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CIDADANIA DIGITAL: PRINCÍPIOS E CONSIDERAÇÕES PARA A

EDUCAÇÃO BÁSICA
Inês Cortes da Silva
inescortesdasilva@gmail.com
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo apresentar conceitos e realizar
considerações sobre o tema da cidadania digital na Educação Básica. Trata-se de um
estudo bibliográfico que trará uma contextualização acerca de alguns aspectos da
participação de jovens no meio digital, conceitos sobre cidadania digital e considerações
sobre a inserção desse conceito para educação básica. Conclui-se que um tema de suma
relevância para os mais diversificados contextos escolares em que há a presença de
tecnologias digitais, sendo necessária sua inclusão no planejamento das atividades
seminários e eventos da escola para que essa consciência possa ser desenvolvida junto
aos alunos, professores, pais e responsáveis.

Introdução
A profissão do momento é a de influenciador digital. Surgida do inglês com os
termos digital influencer, esse novo nicho de mercado é composto por pessoas que, na
definição de Tessarolo e Silva (2016): “se destacam nas redes [...], pautando opiniões e
comportamentos[...]A exposição de seus estilos de vida, experiências, opiniões e gostos
acabam tendo uma grande repercussão em determinados assuntos.” (TESSAROLO e
SILVA, 2016, p. 5). O contato com os influenciadores se dá através de redes sociais como
Snapchat, Instagram e Youtube, crianças e adolescentes recebem conteúdo das mais
diversificadas naturezas, sejam elas educativas ou não.

Considerando realidades como a exposta acima, e com o desenvolvimento e


ampliação do acesso às tecnologias digitais móveis na figura de smartphones e tablets,
tem havido maior participação do público mais jovem nesses ambientes digitais. O acesso
e participação de adolescentes e mesmo crianças nos meios digitais é uma realidade. Seja
consumindo conteúdos no Youtube ou participando de redes sociais o acesso aos meios
digitais é agora indissociável da rotina de muitos jovens. Um número considerável de
produções científicas tem versado sobre os mais variados aspectos dessas interações
também no cotidiano escolar.

Há quem se dedique a pesquisar os aspectos positivos da inserção dessas


tecnologias digitais, como, entre outros atributos, potencializadoras da aprendizagem.
(Almeida e Araújo Jr, 2013). Há quem as considere nocivas, por incentivar a distração
em sala de aula, bem como os riscos à segurança dos alunos em tempos de jogos e
correntes online e perigosos como Baleia Azul. (Stockwell e Hubbard, 2013). Há ainda
os que compreendem que nenhuma tecnologia, independentemente de sua natureza, tem
sozinha o poder de transformar, de potencializar aprendizagem ou de causar transtornos,
tais quais a distração no ambiente escolar. São as escolhas e usos que os indivíduos farão
delas que irão ditar como será esse resultado. (Braga, 2015)

Diante desse panorama, admite-se a necessidade de se conhecer e discutir o tema


da cidadania digital, o qual pode ter implicações na Educação Básica. Considerando tais
aspectos, questiona-se: qual a relevância de se discutir o conceito de cidadania digital nas
escolas?

2. Cidadania Digital
A noção de cidadania, segundo Neves (2010), abrange aspectos que vão desde o
individual do cidadão, sobretudo no tocante à sua individualidade, até o seu campo de
atuação social. (Neves, 2010, p. 143). De fato, ainda segundo a autora, a ideia de
cidadania agrega as facetas cívica, social e política, numa perspectiva de empoderamento.
Assim, esse conceito incide em participação e integração igualitária na sociedade, mas
ele também vem acompanhado das noções de deveres e direitos

De acordo com Ribble (2010), a cidadania digital consiste no “uso responsável e


apropriado da tecnologia”. Trata-se de um conceito que pode ser de grande utilidade no
auxílio pais, responsáveis, professores e comunidade escolar no sentido de fazer com que
crianças e adolescentes sempre conectados à internet compreendam as virtudes e os riscos
envolvidos na participação no mundo digital.

A cidadania digital compreende, ainda, na visão de Ribble (2010), regras de


utilização responsável da tecnologia. O autor ainda chama a atenção para nove elementos,
os quais devem fazer parte da conduta de um bom cidadão digital. São eles: acesso digital,
comércio digital, comunicação digital, letramento digital, etiqueta digital, lei digital,
direitos e responsabilidade digital, saúde e bem-estar digital e segurança digital. A tabela
abaixo apresenta o que sugerem os nove elementos da cidadania digital postulados por
Ribble (2010)
Acesso digital Compreende a inclusão nos meios digitais,
numa perspectiva de participação social
Comércio digital Compras e vendas realizadas por
intermédio da internet.
Comunicação digital Intercâmbio de informações por meio
digital
Letramento Digital Ensino e aprendizagem sobre tecnologias
digitais e seus usos.
Etiqueta digital Comportamento e conduta adequados
também no meio digital.
Lei digital Abrange práticas de uso ético da
tecnologia nas leis da sociedade. Aplica-
se a todo e qualquer indivíduo que tenha
atividade online.
Direitos e deveres digitais Envolve os diretos à liberdade de
expressão, à privacidade, dentre outros,
porém abrange também responsabilidades
em relação a conduta dos usuários.
Saúde e bem-estar digital Alerta sobre riscos como lesões
musculares por esforços repetitivos,
problemas com a visão e o
desenvolvimento de Nomofobia
(dependência do smartphone)
Segurança Digital Engloba a tomada de precauções para
assegurar que não haja roubo de
informações digitais ou o assédio virtual,
mais conhecido como cyberbullying.
Tabela 1: Os nove elementos da cidadania digital de Ribble (2017)

3. Considerações para a Educação Básica


O tema é citado no referencial curricular da Secretaria de Estado da Educação de
Sergipe apenas como um dos conceitos básicos na disciplina de Geografia para o terceiro
ano do ensino médio. No entanto não há menções a nenhuma discussão acerca da temática
para os outros anos do Ensino Médio ou no Ensino Fundamental, embora saiba-se que
mesmo alunos do nível mais inicial estão conectados. No Marco Civil da Internet (Brasil,
2014), as noções sobre cidadania digital estão presentes. A Base Nacional Curricular
Comum (Brasil, 2016) não traz o tema em suas orientações. Faz parte do currículo de
muitas escolas americanas. As escolas de Educação Básica podem implementar ações

Por tratar-se de um tema que necessita ser constantemente revisitado, tendo em


vista que se trata de um campo onde as transformações ocorrem numa velocidade grande,
pode ser abordado durante seminários, palestras com especialistas, exibição de filmes e
vídeos e incluído no calendário de atividades das escolas. Pais e responsáveis pelas
crianças e jovens precisam estabelecer uma parceria com a escola e fazer parte desses
momentos de formação junto com a escola e toda a comunidade escolar.

Aos professores podem ser oferecidos momentos de formação presencial ou


online para que possam entrar com contato com a teoria existente sobre esse tema (que já
é amplamente discutido em países como Estados Unidos e Canadá) e refletir sobre
estratégias sobre como inserir a cidadania digital em sua prática docente, independente
da disciplina que seja ministrada.

A vantagem de se inserir o tema no planejamento escolar é que essa escolha


representa um posicionamento no sentido de alertar, orientar e proteger os jovens sobre
os perigos online ou o cyberbullying. Entretanto, a formação de jovens cidadãos digitais
perpassa a esfera da segurança online. Ela pode atuar também como forma de despertar
em crianças, adolescentes e professores a consciência sobre ampliação de oportunidades
de participação social que um bom e adequado uso de dispositivos eletrônicos, da internet
e do meio digital pode ocasionar.

Referências
ALMEIDA, Rosiney Rocha, ARAÚJO JR., Carlos Araújo Fernando de. O Uso de
Dispositivos Móveis no Contexto Educativo: Análise de Teses e Dissertações Nacionais.
Revista tempos e espaços em educação, v. 6, n. 11, p. 25-36, 2013.
BRAGA, D.B. Tecnologias digitais e da informação e comunicação e participação
social. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2015.
BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos
e deveres para o uso da internet no Brasil. Diário Oficial da União, Brasília. 24 de abril
de 2014. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l12965.htm>. Acesso em 25 de Abr. 2018
NEVES, Bárbara Barbosa. Cidadania Digital? Das cidades digitais a Barack Obama.Uma
abordagem crítica. MORGADO I. S. & ROSAS A. (Orgs.). Cidadania Digital.Covilhã,
Portugal: LabCom Books, 2010.
RIBBLE, M. Digital citizenship in schools. ISTE, Oregon, 2010
STOCKWELL, G., e HUBBARD, P. (2013). Some emerging principles for mobile-
assisted language learning. Disponível em <http://www.tirfonline.org/english-in-the-
workforce/mobile-assisted-language-learning.> Acesso em 20 de março de 2015
TESSAROLO, F. M. ; SILVA, C. R. M. . Influenciadores Digitais e as Redes Sociais
Enquanto Plataformas de Mídia. In: XXXIX Congresso Intercom, 2016, São Paulo.
XXXIX CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2016

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