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Recebido em 08/06/2011, aprovado em 18/08/2012, disponível em 15/09/2012

Avaliado pelo sistema double blind review


Editor científico: Jorge Katsumi Niyama ISSN: 1984-3925
A Gestão da Demanda na Cadeia de Produção da Indústria de Laticínios: uma Análise dos Problemas e Abordagens para Melhoria

A Gestão da Demanda na Cadeia de Produção


da Indústria de Laticínios: uma Análise dos
Problemas e Abordagens para Melhoria
Contabilidade,
Gestão e Demand Management in Supply Chains of the Dairy
Governança
Industry: Problems and Suggestions for Improvement

Daniela de Castro Melo1, Rosane Lúcia Chicarelli Alcântara2

Resumo

A gestão da demanda é o processo que procura balancear os requerimentos dos clientes com a capacidade de atendimento
da cadeia de suprimentos. O alinhamento da demanda na cadeia de suprimentos enfrenta dificuldades progressivas tais
como a falta de precisão nas informações, que provoca ineficiência no atendimento a clientes, redução do giro de estoque
e alto índice de obsolescência agravada pela grande diversidade de produtos. Este trabalho tem como objetivo identificar
os problemas da gestão da demanda na cadeia de suprimentos do setor de laticínios e propor abordagens de melhoria para
alcançar a efetividade da gestão da demanda no setor. O método de pesquisa foi o estudo de caso em duas indústrias de
laticínios localizadas no estado de Minas Gerais. Deste estudo, conclui-se que a gestão da demanda das organizações em
estudo é afetada por várias questões, que incluem a centralização na formulação da previsão de vendas sem o envolvimento
e compartilhamento das informações; falta de registro sistemático e acurado dos dados para o desenvolvimento das
previsões de vendas; baixo relacionamento com consumidores e varejistas; não utilização de indicadores de desempenho
para monitoria do processo; plano orçamentário de vendas como direcionador chave do planejamento da demanda e falta
de controle dos estoques das lojas varejistas por parte das indústrias. Assim, o desenvolvimento de uma abordagem mais
sistemática e integrada de gestão da demanda na cadeia de suprimento pode resultar na melhoria do serviço prestado ao
cliente, contribuindo para um nível maior de disponibilidade do produto.

Palavras-chave: gestão da demanda, indústria de laticínios, gestão da cadeia de suprimentos.

Abstract

Demand management is the process that seeks to balance the requirements of customers with supply chain response capacity. Alignment
of demand in the supply chain confronts difficulties such as the lack of accurate information that can lead to inefficiency in response to
customers, reduced inventory turnover and high rates of obsolescence compounded by the wide diversity of products. Little information
is available about demand management in food supply chains. In response to this gap in the literature, the study reported here seeks to
identify the problems of demand management dairy industry supply chains and propose ways to improve the effectiveness of demand
management in the sector. Case studies were carried out in two dairies located in the Brazilian state of Minas Gerais. Results show that
demand management by the organizations studied is affected by centralization of the formulation of sales forecasts, which is carried out
without little involvement and sharing information with others; lack of accurate and systematic recording of data for developing the
sales forecast, low level of relationships with consumers and retailers; the fact that performance indicators are not used for monitoring
the process; use of the planned sales as the primary orientation for demand planning; and absence of control of retail store stocks on the
part of the dairy companies. It is concluded that development of a more systematic and integrated approach to demand management in
dairy supply chains can result in improved customer service and contribute to a higher level of product availability.

Keywords: demand management, dairy industry, supply chain management.

1 UFU - daniela_c_melo@yahoo.com.br
2 UFSCar - rosane@dep.ufscar.br

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1 Introdução gestão da demanda na cadeia de suprimentos


do setor de laticínios, considerando como em-
A gestão da demanda é um tema emer- presa focal a indústria de laticínios de médio e
gente no campo de conhecimento da gestão da grande porte? 2) Como esta gestão da demanda
cadeia de suprimentos. O que se busca com a pode ser melhorada?
gestão da demanda é a rápida e adequada inte- O objetivo deste artigo é identificar os
gração das necessidades originadas do mercado problemas da gestão da demanda na cadeia de
na direção dos fornecedores, de modo a balan- suprimentos do setor de laticínios, tendo como
cear e alinhar estrategicamente a demanda com empresa focal a indústria de laticínios de médio
a capacidade operacional ao longo da cadeia de e grande porte, cujas empresas são regionais, e
suprimentos. O alinhamento da demanda na ca- propor abordagens de melhoria para alcançar a
deia de suprimentos enfrenta dificuldades pro- efetividade da gestão da demanda no setor. O
gressivas tais como a falta de precisão nas infor- método de pesquisa foi o estudo de caso em
mações, que provoca ineficiência no atendi- duas indústrias de laticínios localizadas no es-
mento a clientes, redução do giro de estoque e tado de Minas Gerais e, como técnica de coleta
alto índice de obsolescência agravada pela de dados, foram realizadas entrevistas com pro-
grande diversidade de produtos. fissionais destas empresas.
Alguns autores destacaram a necessidade O artigo está estruturado em quatro par-
de pesquisas sobre a gestão da demanda (Ade- tes. Inicialmente, no referencial teórico, são dis-
banjo, 2009; Kaipia; Korhonen; Hartiala, 2006; cutidos aspectos conceituais da gestão da de-
Simatupang; Sridharan, 2002; Taylor, 2006; manda e da gestão da cadeia de suprimentos,
Taylor; Fearne, 2006), após verificarem, por problemas que ocorrem na gestão da demanda
meio de pesquisas empíricas, que a falta de ali- em cadeias agroalimentares, como também uma
nhamento entre oferta e demanda era um pro- breve descrição da indústria de laticínios. Na
blema crônico e caro em várias cadeias de supri- sequência, é apresentado o método de pesquisa.
mentos com perdas devido a desperdícios, à Em seguida, os resultados da pesquisa descre-
falta ou ao excesso de estoques, a baixas mar- vem como é a gestão da demanda na cadeia de
gens de lucro. Para minimizar estas perdas, suprimentos do setor de laticínios das empresas
Taylor (2006) sugere uma abordagem mais sis- pesquisadas, os problemas identificados na ges-
temática e integrada para a gestão da demanda tão da demanda e suas respectivas oportunida-
em cadeias de suprimentos agroalimentares. des de melhorias conforme análise dos casos e
Assim, uma boa gestão da demanda é es- revisão da literatura. Por fim, são apresentadas
sencial para melhorar o desempenho da cadeia as conclusões.
de suprimentos e um pré-requisito para melho-
rar vários aspectos do fluxo do produto como, 2 Referencial Teórico
por exemplo, a programação da produção, ges-
tão de estoques e operações de distribuição. 2.1 A Gestão da Demanda sob a perspectiva
Há pouca informação disponível sobre a da Gestão da Cadeia de Suprimentos
gestão da demanda em cadeias de suprimentos
agroalimentares. São recentes os estudos que A literatura sobre gestão da demanda na
identificam as causas da gestão ineficiente da cadeia de suprimentos inicialmente apareceu
demanda e que propõem abordagens de melho- no contexto de trabalho da amplificação da de-
rias (Adebanjo, 2009; Taylor, 2006; Taylor; Fe- manda. Este tema foi inicialmente apresentado
arne, 2006). Nenhum estudo nacional que por Forrester (1958) e Burbidge (1961), dando
aborda a gestão da demanda em cadeias de su- origem a vários outros estudos em diferentes
primentos agroalimentares foi identificado. cenários e setores industriais.
Neste sentido, buscando contribuir para A amplificação da demanda, também co-
esta lacuna na literatura, este trabalho foca nas nhecida por efeito chicote, representa distorções
seguintes questões de pesquisa: 1) Como é a na informação da demanda, que se propagam e

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aumentam à medida que se afastam do consu- ços de terceira parte e clientes.


midor, ou seja, os pedidos para os membros Mentzer et al. (2001) definem SCM como
acima na cadeia de suprimentos exibem uma uma coordenação sistêmica e estratégica entre
variação maior que os pedidos reais no ponto as funções tradicionais do negócio (marketing,
de venda do varejo, e a variação dos pedidos vendas, pesquisa e desenvolvimento, previsão,
aumenta à medida que se move para cima na produção, compras, logística, tecnologia da in-
cadeia (Forrester, 1958). formação, finanças e serviços ao cliente) e em-
Vollmann et al. (2004) identificam a ges- presas relacionadas à cadeia de suprimentos,
tão da demanda como um interface chave entre com o objetivo de melhorar o desempenho, a
as atividades de produção da empresa, sistemas longo prazo, das companhias individuais e da
de planejamento e controle, e o mercado. Eles cadeia de suprimentos como um todo.
definem seu escopo como atividades que va- Gestão da cadeia de suprimentos para o
riam de previsão a converter os pedidos dos Global Supply Chain Forum (GSCF) significa a in-
clientes em datas de entrega e como um meca- tegração dos processos chaves de negócio desde
nismo de equilibrar oferta e demanda. o usuário final até o fornecedor original que
A importância da gestão da demanda provê produtos, serviços e informações que
tem sido reconhecida na literatura de gestão de agregam valor para os clientes e outras partes
operações e gestão da cadeia de suprimentos. interessadas (Croxton et al., 2008; Lambert, 2004;
Segundo Mentzer et al. (2007), a gestão da de- Lambert; Cooper, 2000; Lambert, Cooper, Pagh,
manda é a criação de um fluxo coordenado de 1998). Nesta visão, o modelo de gestão da cadeia
demanda entre os membros da cadeia de su- de suprimentos proposto pelo GSCF é baseado
primentos e seus mercados. Os autores ressal- na integração de oito processos chaves de negó-
tam alguns pontos que estão implicados nesta cios das empresas, por meio de suas cadeias de
definição. O primeiro deles refere-se à função suprimentos (Lambert, Cooper, Pagh, 1998).
tradicional de Marketing que estabelece a de- Entre os processos para a gestão da cadeia
manda de vários produtos, mas geralmente de suprimentos propostos pelo GSCF está a ges-
não compartilha o plano de demanda com ou- tão da demanda, que é o processo que procura
tras funções internas à empresa, muito menos balancear os requerimentos dos clientes com a
com outras empresas na cadeia de suprimen- capacidade de atendimento da cadeia de supri-
tos. Além disso, a gestão da demanda implica mentos. Neste sentido, o processo produtivo
na análise da contribuição de vários produtos e deve ser desencadeado com base nas necessida-
clientes, enfatizando demanda para os mais des da demanda e essas necessidades é que de-
rentáveis e diminuindo a demanda, pela redu- vem mobilizar toda a cadeia de suprimentos
ção dos esforços de marketing, para os não lu- (Croxton et al., 2008).
crativos. Por último, um aspecto da gestão da Mentzer et al. (2007) classificam a de-
demanda é a gestão do relacionamento na ca- manda em independente, derivada e depen-
deia de suprimentos que envolve todos os par- dente. A primeira representa a quantidade de-
ceiros com o objetivo de alcançar melhor de- mandada pelo consumidor final; a segunda a
sempenho na cadeia. demanda que é derivada do que outras empre-
Para o Council of Supply Chain Management sas na cadeia de suprimentos fazem para aten-
Professional (CSCMP, 2009), a gestão da cadeia der a demanda de seus clientes imediatos e, por
de suprimentos, também chamada de Supply fim, a demanda dependente é a demanda por
Chain Management (SCM), engloba o planeja- componentes do produto.
mento e o gerenciamento de todas as atividades Assim, a gestão da demanda é um aspecto
envolvidas com a aquisição e suprimento, trans- da gestão da cadeia de suprimentos. Engloba as
formação e atividades de geren­cia­mento logís- funções tradicionais de marketing, como tam-
tico. Isso inclui a coordenação e colaboração bém a coordenação das atividades de marketing
com os membros da cadeia, que podem ser for- com outras funções na empresa e na cadeia de
necedores, intermediários, provedores de servi- suprimentos. Também abrange o planejamento

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da demanda que é o fluxo coordenado da de- do planejamento e gerenciamento conjunto dos


manda derivada e dependente pelas empresas processos e compartilhamento de informações
na cadeia de suprimentos. Por sua vez, o plane- (Seifert, 2003).
jamento da demanda inclui a gestão de previsão O CPFR visa a facilitar a colaboração entre
de demanda que se preocupada com a demanda as empresas, principalmente no que se refere à
independente, que ocorre em qualquer cadeia previsão de vendas. Seu sucesso dependerá de
de suprimentos (Mentzer et al., 2007). questões como a existência de processos inter-
Segundo Croxton et al. (2008), os objetivos nos às empresas bem estruturados e operacio-
do processo de gestão da demanda consistem nalizados, bem como o estabelecimento de uma
em determinar a previsão de vendas, sincronizá- sólida relação entre as empresas parceiras (Pi-
-la com a capacidade produtiva da empresa e da res, 2009). Assim, a integração interna forma a
cadeia, incorporar a estratégia da organização e base na qual a integração entre clientes e forne-
mapear as necessidades dos consumidores. cedores se desenvolve. A integração interna re-
Para Mentzer et al. (2007), empresas que fere-se a departamentos e funções dentro de
são efetivas na previsão de vendas e na elabora- uma organização, que funcionem como parte
ção do plano de negócios iniciam com o pro- de um processo integrado, enquanto que a inte-
cesso de previsão de vendas. A previsão de ven- gração externa reconhece a importância de esta-
das é uma projeção para a demanda esperada belecer relacionamentos próximos e interativos
no futuro, dado um conjunto de condições am- com clientes e fornecedores. Sem esta integra-
bientais. Dadas as condições econômicas e com- ção interna, as empresas são incapazes de obter
petitivas e planos iniciais de marketing, vendas, todos os benefícios dos esforços desenvolvidos
produção e logística, uma projeção para a de- entre as empresas (Flynn; Huo; Zhao, 2010).
manda esperada no futuro é feita. Desta base, o Para Lee (2004), o alinhamento externo
plano de negócios pode ser desenvolvido. com fornecedores, clientes e parceiros de negó-
Assim, se o plano de negócios resultante cios é um dos três pilares da cadeia de supri-
não estiver alinhado com as necessidades e ob- mentos. Van Hoek e Mitchell (2006) e Gimenez
jetivos financeiros da empresa, retorna-se à (2006) defendem que o alinhamento tem que
previsão de vendas e examina-se que esforços iniciar internamente à empresa, pois a maioria
adicionais de marketing ou vendas podem ser das iniciativas para a gestão da cadeia de supri-
tomados para aumentar a previsão da demanda mentos depende de uma abordagem interfun-
e quais esforços adicionais das áreas de produ- cional com a participação ativa de várias fun-
ção ou logística podem ser tomados para au- ções organizacionais.
mentar a capacidade para o nível necessário Alguns autores reconhecem que diferen-
para alcançar o plano de negócios. Garantindo, tes formas de CPFR podem existir entre clientes
portanto, um plano de negócios baseado nas re- e fornecedores (Danese, 2007; Larsen; Thernoe;
alidades financeiras e de mercado que a em- Andresen, 2003; Seifert, 2003). Para Danese
presa enfrenta, nas capacidades logísticas e de (2007), quando as empresas implantam o CPFR
produção, e da cadeia de suprimentos (Ment- com o objetivo de reduzir custos, a colaboração
zer et al., 2007). é limitada a dados de comunicação (troca de in-
Croxton et al. (2008) sugerem o CPFR formações de previsões de pedidos de ressupri-
(Collaborative Planning, Forecasting, and mento, níveis de estoque, planos de vendas).
Replenishment - Planejamento, Previsão e Repo- Por outro lado, se as empresas colaboram com o
sição Colaborativos) e o VMI (Vendor Managed objetivo de tornar a cadeia mais ágil às respos-
Inventory - Gerenciamento do Estoque pelo For- tas das mudanças da demanda, além da troca
necedor) como procedimentos de previsão de de informações, as empresas sincronizam seus
vendas e ressuprimento entre os agentes da ca- planos e gerenciam as exceções.
deia de suprimentos. O CPFR é uma iniciativa Barratt e Oliveira (2001) citam como bene-
entre os agentes da cadeia de suprimentos com fício da implantação do CPFR entre os agentes
objetivo de melhorar o relacionamento por meio da cadeia de suprimentos: ciclos de pedidos

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mais previsíveis; entregas mais frequentes; • posse do inventário: define de quem é a


maior acuracidade e disponibilidade das infor- responsabilidade dos custos de capital
mações; melhoria do nível de serviço ao cliente; de estoque, estocagem e obsolescência;
redução da falta ou excesso de estoque; maior • compartilhamento de informações: re-
giro de estoque; melhoria do relacionamento in- fere-se a quanto de visibilidade dos ní-
terno e externo das empresas. Além disso, Vi- veis atuais de inventário e de informa-
valdini, Souza e Pires (2008) destacam que o ções de demanda futura do cliente são
CPFR permite melhor definição do ponto de re- disponibilizadas pelo cliente. Em um
posição de estoque; define regras para vendas extremo, as informações são disponíveis
esporádicas e limitadas; evita estoque negativo; em tempo real, em outro são agendadas
gera confiabilidade no sistema de informações; visitas e enviados relatórios e previsões;
melhora os pedidos de abastecimento do ponto
• tecnologia de informação: que configu-
de venda; aprimora as informações de campa-
ração de tecnologia de informação o for-
nha e promoções; ajuda na divulgação e infor-
necedor utiliza para gerenciar o estoque;
mações sobre novos produtos.
Silva (2010) ressalta a importância de re- • acompanhamento dos níveis de estoque
definir as relações entre os parceiros, avançando e processamento do pedido: frequência
de aspectos puramente transacionais para par- periódica ou contínua, cujo fornecedor
cerias mais interativas que visem a ganhos para monitora os níveis de inventário para
ambas as partes e que possam atender às reais processar o pedido de ressuprimento;
necessidades do cliente final. Este autor propõe • decisão de reabastecimento: refere-se à
a utilização de parcerias como o VMI (Vendor flexibilidade dada ao fornecedor para
Managed Inventory - Gerenciamento do Estoque decidir a quantidade e o período de
pelo Fornecedor) abastecimento;
Para Saab Júnior e Corrêa (2008), o VMI • decisão de distribuição: define a respon-
atribui ao fabricante a tarefa de gerenciar o sabilidade pela distribuição.
elo imediatamente a jusante da cadeia de su-
primentos, determinando quando e quanto de Claassen, Van Weele e Van Raaij (2008)
cada produto deve ser enviado ao seu cliente confirmaram que o VMI aplica-se a um conjunto
imediato. Silva (2010) considera que não diversificado de produtos e padrões de demanda.
existe uma fórmula para implantar efetiva- Os autores ressaltam que existe um envolvi-
mente o VMI nas empresas e que estas devem mento maior do cliente quando o VMI é implan-
avaliar os riscos e possíveis benefícios advin- tado para produtos estratégicos, fornecendo to-
dos da iniciativa. das as informações necessárias. No entanto, se o
Segundo Elvander, Sarpola e Mattsson VMI for aplicado para produtos menos estratégi-
(2007), a utilização de diferentes práticas cola- cos, verifica-se que o cliente espera que o forne-
borativas e estratégias de parceria levam a dife- cedor assuma a responsabilidade de toda a ges-
renças significativas da forma como operam tão de estoque sem o seu envolvimento.
sistemas VMI. O resultado dessas diferenças A implantação efetiva do VMI requer in-
influencia nos riscos, benefícios e desafios antes terações inter e intraempresas, pois informações
e após a implantação para os fornecedores e acuradas e atualizadas de demanda necessitam
clientes. Neste sentido, estes autores propõem ser compartilhadas entre as áreas de Marketing
sete elementos considerados como as princi- e Suprimentos do cliente, como também com a
pais dimensões para a diferenciação entre siste- área de Planejamento do fornecedor. As infor-
mas VMI: mações compartilhadas com o fornecedor in-
• localização do inventário: pode estar cluem níveis de estoque, previsões de demanda,
distribuído no cliente e no fornecedor; planos de produção e atividades promocionais.
no armazém do cliente ou de terceiros; Assim, a função do cliente é fornecer informa-
ou na linha produtiva do cliente; ções ao fornecedor para auxiliá-lo nas decisões

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de ressuprimento que irão beneficiar os dois sendo necessários outros fatores como, por
elos (Claassen; Van Weele; Van Raaij, 2008). exemplo, estratégia, resultando em comparti-
Para Silva (2010), ao optar por iniciar par- lhamento de visão, objetivos e suporte opera-
cerias como o VMI, deve-se considerar que a na- cional nas medidas de desempenho na cadeia
tureza de acordos de colaboração na gestão de de suprimentos. Além disso, segundo Bailey e
inventários muda ao longo do tempo, além de Francis (2008), não há mecanismos de controle e
aspectos relacionados a avanços tecnológicos, feedback das situações que causam as distorções
cada vez mais frequentes. Dessa forma, as em- da demanda.
presas devem priorizar a reavaliação periódica Holweg et al. (2005) e Geary, Disney e To-
das parcerias e propor acordos colaborativos will (2006) apontam que, apesar do fenômeno
mais eficientes. da amplificação da demanda ser bem conhecido
No próximo tópico são discutidos os pro- há muitos anos e ter várias soluções disponí-
blemas identificados na Gestão da Demanda em veis, muitas empresas ainda têm dificuldade
cadeias agroalimentares. para lidar com este efeito. Baljko (1999) reco-
menda o trabalho conjunto entre os membros
2.2 Problemas que ocorrem na gestão da da cadeia para determinar a possível causa do
demanda em cadeias agroalimentares efeito por meio das parcerias estratégicas, além
da utilização de tecnologia de informação, que
Muito se tem discutido sobre a gestão da permita aumentar a velocidade de comunicação
cadeia de suprimentos. Porém, ainda são identi- e reduzir o tempo de resposta (lead time).
ficadas algumas dificuldades em sua implanta- O objetivo da gestão da cadeia de supri-
ção. Segundo Fawcett e Magnan (2002), apesar mentos é sincronizar oferta e demanda bus-
dos benefícios da integração e colaboração entre cando a redução dos custos e melhoria na satis-
os membros da cadeia de suprimentos, poucas fação dos clientes (Christopher; Towill, 2001).
empresas alcançam o potencial da integração: Assim, o nível de distorção da demanda pode
cerca da metade das firmas pesquisadas estão ser um indicador de efetividade na cadeia de
trabalhando com a integração dentro da em- suprimentos. Porém, segundo Taylor (2006), o
presa, um terço das empresas focam seus esfor- direcionador chave do planejamento da de-
ços de integração com os fornecedores do pri- manda é frequentemente mais o plano orça-
meiro nível da cadeia, pouco esforço de integra- mentário de vendas do que a demanda atual
ção entre outros níveis. de consumo.
Segundo Ballou (2006), isto ocorre prova- Segundo Mangini, Moori e Perera (2007),
velmente devido às dificuldades para alcançar as variáveis relevantes da amplificação da de-
colaboração efetiva e algumas limitações como, manda podem ser “causadoras” ou “amplifica-
por exemplo, resistência no compartilhamento doras”. No primeiro caso, as variáveis respon-
de informações. Um fluxo de informação trans- sáveis pelas distorções da demanda são eviden-
parente na coordenação da cadeia de suprimen- ciadas pelo comportamento de compra aleatório
tos pode ser a chave para reduzir as distorções do consumidor final justificadas pela incerteza
da demanda (Baljko, 1999; Lee; Padmanabhan; da demanda e variação de preço. Essas variá-
Whang, 1997; Paik; Bagchi, 2007). veis estão fortemente relacionadas aos consumi-
Bailey e Francis (2008) analisaram as prá- dores finais que procuram produtos de baixo
ticas de colaboração entre os agentes em dez ca- preço e promoções efetuadas pelos varejos.
deias agroalimentares. Mesmo diante de um Por outro lado, a principal variável ampli-
alto nível de transparência de informações, ficadora é a falta de compartilhamento de infor-
abertura e confiança entre os agentes, ainda mações entre as empresas, gerando desequilí-
existe uma distorção significativa da demanda. brio dos estoques. Os fabricantes de alimentos
Os autores reforçam que apenas o compartilha- não têm uma percepção clara do consumidor
mento de informações não é suficiente para di- final e planejam a produção orientada por pre-
minuir o efeito da amplificação da demanda, visões e não pela demanda, afetando a gestão

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da cadeia de suprimentos por meio da manufa- gamentos sobre quanto produzir, ou fazem em
tura e entregas urgentes de produtos (Mangini; conjunto com o cliente mais próximo a mon-
Moori; Perera, 2007). tante da cadeia.
Para Croxton et al. (2008), o processo de A coleta de dados deve compreender um
formulação da previsão deve envolver diversas número significativo de fontes que ofereçam
áreas da empresa. As previsões devem ser comu- dados confiáveis. A coleta, portanto, torna-se
nicadas internamente para outras áreas que são uma das atividades mais importantes para a
afetadas por elas. Além disso, a empresa precisa construção da previsão (Croxton et al., 2008).
determinar que dados serão compartilhados com Segundo Taylor (2006), a especificação clara dos
outros membros da cadeia de suprimentos. dados requeridos e o estabelecimento de siste-
Segundo Taylor (2006) e Taylor e Fearne mas para coletar estes dados são pré-requisitos
(2006), a gestão da demanda é fator crítico im- para desenvolver uma abordagem mais sincro-
pactando a eficiência de toda a cadeia e emerge nizada para a gestão da demanda.
como uma das áreas com grande potencial de A literatura da gestão da cadeia de supri-
melhoria. Nas cadeias agroalimentares estuda- mentos frequentemente sugere que a demanda
das por estes autores, houve variabilidade da no ponto de consumo deve ser um direcionador
demanda no ponto de consumo. Algumas das chave para toda a cadeia de suprimentos. Porém,
razões da variabilidade é resultado da atividade em nenhuma das cadeias estudadas por Taylor
promocional e de causas naturais como os pa- (2006) e Taylor e Fearne (2006) os dados do ponto
drões de consumo sazonal ou flutuações a curto de vendas foram transferidos mais do que para o
prazo como as influências do tempo. fornecedor imediato do varejo. As pesquisas
Assim, Croxton et al. (2008) propõem que a identificaram a necessidade de todos os elos da
gestão da demanda deve incluir a identificação cadeia trabalharem em conjunto para que os da-
de formas de reduzir a variabilidade da demanda dos se tornem acessíveis mais rapidamente e
e aumentar a flexibilidade em reagir com mais ra- mais amigáveis para as organizações a jusante na
pidez em situações imprevisíveis. A cadeia de su- cadeia. Há necessidade de desenvolver diretrizes
primentos que melhor conseguir reduzir incerte- coordenadas para a produção, estoque e entrega
zas e variabilidade alcançará vantagem competi- ao longo de toda a cadeia, baseado na demanda
tiva. O aumento da flexibilidade pode influenciar de consumo do que em previsões orçamentárias.
a confiabilidade, qualidade, custo e rapidez do Para Croxton et al. (2008), os resultados do
processo, mas é preciso determinar quanto de fle- processo de gestão da demanda promovem im-
xibilidade é necessário. Para isto, é importante pactos na sustentabilidade financeira da em-
compreender as necessidades do cliente, os pa- presa. Seria conveniente, portanto, mensurar
drões de demanda e as capacidades em toda a esta influência, por intermédio de uma estrutura
cadeia de suprimentos. Uma vez compreendido de indicadores para medir e monitorar o seu de-
quanto de flexibilidade aumentar, deve-se procu- sempenho, além de continuamente estabelecer
rar formas de alcançá-la. Isto envolve um traba- objetivos para a melhoria de desempenho.
lho conjunto com outras funções da organização, Geralmente, a produção agrícola tem lon-
como também com clientes e fornecedores para gos lead times. Para Taylor (2006), uma previsão
determinar onde, na cadeia de suprimentos, exis- conjunta a longo prazo com os produtores ru-
tem oportunidades de aumentar flexibilidade. rais, indústrias e varejistas para um período de
Para Taylor (2006) e Taylor e Fearne tempo determinado pelo ciclo de crescimento
(2006), há falta de alinhamento entre a produ- do produto seria um passo importante em aju-
ção agrícola e a demanda do consumidor. Em dar a ligação da produção rural com a demanda
nenhuma das cadeias estudadas os varejistas no ponto de consumo.
forneceram previsões de demanda a longo Taylor (2006) sugere no Quadro 1 diretri-
prazo que poderiam ajudar nas decisões de vo- zes e estratégias que podem fornecer oportuni-
lume nos processos de produção rural. Ao in- dades para a melhoria em muitas cadeias de
vés, produtores rurais fazem seus próprios jul- suprimentos agroalimentares.

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Quadro 1 - Sugestões de melhorias para a Gestão da gestão da demanda na cadeia de suprimentos


Demanda em cadeias agroalimentares. da indústria de laticínios. O próximo tópico
apresenta este setor.
- Melhoria dos sistemas de manuseio de informação

inter e intraempresas. Isto poderia reduzir os custos
administrativos e reduzir os erros e retrabalhos no 2.3 A indústria de laticínios
processamento de pedidos.
- Definição clara dos dados relevantes requeridos A Figura 1 ilustra a forma como a cadeia
para a gestão da demanda, seguidos de um registro agroindustrial do leite se organiza. O setor de
sistemático e acurado destes dados numa base
contínua. Dados consistentes e confiáveis de vendas produção de leite adquire seus insumos (rações,
entre os parceiros da cadeia, padrões de solicitação de medicamentos, máquinas e implementos, servi-
pedidos e níveis de estoque como pré-requisitos para ços dos trabalhadores, etc.) do setor de insumos
uma gestão de demanda mais efetiva e integrada. e produz leite fluido. Este produto é ordenhado
- Desenvolvimento e uso de uma previsão única para mecanicamente e armazenado em tanques de
uso de toda a cadeia de suprimentos. O ideal seria
que a previsão fosse desenvolvida em conjunto com
resfriamento na própria propriedade rural,
representantes de todas as empresas da cadeia ou, no
mínimo, que todos concordassem e usassem como
base para o planejamento de capacidade e recursos Quadro 2 - Desafios da gestão da demanda em cadeias
entre toda a cadeia. de suprimentos agroalimentares.
- Desenvolver uma previsão a longo prazo em conjunto
para conectar os planos de produção rural no tempo - Apesar do fenômeno da amplificação da demanda ser
de plantio com a demanda de consumo antecipada no bem conhecido há muitos anos e ter várias soluções
tempo de colheita. disponíveis, muitas empresas ainda têm dificuldade
para lidar com este efeito, que resulta em excesso de
- Desenvolvimento de diretrizes para reduzir a
estoque, diminuição da disponibilidade do produto,
variabilidade da demanda na cadeia.
dificuldades no planejamento de recursos, aumento
- Variabilidade aumenta a jusante devido ao efeito da da produção e nos custos de entrega, e baixo nível
amplificação da demanda e às diretrizes de promoção. de serviço.
Estes efeitos são gerados internamente ao longo
- Somente um fluxo de informação transparente na
da cadeia de suprimentos e, por isso, controláveis
coordenação da cadeia de suprimentos não reduz
pelo gerenciamento. A redução da variabilidade
os efeitos das distorções da demanda. É necessário
da demanda a jusante terá benefícios significativos
o compartilhamento de visão, objetivos e suporte
para as empresas em termos de redução da gestão de
operacional nas medidas de desempenho com os
estoques, planejamento mais consistente de recursos e
elos chave na cadeia de suprimentos.
melhoria da eficiência da produção e entrega.
- Necessidade de medir a efetividade dos processos de
- Avaliação do impacto das diretrizes promocionais.
gestão da demanda nas empresas.
A análise de seus efeitos na dinâmica da cadeia
de suprimentos pode, no mínimo, fornecer uma - O planejamento da demanda é frequentemente
indicação clara dos custos e problemas reais. uma proliferação de arquivos não coordenados de
diferentes pessoas/departamentos nas empresas.
- Atenção para os padrões de solicitação de pedidos
diários ao longo dos ciclos de negociações semanais - Geralmente uma ou duas pessoas são responsáveis
e do tempo de transmissão entre varejistas e por fazer as previsões, ninguém mais entende como
fornecedores. Isto poderia afetar significantemente elas foram desenvolvidas, somente as aceitam.
os custos evitando um volume de produção maior - A maioria dos fornecedores de alimentos ignora as
e perda de produto, ou um volume de produção previsões dos varejistas.
menor e aumento dos custos devido às horas extras - Vários dados são coletados, frequentemente sem
de trabalho ou entregas emergenciais. nenhuma razão clara do porquê estão sendo
coletados.
Fonte: Adaptado de Taylor (2006).
- A perda de tempo no envio dos pedidos diários dos
varejistas para os fornecedores causa uma produção
Melo e Alcântara (2009) sintetizam os de- maior ou menor resultando em custos desnecessários
safios na gestão da demanda em cadeias de su- e perdas.
primentos agroalimentares (Quadro 2). - O direcionador chave do planejamento da demanda é
Diante dos problemas que ocorrem na frequentemente o plano orçamentário de vendas do
que a demanda atual de consumo.
gestão da demanda em cadeias agroalimenta-
res, discutidos neste tópico, este artigo analisa a Fonte: Melo e Alcântara (2009).

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A Gestão da Demanda na Cadeia de Produção da Indústria de Laticínios: uma Análise dos Problemas e Abordagens para Melhoria

sendo depois transportado por meio de cami- da Instrução Normativa 51 (IN 51), em processo
nhões-tanque até as empresas de processamento de implantação desde 2005. Esta instrução esta-
de leite (laticínios), onde são elaborados produ- belece regulamentos de produção, identidade e
tos para o mercado doméstico. qualidade do leite, da coleta e transporte a gra-
A produção brasileira de leite tem cres- nel do leite cru, e exige análises mensais do leite
cido substancialmente desde o final da década de cada fornecedor nos laboratórios credencia-
de 1998: entre 1998 e 2007 houve crescimento de dos pela Rede Brasileira de Laboratórios de
40%, passando de 18.694 bilhões de litros para Controle da Qualidade do Leite, sendo mantido
26.134 bilhões de litros. Geograficamente, a pro- um cadastro dos fornecedores de cada empresa
dução brasileira distribui-se por todo o territó- (Aguiar, 2009).
rio nacional. Porém, quase dois terços da pro- Na indústria de laticínios há muitas em-
dução ocorrem apenas nas regiões Sudeste e presas dividindo o mercado e entre elas encon-
Sul. Entre os principais estados produtores, tram-se empresas multinacionais, nacionais e
destacou-se, em 2007, o estado de Minas Gerais, cooperativas. Num mercado concentrado, em-
com aproximadamente 27% da produção nacio- presas multinacionais detêm uma grande par-
nal, além de Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás, cela do mercado como Nestlé, Parmalat, Da-
cada um com pouco mais que 10% da produção none, Fleischmann Royal, possuindo altos
brasileira. Dentro do Estado de Minas Gerais, a investimentos em tecnologia, marketing, pro­
mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Para- dução, entre outras etapas da cadeia produtiva
naíba foi responsável, em 2007, por 22% da pro- e da distribuição.
dução de leite do estado (CNPGL, 2009).
A qualidade do leite produzido no Brasil 3 Metodologia
melhorou substancialmente nos últimos 10 anos
devido, principalmente, às ações de laticínios Neste artigo, foi empregado o método es-
privados e de cooperativas, junto aos pecuaris- tudo de caso. De acordo com Yin (2005), a apli-
tas, orientando e incentivando a melhoria da cação de estudo de caso implica na investigação
qualidade; e à adoção de formas de pagamento empírica de elementos que entremeiam um fe-
que oferecem bonificações de acordo com o vo- nômeno e seu contexto. Focaliza acontecimen-
lume e a qualidade do leite. A qualidade do leite tos contemporâneos e busca descrever “como?”
deve melhorar ainda mais com a disseminação e “por quê?”, ou seja, citar as características das

Figura 1 - Organização típica da cadeia agroindustrial do leite.


Fonte: Adaptado de Aguiar (2009).

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Daniela de Castro Melo, Rosane Lúcia Chicarelli Alcântara

ações e as razões para tais elementos incorpora- 3.2 Preparação, coleta e análise
rem essas características.
Para o desenvolvimento deste trabalho, Foram pesquisadas duas indústrias de la-
seguiu-se cada uma das fases propostas por Yin ticínios de médio e grande porte. As caracterís-
(2005): definição e planejamento; preparação, ticas destas empresas podem ser visualizadas
coleta e análise; análise e conclusão. no Quadro 3.
Esta pesquisa foi conduzida por entrevis-
3.1 Definição e planejamento tas semiestruturadas com gestores das indús-
trias de laticínios conforme Quadro 4.
Nesta fase foram definidos o tema, os pro- As questões do roteiro de entrevista foram
blemas e o objetivo da pesquisa. Foi realizado o elaboradas com base na revisão da literatura e
levantamento teórico, buscando na literatura estruturadas em tópicos conforme Quadro 5.
brasileira e internacional estudos sobre gestão As entrevistas foram conduzidas nos meses
da cadeia de suprimentos, gestão da demanda e de novembro e dezembro de 2009. Na primeira
sobre o setor de laticínios. Ainda nesta fase, foi semana, foi realizada uma visita técnica na indús-
definida e desenvolvida a técnica de coleta de tria B com o objetivo de compreender todo o pro-
dados para a realização das entrevistas nas in- cesso da produção de leite e derivados desde o
dústrias de laticínios. Foi elaborado um roteiro fornecimento até a chegada no varejo (supermer-
de entrevista baseado nos objetivos deste traba- cados individuais e redes supermercadistas).
lho e por meio das informações coletadas na re- Neste período, também foi realizada a entrevista
visão da literatura. com o chefe do setor industrial desta empresa.

Quadro 3 - Informações das empresas pesquisadas.

Indústria Empresa A Empresa B


Localização Minas Gerais Minas Gerais
Porte Grande Médio
Faturamento médio
R$ 120 milhões R$ 45 milhões
anual
Estrutura organizacional Cooperativa Cooperativa
Volume de leite captado
230.000 litros (safra) 120.000 litros (safra)
por dia
Queijos, fermentados (iogurtes),
manteiga, requeijão, doce de leite, Queijos, fermentados (iogurtes), manteiga, requeijão,
Produtos
leite pasteurizado, leite longa doce de leite, leite pasteurizado, leite longa vida.
vida, leite achocolatado.
Triângulo Mineiro (MG), Alto Paranaíba (Minas
Mercado de atuação Triângulo Mineiro (MG)
Gerais), cidades do interior do estado de São Paulo.

Fonte: Elaboração própria.

Quadro 4 - Relação dos entrevistados nas indústrias de laticínios.


Número de Função desempenhada
Empresa Cronograma
entrevistados na empresa
Presidente
Semanas Representante de Vendas
Empresa B 3
1e2
Chefe setor industrial
Gerente de Vendas
Empresa A Semana 3 2
Assistente de Vendas
Fonte: Elaboração própria.

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A Gestão da Demanda na Cadeia de Produção da Indústria de Laticínios: uma Análise dos Problemas e Abordagens para Melhoria

Quadro 5 - Tópicos e itens de cada tópico explorados nas entrevistas.


Tópicos explorados no roteiro
Itens de cada tópico
de entrevista
Ano de fundação, cidade, porte, faturamento, estrutura organizacional,
Informações da empresa
volume de leite captado por dia, produtos produzidos, mercado de atuação.
Agentes envolvidos no processo de previsão de vendas; fontes de informações;
informações utilizadas de cada agente envolvido; frequência com que as
informações são recebidas, frequência com que as previsões são realizadas e
Estrutura de previsão de vendas
modificadas; responsável pela decisão final da previsão de vendas; impacto
da sazonalidade e eventos especiais; análise de erros de previsão; distorções
entre planejado versus realizado.
Sistema atual de previsão de vendas; integração dos sistemas de informação;
Sistema de Informação para o
como as informações de demanda são transferidas internamente e
processo de gestão da demanda
externamente à empresa.
Periodicidade das ordens de produção; lead time; produção puxada versus
Planejamento da produção
produção empurrada.
Planejamento das necessidades Como é realizado o planejamento; áreas responsáveis; frequência de envio
de matérias-primas dos pedidos de compras.
Força de vendas; gestão de promoções no varejo; informações compartilhadas
Relacionamento com o varejo
com o varejo; desenvolvimento de novos varejos.
Relacionamento com o
Desenvolvimento de fornecedores; parcerias.
fornecedor
Problemas / dificuldades Problemas/ dificuldades no processo de gestão da demanda.
Fonte: Elaboração própria.

Na segunda semana, foram realizadas en- cias, conflitos e pontos coincidentes nas afirma-
trevistas com o presidente e com a represen- ções dos respondentes. Na análise dos dados,
tante de vendas da empresa B. Os dados coleta- buscou-se identificar os problemas da gestão
dos foram analisados e foi gerado o relatório da demanda na cadeia de suprimentos do setor
individual desta indústria seguindo os tópicos de laticínios e, com base no referencial teórico,
explorados no roteiro de entrevista. foram propostas suas respectivas abordagens
Nas terceira semana, foram realizadas en- de melhoria.
trevistas na empresa A. Seguindo o mesmo pro- Assim, os resultados da pesquisa foram
cesso da empresa B, os dados coletados foram analisados e apresentados por meio do contra-
analisados e foi gerado o relatório individual da ponto entre teoria e prática, ou seja, da compa-
empresa A, seguindo os tópicos explorados no ração entre a gestão da demanda levantada na
roteiro de entrevista. literatura e a gestão da demanda utilizada por
Após as três semanas, chamadas telefôni- cada empresa, de modo a identificar e analisar
cas e e-mails foram usados para esclarecer al- possíveis vieses.
guma questão que não ficou clara durante a aná-
lise. A duração de cada entrevista foi em média
4 Resultados
de 1 hora e 30 minutos e todas foram gravadas.

Após descrições detalhadas dos casos, o
Os resultados da pesquisa são discutidos
relatório de cada empresa foi enviado para os
conforme os tópicos explorados no roteiro de
entrevistados validarem as informações. As in-
entrevista: estrutura de previsão de vendas; sis-
formações foram recebidas e corrigidas con-
tema de informação para o processo de gestão
forme o feedback dos entrevistados.
da demanda; planejamento da produção; plane-
3.3 Análise e conclusão jamento das necessidades de matérias- primas;
relacionamento com o varejo; relacionamento
O próximo passo foi a análise conjunta com o fornecedor e problemas/ dificuldades no
dos casos, que permitiu identificar divergên- processo de gestão da demanda. Além disso,

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Daniela de Castro Melo, Rosane Lúcia Chicarelli Alcântara

neste tópico são apresentados os desafios da Na empresa A, a previsão é elaborada


gestão da demanda nas empresas pesquisadas e pela gerência de vendas, atualizada e apresen-
as propostas de solução. tada para a diretoria semanalmente, e uma vez
por mês é apresentada ao conselho da empresa.
Estrutura de previsão de vendas Na empresa B, o responsável por este processo
é o presidente da empresa. Nas duas empresas
Na empresa A, o planejamento estratégico não há análise de erros de previsão e das distor-
é formulado no final do ano pelo conselho exe- ções entre planejado versus realizado.
cutivo da empresa, traçando as diretrizes para o A empresa B analisa seu estoque semanal-
próximo ano, nas quais delineiam-se os objeti- mente e, com base no volume disponível, distri-
vos de faturamento para o próximo ano. Con- bui cotas de vendas para os RCAs, conforme o
forme estes objetivos, o orçamento e as previsões potencial de vendas do vendedor (volume e
de vendas são definidos. Com base nestas dire- preço médio vendido) e conforme a região de
trizes, a gerência de vendas é responsável por atendimento. A área comercial informa o preço
desagregar o planejamento em metas de vendas do produto aos representantes e a cota semanal
por produto e por supervisor. São dois supervi- de cada um. Se um determinado representante
sores responsáveis por 24 Representantes Co- necessitar de mais produtos, ele comunica a
merciais Autônomos (RCAs), atendendo os su- área comercial, esta verifica se outros vendedo-
permercados na região do Triângulo Mineiro. res fecharam as cotas. As cotas são zeradas du-
Além de vendedor, o RCA da empresa A rante a semana, de forma que na semana se-
também distribui o produto vendido, tendo cami- guinte haverá uma nova contagem do estoque,
nhão refrigerado próprio e motorista registrado. distribuindo novas cotas. Portanto, não há me-
A empresa A possui vendedores próprios para tas de vendas por RCAs.
atender as redes supermercadistas e alguns super- Para as duas empresas, a principal fonte
mercados tradicionais. Neste caso, a empresa tem de informação para o processo de previsão de
frota própria para distribuir os produtos. Todos os vendas no setor é a sazonalidade. A safra do
demais clientes são atendidos pelos RCAs. leite ocorre na época das chuvas, geralmente de
Na empresa B, o planejamento estratégico novembro a março, e a entressafra na época da
é elaborado pelo presidente da empresa e este seca, de abril a outubro. Esta sazonalidade in-
estabelece a previsão de vendas por produto. A fluencia diretamente o preço do leite (baixo na
empresa possui RCAs que atendem as regiões safra e alto na entressafra). Devido a esta ques-
do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba (Minas tão, ocorrem distorções entre o planejado e o
Gerais) e algumas cidades do interior do estado realizado. Por exemplo, no ano de 2009, a queda
de São Paulo. Diferentemente da empresa A, a no preço do leite pelo excesso de oferta foi ante-
equipe de vendas da empresa B não é responsá- cipada em dois meses em relação ao planejado.
vel pela distribuição. A empresa B está anali- Esta situação provocou a redução do preço final
sando os benefícios de o RCA atuar também dos produtos industrializados e, consequente-
como distribuidor. A empresa possui um RCA, mente, a margem de lucro diminuiu.
que trabalha neste modelo, mas tem a preocu- O consumo em determinados meses do
pação de que, em caso de desligamento deste ano também influencia a previsão de vendas.
profissional, a empresa perderia duas funções. Os produtos refrigerados como mussarela e io-
Nas duas empresas, a previsão de ven- gurtes possuem demanda menor no mês de de-
das é realizada mensalmente, sendo definida zembro porque os supermercados destinam boa
com base no histórico de vendas, na sazonali- parte das gôndolas para bebidas e aves congela-
dade, no produto com maior rentabilidade, no das. Na entressafra, pela redução da oferta de
preço do leite, na capacidade produtiva e na leite, as vendas de mussarela e leite longa vida
capacidade de captação do leite. Não há envol- aumentam porque há uma diminuição do nú-
vimento das lojas varejistas na definição das mero de marcas concorrentes no mercado. No
previsões de vendas. inverno, o consumo de iogurtes também dimi-

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A Gestão da Demanda na Cadeia de Produção da Indústria de Laticínios: uma Análise dos Problemas e Abordagens para Melhoria

nui. Em janeiro, mês de férias, o consumo de Planejamento da produção


leite diminui, aumentando em fevereiro e março
com o retorno das aulas. Assim, é necessária A empresa A terceiriza a produção de al-
uma abordagem de previsão específica para guns produtos devido à limitação da capaci-
cada produto conforme a demanda do mercado. dade produtiva da sua planta. Assim, os pro-
dutos requeijão, achocolatado, e leite longa
Sistema de informação para o processo vida são produzidos por indústrias terceiriza-
de gestão da demanda das e os demais produtos são produzidos na
própria empresa A. As indústrias terceirizadas
Na empresa A, a gerência de vendas produzem e enviam os produtos semanalmente
utiliza planilhas eletrônicas para a realização para a matriz.
da previsão de vendas. Esta planilha é atuali- Na empresa A, a gerência de vendas é
zada mensalmente e enviada por e-mail para as responsável pelo planejamento e programação
áreas de compras e produção. Há um acompa- da produção. As empresas terceirizadas rece-
nhamento semanal, sujeito a alterações, e, com bem a planilha de programação de produção
base nesta planilha, as áreas de compras e pro- mensalmente, com ajustes semanais. O gerente
dução têm definidas as ações. As metas de ven- da indústria é envolvido nesse processo so-
das são enviadas mensalmente por e-mail aos mente quando é necessário aumentar a capaci-
RCAs. Cada representante possui um palmtop dade produtiva.
para registrar os pedidos. Estes são processa- Na empresa B, o presidente é responsável
dos diariamente na própria empresa com a uti- pelo planejamento e programação da produ-
lização do palmtop, gerando os pedidos de se- ção. Elabora o planejamento mensalmente e
paração e expedição. passa para o encarregado da indústria e ele exe-
Assim, o compartilhamento de informa- cuta. Este acompanha os estoques dos produtos
ções na empresa A ocorre por e-mail. As plani- e pode propor alterações na programação diá-
lhas são disponibilizadas na rede da empresa ria da produção. Se determinados produtos
para acesso das áreas de compras, produção, não foram vendidos, o encarregado da indús-
como também da alta gerência e cargos acima. tria comunica ao presidente, e este faz a altera-
Porém, as previsões de vendas não são compar- ção na programação, diminuindo a produção e
tilhadas com os produtores rurais ou com as lo- ou fazendo uma ação de vendas para diminuir
jas varejistas. Desta forma, percebe-se por parte o estoque.
da organização um alinhamento interno, mas As duas empresas trabalham com sistema
não há integração entre empresas. de produção empurrado.
Na empresa B, o presidente também uti-
liza planilhas eletrônicas para a formulação da Planejamento das necessidades de maté-
previsão de vendas e envia mensalmente para rias-primas
as áreas comercial e industrial. As previsões de
vendas não são compartilhadas com os demais Por serem cooperativas, as empresas A e
departamentos da empresa ou com os RCAs B captam todo leite recebido dos produtores co-
ou lojas varejistas. Os estoques são acompa- operados. Geralmente, na safra, o leite que so-
nhados no sistema de informação da empresa, bra após programação da produção é vendido
permitindo a distribuição de cotas aos repre- no mercado spot. Na entressafra, ocorre o con-
sentantes. Alguns RCAs já trabalham com trário, as empresas precisam comprar leite no
palmtop. Todos os pedidos são enviados para a mercado spot.
área comercial. O controle de estoque das embalagens e
Nas duas empresas as metas de vendas demais matérias-primas (por exemplo: açúcar,
são acompanhadas, porém não há um controle sal) nas duas empresas é feito pelo almoxari-
das distorções entre planejado versus realizado, fado. Conforme previsão de vendas e tempo de
além de não haver análise de erros de previsão. fornecimento, as compras são programadas. Há

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Daniela de Castro Melo, Rosane Lúcia Chicarelli Alcântara

fornecedores que estipulam um lote mínimo de tem flexibilidade de oferecer preços diferencia-
compra, implicando na compra de um lote dos ao varejo conforme a negociação.
maior do que o necessário. As redes supermercadistas que a empresa
A atende pela equipe própria de vendas che-
Relacionamento com o varejo gam a exigir até 20% de desconto financeiro e
prazo de pagamento de 45 dias. Assim, muitas
Para as redes supermercadistas, são fir- vezes, a indústria consegue maior rentabilidade
mados contratos que exigem desconto finan- com os negócios dos RCAs, pois a média de co-
ceiro (de até 20%), promotores de vendas nos missão é 8%, o prazo de pagamento é de 14 a 20
varejos, prazos de pagamentos (até 45 dias). dias e não há custos referentes à distribuição.
Quanto maior forem as exigências do varejo, A empresa B disponibiliza aos RCAs uma
maior o custo e, consequentemente, este custo é tabela de preços de vendas diferenciados por
embutido no preço vendido ao varejo. varejo (redes e varejos individuais), por região
As duas empresas possuem promotores (frete) e por volume. A empresa não avalia quais
de vendas para atender às redes e a alguns su- varejos são mais rentáveis para a organização,
permercados locais. Os promotores ficam dis- tratando-os, em sua maioria, de forma homogê-
poníveis na loja durante um período acordado nea. Por outro lado, busca orientar o RCA a
com o supermercado e têm como atividade re- priorizar o cliente que dá maior retorno.
por as mercadorias, fazer o rodízio das datas, Nas duas empresas, quando o varejo de-
deixar o local limpo, fatiar muçarela e fazer seja realizar uma promoção, entra em contato
bandeja. Alguns supermercados exigem em com a indústria solicitando anunciar um pro-
contrato que os promotores auxiliem nas tare- duto. A indústria exige antecedência mínima
fas da loja como, por exemplo, participar no ba- de uma semana para compras além da média.
lanço da empresa, limpar pistas frias, repor al- Quando o varejo não comunica à indústria
guns produtos (mesmo não sendo os produtos uma campanha promocional que deseja reali-
da indústria). zar e reduz o preço de venda do produto, esta
Algumas redes desenvolvem campanhas ação gera insatisfação de outros varejos que
de premiação para os promotores. Se o cliente entram em contato com a indústria exigindo
tiver dúvidas, os promotores orientam. Porém, explicações em relação ao preço vendido para
não conseguem tempo para esta atividade de o concorrente.
abordagem/orientação ao consumidor em fun- A empresa A pode ter uma negociação di-
ção de possuírem várias outras tarefas, disper- ferenciada em casos de promoção e compras
sas em diferentes locais do supermercado, fa- maiores. A flexibilidade do desconto no preço
zendo com que o promotor tenha que se deslo- de venda do produto depende da margem de
car constantemente. Assim, os promotores lucro de cada um. Para os varejos cujo relacio-
possuem dificuldade em dar atenção aos consu- namento com a indústria é mais estreito, ela
midores e atender a suas dúvidas. compra espaço na gôndola e desenvolve cam-
Na empresa A, os promotores de vendas panhas promocionais como, por exemplo, de-
possuem um supervisor que passa diariamente gustações na loja ou, na compra de três litros de
nos varejos. Na empresa B, os promotores não leite, ganha-se uma sacola ecológica.
possuem supervisor, a área comercial é o ponto A empresa B relatou que, em determina-
de contato do varejo para questões relacionadas das situações, algumas redes não cumpriam o
aos promotores. contrato estabelecido, descontando taxas e não
A empresa A disponibiliza aos RCAs uma efetuando o pagamento na data acordada. As-
tabela com opções de preços de venda de cada sim, a empresa B considera que o relaciona-
produto e suas respectivas comissões. Nesta ta- mento com o varejo de médio porte é melhor,
bela, um produto pode ter mais de um preço de pois este cumpre os compromissos assumidos,
venda, porém, quanto maior o preço de venda, tem conduta ética, é de fácil convivência e con-
maior será a comissão do RCA. Assim, o RCA segue um preço de venda melhor.

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A Gestão da Demanda na Cadeia de Produção da Indústria de Laticínios: uma Análise dos Problemas e Abordagens para Melhoria

A empresa A tem dificuldade em aten- de fornecimento de leite de cada produtor e, se


der a novos varejos devido à redução da capta- o produtor fornecer um volume maior que a
ção de leite na entressafra. A empresa B procura média calculada, ele recebe uma bonificação
criar novos mercados, identificando varejos que pelo volume excedido.
tenham interesse num mix de produtos, que re- A empresa B implantou o programa de
presenta maior rentabilidade para a empresa. multiplicação genética, que possibilita avanço
Percebe-se que as duas empresas trans- na qualidade do rebanho de raças leiteiras e,
ferem aos RCAs, ou aos vendedores próprios, a consequentemente, proporciona aumento na
atividade de acompanhar o estoque das lojas produtividade de leite. O programa disponibi-
varejistas, porém sem estabelecimento de al- liza aos produtores locais embriões oriundos de
gum controle formal ou parceria com os clientes matrizes com rigorosa seleção zootécnica e pro-
para gerenciar seus estoques. dutiva. Esses embriões são produzidos pelas
técnicas de transferência de embriões e produ-
Relacionamento com o fornecedor ção “in vitro” e são inoculados em novilhas re-
ceptoras, mantidas numa central específica,
As duas empresas coletam o leite nas fa- onde são selecionadas, de maneira criteriosa, no
zendas em veículos refrigerados. A qualidade que diz respeito à sanidade, nutrição e manejo.
do leite é analisada em laboratório e, conforme Além das condições de pagamentos me-
a quantidade de sólidos do leite (lipídios, car- lhores, a empresa B oferece aos produtores um
boidratos, proteínas, sais minerais e vitaminas), preço diferenciado nas lojas agropecuárias. A
este é direcionado para a produção de determi- indústria também possui supermercado e posto
nados produtos. As empresas orientam os pro- de gasolina para atendimento ao cooperado.
dutores quanto aos cuidados para evitar conta- Por fim, a empresa B financia a compra de equi-
minação, pois se esta for detectada na análise pamentos (tanques de expansão refrigerados) e
laboratorial, o produtor será responsável pelo desconta o valor em folha de pagamento, como
tanque contaminado. também orienta os cooperados a trabalharem
A empresa A incentiva o produtor coope- com outras culturas como, por exemplo, suínos.
rado a aumentar a produção por intermédio de
projetos. Dentre eles, o projeto Balde Cheio, que Problemas / dificuldades
consiste no envolvimento da área técnica, no
qual o agrônomo e o veterinário irão analisar o Para a empresa A, a maior dificuldade é a
processo produtivo do produtor rural e traçar decisão, todo fechamento de quinzena, quanto
um plano de ação para aumentar a produtivi- ao destino do leite que sobra após a produção
dade. Assim, os técnicos acompanham os pla- do que foi programado. A empresa precisa de-
nos de ação conforme cronograma acordado, cidir entre produzir além do planejado ou ven-
orientando o produtor quanto à higienização der o leite no mercado spot. Outra dificuldade
adequada, ao desperdício de produtos, aos gas- é cadastrar um novo produto nas redes super-
tos de energia e de água. Neste projeto, o coope- mercadistas, pois há limitação de mix de pro-
rado arca com os custos. dutos. Marcas fortes já possuem espaço nego-
Além disso, a empresa A possui cinco lojas ciado nas gôndolas.
agropecuárias, nas quais as compras dos produ- A empresa B possui capacidade de produ-
tores são descontadas no repasse aos coopera- ção três vezes maior do que a atual, mas enfrenta
dos, ganhando até 50 dias de prazo para o paga- dificuldades na captação de leite. Para diminuir
mento. Não há um diferencial de preço nestas a ociosidade produtiva, a empresa produz parte
lojas em relação aos concorrentes; o benefício do leite longa vida para a empresa A.
para os produtores é o prazo de pagamento. Outra dificuldade da empresa B é refe-
Na empresa B, para aumentar a captação rente à distribuição dos produtos. Como se trata
de leite, a indústria está desenvolvendo um pro- de produtos perecíveis, as entregas precisam
jeto de bonificação. A indústria calcula a média ser mais frequentes e a quantidade para cada

Contabilidade, Gestão e Governança - Brasília · v. 15 · n. 2 · p. 3 - 22 · mai/ago 2012 17


Daniela de Castro Melo, Rosane Lúcia Chicarelli Alcântara

varejo é menor. A empresa terceiriza 80% da cial não consegue contato com a área de expedi-
frota de veículos para a distribuição dos produ- ção, gerando atrasos na entrega.
tos e, muitas vezes, não tem veículo disponível
para entrega. Neste processo de distribuição, há Propostas de solução
dificuldade de comunicação entre as áreas co-
mercial, expedição e transporte. Após análise e O Quadro 6 sintetiza os desafios identifica-
aprovação do pedido, a área comercial comu- dos na gestão da demanda das empresas em es-
nica, por telefone, à área de expedição o que tudo e propõe soluções que possibilitem melhorar
precisa ser entregue. Muitas vezes a área comer- o desempenho da gestão da demanda do setor.

Quadro 6 - Análise dos desafios da gestão da demanda no setor de laticínios e propostas de soluções.
Desafios da gestão da demanda no
Propostas de solução
setor de laticínios
- O envolvimento dos produtores rurais, indústria
- A formulação da previsão de vendas é centralizada
(funções internas) e varejistas na formulação da previsão
numa única função, não há envolvimento de outras
de vendas seria um passo importante em ajudar a ligação
funções internas à empresa ou agentes (produtor,
da produção rural com a demanda no ponto de consumo
varejo, RCA) da cadeia de suprimentos.
(Croxton et al., 2008; Taylor, 2006; Taylor; Fearne, 2006).
- Necessidade de compartilhar o plano de demanda com
outras funções internas à empresa e empresas na cadeia
de suprimentos (Baljko, 1999; Ballou, 2006; Croxton et
- De formas diferentes, as duas empresas al., 2008; Gimenez, 2006; Mangini; Moori; Perera, 2007;
compartilham a previsão de vendas internamente. Mentzer et al., 2007; Taylor, 2006; Taylor; Fearne, 2006;
Na empresa A, a previsão de vendas se converte Van Hoek; Mitchell, 2006).
em metas de vendas que são compartilhadas com - Desenvolvimento de previsão única para uso de toda
os supervisores de vendas e os RCAs, além da a cadeia de suprimentos e que todos concordassem e
alta gerência. A empresa B disponibiliza cotas de usassem como base para o planejamento de capacidade e
vendas semanais aos RCAs. Porém, nenhuma destas recursos entre toda a cadeia (Taylor, 2006).
empresas compartilha informações de previsão de - Necessidade de estabelecer parcerias como o CPFR:
vendas ao longo da cadeia de suprimentos. troca de informações de previsões de pedidos de
ressuprimento, níveis de estoque, planos de vendas,
sincronização de planos de demanda e gerenciamento de
exceções (Danese, 2007).
- Considerar os impactos da sazonalidade: além do
- Definição clara dos dados relevantes requeridos para a
planejamento para a safra e a entressafra, eventos
gestão da demanda, seguidos de um registro sistemático e
especiais e datas comemorativas também devem ser
acurado destes dados numa base contínua (Taylor, 2006).
considerados na elaboração da previsão de vendas.
- Promotores não têm tempo para abordar/orientar o - A cadeia de suprimentos que melhor conseguir
consumidor em função de possuírem outras tarefas. reduzir incertezas e variabilidade alcançará vantagem
Assim, desempenham mais a função de auxiliares competitiva. Para isto, uma das ações, é compreender as
nas tarefas da loja do que promotores de vendas. necessidades do cliente. Assim, deve-se desenvolver um
relacionamento próximo com varejistas e consumidores
finais com objetivo de alcançar um melhor desempenho
- Com exceção dos varejos que as empresas atendem na cadeia (Croxton et al., 2008).
diretamente, o relacionamento com os varejos são - Desenvolver parcerias como o CPFR (Danese, 2007;
delegados aos RCAs. Larsen; Thernoe; Andresen, 2003; Pires, 2009; Seifert,
2003) e VMI (Elvander; Sarpola; Mattsson, 2007; Saab
Júnior; Corrêa, 2008; Silva, 2010).

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A Gestão da Demanda na Cadeia de Produção da Indústria de Laticínios: uma Análise dos Problemas e Abordagens para Melhoria

(continuação quadro 6)

- Os resultados do processo de gestão da demanda


promovem impactos na sustentabilidade financeira da
empresa. Seria conveniente, portanto, mensurar esta
influência, por meio de uma estrutura de indicadores
- Apesar de desenvolverem vários projetos com
para medir e monitorar o seu desempenho, além de
os produtores rurais com o objetivo de aumentar
continuamente estabelecer objetivos para a melhoria de
a produção de leite, as duas empresas possuem
desempenho (Croxton et al., 2008).
dificuldade de captação de leite na entressafra.
Assim, os projetos poderiam ser atrelados ao planejamento
estratégico da empresa, transformando-os em metas
quantitativas e promovendo o acompanhamento dos
indicadores estabelecidos.
- A coleta de dados deve compreender um número
significativo de fontes que ofereçam dados confiáveis. É
- A variabilidade da demanda é percebida como
importante que se monitore e analise os erros de previsão,
efeito da sazonalidade do setor.
provendo feedback para melhorar os métodos de previsão
(Croxton et al., 2008).
- O direcionador chave do planejamento da demanda
- Necessidade de analisar a demanda atual de consumo
é o plano orçamentário de vendas, tendo como
(Mangini; Moori; Perera, 2007; Mentzer et al., 2007,
prioridade a produção de produtos com maior
Taylor, 2006; Taylor; Fearne, 2006).
rentabilidade financeira.
- Necessidade de estabelecer parcerias como o VMI,
atribuindo ao fabricante a tarefa de gerenciar os estoques
das lojas varejistas. Assim, conforme Elvander, Sarpola
e Mattsson (2007), os parceiros podem definir diferentes
- Desenvolver estratégias de controle do estoque das
práticas relacionadas: à localização do inventário; à posse
lojas varejistas.
do inventário; ao compartilhamento de informações;
à tecnologia de informação; ao acompanhamento dos
níveis de estoque e processamento do pedido; à decisão
de reabastecimento; à decisão de distribuição.
Fonte: Dados da pesquisa; Baljko, (1999); Ballou (2006); Croxton et al. (2008); Danese (2007); Elvander; Sarpola;
Mattsson (2007); Gimenez (2006); Mangini, Moori e Perera (2007); Mentzer et al. (2007); Saad Júnior; Corrêa (2008);
Silva (2010); Taylor, (2006); Taylor e Fearne (2006); Van Hoek; Mitchell (2006).

4 Conclusões Estas questões refletem nos estudos de


Baljko, (1999); Ballou (2006); Croxton et al.
Deste estudo conclui-se que a gestão da (2008); Danese (2007); Elvander; Sarpola; Mat-
demanda das organizações em estudo é afetada tsson (2007); Gimenez (2006); Mangini, Moori e
por várias questões, que incluem a centraliza- Perera (2007); Mentzer et al. (2007); Saad Jú-
ção na formulação da previsão de vendas sem o nior; Corrêa (2008); Silva (2010); Taylor, (2006);
envolvimento e compartilhamento das informa- Taylor e Fearne (2006); Van Hoek; Mitchell
ções com outras funções internas à empresa ou (2006). Assim, estes autores propõem soluções
aos agentes externos ao longo da cadeia de su- que englobam: envolvimento de outros elos na
primentos; falta de registro sistemático e acu- cadeia de suprimentos na formulação da pre-
rado dos dados para o desenvolvimento das visão de vendas; compartilhamento de infor-
previsões de vendas; baixo relacionamento com mações intra e inter organizações; desenvolvi-
consumidores e varejistas; não utilização de in- mento de estratégias de colaboração como o
dicadores de desempenho para monitoria do VMI e o CPFR; desenvolvimento de indicado-
processo; falta de análise dos erros de previsão; res de desempenho para medir e monitorar a
plano orçamentário de vendas como direciona- demanda; análise dos erros de previsão e da
dor chave do planejamento da demanda, falta demanda atual de consumo.
de controle dos estoques das lojas varejistas por Os desafios da gestão da demanda dão
parte das indústrias. peso à proposição de que esta é uma área pro-

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Daniela de Castro Melo, Rosane Lúcia Chicarelli Alcântara

blemática na maioria das cadeias de suprimen- Claassen, M. F. T., Van Weele, A. F., & Van
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Portanto, uma boa gestão da demanda é
embrapa.br/nova/informacoes/estatisticas/
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