Você está na página 1de 6

O topónimo Quinta do Conde está inscrito nas Memórias Geográficas e

Históricas da Província da Estremadura registada pelo Padre Manuel


Caetano de Sousa, em 1726, na lista de igrejas, capelas e ermidas da
área de Azeitão. Refere expressamente Quinta do Conde de Atouguia,
hoje Padres Regrantes de S. Vicente de Fora. Este texto de poucas
palavras responde porém à primeira interrogação de qualquer
interessado pela história local: quem foi o conde que deu origem ao
topónimo?

O Mosteiro de S. Vicente

No início do século XIII, o mosteiro de S. Vicente começou a adquirir na


área algumas herdades. O registo mais antigo, de Maio de 1224, refere-
se a uma doação, feita por Mendo Rocines e sua mulher D. Teresa, de
uma herdade com moinho e mais pertenças, no lugar de Porto de
Cavaleiros, em Coina. De Abril de 1230, é o registo duma compra feita
por D. Pedro, prior de S. Vicente, a Pedro Gonçalves, duma herdade no
lugar de Ribeira de Coina, termo de Sesimbra, confrontando com o Porto
de Cavaleiros e Palmela, pelo preço de 60 morabitinos. Em Maio
de 1232 dá conta do aforamento da herdade de Coina feito pelo Mosteiro
de S. Vicente a João Pedro e sua mulher.

Sucedem-se os documentos de compra, venda, aforamento, doação, etc.


... Salienta-se todavia, que o Mosteiro de S. Vicente adquiria
definitivamente (sob a forma de compra ou doação), e alienava
temporariamente – (através de aforamentos, emprazamentos, etc. ...).

Os Condes de Atouguia

Não está completamente claro, como é que, no século XVI, umas das
mais poderosas famílias do Reino, a dos Condes de Atouguia, aforou a
Quinta da Ribeira de Coina. Um registo de 21 de Junho de 1552, cita
uma demanda entre o Mosteiro de S. Vicente e de D. Álvaro de Ataíde,
por causa da Quinta de Coina. Uma certidão de 27 de Julho de 1741,
refere que a Quinta de Coina, tinha sido emprazada D. Álvaro Gonçalves
de Ataíde,... A 8 de Junho de 1573, com suas casas, terras, matos,
pinhais, pomares e várzea, a qual entesta da banda do Norte no limite da
Vila de Coina, onde chamam o Porto de Cavaleiros. Ainda de acordo com
a mesma certidão, os Condes de Atouguia passaram a pagar de foro a
partir de 31 de Janeiro de 1624, a quantia de 12$100 (doze mil e
cem réis), 2 capões e 2 cabritos. D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, que o
documento anterior refere, não foi, como alguns têm afirmado, o primeiro
Conde de Atouguia, porque este morreu em 1452, quatro anos depois do
título de Conde de Atouguia lhe ter sido outorgado, mas sim o irmão do
terceiro Conde de Atouguia, D. Luís de Ataíde, que lhe sucedeu na Casa,
não no título. Importa acentuar que emergiram da Casa de Atouguia
algumas das mais distintas figuras do Reino, com importantes
desempenhos na administração pública: D. Álvaro Gonçalves de Ataíde,
D. Luís de Ataíde (3.º Conde de Atouguia), D. Filipa de Vilhena
(Condessa de Atouguia; já viúva, na madrugada de 1 de
Dezembro de 1640, cingiu ela própria as armas aos filhos e mandou-os
combater pela independência de Portugal), D. Jerónimo de Ataíde (6.º
Conde de Atouguia, um dos conspiradores de 1640), D. Luís Peregrino
de Ataíde (10.º Conde Atouguia).

Em Janeiro de 1759, o 11.º Conde de Atouguia, D. Jerónimo de Ataíde,


foi executado no patíbulo de Belém, acusado de cumplicidade no
atentado contra a vida de D. José. Todos os bens foram confiscados e
naturalmente tornados nulos o aforamento da Quinta do Conde. Cessou
desta forma a ligação dos Condes de Atouguia à Quinta do Conde, mas,
continuou a designação anteriormente assumida de Quinta do Conde.

Património do Estado

O início do século XIX foi particularmente instável em Portugal. As


invasões francesas; a deslocação da Corte para o Brasil; a presença dos
aliados ingleses, as lutas entre absolutistas e liberais foram alguns dos
principais factores de instabilidade.

Com a vitória dos liberais adivinhavam-se dias muito difíceis para a


igreja. De todas as medidas foi particularmente dura a publicação do
Decreto de 30 de Maio de 1834, anunciava-se já na imprensa oficial a
venda da Quinta do Conde em hasta pública. O leilão estava marcado
para o dia 10 de Setembro e a Quinta do Conde fora avaliada em
10.000$000, ou 10.041$770 com os objectos da Ermida e pertenças de
lavoura. A Quinta do Conde, porém, não foi vendida naquela data e no
Diário do Governo de 2 de Novembro de 1835, surgiu novo anúncio,
desta vez a publicitar o leilão para o dia 14 de Dezembro. O Governo
pensava arrecadar alguns fundos com a alienação do património
adquirido nas condições atrás descritas mas, a generalizada crise
económica afastava eventuais interessados nos leilões. Para facilitar a
venda daqueles bens aceitava-se o pagamento sob a forma de Apólices,
Cédulas, ou Títulos liquidados da Dívida Pública.

José Maria da Fonseca

O pai de José Maria da Fonseca, José António Fonseca atingiu alguma


independência económica, fruto da sua actividade de fornecedor de
géneros ao exército português, durante o conflito provocado pelas
invasões napoleónicas. José Maria da Fonseca nasceu em Vilar Seco,
próximo de Nelas, em 31 de maio de 1804[2] , estudou na Universidade
de Coimbraentre 1822 e 1825. Casou com Maria Augusta Soares Franco
Ferreira, filha dum fornecedor de géneros às tropas inglesas. José Maria
da Fonseca mudou-se para Azeitão, onde começou por adquirir a Quinta
da Bassaqueira em 1824 e posteriormente outras quintas na área. Em
1834 iniciou a produção de vinhos e licores para exportação. Foi José
Maria da Fonseca quem arrematou a Quinta do Conde para o filho, no
leilão realizado 14 de Dezembro de 1835, pela quantia de vinte e um
contos e duzentos mil réis, que pagou o dito José Maria da Fonseca em
Títulos admissíveis na compra dos Bens Nacionais.

Provavelmente a pedido de José Maria da Fonseca, o Professor António


Nunes de Carvalho, enquanto Director dos Arquivos Nacionais, copiou
alguns acentos relativos à Quinta Conde. No final dessa relação, que se
encontra no arquivo da Família de José Maria da Fonseca, este
escreveu: Extraído dos registos da Torre do Tombo pelo cuidado e favor
do meu particular amigo o Dr. António Nunes de Carvalho, quando foi
Guarda-mor daquele estabelecimento. Lisboa 12 de Janeiro de 1840.

O sucesso da empresa de José Maria da Fonseca justificou em 1856 a


mais alta condecoração portuguesa atribuída por D. Pedro V: Cavaleiro
da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

Na descrição predial da Quinta do Conde, em 1867, é referida uma


hipoteca pela quantia de vinte e cinco contos de réis.

Sofia Augusta da Fonseca Barros, a única filha de José Maria da


Fonseca, foi quem herdou a Quinta do Conde, após a morte do pai,
ocorrida a 26 de Março de 1886. Era casada com Henrique da Gama
Barros um historiador de renome, que estava a preparar a edição da
História da Administração Pública em Portugal. Alheios aos problemas da
agricultura e ao negócio do vinho, recorreram ao arrendamento da
empresa e das propriedades. Em 20 de Outubro de 1892, hipotecaram a
Quinta do Conde à Companhia Geral do Crédito Predial Português, em
troca do empréstimo de 14.580$000. Esta hipoteca foi cancelada a 8 de
Março de 1904. Henrique da Gama Barros já era viúvo, quando a 29 de
Agosto de 1925.Henrique da Fonseca Barros, filho do anterior casal,
tomou posse da Quinta do Conde em 1908, após a morte da mãe.
Henrique da Fonseca Barros estudou ciências e matemáticas e casou
com Antónia Soares Franco.

Em 1883, concorreu ao lugar de lente substituto de matemática da


Escola Politécnica de Lisboa, mas, por ter preterido, abandonou
definitivamente a carreira de ciências e matemáticas que tinha projectado
e dedicou-se à agricultura. Faleceu em 10 de Maio de 1945, sem ter
deixado herdeiros directos. Cristina de Barros Pitta e Castro e Sofia da
Piedade de Barros Pitta Avilez, primas de Henrique da Fonseca Barros
foram declaradas legítimas herdeiras e coube à primeira a Quinta do
Conde, assim descrita na escritura de partilhas efectuada em 1951:
Consta de casas nobres de habitação, celeiros, adegas, lagares,
abegoarias, palheiros, casa de malta e mais pertenças, terras de
semeadora, vinhas quase todas de recente plantação, pinhais, matos e
árvores frutíferas. Cristina de Barros Pitta e Castro foi casada com João
Filipe de Meneses Pitta e Castro - falecido a 31 de Março de 1896 - era
filha de Manuel Nicolau de Bettencourt Pitta e de Sofia da Gama Barros
Pitta. Faleceu a 10 de Agosto de 1963, e a Quinta do Conde passou para
a posse dos filhos.

Maria José Correia Vieira Peixoto Villas Boas de Meneses Pitta e Castro,
nora, viúva do filho José de Meneses Pitta e Castro (filho) e Maria Isabel
Leps Meneses Pitta e Castro (esposa do filho); Maria José de Meneses
Pitta e Castro da Penha e Costa (filha), foram os herdeiros de Cristina de
Barros Pitta e Castro, a quem coube em 1963 a Quinta do Conde.
Posteriormente, Maria José de Meneses Pitta e Castro Vieira e Peixoto
Villas Boas faleceu e foi substituída em 31 de Maio de 1972, por Maria
Teresa de Meneses Pitta e Castro Vieira Peixoto de Villas Boas de
Meireles.

António Xavier de Lima

Os herdeiros atrás referidos, representados por João António de


Meneses Pitta e Castro da Penha e Costa, venderam a Quinta do Conde
a António Xavier de Lima, no final dos anos sessenta. Filho de Eduardo
Lima e de Amélia Maria Xavier de Lima, António Xavier de Lima nasceu a
15 de Agosto de 1925, na Quinta do Anjo, Palmela, mas tinha ainda
poucos meses, quando os pais se mudaram para Brejos de Azeitão.
Xavier de Lima cedo demonstrou habilidade para o negócio de terrenos.
A abertura da Ponte sobre o Tejo, em 1966; As correntes migratórias de
pessoal para as grandes empresas da margem sul do Tejo (Lisnave,
Siderurgia Nacional, Cuf, Setenave,...); A grave crise no sector da
habitação; A permissividade da legislação em vigor e das próprias
autoridades, foram alguns dos factores que levaram António Xavier de
Lima a adquirir grandes propriedades rústicas que posteriormente
parcelava e vendia como se de lotes urbanos se tratasse e onde as
únicas infra-estruturas urbanísticas se limitam em regra à abertura de
arruamentos em terra batida para possibilitar o acesso dos eventuais
compradores. Quando António Xavier de Lima começou a adquirir
parcelas na Quinta do Conde já tinha muita experiência e métodos
próprios de trabalho: Após acordo verbal de compra com o dono da
propriedade, abriam-se as ruas, demarcavam-se os lotes e iniciava-se a
venda, com muitas facilidades no pagamento. A escritura oficial era feita
directamente do ainda dono da propriedade para o comprador para o
comprador do lote. Mais tarde, se tal se justificasse, Xavier de Lima fazia
a compra oficial do que ainda restava da propriedade inicial.
Relativamente à Quinta do Conde, que segundo uma descrição predial
de 1971, tinha uma área de 3.920.000m2, realizaram-se várias
escrituras. Uma, a 28 de Janeiro de 1971, referente a 100 mil metros
quadrados de terreno para construção pelo valor de mil e quinhentos
contos (7500€). Com esta escritura, foi criado o prédio rústico descrito na
Conservatória de Sesimbra sob o n.º 3.048, desanexado do n.º 2.535.
Através de outra escritura, realizada a 18 de Setembro de 1973, Xavier
de Lima adquiriu o que restava do prédio rústico descrito sob o n.º 2.535,
pelo valor de trinta mil contos (150.000€). O preço, a falta de habitação
reinante, a proximidade dos grandes complexos industriais
empregadores e das praias da região, foram factores decisivos no
sucesso do negócio. Para muitos operários de rendimentos limitados
concretizava-se aqui o sonho de possuir casa própria. Uma vivenda no
meio do pinhal. Porém, com a expansão da construção - dita clandestina
- veio a dura realidade, que evidenciou o trabalho por fazer: um plano,
rede de águas, electricidade, saneamento, escolas, telefones,
distribuição domiciliária de correio, assistência médica, segurança
pública, enfim, tudo o que dum aglomerado populacional. O primeiro
passo na resposta aos anseios da população residente, foi a elaboração
e posterior aprovação, de um plano de urbanização minimamente
consensual. Depois veio a resposta às principais carências. E de tal
forma a Quinta do Conde evoluiu, que em 1979, foi apresentado na
Assembleia da República um projecto de lei com a criação da freguesia.
Uma aspiração que se concretizou em Outubro de 1985. Outro marco
importante foi a elevação a Vila decretada pela Assembleia da República
em 21 de Junho de 1995

Você também pode gostar