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1590/1413-7372218770012
RESUMO. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é visto pelas autoridades médicas
internacionais como um problema de ordem pública. O TDAH é envolto em questões que fazem urgir o
debate acerca dos efeitos do diagnóstico e sua crescente difusão, entre as quais se destacam a recente
expansão do diagnóstico para incluir o adulto e o vertiginoso aumento do consumo do metilfenidato. Como
o fornecimento público do metilfenidato é contemplado pela Assistência Farmacêutica do Espírito Santo, a
presente pesquisa tem por objetivo analisar os efeitos da Política Estadual de Assistência Farmacêutica
referente ao TDAH na produção de subjetividade dos sujeitos que solicitam o metilfenidato. Busca-se
abordar as experiências dos usuários no curso de seu tratamento medicamentoso. Foram realizadas
entrevistas com solicitantes do metilfenidato maiores de 19 anos residentes em Vitória. Como resultado,
percebeu-se que os efeitos advindos do diagnóstico e do uso do medicamento são mais diversos do que os
comumente relatados e quase sempre experienciados de forma conflituosa e ambivalente. Ao mesmo
tempo, tanto a Ritalina quanto o TDAH parecem funcionar como tecnologias subjetivas que, em sua relação
com os sujeitos diagnosticados, transformam suas vidas em graus diversos, indicando a necessidade de
acompanhamento dos seus efeitos.
Palavras-chave: Metilfenidato; TDAH; subjetividade.
ABSTRACT. Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) is seen by the international medical authorities
as a matter of public order. ADHD is surrounded by issues that stress the importance of debating about the
effects of the diagnosis and its growing dissemination. Among them, we highlight recent expansion of the
diagnosis to include adults and the skyrocketing consumption of methylphenidate, the main drug indicated
for its treatment. Given that Espirito Santo Pharmaceutical Care provides methylphenidate publicly, this
article aims to analyze the usage experience of it by adults diagnosed with ADHD, as well as the impact of
such a diagnosis in their lives. Therefore, interviews were conducted with methylphenidate users, who were
over 19 years old and living in Vitoria. Diagnosis and methylphenidate usage effects found were much more
diverse than is commonly reported, and they are often experienced as conflicting and ambivalent. At the
same time, as Ritalin as ADHD seem to work as subjective technologies that transform diagnosed people
lives to different degrees, pointing to the need to of monitoring its effects.
Keywords: Methylphenidate; ADHD; subjectivity.
RESUMEN. El Trastorno por Déficit de Atención con Hiperactividad (TDAH) es visto por las autoridades médicas
internacionales como un problema de orden público. El TDAH está envuelto en asuntos que hacen urgir el debate
sobre los efectos del diagnóstico y su creciente difusión. Entre ellos, cabe destacar la reciente expansión del
1
Apoio e financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES).
2
Endereço para correspondência: Rua Petrolino Cesar de Moraes, 210, casa 25, Mata da Praia, CEP 29.066-230 –
Vitória-ES. E-mail: calimanluciana@gmail.com
diagnóstico para incluir al adulto y al vertiginoso aumento del consumo del metilfenidato. Teniendo en cuenta que
la provisión pública del metilfenidato es contemplada por la Atención Farmacéutica de Espírito Santo, esta
investigación tiene como objetivo analizar los efectos de la Política Estatal de Atención Farmacéutica, dirigida
para el TDAH, en la producción de subjetividad de los sujetos que solicitan el metilfenidato. Se busca abarcar las
experiencias de los usuarios en el transcurso de su tratamiento medicamentoso. Fueron realizadas entrevistas
con los solicitantes del metilfenidato con más de 19 años residentes en Vitória. Como resultado, se encontró que
los efectos derivados del diagnóstico y del uso del medicamento son más distintos de los que comúnmente
relatados, casi siempre experimentados de modo conflictivo y ambivalente. Al mismo tiempo, tanto la Ritalina
como el TDAH parecen funcionar como tecnologías subjetivas que, en su relación con los sujetos diagnosticados,
transforman sus vidas en diferentes grados, señalando para la necesidad de acompañamiento de sus efectos.
Palabras-clave: Metilfenidato, TDAH, subjetividad.
tempo, a análise do uso do metilfenidato por fundamental para que o grupo de pesquisa se
essa população foi pouco explorada. Apesar do aproximasse da realidade do serviço prestado
número exorbitante de livros, artigos e pesquisas pela Farmácia Cidadã.
publicados sobre o TDAH, a maior parte da Através de consulta ao banco de dados
literatura tem como foco o diagnóstico infantil. O digital da Farmácia Cidadã Metropolitana, foram
diagnóstico do TDAH em adultos e seu obtidas informações referentes ao número de
tratamento medicamentoso trazem novos processos de solicitação do medicamento de
problemas, que devem ser mais bem discutidos outubro de 2008 até janeiro de 2012, e ao
e analisados. Neste sentido, através da número de processos ativos de cada farmácia
realização de entrevistas, temos por objetivo cidadã do Estado. Outros dados importantes que
analisar a experiência de uso do metilfenidato de não constavam nessas listas - como residência,
adultos diagnosticados com TDAH que retiram o idade e telefone de contato dos usuários - foram
medicamento na Farmácia Cidadã obtidos através de consulta aos prontuários
Metropolitana, localizada no município de físicos. Desse modo, foram pesquisadas e
Cariacica. registradas, em arquivo digital e físico,
Ao trazer a narrativa dos usuários de informações de 622 usuários de metilfenidato
metilfenidato sobre seu tratamento e sobre o que, até janeiro de 2012, retiravam o
impacto do diagnóstico em suas vidas busca-se medicamento na Farmácia Cidadã
preencher uma lacuna nos estudos sobre o tema Metropolitana. Como esta unidade de serviço
“Investigação da experiência dos sujeitos que atende indivíduos de diversos municípios, para a
vivem diretamente o impacto do diagnóstico e do realização das entrevistas tiveram preferência os
medicamento”. Acredita-se que para análise e usuários residentes em Vitória que fossem
acompanhamento das políticas públicas torna-se maiores de 19 anos. Um ou dois pesquisadores
imprescindível considerar a experiência dos do grupo fizeram nove entrevistas, as quais
usuários desta política, além dos profissionais e foram gravadas em áudio e posteriormente
gestores que a viabilizam. A partir da realização transcritas. Esta pesquisa se realizou com a
das entrevistas com os usuários de metilfenidato aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com
espera-se desenvolver subsídios para a criação Seres Humanos da Secretaria Estadual de
de ferramentas analíticas, teóricas e de Saúde do ES e em conformidade com a
intervenção que auxiliem nos processos de Resolução nº 196/96 do CNS.
implementação e avaliação das políticas e A segunda etapa da pesquisa foi dedicada à
práticas da assistência farmacêutica construção e realização das entrevistas, desde
direcionadas ao TDAH no Espírito Santo. sua concepção metodológica até sua realização
com os usuários do medicamento em questão.
Para a realização das entrevistas distinguem-se
MÉTODO dois sentidos de experiência não excludentes e
inseparáveis: a experiência de vida e a
Esta pesquisa foi desenvolvida em duas experiência pré-refletida ou ontológica (Silva et
etapas. Na primeira, associada diretamente à al., 2010). O primeiro sentido refere-se ao uso
Farmácia Cidadã Metropolitana, foram obtidos comum do termo experiência, que inclui as
dados acerca da dispensação pública do emoções, a história de vida e as reflexões sobre
metilfenidato no Estado do Espírito Santo, além as vivências dos sujeitos entrevistados. Já a
de informações sobre os usuários desse experiência pré-refletida indica a dimensão de
medicamento que residem no município de coemergência de si e de mundo, ou seja, ela não
Vitória. está dada de antemão e não é anterior ao
Este primeiro momento se consolida a partir processo da entrevista, mas se constitui na
da pactuação com a Gerência de Assistência relação entre o sujeito entrevistado e seu
Farmacêutica do Espírito Santo (GEAF) e com a entrevistador (Silva et al., 2010).
Coordenação da Farmácia Cidadã Assim, as entrevistas realizadas visaram não
Metropolitana, que, alarmadas com o crescente apenas evocar fatos vividos pelos sujeitos,
uso do medicamento no Estado, apoiam a relativos à experiência de ser diagnosticado com
possibilidade de desenvolver um dispositivo de TDAH e fazer uso do metilfenidato (experiência
acompanhamento dos usuários do de vida), mas também produzir deslocamentos e
medicamento. O contato com os gestores foi potencializar as falas e momentos de quebra dos
ser diagnosticado. Ao mesmo tempo, sentir-se sentido como real pelos adultos diagnosticados.
desculpabilizado pelo diagnóstico não impedia Outro entrevistado aponta a possibilidade de o
que a mesma pessoa descrevesse o peso ou diagnóstico ser adquirido e momentâneo. Neste
desconforto de se reconhecer ou ser caso, questiona-se o saber médico que o
reconhecido como portador de um transtorno descreve como crônico e incurável. É
mental, fosse ele visto como “leve” ou “grave”. A interessante que a própria prática médica não
relação estabelecida com o diagnóstico é quase considere todos os critérios necessários para
sempre ambígua, mutante, e não se assemelha fazer o diagnóstico, porquanto o TDAH em
aos relatos encontrados na literatura. A adultos é identificado mesmo na ausência do
dimensão experiencial parece portar, quadro infantil. Em um dos casos em que traços
necessariamente, sentimentos ambíguos e do TDAH infantil foram relatados, para o sujeito
paradoxais. diagnosticado permaneceu ainda a sensação de
Percebe-se que os adultos têm o primeiro que aconteceu “alguma coisa no meio do
contato com o diagnóstico de TDAH antes caminho [entre a adolescência e a vida adulta]
mesmo de ir ao médico. Na internet, na que eu não sei contar” e que teria deflagrado o
televisão, nos livros sobre o assunto que já se diagnóstico na vida adulta.
tornaram populares, nas redes sociais, o acesso A crença na cronicidade do transtorno é por
à informação sobre o TDAH tem sido comum. vezes sentida como um peso e, em alguns
Quando o diagnóstico é confirmado pelo médico, casos, surge atrelada à “possível” gravidade do
a busca por informação não cessa e, em alguns problema. Sobre este aspecto, uma entrevistada
casos, leva ao questionamento da avaliação afirma: “O que eu tenho é muito grave, [porque]
médica. O processo de apropriação ativa do não tem cura; é muito grave”. O fato de
conhecimento médico sobre o diagnóstico não considerar que o transtorno não tem cura e é
implica necessariamente na aceitação total da muito grave faz com que o tratamento
descrição e explicação biomédica do transtorno. medicamentoso ocupe um lugar central na vida
Como indica Hacking (2007) ao descrever o que destes sujeitos, sendo vivenciado como uma
chamou de efeito de arco, ao ser classificado, o necessidade da qual não se pode escapar.
sujeito age sobre a classificação, reforçando-a Interrogado sobre os momentos nos quais seria
ou alterando-a e ao mesmo tempo sendo desejável não tomar o medicamento, um
transformado por ela. Mesmo quando havia uma entrevistado declara que às vezes tem vontade
forte adesão do sujeito ao diagnóstico, esta não de “se dar férias”; mas interroga: “mas não tem
era totalmente confortável, restando dúvidas e cura, ‘né’?!”. A entrevistada (citada acima) que
incertezas quanto aos limites da explicação afirmava que seu caso era muito grave, também
médica. relatava: “sem o medicamento não posso ficar”.
De acordo com a descrição biomédica do Por outro lado, as pessoas que descreviam o
TDAH, por exemplo, para receber o diagnóstico TDAH como um “pequeno transtorno” ou
quando adulto é preciso que os sintomas do “apenas um déficit”, diferenciando-o de doenças
transtorno tenham sido manifestados também na “realmente sérias”, apontavam a possibilidade de
infância. Este critério é desconsiderado ou usar medicamento apenas em determinadas
transformado por quase todos os entrevistados, circunstâncias. Ao ser percebido como
os quais, em suas lembranças, não se veem situacional e pontual, o diagnóstico passa a
como crianças com TDAH. Inicialmente há um interferir menos na construção do que Ortega
movimento de identificação com as (2003) chamou de bioidentidades. Nestes casos,
características do diagnóstico: “Comecei mesmo se podemos falar que há uma identificação com
a achar que tudo no passado era devido ao o transtorno, ela não é completa, uma vez que o
TDAH”, mas tal identificação não permanece diagnóstico é transformado e apropriado pelos
sem alterações. Uma entrevistada chegou a sujeitos de acordo com suas necessidades e
dizer que talvez seu caso não fosse “um caso pode ser abandonado: “passou, hoje posso
muito verídico de TDAH”, pois percebera ter sido caminhar sozinha”.
uma situação ou momento específico de sua Em quase todas as falas surge o efeito
vida que deflagrou a demanda por mais foco e “desculpabilizante” do diagnóstico de TDAH.
organização: “Sempre fui uma ótima aluna!”; no Uma entrevistada relatou que, na faculdade, se
entanto o caráter situacional da queixa não sentia “a burrinha da turma”. Ao receber o
impede que o diagnóstico seja legitimado e diagnóstico este sentimento é aliviado. Em outro
caso, no qual havia na família um relato de é uma pergunta que ressoa nas falas, uma
comparações entre as competências busca continua: “É isso que eu preciso saber”.
acadêmicas do jovem entrevistado e sua irmã, a Ao responsabilizar o cérebro por certos
explicação diagnóstica fez com que “as coisas lá comportamentos, a explicação diagnóstica não
em casa ficassem mais tranquilas... eu era a possibilita uma completa desconstrução da
ovelha negra dos estudos”. Para outro lógica individualista embutida no culto à
entrevistado este efeito de desculpabilização responsabilidade individual. Permanece o
tornou-se um aspecto crucial. O sentimento de sentimento de que, em alguma esfera, o
culpa pelos comportamentos indesejados, indivíduo continua sendo o único responsável
fracassos e impossibilidades esteve sempre pelo próprio destino. Este sentimento, quando
presente em sua vida. As cobranças e ressignificado, pode levar a uma atitude de
autocobranças eram constantes: cuidado e atenção a si. O conhecimento sobre o
transtorno parece exercer uma função
quando eu descobri o transtorno eu falei
importante no processo de voltar-se a si,
assim “... então eu não sou
incompetente, é um transtorno” ... e só impulsionado pela experiência de ser
isso já traz um alívio, que tira um pouco diagnosticado. Acredita-se que quanto mais se
o peso da incompetência, de você não sabe sobre o transtorno, mais será possível
ser compatível com a sociedade, de contorná-lo, através de maior vigilância de si e
você não ser capaz de produzir algo, de seus comportamentos, possibilitando a
quer dizer, não, eu tenho limites pra criação de estratégias para lidar com o
produzir, mas eu posso produzir (Fala de
um entrevistado). problema.
A sensação de que “eu posso” contornar o
Impera em seu relato a lógica de uma problema, advindo do encontro com o
sociedade culpabilizante e competitiva, que diagnóstico, não necessariamente desconsidera
responsabiliza cada um por seus sucessos e a implicação dos outros na construção coletiva e
fracassos (Ehrenberg, 2010). Nessa sociedade, compartilhada da vida. Neste caso, ao receber o
ser autônomo significa ser independente, o único diagnóstico o sujeito passa a se implicar na
responsável pelo destino, que é individualmente gestão de sua vida e esta gestão pode deixar de
traçado. Quando se tem o diagnóstico de TDAH, ser uma autogestão para tornar-se uma
um pequeno desvio em tal lógica parece tornar- cogestão. Uma entrevistada, por exemplo,
se possível. O diagnóstico possibilita dizer que indagando sobre os limites da explicação
“não foi culpa sua”, “você não é o responsável”. diagnóstica, em um movimento de autorreflexão
Para algumas pessoas, o impacto deste e autoanálise, lembra que tantos anos fora da
sentimento pode ser tão marcante a ponto de escola dificultaram seu retorno à faculdade. Não
dizer: “nasci de novo”, quando recebe o é mais uma jovem de raciocínio rápido, não
diagnóstico de TDAH. Trajetórias profundamente precisa ser melhor em tudo, algo que sempre
marcadas pela culpabilização e cobrança social exigiu de si mesma. Pensa agora que é
parecem ganhar aqui uma redenção, mesmo importante ter consciência de seus limites e
quando há um uso consciente da desculpa questiona a racionalidade que impõe a demanda
diagnóstica. Assume-se que, em certos de sucesso em todas as esferas da vida. O
momentos, o diagnóstico é usado como uma TDAH e a experiência com o uso da Ritalina
autodefesa “eu tenho que sair de algum lado, parecem ter ajudado na identificação de tais
alguém ‘tá’ me cobrando uma coisa que eu não limites. O diagnóstico, neste caso, funcionou
consegui.... eu digo que o DDA não deixa eu como um “sacolejo” que, unido a outros aspectos
fazer”; mas um dilema ético passa a ser da vida, impulsionou um modo mais engajado de
vivenciado: “O que sou eu e o que é o TDAH? estar no mundo. Saber do diagnóstico, para
Quando é culpa minha e quando meu outro entrevistado, propiciou-lhe
comportamento resulta de uma incapacidade
ter mais domínio, muito mais consciência
gerada pelo transtorno? Até que ponto tenho
da minha existência, daquilo que eu
usado do diagnóstico para justificar meu faço.... o fato de eu conseguir ter noção
comportamento?” Como vimos na fala acima, o do que eu fazia e do que eu podia
entrevistado acredita que o diagnóstico explica conquistar.... hoje eu consigo ter metas
que ele tem limites para produzir, mas que ele é através da consciência de ter o problema
capaz de produzir. Onde estaria a fronteira? Esta do DDA e de tomar Ritalina....
sempre o mesmo impacto ou efeito na produção acesso aos medicamentos. Não obstante,
de subjetividade dos sujeitos diagnosticados. O problematizamos as situações nas quais o direito
que ocorre é uma relação na qual classificação e à saúde tem sido simplificado e dilacerado, ao
classificados transformam-se mutuamente. ser pensado como direito ao medicamento. Esta
Importa, então, perguntar qual a relação é uma questão que deve ser analisada e
construída com o diagnóstico e quais os seus considerada pelas políticas públicas de Saúde e,
efeitos na vida dos sujeitos, os quais são sempre no interior delas, pelas políticas de assistência
circunstanciais e mutáveis. Não podemos farmacêutica. Importa, diferentemente, criar
desconsiderar, por outro lado, que vivemos em condições para a construção cotidiana de
uma sociedade na qual impera o culto à políticas que resistam às simplificações
performance produtiva (Ehrenberg, 2010). Para diagnósticas e medicamentosas.
muitos, é mais desejável ser considerado doente Na medida em que o diagnóstico de TDAH e
ou portador de um transtorno do que carregar a o metilfenidato são pensados como tecnologias
culpa advinda do processo de individualização e subjetivas ou artefatos cognitivos que participam
responsabilização dos nossos sucessos e ativamente da produção dos sujeitos e de seus
fracassos (Costa, 2005; Rose, 2007). mundos, faz-se necessário atentar para mundos
É importante ressaltar que considerar a e sujeitos produzidos, visando transformar o
função “desculpabilizadora” dos biodiagnósticos direito ao medicamento em um direito ao
no cenário atual não elimina a necessidade de cuidado ampliado à saúde dos sujeitos
problematizar o lugar privilegiado ocupado pelos
diagnosticados com TDAH.
diagnósticos e explicações médicas em nossas
vidas. Quando as verdades e preceitos médicos
se tornam os principais balizadores de nossas REFERÊNCIAS
condutas, constituindo-se como tecnologias
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