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A Síndrome de Burnout e seus Efeitos sobre a Saude do Professor


Categoria : Saúde Mental
Publicado por Gisele Cristine tenorio de Machado Levy [glevy] em 24/4/09

Um efeito significativo do processo de mudança nas relações de trabalho pode ser evidenciado por
meio da disseminação progressiva da Síndrome de Burnout entre os trabalhadores. O conjunto de
sintomas denominado Burnout é considerado um tipo de stress ocupacional por tratar-se de uma
Síndrome desencadeada pelas relações geradas no trabalho assistencial (NUNES SOBRINHO,
2002; REINHOLD, 2002).

Embora não haja, na literatura, um consenso em relação à gênese do Burnout e do stress


ocupacional, Abreu et al (2002) discutem o fato de o stress e o Burnout serem ocasionados a partir
de situações relacionadas ao ambiente de trabalho. Hespanhol (2005), ao fazer uma abordagem
sobre o Burnout e o stress ocupacional, afirma que o stress ocupacional em extremo pode provocar
a Síndrome de Burnout. Alguns autores, porém, divergem dessa opinião. Novaes (2004) explica que
existem diferenças entre o stress ocupacional e o Burnout, pois segundo ela, o Burnout se refere,
exclusivamente, ao aspecto relacional, ao contato intenso com pessoas, caracterizando
exclusivamente as profissões assistenciais.

Abreu et al (2002) concordam com esta opinião, pois, segundo os autores, Síndrome de Burnout
não é o mesmo que stress ocupacional. Eles explicam que o Burnout é resultado de um prolongado
processo de tentativas de lidar com determinadas condições de stress. Desta forma, o stress pode
ser visto apenas como um determinante para a Síndrome de Burnout.

Apesar das divergências, todos os autores são unânimes quanto ao fato de a Síndrome ser
caracterizada como uma resposta ao stress laboral crônico e estar vinculada a sintomas negativos
de ordem prática e emocional, envolvendo sentimentos de frustração relacionados ao trabalho.
(BORRITZ 2006; CARLOTTO & PALAZZO, 2005; GARCIA & BENEVIDES-PEREIRA, 2003; Abreu
et al, 2002; REINHOLD, 2002; DWORKIN, 2001).

O conceito de Burnout se desenvolveu nos Estados Unidos, na década de 70. Anteriormente, outros
termos, como "alta exigência", "astenia neurocirculatória" e "fadiga industrial" também foram
relacionados ao estado de esgotamento do trabalhador. Embora Christina Maslach e Herbert
Freudenberger tenham sido apontados como pioneiros nos estudos sobre a Síndrome, Novaes
(2004) citando Benevides-Pereira (2002), aponta que o termo foi adotado primeiramente por
Brandley (1969), que teria utilizado o termo “staff Burnout”, referindo-se ao fenômeno
psicológico que ocorre com trabalhadores assistenciais. Freudenberger (1974) aplicou o termo
Burnout no sentido que é usado hoje (NOVAES, 2004; CARLOTTO, 2002; CODO, 1999).

Atualmente a definição mais aceita da Síndrome de Burnout está baseada na perspectiva


sócio-psicológica de Maslach e colaboradores (1986). Os autores descrevem o Burnout como um
stress laboral que conduz a um tratamento frio e indiferente com o cliente. Segundo essa leitura,
variáveis sócio-ambientais são importantes para o desenvolvimento da Síndrome que é
compreendida através de três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa
realização pessoal (MALAGRIS, 2002; CARLOTTO, 2002; CODO, 1999).

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Exaustão emocional – situação em que os trabalhadores sentem que não podem dar mais de
si mesmos, em nível afetivo. Percebem esgotada a energia e os recursos emocionais próprios,
devido ao contato diário com os problemas. Despersonalização – desenvolvimento de
sentimentos e atitudes negativas e de cinismo às pessoas destinatárias do trabalho
(usuário/clientes) – endurecimento afetivo, “coisificação” da relação. Falta de
envolvimento pessoal no trabalho – tendência de uma “evolução negativa”,
afetando a habilidade para a realização do trabalho e o atendimento, ou contato com as pessoas
usuárias do trabalho, bem como com a organização. Além da vertente sócio-psicológica, a Síndrome
de Burnout pode ser explicada por diferentes concepções: clínica, organizacional e sócio-histórica.
Freudenberger (1974) defende uma perspectiva clínica, sob a qual o Burnout representa um estado
de exaustão, resultado de um trabalho extenuante, corroborando para que o educador deixe de lado
até mesmo suas necessidades. Cherniss (1980) adota um ponto de vista organizacional e explica
que os sintomas que compõem a Síndrome são respostas a uma demanda de trabalho estressante,
frustrante e monótono. E por fim, Sarason (1983) aponta uma perspectiva sócio-histórica, e explica
que, quando as condições sociais não canalizam o interesse de uma pessoa para ajudar a outra, é
difícil manter o comprometimento no trabalho e servir aos demais (FARENHOF & FARENHOF,
2002).

Considerando a evolução do de Burnout no trabalho docente sob a perspectiva psicossocial, Codo


(1999) explica que as atividades assistenciais detêm uma particularidade estrutural, que é a
necessidade do investimento de energia afetiva, para que se alcance os seus objetivos,ou seja, a
promoção do bem-estar do outro. No caso da profissão docente, que se caracteriza pelo contato
intenso com o alunado, o mesmo acontece. Assim, é necessário que o professor estabeleça um
vínculo afetivo com o seu trabalho para que possa efetivar suas atividades. Caso contrário, a
deterioração da relação de afeto devido ao desgaste diário na relação com o aluno, conduz o
professor a um sentimento de exaustão emocional, caracterizado pelo total esgotamento da energia
física e mental. Este estado contínuo de exaustão irá conduzir o profissional a um sentimento de
baixa realização pessoal no trabalho, caracterizado pela ausência do vínculo de afeto,
imprescindível a esse tipo de atividade. Na etapa da despersonalização, este vínculo é substituído
por outro, racional, no qual o professor desenvolve atitudes negativas e críticas em relação ao aluno.

O trabalho passa, então, a ser considerado, apenas, pelo seu valor de troca, de
“coisificação”. O aluno e todo o universo que compõe sua atividade profissional
passam a ter um tratamento de objeto, descaracterizando totalmente a profissão. É esta perda do
sentido do trabalho que se constitui num dos principais fatores responsáveis pelos inúmeros casos
de absenteísmo e afastamento do professor. Como aponta MALAGRIS (2004, p.203) “...
como o Burnout costuma surgir em áreas onde as pessoas têm mais aspirações, a frustração e a
decepção são muito grandes, ocorrendo a perda do sentido no trabalho.”

Considerando a evolução da Síndrome de Burnout, conseqüência de um stress crônico e


prolongado, a sensação de perda da energia e falta de disposição em relação ao trabalho, ocorrem
de forma gradual, lenta e frequentemente imperceptível. Afetando de maneira significativa a relação
entre o indivíduo e suas tarefas. Gimarães e Cardoso (1999) (apud Cornnell,1982) propõe um
esquema de sintomas presentes na Síndrome de Burnout, que podem ser apresentados pelo
indivíduo:
Sintomas físicos: são similares aos do stress ocupacional, são eles:

1. A fadiga, a sensação exaustão (cansaço crônico),

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2. Indiferença ou frieza,

3. Sensação de baixo rendimento profissional,

4. Freqüentes dores de cabeça,

5. Distúrbios gastrintestinais,

6. Alterações do sono (insônia) e

7. Dificuldades respiratórias.

Os Sintomas de conduta: se revelam sob a forma de graves alterações no comportamento que


usualmente afetam aos colegas, pacientes, familiares de pacientes e inclusive seus próprios
familiares.

Os Sintomas psicológicos: podem aparecer mudanças de comportamento, tais como: trabalhar de


forma mais intensa, sentimento de impotência frente a situações da rotina de trabalho, irritabilidade,
falta de atenção, aumento do absenteísmo, sentimento de responsabilidade exagerado, atitude
negativa, rigidez, baixo nível de entusiasmo, o consumo de álcool e drogas, como uma forma de
minimizar os efeitos do cansaço e do esgotamento. Frente a estas questões, muitos pesquisadores
vêm estudando o fenômeno do Burnout na Educação. Nunes Sobrinho et al (1988) desenvolveram
uma pesquisa com o objetivo de investigar a incidência da Síndrome de Burnout em 119 professores
do ensino especial, de Rede Pública Municipal.Para a coleta de dados foi utilizado o (MBI) Inventário
Maslach de Burnout. Um dos resultados da pesquisa indicou que os professores que apresentaram
maior índice de Burnout eram os que atendiam deficientes auditivos e não haviam recebido qualquer
treinamento para lidar com estes portadores de necessidades educativas especiais. De acordo com
os resultados, os pesquisadores sugerem que a instalação do processo de stress ocupacional se
deva, principalmente, à impossibilidade de o profissional solucionar as questões referentes ao seu
posto de trabalho.Assim, a impossibilidade de solucionar situações no cotidiano escolar leva o
professor a sofrer de Burnout.

Na pesquisa de Ogeda, et al (2002), Burnout em Professores: a Síndrome do Século XXI Foi


realizada uma análise sobre a perspectiva organizacional da Síndrome de Burnout junto aos
professores da Rede Municipal de Campo Largo/ Paraná. Participaram da pesquisa 353
professores, que responderam ao (MBI) Maslach Burnout Inventory (Maslach & Jackson, 1986) para
avaliar o índice de Burnout. Os pesquisadores constataram que a maioria dos participantes possuía
indícios que se aproximavam dos aspetos da Síndrome de Burnout, apresentando sintomas de
exaustão emocional e física.

Outra investigação, intitulada Síndrome de Burnout e Fatores Associados: um estudo epidemiológico


com professores (Carlotto & Palazzo, 2006), teve como objetivo identificar o índice da Síndrome de
Burnout em professores com a análise das variáveis demográficas, laborais e os fatores
contribuintes para o stress. A população foi composta por 217 professores de escolas particulares
de uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul/ Brasil. Para tanto, foram
utilizados o Maslach Burnout Inventory (MBI), para medir o índice de Burnout e um inventário
sócio-demográfico. Os resultados obtidos revelaram que o mau comportamento dos alunos, as
expectativas dos seus familiares e a pouca participação do professor nas decisões institucionais
foram os fatores de stress que apresentaram associação direta com as dimensões de Burnout.

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Quanto às dimensões “Exaustão emocional”, “Despersonalização” e
diminuição da “Realização pessoal”, que compõem o Burnout, foram revelados baixos
índices.

O número das pesquisas empreendidas sobre a extensão dos efeitos da Síndrome de Burnout, na
saúde dos professores, é muito significativo. O mesmo se repete nas investigações voltadas a
outras áreas, como a medicina, psicologia, psiquiatria, ergonomia organizacional (SILVEIRA, et al,
2005; Oliveira. & Slavutzky,2005; SPIES, 2004; PEREIRA & JIMENEZ; 2003, VOLPATO, 2003).

Silveira et al (2005) investigaram a incidência da Síndrome de Burnout em 60 policiais civis que


trabalham no município de Porto Alegre/RS. Para a coleta de dados foram criados dois grupos: um
grupo de 35 policiais envolvidos em atividades externas e outro com 25 policiais envolvidos em
atividades internas. O instrumento utilizado para a análise do índice de Burnout, foi o (MBI) Maslach
Burnout Inventory. Ao final, a investigação revelou que não houve diferença estatisticamente
significativa entre os dois grupos de policiais no que se refere a cada um dos três fatores
constituintes da Síndrome “Exaustão emocional”, “Despersonalização” e
“Realização pessoal”. A partir deste resultado, os autores sugerem que os sintomas
vinculados à Síndrome não são determinados pelo tipo de atividade desempenhada, e alertam para
a necessidade de estudos mais amplos que possam aprimorar as investigações sobre o Burnout e
sua relação com o trabalho policial.

Oliveira & Slavutzky (2005), em A Síndrome de Burnout nos Cirurgiões-Dentistas de Porto Alegre,
investigou-se o nível de Burnout, em uma amostra de 169 cirurgiões-dentistas de Porto Alegre/RS.
Como instrumento para coleta de dados foi utilizado um questionário auto-aplicativo, (MBI) Maslach
Burnout Inventory. “Ao final da pesquisa foi constatado que os participantes apresentaram
baixos índices nas dimensões: “Esgotamento emocional”,
“Despersonalização” e “ Realização pessoal”, não sendo detectadas
taxas altas de Burnout.

A pesquisa Burnout in occupational therapy: an analysis focused on the level of individual and
organizacional consequences (GUTIÉRREZ et al, 2004) teve como objetivo a análise dos diferentes
tipos de desgaste profissional, tomando como referência os fatores organizacionais e a Síndrome de
Burnout. A amostra foi composta de 110 terapeutas ocupacionais da região autônoma de Madrid
que atuavam em instituições que ofereciam serviço de terapia ocupacional. Destes, 89% pertenciam
ao gênero feminino e 10%, ao gênero masculino. Os instrumentos para a coleta de dados foram:
revisão bibliográfica, entrevistas e um inventário que analisa o índice de Burnout em profissionais de
enfermagem (CDPE) Cuestionario de Desgaste Profesional de Enfermería (MORENO-JIMÉNEZ, et
al, 2000). Os resultados da pesquisa revelaram associações altamente significativas entre a
Síndrome de Burnout e conseqüências adversas relacionadas à saúde e ao campo interpessoal dos
participantes. Além disto, indicou a relevância dos fatores relacionados com a sobrecarga do
trabalho, as características da tarefa, a falta de amparo e com o reconhecimento por parte dos
colegas.
Através da revisão bibliográfica, ficam evidentes os efeitos danosos da Síndrome de Burnout sobre
a saúde do professor, colaborando para seu adoecimento e o impossibilitando de realizar
plenamente suas tarefas. Neste contexto, é necessária uma reflexão sobre alguns dos fatores que
contribuem para o desenvolvimento da Síndrome.

Referências:

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