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Trabalho apresentado na DT 1 – Jornalismo do XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região
Norte, realizado de 22 a 24 de maio de 2018.
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Professor Adjunto do Curso de Comunicação Social da UFRR, Doutor em História pela UFF, mestre em
Jornalismo pela UFSC, graduado em Comunicação e em História pela UNICENTRO. E-mail:
luismunaro@ufrr.br
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através do discurso dos jornais, lança questionamentos sobre a composição social dos
vilarejos mutantes que se espalham ao longo da enorme bacia hidrográfica amazônica.
Para tanto, foram selecionados dez jornais em sete municípios. Nestes jornais, procedeu-
se a uma categorização buscando identificar menções à intendência municipal ou à
prefeitura e a definição da linha editorial. O estudo foi elaborado a partir de dois eixos
temáticos principais identificados com seções: a configuração política da imprensa
interiorana, alicerçada no município e na ação do coronel e uma breve exploração nos
traçados sociais desses vilarejos ou cidades como transparecem na atividade periodística.
1. Imprensa
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A má aplicação das rendas municipais – Estas rendas sendo bem aplicadas darão
para tudo, a questão depende somente da boa ou má *** e administração delas.
No entanto, com pesar dizemos que, até hoje, a câmara municipal ainda não
procurou satisfazer esta expectativa pública e a prova está patente a todos e
explica-se na avultada soma que para os cofres daqui vem vindo (julho de 1888,
p. 1).
Por outro lado, podia-se preferir denunciar, de forma genérica, a desatenção dos
poderes centrais, poupando o ataque direto à prefeitura – a não ser que o objetivo do jornal
fosse claramente o de oposição política na esfera local. Em sua edição de 30 de setembro
de 1906, O Arauto de Itacoatiara delimitava, como seu principal objetivo político, evitar
que o “auxílio dos poderes públicos continuem esquivos como até hoje, auxílio de que é
por demais merecedora Itacoatiara, como a primeira cidade depois da capital do
Amazonas” (O Arauto, 30 de setembro de 1906, p. 1). Em alguns casos, o sentimento de
oposição política assumia a fisionomia explícita de revanchismo. O Rio Madeira de
Manicoré, por exemplo, fazia oposição ao ex-prefeito Coronel Sabino Maria Santanna.
Diz sobre ele – agora despido do poder da prefeitura – que era
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No que diz respeito aos jornais do sertão amazônico, eram mais importantes para
o noticiário os fatos políticos do que as doutrinas políticas. Os fatos apareciam
diretamente vinculados ao nome de alguma autoridade e à curiosidade gerada por aquilo
que pode ser chamado de “blame gossip” ou fofoca danosa (ELIAS, 2000). Um exemplo
disso é aquilo que é apresentado constantemente como a vida dissoluta da autoridade, seu
caráter repugnante e sua moral combalida. O jornal O Manicoré descrevia o Intendente
Municipal como uma figura envaidecida, incapaz de buscar as instruções necessárias para
o progresso local e mesmo um patrocinador de “defloramentos” feitos pelos seus
familiares, numa clara intencionalidade fofoqueira:
Mas com a orientação dos que se dizem influentes na situação dominante que
atravessamos e que em verdade dizemos, não sabemos quem o são, o cargo de
autoridade policial não passa de um instrumento amoldável à satisfação de baixas
paixões daqueles que manejam tal personalidade, em oscilação entre dedos, como
se fosse um delgado e flexível junco (Correio de Serpa, 1 de maio de 1913, p. 1)
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2. Elementos sociais
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Vários jornais locais anunciavam estes eventos sociais rarefeitos, ocasiões para os
flertes que não raramente resultavam em relacionamentos celebrados pelos colunistas. O
Correio de Manicoré, em sua edição de 4 de fevereiro de 1900, anunciava encontros,
soirées, bailes e, em geral, notícias sobre a vida social de uma elite em processo de
construção política e social. Pode-se sugerir que o jornal teatralizava a aparição desta elite
que orbitava em torno do coronel e ajudava a assegurar a sua posição de destaque.
Contudo, ao mesmo tempo ele se referia ao gestual, aos hábitos e mesmo às maneiras
necessárias para se comportar nas circunstâncias distintas, indicando que não bastava para
um homem ser instruído, já que, sem maneiras delicadas e corteses “lhe falta a simpatia
que é o grande privilégio das almas nobres e afetuosas, e tanto quanto a simpatia, falta-
lhe a sinceridade dos corações generosos” (O Manicoré, setembro de 1907, p. 1). Em
outros casos relatados por jornais, ficava patente o caráter licencioso das festas, mais na
esteira das festas embriagadas observadas por Charles Wagley, quando a ‘branquinha’
permitia um relacionamento mais desbragado:
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Outra instituição que, na linguagem dos jornais, aparecia vinculada à luta pela
melhor condição de vida do trabalhador foi a Maçonaria, que se apresentava como uma
aliada do progresso refletindo ideias ora socialistas e ora espíritas. Em particular numa
dessas cidades, Parintins, os jornais foram predominantemente maçônicos. O Jornal O
Tacape referia-se em todas as suas edições, numa coluna especial, às reuniões da
Maçonaria – um tema que aparecia como controverso frente aos poderes católicos já
entranhados na Amazônia através de séculos de atividade missionária. O jornal
mencionava a “Comemoração do 1o. de maio: A maçonaria e o proletariado”, em texto
que descrevia o sentimento de solidariedade dos maçons diante dos trabalhadores,
mesclando o discurso da libertação do trabalhador com a luta contra o Capital (O Tacape,
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Considerações finais
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para a vida econômica brasileira. Ao mesmo tempo, buscavam reforçar o seu poder e
prestígio no cenário local através da palavra letrada. É também neste contexto que se
multiplicam jornais de cunho nativista, dirigindo-se para um público ainda incipiente,
quer dizer, cujas práticas de leitura não eram regulares ou sequer se manifestavam com
vigor.
Estes jornais interioranos misturaram o apelo patriótico à luta pela posse da
autoridade municipal, verdadeiro núcleo de poder nas periferias amazônicas. Além de um
retrato dessas disputas de poder provincianas, eles serviram de vitrine para a vida social
local, tornando nítido o afluxo de elementos recentes, sobretudo imigrantes, na
constituição de grêmios e clubs, buscando, contudo, afastar de si o estigma sertanejo da
miscigenação, da herança indígena ou da barbárie seringalista.
Pode-se constatar que o crescimento das elites e a multiplicação de jornais
acompanhou de perto o ciclo de borracha, com o consequente afluxo de produtos
comerciais e crescimento econômico das periferias. Na medida em que ainda pouco
experientes para lidar com o crescimento de opiniões dispersas e muitas vezes
rivalizantes, estas autoridades municipais podiam recorrer à intervenção do delegado,
diretamente vinculado à Intendência Municipal, para “estancar a sangria” das opiniões
diversas.
Referências bibliográficas
Correio de Serpa, Folha independente dedicada aos interesses locais. Itacoatiara, 1912.
DAOU, Ana Maria. A cidade, o teatro e o ‘Paiz das seringueiras’. Rio de Janeiro: rio´s Books,
2014.
FAORO, Raymundo. Os donos do poder. Formação do patronato político brasileiro. São Paulo:
Globo, 2001.
FREIRE, José Ribamar Bessa (Coord.). Cem Anos de Imprensa no Amazonas (1851-1950).
Catálogo de jornais. Manaus: Editora Calderaro, 1990.
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LEAL, Victor Nunes Leal. Coronelismo, enxada e voto. 7a ed. São Paulo: Cia das Letras, 2012.
WITTER, José Sebastião. Partido Republicano Federal (1893-1897) - Coleção Tudo é História,
115. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.
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