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Dentro da vertente neoclássica, há os que bus- Outro autor relevante da escola neoclássi-
cam determinar as normas de localização de ca é, entre outros, Walter Isard. Foi criador
uma empresa (Alfred Weber) e os que buscam da ciência regional, representa uma “sín-
leis para o equilíbrio espacial (August Lösch). tese weberiana” e desenvolveu as equa-
A escola neoclássica tem como características ções gerais de Lösch. A sua teoria é inte-
principais: a) encontrar a melhor localização gradora, não analisa isoladamente cada
para a instalação de uma empresa; b) minimi- fator locacional (Costa, 2002, p. 5). O obje-
zar os custos totais; c) o fator determinante é tivo é buscar o ponto ótimo, ou seja, o cus-
o custo de transporte, buscando-se aquelas lo- to mínimo e o lucro máximo (“minimax”).
calizações onde este seja menor. Nesta corren-
te a contribuição dos economistas é decisiva. No debate neoclássico se insere também o
economista britânico Alfred Marshall, au-
Tendências e perspectivas das
Alfred Weber (1869-1958) procura expli- tor da formulação dos distritos industriais teorias locacionais no capitalismo
contemporâneo
car a localização ótima da indústria e adota (conhecidos como distritos marshallianos).
GEOGRAFARES, nº 6, 2008 • 169
Para Marshall, a concentração de ativida- dispersão da agricultura em trabalho clássico
des econômicas e industriais ocorre em fun- de 1925 intitulado “Origem e dispersão agrí-
ção de fatores naturais, como a proximida- cola” (Silva, 1995; Santos, 2003). Seguindo
de a fontes de matéria-prima e energia, mas esta tradição, o geógrafo sueco Torsten Ha-
igualmente importante é a disponibilidade gerstrand publicou em 1953 um trabalho cha-
de mão-de-obra qualificada e a existência mado “Difusão de inovações como processo
de um ambiente político e econômico favo- espacial” que trata da difusão de informações
rável. A formação dos distritos está ligada à em função do comportamento humano. Ha-
fabricação do mesmo produto e o contexto gerstrand, através de regularidades empíricas,
de cooperação e complementação entre as buscava entender como a informação era di-
empresas, o que permite a inserção de in- fundida, considerando redes de comunicação
dústrias menores (Matushima, 2002, p. 4). social em várias escalas e de forma hierárqui-
ca. Utilizando a simulação Monte Carlo, Ha-
Becattini (1994, p. 20) define o distrito in- gerstrand desenvolve três modelos: 1) adoção
dustrial como uma “entidade socioterritorial e sucessão pelo tempo; 2) difusão por hierar-
caracterizada pela presença ativa de uma quia; 3) difusão por contágio (Silva, 1995).
comunidade de pessoas e de uma população
de empresas num determinado espaço geo- Outros autores adotaram e desenvolveram
gráfico e histórico”. Há, nas palavras do au- esta teoria, como Lawrence A. Brown (pers-
tor, uma “osmose perfeita entre comunidade pectiva de sistema geral), Allan Pred (“matriz
local e as empresas”. O distrito marshalliano comportamental” das empresas baseada no
é marcado pela auto-suficiência e a divisão acesso à informação), Lackshman E. Yapa
do trabalho cada vez mais acentuada, produ- (considerando o contexto dos países subde-
ção dos excedentes voltada para o mercado senvolvidos). Para este último, ver Figueire-
externo, formação de uma rede de relações do (1978). Silva (1995) resgatou a teoria sob
privilegiadas entre distrito, fornecedores e um enfoque marxista. Mascarenhas (2001)
clientes, presença de trabalhadores ao domi- utilizou a teoria da difusão espacial de ino-
cílio e a tempo parcial, entre outros fatores. vações para o estudo geográfico do futebol.
Contudo, a teoria estruturalista ainda parece Toffler (1983) defende que o momento atual
não ter conseguido explicar as funções exerci- é de reestruturação tecno-econômica da so-
das pelas empresas de capital endógeno, de atu-
ciedade. A economia mundial passou por três
ação local, no processo de desenvolvimento, já
que muitas dessas empresas não seguem uma “ondas” em sua história: a primeira onda ocor-
das principais linhas de análise estruturalista, e reu há 10.000 anos com a agricultura nômade
não se transferem de local em busca de maiores e a posterior fixação em aldeias; a segunda
taxas de benefícios (Matushima, 2002, p. 3). onda ocorreu há 300 anos com a Revolução
Industrial, o advento da fábrica, de máquinas
Santos (2003) estabelece uma abordagem e o consumo de massa; a terceira onda está
marxista envolvendo espaço e dominação. calcada no conhecimento, no colapso da ve-
Em todo o mundo o homem está sujeito à im- lha economia industrial e de massa. As ondas
posição de uma tecnologia imposta de fora. podem conviver em conjunto e o autor cita o
Os espaços agrícolas cada vez mais se espe- exemplo do Brasil. A informação substitui os
cializam e se subordinam à indústria criando fatores de produção clássicos (terra, trabalho
regiões e homens-produtores alienados. As e capital). A produção de mercadorias pelas
formas geográficas auxiliam na expansão do empresas multinacionais tende a se regionali-
capitalismo criando o que o autor chama de zar ou ter um caráter mais local e/ou setorial.
“totalidade do diabo”, onde os grandes proje-
tos governamentais servem aos interesses do No campo da Administração, pelo menos
capital privado. A solução estaria na produ- três autores são muito debatidos: Peter F.
ção voltada para o consumo da população e Drucker, Kenichi Ohmae e Michael E. Por-
a distribuição/desconcentração do excedente. ter. Peter Ferdinand Drucker (1909-2005)
Ao nível teórico a proposta é considerar o é filósofo e administrador austríaco, presi-
conceito de totalidade para interpretar todos dente de uma associação que leva seu nome
os objetos e forças que atuam sobre eles e ca- e foi professor de Ciências Sociais da Cla-
tegorias analíticas externas (tempo e escala) remont Graduate University, na Califórnia.
e internas (estrutura, função e forma), todas
perpassadas pela categoria processo, ou seja, Drucker (1993) sustenta que desde 1945 vi-
a estrutura espacializada. É nessa perspectiva vemos uma Revolução Gerencial baseada
que o autor propõe o conceito de lugar como no conhecimento, que supera o capitalismo.
Tendências e perspectivas das
teorias locacionais no capitalismo
combinação particular de modos de produ- O conhecimento é informação eficaz em
contemporâneo
CORRÊA, Roberto Lobato. Interações Es- ___. The role of Geography in develop- Tendências e perspectivas das
teorias locacionais no capitalismo
paciais. In: CASTRO, I. E.; CORRÊA, ment. Paper prepared for the Annual World contemporâneo
RESUMO
O objetivo deste artigo é resgatar o tema das
teorias locacionais e assim contribuir para o
debate na Geografia, debate este um tanto es-
quecido atualmente. Destacamos as principais
tendências do enfoque locacional: neoclássi-
co, comportamental, sistêmico e marxista.
Além disso, abordamos algumas perspectivas
atuais, não só na Geografia, como também na
Administração, Economia e Sociologia. Nota-
se que as abordagens caminham de um pen-
samento mais abstrato e generalizante, pas-
sando por uma consideração dos problemas
sociais até um olhar mais regional e focado
no paradigma do capitalismo informacional.
ABSTRACT
The purpose of this article is to rediscuss lo-
cational theory and contribute to this debate
in Geography, especially considering that it
is not so discussed recently. We selected five
tendencies in locational theory: neoclassic,
behavioral, systemic and Marxist. Beyond
Tendências e perspectivas das
that, we debate some recent perspectives, not teorias locacionais no capitalismo
contemporâneo
only in Geography, but also in Administration
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