC
atualmente em 10,75%, você investiria seus
recursos se o retorno do capital investido numa
empresa fosse inferior a essa taxa?

168 Finanças Empresariais


Capítulo 5

Se você respondeu afirmativamente ao desafio proposto, deve ter


ponderado que os recursos de que dispõe não obtém esta taxa no mercado
financeiro. Portanto, você teria tomado a decisão correta em investir. Mas se
você consegue esta taxa para os valores que dispõe, reflita sobre a sua decisão.

Retorno sobre o ativo total

Revela a relação entre o lucro líquido e o ativo total médio (ATM) da


empresa. Busca mensurar o retorno produzido pelo total de aplicações
realizadas pela empresa em seus ativos. É dado pela fórmula seguinte:

LL
RAT =
ATM

ATx2 + ATx1
ATM =
2

Retorno sobre o ativo operacional

Revela a relação entre o lucro operacional e o ativo operacional médio


(AOM) da empresa. Busca mensurar o retorno produzido pelo total de
aplicações realizadas pela empresa em seus ativos operacionais (clientes e
estoques). É dado pela fórmula seguinte:

LOP
RSA =
AOM

AOx2 + AOx1
AOM =
2

Giro do ativo

O giro do ativo revela o número de vezes que o ativo total da empresa


girou em determinado exercício em função das vendas realizadas. É dado pela
fórmula seguinte:

ROP
GA =
ATM

Finanças Empresariais 169


Capítulo 5

Giro do ativo operacional

O giro do ativo operacional revela a relação entre as vendas líquidas


e as aplicações de natureza operacional (clientes e estoques). É dado pela
fórmula seguinte:

ROL
GAO =
AOM

Na percepção de Hoji (2008), Assaf Neto (2009) e Borinelli e Pimentel


(2010) estes indicadores devem apresentar valores positivos e quanto maiores,
melhor. Podem ainda serem expressos em termos unitários ou percentuais.

A rentabilidade do ativo é apurada quando se pretende ter uma


noção do desempenho econômico de um empreendimento como um todo,
independente da origem dos recursos (BORINELLI; PIMENTEL, 2010, p. 420).

5.2.6 Análise de atividade ou ciclo

Segundo Gitman (1997, p. 112), “os índices de atividade são usados para
medir a rapidez com que as várias contas são convertidas em vendas ou caixa”.
Buscam auferir os ciclos operacionais e financeiros, a partir da identificação dos
prazos médios de contas a receber e/ou clientes, prazos médios de renovação
de estoques e prazos médios de pagamento de fornecedores.

Borinelli e Pimentel (2010, p. 423) afirmam que os índices de gestão,


também conhecidos como de atividade ou ciclo, mensuram a eficiência da
empresa em gerir seus ativos e passivos circulantes.

Prazo médio de duplicatas a receber (PMDR)

Busca identificar o tempo entre a venda dos produtos e/ou serviços até
o efetivo recebimento. É dado pela relação entre os valores classificados em
contas a receber e a receita operacional bruta.

O prazo médio de recebimento de vendas (PMRV), segundo Borinelli


e Pimentel (2010, p. 428), “é uma média arbitrária, porém útil, que mede o
número médio de dias que a empresa demora para receber de seus clientes.

170 Finanças Empresariais


Capítulo 5

Quanto menor o prazo, melhor para a empresa, pois ela recebe mais
rapidamente de seus clientes”.

SMDR
PMDR = × 360
ROB

DR x2 + DR x1
SMDR =
2

Prazo médio de renovação de estoques

Busca identificar o tempo compreendido entre a compra dos produtos e/


ou serviços até a venda dos produtos e/ou serviços. É dado pela relação entre
os valores classificados em estoques e os custos dos produtos vendidos.

SME
PMRE = × 360
CMV

E + Ex1
SME = x2
2

Na concepção de Borinelli e Pimentel (2010, p. 427) “o prazo médio de


renovação de estoques (PMRE) expressa a velocidade com que eles se renovam.
É uma medida do número em dias que, em média, os produtos e mercadorias
ficam em estoque até serem vendidos”.

Prazo médio de pagamento de fornecedores

Busca identificar o tempo compreendido entre a compra dos produtos


e/ou serviços até o efetivo pagamento. É dado pela relação entre os valores
classificados em fornecedores e os custos dos produtos vendidos.

Finanças Empresariais 171


Capítulo 5

SMF
PMPF = × 360
CMV

F +F
SMF = x2 x1
2

Segundo Borinelli e Pimentel (2010, p. 428), “esse indicador mostra


quantos dias, em média, a empresa leva para pagar seus fornecedores. Quanto
maior o prazo, melhor para a empresa, pois ela demora mais para pagar seus
fornecedores, ganhando fôlego adicional em suas contas”.

Na percepção de Gitman (1997), Hoji (2008), Assaf Neto (2009) e Borinelli


e Pimentel (2010), a interação destes indicadores é geradora de outros dois
indicadores: o ciclo operacional e o ciclo financeiro ou de caixa.

Segundo Schrickel (1999, p. 175), “o ciclo operacional é basicamente


o processo através do qual a empresa produz dinheiro mediante aplicação de
dinheiro em suas atividades sociais”.

Borinelli e Pimentel (2010, p. 424), em linha com Schrickel (1999), afirma


que o “ciclo operacional de uma empresa tem início com a recepção dos materiais
(ou de mercadorias para revenda) e termina com a entrada de dinheiro em caixa,
derivada do recebimento das vendas”.

O ciclo financeiro ou de caixa compreende, na percepção de Borinelli e


Pimentel (2010, p. 426),

o prazo entre as saídas de caixa relativas aos pagamentos dos


fornecedores e as entradas de caixa provenientes das vendas.
Quanto maior o ciclo financeiro, mais recursos próprios e de
terceiros estarão temporariamente aplicados nas operações,
provocando custos financeiros e afetando a rentabilidade. O ciclo
financeiro corresponde, portanto, ao período da necessidade de
capital de giro.

O ciclo operacional é resultante do somatório dos prazos médios de duplicatas


a receber e renovação de estoques; já o ciclo financeiro é resultante da diferença
entre o ciclo operacional e o prazo médio de pagamento a fornecedores. Caso
este último resulte negativo, a empresa está sendo financiada pelos fornecedores;
na situação inversa, a empresa terá necessidade de buscar outras fontes não
operacionais, ou seja, financeiras, para suprir a necessidade de capital de giro.

172 Finanças Empresariais


Capítulo 5

Mas pergunto: qual o valor necessário para suprir o capital de giro


de uma empresa? A resposta será apresentada na sequência, quando você
conhecerá o último grupo de indicadores: os de necessidade financeira.

5.2.7 Análise de necessidade financeira

Uma das maiores preocupações de qualquer gestor financeiro em


uma empresa é mensurar adequadamente a necessidade dos recursos para
investimento em giro, ou seja, se a empresa gera internamente os recursos
necessários à cobertura destes investimentos.

Necessidade de capital de giro ou investimento em giro

A necessidade de capital de giro ou investimento em giro demonstra


qual o capital de giro mínimo que a empresa precisa ter, de modo que, por
meio do giro do seu ativo circulante operacional (ACO), ela possa gerar
recursos suficientes para pagar as suas dívidas de curto prazo de natureza
operacional (PCO), sem precisar incorrer em empréstimos onerosos de curto
prazo. É representada pela fórmula:

IOG = ACO - PCO

Fleuriet, Kehdy e Blanc. (2003, p. 6) indicam que a necessidade de


capital de giro ocorre quando, no ciclo financeiro, as saídas de caixa
acontecem antes das entradas, ocasionando uma necessidade de aplicação
permanente de fundos.

Santos, Schmidt e Martins (2006, p. 181) afirmam que o investimento


operacional em giro (IOG) representa

as aplicações de recursos que, embora pertencentes ao ativo


circulante, têm conotação de aplicações permanentes. Tais
aplicações estão relacionadas de forma direta com a atividade
operacional da empresa, como duplicatas a receber, estoques,
adiantamento a fornecedores (ativo cíclico). Há por outro lado,
algumas fontes de recursos que estão relacionadas diretamente as
atividades da empresa e se renovam espontaneamente à medida
que suas operações se desenvolvem (passivo cíclico). São exemplos:
fornecedores, salários e encargos a pagar, impostos a recolher e
adiantamentos de clientes.

Finanças Empresariais 173


Capítulo 5

Capital de giro (CDG)

Trata-se da primeira fonte de recursos da empresa. Representa a parcela


dos recursos próprios que se encontra disponível para aplicações. Portanto, é
possível afirmar que é a variável empresarial que indica existência ou falta de
capital de giro próprio.

CDG = PL - AP

Santos, Schmidt e Martins (2006, p. 182) enfatizam que a análise dos


fatores que atuam sobre o capital de giro é fundamental, pois operações
como prejuízos, aquisição de itens do imobilizado, investimentos, intangíveis,
pagamento de dividendos promovem reduções do capital de giro, ao passo
que as despesas com depreciação, amortização e exaustão, lucros, vendas
de itens do imobilizado e novos aportes de capital promovem aumentos do
capital de giro da empresa.

Quando os recursos de capital de giro próprio não são suficientes à


cobertura da necessidade de capital de giro, a empresa terá de recorrer a
recursos financeiros. O salutar é que ela busque recursos no longo prazo.

Fluxo de longo prazo

O fluxo de longo prazo consiste em uma variável empresarial que indica


no horizonte superior a um ano a fonte ou aplicação de recursos em exercícios
futuros. É determinado a partir da diferença entre financiamentos dados e
financiamentos recebidos.

Representa a diferença entre o passivo não circulante prazo e o ativo


realizável a longo prazo. É representado pela fórmula:

FLP = PNC - ARLP

Tesouraria

A soma dos recursos de capital de giro e do fluxo de longo prazo


pode se revelar insuficiente à cobertura integral da necessidade de capital
de giro. Nessa situação, a empresa terá de recorrer a recursos financeiros

174 Finanças Empresariais


Capítulo 5

de curto prazo. Esse quadro será evidenciado pelo indicador denominado


por Santos, Schmidt e Martins (2006, p. 184) como tesouraria. Este índice
é representado pela fórmula:

TES = ACF - PCF

Se a tesouraria resultar em condição negativa, a empresa está captando


recursos onerosos e de curto prazo para financiar suas atividades; se for o
contrário, os excedentes de recursos de capital de giro estão sendo investidos
pela empresa.

Espero que você tenha compreendido a essência de cada um dos


indicadores. No entanto, é bom ressaltar que os indicadores não podem
ser analisados de forma isolada, já que podem mascarar os resultados da
análise.

Um primeiro exemplo: se a carteira de clientes apresenta expansão sem


o devido acréscimo das receitas e possíveis alterações na política de crédito
da empresa, principalmente no que se refere aos prazos praticados, pode
evidenciar inadimplência.

Outro exemplo de equívoco por parte do analista é analisar o


endividamento apenas pela ótica dos indicadores de estrutura, sem atentar
que o índice de cobertura de juros demonstra que a empresa cobre os
encargos das dívidas financeiras contratadas várias vezes.

EXPLORANDO
Hoje existem diversos sites e revistas que
trabalham a divulgação de indicadores
econômico-financeiros de diversas empresas,
dentre eles, podemos destacar as edições anuais
das Melhores e Maiores, da revista Exame, e
Valor 1000, do jornal Valor Econômico. Se você
se cadastrar no site <www.infomoney.com.br>,
poderá acessar os principais indicadores das
empresas com ações listadas na BOVESPA.

Finanças Empresariais 175


Capítulo 5

5.3 Aplicando a teoria na prática

A empresa Alpha buscou o banco Betha para atualizar o seu cadastro, tendo
por objetivo a definição de limites de crédito para possíveis operações tanto de
investimento fixo quanto de capital de giro, caso necessário. Foi informada que
deveria apresentar os demonstrativos contábeis dos dois últimos anos, o que foi
prontamente atendido pela empresa. O analista de risco de crédito do banco
Betha, deverá proceder de forma preliminar à reclassificação dos dados para,
em seguida, alimentar a planilha para posterior digitação no sistema interno do
banco. A partir dos demonstrativos apresentados a seguir, você deve:

a) identificar as contas operacionais do ativo e passivo circulante;

b) apurar os indicadores de liquidez corrente, participação de capital


de terceiros, margem líquida, retorno de patrimônio líquido para
o exercício de 2009;

c) responder ao seguinte questionamento: você concederia crédito à


empresa Alpha?

Importante: os cálculos deverão utilizar apenas duas casas decimais.

SUB-TÍTULO 1 2009 2008 2009 2008

Ativo circulante 23256 19915 Passivo circulante 24362 17470

Disponibilidades 1021 3008 Fornecedores 12843 4713

Duplicatas a receber 7284 8818 Obrigações trabalhistas 3186 6293

Estoques 12048 6589 Empréstimos 6706 4732

Aplicações financeiras 2903 1500 Obrigações fiscais 1627 1732

Ativo não circulante 23648 23113 Passivo não circulante 2500 6000

Realizável a longo prazo 627 63 Financiamentos 3500 6000

Investimentos 518 300 Patrimônio líquido 20042 19558

Imobilizado 22503 22750 Capital 18000 18000

Reservas 2042 1558

Total ativo 46904 43028 Total passivo 46904 43028

176 Finanças Empresariais


Capítulo 5

SUB-TÍTULO 1 2009 2008

Receita operacional líquida 54875 35535

(-) Custo de mercadorias vendidas 40828 25230

Lucro bruto 14047 10305

Despesas administrativas 5780 4191

Despesas comerciais 5496 2881

Despesas tributárias 125 1154

Lucro operacional antes do 2646 2079


resultado

Despesas financeiras 1109 2020

Lucro operacional 1537 59

Receitas não operacionais 500 150

Lucro líquido do exercício 2037 209

E aí? Chegou a uma conclusão?

A solução da questão a – identificar as contas operacionais do ativo e passivo


circulante – é: as contas duplicatas a receber e estoques são contas de natureza
operacional; com relação ao passivo circulante operacional, são enquadradas as
contas de: fornecedores, obrigações trabalhistas e obrigações fiscais.

A questão b envolveu uma série de cálculos a partir da aplicação das


fórmulas apresentadas ao longo deste capítulo.

A liquidez corrente, como você viu anteriormente, é a representação da


relação entre as contas do ativo e passivo circulante.

AC 23.256
LC = LC = = 0, 95
PC 24.362

A participação de capital de terceiros busca evidenciar a relação entre os


recursos obtidos junto a fontes onerosas, ou não, pela empresa e os recursos
próprios, representados pelo patrimônio líquido.

Finanças Empresariais 177


Capítulo 5

PC + PNC 24.362 + 2.500


PCT = PCT = = 1, 34
PL 20.042

A margem líquida evidencia a relação entre o lucro líquido do exercício


e a receita operacional líquida.

LL 2.037
ML = ML = = 0, 03 ⇔ 3%
ROL 54.875

O retorno sobre o patrimônio líquido mensura a relação entre o lucro


líquido e o patrimônio da empresa.

LL 2.037
RPL = RPL = = 0,10 ⇔ 10%
PL 20.042

Em relação à questão c, se considerarmos apenas os indicadores


apurados, a resposta mais adequada é você não conceder crédito à empresa
Alpha em virtude de o indicador liquidez corrente ser menor do que 1, a
participação de capital de terceiros ser superior a 1, as margens serem
reduzidas e o retorno do patrimônio líquido ser inferior ao rendimento
das aplicações financeiras baseadas na taxa SELIC.

5.4 Para saber mais


Título: Administração financeira: princípios, fundamentos e
práticas brasileiras
Autor: CHEROBIN, A. P. M. S.;
Editora: Campus, SP Ano: 2005
LEMES, A. B.; RIGO, C. M.

Este livro aborda, no capítulo 3, os principais indicadores de análise e


a importância destes como instrumentos de gestão.

Título: Administração financeira


Autor: GROPELLI, A. A.;
Editora: Saraiva, SP Ano: 2006
NIKBAKHT, E.

Este livro aborda, no capítulo 18, os principais indicadores de análise


e as limitações dos mesmos.

178 Finanças Empresariais


Capítulo 5

Título: Finanças básicas


Autor: MAYO, H. B. Editora: Cengage Learning, SP Ano: 2008

Este livro trata, no capítulo 9, dos principais indicadores de análise,


das limitações dos dados contábeis e ainda do papel da internet no
processo de análise.

Site: Comissão de valores mobiliários


URL: http://www.cvm.gov.br

Neste site você tem a oportunidade de acessar dados sobre


empresas de capital aberto, toda a legislação necessária ao pleno
entendimento do mercado, dentre outras informações.

Site: Infomoney
URL: http://www.infomoney.com.br

Neste site você tem a oportunidade de acessar análises das empresas


listadas na bolsa e ainda assistir vídeos sobre finanças, participar de
chats, dentre outras funcionalidades.

5.5 Relembrando

O capítulo 5 apresentou que:

• as informações divulgadas pelas empresas na forma de demonstrações


financeiras são utilizadas por bancos, governos, fornecedores, clientes,
dentre outras entidades;

• a análise busca evidenciar o desempenho econômico-financeiro de


uma empresa num determinado período de tempo;

• enquanto a análise horizontal busca evidenciar a evolução ou retração


do desempenho de uma empresa de uma período em relação a outro,
a análise vertical evidencia a composição das contas patrimoniais e de
resultado num determinado ano;

• a análise econômico-financeira se utiliza de diversos indicadores:


liquidez, estrutura e endividamento, atividade ou ciclo, lucratividade
e rentabilidade e por fim, necessidade financeira;

Finanças Empresariais 179


Capítulo 5

• a análise deve contemplar uma visão integrada dos indicadores


buscando sempre o comparativo com dados setoriais; estes, por sua
vez, são anualmente divulgados por revistas especializadas ou sites de
informações financeiras.

5.6 Testando os seus conhecimentos

1) Tem por objetivo aferir a composição das fontes passivas de recursos


de uma empresa. Pode ainda demonstrar como os recursos obtidos junto
a terceiros são alocados dentro da empresa e qual o nível de participação
destes.

a) Rentabilidade.
b) Necessidade financeira.
c) Atividade ou ciclo.
d) Liquidez.
e) Estrutura.

2) Revela a capacidade que os recursos de terceiros apresentam de expandir a


rentabilidade dos proprietários da empresas.

a) Margem líquida.
b) Lucro operacional.
c) Retorno do patrimônio líquido.
d) Retorno sobre o ativo total.
e) Alavancagem financeira.

3) Demonstra qual o capital de giro mínimo que a empresa precisa ter,


de modo que, pelo seu ativo circulante operacional, ela possa gerar
recursos suficientes para pagar as suas dívidas de curto prazo de natureza
operacional, sem precisar incorrer em empréstimos onerosos de curto
prazo.

a) Fluxo de longo prazo.


b) Capital de giro próprio.
c) Necessidade de capital de giro.
d) Caixa gerado de operações.
e) Margem operacional líquida.

180 Finanças Empresariais


Capítulo 5

4) Considerando os dados apresentados nos demonstrativos a seguir, o valor


representativo dos prazos médios de recebimento de duplicatas a receber e
estoques em 2009 são, respectivamente:

OBS.: Como se trata de prazos, os valores encontram-se arrendados.

SUB-TÍTULO 1 2009 2008 2009 2008


Ativo circulante 24547 19915 Passivo circulante 24362 17470
Disponibilidades 1021 3008 Fornecedores 12843 4713
Duplicatas a receber 8575 8818 Obrigações trabalhistas 3186 6293
Estoques 12048 6589 Empréstimos 6706 4732
Aplicações financeiras 2903 1500 Obrigações fiscais 1627 1732

Ativo não circulante 23648 23113 Passivo não circulante 2500 6000
Realizável a longo prazo 627 63 Financiamentos 3500 6000
Investimentos 518 300 Patrimônio líquido 21333 19558
Imobilizado 22503 22750 Capital 18000 18000
Reservas 3333 1558
Total ativo 48195 43028 Total passivo 48195 43028

SUB-TÍTULO 1 2009

Receita operacional bruta 57.225

(-) Deduções de vendas 2.350

Receita operacional líquida 54875

(-) Custo de mercadorias vendidas 40828

Lucro Bruto 14047

Despesas administrativas 5780

Despesas comerciais 5496

Despesas tributárias 125

Lucro operacional antes do resultado 2646

Despesas financeiras 1109

Lucro operacional 1537

Receitas não operacionais 500

Lucro líquido do exercício 2037

Finanças Empresariais 181


Capítulo 5

a) 35 e 70.
b) 82 e 51.
c) 55 e 82.
d) 75 e 45.
e) 22 e 104.

Onde encontrar

ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São


Paulo:Atlas, 2009.

BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C. Curso de contabilidade para


gestores,analistas e outros profissionais. São Paulo: Atlas, 2010.

CAMELO, E. P. S. et al. Análise das demonstrações contábeis em empresas da


área comercial de embalagens. FCV Empresarial. Maringá, v. 1, 2007, p. 167-193.

FLEURIET, M.; KEHDY, R; BLANC, G. A dinâmica financeira das empresas


brasileiras: um método de análise, orçamento e planejamento financeiro. 3.
ed. São Paulo: Campus, 2003.

GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. Trad. Jean Jacques


Salim; João Carlos Douat. 7. ed. São Paulo: Harbra, 1997.

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Capítulo 5

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Finanças Empresariais 183


Capítulo 5

184 Finanças Empresariais


Capítulo 6

CAPÍTULO 6
FLUXO DE CAIXA

6.1 Contextualizando
Neste capítulo, mostrarei a você como funciona a ferramenta fluxo de
caixa, indispensável à gestão financeira de qualquer empresa, seja qual for o
seu porte ou forma de organização societária.

O texto mostrará os diferentes métodos de elaboração do fluxo de caixa,


os principais fatores que afetam o mesmo e as implicações no dia a dia de
uma empresa. Também serão apresentados os principais requisitos de sua
implantação, e você aprenderá a diferenciar fluxo de caixa da demonstração
do fluxo de caixa, que consiste numa visão contábil e não financeira.

Espera-se que, ao final do estudo, você domine a ferramenta e visualize


as implicações na gestão estratégica das empresas. Vamos lá?

6.2 Conhecendo a teoria

Segundo Santos, Schmidt e Martins (2006, p. 91),

em razão da maior utilidade e simplicidade da demonstração de


fluxo de caixa, ela foi substituindo gradativamente a demonstração
de origens e aplicações de recursos em nível internacional, iniciando-
se com os Estados Unidos em 1988, com o pronunciamento SFAS 95,
o Reino Unido, em 1991, como o FRS1, o qual foi substancialmente
alterado em 1996, e as normas internacionais em 1992, com a
revisão do IAS7.

Convido você a uma leitura atenta, pois a partir de agora, mostrarei a


percepção de diferentes autores sobre o tema.

Finanças Empresariais 185


Capítulo 6

Gitman (1997, p. 81) apresenta o fluxo de caixa estruturado inicialmente


em atividades operacionais, que são os fluxos de caixa (entradas e saídas)
diretamente relacionados à produção e vendas dos produtos e serviços da
empresa. Esses fluxos captam a demonstração do resultado e as transações
das contas circulantes ocorridas durante um período. Na sequência,
apresenta em sua estrutura a parte inerente aos fluxos de investimentos,
que são fluxos de caixas associados à compra e venda de ativos imobilizados
e participações societárias; por fim, detalha os fluxos de financiamento
resultantes de operações de empréstimo e capital próprio, incluindo a
obtenção e a quitação de empréstimos, entradas de caixa por venda de
ações e saídas de caixa por recompra de ações ou pagamentos de dividendo
em dinheiro.

Assaf Neto e Silva (1997, p. 10), na mesma linha de Gitman, sintetizam


que o fluxo de caixa, de maneira ampla, é um processo pelo qual a empresa
gera e aplica seus recursos de caixa determinados pelas várias atividades
desenvolvidas, que se dividem em operacionais, de investimentos e de
financiamento.

Uma das tarefas mais árduas da área financeira é dimensionar o


fluxo de caixa da empresa, composto basicamente por Contas a
Receber, que é o direto que a empresa possui, correspondente a
venda de mercadorias, prestação de serviços ou vendas de bens do
ativo permanente, e Contas a Pagar que são as obrigações assumidas
pela empresa, derivadas de compras de mercadorias para revender
ou industrialização, impostos e outros custos variáveis, despesas
fixas, investimentos e outros. O fluxo de caixa também mede as
necessidades futuras de recursos, a capacidade de pagamento
pontual dos compromissos assumidos, bem como a disponibilidades
para investimentos (ASSAF, 1999, p. 1).

Zdanowicz (2000, p. 19) afirma, por sua vez, que fluxo de caixa é “um
instrumento que permite ao administrador financeiro planejar, organizar,
coordenar, dirigir e controlar os recursos financeiros de sua empresa para
determinado período”.

O objetivo básico da função financeira é prover a empresa


de recursos de caixa suficientes de modo a respeitar os vários
compromissos assumidos e promover a maximização de seus
lucros. Nesse contexto o autor destaca o fluxo de caixa como
um instrumento que possibilita o planejamento e o controle
dos recursos financeiros de uma empresa. Gerencialmente é
indispensável ainda em todo o processo de tomada de decisões
financeiras (ASSAF NETO; SILVA, 2002, p. 39).

186 Finanças Empresariais


Capítulo 6

Sá (2009, p. 11) define fluxo de caixa como sendo o método de


captura e registro dos fatos e valores que promovam variações no saldo
de caixa e, ainda, que relatórios são apresentados para fins de análise e
tomada de decisão.

Para Ross, Westerfield e Jordan (2002), o fluxo de caixa é definido como


a diferença entre a quantidade de dinheiro que entra e a quantidade que
sai. Permite que, a partir das diferentes transações que afetam o fluxo, seja
apurada a real situação financeira da empresa.

O instrumento básico de gestão do capital de giro na tesouraria


de uma empresa é o fluxo de caixa, que representa a diferença,
em regime de caixa, entre as saídas e entradas. O fluxo de caixa
deve ser elaborado em períodos diários e projetar posições
futuras (diárias, semanais, mensais, etc.), em função das
necessidades de planejamento da empresa, a fim de propiciar
acompanhamento e planejamento constante do capital de giro
(DI AGUSTINI, 1999, p. 53).

Segundo Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003, p. 398), o objetivo


principal da DFC é “prover informações relevantes sobre pagamentos
e recebimentos, em dinheiro, de uma empresa, ocorridos durante um
determinado período”. Diante dessas informações, os usuários internos e
externos da empresa têm como avaliar o desempenho do fluxo financeiro
da empresa.

Hendriksen e Van Breda (1999, p. 173) destacam que as informações


constantes atendem aos objetivos perseguidos pela contabilidade, que é
“fornecer aos investidores e outros indivíduos informações úteis para avaliar
o nível, a distribuição no tempo e a incerteza dos fluxos de caixa futuros”.

Hoji (2003, p.143) ainda destaca que “a apuração correta do fluxo de


caixa por unidade de negócios traz vantagens significativas na avaliação do
desempenho empresarial, pois é possível avaliar o retorno sobre o investimento
de forma adequada”.

O fluxo de informações para a gestão de caixa, diz Frezzati, é algo


que deve ser adequadamente planejado pela empresa. Afinal, “trata-se de
elemento de grande importância qualitativa e de otimização de resultados
com diminuição dos riscos” (FREZATTI, 2006, p. 56).

Finanças Empresariais 187


Capítulo 6

Santos (2001, p. 57), em linha com Zdanowicz, ressalta que “o fluxo de


caixa é um instrumento de planejamento financeiro que tem por objetivo
fornecer estimativas da situação de caixa da empresa em determinado período
de tempo à frente”.

Matarazzo (1998, p. 369) ressalta, em concordância com Santos e


Zdanowicz, que o fluxo de caixa é “peça imprescindível na mais elementar
atividade empresarial e mesmo para pessoas físicas que se dedicam a algum
negócio”. Na opinião de diferentes autores, o fluxo de caixa pode e dever ser
utilizado por quaisquer empresas independente do porte e ainda por pessoas
físicas que se dediquem ao desenvolvimento de alguma atividade que envolva
a necessidade de controle.

PRATICANDO
Se o fluxo de caixa é tão importante, por que sua
aplicação é pequena na maioria das empresas?
Pesquise junto a três empresas e questione se
elas adotam o fluxo de caixa como instrumento
de decisão financeira. Em caso positivo,
pergunte há quanto tempo; se negativo, tente
identificar o motivo.

Vamos evidenciar, a partir de agora, o processo de implantação


e ainda os principais fatores que afetam o fluxo de caixa na opinião de
diversos autores.

Pondera Zdanowicz (2000, p. 133) que a implantação do fluxo de


caixa consiste em aprimorar os valores fornecidos pelas várias áreas da
empresa de acordo com o regime de caixa, isto é, com os períodos em que
efetivamente deverão ocorrer os ingressos e desembolsos de caixa. Assim, o
principal aspecto a ser levado em consideração é quanto à apropriação dos
valores, conforme as épocas em que irão ocorrer os efetivos recebimentos
e pagamentos de caixa pela empresa. O importante é considerar todos
aqueles itens que alterarão a posição de caixa da empresa. A implantação
do fluxo de caixa consiste, essencialmente, em estruturar as estimativas
de cada unidade monetária em dois grandes itens: o planejamento dos
ingressos e o planejamento dos desembolsos, que poderão ser subdivididos
em fluxo operacional e fluxo extra operacional.

188 Finanças Empresariais


Capítulo 6

Para Andreolla (1992, p. 131), a implantação do fluxo de caixa não


sobrecarrega a empresa nem torna necessário destinar uma grande equipe
para a realização das funções orçamentárias. Pouca coisa precisa ser criada, já
que a maioria das informações já existe. O problema é sua falta de organização;
basta alguém coordená-las e transformá-las em fluxo de caixa.

Perceba que novamente os diferentes autores asseveram ser de natureza


simples a elaboração. Neste momento, você deve buscar identificar que
variáveis afetam positivamente ou não o fluxo de caixa.

Marion (1993, p. 401) agrupou estes fatores em dois grupos, como pode
ser verificado no quadro a seguir.

FATORES POSITIVOS FATORES NEGATIVOS

• integralização do capital pelos sócios e acionistas, que • pagamentos de dividendos


são os investimentos realizados pelos proprietários da aos acionistas;
empresa; • pagamentos de juros,
• empréstimos bancários e financiamentos, que são os correção monetária da dívida e
recursos oriundos das instituições financeiras; amortização da dívida;
• venda de itens do ativo permanente; • aquisição de item do ativo
• vendas à vista e recebimentos de duplicatas a receber, permanente;
que são a principal fonte de recursos do caixa; • compras à vista e
• outras entradas, tais como juros recebidos, dividendos pagamentos de fornecedores;
recebidos de outras empresas, indenizações e seguros • pagamento de despesa,
recebidos, etc. custo, conta a pagar e outros.
Quadro 1 - Fatores que afetam o caixa
Fonte: adaptado de Marion (1993).

Zdanowicz (2000, p. 45-49) também segrega em dois grupos os fatores


que influenciam o fluxo de caixa, porém os classifica como internos e externos.
Observe o quadro 2.

FATORES INTERNOS FATORES EXTERNOS

• alteração na política de vendas; • quedas nas vendas;


• decisões na área de produção; • atraso dos clientes;
• política de compras; • nível de preços;
• política de pessoal. • atrasos na entrega.

Quadro 2 - Fatores que afetam o caixa


Fonte: Zdanowicz (2000, p. 45).

Finanças Empresariais 189


Capítulo 6

CURIOSIDADE
O fluxo de caixa tem sido objeto de discussão
ao longo dos últimos anos. Com o advento da
estabilidade econômica, não há mais espaço para
amadorismo. Erros cometidos na gestão financeira
das empresas ou mesmo das pessoas físicas podem
ser fatais. Você sabia que se pesquisar no site
acadêmico do Google encontrará mais de 2000
registros só no ano de 2010?

6.2.1 Fluxo de caixa – objetivos

Agora que você conhece um pouco mais sobre o fluxo de caixa, seu
processo de implantação e os possíveis fatores que influenciam seu resultado,
irá estudar a partir de agora os objetivos desta ferramenta de gestão.

Para Silva (2002, p. 53-4), o objetivo básico do fluxo de caixa é, na realidade,


“projetar as disponibilidades da empresa, produzindo informações necessárias
à programação da captação de recursos financeiros, (...) à avaliação do impacto
de variações de custos e preços, dentre outras decisões”. Assaf Neto e Silva
(2002, p. 38) consideram que o objetivo fundamental para o gerenciamento
dos fluxos de caixa é “atribuir maior rapidez às entradas de caixa em relação
aos desembolsos ou, da mesma forma, otimizar a compatibilização entre a
posição financeira da empresa e suas obrigações correntes”.

Matarazzo (2003) destaca como principais objetivos do fluxo de caixa,


avaliar alternativas de investimento, avaliar e controlar ao longo do tempo as
decisões importantes que são tomadas na empresa, com reflexos monetários,
avaliar as situações presente e futura do caixa na empresa, posicionando-a
para que não chegue a situações de iliquidez, e certificar que os excessos
momentâneos de caixa estejam sendo devidamente aplicados.

De nada adianta projetar o fluxo de caixa, se o mesmo não for


considerado um auxiliar do processo decisório. A projeção de necessidade
futura poderá indicar a escassez ou o excedente de recursos. No caso
de insuficiência de recursos, o controle do fluxo de caixa permitirá que
se tomem providencias em tempo hábil, permitindo assim a escolha de
alternativas mais viáveis à empresa. A prática de buscar recursos depois
de ter surgido à necessidade, denota a falta de planejamento e controle
financeiros na empresa (ZDANOWICZ, 2000, p. 177).

190 Finanças Empresariais


Capítulo 6

Para Braga e Marques (2001), o fluxo de caixa possui como uma de suas
finalidades, servir de instrumento para avaliação da liquidez da organização,
ou seja, sua capacidade e garantia de pagamento das dívidas nas datas
de vencimento, por meio das medidas de desempenho. Estas podem ser
classificadas como avaliadoras do grau de suficiência ou eficiência do negócio,
ou ainda medidoras da capacidade de pagamento e do nível de retorno
associado a um determinado elemento patrimonial.

Frezatti (2006) corrobora com Braga e Marques ao afirmar que o fluxo


de caixa de uma empresa deve conter todo o detalhamento possível, de forma
a permitir a adequada análise das informações apuradas. Um fluxo de caixa
sem a devida estruturação dificultará o processo de análise sobre os impactos
na liquidez da mesma.

Frezatti (2006, p. 28) complementa:

Considerar o fluxo de caixa de uma organização um instrumento


gerencial não significa que ela vai prescindir da contabilidade
e dos relatórios gerenciais por ela gerados. Ao contrário, com o
fortalecimento dos relatórios gerenciais gerados pela contabilidade
se pretende aliar a potencialidade do fluxo de caixa para melhor
gerenciar suas decisões. Trata-se de considerar que o fluxo de caixa
também deva ser arrolado como instrumento que traga subsídios
para o processo de tomada de decisões. Na verdade, o simples
reconhecimento disso já é um grande passo para que os gestores
do negócio possam dispor de informações adequadas.

Mas o fluxo de caixa, como você já pode observar, torna-se uma


ferramenta importante na definição de horizontes futuros de uma empresa,
portanto vamos nos aprofundar e verificar alguns outros conceitos associados.

Segundo Assef (2003, p. 1), “o fluxo de caixa mede as necessidades


futuras de recursos, a capacidade de pagamento pontual dos compromissos
assumidos, bem como a disponibilidade para investimentos”.

Zdanowicz (2004, p. 38) destaca que o fluxo de caixa é um instrumento


que permite demonstrar as operações financeiras que serão realizadas pela
empresa, facilitando a análise de decisão, de comprometer os recursos, de
selecionar o uso das linhas de crédito menos onerosas, de determinar o quanto
a empresa dispõe de capitais próprios, bem como utilizar as disponibilidades
da melhor forma possível.

Finanças Empresariais 191


Capítulo 6

Segundo Frezatti (1997, p. 28), um dos principais objetivos do fluxo de


caixa é o fornecimento de relatórios gerenciais, para que o administrador da
empresa possa analisar a potencialidade do fluxo de caixa, e assim gerenciar
melhor suas decisões. Trata-se de considerar que o fluxo de caixa também
deva ser classificado como instrumento que traga subsídios para o processo de
tomada de decisões.

Em complemento, Zdanowicz (2004, p. 41) afirma que o fluxo de caixa


tem como objetivo dar uma visão das atividades desenvolvidas e operações
financeiras realizadas diariamente no grupo do ativo circulante, dentro das
disponibilidades, e que representam o grau de liquidez da empresa.

Zdanowicz (2004, p. 41) complementa que, dentre os mais importantes


objetivos do fluxo de caixa, estão:

• facilitar a análise e o cálculo na seleção de linhas de crédito a serem


obtidas junto às instituições financeiras;

• programar os ingressos e os desembolsos de caixa de forma criteriosa,


permitindo determinar o período em que deverá ocorrer carência de
recursos e o montante, havendo tempo suficiente para as medidas
necessárias;

• permitir o planejamento dos desembolsos de acordo com as


disponibilidades de caixa, evitando-se o acúmulo de compromissos
vultosos em época de pouco encaixe;

• determinar quanto de recursos próprios a empresa dispõe em dado


período, e aplicá-los de forma mais rentável possível, bem como analisar
os recursos de terceiros que satisfaçam à necessidade da empresa;

• proporcionar o intercâmbio dos diversos departamentos da empresa


com a área financeira;

• desenvolver o uso eficiente e racional do disponível;

192 Finanças Empresariais


Capítulo 6

• financiar as necessidades sazonais ou cíclicas da empresa;

• providenciar os recursos para atender os projetos de implantação,


expansão, modernização ou relocalização industrial e comercial;

• fixar o nível de caixa, em termos de capital de giro;

• auxiliar na análise dos valores a receber e estoques, para que se possa


julgar a conveniência em aplicar nesses itens ou não;

• verificar a possibilidade de aplicar possível excedente de caixa;

• estudar um programa saudável de empréstimo ou financiamentos;

• projetar um plano efetivo de pagamento de débitos;

• analisar a viabilidade de serem comprometidos os recursos pela empresa;

• participar e integrar todas as atividades da empresa, facilitando assim


os controles financeiros.

Na mesma perspectiva, Pivetta (2005, p. 4) menciona que o objetivo


básico do fluxo de caixa é a projeção das entradas e saídas de recursos
financeiros para determinado período, visando acertar a necessidade de
captar empréstimos ou aplicar o excedente de caixa em operações rentáveis
para a empresa, proporcionando um fluxo de caixa equilibrado e otimizando
a aplicação de recursos próprios e de terceiros nas atividades mais rentáveis
da empresa.

Agora que você se inteirou dos objetivos dessa ferramenta de gestão,


vamos estudar os dois métodos de elaboração do fluxo de caixa, começando
pelo método direto.

Finanças Empresariais 193


Capítulo 6

6.2.2 Método direto

A literatura financeira trata das diferentes formas ou métodos de


elaboração do fluxo de caixa. Mas antes de verificarmos esses métodos,
vamos analisar as afirmações de Zdanowicz (2004, p. 132) quanto aos
requisitos necessários à elaboração de um fluxo de caixa. São listados
pelo autor dez itens:

• apoio da cúpula diretiva da empresa;

• organização da estrutura funcional da empresa com definição clara


dos níveis de responsabilidade de cada área;

• integração dos diversos setores e departamentos da empresa ao


sistema de fluxo de caixa;

• definição do sistema de informações, quanto à qualidade e aos


formulários a serem utilizados;

• treinamento do pessoal envolvido para implantar o fluxo de caixa na


empresa;

• criação de um manual de operações financeiras;

• comprometimento dos responsáveis pelas diversas áreas, no sentido


de alcançar os objetivos e as metas propostas no fluxo de caixa;

• controles financeiros adequados, especialmente na movimentação


bancária;

• utilização do fluxo de caixa para avaliar com antecedência os efeitos


da tomada de decisões que tenham impacto financeiro da empresa;

• fluxograma das atividades na empresa, ou seja, definir as atividades


meio e as atividades fins.

Segundo Frezatti (1997, p. 35), o fluxo de caixa de uma organização deve


ser elaborado com um detalhamento que permita a análise das informações
nele contidas. Um fluxo de caixa deve ser bem elaborado e estruturado, caso

194 Finanças Empresariais


Capítulo 6

contrário, a empresa poderá não entender as informações e isso leva a um


controle financeiro ruim.

De forma mais abrangente, Zdanowicz (2004, p. 131) conclui que,


para elaborar o fluxo de caixa, é necessário receber informações dos
diversos departamentos, setores, seções da empresa, de acordo com o
cronograma anual, mensal ou diário de ingressos e desembolsos, remetido
ao departamento ou gerenciamento financeiro. Destaca como úteis as
seguintes informações:

• projeção de vendas, considerando-se as prováveis proporções entre as


vendas à vista e a prazo da empresa;

• estimativa das compras e as respectivas condições oferecidas pelos


fornecedores;

• levantamento das cobranças efetivas com os créditos a receber dos


clientes;

• determinação da periodicidade do fluxo de caixa, de acordo com as


necessidades, tamanho, organização da empresa e ramo de atividade;

• orçamento dos demais ingressos e desembolsos de caixa para o


período em questão.

Para Assaf (1999, p. 122), a elaboração do fluxo de caixa requer duas


contas básicas, as contas a receber e as contas a pagar. Contas a receber é
o direito que a empresa possui, correspondente à venda de mercadorias,
prestação de serviços ou vendas de bens do ativo permanente (móveis,
veículos, máquinas, etc.). Para melhor retratar as expectativas de fluxo, devem
ser computadas também as vendas estimadas, ainda não realizadas. As contas
a pagar, por sua vez, são as obrigações assumidas pela empresa, derivadas de
compra de mercadorias para revenda ou industrialização, impostos e outras
variáveis, despesas fixas, investimentos, etc.

A elaboração do fluxo de caixa pelo método direto, segundo Yoshitake


e Hoji (1997, p. 152), deve demonstrar efetivamente as movimentações de
recursos financeiros ocorridos no período. Os principais valores podem ser
apurados por meio da análise das contas patrimoniais e de resultados.

Finanças Empresariais 195


Capítulo 6

Veja, no quadro 3, o modelo de fluxo de caixa pelo método direto.

INGRESSOS DE RECURSOS

• Recebimentos de clientes
• Pagamentos de fornecedores
• Despesas administrativas e comerciais
• Despesas financeiras
• Impostos
• Mão de obra direta
• Ingressos de recursos provenientes das operações
• Recebimento por vendas do imobilizado
• Total dos ingressos dos recursos financeiros

DESTINAÇÃO DE RECURSOS

• Aquisição de bens do imobilizado


• Pagamento de empréstimos bancários
• Total das destinações de recursos financeiros
• Variação líquida de Disponibilidades
• Saldo de Disponibilidades em 31-12 X0
• (=) Saldo de Disponibilidades em 31-12-X1

Quadro 3 - Modelo de fluxo de caixa direto


Fonte: Yoshitake e Hoji (1997, p. 151).

De forma mais abrangente, Zdanowicz (2004, p. 145) observa que a


elaboração do fluxo de caixa deverá detalhar todos os valores a serem recebidos
e pagos pela empresa. Quanto mais especificado for o fluxo de caixa, melhor
será o controle sobre as entradas e saídas de caixa, verificando-se assim as
suas defasagens e determinando as medidas corretivas ou saneadoras para os
períodos subsequentes. Observe a tabela apresentada a seguir.

196 Finanças Empresariais


Capítulo 6

Tabela 1 - Modelo de fluxo de caixa segundo Zdanowicz


PERÍODOS JAN. FEV. ... TOTAL
ITENS P R D P R D P R D P R D
1. INGRESSOS
Vendas à vista
Cobrança em carteira
Cobranças bancárias
Descontos de duplicatas
Vendas de itens do ativo permanente
Aluguéis recebidos
Aumentos de capital social
Receitas financeiras
Outros
Soma
2. DESEMBOLSOS
Compra à vista
Fornecedores
Salários
Compra de itens do ativo permanente
Energia elétrica
Telefone
Manutenção de máquinas
Despesas administrativas
Despesas com vendas
Despesas tributárias
Despesas financeiras
Outros
Soma
3. DIFERENÇA DO PERÍODO (1-2)
4. SALDO INICIAL DO CAIXA
5. DISPONIBILIDADE ACUMULADA (+ – 3+4)
6. NÍVEL DESEJADO DE CAIXA PROJETADO
7. EMPRÉSTIMO A CAPTAR
8. APLICAÇÕES NO MERCADO FINANCEIRO
9. AMORTIZAÇÕES DE EMPRÉSTIMOS
10. RESGATES DE APLICAÇÕES FINANCEIRAS
11. SALDO FINAL DE CAIXA PROJETADO
P = projetado; R = realizado; D = defasagem
Fonte: Zdanowicz (2004, p. 145).

Finanças Empresariais 197


Capítulo 6

Conclui-se que, para a elaboração do fluxo de caixa pelo método


direto, conforme tratam os autores Assaf (1999, p. 122), Frezatti (1997, p.
35) e Zdanowicz (2000, p. 131), é fundamental realizar um levantamento
de todas as necessidades e obrigações da empresa para que esta possa
cumprir com todos os seus compromissos financeiros.

Em complemento à afirmação, Frezatti (1997, p. 67) destaca que


para a elaboração de um bom fluxo de caixa, é importante que se tenha
em primeiro lugar o enfoque, que serve para a organização entender sua
utilidade para o processo de tomada de decisão. Ele deve trazer benefícios,
facilitando e suportando o processo decisório. Após definir o enfoque, o
autor destaca que é fundamental para a elaboração do fluxo de caixa
o plano de contas. Normalmente, o plano de contas é um importante
motivo para os desvios encontrados na empresas, quando confrontado
com o fluxo de caixa.

Conclui-se que, para a utilização dos modelos apresentados, é


necessário que o administrador financeiro elabore uma série de mapas
paralelos, auxiliando assim nas informações necessárias que se buscam no
fluxo de caixa, em termos de planejamento e controle financeiro.

PRATICANDO
A partir dos modelos apresentados, estruture uma
planilha para a coleta de dados para a elaboração
do fluxo de caixa de uma pequena empresa.
Lembre-se que o fluxo de caixa contempla os
ingressos e desembolsos efetivamente realizados.
A contabilidade é orientada pelo regime de
competência que você estudou no capítulo das
demonstrações contábeis.

198 Finanças Empresariais


Capítulo 6

Assaf Neto e Lima (2009, p. 198) ressaltam que a demonstração do


fluxo de caixa (DFC) na forma direta é elaborada a partir das movimentações
ocorridas no caixa da empresa, e são classificadas em três categorias:

• as atividades operacionais, que envolvem as entradas e saídas


envolvem os bens e serviços disponibilizados pela empresa, tais como:
recebimento de clientes a vista , pagamento de salários, impostos,
contas de água, telefone e energia elétrica, dentre outros;

• as atividades de financiamento, que envolvem as operações de


empréstimos e financiamentos, tais como: empréstimos de capital de
giro, amortização de financiamento de máquinas e equipamentos e
outros imobilizados, debêntures, pagamentos de dividendos e juros
e ainda, na outra ponta os empréstimos concedidos pela empresa a
pessoas físicas ou jurídicas ligadas. Aqui também são considerados os
aportes ou reduções do capital social;

• as atividades de investimentos, que contemplam a aquisição de


bens móveis ou imóveis necessários às atividades da empresa e
investimentos em outras empresas.

Para sua melhor visualização, resgato o quadro apresentado no capítulo


4 que demonstra de forma clara as afirmações de Assaf Neto e Lima expostas
no parágrafo anterior.

Finanças Empresariais 199


Capítulo 6

DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA - MÉTODO DIRETO


FLUXO DE CAIXA DE ATIVIDADES OPERACIONAIS
Recebimento de clientes
Pagamento a fornecedores e empregados
Caixa gerado de operações
Juros pagos
Imposto de renda e contribuição social pagos
Imposto de renda e contribuição social sobre dividendos recebidos
CAIXA LÍQUIDO PROVENIENTE DAS ATIVIDADES OPERACIONAIS
FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES DE INVESTIMENTOS
Aquisição de controlada x líquido de caixa incluído na aquisição
Compra de ativo imobilizado
Juros recebidos
CAIXA LÍQUIDO USADO NAS ATIVIDADES DE INVESTIMENTO
FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES DE FINANCIAMENTOS
Recebidos pela emissão de ações
Recebido por empréstimos de longo prazo
Pagamento de passivo por arrendamento
Dividendos pagos
CAIXA LÍQUIDO USADO NAS ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO
AUMENTO LÍQUIDO DE CAIXA E EQUIVALENTES DE CAIXA
CAIXA E EQUIVALENTES DE CAIXA NO INÍCIO DO PERÍODO
CAIXA E EQUIVALENTES DE CAIXA NO FIM DO PERÍODO
Quadro 4 - Demonstração do fluxo de caixa

Nem sempre temos acesso às informações e ainda a disponibilidade


de tempo para organizá-las de maneira a elaborar na forma direta
o fluxo de caixa, principalmente quando tratamos de uma micro ou
pequena empresa, onde o empresário é um “faz tudo”, e as informações
são repassadas à contabilidade para o cumprimento de requisitos legais.
Nesta condição, será apresentado a você outro método de elaboração do
fluxo de caixa, o método indireto.

6.2.3 Método indireto

Na percepção de Motta e Calôba (2002, p. 190), a elaboração do fluxo de


caixa obedece a uma sequência lógica, iniciando na chamada demonstração
de resultado do exercício (DRE). A DRE corresponde a todo o processo de
deduções de custos, tributos e impostos incidindo sobre a receita, chagando
ao lucro após o imposto de renda.

200 Finanças Empresariais


Capítulo 6

Uma vez encerrado a DRE, calcula-se o chamado fluxo de caixa projetado,


que corresponde à soma de todas as entradas ou disponibilidades de caixa
com as saídas. Subtraindo-se as saídas das entradas, encontra-se o fluxo de
caixa anual. Sobre esse conjunto de valores, calculados ano a ano, compondo
o fluxo de caixa para todos os anos do projeto, deverão ser calculados os
indicadores do projeto, tais como a taxa interna de retorno, o custo anual
equivalente e o valor líquido presente descontado a uma taxa de juros.

Pela forma de apresentação pelo método indireto, os autores Yoshitake e


Hoji (1997, p. 150) destacam que o fluxo de caixa também é conhecido como
demonstração do fluxo líquido de caixa. É uma complementação da demonstração
das origens e aplicações de recursos (DOAR), pois os recursos provenientes das
atividades operacionais são demonstrados com base no lucro líquido, sendo
ajustados para itens que não afetam o capital circulante líquido, considerado
pelas mutações do capital circulante líquido, exceto disponibilidades.

O quadro a seguir apresenta um modelo de fluxo de caixa pelo método


indireto. Veja.

ORIGENS

• Lucro líquido do exercício


• Mais:
• Depreciações
• Aumento do imposto de renda a pagar
• Aumento em fornecedores
• Menos:
• Aumento em clientes
• (=) Caixa gerado pelas operações
• Venda do imobilizado
• (=) Total de ingresso de disponibilidades

APLICAÇÕES

• Pagamento de empréstimos bancários


• Aquisições de Imobilizados
• (=) Total das aplicações de disponibilidades
• Variações líquidas das disponibilidades
• (+) Saldo inicial
• (=) Saldo final das disponibilidades em 31-12-X1

Quadro 5 - Modelo de fluxo de caixa indireto segundo Yoshitake e Hoji


Fonte: Yoshitake e Hoji (1997, p. 151).

Finanças Empresariais 201


Capítulo 6

Para Matarazzo (1998, p. 367), a demonstração do fluxo de caixa é


imprescindível na mais elementar atividade empresarial e mesmo para
pessoas físicas que se dedicam a algum negócio, visto que ele serve para
se saber se a empresa foi autossuficiente no financiamento do seu giro
e qual sua capacidade de expansão com recursos próprios gerados pelas
operações, ou seja, a independência financeira da empresa é posta em
cheque.

O autor menciona ainda que o fluxo de caixa serve para avaliar


alternativas de investimentos, controlar ao longo do tempo as decisões
importantes que serão tomadas na empresa, posicionando-se para que
não se chegue a situações de liquidez; serve também para certificar que
os excessos momentâneos de caixa estão sendo devidamente aplicados.

Na mesma perspectiva, Iudícibus e Marion (1999, p. 218) ressaltam que


a demonstração do fluxo de caixa mostra a origem e a aplicação de todo o
dinheiro que transitou pelo caixa em um determinado período, assim como
o resultado desse fluxo, sendo que o caixa engloba as contas caixa e bancos,
evidenciando as entradas e saídas de valores no decorrer das operações que
ocorrem ao longo do tempo nas organizações.

Assaf Neto e Lima (2009, p. 198) ressaltam que a demonstração do fluxo


de caixa (DFC) na forma indireta é elaborada a partir do resultado, isto é, lucro
ou prejuízo, conforme pode ser visualizado no quadro a seguir.

202 Finanças Empresariais


Capítulo 6

DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA - MÉTODO INDIRETO


FLUXO DE CAIXA DE ATIVIDADES OPERACIONAIS
Lucro líquido antes do imposto de renda e contribuição social
Ajustes por:
Depreciação
Perda cambial
Renda de investimentos
Despesas de juros
Aumento nas contas a receber de clientes e outros
Diminuição dos estoques
Diminuição nas contas a pagar – fornecedores
Caixa proveniente das operações
Juros pagos
Imposto de renda e contribuição social pagos
Imposto de renda e contribuição social sobre dividendos recebidos
CAIXA LÍQUIDO PROVENIENTE DAS ATIVIDADES OPERACIONAIS
FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES DE INVESTIMENTOS
Aquisição de controlada x líquido de caixa incluído na aquisição
Compra de ativo imobilizado
Juros recebidos
Dividendos recebidos
CAIXA LÍQUIDO USADO NAS ATIVIDADES DE INVESTIMENTO
FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES DE FINANCIAMENTOS
Recebidos pela emissão de ações
Recebido por empréstimos de longo prazo
Pagamento de passivo por arrendamento
Dividendos pagos
CAIXA LÍQUIDO USADO NAS ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO
AUMENTO LÍQUIDO DE CAIXA E EQUIVALENTES DE CAIXA
CAIXA E EQUIVALENTES DE CAIXA NO INÍCIO DO PERÍODO
CAIXA E EQUIVALENTES DE CAIXA NO FIM DO PERÍODO
Quadro 6 - Demonstração do fluxo de caixa
Fonte: Elaborado pelo autor.

Sá (2009, p. 151) enuncia que todo o processo de construção do fluxo


de caixa pelo método indireto está consubstanciado no Pronunciamento
Técnico CPC 03. O CPC 3 estabelece a segregação em atividades operacionais
(agrupa neste grupo a geração interna de caixa e a geração operacional), de
investimentos e financiamentos.

Finanças Empresariais 203


Capítulo 6

A geração de caixa operacional ou caixa líquido proveniente das


atividades operacionais, segundo Sá (2009, p. 138), evidencia a variação das
contas cíclicas ativas e passivas, portanto, a geração de caixa nada mais é do
que a variação da necessidade líquida do capital de giro.

A necessidade líquida de capital de giro, conforme você estudou no


capítulo 5, demonstra qual o capital de giro mínimo que a empresa precisa
ter, de modo que, através do giro do seu ativo circulante operacional (ACO),
ela possa gerar recursos suficientes para pagar as suas dívidas de curto
prazo de natureza operacional (PCO), sem precisar incorrer em empréstimos
onerosos de curto prazo.

A geração de caixa não operacional envolve as atividades de


financiamento e investimentos e são apuradas, segundo Sá (2009, p. 138), pela
variação das contas ativas e passivas classificadas como não cíclicas e erráticas.

As contas não cíclicas são as classificadas no ativo e passivo não circulante,


e no patrimônio líquido, as contas erráticas são as de natureza financeira,
classificadas no ativo e passivo circulante, dentre as quais, destaco: caixa,
bancos e aplicações financeiras, de natureza ativa, e empréstimos, duplicatas
descontadas, distribuição de dividendos, de natureza passiva.

Como se pode constatar, existem dois métodos de elaboração do fluxo


de caixa. Observe o que alguns autores ressaltam sobre a utilização deste ou
daquele, suas vantagens e desvantagens.

Segundo Sá (2006, p. 120), “é evidente que, sendo os fluxos de caixa


obtidos pelo método direto e indiretos retratos de uma mesma realidade,
apenas vistos através de prismas diferentes, os dois métodos não podem se
contradizer”. Independente das fontes de dados a serem utilizados na sua
construção (demonstrações contábeis ou relatórios gerenciais), os resultados
apurados deverão ser os mesmos. Ressalta ainda o autor que na utilização do
método direto é obrigatório, segundo os pronunciamentos contábeis FASB
95 e NPC 20, a conciliação do lucro líquido apresentado na Demonstração do
Resultado do Exercício (DRE) com caixa líquido das atividades operacionais.

204 Finanças Empresariais


Capítulo 6

Carmo et al. (1997) esclarece que o método indireto “consiste na


demonstração dos recursos provenientes das atividades operacionais a partir
do lucro líquido, ajustado pelos itens que afetam o resultado, mas que não
modificam o caixa da empresa”, enquanto o método direto demonstra “os
recebimentos e pagamentos derivados das atividades operacionais da empresa
em vez do lucro líquido ajustado”.

Mas se ambos proporcionam a mesma resposta, que método deve ser


adotado?

Campos Filho (1999, p. 47) afirma que, antes de tudo, deve-se “enfatizar
o mérito dos dois métodos, que é o de gerar informações de caixa”.

Ainda Campos Filho (1999), de forma particular, assume que o método


direto gera mais benefícios em função da conjuntura enfrentada pela
maioria das empresas brasileiras, principalmente em face da necessidade de
redução dos custos financeiros, mas alerta que cada empresa deve observar
a sua realidade e escolher o método que lhe for mais adequado. De forma
específica, por exemplo, as empresas do setor de construção civil, pelo ciclo
operacional demasiadamente longo, deveriam optar pelo método direto,
“porque os números de competência têm pouco significado para essa
atividade” (CAMPOS FILHO, 1999, p. 49).

Segundo Santos, Schmidt e Martins (2006, p. 101), “a principal vantagem do


método direto é a de que ele permite melhor compreensão, por parte do usuário,
do relacionamento entre o resultado da entidade e o seu fluxo de caixa”. Os
mesmos autores, entretanto, afirmam que o método indireto é o mais utilizado
devido à simplicidade de sua elaboração. Ressaltam ainda que são enfatizadas as
mudanças ocorridas nas principais contas correntes ativas e passivas.

Sá (2009, p. 131) reconhece que “o fluxo de caixa obtido pelo método


direto fornece algumas importantes informações a respeito do processo
de formação do caixa da empresa”. O autor ressalta ser um instrumento
insubstituível quando se trata de fazer o planejamento financeiro para obter
diariamente as informações de entradas e saídas.

Finanças Empresariais 205


Capítulo 6

Entretanto, Sá (2009, p. 131) alerta que captar apenas os valores que


circulam pelo disponível se constitui em caráter limitante do método direto,
relaciona que diversos eventos podem ampliar ou reduzir os recursos do fluxo
de caixa que não são percebidos pelo método. O método apenas evidencia se
a geração de caixa está melhorando ou piorando, mas não identifica a causa.

Ainda Sá (2009, p. 131) relaciona o fluxo de caixa indireto como o obtido


a partir dos dados das demonstrações contábeis. Ele é apurado a partir das
variações percebidas num determinado exercício. A análise permite identificar
os fatos que podem ocasionar alterações positivas e/ou negativas nos saldos
das contas evidenciadas no fluxo.

Independente da forma de apresentação do fluxo de caixa, um


relatório não interpretado ainda não se constitui em uma informação,
é meramente um dado. Segundo Sá (2009, p. 201), “a riqueza do fluxo
de caixa obtido pelo método indireto reside no fato de fornecer uma
radiografia do processo de formação do caixa na empresa e da forma como
está sendo administrada”. O autor recomenda, num primeiro momento, a
realização da análise vertical do fluxo, também conhecida como “análise
dinâmica das demonstrações financeiras”.

Sá (2009, p. 202) recomenda ainda que para que a análise vertical


espelhe a realidade do desempenho do fluxo de caixa há uma série de ajustes,
apresentados em quadro-resumo a seguir:

206 Finanças Empresariais


Capítulo 6

FATOS CONTÁBEIS AJUSTES A SEREM PROCEDIDOS

Juros sobre Capital Próprio Valores devem ser revertidos e incluídos


na DMPL como dividendos pagos

Honorários – Pró-Labore Quando configurados como


distribuição de lucros, deverão ser
revertidos e debitados como Despesas
Operacionais e incluídos na DMPL
como dividendos pagos.

Empréstimos e Financiamentos Reclassificados para o Passivo Não


vinculados a novos projetos Circulante

Empréstimos ou Adiantamentos dos Reclassificados para o Passivo


acionistas para financiar capital de giro Circulante independente do prazo

Reavaliações de Ativos Devem ser revertidas tanto as positivas


(Imobilizado) quanto as negativas
(estoques e contas a receber)

Demonstração de Resultado Adoção do método de custeio variável,


os custos fixos deverão ser debitas na
DRE e creditas ao estoque (BP)

Juros – Empréstimos, Financiamentos Devem ser destacados na DRE após a


e Aplicações Financeiras apuração do lucro operacional

Despesas financeiras – Empréstimos Devem ser apresentados em separado


de curto prazo das de longo prazo

Atrasos de pagamentos Devem ser revertidos e reclassificados


(Fornecedores, Impostos, etc.) como empréstimos de curto prazo.

Pesquisas, Reestruturações, ágios Devem ser registradas no Ativo Não


em aquisições, despesas pré- Circulante
operacionais

Recebíveis (cheques, duplicatas) Lançar na DRE como prejuízo


incobráveis

Prejuízos diferidos no exercício Devem ser revertidos

Estoque de Matérias-Primas Devem ser destacados no ativo


circulante

Fornecedores Devem ser segregados em


fornecedores de matérias-primas e
diversos

Vales de caixa Valores devem ser revertidos e incluídos


na DMPL como dividendos pagos

Quadro 7 – Ajustes demonstrações contábeis – fluxo de caixa – método indireto.


Fonte: Sá (2009).

Finanças Empresariais 207


Capítulo 6

Após os efetivos ajustes e a consolidação do fluxo de caixa pelo método


indireto, você poderá efetivamente analisá-lo. Sá (2009, p. 204) classifica os
índices de fluxo de caixa em três grupos:

• índices de cobertura – ou liquidez/suficiência;


• índices de eficiência financeira ou de rentabilidade;
• índices de consolidação ou estrutura;

A seguir, apresento os principais índices, conforme a percepção de Sá


(2009).

O índice de cobertura do passivo circulante, que evidencia a capacidade


da empresa em liquidar seus compromissos de curto prazo, é a resultante do
somatório do Fluxo de Caixa Operacional (FAO), Custos Variáveis (CV) e Gastos
Fixos (GF) divididos pelo Passivo Circulante. Deve ser ressalvado que nos gastos
fixos, devem ser consideradas as despesas financeiras dos empréstimos de
curto prazo. Sua equação é:

FAO + CV + GF
ICPC =
PC

Segundo Sá (2009, p. 210), quando este índice resultar em quociente


menor do que 1, a empresa está ilíquida.

Um segundo indicador de cobertura, segundo Sá (2009, p. 211) é


denominado índice de cobertura de juros de curto prazo, que busca mensurar
a capacidade da empresa por meio de seu fluxo de atividades operacionais
em liquidar os juros dos financiamentos de curto prazo, contratados junto a
instituições financeiras, ou seja, resultantes de atrasos junto a fornecedores e
impostos. Sua equação é:

FAO + JP
ICJCP =
JP

Sua análise é de que quanto maior for o indicador, melhor para a empresa.

208 Finanças Empresariais


Capítulo 6

Um terceiro indicador que busca evidenciar a capacidade do fluxo de


atividades operacionais em liquidar os empréstimos financeiros de curto
prazo (PFCP), independente da fonte dos recursos. Sua equação é:

FAO
ICPFCP =
PFCP

Um quarto e último indicador de cobertura, segundo Sá (2009, p. 215), é


o índice de cobertura do serviço da dívida de curto prazo, que busca evidenciar
a capacidade da empresa de amortização do principal do passivo financeiro de
curto prazo.

ICPFCP *ICJCP
ICSDCP =
ICPDCP + ICJCP

Como expus anteriormente, Sá (2009, p. 216) apresenta indicadores de


eficiência financeira que buscam evidenciar o grau de eficiência da empresa
na geração de caixa, bem como sua capacidade em agregar valor aos seus
acionistas. Dentre os índices mais utilizados, destacam-se:

MOLA – Margem Operacional Líquida, que representa a relação entre


o FAO e a Receita Bruta (RB). Cabe acrescer ao FAO os valores pagos a título
de dividendos (D) e excluir os valores de depreciação, amortização e exaustão
(DAE). Sua equação é:

FAO + D-DAE
MOLA =
RB

Em tempo, Sá (2009, p. 217) pondera que este índice se utiliza da receita


bruta e não da receita líquida, pelo fato de esta poder encobrir a ineficiência
da empresa decorrente de devoluções e cancelamentos da vendas.

MOLC – Margem Operacional Líquida Capital Empregado, se diferencia


da MOLA por mensurar o impacto das despesas financeiras (JP). É representada
pela equação:

Finanças Empresariais 209


Capítulo 6

FAO + JP + D-DAE
MOLC =
RB

ROLC – Índice de Rentabilidade Operacional. Busca mensurar o grau de


eficiência dos recursos que financiam as atividades da empresa num período,
normalmente anual. Os recursos são a resultante do somatório do patrimônio
líquido e o endividamento financeiro de curto e longo prazo. Sua representação
é dada pela equação:

FAO + JP + D-DAE
ROLC =
CI

Da mesma forma que você apurou a MOLC, pode ser evidenciado o


indicador de rentabilidade, considerando apenas o patrimônio líquido da
empresa (ROBPL). Sua representação passa a ser:

FAO + JP + D-DAE
ROBPL =
PL

Os indicadores aqui descritos. ROLC e ROBPL, demonstraram o nível de


retorno dos capitais utilizados pela empresa e a geração de valor aos acionistas
no período.

IEFL – Índice de Eficiência Financeira do Lucro. É, segundo Sá (2009, p.


222), a “relação entre o fluxo das atividades operacionais e o lucro líquido”. É
representado pela equação:

FAO
IEFL =
LL

Na percepção de Sá (2009, p. 222), este indicador deverá sempre ser


superior a 100%. Caso isso não ocorra, as prováveis justificativas, segundo o
autor, são: política de crédito expansionista, inadimplência crescente, compras
equivocadas e por fim, o efeito tesoura.

210 Finanças Empresariais


Capítulo 6

IEFCG – Índice de Eficiência Financeira do Capital de Giro. Busca evidenciar


a relação entre o fluxo das atividades operacionais e o capital de giro médio
(CGM). Sua análise compreende que se o indicador resulta em 100% da
utilização dos recursos de capital de giro, é eficiente; caso contrário, se 0%
ou próximo a este, a empresa apresenta grau de ineficiência na utilização dos
recursos. É representado pela equação:

FAO
IEFCG =
CGM

VEA – Valor Econômico Agregado. Segundo Sá (2009, p. 226) trata-se de


“um conceito criado por uma empresa de consultoria americana, Stern Stewart
& Co., e que mede o valor que foi (ou que será) agregado ao valor da empresa
devido ao fato de sua rentabilidade exceder o custo médio ponderado de
capital (CMPC)”. É representado pela equação:

VEA = (ROLC - CMPC) *CI

Por fim, o último grupo de indicadores descritos por Sá (2009, p. 227) são
os de consolidação. Na percepção do autor, uma empresa estará consolidada
quanto maior for a sua capacidade de superar crises. Ele apresenta três
indicadores. Veja:

Um primeiro é o GEFCP – Grau de Consolidação do Disponível. Uma


empresa está consolidada quando ela consegue liquidar suas obrigações
de curto prazo sem recorrer a empréstimos financeiros. É a resultante da
relação entre o Passivo Financeiro de Curto Prazo (PFCP) e a Capacidade de
Endividamento de Curto Prazo. É representado pela equação:

PFCP
GEFCP = 1 -
CECP

A CECP é apurada da relação entre o fluxo de atividades operacionais


acrescidos dos juros pagos e a taxa média de juros das operações contratadas
pela empresa.

Finanças Empresariais 211


Capítulo 6

Um segundo indicador é o Prazo Médio de Recebíveis – PMR , que apura


a relação entre os saldos médios dos recebíveis no final de um período e os
valores recebidos dos clientes. Sá (2009, p. 231) afirma que se o prazo médio de
recebimento de clientes for mantido e o prazo médio de recebíveis apresentar
expansão, isto pode significar inadimplência crescente.

SRFP
PMR = *365
RC

O último indicador apresentado por Sá (2009, p. 231) é o Grau de


Consolidação dos Estoques – GCE. Este índice busca avaliar o descasamento
entre a variação do saldo dos estoques e a variação do saldo da conta
fornecedores.

ΔE
GCE = - ( )
ΔF

Segundo Sá (2009, p 233) se este indicador resultar superior a 1, a relação


entre estoques e fornecedores está equilibrada.

CURIOSIDADE
No site da Comissão de Valores Mobiliários,
seu velho conhecido de outros capítulos, você
poderá acessar o demonstrativo de fluxo de caixa
das empresas listadas na BOVESPA. Navegue
pelo acesso rápido, opção DFP, digite o nome
de uma empresa qualquer; ao aparecer o nome,
clique nele, selecione novamente DFP e a opção
consulta. Abrirá uma plataforma no Windows.
Nela você encontrará todos os demonstrativos
financeiros já estudados anteriormente e o
demonstrativo do fluxo de caixa.

212 Finanças Empresariais


Capítulo 6

6.3 Aplicando a teoria na prática

A empresa Alpha Empreendimentos Turísticos pretende reorganizar o seu setor


financeiro. Em reunião com os diretores da empresa, ficou determinada a apresentação
na próxima reunião do fluxo de caixa. De posse dos dados, que representam as
variações ocorridas no último ano, você deverá elaborar o demonstrativo de fluxo de
caixa segregando nas três categorias, ou seja, atividades operacionais, atividades de
investimento e financiamento. Inicialmente, sugiro identificar as contas por categoria
para depois elaborar o fluxo de caixa. Utilize na solução as seguintes convenções: OP
para as contas operacionais, INV para investimentos e FIN para financiamentos.

O fluxo de caixa poderá resultar em condição positiva ou não. Você, na


condição de gestor financeiro, deverá apresentar os resultados e possíveis
medidas de ajuste do fluxo de caixa.

CONTAS VALORES

Lucro líquido do exercício 5.047

Venda de imobilizado 4.475

Fornecedores 9.319

Outros investimentos 144

Contas a receber 4.809

CONTAS VALORES

Amortização de empréstimos 28.407

Estoques 64

Impostos a recolher 40.336

Depreciação e amortização 6.318

Salários e contribuições 14.443

Resultado de equivalência patrimonial 1.147

Outras receitas operacionais 32.290

Impostos a recuperar 341

Aumento de capital 25.738

Finanças Empresariais 213


Capítulo 6

Lembre-se que os valores positivos representam entradas de recursos, e


os negativos, saídas.

Fez? Compare.

Primeiramente, você deve ter identificado a natureza de cada conta, se


operacional, financiamento ou investimento.

CONTAS VALORES

Lucro líquido do exercício 5.047 OP

Venda de imobilizado 4.475 INV

Fornecedores 9.319 OP

Outros investimentos 144 INV

Contas a receber 4.809 OP

Amortização de empréstimos 28.407 FIN

Estoques 64 OP

Impostos a recolher 40.336 OP

Depreciação e amortização 6.318 OP

CONTAS VALORES

Salários e contribuições 14.443 OP

Resultado de equivalência patrimonial 1.147 OP

Outras receitas operacionais 32.290 OP

Impostos a recuperar 341 OP

Aumento de capital 25.738 FIN

Agora que você já identificou a característica de cada conta, fica mais


simples agrupá-las por categoria. Assim, fica fácil elaborar o fluxo de caixa.

214 Finanças Empresariais


Capítulo 6

CONTAS VALORES
Lucro líquido do exercício 5.047

Fornecedores 9.319

Contas a receber 4.809

Estoques 64

Impostos a recolher 40.336

Depreciação e amortização 6.318

Salários e contribuições 14.443

Resultado de equivalência patrimonial 1.147

Outras receitas operacionais 32.290

Impostos a recuperar 341

Fluxo de caixa de atividades operacionais 4.428

Aumento de capital 25.738

Amortização de empréstimos 28.407

Fluxo de caixa de atividades de financiamento 2.669

Venda de imobilizado 4.475

Outros investimentos 144

Fluxo de caixa de atividades de investimento 4.331

Fluxo de caixa final 2.572

6.4 Para saber mais


Título: Introdução à administração financeira
Editora: Pioneira Thomson
Autor: PADOVEZE, C. L. Ano: 2005
Learning, SP

Este livro aborda, no capítulo 1, os principais conceitos de fluxo de


caixa, sua integração com as demais demonstrações financeiras e
procedimentos de análise.

Título: Análise do demonstrativo de fluxo de caixa


Autor: SANTI FILHO, A. Editora:Armando Santi Filho Ano: 2002

Este livro consiste em leitura obrigatória para quem deseja


aprofundar os conhecimentos sobre o processo de análise do fluxo
de caixa.

Finanças Empresariais 215


Capítulo 6

Site: Comissão de valores mobiliários


URL: http://www.cvm.gov.br

Neste site, você tem a oportunidade de acessar as demonstrações do


fluxo de caixa das sobre empresas de capital aberto, dentre outras
informações.

Site: Infomoney
URL: http://www.infomoney.com.br

Neste site, você pode acessar análises das empresas listadas na bolsa
e ainda assistir vídeos sobre finanças, participar de chats, dentre
outras funcionalidades.

6.5 Relembrando

O capítulo 6 apresentou:

• os conceitos de fluxo de caixa na opinião de diversos autores, as


principais variáveis que devem conduzir o processo de implantação,
a começar pelo engajamento da alta administração da organização
e ainda os fatores que podem afetar o fluxo de caixa positiva ou
negativamente, sejam eles controlados pela empresa ou não;

• os objetivos do fluxo de caixa, podendo-se constatar a importância da


elaboração deste pelas empresas e os seus impactos nos processo de
tomada de decisão;

• que o método direto é a forma mais adequada de elaboração do fluxo


de caixa; ele preconiza a construção de tabelas, mapas auxiliares que
permitem a empresa o efetivo controle do caixa;

• que o método indireto consiste numa alternativa a dificuldade de


acesso e tempo para a elaboração do fluxo de caixa, principalmente
em se tratando de micro e pequenas empresas. O ponto de partida
são as demonstrações financeiras: o balanço patrimonial e a
demonstração de resultado.

216 Finanças Empresariais


Capítulo 6

6.6 Testando os seus conhecimentos

1) Das operações listadas a seguir, indique a que não tem como consequência
alteração positiva ou negativa do fluxo de caixa.

a) Diminuições de financiamentos por amortizações.


b) Novos investimentos de longo prazo.
c) Aumento de imobilizados por reavaliações.
d) Créditos concedidos a coligadas e controladas.
e) Operações com debêntures conversíveis em ações.

2) Ao longo da apostila, você pode perceber que o processo de implantação


requer a observância de diversos aspectos. Qual a alternativa incorreta
apresentada a seguir?

a) Não engajamento da cúpula diretiva da empresa.


b) Organização da estrutura funcional da empresa com definição clara
dos níveis de responsabilidade de cada área.
c) Integração dos diversos setores e departamentos da empresa ao
sistema de fluxo de caixa.
d) Definição do sistema de informações, quanto à qualidade e aos
formulários a serem utilizados.
e) Criação de um manual de operações financeiras.

3) Constituem-se como objetivos do fluxo de caixa, exceto:

a) impossibilitar a análise e o cálculo na seleção de linhas de crédito a


serem obtidas junto às instituições financeiras.
b) programar os ingressos e os desembolsos de caixa, de forma criteriosa,
permitindo determinar o período em que deverá ocorrer carência de recursos
e o montante, havendo tempo suficiente para as medidas necessárias.
c) permitir o planejamento dos desembolsos de acordo com as
disponibilidades de caixa, evitando-se o acúmulo de compromissos
vultosos em época de pouco encaixe.
d) determinar quanto de recursos próprios a empresa dispõe em dado
período para aplicá-los da forma mais rentável possível, bem como
analisar os recursos de terceiros que satisfaçam a necessidade da empresa;
e) proporcionar o intercâmbio dos diversos departamentos da empresa
com a área financeira.

Finanças Empresariais 217


Capítulo 6

4) O demonstrativo de fluxo de caixa, segundo Gitman (1997), está estruturado


em três grandes grupos de contas: as atividades operacionais, as atividades de
investimento e as atividades de financiamento. Dos itens a seguir, quais se
enquadram nas atividades de financiamento?

a) Clientes, impostos a pagar e despesas financeiras.


b) Aquisição de imobilizado, salários a pagar e dividendos.
c) Aumento de capital, despesas de juros e pagamento de dividendos.
d) Depreciação, amortização e exaustão.
e) Clientes, depreciação e aumento de capital.

Onde encontrar

ANDREOLLA, N. Manual do fluxo de caixa. Porto Alegre: Feplam, 1992.

ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo:


Atlas, 2009.

______; SILVA, C. A. T. Administração de capital de giro. 2. ed. São Paulo: Atlas,


1997.

______; SILVA, C. A. T. Administração do capital de giro. 3. ed. São Paulo: Atlas,


2002.

ASSAF, R. Guia prático de administração financeira. 2. ed. Rio de Janeiro:


Campus, 1999.

BARBIERI, G. Fluxo de caixa: modelo para bancos múltiplos. Tese de


doutorado. São Paulo: FEA/USP, 1995.

BRAGA R; MARQUES, J. A. V. C. Avaliação da liquidez das empresas através


da análise da demonstração de fluxos de caixa. Revista de Contabilidade e
Finanças. FIPECAFI – FEA/USP. São Paulo, v. 14, 2001.

CAMPOS FILHO, A. Demonstração dos fluxos de caixa: uma ferramenta


indispensável para administrar sua empresa. São Paulo: Atlas, 1999.

218 Finanças Empresariais


Capítulo 6

CARMO, A. B. G. et al. Fluxo de Caixa. Revista Brasileira de Contabilidade do


CRC-SP. São Paulo, a. I, n. 3, dez. 1997.

FASB. Statement of Financial Accounting Standards, n. 95. Disponível em:


<http://fasb.org>. Acesso em: 13 mar. 2011

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Finanças Empresariais 219


Capítulo 6

MOTTA, R. R.; CALÔBA, G. M. Análise de investimentos. São Paulo: Atlas 2002.


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220 Finanças Empresariais


Capítulo 7

CAPÍTULO 7
ANÁLISE DE VIABILIDADE,
RENTABILIDADE E RISCO

7.1 Contextualizando
Este capítulo apresentará a você as principais técnicas de análise
de viabilidade de investimentos, ferramenta fundamental para qualquer
empresário que deseja manter uma relação saudável com o mercado.

O texto mostrará os vieses teóricos e práticos da análise, e você perceberá


que o processo não consiste meramente na realização de cálculos matemáticos
e estatísticos; pelo contrário, ele exige do profissional uma boa dose de leitura
de revistas e jornais especializados, pois um número não pode ser visto de
forma isolada, mas sempre integrada aos demais.

Espera-se que, ao final do estudo, você seja capaz de desenvolver a


análise de viabilidade econômico-financeira de um projeto e suas implicações
na gestão estratégica das empresas.

Principalmente, espera-se que você consiga visualizar por que este


assunto é apresentado nesta disciplina.

Pronto para mais esta etapa?

Finanças Empresariais 221


Capítulo 7

7.2 Conhecendo a teoria

Nada melhor do que já começar com um conceito.

CONCEITO
A análise de projetos de investimentos é o conjunto
de procedimentos utilizados para avaliação
e comparação de projetos de investimentos
alternativos fundamentados em princípios
econômicos básicos. (ASSAF NETO; LIMA, 2009)

Como fase preliminar ao processo de avaliação e análise de projetos, é


necessário computar estimativas de desembolso e receitas (em outras palavras,
custos e benefícios) que deverão ocorrer ao longo da vida útil do projeto.

A análise de projetos de investimento considera a elaboração de


indicadores associados ao desempenho econômico do projeto calculado a
partir de seu fluxo de benefícios e custos, medidos em unidades monetárias.

A análise econômica de investimentos, segundo Assaf Neto e Lima (2009,


p. 378), é estruturada em dois segmentos:

• determinista – estratégia mais comumente utilizada para avaliação de


projetos; pressupõe conhecimento exato dos valores que irão compor
o fluxo de, o que se constitui numa simplificação do problema real;

• análise em condições de risco – possibilita a incorporação de


conhecimentos incertos a respeito de variáveis que irão compor o fluxo
de caixa do projeto com o auxílio de distribuições de probabilidade.

A partir de agora, apresentarei os principais métodos de análise de


viabilidade de investimentos, começando pelo Valor Presente Líquido (VPL)
ou também conhecido pela sigla NPV, Net Present Value.

7.2.1 Valor presente líquido

O método do valor atual é também denominado de valor presente ou,


ainda, valor atual líquido. Consiste na determinação do valor atual dos futuros

222 Finanças Empresariais


Capítulo 7

ingressos e desembolsos de caixa, descontados a uma taxa equivalente ao


custo de capital da empresa.

Padoveze (2005, p. 107) afirma que o critério do valor presente líquido


é o modelo clássico para a decisão de investimentos, compreendendo as
seguintes variáveis:

• o valor do investimento;
• o valor dos fluxos futuros de benefícios;
• a quantidade de períodos futuros;
• a taxa de juros referencial.

A taxa de juros pela qual os futuros ingressos e desembolsos de caixa


podem ser financiados ou captados por empréstimo é também denominada
de taxa mínima de atratividade (TMA), normalmente os projetos utilizam na
prática as taxas de juros da caderneta de poupança ou a taxa SELIC.

SAIBA QUE
Ao acessar o site do Banco Central <www.
bcb.gov.br>, você encontrará o histórico da
taxa SELIC desde a sua criação, em 1996, e
ainda ler todas as atas do COPOM – Comitê de
Política Monetária, nas quais são apresentadas
as justificativas para possíveis expansões ou
reduções da taxa.

O método do valor atual de um projeto é o máximo que uma empresa


estará disposta a pagar pela oportunidade de realizar uma alternativa de
investimento, sem ter prejuízos de ordem financeira. Compara-se o valor atual
ao custo do projeto.

Destaque-se que se o valor atual for superior ao investimento líquido,


o retorno será evidentemente maior do que o custo do capital, e assim a
empresa terá vantagens financeiras na consecução do projeto. Entretanto,
se o valor atual for inferior ao investimento líquido, o retorno será menor
do que o custo do capital, e nesse caso, a empresa deverá descartar
a realização da proposta de investimento, pois resultará em prejuízo
financeiro à organização.

Finanças Empresariais 223


Capítulo 7

O valor atual dos fluxos líquidos de um projeto é obtido por:

n
NPV = ∑ (FCL ) / (1 + i)
i

i=0

em que FCL é o fluxo de caixa líquido, e i a taxa de juros considerada.

Exemplo 1

A tabela apresenta fluxo líquido de capitais de um determinado


investimento, considerando um custo de capital de 10% ao ano para fins de
verificação da viabilidade da operação.

Tabela 1 - Fluxo líquido de capitais


ANOS CAPITAIS
0 -2500
1 350
2 450
3 500
4 750
5 750
6 800
7 1000

Usando a fórmula apresentada anteriormente, temos em valores


arrendondados um VPL de 508.

224 Finanças Empresariais


Capítulo 7

Pode-se recorrer também a uma calculadora financeira:

Tabela 2 - Calculadora financeira


TECLAS VISOR
F CLX 0
2500 CHS g CFo -2500

350 g CFj 350

450 g CFj 450

500 g CFj 500

750 g CFj 750

2 g CFj 2

800 g Nj 800

1000 g CFj NPV 1000

10 i f IRR 508

Ao identificar uma série constante de fluxos, não é necessário


alimentar cada fluxo individual a partir da tecla Cj de sua calculadora
financeira, basta digitar o valor, em seguida, o número de vezes que
o valor se repete e apertar as teclas g e Nj.

A rejeição de projetos pelo NPV ou VPL pode ser realizada comparando-se


o valor do indicador obtido ao custo de oportunidade do capital com a unidade.
O projeto será descartado por esse critério, caso se verifique a condição.

7.2.2 Taxa interna de retorno

Segundo Padoveze (2005, p. 109), trata-se de uma variação do critério do


VPL, em que se busca identificar a taxa de juros que iguala o total dos fluxos
futuros descontados a esta taxa, com o valor do investimento inicial.

De forma complementar, Assaf Neto e Lima (2009, p. 382) afirmam que


para a avaliação de propostas de investimento é requerido o conhecimento
dos montantes de dispêndio de capital e dos fluxos de caixa líquidos
incrementais gerados num determinado período, decorrentes da decisão
tomada pela empresa.

Finanças Empresariais 225


Capítulo 7

n=0
∑ (FCL ) / (1 + i)
i
TIR =
i=1

Em que ¡ é a taxa de desconto e FCL são os fluxos de caixa líquidos no


período n.

Exemplo 2

Utilizando o mesmo fluxo do exemplo 1, você terá uma TIR de quanto?

Tabela 3 - TIR
TECLAS VISOR
F CLX 0
2500 CHS g CFo -2500
350 g CFj 350

450 g CFj 450

500 g CFj 500

750 g CFj 750

2 g Nj 2

800 g CFj 800

1000 g CFj 1000


10 i f NPV 508

0 i f IRR 15

Como a TIR encontrada foi de 15%, e a taxa de mercado é de 10%, o


projeto é viável.

Dentre todos os indicadores mais utilizados, a TIR é o que ao primeiro


exame aparenta as menores limitações. Isso se deve, possivelmente, à
independência de informações exógenas ao projeto para a sua obtenção. Em
particular, não depende da definição a priori de um custo de oportunidade
do capital para sua elaboração, como ocorre com os outros indicadores
considerados.

226 Finanças Empresariais


Capítulo 7

Todavia, essa vantagem é apenas aparente, pois a TIR somente será um


indicador consistente na situação em que um investidor que dispuser de um
capital para aplicação de valor K, tendo como alternativas de investimento
projetos mutuamente exclusivos, não puder aplicar o valor residual de
seu capital inicial após o investimento no projeto escolhido, o que é uma
situação bem pouco realista.

Outra dificuldade na utilização da TIR como indicador está associada


à possibilidade de ocorrência de múltiplas TIR para o mesmo fluxo de caixa.
A rejeição de projetos pela TIR pode ser realizada comparando-se o valor do
indicador obtido ao custo de oportunidade do capital com a unidade. O projeto
seria descartado por esse critério, caso se verificasse que o valor da TIR (positivo)
de um projeto fosse inferior ao valor do custo de oportunidade do capital.

7.2.3 Prazo de retorno do investimento

Outro método de avaliação de investimentos é o prazo de retorno. Todos


nós temos um objetivo, e as empresas não são exceção. Elas também fazem
projeções de tempo para seus resultados. Se o prazo de retorno estiver em
linha com as expectativas, os investimentos sairão do papel; do contrário, não.

Assaf Neto e Lima (2009, p. 378) afirmam que o payback, ou prazo


para recuperação do capital, é um indicador que evidencia o tempo
necessário para que um projeto recupere o capital investido, a partir do
fluxo de caixa estimado. Existem três métodos de avaliação: o efetivo, o
médio e o descontado, também chamado “econômico”.

O método de payback efetivo (PBE) compara o tempo necessário para


recuperar o investimento com o máximo de tempo tolerado pela empresa para
o tipo de investimento. Esse método não leva em conta a dimensão tempo do
dinheiro e pode ser expresso matematicamente assim:

PBE = ki

∑ kfi ≥ 0 i=0 e ∑ k − 1fi〈0 i=0

Finanças Empresariais 227


Capítulo 7

Esta expressão demonstra que:

• a soma dos capitais do fluxo de caixa do projeto de investimento da


data zero até a data PBE é igual a zero;

• a data PBE é a incógnita do problema.

• O método PBE requer que sejam observados certos preceitos:

• o primeiro capital do fluxo de caixa deverá ser um investimento;

• os capitais do fluxo de caixa do investimento deverão apresentar uma


única mudança de sinal, ou seja, um fluxo simples ou convencional;

• o TMT (tempo máximo tolerado) deve ser definido pela empresa para
recuperar o capital investido (este é um valor arbitrado, pois surge de
considerações práticas).

A rejeição de projetos pelo PBE pode ser realizada comparando-se o valor


do indicador obtido ao tempo máximo tolerado. O projeto seria descartado
por esse critério caso se verificasse que o valor PBE de um projeto era superior
ao valor do TMT; se o valor PBS for igual ao TMT, o projeto poderá ou não ser
aceito; se o PBE for inferior ao TMT, deverá ser aceito.

No exemplo mencionado, se o TMT arbitrado for de três anos, o projeto


deverá ser aceito. Se menor, deverá ser rejeitado.

Tabela 4 - TMT arbitrado


ANOS CAPITAIS ACUMULADO
0 -2.000 -2.000

1 850 -1.150

2 850 -300

3 850 550

4 850 1.400
5 850 2.250

228 Finanças Empresariais


Capítulo 7

300
PB = 2 + = 2, 35 anos
300 + 550

Dentre os pontos fortes do PBE, destacam-se:

• é um método de avaliação fácil de ser aplicado;


• apresenta um resultado de fácil interpretação;
• é uma medida de risco do projeto;
• é uma medida de liquidez do projeto.

No entanto, apresenta desvantagens:

• não considera o valor do dinheiro no tempo;


• não considera todos os capitais do fluxo de caixa;
• não é medida de rentabilidade do investimento.

O método de retorno médio é baseado, conforme Assaf Neto e Lima


(2009, p. 379), na relação entre o valor do investimento e o valor médio dos
fluxos esperados de caixa.

Tabela 5 - Método de retorno médio


ANO 0 ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4
FCO (145) 71 74 80 50

O cálculo do prazo médio será dado, portanto, por:

145 145
P RM = = = 2,11 anos
71 + 74 + 80 + 50 68, 75
4

O método do payback econômico ou descontado (PRD) busca contornar


a deficiência do PBE em não considerar o valor do dinheiro no tempo. A
ideia é simples: como os fundos alocados no investimento apresentam
um custo, devemos incluí-lo ao longo do prazo de análise do projeto de
investimento.

Finanças Empresariais 229


Capítulo 7

Podemos incluir os custos de duas formas diferentes:

• acumulação do NPV em cada ano do projeto;


• saldo do projeto com carregamento anual dos juros.

O processo de cálculo, considerando a acumulação dos valores presentes


de cada item do fluxo, é evidenciado conforme a tabela a seguir. A outra forma
de cálculo do PRD considera o saldo do projeto também como exemplificado,
sendo que a taxa considerada foi de 12% ao ano.

Tabela 6 - Cálculo do PRD


ANOS CAPITAIS VP ACUMULADO

0 -600 -600 -600

1 120 -107 -493

2 150 120 -373

3 200 142 -231

4 220 140 -91

5 150 85 -6

6 180 91 85

7 80 36 121

6
BE = 5 + = 5 0659 anos
6 + 85

A rejeição de projetos pelo PRD pode ser realizada comparando-se o valor


do indicador obtido ao tempo máximo tolerado. O projeto seria descartado
por esse critério caso se verifique que o valor PRD de um projeto seja superior
ao valor do TMT. Se o valor PRD for igual ao TMT, o projeto poderá ou não ser
aceito. Se o PRD inferior ao TMT, deverá ser aceito.

230 Finanças Empresariais


Capítulo 7

7.2.4 Ponto de equilíbrio

Padoveze (2005, p. 141) ressalta que o ponto de equilíbrio ou break-even


point evidencia o nível de atividade ou volume operacional quando a receita
das vendas se iguala aos custos totais (variáveis e fixos). Pode-se afirmar tratar-
se da demonstração da capacidade mínima de operação de uma empresa.

Padoveze (2005, p. 353) afirma ainda que o ponto de equilíbrio pode ser
apurado em três dimensões: operacional, econômica e financeira.

Na dimensão operacional, o ponto de equilíbrio será alcançado quando


as quantidades produzidas ou vendidas (R) forem suficientes à cobertura tanto
dos custos variáveis (CV) quanto fixos (CF). Representa-se pela fórmula:

CF
PEO =
R + CV

Na dimensão econômica, é a quantidade que iguala a receita total com


a soma dos custos e despesas, acrescidas de uma remuneração mínima (custo
de oportunidade), sobre o capital investido pela empresa.

CF + L
PEE =
R − CV

Por fim, na dimensão financeira, deduz-se da dimensão anterior as


depreciações e amortizações (DA), ou seja, são considerados apenas os custos
efetivamente desembolsados.

CF + L − DA
PEF =
R − CV

Mas a nossa viagem está apenas no meio do caminho. Outros indicadores


passaram a ser utilizados pelo mercado para a análise de viabilidade de um
investimento. O trade-off retorno versus risco se constitui em uma destas
ferramentas de análise que veremos a seguir.

Finanças Empresariais 231


Capítulo 7

7.2.5 Retorno – conceitos e metodologia de avaliação

O retorno está relacionado aos fluxos incertos de caixa do investimento,


sendo determinado, conforme conceituam Assaf Neto e Lima (2009, p. 423),
pela ponderação entre os valores financeiros esperados e suas respectivas
probabilidades de ocorrência.

n
E (R ) = R = ∑ Pk × RK
k =1

Em que:

E(R) = R = retorno (valor) esperado


PK = probabilidade de ocorrência de cada evento
RK = valor de cada resultado considerado
Probabilidades

Investimento A

Investimento B

Resultados
Esperados ($)
300 500 700 800 1.100

Figura 1 - Retornos esperados


Fonte: Assaf Neto (2001).

Mas como você percebeu, o retorno está associado ao nível de incerteza


ou risco, e por isso mensurar os riscos de um investimento se torna cada vez
mais necessário em um mundo onde os recursos financeiros são escassos.

232 Finanças Empresariais


Capítulo 7

7.2.6 Risco – conceitos, tipologia e metodologia de avaliação

A capacidade de mensurar o estado de incerteza de uma decisão


mediante o conhecimento das probabilidades associadas à ocorrência de
determinados resultados ou valores constitui o risco. Portanto, o risco está
associado à possibilidade de perda.

O risco é, na maioria das vezes, representado pela medida estatística


do desvio-padrão (ASSAF NETO, 2001, p. 255). Seu conceito pode ser
entendido de diversas forma, dependendo do contexto da pessoa que o
está avaliando.

A avaliação de risco pode ser delimitada aos componentes econômico


e financeiro. No que se refere ao componente econômico, os riscos estão
associados aos aspectos conjunturais, de mercado e do próprio planejamento
e gestão da empresa ou ativo. Já em relação ao componente financeiro
são analisados aspectos inerentes à estrutura de capital e capacidade de
pagamento de uma empresa.

A partir deste conceito, podemos afirmar que o risco total de qualquer


ativo é definido pelas partes sistemática (ou econômica) e não sistemática
(ou específica).

Fortuna (2005, p. 259) define risco sistemático como sendo inerente a


todos os ativos negociados no mercado, sendo determinado por eventos de
natureza política, econômica e social.

O risco não sistemático, também denominado intrínseco, inerente ao


próprio ativo, caracteriza-se por não contaminar os demais ativos da carteira.
A sua substituição se dá por outros ativos que não possuam correlação
positiva entre si.

Comumente, as carteiras dos fundos de investimentos apresentam em


sua composição ativos de renda fixa com renda variável. Estes apresentam
comportamento diferenciado em relação às variações cambiais, oscilações de
juros e demais agregados macroeconômicos.

Finanças Empresariais 233


Capítulo 7

A mensuração do risco de um investimento adota mecanismos


probabilísticos objetivos ou subjetivos. Os critérios de apuração objetivos são
definidos a partir de séries históricas de dados e informações, frequências
relativas e experiências observadas ao longo do período. O contexto subjetivo
tem por base a intuição, o conhecimento, a experiência do investimento e,
conforme Fortuna (2005, p. 260), “até mesmo um certo grau de crença da
unidade tomadora de decisão”.

O risco, portanto, é representado pelos desvios previsíveis dos fluxos de


caixa futuros, decorrentes dos investimentos realizados, estando associados
a situações consideradas de natureza incerta. Podem ser definidos como a
dispersão dos resultados esperados em relação à média.

n
−2
σ= ∑ Pk × (Rk−R )
k =1

s = símbolo grego (sigma) representando o desvio-padrão

A postura do investidor em relação ao risco é pessoal. A teoria da


preferência tem por pressuposto básico demonstrar o posicionamento do
investidor diante de investimentos que apresentem diferentes relações de risco
e retorno. Do ponto de vista racional, acredita-se que o investidor seja capaz
de elaborar escalas de preferência, em que coexistam inúmeras possibilidades
de investimentos igualmente atraentes, com graus idênticos de satisfação em
relação aos riscos e retornos esperados.

A escala de preferência pode ser expressa de forma gráfica, sendo denominada


curva de indiferença. Essa curva é compreendida como um reflexo da atitude que
um investidor assume diante do conflito risco/retorno de um investimento.

A regra básica de uma decisão racional é selecionar os ativos que


apresentem menor risco e o maior retorno esperado. Para um mesmo
nível de risco, o investidor sempre selecionará o ativo de maior retorno.
Todavia, se houver dois ou mais ativos que apresentem o mesmo retorno,
a escolha penderá para aquele que apresente menor risco. Assaf Neto
(2001, p. 265) apresenta ilustração que demonstra o processo de seleção
racional do investidor.

234 Finanças Empresariais


Capítulo 7

E (R) Retorno D B
Esperado)

C A

σ (Risco)

Figura 2 - Seleção racional de um ativo


Fonte: Assaf Neto (2001).

O critério racional de decisão descortina que os investidores de uma


forma geral procuram o retorno em suas decisões demonstrando um certo
grau de aversão ao risco. Suas ações diante do trade-off risco x retorno são
melhor reproduzidas por meio de um mapa de curvas de indiferença.

As figuras a seguir demonstram os diferentes perfis de investidor em


relação ao risco.

R3
E (R) Retorno
Esperado) R2

R1

σ (Risco)

Figura 3 - Investidor ousado


Fonte: Assaf Neto (2001).

Finanças Empresariais 235


Capítulo 7

R3
R2
R1
E (R) Retorno
Esperado)

σ (Risco)

Figura 4 - Investidor conservador


Fonte: Assaf Neto (2001).

INTERAGINDO
Os sites de diversas instituições financeiras
disponibilizam ferramentas de API – Análise
de Perfil de Investidores. Acesse o site de seu
banco, realize o teste e, depois do resultado,
discuta com seus colegas no ambiente virtual de
aprendizagem.

Gitman (2001, p. 205) define risco como “a chance de perda financeira”.


A atividade bancária, por sua natureza, implica a exposição a uma variada
gama de riscos. Os supervisores bancários precisam entender tais riscos e
assegurar-se de que os bancos os avaliam e administram adequadamente.
Os riscos mais relevantes enfrentados pelos bancos são discutidos a seguir.
Cabe ressaltar que embora Gitman referencie a atividade bancária, qualquer
atividade empresarial ou mesmo pessoal envolve riscos.

As quatro dimensões dos riscos envolvem os riscos de mercado, crédito,


riscos operacionais e riscos legais, como veremos a seguir.

Risco de mercado

As empresas também enfrentam riscos de perdas em suas posições intra


e extrabalanço, em decorrência de movimentos nos preços de mercado.

236 Finanças Empresariais


Capítulo 7

Os princípios de contabilidade geralmente aceitos tornam esses riscos


mais evidentes em suas atividades mercantis, tanto nas que envolvem capital
de terceiros como nas que envolvem capital próprio, ou nas posições referentes
aos mercados de câmbio ou de commodities.

Uma modalidade específica do risco de mercado é o risco de câmbio.


Os bancos atuam como indutores do mercado de moedas estrangeiras ao
estabelecerem suas cotações junto aos clientes e ao assumirem posições abertas
em moedas. Os riscos inerentes às operações de câmbio, particularmente na
condução de posições abertas em moedas estrangeiras, crescem durante os
períodos de instabilidade das taxas de câmbio.

Os riscos de mercado podem ser segregados em outros riscos, tais como


riscos de taxas de juros, cambiais, commodities, ações, liquidez, derivativos,
hedge e concentração.

Risco de crédito

A concessão de crédito é a atividade básica da maioria das organizações


financeiras ou não financeiras. Para desenvolverem suas atividades, as
empresas precisam fazer avaliações da capacidade de crédito dos tomadores.
Essas avaliações nem sempre são acuradas e a capacidade de crédito de um
tomador pode se reduzir ao longo do tempo devido a uma série de fatores.

Alexandre Beck
Consequentemente, um risco
importante que as empresas enfrentam é
o de crédito ou falha de uma contraparte
no desempenho de compromissos
contratuais. Este risco se aplica não apenas
a empréstimos, mas também a outras
operações intra e extrabalanço, tais como
garantias, aceites e investimentos em títulos.

Sérios problemas em empresas


financeiras e não financeiras têm Figura 5 - Atenção aos riscos operacionais!
ocorrido em razão de deficiências destas
no reconhecimento de ativos inválidos,
na criação de reservas para a baixa contábil desses ativos e na interrupção da
apropriação de receitas de juros quando recomendável.

Finanças Empresariais 237


Capítulo 7

Exposições excessivas a um único tomador ou a um grupo de


tomadores inter-relacionados são causas comuns de problemas, pois
representam concentração do risco de crédito. Grandes concentrações
podem surgir também com relação a determinados segmentos industriais,
setores econômicos, regiões geográficas, ou por meio da utilização
excessiva de modalidades de empréstimos cujas características os tornam
vulneráveis aos mesmos fatores econômicos (p. ex., transações altamente
alavancadas).

No Brasil, o sistema de classificação de riscos de crédito e de


regras de provisionamento sofreu mudanças radicais em março de 2000
em função da Resolução 2682 do Banco Central. Os bancos passaram a
classificar obrigatoriamente o risco de seus empréstimos – e a estabelecer
correspondentes provisões para perdas – sob critérios mais amplos e
conservadores que os vigentes anteriormente. Antes, os parâmetros
diziam respeito apenas ao atraso na liquidação e à existência ou não de
garantias. Os riscos de crédito podem ser segregados em outros riscos, tais
como inadimplência, degradação de crédito, degradação de garantias,
soberano, financiador e concentração.

Risco operacional

As modalidades mais relevantes de risco operacional envolvem o


colapso de controles internos e do domínio corporativo. Tais colapsos
podem acarretar perdas financeiras por meio de erros, fraudes ou
deficiência no desempenho oportuno de atividades, podendo ainda
causar, de alguma outra forma, comprometimento dos interesses do
banco. Por exemplo, seus representantes (dealers), agentes de concessão
de crédito ou outros componentes administrativos, mediante excessos no
uso de suas competências e atribuições, ou pela condução dos negócios
de maneira aética ou arriscada.

Outras formas de risco operacional incluem deficiências graves nos


sistemas tecnológicos de informação, eventos como grandes incêndios ou
outros desastres. Os riscos operacionais podem ser segregados em outros
riscos, tais como: overload, obsolescência, presteza e confiabilidade,
equipamentos, erro não intencional, fraudes, qualificação e serviços,
regulamentação, imagem, modelagem, catástrofe, segurança e
concentração.

238 Finanças Empresariais


Capítulo 7

Risco legal

Os bancos, como quaisquer outras empresas, estão sujeitos a várias formas


de risco legal. Aí se encontra incluso o risco de desvalorização de ativos ou de
valorização de passivos em intensidades inesperadamente altas por conta de
pareceres ou documentos legais inadequados ou incorretos.

Adicionalmente, a legislação existente pode falhar na solução de questões


legais envolvendo um banco. Um processo judicial envolvendo um determinado
banco pode ter amplas implicações para todo o segmento bancário e acarretar
custos, não somente para a organização diretamente envolvida, mas também
para muitos ou todos os outros bancos. Ademais, pode haver mudanças nas
leis que afetem bancos ou outras empresas comerciais.

Os bancos são particularmente suscetíveis a riscos legais quando adotam


novos tipos de transações e quando o direito legal de uma contraparte numa
transação não está estabelecido. Os riscos legais podem ser segregados em
outros riscos, tais como legislação, tributário e contrato.

Agora que você já é um expert em risco – pelo menos em teoria! –, que


tal observar o processo de mensuração de risco que é utilizado tanto por
instituições financeiras e não financeiras?

Medindo o risco

A área de finanças é rica em metodologias de medição de risco. A ênfase é sempre


em métodos estatísticos, geralmente com base em dados históricos. Segundo Sá (1999,
p. 181), “em geral, os modelos para o gerenciamento de risco são desenvolvidos para
gerenciar o risco de mercado e utilizam-se de diferentes indicadores, todos de origem
estatística, para sua quantificação”. Os métodos apontados pelo autor são variância
(desvio-padrão) dos retornos dos títulos, down side risk (semivariância) dos retornos
dos títulos, shortfall probability e V@R (Value at Risk).

Securato (1996, p. 34) e Brigham e Houston (1999, p. 165) adicionam


o conceito de coeficiente de variação. Brito (2005, p. 99-108) também trata
os métodos da volatilidade, duration e valor de mercado, todos voltados
à medição do risco de mercado. Também são apresentados pelo autor
os conceitos de simulação, englobando simulação de Monte Carlo, Stress
Testing e análise de cenários – também abordado por Securato (1996).

Finanças Empresariais 239


Capítulo 7

Assim, os conceitos de medição de riscos levantados são:

• métodos estatísticos – variância (desvio-padrão) dos retornos,


coeficiente de variação, down side risk (semivariância) dos retornos
dos títulos, shortfall probability, volatilidade, duration, valor de
mercado, value at risk (VAR);

• simulação – simulação de Monte Carlo, Stress Testing e análise de cenários.

Informações para avaliação de riscos

A função econômica dos sistemas financeiros traduz-se na viabilização


do fluxo de recursos entre agentes superavitários e deficitários. O papel de
exigir informações fidedignas, tempestivas e amplas não é exclusividade dos
órgãos reguladores; os investidores também exercem pressão na direção de
maiores informações no intuito de minimizar os riscos.

O Banco Central, para corrigir as distorções inerentes ao ambiente


econômico, estabelece critérios de apresentação das informações, que são:
dados consolidados da carteira de crédito, características dessas carteiras, os
riscos a que as instituições estão expostas e os retornos observados.

Volatilidade

É uma função estatística que mede o grau de dispersão dos preços do


ativo-objeto. Para Chew (apud BRITO, 2005, p. 260),

volatilidade é a medida em termos de desvios-padrão do retorno


dos ativos, e a regra do mercado é expressar a volatilidade de um
ativo como um desvio-padrão da variação dos preços. Assim, se
um ativo tem uma volatilidade de 15%, significa que o preço do
ativo deverá variar numa faixa de 15% para cima ou para baixo, em
relação ao preço fixo.

Quanto maior a volatilidade, maior a instabilidade de comportamento


do mercado, em que se transaciona o ativo-objeto. A fórmula a seguir expressa
o conceito de volatilidade:

240 Finanças Empresariais


Capítulo 7

1
⎛ 252 n ⎛ − ⎞2 ⎞ 2

⎜ N − 1n∑
σ=⎜ ⎜ R t − R ⎟ ÷⎟
− ⎝ ⎠ ⎟
⎝ 1 ⎠

em que

N = tamanho da amostra
Rt = Log (St / St - 1)
R = média de Rt”s
St = preços do ativo-objeto

Segundo Tostes (1997), quanto mais volátil o preço de um ativo, maior


o seu risco. Certos tipos de ativos são mais voláteis do que outros, e como
se espera que os preços dos ativos variem aleatoriamente, presume-se
assumirem a forma de uma distribuição estatística logonormal (ao invés de
uma distribuição normal, porque o preço de mercadorias e ativos não pode
ser menor que zero).

Exemplificando: se a volatilidade do dólar é 0,5%, e o valor do dólar


corresponde a R$ 2,00, utilizando-se intervalo de confiança de 95%, pode-se
pressupor que o valor do dólar será de R$ 2,01, com 95% de probabilidade.

Value at risk

Figueiredo (2005) afirma que o value at risk (VAR) é um esforço de


proporcionar à alta administração números que sumarizem o risco total
utilizado por tesoureiros e administradores de fundos, como também por
instituições financeiras.

O VAR é uma medida probabilística de valores que uma empresa,


um investidor ou uma instituição financeira podem perder em virtude da
volatilidade do mercado.

Ao usar o VAR, o administrador responsável por um portfólio de ativos


financeiros busca afirmar que existe X% de certeza de que não haverá perdas
maiores que V reais nos próximos N dias.

Finanças Empresariais 241


Capítulo 7

Fica claro que o VAR tem dois parâmetros: N o horizonte de tempo


medido em dias, e X, o intervalo de confiança. Segundo Hull (2005, p. 413), os
analistas estabelecem N = 1 no primeiro momento.

VAR p N dias = VAR para 1 dia × n

Os principais métodos utilizados no cálculo do VAR são:

• simulação histórica;
• model-building, também denominado modelo de variância e covariância;
• simulação de Monte Carlo.

Simulação histórica

A simulação histórica é um meio popular de estimar o VAR, pois envolve


o uso de dados passados de forma mais direta, como um guia para estabelecer
o que pode acontecer no futuro.

Para se calcular o VAR pelo método da simulação histórica, considera-se a


carteira do dia em que se está apurando a medida e aplicam-se os percentuais
de variações dos preços dos ativos que a compõem em um período passado.

Figueiredo (2005, p. 146-147) apresenta o este exemplo: suponhamos a


seguinte carteira de investimentos de um investidor.

Tabela 7 - Carteira de investimentos de um investidor


POSIÇÃO PREÇO UNITÁRIO
ATIVO VALOR TOTAL (R$)
(COTAS) ATUAL (R$)
A 2.000 5 10.000

B 1.000 8 8.000

18.000

As variações diárias observadas dos preços dos ativos A e B nos últimos


100 dias úteis foram:

242 Finanças Empresariais


Capítulo 7

Tabela 8 - Carteira de investimentos de um investidor: variações


VARIAÇÃO % VARIAÇÃO %
DATA
ATIVO A ATIVO B
-100 -2 - 1,5

- 99 - 0,5 0,2

- 98 0,8 0,4

-1 1,3 0,9

Com isso, os valores dos ganhos e perdas nos últimos 100 dias úteis,
considerando a carteira atual e os percentuais de variações, foram:

Tabela 9 - Carteira de investimentos de um investidor: variações (II)


VARIAÇÃO EM R$ VARIAÇÃO EM R$ VARIAÇÃO EM R$ DA
DATA
ATIVO A ATIVO B CARTEIRA
-100 -0,02*10.000 = - 200 -0,015*8.000 = -120 -320

-99 -0,05*10.000 = -50 0,02*8.000 = 16 -34

-98 0,08*10.000 = 80 0,04*8.000 = 32 112

-1 0,013*10.000 = 130 0,09*8.000 = 72 202

O primeiro procedimento é ordenar de forma crescente os valores de


variação em reais da carteira de maior perda para o maior ganho. Suponhamos
que os valores obtidos sejam os seguintes:

Tabela 10 - Carteira de investimentos de um investidor: procedimentos


VARIAÇÃO EM R$ DA
DATA ORDEM
CARTEIRA
-53 1 -430

-42 2 -409

-76 3 -375

-100 4 -320

-22 5 -296

-35 10 396

Finanças Empresariais 243


Capítulo 7

Com base nos dados apurados, os valores do VAR por simulação histórica são:

VAR 95% = R$ 296,00


VAR 99% = R$ 430,00

Model-building – Modelo de variância e covariância

O método da covariância procura, inicialmente, estimar o risco da carteira,


a partir dos riscos individuais de cada ativo da carteira e da covariância ou
correlação entre seus retornos.

A principal vantagem desse método para o cálculo do VAR é a de que representa


uma solução analítica fechada. Todavia, apresenta como desvantagem a hipótese de
distribuição normal dos retornos dos ativos, o que nem sempre é possível.

O VAR pode ser expresso na seguinte forma:

VAR% = Z × σp × R$

Observe o exemplo a seguir:

Tabela 11 - VAR
POSIÇÃO VOLATILIDADE (EM %
ATIVO
(R$ MILHÕES) POR DIA ÚTIL)
A 6 1,9

B 4 2,5

Admitindo que a correlação entre os dois ativos seja de 0,3. Devemos


inicialmente apurar o risco da carteira:

1
σp = ⎡⎢( 0, 6 ) × (1, 9 ) + ( 0, 4 ) × ( 2,5 ) + 2 × ( 0, 6 × ( 0, 4 ) × ( 0, 3) × (1, 9 ) × ( 2,5 ) ) ⎤⎥
2 2 2 2 2
= 1, 727%
⎣ ⎦

244 Finanças Empresariais


Capítulo 7

A partir daí, pode-se estimar os valores do VAR:

VAR 95% = 1,65 * 1,727% * 10.000.000 = 284.955

VAR 99% = 2,33 * 1,727% * 10.000.000 = 402.391

Simulação de Monte Carlo

A simulação de Monte Carlo utiliza-se da mesma hipótese do método


anterior, a partir do valor da carteira na data de apuração do VAR e do valor
de seu desvio-padrão. Com a utilização de softwares, gera-se a distribuição do
valor da carteira.

7.3 Aplicando a teoria na prática


A empresa Seletiva Empreendimentos Ambientais Sustentáveis estuda
no presente momento três alternativas de projetos. Você, na condição de
consultor financeiro da diretoria, deverá emitir seu posicionamento sobre a
viabilidade dos mesmos e, ciente da limitação orçamentária, deverá também
hierarquizar os projetos. O uso da calculadora financeira é oportuno.

ANO 0 ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5


Projeto A = I -1800 300 700 1000 600 800
Projeto II -1800 400 500 600 1100 1300
Projeto III -3200 800 700 500 2000 4500

Para tanto, você deverá:

a) calcular o payback médio e efetivo de cada proposta;

b) determinar a taxa interna de retorno (IRR) de cada proposta;

c) admitindo-se uma taxa de retorno requerida de 18% a.a., calcular o


valor presente líquido de cada proposta.

Finanças Empresariais 245


Capítulo 7

Já fez? Vamos lá.

Para resolver o payback médio, você apurou inicialmente o somatório


dos fluxos de cada projeto e, em seguida, apurou a média destes. Compare:

a) Payback

Projeto I = 300 + 700 + 1000 + 600 + 800 = 3400


Média = 3400/5 = 680,00

Projeto II = 400 + 500 + 600 + 1100 + 1300 = 3900


Média = 3900/5 = 780

Projeto III = 800 + 700 + 500 + 2000 + 4500 = 8500


Média = 8500/5 = 1700

Payback médio

Projeto I = 1800/680 = 2,64 anos


Projeto II = 1800/780 = 2,30 anos
Projeto III = 3200/1700 = 1,88 anos

Para cálculo do payback efetivo, recomenda-se a elaboração de uma tabela.

PERÍODOS PROJETO I PROJETO II PROJETO III


0 -1800 -1800 -1800 -1800 -3200 -3200
1 300 -1500 400 -1400 800 -2400
2 700 -800 500 -900 700 -1700
3 1000 200 600 -300 500 -1200
4 600 800 1100 800 2000 800
5 800 1300 2100 4500 5300

800
PBEI = 2 + = 2, 80anos
200 + 800
300
PBEII = 3 + = 3, 27anos
300 + 800
1200
PBEIII = 3 + = 3, 60anos
1200 + 800

246 Finanças Empresariais


Capítulo 7

b) para cálculo da TIR

300 700 1.000 600 800


I − 1.800 =
(1 i) (1 i)2 (1 i)3 (1 i)4 (1 i)5
IRR (i) = 22, 77%
400 500 600 1.100 1.300
II − 1.800 =
(1 i) (1 i) 2
(1 i) (1 i)
3 4
(1 i)5
IRR (i) = 25,52%
800 700 500 2.000 500
4.5
III − 3.200 =
(1 i) (1 i) 2
(1 i) (1 i)
3 4
(1 i)5
IRR (i) = 29, 64%

c) para fins de cálculo do VPL, tem-se:

300 700 1.000 600 800


I − NPV =
( ,18 )
1 (1,18 )2
(1,18 )
3
(1,18 ) 4
(1,18 )5
−1.800 = $224 , 76
400 500 600 1.100 1.300
II − NPV =
( ,18 )
1 (1,18 )2
(1,18 )
3
(1,18 ) 4
(1,18 )5
−1.800 = $398, 86
800 700 500 2.000 4.500
III − NPV =
( ,18 )
1 (1,18 )2
(1,18 )
3
(1,18 ) 4
(1,18 )5
−3.200 = $1.283,58

Portanto, o projeto que gera maior retorno, menor tempo médio e maior
valor presente líquido é o Projeto III.

7.4 Para saber mais


Título: Administração financeira: princípios, fundamentos e
práticas brasileiras
Autores: CHEROBIN, A. P. M. S.; LEMES, A.
Editora: Campus Ano: 2007
B.; RIGO, C. M.

Este livro aborda, no capítulo 6, os principais indicadores de análise e


a importância destes como instrumentos de gestão.

Finanças Empresariais 247


Capítulo 7

Título: Administração financeira


Autores: GROPELLI, A. A.; NIKBAKHT, E. Editora: Saraiva Ano: 2006

Este livro aborda, no capítulo 7, os principais indicadores de análise de


investimentos e as limitações dos mesmos.

Título: Finanças básicas


Autores: MAYO, H. B. Editora: Cengage Learning Ano: 2008

Este livro trata, nos capítulos 8, 19 e 22, dos principais métodos de


análise de análise e as limitações de cada método.

Título: Finanças corporativas


Autores: ABREU FILHO, J. C.
Editora: FGV Ano: 2007
F. et al.

Este livro aborda, nos capítulos 2, 4 e 5, de forma resumida, os


principais métodos de análise e suas respectivas limitações. Consulte!

Título: Projetos de investimento: construção e avaliação


do fluxo de caixa
Autores: LAPPONI; J. C. Editora: Lapponi Ano: 2000

Este livro é leitura obrigatória para quem deseja aprofundar não


só sobre os métodos de análise, mas também aprender os primeiros
passos de modelagem financeira.

7.5 Relembrando

O capítulo 7 apresentou:

• os conceitos dos principais indicadores de análise de viabilidade


econômica de um investimento, a saber: VPL, TIR, payback, ponto de
equilíbrio, bem como suas limitações;

• que os principais métodos têm um perfil determinístico; se favoráveis,


os projetos em avaliação serão aceitos;

248 Finanças Empresariais


Capítulo 7

• o ponto de equilíbrio é apurado em três dimensões, sendo a dimensão


financeira a mais conservadora por contemplar a cobertura dos custos
fixos, dos custos financeiros desembolsáveis e a margem de lucro do
investidor;

• os riscos associados à empresa são estratificados em riscos de crédito,


mercado, operacionais e legais. Negligenciar qualquer um deles pode
redundar no fracasso do projeto ou de uma empresa.

7.6 Testando os seus conhecimentos


Considere para a resolução das questões 1 e 2 o seguinte investimento e
seus fluxos de caixa esperados:

Investimento ANO I ANO II ANO III ANO IV ANO V


5.300 700 1400 1600 2400 3400

Admitindo uma taxa de atratividade de 15% a.a., responda aos


questionamentos.

1) O valor líquido presente do fluxo de caixa é:

a) -470,13
b) 481,93
c) 500,12
d) 425,30
e) 352,30

2) A taxa interna de retorno apurada é:

a) 15,25%
b) 14,13%
c) 17,98%
d) -20,12%
e) 10,35%

Finanças Empresariais 249


Capítulo 7

3) Em geral, os modelos para o gerenciamento de risco utilizam-se de diferentes


indicadores, todos de origem estatística, para sua quantificação. Dos itens a
seguir, qual não se enquadra em modelo estatístico?

a) Variância (desvio-padrão) dos retornos.


b) Coeficiente de variação.
c) Volatilidade.
d) Value at risk.
e) Simulação histórica.

4) Os bancos, como quaisquer outras empresas, estão sujeitos a várias formas


de risco legal. Aí se encontra incluso o risco de desvalorização de ativos ou de
valorização de passivos em intensidades inesperadamente altas por conta de
pareceres ou documentos legais inadequados ou incorretos. Dos itens a seguir,
quais se enquadram em riscos legais?

a) Degradação do crédito, degradação de garantias e inadimplência.


b) Cambial, concentração e taxa de juros.
c) Overload, fraudes, presteza e agilidade.
d) Contratos e tributários.
e) Cambial, overload e inadimplência.

Onde encontrar
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. São Paulo: Atlas, 2001.

______; LIMA, F. G.Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2009.

BRIGHAM, E. F.; HOUSTON, J. F. Fundamentos da moderna administração


financeira. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

BRITO, O. S. Mercado financeiro. São Paulo: Saraiva, 2005.

FIGUEIREDO, A. C. Introdução aos derivativos. São Paulo: Pioneira Thomson


Learning, 2005.

250 Finanças Empresariais


Capítulo 7

FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e serviços. 16. ed. Rio de Janeiro:


Qualitymark Editora, 2005.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira: essencial. 2. ed. Porto


Alegre: Bookman, 2001.

SÁ, G. T. Administração de investimentos, teoria de carteiras e gerenciamento


de risco. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.

SECURATO, J. E. Decisões financeiras sob condições de risco. São Paulo: Atlas, 1996.

TOSTES, F. P. Gerenciamento de risco e derivativos: um estudo comparativo entre


o enfoque financeiro e contábil de gerência de riscos em instituições financeiras.
São Paulo, 1997. Tese de Doutorado – FEA – Universidade de São Paulo, 1997.

Finanças Empresariais 251


Capítulo 7

252 Finanças Empresariais


Capítulo 8

CAPÍTULO 8
ESTRATÉGIAS COMERCIAIS
DE COMPRA E VENDA

8.1 Contextualizando
Este capítulo apresentará a você as principais estratégias financeiras que
envolvem as operações de compra e venda em uma organização empresarial,
estratégias estas aplicáveis à gestão de qualquer empresa, independente de
seu porte ou forma de organização societária.

O texto mostrará o processo de identificação das estratégias mais


adequadas à realidade de cada empresa e os principais requisitos a serem
observados na implementação das mesmas.

Você perceberá que a decisão de comprar ou vender à vista ou a prazo


não é tão simples, que muitas empresas sucumbem por não darem a devida
atenção aos ciclos de atividades que você estudou no capítulo 5.

Espera-se que, ao final do estudo, você seja capaz de identificar, analisar


e avaliar as estratégias utilizadas pelas empresas.

8.2 Conhecendo a teoria

Convido você a uma leitura atenta a partir de agora. Mostrarei a


percepção de diferentes autores sobre o que vem a ser estratégia para, depois,
embrearmos pelas estratégias empresariais ou comerciais.

A palavra estratégia apresenta uma gama variada de definições, sendo


possível afirmar serem tão numerosas quanto os autores que as referem.
Embora possa existir convergência em alguns aspectos que estão na base do

Finanças Empresariais 253


Capítulo 8

conceito, o conteúdo e os processos de formação da estratégia são objeto de


abordagens muito diversas que assentam na forma como os autores percebem
a dinâmica das operações de uma organização. Hambrick (1980) afirma que a
estratégia é um conceito multidimensional e situacional, o que dificulta uma
definição consensual.

Mas para começar, vamos voltar no tempo e buscar compreender um


pouco mais sobre estratégia.

Um dos primeiros usos do termo “estratégia” foi utilizado há


aproximadamente três mil anos pelo chinês Sun Tzu (2000, p. 7), o qual
afirmava que “todos os homens podem ver as táticas pelas quais eu conquisto,
mas o que ninguém consegue ver é a estratégia a partir da qual grandes
vitórias são obtidas”.

CURIOSIDADE
O vocábulo estratégia teve sua origem na
Grécia Antiga, significando inicialmente “arte
do general” e adquirindo, posteriormente,
uma conotação voltada para a guerra,
significando a arte e a ciência de conduzir um
exército por um caminho. O termo assumiu
o sentido de habilidade administrativa na
época de Péricles (450 a.C.), quando passou a significar habilidades
de gestão (administrativas, liderança, oratória, poder). Mais
tarde, no tempo de Alexandre (330 a.C.), adquiriu o significado
de habilidades empregadas para vencer um oponente e criar um
sistema unificado de governo global.
Fonte: Steiner e Miner (1977)

A estratégia teve várias fases e significados; os conceitos iniciais ligados


à área militar cedem ao longo do tempo espaço para os conceitos da área
empresarial.

Na percepção de Chandler (1962), estratégia é definida como a


determinação dos objetivos básicos de longo prazo de uma empresa,
adoção das ações adequadas e afetação de recursos para atingir esses
objetivos.

254 Finanças Empresariais


Capítulo 8

Para Lodi (1969, p. 6), “estratégia é a mobilização de todos os


recursos da empresa no âmbito nacional ou internacional visando atingir
objetivos a longo prazo (...) Seu objetivo é permitir maior flexibilidade
de resposta às contingências imprevisíveis”. Castro et al. (1996, p.139)
enfatizam a importância, dizendo que

são as estratégias competitivas utilizadas pelas firmas em seu


processo de enfrentamento no mercado, ou seja, como conquistam
e/ou mantêm suas posições competitivas e, principalmente,
como constroem e renovam seus potenciais competitivos ao
longo do tempo, que passam a ocupar um lugar de destaque na
formulação do discurso econômico. Na base destas estratégias,
a existência de diferentes capacitações, graus de competência e
objetivos ocupam uma posição fundamental para a explicação
dos fenômenos econômicos.

Para Ansoff (1977), é um conjunto de regras de tomada de decisão


em condições de desconhecimento parcial. As decisões estratégicas dizem
respeito à relação entre a empresa e o seu ecossistema.

Na mesma linha de Chandler, Learned (1965) define estratégia como


o padrão de objetivos, fins ou metas, principais políticas e planos para
atingir esses objetivos, estabelecidos de forma a definir qual o negócio
em que a empresa está e o tipo de empresa que é ou vai ser.

Para Steiner e Miner (1977), estratégia é o forjar de missões da


empresa, estabelecimento de objetivos à luz das forças internas e externas,
formulação de políticas específicas e estratégias para atingir objetivos
e assegurar a adequada implantação, de forma que os fins e objetivos
sejam atingidos.

Ao discorrer sobre estratégia, não é possível deixar de mencionar


Porter. Observe o que este guru tem a dizer: “Estratégia competitiva são
ações ofensivas ou defensivas para criar uma posição defensável numa
indústria, para enfrentar com sucesso as forças competitivas e assim obter
um retorno maior sobre o investimento” (PORTER, 1986, p. 14).

Percebeu a inserção de um novo termo qualificativo de estratégia?

Finanças Empresariais 255


Capítulo 8

Vamos continuar no caminhar histórico!

Mintzberg (1988) define estratégia como uma força mediadora


entre a organização e o seu meio envolvente: um padrão no processo de
tomada de decisões organizacionais para fazer face ao meio envolvente.

Meirelles e Gonçalves (2001, p. 7) definem estratégia como a “disciplina da


administração que se ocupa da adequação da organização ao seu ambiente”.

Dependendo do contexto no qual é empregada, a estratégia pode ter


o significado de políticas, objetivos, táticas, metas, programas, entre outros,
numa tentativa de exprimir os conceitos necessários para defini-la (MINTZBERG;
QUINN, 1988).

Thompson Jr. e Strickland III (2000, p. 3) definem estratégia como um

conjunto de mudanças competitivas e abordagens comerciais


que os gerentes executam para atingir o melhor desempenho
da empresa. [...] é o planejamento do jogo de gerência para
reforçar a posição da organização no mercado, promover a
satisfação dos clientes e atingir os objetivos de desempenho.

Para Bertero (1995), a estratégia empresarial ao longo da história foi


denominada de diferentes normas: diretrizes de negócios, planejamento
estratégico, diretrizes administrativas, gestão ou administração estratégica, até
atingir a forma atual de um aspecto da administração ou de uma abordagem do
gerenciamento integrado da empresa.

De forma específica, a estratégia focada nas compras e vendas


envolve um campo de conhecimento da administração financeira que é
a administração de capital de giro, que por sua vez envolve basicamente
as decisões de compra e venda tomadas pela empresa, assim como suas
atividades operacionais e financeiras. A importância do capital de giro
varia em função das características da empresa, do desempenho da
economia e da relação risco/rentabilidade desejadas.

Agora que você conhece um pouco mais sobre estratégia, irá estudar
sua aplicabilidade em relação às compras realizadas pelas organizações.

256 Finanças Empresariais


Capítulo 8

8.2.1 Estratégias aplicadas às compras

Você deve, em um primeiro momento, estar se perguntando: o que tem


a ver estratégia e as compras realizadas pela empresa, não? Como você deve
ter percebido ao longo do nosso curso, o gestor financeiro está sempre às
voltas com decisões que podem resultar em melhor ou pior performance, pois
comprar bem à vista ou a prazo requer a análise de diversos fatores.

A aquisição de matérias-primas, mercadorias e demais itens representa


um fator decisivo na atividade de uma empresa. Ballou (2001) ressalta que as
atividades relacionadas a compras envolvem diversos fatores, dentre eles seleção
de fornecedores, qualificação dos serviços, determinação de prazos de vendas,
previsão de preços e alterações na demanda, por exemplo. Pode-se dizer que a
gestão de compras é de vital importância para o sucesso da empresa.

Gaither e Frazier (2001) asseveram que o departamento de compras tem


papel de destaque no alcance dos objetivos da empresa. Sua missão é perceber
as necessidades competitivas dos produtos e serviços, tornando-se responsável
pela entrega no tempo certo, custos, qualidade e outros elementos na
estratégia de operações. É necessário que os gestores envolvam-se em diversas
atividades, tais como a manutenção de base de dados, o processo de seleção
de fornecedores, a negociação dos contratos com estes e, fundamentalmente,
ser o interlocutor entre a empresa e seus fornecedores.

Para Moraes (2005), o perfil do profissional de compras vem mudando ao


longo do tempo, a exigência da busca constante por informações é condição
primeira, além da necessidade de desenvolver habilidades interpessoais
(poder de negociação, trabalho em equipe, boa comunicação e capacidade de
gerenciamento de conflitos).

Segundo Dias (1997), a evolução da função compras nas organizações


mostra que é fundamental a atenção a ser dada a este setor.

Atualmente as empresas se preocupam muito com o processo


de compras, pois este sendo executado com sucesso pode ser
motivo de redução de custos para a empresa. Neste sentido cabe
aos responsáveis por tal processo estarem atentos a preço, prazo,
volume e qualidade para se beneficiarem da execução eficaz deste
processo (DIAS, 1997).

Finanças Empresariais 257


Capítulo 8

Conforme você pode perceber, a negligência em relação à função


compras numa empresa pode resultar em sucesso ou insucesso da mesma.
Oportunamente, analisaremos que nem sempre o maior prazo obtido junto
aos fornecedores pode resultar em condições favoráveis à empresa.

PRATICANDO
A partir da afirmação do parágrafo anterior,
busque enumerar as outras variáveis que podem
afetar a gestão de compras de uma empresa.
Após realizar este mapeamento, procure trocar
impressões com os demais alunos no ambiente
virtual de aprendizagem. Busque identificar as
convergências e as divergências.

8.2.2 Estratégias aplicadas às vendas

Você deve estar se perguntando agora: o que tem a ver estratégia e as


vendas realizadas pela empresa? Vamos lá!

A administração de contas a receber envolve processo de concessão de


crédito, que para muitos se inicia na hora da assinatura da nota promissória
ou ainda no momento da venda. O que você acha?

Se você respondeu afirmativamente, acaba de cometer um grande erro.


O processo do crédito se inicia no momento em que a empresa toma a decisão
de operar com vendas a prazo. Vou demonstrar o porquê.

Segundo Assaf Neto e Lima (2009, p. 680), os investimentos em contas a


receber representam uma parcela significativa dos ativos circulantes de uma
empresa, e, em consequência, afetam a rentabilidade da mesma. A estratégia
de investir neste item envolve o comportamento geral das vendas e ainda as
diretrizes que permeiam a definição da política global de crédito.

As empresas – sejam elas financeiras ou não – que pretendam aplicar


os recursos em giro, devem observar o atendimento a três elementos básicos
da teoria de investimentos: segurança, liquidez e rentabilidade. Surge, então,
neste momento, a figura do crédito.

258 Finanças Empresariais


Capítulo 8

Crédito é todo ato de vontade ou disposição de alguém destacar ou


ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, com
a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente,
após decorrido o tempo estipulado (SCHRICKEL, 1995, p. 25).

O crédito visa sobretudo impulsionar o desenvolvimento econômico, por


meio da ampliação das escalas e da aceleração dos sistemas produtivos.

DEFINIÇÃO

Crédito é a obtenção de recursos financeiros e/ou


materiais, embasados numa relação de confiança
existente entre uma instituição financeira e os
clientes/ proponentes. (SCHRICKEL, 1995)

Princípios do crédito

O processo decisório do crédito envolve a análise de cinco variáveis, na


percepção de Assaf Neto e Lima (2009, p. 680): caráter, capacidade, capital,
condições e colateral (garantia). Os dois primeiros representam aspectos
pessoais, os demais representam aspectos financeiros.

O caráter se constitui no mais importante e crítico dos “C’s” em qualquer


concessão de crédito, não importando os valores incorridos nas transações. É a
determinação de pagar do tomador, em resumo, vontade de pagar.

O conhecimento do caráter do proponente e seus avalistas permitirá ao


gerente formar um opinião preliminar, com relação à intenção dos mesmos em
vir a cumprir com todos os compromissos assumidos, e nas condições estipuladas.

Analisar as experiências anteriores em operações de crédito com a


própria empresa é uma forma de se avaliar o caráter.

Ferreira (2005, p. 72), em perspectiva similar a Assaf Neto e Lima, ressalta


que a variável caráter deve contemplar a apreciação do histórico do cliente
quanto ao cumprimento de suas obrigações financeiras. Gitman (1997, p. 696)
complementa, orientando para que sejam avaliadas causas judiciais ativas ou
não existentes em nome do pretendente ao crédito.

Finanças Empresariais 259


Capítulo 8

Schrickel (1995), em perspectiva ampliada, afirma que na análise da


variável caráter o analista deverá:

reunir o máximo que possa sobre sua cultura, seus hábitos,


maneira de vida, hobbies e passatempos, suas associações no
universo cultural e profissional, ambições e posturas éticas
familiares, seu profissionalismo e honestidade e tudo o mais
que o convença (o emprestador) de que o tomador tem e terá
sempre a honesta intenção de saldar suas obrigações, quaisquer
que sejam os eventuais impedimentos ou constrangimentos de
momento.

No Brasil, é comum as empresas e instituições financeiras firmarem


convênios com empresas de informações cadastrais, tais como: SERASA,
SCI-EQUIFAX e CDL. As instituições financeiras podem em seus processos
de avaliação de crédito solicitar das empresas, ou mesmo pessoas físicas,
certidões negativas junto a diversos órgãos da administração pública federal,
estadual e municipal.

A capacidade busca analisar as informações pertinentes aos ganhos


líquidos do tomador, bem como aquelas relativas aos compromissos já
assumidos pelos mesmos, junto ao comércio e demais instituições. Assim,
na análise da capacidade, especial atenção deverá ser dada à situação de
liquidez que envolve necessariamente a avaliação dos fluxos de caixa
gerados que buscam identificar e avaliar as prováveis fontes de liquidação
do empréstimo.

Gitman (1997, p. 696) esclarece que a variável capacidade tem por


base a análise dos demonstrativos contábeis ou financeiros, com ênfase na
verificação dos indicadores de liquidez e endividamento que você estudou
anteriormente.

Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2005, p. 359) complementam que deve


ser considerado se os resultados ou o desempenho operacional e financeiro
da empresa possibilitarão a esta a geração de recursos suficientes à cobertura
do principal e dos encargos inerentes à operação solicitada.

Na análise da capacidade, deve-se ter em conta não apenas a capacidade


de pagamento, mas também a competência, a competitividade e os aspectos
técnicos do negócio a ser financiado, o valor, a origem, a previsão do
recebimento, entre outros fatores.

260 Finanças Empresariais


Capítulo 8

Nas empresas, é visível o conceito de capital. Em primeira instância,


identificamos a figura do capital social. Todavia, não devemos nos ater
a apenas essa faceta, o conceito deve se estender a toda estrutura
econômico-financeira. Esta variável é determinante na fixação dos limites
de crédito a serem estipulados aos proponentes.

A variável capital, segundo Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2005, p. 359),


deve se preocupar com o comprometimento do patrimônio líquido, com os
valores exigíveis da empresa, bem como seus indicadores de lucratividade
e rentabilidade. Gitman (1997, p. 696) enfatiza que na análise dos exigíveis
devem ser consideradas as operações tanto de curto quanto longo prazo.

As condições referem-se ao contexto em que o proponente está inserido,


tanto micro quanto macroeconomicamente. Fatores econômicos e setoriais
podem aumentar ou diminuir o risco do proponente/cliente. São informações
complementares, relativas à qualificação geral do proponente e avalistas.

As condições econômicas e empresariais vigentes, bem como


circunstâncias particulares que possam afetar qualquer das partes
envolvidas na negociação. Por exemplo, caso a empresa tenha
estoques excessivos de um item que o solicitante deseje comprar
a crédito, a empresa poderá propor vendas em condições mais
favoráveis ou vender para clientes com menos condição de obter
crédito. Enfim, a análise das condições econômicas e empresariais,
assim como circunstâncias especiais, que possam afetar tanto o
cliente como a empresa vendedora, fazem parte da avaliação das
condições. (GITMAN, 1997, p. 697).

Na mesma perspectiva, Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2005, p. 359)


asseveram que neste aspecto devem ser avaliados “o grau de exposição aos
possíveis efeitos de ocorrências exógenas sobre a capacidade do cliente para
pagar suas dívidas”. Como exemplos, podem ser citados: o nível de atividade
econômica, as taxas de juros referenciais de mercado e perfil do mercado
consumidor, dentre outros.

No Brasil, conforme Santos (2000), as fontes de pesquisa são extremamente


questionáveis quanto à veracidade das informações disponibilizadas, em
muitos casos não refletindo a exata situação financeira e patrimonial dos
clientes. Isto se deve ao fato de que os proponentes podem manipular e/ou
omitir suas informações financeiras com o propósito de obter aprovação em
suas propostas de crédito.

Finanças Empresariais 261


Capítulo 8

O colateral, ou garantia, refere-se a uma espécie de complementação


às variáveis anteriores; o enfraquecimento de qualquer uma delas seria
coberta pela garantia. Constitui-se em ativos que o proponente oferece
à empresa, que em princípio deverão ser superiores ou iguais ao valor
pretendido. O organismo financeiro selecionará de acordo com os critérios
de liquidez, depreciabilidade, capacidade de comercialização, localização,
manutenção e as despesas de venda do bem ofertado.

A variável colateral, segundo Gitman (1997, p. 696), deve analisar


o montante de ativos ofertados pelo tomador em garantia à operação
desejada. Ferreira (2005, p. 72) afirma ainda ser necessário não só avaliar
o montante, mas principalmente a qualidade dos ativos ofertados.

Você sabe diferenciar uma garantia pessoal ou fidejussória de uma


garantia real? Aval e fiança são termos utilizados no cotidiano de muitos
brasileiros, você sabe a diferença? Se você já financiou algum imóvel e
ainda não liquidou, ele se encontra hipotecado ao banco, e se você tem
um financiamento de veículo, sabe que ele está alienado fiduciariamente.
Vamos aprofundar.

As garantias pessoais ou fidejussórias são garantias nas quais pessoas


físicas ou jurídicas assumem, como avalistas ou fiadores, a obrigação de
honrar os compromissos referentes a uma operação de crédito, caso o
cliente não o faça.

Mas o que vem a ser o aval?

Aval, segundo o Código Civil Brasileiro (CCB) (2002), é a promessa


que alguém faz de cumprir obrigação de terceiros, realizada por meio de
um título de crédito, caso o obrigado não vier a cumprir. O avalista é quem
concede o aval. Avalizado é a pessoa que recebe o aval. Não existe aval em
contrato, somente em títulos de crédito. O aval é uma garantia pessoal e
deve ser aceita desde que se possa constatar sua capacidade econômica e
financeira e sua idoneidade moral, além de capacidade jurídica (se é maior
de idade ou se não está interditado). O aval não pode ser limitado nem
condicionado. O avalista responde pelo título como um todo.

262 Finanças Empresariais


Capítulo 8

Já a fiança, também segundo do CCB (2002), é considerada uma


garantia cujo fiador, seja pessoa física ou pessoa jurídica, constitui o principal
responsável pelo pagamento das obrigações assumidas pelo afiançado, pessoa
física ou pessoa jurídica, caso esta não cumpra as obrigações contratadas.
A fiança é sempre estabelecida em relação a um contrato. Na fiança de
pessoa física, é importante a outorga uxória, a assinatura do cônjuge do
contratante, a fim de co-obrigar a responsabilidade pelo contrato. Fiança é
garantia contratual e não cambial, o que significa ser uma garantia sempre
dada em contratos.

Você percebeu, portanto, que o aval é somente válido para títulos, e a


fiança, para contratos. Mas ainda há muito a saber sobre garantias. Saímos das
garantias pessoais e agora aprofundaremos sobre as garantias reais.

As garantia reais, segundo o CCB (2002), são bens ou direitos de


recebimentos dados em garantia de obrigações relativas a operações de
crédito. Apresentam a seguinte classificação: alienação fiduciária, anticrese,
caução, hipoteca e penhor mercantil.

A alienação fiduciária é o contrato no qual o devedor transfere ao


credor a propriedade de bens móveis para garantir pagamento de dívida
com a condição de tornar a ter a propriedade do bem quando liquidar o
montante. São considerados bens alienáveis veículos, aeronaves, barcos,
máquinas, equipamentos e outros bens móveis. A principal característica
desse tipo de garantia é que a instituição financeira passa a ter o domínio e
a posse indireta do bem alienado fiduciariamente, enquanto que o cliente
mantém a posse direta, sem poder desfazer-se dos bens. Outra característica
importante é o fato de possibilitar execução “rápida”, através de ação de
busca e apreensão.

SAIBA QUE

Posse, no caso, é o exercício de um dos poderes


inerentes à propriedade. Na alienação, por
exemplo, o veículo está na posse do devedor,
nas sua propriedade é do credor (CCB, 2002).

Finanças Empresariais 263


Capítulo 8

O contrato de alienação fiduciária deve ser registrado no Cartório de


Registro de Títulos e Documentos, sob pena de não valer perante terceiros. Os
bens entregues em alienação fiduciária devem ser de propriedade do cliente,
ou seja, adquiridos antes da data da contração do empréstimo.

A anticrese é um contrato pelo qual o devedor entrega ao credor


um imóvel, dando-lhe o direito de receber os frutos e rendimentos como
compensação da dívida. É uma consignação de rendimentos. Esse contrato
deve ser lavrado por escritura pública e transcrito no Registro Geral de Imóveis.

A caução é o penhor de um direito não material. Exemplo: o crédito. Para


haver uma distinção entre o penhor de títulos e direitos creditórios do penhor
tradicional, em que existe a transferência do bem móvel, ele é denominado de
caução, que acarreta um direito sobre outro direito. Daí ser essencial haver a
entrega dos títulos para caracterizar este tipo de garantia. Os direitos cedidos
podem ser penhor, hipoteca, depósito em dinheiro, valores e títulos (letras de
câmbio, notas promissórias, ações, duplicatas).

Hipoteca trata-se da vinculação de um bem dado em garantia pelo


tomador de um empréstimo, sem no entanto haver transferência de sua
posse ao credor; é a colocação de bens imóveis e móveis como garantia de
pagamento de uma dívida. O devedor detém a propriedade e a posse do
imóvel, que poderá ser tomado pelo credor por meio de execução judicial ou
execução extrajudicial.

É uma garantia normalmente utilizada para operações de longo prazo,


tendo como objetivo dar segurança à instituição/empresa ao ter bens imóveis
lastreando a operação de crédito. A segurança que procuramos ao obter a
hipoteca de um imóvel como garantia só será conseguida se tivermos certos
cuidados com sua formalização.

Chamamos de penhor mercantil a garantia na qual o bem empenhado


faz parte integrante do negócio comercial. O penhor mercantil pode abranger
tanto os estoques de matérias-primas quanto os estoques de produtos acabados
da empresa-cliente, devendo sempre ser dada a preferência aos produtos
acabados, pois estes já estão prontos para a comercialização e oferecem maior
liquidez.

264 Finanças Empresariais


Capítulo 8

Figura 1 - Concessão de crédito


Fonte: <www.gettyimages.com>.

A concessão de crédito é um processo que se inicia no momento em que


uma instituição financeira define critérios de atuação (política de crédito), e
na sequência, estabelece procedimentos adequados à formalização da mesma
(análise, contratação, acompanhamento e cobrança).

A política de crédito, segundo Assaf Neto e Lima (2009, p. 680), é o que


norteia as tomadas de decisão em um ambiente macro da instituição financeira,
dependendo das condições internas e externas, a administração pode alterar
os prazos de captação e aplicação dos recursos, as garantias, as taxas de juros
e os critérios de análise de crédito.

A política de crédito tem como objetivo definir parâmetros de atuação,


não devendo descer a detalhes operacionais, que serão instrumentados por
meio de manuais, normas de serviços, que servirão para refletir e reforçar
seus princípios. Não devem ser considerados como imutáveis, embora figurem
como permanentes, já que devem estar compatíveis com o mercado.

Segundo Santos (2001, p. 36), “as diretrizes de uma política de crédito


comercial têm por objetivo atingir determinadas metas financeiras e comerciais.
Desse modo, a política de crédito comercial da empresa está subordinada as
suas estratégias de marketing e de finanças”.

Finanças Empresariais 265


Capítulo 8

Alguns aspectos se constituem relevantes na definição de uma política


de crédito:

• definição dos responsáveis pela condução dos assuntos relativos à


aplicação dos ativos;

• segregação das funções de crédito (risco) das funções operacionais


(negócios);

• administração da carteira de ativos, desde a definição dos critérios


de gestão do risco, tais como priorização de clientes, negócios, até a
composição e ao acompanhamento da carteira;

• critérios de risco, traçando diretrizes, definindo parâmetros para


aplicações que garantam a lucratividade esperada, o retorno dos
capitais e mantenham a credibilidade da instituição no mercado;

• limites de crédito, que definirão o limite máximo que a empresa ou


banco admite emprestar a um cliente, ou seja, delimita o risco máximo
da empresa por cliente;

• garantia, tem como objetivo aumentar a probabilidade de recebimento


do crédito, caso o cliente se torne inadimplente. As garantias devem
ser priorizadas de acordo com o seu nível de liquidez. Nesse item,
ressalta-se o raciocínio de muitos bancários, que defendem a concessão
de empréstimos caucionados em fundos de aplicação, por exemplo,
independente do nível de risco do tomador, com o entendimento de
que esta é uma operação sem risco. Sempre existe o risco de eventual
falência ou concordata da empresa, que deverá ser avaliado, uma vez
que, nessas hipóteses, o fundo, embora seja de liquidez imediata, não
será destinado exclusivamente à liquidação da dívida, compondo o
montante aos bens do falido para rateio entre os credores;

• encargos financeiros da operação, diferenciam as diversas classes de


risco, modalidades operacionais e condições de mercado;

• estrutura e documentação das operações asseguram os requisitos


legais e de segurança, devendo ainda manter a confidencialidade;

266 Finanças Empresariais


Capítulo 8

• alçadas decisórias, prevêem até onde vai a responsabilidade de


cada escalão decisório e critérios que nortearão os limites de sua
competência.

Análise de crédito

A decisão do crédito diz respeito quanto a conceder ou não a operação,


e é realizada por quem possui poder para decidir. É precedida de estudos e
análise para fundamentar a decisão, com a estrita observância das diretrizes
definidas na política de crédito da empresa.

O que se pretende no processo de análise é mensurar os riscos envolvidos na


operação em estudo. Recomendo aqui uma releitura do nosso capítulo anterior.

Pode-se, segundo alguns autores, dividir a análise em subjetiva e objetiva.


Observe a seguir.

A análise subjetiva, ou caso a caso, é baseada na experiência


adquirida dos analistas de crédito, no conhecimento técnico, no
bom senso e na disponibilidade de informações (internas e externas)
que lhes possibilitem diagnosticar se o cliente possui idoneidade e
capacidade de gerar receita para honrar o pagamento das parcelas
dos financiamentos (SANTOS, 2003, p. 46).

Securato (2002, p. 59) destaca que a análise subjetiva de crédito


depende de um conjunto de informações contidas em um dossiê (ou pasta de
crédito). Dentre elas, cita as informações cadastrais, financeiras, patrimoniais,
de idoneidade e de relacionamento. A subjetividade deve evidenciar a
capacidade ou visão de cada analista de crédito em identificar fatores de risco
que comprometam a capacidade de pagamento.

Conforme Ross, Westerfield e Jordan (1998, p. 372),

os analistas de crédito utilizam, frequentemente, informações


relacionadas ao caráter, capacidade, capital, colateral e condições
como importantes condutores de valor para a decisão de concessão
de crédito.

A seguir, apresento um fluxo-resumo dos C’s do crédito na visão de


Santos (2003).

Finanças Empresariais 267


Capítulo 8

C’s do crédito
Dados do cliente

Idoneidade no mercado de crédito (situação


Caráter
na Serasa, Equifax, SPC, etc.).

Habilidade/conhecimento em converter negó-


Capacidade
cios em renda.

Situação financeira e capacidade de paga-


Capital
mento.

Disponibilidade de bens móveis, imóveis e


Colateral
financeiros.

Impacto de fatores externos na geração de


Condições
fluxos de caixa.

Figura 2 - C’s de crédito


Fonte: Santos (2003).

A análise objetiva busca centrar-se nas metodologias estatísticas, com


a finalidade de apurar resultados matemáticos que atestem a capacidade de
pagamento dos tomadores.

Essa análise está amparada em pontuações estatísticas de riscos,


conforme mencionado por Thomas (2000, p. 150): “A pontuação de crédito
é um instrumento estatístico desenvolvido para que o analista avalie a
probabilidade de que determinado cliente venha a tornar-se inadimplente no
futuro”. Dentre as técnicas objetivas de gestão do risco de crédito, destacamos
o credit scoring.

O avanço da tecnologia e a informatização dos processos nas últimas


décadas possibilitou a incorporação de técnicas estatísticas avançadas para
análise de crédito, de tal forma que pode ser considerada nos dias atuais como
o mais importante suporte para tomada de decisões frente ao enorme volume
de propostas de crédito (SANTOS, 2000).

268 Finanças Empresariais


Capítulo 8

Caouette, Altman e Narayanan (1999, p.1) destacam que o risco de


crédito é a possibilidade de que esta expectativa não se cumpra. De forma
mais específica, o risco de crédito é entendido como a possibilidade de o credor
incorrer em perdas, em razão de as obrigações assumidas pelo tomador não
serem liquidadas nas condições acordadas.

Bessis (1998, p. 81) define risco de crédito como as perdas geradas por
um evento de default do tomador ou pela deterioração da sua qualidade
de crédito. Há diversas situações que podem caracterizar um evento de
default de um tomador, dentre elas destacam-se: atrasos nos pagamentos,
descumprimento de acordos e contratos e processo de recuperação judicial .

Conforme Cauoette, Altman e Narayanan (1999), as instituições


financeiras e não financeiras, no processo de avaliação do risco de crédito,
utilizam-se de modelos conceituais. Veja.

• Credit scoring – é uma ferramenta muito útil para a avaliação da


qualidade de crédito de pessoas físicas e jurídicas. Pela ponderação
de diversos fatores, o sistema classifica as pessoas físicas em duas
categorias principais: as que potencialmente têm condições para
honrar o empréstimo concedido, e as que potencialmente não
reúnem tal condição. Mediante a inclusão de diversas informações
no sistema, ele em poucos segundos dá uma resposta quanto à
aprovação ou não do crédito.

• Behaviour scoring – são modelos aplicados à tomada de decisão de


um novo empréstimo a um cliente, que servem para determinar o
produto mais adequado para cada perfil de consumidor; para rever o
valor do limite, para avaliar o risco de sinistralidade de um segurado
quando este muda de comportamento e para determinar a propensão
a financiar, a comprar, a cancelar voluntariamente seu produto.
Servem também para mensurar aquilo que as empresas de crédito mais
temem: o risco de o cliente não honrar suas obrigações! No campo da
cobrança, os modelos de behaviour servem para segmentar carteiras
a fim de aplicar estratégias, bem como, pela de sua movimentação,
medir os resultados das mesmas.

• Risk rating – é basicamente uma metodologia que avalia uma série de


fatores, atribuindo nota a cada quesito e uma nota final ao conjunto

Finanças Empresariais 269


Capítulo 8

destes quesitos analisados. Com base na nota final é atribuído um Risk


Rating. O conceito dado a determinada empresa é que irá determinar
o valor (risco de crédito) que a instituição financeira deverá liberar ao
tomador. A classificação de risco é uma das várias ferramentas que podem
ser utilizadas pelas áreas de análise de crédito para a tomada de decisões.

• Cadastro e renda – metodologia que utiliza informações dos rendimentos


mensais do cliente em conjunto com o histórico de seu comportamento
interno e externo, como, por exemplo, média das aplicações financeiras e
depósitos em poupança, média de utilização de limite de crédito rotativo,
registro de cheque sem fundo, excesso sobre o limite, inadimplência e
registros em cadastro de restrição de crédito, para atribuir um conceito
de risco. É também denominado de modelo especialista.

Para sua melhor compreensão dos modelos, apresento a você a partir


de agora as percepções de diversos autores sobre os dois principais modelos
utilizados por empresas e instituições financeiras no Brasil, o credit scoring e
o behaviour scoring.

Na percepção Santos (2000), credit scoring, ou pontuação de crédito,

[...] é um instrumento estatístico desenvolvido para que o


analista avalie a probabilidade de que determinado solicitante de
empréstimo venha a ser um mau pagador no futuro. O sistema
consiste em proceder de acordo com uma fórmula para avaliação
de cada solicitação de crédito, levando em conta um conjunto de
características que a experiência de cada banco tem evidenciado
como relevantes na previsão de reembolso.

Em linha com Santos, Blatt (1999) decreve o credit scoring como uma
técnica de tratamento estatístico de dados aplicável a todos os processos que
impliquem decisões que envolvam classificações: bom/mau, sucesso/fracasso,
excesso/falta, etc. Em síntese, o modelo é construído a partir da coleta de dados
históricos e do devido tratamento destes, de forma a encontrar a aderência
necessária ao processo de tomada de decisões.

Credit scoring pode ser definido, conforme Vicente (2001, p. 49), como o
processo de atribuição de pontuação às variáveis decisórias do crédito mediante
técnicas estatísticas. Trata-se de processo que busca definir a probabilidade de
que um cliente com determinadas características pertença ou não a um grupo
possuidor de outras determinadas características.

270 Finanças Empresariais


Capítulo 8

A respeito do behaviour scoring, ou escore comportamental, Blatt (1999,


p.128) afirma tratar-se de

um calculador de risco semelhante ao credit scoring, mas que usa


para seus dados de desenvolvimento o comportamento atual dos
tomadores de crédito (quer dizer, o modo pelo qual o indivíduo
usou o seu crédito, quanto ele usou, o que usou, se ele mostra
qualquer história de atrasos, e outras afirmações disponíveis no
registro da fatura principal) em lugar da informação fornecida no
pedido original.

Segundo Vicente (2001, p. 47), o behavioural scoring é uma ferramenta


utilizada para prever eventos associados ao risco de crédito, como a
inadimplência e pagamentos em dia, entre outros eventos. Considera diversos
aspectos comportamentais e de relacionamento com a instituição financeira.

Thomas (2000) ressalta que a diferença entre os dois modelos é que


no behaviour scoring a instituição financeira mantém internamente base
de informações sobre o cliente, enquanto no modelo de credit scoring, de
aprovação de crédito, a instituição financeira não conhece o cliente.

A análise de risco de crédito é precedida por algumas etapas que, se bem


realizadas, melhor qualificarão o processo.

A coleta de informações se dá inicialmente pelo preenchimento da ficha


cadastral. Toda proposta de crédito deve ser iniciada com o preenchimento
correto e adequado de um formulário desenvolvido de acordo com as
especificações de cada empresa.

As informações coletadas na ficha cadastro são conferidas com os


documentos originais obrigatórios e respectivos documentos de comprovação
de renda. As cópias e/ou originais dos documentos apresentados devem ser
anexados à ficha cadastro e arquivados na empresa.

A ficha cadastral normalmente possui validade de 12 meses, a contar da


data de sua assinatura.

Finanças Empresariais 271


Capítulo 8

LEMBRETE

O não preenchimento adequado da ficha cadastral


pode influenciar o processo de cobrança.

Após a recepção da documentação, as empresas procedem à


realização de pesquisas cadastrais, tanto de natureza interna quanto
externa. Internamente, implica em busca nos sistemas corporativos,
informações quanto ao relacionamento; se já cliente, procura identificar
o comportamento deste quanto às operações anteriormente contratadas.
Externamente, firmam-se convênios com empresas e/ou instituições, tais
como SERASA (Centralização dos Serviços dos Bancos S/A), BACEN (Banco
Central do Brasil) e CDL (Clube dos Dirigentes Lojistas), objetivando
identificar a existência de restrições cadastrais.

No SERASA, a empresa obterá informações quanto a protesto de


títulos, cheques sem fundos, concordatas ou falências, pendências e/
ou renegociações financeiras, ações judiciais, participação em insucessos
empresariais e dívidas vencidas.

EXPLORANDO
No site do SERASA <www.serasa.com.br>,
você encontra diversas informações sobre
crédito, inclusive uma revista eletrônica. Outro
detalhe é que hoje um profissional que atue
na área de crédito pode obter uma certificação
nacional realizando uma prova promovida pela
instituição. Navegue pelo site e conheça um
pouco mais sobre crédito.

No BACEN, em consulta ao sistema Cadastro Informativo dos Créditos Não


Quitados de Órgãos e Entidades Federais – CADIN, poderão ser constatados
débitos não honrados junto à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, Receita
Federal, Previdência Social, dentre outros órgãos públicos. Já no Central de
Risco de Crédito – CERIC, pode ser constatada a existência de dívidas a vencer

272 Finanças Empresariais


Capítulo 8

e vencidas junto a todas as instituições financeiras credenciadas no país.


Os valores informados referem-se a saldos devedores acumulados em valor
superior a R$ 1.000,00.

No CDL, poderão ser constatados apontamentos junto ao Serviço de


Proteção de Crédito – SPC.

São passíveis ainda a realização de pesquisas em sites da internet, no que


se refere à Previdência Social, Receita Federal, Procuradoria Geral da Fazenda
Nacional, Receita Estadual, Caixa Econômica Federal (FGTS), Tribunais de
Justiça Federal e Tribunais Regionais de Trabalho.

Se constatadas ocorrências restritivas e/ou impeditivas, a empresa


num primeiro momento buscará junto ao proponente/cliente a solução das
ocorrências identificadas. Não sendo possível a regularização das mesmas,
encerra-se o processo.

Figura 3 - Conceder crédito ou não?


Fonte: Steve Allen <www.gettyimages.com>.

A terceira etapa consiste na análise propriamente dita, que você já


estudou no capítulo 5.

A formalização, seguindo a análise, compreende a observância dos


aspectos jurídicos pertinentes e o preenchimento adequado dos documentos
que compõem o processo de crédito. É etapa fundamental para o sucesso do
retorno do crédito.

Finanças Empresariais 273


Capítulo 8

Dentre os aspectos jurídicos mais significativos, destacam-se:

• contratos devidamente assinados pelos tomadores e avalistas;


• notas promissórias devidamente assinadas;
• registros nos organismos competentes, principalmente no tocante às
garantias.

EXPLORANDO
No site do BACEN <www.bcb.gov.br>, você
encontra diversas informações sobre o mercado
financeiro. Para acessar alguns sistemas do
banco, é necessário se cadastrar, pois algumas
informações envolvem sigilo bancário, e
portanto, você só poderá acessá-las se estiver
devidamente autorizado. Navegue pelo site e
conheça um pouco mais sobre crédito.

Após a concessão crédito, não podemos esquecer do cliente. A essa


etapa denomina-se acompanhamento. Em se constatando algum sinal de
dificuldades do proponente/cliente, adotam-se medidas preventivas, tais
como reforço de garantias e/ou repactuação da dívida, quanto esta for
possível. Lembre-se: toda empresa disponibiliza de forma impressa ou
digital relatórios que permitem ao gestor o devido controle das operações
de crédito ativas.

O controle constitui-se na etapa seguinte: faz-se necessário a


existência de controles internos em relação aos créditos concedidos,
com o intuito de indicar o momento certo de agir nos casos de atraso e
inadimplência.

A finalidade de se manter controle sobre os créditos concedidos é


detectar sinais de deterioração e tomar medidas proativas, como, por
exemplo, uma renegociação com garantia real de alta liquidez.

A cobrança é a última etapa do processo de crédito, porém não


menos importante que as anteriores. O processo só se completa e o êxito
de uma operação de crédito só acontece quanto retornam às instituições
financeiras os empréstimos concedidos.

274 Finanças Empresariais


Capítulo 8

A partir destes conceitos é que se deve mensurar os impactos das decisões


que venham a ser adotadas. Assaf Neto e Lima (2009, p. 684-685) ressaltam
que as principais medidas financeiras de controle são:

• despesas com devedores duvidosos, que na opinião dos autores


referem-se à probabilidade definida pela empresa do não recebimento
de determinado volume de crédito em momento futuro;

• despesas gerais de crédito, que envolvem gastos com o setor, tais


como despesas de pessoal e convênios com CDL, SERASA;

• despesas de cobrança, que podem envolver desde a chamada cobrança


administrativa até as judiciais;

• custo do investimento marginal em valores a receber, obtido a


partir da confrontação dos investimentos em valores a receber
e uma taxa de retorno mínimo exigida pela empresa (custo de
oportunidade ou taxa mínima de atratividade, que você estudou
no capítulo anterior).

Assaf Neto e Lima (2009, p. 686) também ressaltam que a política de


crédito pode admitir duas situações, uma restritiva e outra mais liberal, ou
frouxa. Evidenciam-se por meio de quadro os impactos das referidas alterações
na dinâmica da política de crédito sobre as quatro variáveis financeiras que
você acabou de conhecer.

PADRÕES DE PRAZO DE DESCONTOS POLÍTICA DE


Medidas CRÉDITO CONCESSÃO CONCEDIDOS COBRANÇA
Financeiras
Frouxa Restritiva Ampliação Redução Ampliação Redução Liberal Rígida

Volume de
+ - + - + - + -
vendas
Despesas
gerais de + - + - - + + -
crédito
Investimentos
em contas a + - + - - + + -
receber
Quadro 1 - Política de crédito e variáveis financeiras
Fonte: adaptado Assaf Neto e Lima (2009).

Finanças Empresariais 275


Capítulo 8

Vou, neste momento, apresentar a você um exemplo numérico para


facilitar a compreensão. Imagine que uma empresa resolveu flexibilizar sua
política de crédito pela concessão de maior prazo, e os resultados obtidos
foram uma expansão das receitas em R$ 400,00. Para isso, foram necessários
investimentos da ordem de R$ 1.600,00. Se dividir a expansão do resultado
pelo investimento realizado, terá um percentual de 25%. Mas o que este
número representa?

Representa que o custo de oportunidade de implementação de uma nova


política deverá ser de no máximo 25%; acima deste percentual a empresa não
deverá promover novas alterações em sua política. Lembre-se do conceito de taxa
interna de retorno assimilado no capítulo anterior; a interpretação é a mesma.

8.3 Aplicando a teoria na prática


Suponha que a empresa ABF Celulose SA projetou para o exercício de
2011 um incremento em suas vendas de 15%, atingindo uma estimativa de R$
2 milhões mensais, dos quais 50% a prazo, ou seja, R$ 1 milhão. Esteja ciente
de que o gestor financeiro prevê os seguintes custos:

• custos variáveis 30% das vendas totais;


• custos fixos de R$ 500 mil;
• despesas administrativas 4% das vendas totais;
• provisão para devedores duvidosos: 2% das vendas a prazo;
• demais despesas de crédito: 1% das vendas a prazo;
• prazo médio de cobrança de 45 dias ou 1,5 meses.
A partir dos números apresentados, apure:

a) a margem de contribuição por modalidade de venda (a vista e a prazo)


e o resultado final da empresa;

b) os mesmos indicadores, considerando que em virtude de afrouxamento


da política de crédito as vendas a prazo apresentariam expansão de
15% em relação à situação original.

Para a resolução das questões, utilize a estrutura proposta a seguir:

276 Finanças Empresariais


Capítulo 8

VENDAS À VISTA VENDAS A PRAZO VENDAS TOTAIS

Receitas de vendas

- Custos e despesas variáveis

Custos de produção
Despesas administrativas
variáveis
Provisão para devedores
duvidosos
Despesas de cobrança

= Margem de contribuição

- Custos e despesas fixas

Resultado operacional

E então, já fez? Compare.

A questão A apresenta uma margem de contribuição das vendas à vista


de R$ 660 mil, e de R$ 630 mil em vendas a prazo. O resultado operacional
total é de R$ 790 mil.

VENDAS À VISTA VENDAS A PRAZO VENDAS TOTAIS

Receitas de vendas 1.000.000 1.000.000 2.000.000

- Custos e despesas variáveis 340.000 370.000 710.000

Custos de produção 300.000 300.000 600.000


Despesas administrativas
40.000 40.000 80.000
variáveis
Provisão para devedores
20.000 20.000
duvidosos
Despesas de cobrança 10.000 10.000

= Margem de contribuição 660.000 630.000 1.290.000

- Custos e despesas fixas 500.000

Resultado operacional 790.000

Em relação à questão B, com a expansão em 15% das vendas a prazo


em relação à situação original, a margem de contribuição das vendas à vista
permanece inalterada, e a das vendas a prazo passa a ser de R$ 724,5 mil. O
resultado operacional é de R$ 884,5 mil.

Finanças Empresariais 277


Capítulo 8

VENDAS À VISTA VENDAS A PRAZO VENDAS TOTAIS

Receitas de vendas 1.000.000 1.150.000 2.150.000

- Custos e despesas variáveis 340.000 425.500 765.500

Custos de produção 300.000 345.000 645.000


Despesas administrativas
40.000 46.000 86.000
variáveis
Provisão para devedores
23.000 23.000
duvidosos
Despesas de cobrança 11.500 11.500

= Margem de contribuição 660.000 724.500 1.384.500

- Custos e despesas fixas 500.000

Resultado operacional 884.500

8.4 Para saber mais


Título: Introdução à administração financeira
Editora: Pioneira Thomson
Autor: PADOVEZE, C. L. Ano: 2005
Learning

Este livro aborda no capítulo 8 os principais conceitos de gestão


de capital de giro, seus mecanismos de mensuração e os principais
fatores que influenciam na necessidade deste recurso.

Título: Administração financeira: princípios, fundamentos e


práticas brasileiras
Autores: CHEROBIN, A. P. M. S.;
Editora: Campus Ano: 2005
LEMES, A. B.; RIGO, C. M.

Este livro aborda no capítulo 12 o papel do crédito, os custos


envolvidos, e trata da administração internacional de crédito, além
de exercícios sobre a gestão dos valores a receber.

Título: Administração financeira


Autores: GROPELLI, A. A.;
Editora: Saraiva Ano: 2006
NIKBAKHT, E.

Este livro aborda o financiamento do capital de giro com exemplos


práticos de administração de contas a pagar, estoques e valores a
receber.

278 Finanças Empresariais


Capítulo 8

8.5 Relembrando

O capítulo 8 apresentou:
• conceitos de estratégia, que partiram de uma conotação militar para
a empresarial, envolvendo a definição de metas, objetivos e ações a
serem desenvolvidas por quaisquer organizações;

• a mutação da função compras dentro das organizações e as diferentes


variáveis a serem observadas, tais como prazos, demanda, preços,
qualidade, dentre outras;

• que vender a prazo não é tarefa simples, requer da organização


a definição de uma política de crédito que envolva a alçada de
decisões, prazos a serem concedidos, descontos envolvidos ao bom
pagador, limites mínimos e máximos;

• o processo de concessão de crédito, envolvendo diversas etapas:


a definição da política geral de crédito, a análise de crédito, a
formalização, o acompanhamento, o controle e a cobrança;

• a análise de crédito, que pode ser desenvolvida de forma subjetiva e


objetiva, a fim de minimizar os riscos e avaliando os C’s: caráter, capacidade,
condições, capital e garantias (collateral) por meio de diferentes modelos;

• os principais instrumentos de mensuração financeira das alterações


da política de crédito adotada por uma empresa, política esta que
pode assumir uma condição mais ou menos flexível ou rígida.

8.6 Testando os seus conhecimentos

1) O processo decisório do crédito envolve a análise de cinco variáveis, na


percepção de diferentes autores. São consideradas variáveis financeiras, exceto:

a) capacidade.
b) caráter.
c) condições.
d) garantias.
e) nenhuma das respostas anteriores.

Finanças Empresariais 279


Capítulo 8

2) Metodologia que avalia uma série de fatores, atribuindo nota a cada


quesito e uma nota final ao conjunto destes quesitos analisados. O conceito
dado à determinada empresa é que irá determinar o valor (risco de crédito)
que a instituição financeira deverá liberar ao tomador. A classificação de risco
é uma das várias ferramentas que podem ser utilizadas pelas áreas de análise
de crédito para a tomada de decisões.

a) behaviour scoring.
b) cadastro renda.
c) risk rating.
d) credit scoring.
e) modelo especialista.

3) O processo de concessão de crédito envolve diversas etapas, desde a observância


dos aspectos jurídicos pertinentes ao preenchimento adequado dos documentos
que o compõem. É etapa fundamental para o sucesso do retorno do crédito:

a) cadastro.
b) análise de crédito.
c) acompanhamento e controle.
d) formalização.
e) cobrança.

4) Modelos aplicados à tomada de decisão de um novo empréstimo a um cliente para


determinar o produto mais adequado para cada perfil de consumidor, para rever o
valor do limite, para avaliar o risco de sinistralidade de um segurado quando este
muda de comportamento e para determinar a propensão a financiar, a comprar e a
cancelar voluntariamente seu produto. Servem também para mensurar aquilo que
as empresas de crédito mais temem: o risco de o cliente não honrar suas obrigações.

a) behaviour scoring.
b) cadastro renda.
c) risk rating.
d) credit scoring.
e) modelo especialista.

280 Finanças Empresariais


Capítulo 8

Onde encontrar

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Fonte:
RIBEIRO, Crisanto Soares. Finanças empresariais. Natal: EdUnP, 2011. 299 p. E-book.

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