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LIÇÃO 7

A humanidade perdida

O AT oferece uma descrição muito específica da condição espiritual do homem,


feito à imagem e semelhança de Deus para gozar de comunhão eterna com Ele.
Mesmo assim, conforme indica a maior parte do AT, o homem no seu estado natural
está espiritualmente perdido e apartado da comunhão com o Criador.

Fica óbvio, já nas primeiras páginas do AT, que a humanidade está envolvida em
um conflito espiritual contra um inimigo. Paradoxalmente, o homem, por causa do
pecado, aliou-se ao seu próprio inimigo, Satanás. Nesta lição estudaremos como o
gênero humano ficou espiritualmente perdido (causas e consequências dessa condição).

À medida que estuda esta lição, pense sobre o enorme abismo criado entre
Deus e o homem por causa do pecado deste último. Peça ao Espírito Santo que lhe fale
através dos versículos do AT, revelando o horror do pecado e a grandeza da graça
redentora de Deus.
A pessoa e o propósito de Satanás Esboço da Lição
A causa e a manifestação do pecado
Os pecados de Israel
A consequência do pecado

Ao término desta lição, o aluno deverá estar apto para: Objetivos da Lição

- defender a ideia de que Deus não é o autor do mal, embora tenha criado Satanás;
- identificar a origem do pecado;
- descrever os três aspectos da natureza do pecado de Israel, conforme os profetas os
delinearam;
- definir o significado da morte espiritual segundo o AT.

1. Leia atentamente esta lição. Atividades de


Aprendizagem
2. Faça todas as questões de estudo.
3. Separe, no mínimo, 3 horas diárias para estudar.
4. Faça o autoteste no final desta lição.
Desenvolvimento A PESSOA E O PROPÓSITO DE SATANÁS
da Lição

OBJETIVO 1 A origem de Satanás é um mistério. O AT não oferece nenhuma exposição


Defender a ideia de que
Deus não é o autor do mal,
pormenorizada de sua origem ou pessoa, mas há dois trechos das Escrituras que
embora tenha criado podem ser usados para fornecer algumas informações a respeito do inimigo das nossas
Satanás.
almas: Is 14.12-15 e Ez 28.13-15. O primeiro utiliza-se da figura do rei da Babilônia,
e o segundo, empregou a figura do príncipe de Tiro, para descreverem a origem e a
queda de Satã.

Satanás é um ser criado

Ezequiel empregou a expressão no dia em que foste criado (Ez 28.13,14). Esse
é um dos grandes mistérios da revelação bíblica do AT: Deus criou o Diabo. Ao
enfatizar o fato de Satanás ser criado, o AT nega qualquer sugestão no sentido dele
poder ser uma força eterna independente. Nisto, há um contraste com muitas das
religiões do Oriente Médio antigo que criam em um conflito entre duas forças eternas
mutuamente opostas, sendo que uma era boa, e a outra má. O AT certamente não
concorda com semelhante ensino. Satanás é um ser criado.

Além disso, Satanás foi criado por Deus como um ser de beleza incomparável e
esplendor (Ez 28.15). E mais: Deus não o criou como um ser maculado - essa distinção
proíbe qualquer pessoa de dizer que Deus é o autor do pecado. Deus criou Satanás
“perfeito nos seus caminhos”.

Ezequiel menciona várias pedras preciosas para descrever a rara beleza do


querubim ungido (Ez 28.13,14). Conforme um joalheiro indicaria, a pedra preciosa não
tem luz dentro de si mesma; seu brilho depende de uma fonte externa de luz – e
quanto mais brilhante for a luz da fonte, tanto maior será o reflexo da joia. Da mesma
maneira, Lúcifer foi criado para refletir a glória de Deus, e não a sua própria. A beleza
do querubim ungido era a de um ser criado que refletia a glória do seu Criador.

1. Que dois personagens são aludidos pelos profetas Isaías e Ezequiel para descrever
a origem e a queda de Satanás?

2. Assinale cada alternativa correta quanto a origem de Satanás.


a) O AT apresenta Satanás como um ser independente e eterno.
b) O AT nos ensina a respeito da luta eterna entre as forças do bem e as forças do mal.
c) Satanás é um ser criado.
d) Deus criou Satanás com uma mácula moral distintiva.
e) Lúcifer foi criado para refletir a glória de Deus.

120 | TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


Satanás foi criado com um propósito

O AT declara nitidamente que Satanás foi criado para adorar a Deus; e como
ser criado, tinha ele privilégios e obrigações tanto na adoração como no serviço ao
Criador. Havia, no entanto, um propósito adicional na criação de Lúcifer: Juntamente
com a responsabilidade geral de adorar e de servir (que recai sobre a totalidade da
criação), possuía ele a função de querubim ungido para proteger (Ez 28.14). Essa
expressão faz entender que dentre todas as miríades da hoste angelical, Lúcifer era um
dos poucos anjos cujo ministério se associava intimamente com o trono de Deus.

3. No que tange a Satanás, o que significa a expressão “Querubim ungido para


proteger”?

4. Qual das alternativas a seguir melhor descreve o propósito pelo qual Satanás foi
criado?
a) Para a superintendência da hoste dos anjos menores.
b) Para dar aos outros o incentivo de obedecer à Lei.
c) Para anunciar o poder de Deus.
d) Para adorar a Deus.

Satanás rebelou-se contra o propósito de Deus

Embora Satanás houvesse sido criado com o propósito de proclamar a glória de


Deus, foi formado com a capacidade de escolher, livre volição. Em Is 14.13 lemos que
Satanás realmente fez uma escolha. Por cinco vezes surge este grito de desafio: “Eu
farei” (oculto em sentenças como “Eu subirei”).

Satanás declarou seu desejo de ocupar a posição de Deus dentro do âmbito da


criação; ele queria o lugar da soberania divina. O Diabo pretendia assomar o meio
angelical (as estrelas de Deus) e o meio terreno (a expressão: “no monte da
congregação, a banda do lado Norte” refere-se à autoridade e ao governo). E, na mais
ousada reivindicação de poderio, ele quis, para sua própria glória, ultrapassar a glória
de Deus (v. 14); a nuvem no AT era usada para manifestar a glória de Deus, e Satanás
pretendia que sua própria glória fosse muito mais esplêndida que a de Deus.

5. Baseando-se em Is 14.13-14, faça uma lista dos “Eu farei” de Satanás (oculto nos
verbos).
a) _______________________________________________________________
b) _______________________________________________________________
c) _______________________________________________________________
d) _______________________________________________________________
e) _______________________________________________________________

121 | LIÇÃO 7 : A HUMANIDADE PERDIDA


6. Qual das declarações a seguir descreve o propósito de Satanás ao rebelar-se?
a) Queria ter autoridade igual à de Deus.
b) Queria ocupar o lugar de Deus na criação.
c) Queria ser igual a Deus na criação.
d) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

A luta de Satanás contra Deus e o homem

A posição que Satanás iniciou entre si mesmo e Deus é um dos temas


principais da revelação do AT, que enfatiza o desenvolver desse conflito no âmbito
dos negócios humanos. Para uma perspectiva clara desse conflito, consideramos o
significado do nome Satanás, que é traduzido como adversário. Essa mesma palavra
é usada por Davi para descrever os seus inimigos (Sl 38.20). No livro de Jó, o uso
da palavra é mais personalizado, identificando-a como determinado ser que vive em
oposição ao homem (Jó 1.6-12; 2.1-7). Baseado no significado desta palavra,
entendemos que Satanás é um ser espiritual que se opõe tanto à vontade de Deus
quanto ao bem-estar dos homens. Examinemos mais de perto como esse conflito
envolveu os seguintes personagens do AT: Adão e Eva, Jó, Davi e Josué, o sumo
sacerdote.

7. O nome Satanás pode ser traduzido como


a) amigo.
b) Juiz.
c) Adversário.
d) Anjo.

8. Assinale cada alternativa correta.


a) Davi usou a palavra Satanás para descrever aqueles que invejavam seu
poder.
b) No livro de Jó, lemos a respeito da pessoa chamada Satanás que ficava diante de
Deus para opor-se ao homem.
c) Satanás é um ser espiritual que se opõe a vontade de Deus.
d) Satanás coloca-se em oposição ao bem-estar do homem.

O ataque de Satanás contra Adão e Eva

Cremos que na narrativa da tentação em Gn 3, havia tanto uma serpente quanto


um poder demoníaco, Satanás, que a usou para levar a efeito a sua intenção. Agora,
note as duas etapas no seu ataque contra Eva. Primeiro: Satanás apresentou diante de
Eva uma dúvida quanto à veracidade da ordem de Deus. Disse realmente o criador
aquilo que ela repetira? Se Deus de fato falou assim, não era um mandamento
excessivamente severo para Adão e Eva? (Gn 3.1).

122 | TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


Segundo: Satanás apresentou diante de Eva uma dúvida quanto à motivação do
mandamento de Deus. Nisto, Satanás está claramente qualificado como o adversário da
veracidade da Palavra de Deus (Gn 3.4). Ele procurou persuadir a Eva que a Palavra
de Deus não era digna de confiança, e que era inspirada por um motivo egoísta (Gn
3.5). Conforme declarou certo escritor: “A mulher agiu de acordo com a suposição de
que a intenção de Deus lhe era hostil, ao passo que Satanás estava animado pelo
desejo de promover o bem-estar dela”.

9. Aliste as duas etapas da tentação de Eva por Satanás.


a) _______________________________________________________________
b) _______________________________________________________________

O ataque de Satanás contra Jó

Jó enfrentou esse mesmo adversário. Os dois primeiros capítulos de Jó


apresentam um problema desconcertante no tocante a esse assunto. Como Satanás
poderia comparecer diante de Deus? (Jó 1.6; 2.2). Este é um conceito de difícil
compreensão, contudo, não podemos descartar o fato autoeviedente de que a narrativa
de Jó baseia-se em autêntica verdade. E mais: relegar estes versículos a qualquer coisa
menos que a pura verdade equivale a negar a totalidade do livro de Jó, e por
consequência de toda a Bíblia – negar uma parte da Bíblia é negar toda a Bíblia.

A forma correta de considerar este evento é mantê-lo no âmbito do mistério


espiritual. Isto significa reconhecer que, como seres humanos, estamos presos às
limitações dimensionais do tempo e do espaço – limites estes inexistentes do âmbito da
espiritualidade. Isso equivale reconhecer que o quadro mental de Satanás frequentando
a sala do trono de Deus é um entendimento equivocado do contexto de Jó. O correto
é considerar que Deus é onisciente, logo é conhecedor de tudo o que há, inclusive das
atividades de Satanás; ainda: Deus é onipresente, logo, o Diabo poderia haver
comparecido à presença do Senhor em qualquer lugar, pois Deus está em todos os
lugares. Passemos, agora, ao embate que Satanás promoveu contra Jó. É possível criar
um paralelo entre as ações do tentador em Gn 3 e a campanha contra o devotado Jó:
no início, o Diabo sugere que o homem pratique o mal, agora insufla que o mal seja
praticado contra o homem; Satanás diz ao primeiro casal que Deus agia motivado por
egoísmo, agora diz a Deus que Jó tinha no egoísmo sua motivação.

10. Quanto ao evento do Diabo apresentando-se diante de Deus, assinale as


alternativas que mais satisfatoriamente tratam do assunto.
a) Jó 1 deve ser entendido como linguagem poética, e não literal.
b) Regularmente, Deus conclama o Diabo para dar relatórios de suas atividades.
c) A dimensão espiritual é limitada pelo tempo ou pelo espaço.
d) Por ser onisciente, Deus já conhecia tudo a respeito das atividades de Satanás.
e) Satanás poderia estar na presença de Deus em qualquer lugar, pois Ele é onipresente.

123 | LIÇÃO 7 : A HUMANIDADE PERDIDA


11. Escreva J para Jó e E para Eva.
____ a) Satanás sugeriu o mal a respeito do homem.
____ b) Satanás sugeriu que Deus agira por motivos egoístas.
____ c) Satanás sugeriu que a pessoa agia por motivos egoístas.
____ d) Satanás sugeriu o mal a respeito de Deus.

O ataque de Satanás contra Davi

As passagens de 1Cr 2.11 e 2Sm 24.1 demonstram que em seu ataque contra
Davi, Satanás apelou para o orgulho do rei de Israel na tentativa de provocar a justa
ira do Senhor. Atendendo a sugestão do Diabo, Davi ordenou um censo militar e ao
medir e confiar nas forças e estatísticas militares de Israel, desconsiderou o cuidado do
Senhor para com a nação eleita. Davi optou pela insinuação de Satanás, assumindo as
devidas culpa e consequência por seus atos e pelos resultados deles.

12. Que pecado Davi cometeu em 1Cr 2.11?

O ataque de Satanás contra Josué

Agora, um exemplo pós-exílico. Está registrado em Zc 3.1-10 uma visão em


que Zacarias viu Josué, o sumo sacerdote, em pé diante do Tribunal da Justiça divina.
Satanás também estava em pé diante deste tribunal para acusar a Josué. É interessante
notar os dois empregos diferentes dados ao termo satanás nesta passagem: esse
vocábulo significa, em primeiro lugar, uma pessoa; então, a palavra opor-se (satan em
hebraico) é usada novamente para descrever aquilo que a pessoa está fazendo.
Portanto, quer em seu nome ou em sua atuação, Satanás é o acusador do homem.
Josué ficava em pé diante do Juiz, o Anjo do Senhor, trajando vestidos sujos. Essas
roupas representam a culpa e o pesar pela culpa. É interessante notar que o penitente
Josué não é o repreendido por Deus, mas sim o próprio Satanás, que não pode desfazer
o perdão do Senhor ofertado ao pecador arrependido – e, exatamente assim, Deus fez
a Josué.

13. Quais das declarações abaixo concordam com a visão descrita em Zc 3.1-10?
a) Josué ficava em pé diante da presença do Senhor para queixar-se da atividade de Satanás.
b) Satanás estava em pé diante do Senhor como acusador de Josué.
c) Na visão, o Juiz foi identificado como o Anjo do Senhor.
d) O Anjo do Senhor era um anjo de menor importância.
e) Josué foi repreendido pelo Senhor.

124 | TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


As forças de Satanás nesse conflito

Satanás não é onipresente, não é onisciente, não é onipotente. Assim, para


realizar suas ambições ímpias, ele utiliza-se de uma vasta hoste de anjos caídos, os
demônios. Não obstante a palavra demônios não ocorra no AT, é possível encontrar no
texto veterotestamentário alusões a eles. Aliás, diferentemente dos escritos das religiões
pagãs contemporâneas, o AT não apresentava uma demonologia rica, ainda que Israel
tivesse plena consciência da existência dessas forças demoníacas. A razão disto é que a
revelação se preocupa muito mais com a evidente desaprovação de qualquer forma de
relacionamento com tais forças, do que com uma descrição pormenorizada da sua
existência.

A partir de agora, consideraremos três referências do AT, em que a Bíblia narra


o relacionamento muito claro entre as forças demoníacas e os ídolos pagãos. Os
escritores do AT não davam estes ídolos como meros pedaços de madeiras ou metais;
para eles, corretamente, aliás, estas imagens eram representações de forças
demoníacas. Iniciamos por (1) Lv 17.7. Esse versículo proíbe rigorosamente os
sacrifícios aos demônios que, às vezes, são chamados sátiros, demônios de bodes ou
ídolos de bodes. Por este versículo infere-se no Egito, Israel tivera qualquer ligação
com a adoração aos ídolos/demônios. Esse fato é documentado pelo testemunho de
Moisés em Dt 32.17, quando o líder acusou Israel de sacrificar aos demônios,
declarando que os ídolos nem eram aqueles deixados para trás no Egito, mas sim
“novos deuses que vieram há pouco, dos quais não se estremeceram vossos pais”.
Finalmente, quando Jeroboão I rompeu com Judá e dividiu o reino de Israel (929 -
909 a.C.), estabeleceu-se a prática da adoração aos demônios a fim de solidificar a
união do seu novo reino (2) (2Cr 11.15). Infelizmente, essa prática permaneceu como
característica marcante do reino do norte, até sua destruição pelo Império Assírio – é
oportuno mencionar que Judá, o reino do sul, também prestou-se à idolatria no
decurso de sua história. (3) O salmo histórico 106, por exemplo, menciona como
Israel chegou ao ponto de sacrificar seus próprios filhos aos demônios/ídolos (Sl
106.37; 2Rs 16.3; 21.16; Jr 19.4). A prática de semelhante adoração, tanto em Judá
quanto em Israel, foi uma das causas principais do juízo divino contra os dois reinos
(2Rs 17.6-19).

O ensinamento a respeito de Satã pode assim ser resumido: ele pretendia


exaltar-se acima de Deus, sendo apresentado pelo AT tanto como adversário de Deus,
quanto inimigo dos homens. Por meio de sua personalidade maligna, e sua influência
demoníaca, ele manipulava não somente as nações pagãs, mas também o próprio povo
de Israel, fazendo-os sucumbir aos seus desígnios. A história de Israel demonstra uma
inconstância na sua dedicação ao Senhor; e todas as vezes que a adoração aos
demônios era combinada com o serviço a Jeová, Israel mais seriamente afastava-se do
Senhor. Não raras vezes, a adoração sensual de tais deuses tomava a precedência sobre
a adoração pura do único Deus verdadeiro.

O AT não considera a idolatria como mera curiosidade inócua que sobrou dos
tempos primeiros da humanidade e indica muito claramente que o culto aos ídolos é a
adoração às forças demoníacas neles ocultas. As maiores desgraças sofridas nos tempos
do AT eram provocadas quando o povo se entregava a semelhante adoração.

125 | LIÇÃO 7 : A HUMANIDADE PERDIDA


14. Por que Satanás precisa dos anjos para cumprirem a sua vontade?

15. Por que o AT não apresentou ensinamentos detalhados sobre a demonologia?

16. O que os versículos a seguir informam a respeito do relacionamento entre Israel


e a adoração aos demônios?
a) Lv 17.7: __________________________________________________
b) Dt 32.17: __________________________________________________
c) 2Cr 11.15: __________________________________________________
d) Sl 106.37: __________________________________________________

17. Como você resumiria o ensino do AT sobre a adoração aos ídolos?

OBJETIVO 2 A CAUSA E A MANIFESTAÇÃO DO PECADO


Identificar a origem do
pecado.
Conforme nos conta o AT, o pecado teve origem no orgulho do Diabo. Ele
desejava exaltar-se acima da soberania de Deus, e este era um desejo ímpio. Satanás
procurou estabelecer um reino rival ao do Senhor, em que ele fosse possuidor de poder
e autoridade. A consequência por esta rebeldia foi a danação eterna; o Diabo foi
expulso do céu.

Alguns lances desta trama não são contados pela Bíblia. Sabemos que Satã foi
expulso do céu, mas não somos informados de como ele entrou no Éden – ainda que
seja certíssimo que ele ali esteve, pois a Bíblia assim nos diz. Estas considerações e
narrativas veterotestamentárias têm por finalidade tratar da causa do pecado. Aliás,
para o correto entendimento do pecado, devemos considerar detidamente as
implicações teológicas de Gn 3.

18. Segundo o AT, o pecado começou


a) no propósito de Deus para o homem.
b) na fragilidade do homem.
c) no orgulho de Satanás.
d) nas imperfeições de Satanás.

126 | TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


Adão foi colocado à prova no jardim

O primeiro casal foi criado com responsabilidades morais – isto é parte


integrante da semelhança que o homem guarda com Deus. De início, os primeiros dois
seres humanos possuíam, também, inocência moral, uma vez que sua responsabilidade
moral não fora provada, ainda. Para que eles passassem da condição de inocência não
testada para a de virtude experimentada e triunfante, fazia-se necessário que fossem
submetidos a um período de experiência moral. Adão e Eva não tinham motivos ou
necessidades para cederem às tentações.

Como interpretar o período de prova?

Muitas vezes, a prova a que Adão e Eva foram submetidos é pobremente


descrita como uma proibição a que se comesse o fruto de determinada árvore do
conhecimento do bem e do mal. Se é assim, como Deus poderia ter condenado toda
a humanidade simplesmente por causa de uma fruta? A resposta a essa pergunta
encontra-se no princípio oculto na experiência. Não eram simplesmente as ações de
Adão e Eva, as suas ações em relação a Deus. O castigo não deu-se porque comeram
o fruto, mas porque comeram a despeito da ordem de Deus para que não o
fizessem!

A experiência, tal como anteriormente notado, foi o método empregado por


Deus para conduzir o primeiro homem e a primeira mulher do estado de inocência
para o de maturidade moral. Era plano de Deus que o homem experimentasse
comunhão ininterrupta Consigo. Neste contexto, a árvore do conhecimento do bem
e do mal devia ser a base da declaração da obediência ao Criador – como um
juramento de lealdade ao Senhor. O fruto em si não produzira efeitos sobre o
relacionamento entre Deus e o homem; mas a atitude de Adão e Eva, esta sim,
afetaria grandemente o modo como toda a humanidade passaria a tratar com o
Criador. Se aprovado neste teste, o primeiro casal teria conhecido o mal do ponto de
vista do bem, isto é: saberiam o que é o pecado, mas ele não viria a fazer parte de
sua natureza.

A tragédia do período de experiência a que Adão e Eva seriam submetidos


deu-se quando eles optaram por desconsiderar o mandamento de Deus, passando
a orientar-se pelas sutilezas do Maligno. Para convencer o primeiro casal a não
atentarem ao plano de Deus, Satanás alegou que o Senhor estava subtraindo da
humanidade uma coisa valiosa com Sua proibição de consumir o fruto do
conhecimento do bem e do mal. O principal indicador de que o Inimigo galgara
sua vontade foi o fomento de hostilidade contra Deus nos corações de Adão e Eva;
a partir deste ponto, provar o fruto seria uma questão de tempo. É muito
interessante notar que o pecado começou bem antes da primeira mordida; o
pecado iniciou-se na atitude rebelde contra Deus, acalentada no coração – foi isso
que levou à consumação do pecado. Se o interesse do primeiro casal foi o
conhecimento do bem e do mal, eles, portanto, o efetivara: agora, conheciam o
bem como algo que perderam para sempre, e foram apresentados ao mal,
constante senhor de suas vidas.

127 | LIÇÃO 7 : A HUMANIDADE PERDIDA


19. Assinale cada melhor descrição do período de prova a que Adão e Eva foram submetidos.
a) Essa prova tinha por finalidade elevar o primeiro casal do estado de inocência não
testada a um estado de virtude triunfante e de maturidade moral.
b) Inicialmente, a prova não testava as ações de Adão, mas suas atitudes para com Deus.
c) A árvore do bem e do mal foi escolhida como a base para a prova da obediência.
d) Satanás tinha o propósito de alterar a atitude de Adão para com Eva.
e) Depois da queda, Adão e Eva reconheceram o mal que se tornara parte da sua
própria natureza, como consequência de seguirem a Satanás.

Como Eva reagiu diante do Tentador?

Lastimavelmente, Eva deu ouvidos ao Diabo. Esperava-se dela que encerrasse


aquele diálogo estranho com a serpente; mas ao contrário disso, ela escutou tudo o que
Satanás tinha a dizer, permitindo que ele turvasse a sua mente com dúvidas quanto
aos motivos de Deus para aquela proibição. Eva olhou para a árvore e seu fruto (o
pecado nunca deve ser encarado de perto); e mais de perto, então. E o fato de olhar
para a árvore encheu-a de vontade de provar daquele fruto, que já não parecia tão
ruim assim. Esta atitude nascera na dúvida, e provocou a derrota de todos os homens.

Adão e Eva foram derrotados por Satanás

O sentimento contínuo ao pecado foi a culpa: os primeiros seres humanos não


somente conheciam o mal, mas também o tinham, a partir de agora, como parte
integrante de sua natureza. A culpa que sentia o primeiro casal não era somente em
relação à pessoa de Deus, mas também mutuamente – Adão e Eva buscaram meios de
encobrirem um do outro a sua vergonha, fugindo para as folhagens do jardim. Tudo
em vão! Eles foram julgados e detidos como culpados diante de Deus; foram expulsos
do Éden. Mesmo assim, receberam a promessa divina de um livramento futuro (Gn
3.15), assunto a ser considerado quando estudarmos o Messias no AT. A partir deste
momento da história, o homem passa a ser visto no AT como um ser necessitado de
libertação – uma realidade absolutamente contrária ao pensamento evolucionista, que
prega melhorias progressistas. A verdade é que a situação da raça humana é de
declínio espiritual, por esta razão, o Senhor pôs a Sua mão de juízo sobre a
humanidade antediluviana, destruindo a todos com águas torrenciais. Após isto, os
construtores de Babel também foram condenados por seu orgulho; e, a exemplo destes,
os cidadãos de Sodoma e Gomorra foram destruídos por seus pecados, uma vez que
assumiram as mais horrendas formas de imoralidade

20. Assinale a alternativa que melhor descreve a consequência do pecado de Adão.


a) A consequência imediata foi um senso de culpa.
b) Adão reconhecia o poder de Deus.
c) Satanás foi derrotado.
d) Adão buscava a presença de Deus.

128 | TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


OS PECADOS DE ISRAEL OBJETIVO 3
Descrever os três aspectos
da natureza do pecado de
Depois de Gênesis, é nos profetas que encontraremos um mais pormenorizado Israel, conforme os profetas
os delinearam.
desmascaramento do pecado e de suas consequências. Estes porta-vozes da santidade
de Deus proclamavam o aspecto tríplice dos pecados: pecados rituais, sociais e
individuais de Israel. Examinemos agora essa parte trágica da história da nação israelita.

21. Das alternativas seguintes, qual não é uma descrição típica dos pecados de Israel?
a) Social.
b) Internacional.
c) Individual.
d) Ritual.

Os pecados rituais de Israel

O sistema sacrificial do AT baseava-se em formas rituais determinadas por Deus.


Por exemplo, o texto de Lv 16 conta como Moisés recebeu do Senhor todas as normas
para o Dia da Expiação. Mas, note que interessante: ainda que Israel estivesse
praticando cerimônias ordenadas por Deus, pecava mesmo assim. Por quê? Porque o
povo passou a entender os sacrifícios como uma espécie de dever cerimonial
protocolar que poderia ser praticado sem se fazer acompanhar pela devida convicção
pessoal de tristeza e arrependimento pelo pecado. Em outras palavras: o sacrifício
ritual de Israel dava-se quando pensava ele que uma vez feito o sacrifício, nada mais
importava. Foi este o pecado ritual da nação.

Meditemos por alguns instantes em Is 1. Ali, o porta-voz de Deus é exigente em


sua condenação das práticas religiosas de Israel. Diz ele que os sacrifícios foram
totalmente rejeitados por Deus, assim como as orações e os dias festivos da nação:
“Não tragais mais ofertas debalde” (v. 13). Os rituais religiosos de Israel tornaram-
se uma farsa que Deus já não podia tolerar. Outro profeta, Jeremias, chegou ao cerne
da questão em Jr 7.21-28, ao dizer que a essência da religião não estava na
participação em exercícios religiosos (como os sacrifícios), mas em um relacionamento
de obediência a Deus. A soma de todos os sacrifícios de Israel não teria valor, caso não
se fizesse acompanhar por um profundo relacionamento nascido no coração.

Israel era faltoso de submissão a Deus. Esse fato evidenciava-se no exercício da


religiosidade hebreia, pois na imensa maioria das vezes os sacrifícios eram uma
tentativa de subornar a Deus de forma materialista. Tal como os povos pagãos
aplacavam a ira de seus deuses ou pagavam-lhes os serviços com oferendas, Israel
intentava fazer com Deus, gratificando-O por bênçãos.

A medida que a submissão era menos enfatizada, mais valorizada passava a ser
a realização meramente ritualista da religião. Já perto do fim do período monárquico,
o culto ao Senhor passou a ser misturado com o culto aos deuses-pagãos, de forma
que muito dos cultos idólatras fora incorporado à liturgia da adoração, vindo a tornar-

129 | LIÇÃO 7 : A HUMANIDADE PERDIDA


se característica cerimoniosa. Mesmo a licenciosidade tornou-se um elemento do novo
culto a Jeová, tudo praticado sob a máscara fajuta de uma pseudo-santidade. Israel
promoveu em sua mente a obliteração das exigências éticas do Senhor, ao mesmo
tempo em que as concupiscências do povo eram satisfeitas. Por isso, em forte
linguagem, tão forte quanto possível, os profetas condenavam estas idiossincrasias,
taxando-as de adultério e prostituição espirituais (Ez 16.25; 23.37; Jr 3.6,8,9; 13.27).

Os pecados rituais de Israel arrasaram a pureza ética do povo, fazendo-o


intentar comprar os favores de Deus e o resultado de tudo não seria outro a não ser
as vergonhas as desgraças. Todos os sacrifícios que poderiam ser oferecidos, e todos os
dízimos que se poderiam pagar, não substituiriam uma submissão completa ao Senhor
(Dt 6.5; Mq 6.8).

22. Assinale cada alternativa correta quanto ao pecado ritual de Israel.


a) O relacionamento amoroso com Deus foi substituído por uma atividade legalista.
b) As atividades religiosas predominavam sobre a santidade pessoal.
c) O povo procurava comprar os favores de Deus.
d) A adoração a Jeová passou a misturar-se com o culto aos ídolos pagãos.

23. De acordo com Jr 7.21-28, qual é a essência da religião?

Os pecados sociais de Israel

Quando o relacionamento de uma comunidade com Deus fracassa, as relações


interpessoais entre os membros desta comunidade também entram em colapso. Israel
descobriu isso da pior maneira. A sequência do pensamento de Oséias (4.1-2)
exemplifica este fato. Por intermédio do profeta, Deus condenou o povo em razão de
duas transgressões: (1) sua falta diante de Deus, pois o povo não conhecia ao Senhor
(v. 1); (2) sua falta diante da comunidade (perjurar, mentir, matar, furtar, adulterar) (v.
2). Ambos os versículos descrevem uma comunidade em caos total; e por que tanta
confusão? Os pecados da nação provocaram o próprio colapso moral da sociedade. O
pecado espiritual sempre resulta em pecados sociais.

Os profetas do Senhor não limitavam-se a reprovar os pecados religiosos de


Israel, mas também reprovavam os males sociais que grassavam na comunidade.
Percebemos nisso que todo o pecado é dirigido contra Deus: os pecados rituais eram
cometidos contra a Pessoa de Deus e a Sua pureza; os pecados sociais afetavam a Sua
justiça. É somente dentro desse contexto que podemos interpretar corretamente os
pecados sociais de Israel. Há quem deseje aproveitar-se das palavras dos profetas para

130 | TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


formular uma doutrina assistencialista e de socialização de recursos, mas não era isso
o que os profetas estavam defendendo. Os mensageiros do Senhor sempre
consideravam a situação sob a perspectiva divina: Deus estava irado não com a
distribuição desigual dos bens, mas com o pecado a cobiça que causavam semelhante
desigualdade.

Amós, o profeta da consciência social de Israel, foi quem mais frequentemente


denunciava os pecados sociais do povo. Note as suas seguintes referências: 2.6-8; 3.12
e 15; 4.1; 5.11-12; 6.3-6; 8.4-6. Esses versículos retratam uma comunidade obcecada
com uma única paixão, autogratificação a todo o custo. Amós não está condenando a
posse de riquezas e de poder, mas o desejo desordenado e anti-religioso que
desconsidera quaisquer outros fatores. Veja especialmente Am 8.4-5. O povo amava as
riquezas mais que a Deus, e isto é pecado.

24. Quais foram as duas acusações contra Israel em Os 4.1-2?


a) _______________________________________________________________
b) _______________________________________________________________

25. Das afirmativas a seguir, quais descrevem a maneira dos pecados sociais serem
dirigidos contra Deus?
a) Os pecados sociais de Israel eram dirigidos contra a estrutura social da
comunidade.
b) Eram dirigidos contra a justiça de Deus.
c) Eram contrários à estrutura de assistência social do país.
d) Nenhuma das declarações acima.

26. Deus estava irado contra os pecados sociais de Israel porque


a) havia distribuição desigual dos bens na nação.
b) o povo não prestava atenção às mensagens dos profetas no tocante à necessidade
de redistribuir os recursos.
c) os pecados eram acompanhados pela cobiça.
d) a) e b) estão corretas.

27. Como o profeta Amós retratou a comunidade de Israel?

Os pecados individuais de Israel

Conforme visto, Israel negligenciava o fato de que a religião é muito mais que
uma atividade exterior. Seus pecados rituais surgiam como resultado da negligência do
relacionamento que há entre a moralidade e a adoração. O rompimento de seu
relacionamento com Deus foi a causa elementar de seus pecados sociais.

131 | LIÇÃO 7 : A HUMANIDADE PERDIDA


Para que não predomine a errônea ideia de que o AT privilegiava a
culpabilidade coletiva, a ponto de desconsiderar as responsabilidades individuais,
trataremos agora das transgressões pessoais. E sobre isso, a maior de todas as histórias
veterotestamentárias é a do adultério de Davi com Bate-Seba (2Sm 11; Sl 51). Embora
já comentado posteriormente, este fato agora nos interessa pela natureza do pecado do
rei e de sua responsabilidade pessoal.

Davi quebrou três dos Dez Mandamentos (Dt 5.17, 18 e 21). No âmago do
seu pecado havia uma afronta pessoal contra o próprio Deus (Sl 51.4). O AT sempre
considerava o pecado como um contraste com a Pessoa de Deus, e Davi não estava
apenas violando princípios impessoais do comportamento. Ele estava ultrajando um
Deus Santo. O rei de Israel sabia onde estava a culpa de seu pecado. Não era a
aparência de Bate-Seba que o levara a pecar; somente ele era responsável por seu
pecado. Note no Sl 51 como Davi, no emprego do pronome pessoal, amontoava
sobre si a culpabilidade, e não vê nenhuma outra solução a não ser o perdão divino
(Sl 51.9-12).

O princípio da responsabilidade pessoal pelo pecado foi desconsiderado na


história posterior dos judeus. Durante os tempos do ministério de Jeremias e de
Ezequiel, certo provérbio tornou-se corrente na totalidade de Israel: “Os pais comeram
uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram”. Em outras palavras, a culpa pelas
dificuldades contemporâneas da nação era atribuída aos pecados dos pais (Jr 31.29; Ez
18.20). O povo, portanto, não poderia usar a hereditariedade como desculpa para os
seus pecados, nem refugiar-se na tradição nacional para escapar à condenação pelas
suas transgressões (Ez 14.12-20). A responsabilidade da prestação de contas começa e
termina com cada indivíduo.

28. Assinale cada alternativa correta.


a) O AT concentrava-se no ensino da responsabilidade coletiva pelos pecados.
b) No âmago do pecado de Davi havia uma afronta pessoal à família de Bate-Seba.
c) Davi culpou a si mesmo por ter pecado com Bate-Seba.
d) A única solução para o pecado de Davi foi o perdão divino.

29. Segundo Ez 18.20


a) Israel atribuía seus problemas contemporâneos à sua instabilidade econômica.
b) o povo atribuía seus problemas às suas próprias fraquezas espirituais.
c) o povo atribuía a culpa dos seus problemas aos pecados dos seus pais.
d) a mudança do cenário político provocava uma instabilidade temporária na nação.

OBJETIVO 4 A CONSEQUÊNCIA DO PECADO


Definir o significado da
morte espiritual segundo o AT.
Nossa consideração acerca do triste estado do homem caído deve incluir um
estudo da consequência ulterior do pecado, a morte. Deus dera a Adão e a Eva uma
ordem bem nítida. Não deviam comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e

132 | TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


do mal. Se desobedecessem, teriam que enfrentar a consequência predita: a morte (Gn
2.17; Nm 16.29; Jó 4.8-9; 14.1-4). A universalidade do pecado (1Rs 8.46; Sl 14.1-3;
143.2; Pv 20.9; Ec 7.20) fez a punição do mesmo recair sobre todos os homens. Assim
como o pecado tornou-se parte da natureza humana decaída, assim também a morte
ficou sendo o destino de todo homem (com apenas duas exceções notáveis, Enoque e
Elias).

O que é a morte?

O que pretendia comunicar quando disse a Adão e Eva “No dia em que dela
comeres, certamente morrerás”? Como é óbvio na narrativa do Gênesis, o primeiro
casal não faleceu imediatamente ao seu pecado, contudo, torna-se evidente a eles e a
nós que eles não mais seriam as mesmas pessoas. Sua culpa os levou a se esconderem
de Deus; houve, portanto, um reconhecimento imediato do rompimento da comunhão
que anteriormente eles tinham com Deus. Agora, não mais podendo estar na presença
de Deus, ficava constatada a sua morte espiritual imediata. Logo, dentro do contexto
bíblico, a morte é muito mais que o decesso biofísico; na Bíblia, aprendemos que a
morte é o colapso do relacionamento entre a alma e seu Deus e Criador. Desprovido
desta comunhão, o homem não pode sobreviver espiritualmente.

A morte no AT deve ser compreendida a partir de dois pontos de vista.


Primeiramente, a veremos conforme a ótica das nações pagãs, aqui representadas pelo
Egito e por Canaã. A seguir, consideraremos o ensino bíblico sobre o significado da
morte. As práticas egípcias e cananeias revelam que estes povos não tinham a morte
como o fim da existência. No Egito, por exemplo, como é sabido de todos, os faraós
cercavam-se de providências esmeradas para que a viagem da morte através da vida
do além transcorresse sem sobressaltos. As descobertas arqueológicas falam de
tesouros sepultados com seus donos nas pirâmides – eles seriam as provisões para a
vida após a morte. Já na Terra Prometida, os judeus mantiveram contato com o
cananeus, e viram o quanto eles tinham pavor de Mot, o deus da morte. Na busca por
seu favor, os cananeus chegavam a mutilar-se fisicamente. O AT, no entanto, era
explícito quanto a proibição feita aos judeus de se envolverem com tais práticas (Dt
14.1; 26.14; Sl 106.28).

Examinemos o ensino do AT no tocante ao significado da morte, a partir de um


estudo resumido com base em referências apropriadas:
a) o corpo do morto era impuro (Lv 21.2; Nm 5.2; 9.6,7; 19.11, 13, 16);
b) todos os homens eram sujeitos à morte: esta era a grande igualizadora da
humanidade (Jó 3.17-19);
c) depois da morte não poderia haver mais envolvimento nos negócios
terrestres (Ec 9.4-6);
d) o incentivo para trabalhar nesta vida baseava-se parcialmente na
incapacidade de se realizar coisa alguma após a morte (Ec 9.10).

O conceito de morte nunca foi claramente definido no AT, onde achamos, na sua
totalidade, apenas um quadro parcial dela. Na realidade, somente depois do Messias ter
removido o aguilhão da morte que o medo da morte foi removido do crente.

133 | LIÇÃO 7 : A HUMANIDADE PERDIDA


30. Leia as referências abaixo e declare se ensinam a penalidade do pecado ou a
universalidade do mesmo:
a) Gn 2.17: _____________________________________________________
b) Nm 16.29: _____________________________________________________
c) 1Rs 8.46: _____________________________________________________
d) Ec 7.20: _____________________________________________________

31. O que levou Adão e Eva a esconder-se de Deus?

32. A morte no sentido bíblico é


a) um processo biofísico.
b) a decomposição gradativa das células do corpo.
c) o colapso no relacionamento da alma com Deus.
d) uma separação da comunidade dos crentes.

33. Associe o versículo (direita) ao seu ensino a respeito da morte (esquerda).


____ a) Não se pode realizar coisa alguma 1. Nm 5.2
depois da morte. 2. Ec 9.10
____ b) Não há mais envolvimento nos 3. Jó 3.17-19
negócios da terra. 4. Ec 9.4-6
____ c) Todos os homens estão sujeitos à
morte.
____ d) O cadáver é impuro.

O que acontece depois da morte?

Deus faz nítida distinção entre a morte do justo e a do ímpio. Ele não tem
prazer na morte dos ímpios (Ez 18.32; 33.11), mas vê a morte dos justos como algo
precioso aos seus olhos (Sl 116.15). Há uma expressão de esperança, e não de fim
irremediável, quando lemos a respeito da morte dos justos.

Considere como os seguintes escritores expressam seus conceitos a respeito do


que acontece depois da morte: Salomão antevia um lugar futuro de refúgio e de bem-
aventurança (Pv 14.32); Isaías previa os justos entrando em um lugar de descanso e de
paz (Is 57.1-2); os salmistas confiavam na esperança futura de uma ressurreição do
corpo (Sl 16.9-11; 17.15; 49.15 – nesse último versículo, lemos as seguintes e
significativa palavras: “Mas Deus remirá a minha alma do poder da sepultura, pois
me receberá”).

Em contraste com a esperança dos justos, há o destino declarado dos ímpios – o


julgamento e o castigo (Jó 21.30; Sl 1.5,6). Não há nenhuma esperança que aguarde os
ímpios depois da morte, mas somente a ira de Deus contra seus pecados (Pv 11.7). O

134 | TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


profeta Daniel nos oferece uma declaração resumida daquilo que aguarda os justos e
do que espera os ímpios: “E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão uns
para a vida eterna, e outros para a vergonha e desprezo eterno” (Dn 12.2).

34. Associe os versículos (direita) com sua descrição daquilo que acontece aos justos
depois da morte.
____ a) Acharão um lugar de paz e 1. Sl 49.15
descanso. 2. Pv 14.32
____ b) Acharão um lugar de refúgio e de 3. Is 57.1 e 2
bem-aventurança.
____ c) Há a esperança final da ressurreição
do corpo.

35. O que as referências bíblicas a seguir, nos contam a respeito do destino dos
ímpios?
a) Jó 21.30: ______________________________________________________
b) Sl 1.5 e 6: ______________________________________________________
c) Pv 11.7: ______________________________________________________

36. Como Dn 12.2 contrasta o destino dos ímpios com o dos justos?

O que é o Sheol e onde fica?

Um dos assuntos mais difíceis da teologia do AT é o Sheol, nome dado ao lugar


da morte na literatura veterotestamentária. Comecemos recordando que Sheol refere-
se à própria sepultura, para onde seguem os corpos de justos e ímpios - nesse
contexto, o corpo físico desce à sepultura (Gn 37.35; 44.31; Nm 16.33; 1 Sm 2.6; Sl
6.5; 89.48). Prossigamos relembrando que Sheol também é empregado como
referência ao lugar do castigo dos ímpios (Dt 32.22; Jó 21.13; 26.6; Sl 9.17; Pv 15.24)
– e nesse contexto, Sheol tem um significado bem mais sinistro. Textos como os
aludidos nesta seção ensinam que os que vão para o Sheol estão sujeitos à ira de Deus
o Juiz eterno que castiga a iniquidade. Por contraste, os justos são livrados do Sheol,
tendo recebido a remissão do castigo devido pelo pecado (Sl 17.15; 49.15).

Tentando explicar de forma mais satisfatória este assunto, alguns teólogos


propõem uma teoria, segundo a qual o Sheol é um único lugar, dividido em dois
distintos ambientes, onde um é reservado aos justos (que aguardam a ressurreição) e
o outro aos ímpios (já em castigo eterno).

Para outros estudiosos, Sheol é um só nome para dois lugares distintos (a


sepultura, para onde seguem justos e injustos, e o lugar espiritual onde estão as almas
dos ímpios já falecidos). Neste caso, as almas dos justos já estariam com Deus.

135 | LIÇÃO 7 : A HUMANIDADE PERDIDA


Apesar da dificuldade que cerca este tema, é mais seguro afirmar que a segunda
ideia sobre o Sheol é a mais correta. Primeiro porque esta teoria coaduna mais
hermeticamente com o panorama do AT sobre a morte. Segundo porque a ideia de
dois ambientes em uma mesma região espiritual é muito assemelhada ao
entendimento grego de um submundo tenebroso. E, finalmente, porque se pode
afirmar que a literatura hebraica intertestamentária apócrifa cultivava esta ideia de
compartimentos.

Como poderemos resumir um assunto tão complexo? O AT retrata a morte


como a penalidade pelo pecado que é imposta sobre todos os seres humanos. Há, no
entanto, além da sepultura, dois destinos distintos: para os justos, a esperança garantida
do livramento dos laços da morte e de uma comunhão viva com Deus; para os ímpios,
nada sobra senão a certeza do castigo com tormento eterno.

37. Que ensinam os versículos abaixo, a respeito do Sheol?


a) Nm 16.33:______________________________________________________
b) Sl 9.17: ______________________________________________________
c) Sl 49.15: ______________________________________________________

38. Segundo certa teoria, o Sheol consiste em


a) três compartimentos separados, com lugares para as almas dos justos, dos ímpios
e para os anjos.
b) um lugar dividido em dois compartimentos separados.
c) os justos estão no Sheol esperando a ressurreição do corpo, e os ímpios estão
noutra parte do Sheol sofrendo tormentos eternos pelos seus pecados.
d) b) e c) estão corretas.

39. Assinale cada alternativa correta quanto a definição mais indicada para Sheol.
a) É um lugar com três níveis.
b) É uma só palavra para dois lugares separados.
c) É uma palavra usada para representar a sepultura.
d) Refere-se ao lugar dos justos após a morte.
e) O Sheol é o lugar das almas dos ímpios após a morte.

136 | TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


MÚL TIPLA ESCOLHA: Da sequência a seguir, assinale apenas as afirmações
MÚLTIPLA AUTOTESTE
corretas.

1. O AT ensina que Satanás é um ser independente eterno.


2. Deus fez Satanás com uma desonra moral distintiva.
3. Satanás foi criado para adorar a Deus.
4. O nome Satanás significa Juiz.
5. Adoração de ídolo é realmente adorar demônios.
6. Pecado tem sua origem na fraqueza humana.

MÚLTIPLA ESCOLHA: Assinale a única alternativa correta, para cada questão.


MÚLTIPLA

7. A provação de Adão e Eva foi intencionada para


a) mostrar a superioridade de Deus sobre Satanás.
b) demonstrar a fraqueza moral de Adão e Eva.
c) trazer Adão e Eva a um estado de virtude triunfante e maturidade moral.
d) Todas as alternativas anteriores estão incorretas.

8. Após o pecado, Adão


a) reconheceu sua própria culpa pessoal.
b) fugiu da presença de Deus.
c) tornou-se um ser moralmente livre.
d) a) e b) estão corretas.

9. O pecado ritual de Israel pode ser descrito como


a) uma falha da adoração no templo.
b) negligenciando as necessidades dos sacerdotes.
c) substituindo santidade pessoal com atividade religiosa.
d) uma falta em pagar seus dízimos.
e) Todas as alternativas anteriores estão corretas.

10. Os pecados sociais de Israel eram


a) contrários ao plano de Deus para o recurso da redistribuição.
b) acompanhados por avareza intensa pela riqueza material.
c) dirigidos contra a justiça de Deus.
d) b) e c) estão corretas.

11. De acordo com Ez 18.20


a) os problemas atuais de Israel foram consequências do pecado de seus pais.
b) a situação desesperada de Israel era o resultado das mudanças na política
internacional.
c) as pessoas reconheciam sua própria culpa pelos seus problemas.
d) Todas as alternativas anteriores estão incorretas.

137 | LIÇÃO 7 : A HUMANIDADE PERDIDA


12. A definição mais indicada de Sheol é
a) que há um lugar com níveis separados.
b) uma palavra usada para dois lugares distintos.
c) tanto o túmulo quanto o lugar dos fracos, após a morte.
d) b) e c) estão corretas.

ASSOCIAÇÃO: Faça o que é pedido em cada grupo de questões.

13. Associar os versículos bíblicos com os seus ensinos sobre a morte.


____ a) Ec 9.4-6 1. Todos os homens estão
____ b) Nm 5.2 sujeitos à morte
____ c) Jó 3.17-19 2. Não há mais envolvimento
____ d) Ec 9.10 em negócio terreno após a
morte
3. O homem não pode realizar
nenhuma coisa a mais após a
morte
4. Um corpo morto é impuro

14. Associar os versículos bíblicos com os seus ensinos sobre a morte.


____ a) Há um lugar de refúgio e bênção. 1. Is 57.1 e 2
____ b) A última esperança é a ressurreição 2. Sl 49.15
do corpo. 3. Pv 14.32
____ c) Há um lugar de paz e descanso.

138 | TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


RESPOSTAS ÀS QUESTÕES DE ESTUDO

1. O príncipe de Tiro e o rei da Babilônia 8. a), b), c) e d)

21. b) 28. c) e d)

2. c) e e) 9. a) Apresentou uma dúvida quanto a


veracidade da ordem de Deus;
22. a), c) e d) b) Apresentou uma dúvida quanto a
motivação do mandamento de Deus.

3. Ele era um dos poucos anjos cujo


ministério era associado intimamente 29. c)
com o trono de Deus.
10. c), d) e e)
23. Todos os sacrifícios não teriam valor
nenhum se não fossem acompanhados por 30. a) Penalidade
um relacionamento genuíno com Deus. b) Universalidade;
c) Penalidade;
4. d) d) Universalidade.

24. a) Quanto a Deus, não havia 11. a) 1


conhecimento de Deus no país. b) 2
b) Quanto a comunidade, perjurar, c) 1
mentir, matar, furtar, adulterar etc.
d) 2

5. a) Ocupar o lugar de Deus;


31. a culpa
b) Ter soberania divina;
c) Ter autoridade sobre os anjos;
12. Procurou a força de Israel nas
d) Ter autoridade sobre a criação; estatísticas ao invés de procurar em
e) Ter glória maior que a de Deus. Deus (orgulho).

25. b) 32. c)

6. b) 13. b) e c)

26. d) 33. a) 2
b) 4
7. c) Adversário c) 3
d) 1
27. Com uma paixão - auto-gratificação,
custe o que custa, amava mais a 14. Ele não é onisciente, nem onipresente,
riqueza do que a Deus. precisa da ajuda deles.

139 | LIÇÃO 7 : A HUMANIDADE PERDIDA


34. a) 3 36. Os justos ressuscitarão para a
vida eterna, os ímpios
b) 2
ressuscitarão para o desprezo
c) 1 eterno.

15. A revelação trata mais da 17. A adoração a ídolos está


desaprovação deles do que de associada a demônios.
uma descrição pormenorizada
deles.
37. a) Sheol refere-se à sepultura;
b) Sheol é um lugar de castigo
35. a) O julgamento;
para os ímpios;
b) O castigo;
c) Os justos são livres do Sheol.
c) Sem esperança após a morte,
o aguarda somente a ira de Deus
contra seus pecados. 18. c)

16. a) Os ídolos podem representar 38. d)


demônios.
b) A adoração de ídolos era
19. a), b), c) e e)
associada com demônios.
c) Adorar os ídolos era o
mesmo que adorar demônios. 39. b)

d) Sacrificar seus filhos aos


ídolos é o mesmo que sacrificá- 20. a)
los a demônios.

140 | TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


141 | LIÇÃO 7 : A HUMANIDADE PERDIDA

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