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Indicadores judiciais da aferição rápida das condições do Commented [MAFdHC1]: Precisa disso? Eu retiraria, pois a
meu ver os indicadores são mais do que isso (o fato de serem
mercado de crédito: definição, metodologia e resultados indicadores “rápidos” seria apenas uma das características dos
indicadores). Também não tenho certeza em relação a identificar os
indicadores como sendo “indicadores das condições do mercado de
crédito”. Isso porque os indicadores refletem também aspectos do
funcionamento do sistema judicial, bem como outros aspectos
Alexandre Samy de Castro institucionais e econômicos (inclusive cíclicos) não necessariamente
ligados ao que se costuma entender como “condições do mercado
de crédito” – conforme citado na seção 3. Mas não consigo pensar
Augusto Consulmagnos Romeiro em uma sugestão melhor para o nome; talvez simplesmente
“indicadores judiciais do mercado de crédito”.
Marco Antônio de Freitas de de Hollanda de Freitas Cavalcanti
1
Sumário
2
A3. Apuração do indicador: estrutura de defasagem de publicações 4847
A.4. Relação completa dos indicadores 6160
TEXTO PARA DISCUSSÃO IPEA: 1
Indicadores judiciais para a aferição rápida das condições do mercado de crédito: Formatted: Do not check spelling or grammar, Highlight
definição, metodologia e resultados 1
Sumário 2
Introdução 4
Metodologia 7
Mudanças processuais 10
4.3. Discussão 25
Validade externa 27
Referências 38
Apêndices 39
3
Pareamento de registros com a RAIS/MTE 45
Expressões regulares 45
4
1. Introdução
O objetivo destdeste texto e texto é apresentar um conjunto inédito de indicadores “rápidos”
das condições do mercado de crédito no Brasil, produzidos a partir de registros judiciários Commented [MAFdHC2]: Ver comentáro anterior
publicados pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Por indicador “rápido” entende-se
um tipo de indicador cujoa o tempo de apuração, a partir do término do período de referência
(por exemplo, mês) é relativamente curto.
A importância destes indicadores reside no fato de que parte expressiva dos instrumentos de
crédito, bancário ou não-bancário, pertencem a classe de títulos executivos extrajudiciais ou
monitórias. Além disso, as ações judiciais relativas a classes como busca e apreensão em
alienação fiduciária e despejo refletem situações de inadimplemento tipicamente associadas
ao estado de insolvência de famílias e empresas.
1
Isto é, a consulta pública do sítio de acompanhamento processual do tribunal de justiça.
2
Relação Anual de Informações Socioeconômicas, do Ministério do Trabalho e do Emprego.
3
Distintos segmentos do mercado de crédito podem apresentar trajetórias distintas ao longo dos ciclos
econômicos.
4
https://esaj.tjsp.jus.br/cpopg/open.do
5
Além de inéditos e conceitualmente bem-definidos, estes indicadores judiciários apresentam
ainda uma defasagem de apuração muito pequena em relação ao período de referência.
Dependendo do indicador específico, esta defasagem pode ser de apenas um dia. Trata-se de
uma característica atraente, pois grande parte dos indicadores econômicos tradicionais no
Brasil são divulgados com defasagens expressivas, tipicamente superiores a trinta dias.
5
Atualmente a Numeração Processual Unificada, NPU, seguindo o padrão do Conselho Nacional de
Justiça.
6
Por exemplo, “Ação penal, procedimento ordinário”, é uma classe processual, enquanto que “crime de
estupro” é um assunto processual relativo àquela classe. No caso dos processos de interesse desta
pesquisa, “título executivo extrajudicial” é uma classe processual, enquanto que “promissória” ou
“cheque” ou “ACC” são assuntos relativos àquela classe.
6
sistema apura indicadores judiciais para segmentos específicos, de acordo com a natureza das
partes (pessoa física, financeiro, etc.).
Este painel de indicadores pretende contribuir para uma melhor e mais rápida aferição de
condições econômicas em geral, podendo ser relevante para agentes de mercado em geral,
para o Banco Central e demais policy makers. Trata-se de indicadores complementares aos
indicadores tradicionais existentes. Dentre as vantagens destes indicadores em relação aos
indicadores tradicionais, destacam-se:
Esta nota apresenta detalhes de um subconjunto de todos os indicadores que o IPEAJUS será Commented [MAFdHC4]: Talvez aqui possamos citar
brevemente a discussão da seção 3 referente a Cooter e Allen.
capaz de produzir. Uma série de outros recortes estão sob análise, pois dependem do
desempenho dos classificadores de partes nos processos, ainda em fase de desenvolvimento.
Por exemplo, estamos desenvolvendo classificadores para identificar outros setores de
atividade econômica da parte, além do setor de serviços7. Com isso, poderemos produzir
7
Na presente versão do painel de indicadores, apresentamos somente os resultados para o setor de
serviços, pois testes apontam um bom desempenho dos classificadores relativos a esse segmento.
Contudo, nos setores de indústria e agropecuária, os métodos disponíveis até o momento têm
apresentado um desempenho insatisfatório, com taxas de acerto reduzidas. Esperamos aprimorar esses
classificadores, para em breve produzir outros indicadores setoriais.
7
indicadores de inadimplência segundo setores de atividade - agropecuário, indústria e
serviços. Outro tipo de indicador em desenvolvimento busca mensurar a inadimplência em
instrumentos específicos, como por exemplo cheques, promissórias, duplicatas, etc8. Em suma,
acreditamos que, com o painel atual e os desdobramentos futuros apontados, os indicadores
judiciais venha a constituir uma importante fonte de informação para a aferição das condições
econômicas presentes - acessível a policy makers e agentes econômicos em geral.
Este documento apresenta, na próxima seção, a definição e a metodologia dos índices. A seção
3 contém uma breve descrição de aspectos conceituais e limitações dos indicadores. A seção 4,
apresenta-se uma análise descritiva dos indicadores, em frequência diária e mensal. A seção 5
discute a validade externa dos indicadores judiciais, comparando-os a indicadores tradicionais
do mercado de crédito. A seção 6 apresenta conclusão e prováveis extensões para um futuro
próximo. Os Apêndices apresentam informações sobre o sistema, com um caráter mais
técnico: uma visão geral do sistema IPEAJUS; uma descrição da estrutura dos métodos de
classificação das partes; uma análise da estrutura de defasagem de publicação dos processos;
e por fim, uma relação completa dos indicadores disponíveis até o momento.
2. Metodologia
A produção dos indicadores judiciais se baseia em um sistema de coleta automatizada de
informações do Diário da Justiça Eletrônico9. O sistema processa as seguintes etapas:
“download” dos diários de justiça do TJSP; conversão dos documentos para formato de texto;
identificação das classes ou assuntos processuais de interesse e armazenamento das
informações do processo, na íntegra10, em um banco de dados relacional; sorteio de amostra
aleatória a cada mês; realização de consulta processual no TJSP, para extração de informações
processuais complementares, além daquelas disponibilizadas no diário oficial: valor da ação,
assunto, andamentos, etc. Além disso, a produção de indicadores estratificados requer um
processamento adicional de informações, visando a identificação do tipo e/ou do CNPJ das
partes, tanto no pólo ativo (requerente ou exequente) quanto no pólo passivo (requerido ou
executado), possibilitando atribuir o processo a um segmento específico: credor financeiro ou
não-financeiro; devedor pessoa jurídica ou pessoa física; setor de atividade econômica do
devedor (obtido através da RAIS/MTE, por estabelecimentos). O apêndice apresenta uma
descrição detalhada do sistema.
O processo de extração de dados se inicia com o download dos cadernos Diário da Justiça
Eletrônico. Esta publicação contém uma lista completa dos processos distribuídos, conforme
8
Nesse caso, a tarefa consiste apenas em determinar o assunto do processo, o que não é possível de se
fazer quando da publicação da distribuição do processo, mas apenas no momento em que é publicado
algum tipo de movimento no processo, como despacho, intimação, nota de expediente, relação,
decisão, sentença, etc.
9
https://www.dje.tjsp.jus.br/cdje/index.do. Anteriormente a Outubro de 2007, as2007, as publicações
da Justiça Estadual eram veiculadas através do Diário Oficial do Estado de São Paulo/Poder Judiciário,
acessível em https://www.imprensaoficial.com.br.
10
Na verdade, todos os processos são inseridos no banco de dados, independentemente de classe. A
filtragem para às classes processuais dos indicadores é realizada no banco de dados.
8
amostra ilustrativa da Figura 1 abaixo. A leitura destas listagens resulta na extração das
seguintes informações: o número do processo, a comarca, a vara, a data da distribuição, as
partes (autor e réu) e seus respectivos advogados e a classe processual. O sistema extrai todas
estas listas de distribuição integralmente, desde Outubro de 2001, perfazendo um total de
mais de 60 milhões de processos, em todas as competências (cível, crime, fazenda pública,
juizados, etc). Esta imensa tabela corresponde ao cadastro associado ao universo de processos,
a partir dos quais o sistema executa suas tarefas de processamento.
9
A partir do universo, contamos a quantidade de processos distribuídos a cada dia, segundo
classes processuais de interesse: execução de título extrajudicial, monitória, despejo e busca e
apreensão. Desta contagem resultam diretamente os indicadores de volume de processos.
O tempo de apuração dos indicadores na frequência mensal depende do lapso de tempo (dias)
entre a distribuição do processo e a respectiva publicação no diário oficial. O tempo médio é
de seis dias (ver Tabela 2 abaixo), mas após dez dias mais de 90% dos processos distribuídos no
mês anterior já tiveram sua distribuição publicada na imprensa oficial. Como não conseguimos
observar o universo dentro deste curto espaço de tempo, é necessário justificar que, a partir
desta visão parcial do universo, somos capazes de sortear amostras aleatórias e produzir
indicadores sem viés amostral. Para tal, no apêndice, apresentamos uma análise descritiva
detalhada, para entender que atributos observáveis dos processos e/ou da jurisdição explicam
a defasagem de publicação. Além disso, discutimos como, na prática, se comportariam os
indicadores, ao longo de todo o período amostral, dependendo da data de apuração escolhida
(isto é, dependendo do conjunto de informação utilizado).
Os indicadores são de dois tipos: de volume de processos (casos novos) e de valor dos
processos. O volume ou contagem de processos é simplesmente o número de casos
distribuídos ou que tiveram registro de publicação (indicador censitário), dentro do período de
referência. Os indicadores de valor, por sua vez, se referem a diversos momentos da
distribuição amostral do valor da ação: média mediana, percentis 10 e 90, amplitude
interquartílica e desvio-padrão. Os indicadores de valor são apurados a partir de amostras,
pois não há necessidade de se apurar o universo de processos. Se assim fosse, o sistema teria
que inserir diariamente no banco de dados, um volume muito grande de informações
associadas a cada processo. Esta tarefa demandaria um volume excessivo de processamento e
armazenamento.
Os indicadores de valor são ajustados para a exclusão de valores extremos, que podem
distorcer a média e produzir um desvio-padrão excessivo. Especificamente, optamos pela
exclusão de 1% dos processos da amostra, que contém os maiores valores11. Commented [MAFdHC5]: O leitor pode se perguntar se não
deveriam ser excluídos também os 1% menores valores. Talvez
caiba aqui uma justificativa de por que não fazer isso.
Os indicadores estratificados, ou referentes a recortes específicos, são apurados somente
Commented [AC6R5]: Feito o comentário em nota de rodape
como indicadores de valor, pois como os classificadores de partes são probabilísticos e sujeitos
a erros, nem todos os processos do cadastro tem suas partes devidamente classificadas. Com
isso não podemos realizar contagens da população segundo estratos. Porém podemos apurar
estatisticasestatísticas de valor associadas a amostras aleatórias dos processos cujas partes
11
As distribuições do valor das ações judiciais tipicamente apresentam valores extremos, de modo que
estes processos de valor muito elevado têm o potencial para aumentar significativamente o valor médio
dos pedidos judiciais. Por outro lado, valores muito pequenos não têm o poder de reduzir
significativamente a média, portanto não há necessidade de retirá-los da amostra. A exclusão de valores
demasiado elevados é arbitrária e pode ser questionada no sentido de que “grandes eventos” de
inadimplência guardam uma relação direta com as condições do mercado de crédito como um todo.
Embora não discordemos desta visão, acreditamos que “grandes eventos” têm o potencial para
distorcer o valor médio dos contratos inadimplidos, de modo que optamos por médias “aparadas” (isto
é, excluindo valores extremos).
10
foram devidamente classificadas. Os detalhes acerca dos classificadores de partes são
apresentados no Apêndice.
Por se tratarem de indicadores inéditos, faz-se necessária uma discussão acerca da sua
natureza, bem como de eventuais fragilidades ou limitações.
𝐽𝑡 = ∑ 𝛼𝑖 𝑁𝑃𝐿𝑡−𝑖
𝑖=1
O vetor 𝛼 = (𝛼1 , . . . , 𝛼𝑛 ) representa a estrutura de defasagens a partir da qual non performing Commented [MAFdHC9]: alfa deveria depender também do
tempo, não? Alfa(t), pois a decisão de ajuizar depende de fatores
loans resultam em judicial claims. Esse vetor 𝛼 depende, portanto, dos parâmetros da que variam no tempo.
demanda jurisdicional, condicional a inadimplência, isto é, da decisão (inclusive o timing12) de Commented [AC10R9]: Ok, inseri nota de rodapé comentando
ajuizar um processo judicial uma vez que o credor se defronta com a inadimplência13.
12
Em geral, um crédito inadimplido não resulta em uma ação judicial de forma imediata. Muito
pelo contrário, uma execução de título extrajudicial pode ser a última tentativa de recuperação
de um crédito inadimplido. É importante ressaltar, contudo, que a cobrança judicial não requer
que tenha sido feito um protesto do título anteriormente.
13
Por conta deste tipo de dependência, a rigor o parâmetro 𝛼 deveria depender do tempo, sendo
portanto, representado como 𝛼𝑡 .
11
bancos, por exemplo. Todos estes fatores são parte da estrutura de um modelo
microeconômico (ver modelo canônico da análise econômica do direito em Cooter e Ullen
(1995)).
Mudanças processuais
Este tipo de mudança ou choque de caráter permanente, pode alterar tempo e custos de
processos, potencialmente alterando a seleção de casos que chegam ao poder judiciário. Por
exemplo, a reforma de títulos executivos de 2006 (Lei 11.382 de Dezembro de 2006, que
alterou dispositivos do Código de Processo Civil) alterou substancialmente os procedimentos
de execução de títulos extrajudiciais através do combate às chicanas jurídicas14, para conferir
maior efetividade ao processo e, com isso, elevar a taxa de recuperação de créditos na esfera
judicial. Portanto, hipoteticamente, uma reforma que eleva a segurança jurídica do credor
poderia ter impactos imediatos na queda da inadimplência, ao mesmo tempo em que poderia
elevar o número de casos novos (já que a maior efetividade eleva as chances de sucesso da
execução) – um movimento oposto ao padrão esperado de movimento conjunto dos
indicadores. A Lei de Falências e Recuperação Judicial de Empresas (Lei 11.101 de 2005) criou
novos procedimentos, como a recuperação judicial, além de alterar parâmetros mínimos para
pedidos de falência - passando a exigir inadimplência mínima de 60 salários mínimos para o
ajuizamento. Tais mudanças resultam em quebras estruturais nas séries históricas. De forma
análoga, a Lei do Divórcio alterou os parâmetros da demanda por este tipo de ação, visto que
flexibilizou os requisitos para procedimentos extrajudiciais. A lei do inquilinato pode ter
impactado a demanda por ações de aluguéis e/ou despejo. Em suma, mudanças na lei
processual (ou leis específicas) devem alterar os custos/benefícios percebidos de se ajuizar um
processo, de modo que acreditamos que os indicadores judiciais sejam sensíveis a mudanças
significativas na lei processual. Portanto, sua trajetória ao longo do tempo fica sujeita a estes
choques permanentes de natureza institucional. Na prática, tais mudanças têm um potencial
de resultar em erros de previsão significativos.
14
Chicanas neste contexto são procedimentos de caráter protelatório, como por exemplo,
embargos a execução e outras medidas que dificultam a citação do réu ou a determinação de
bens penhoráveis.
12
(administrativo), mudanças nos procedimentos de cobranças extrajudiciais e mudanças
estruturais no mercado de crédito.
Por fim, é necessário apontar que a relação entre os indicadores judiciais e os indicadores
tradicionais de inadimplência - como por exemplo, taxa de inadimplência, índice de custo do
crédito, spread médio, % da carteira com atrasos expressivos, etc - não é direta, precisando ser
tratada com cautela. O volume (ou o valor médio) dos créditos requeridos judicialmente
depende de dois fatores básicos: do tamanho do mercado (saldo das operações de crédito) e
da própria taxa de inadimplência. Assim, quando o volume (ou valor) das execuções aumenta,
pode ser simplesmente por que o volume das operações cresceu, mantida a inadimplência, ou
porque, mantido o tamanho do mercado, a taxa de inadimplência cresceu, ou ambos.
Portanto, na discussão sobre a validade externa dos indicadores na seção 5, adotamos um
procedimento para “limpar” o efeito do crescimento do saldo das operações de crédito15 sobre
a trajetória das ações judiciais. Este procedimento de de-trending, ou de de-trending ou
remoção da tendência consiste em utilizar, ao invés do indicador judicial original, o resíduo de
uma regressão deste indicador judicial contra o saldo das operações de crédito. Este resíduo
captura quanto os judicial claims estão excedendo o volume que seria previsto dada a
trajetória de expansão do mercado de crédito. Portanto, se o resíduo da regressão é positivo,
significa que os judicial claims estão crescendo mais rápido que o mercado de crédito e vice-
versa.
15
Esta “limpeza” apresenta alguns problemas, sendo o mais importante o fato de que os dados
disponíveis para o saldo de operações de crédito, provenientes do Banco Central, se referem
apenas a instituições financeiras, o que não ocorre para a maioria dos indicadores judiciais
propostos, que refletem a inadimplência agregada, que inclui também o segmento não-
financeiro.
13
O diário eletrônico da justiça de São Paulo é a base para a construção do cadastro ou universo
dos processos judiciais. Ocorre, contudo, que muitos processos distribuídos hoje (D0) não tem
a sua distribuição publicada de forma instantânea (isto é, com apenas um dia de defasagem);
muitos processos podem levar dias para serem publicados. Desta forma, a apuração dos
indicadores fica sujeita a este hiato de tempo entre a distribuição e a publicação, que
passamos a analisar agora.
14
Figura 1: Diferença entre a data da publicação e a data da distribuição, em dias. Função
densidade cumulativa.
15
dias é que 100% dos processos distribuídos foram de fato publicados. Contudo, a partir dos
padrões sazonais apresentados na seção anterior, podemos extrapolar os dados de contagem
apurados no início do mês para projetar o consolidado do mês com maior precisão.
Figura 2: Indicadores judiciais do volume de processos, segundo classe processual. São Paulo.
16
Figura 3: Indicadores judiciais do volume de processos, média móvel de 12 meses. Índice base
fixa (média de 2007=100). São Paulo.
A partir dos dados da distribuição amostral do valor da ação para cada processo, produzimos
um conjunto de indicadores, baseados em diferentes momentos da distribuição: média,
mediana, percentil 75%, percentil 90% e desvio padrão e amplitude interquartil. Cada uma
destas estatísticas é conceitualmente distinta e pode ter relevância única do ponto de vista de
refletir as condições econômicas, em particular aquelas associadas ao mercado de crédito. Os
índices são medidos em reais constantes, a preços médios do ano de 2007.
A Figura Fig_4 abaixo apresenta a trajetória do valor médio para títulos executivos
extrajudiciais, monitórias, busca e apreensão e despejo. Embora as trajetórias apresentem
alguma similaridade, fica evidente que há diferenças no timing de alguns pontos de inflexão.
17
Podemos observar dois padrões: enquanto as monitórias e despejo apresentam uma
tendência de crescimento ao longo de todo o período amostral, os títulos executivos e busca e
apreensão apresentam um pico histórico, em torno do segundo semestre de 2014 para o
primeiro e início de 2013, para o segundo.
Figura 4: Índice de valor médio dos processos judiciais, em Reais constantes (média 2007=1).
São Paulo.
A Figura 5 apresenta índices de valor médio anualizados, em base fixa, para facilitar a
comparação entre indicadores. Destaca-se o fato de que o valor médio dos títulos executivos
extrajudiciais se descolou, após a crise de 2008, dos demais índices, atingindo um patamar
300% superior ao patamar pré-crise. As demais classes apresentaram alguma elevação, mas de
magnitude inferior a observada para títulos executivos.
18
Figura 5: Índice base fixa (2007=100) do valor real médio dos processos judiciais, média móvel
de 12 meses. São Paulo.
16
Por economia de espaço, optamos por não incluir tabelas e gráficos para outras classes processuais,
contendo descrição dos momentos da distribuição do valor dos processos.
17
Em momentos de crise, supõe-se um aumento no volume e uma queda no valor médio, pois a maioria
dos contratos inadimplentes advém dos estratos médios ou inferiores dos contratos.
19
Figura 6: Índice de valor das ações de despejo, em Reais constantes (2007=1). Média,
mediana, percentis 10 e 90. São Paulo.
É importante ressaltar que os indicadores recortados ou por segmento não existem para todos
as classes processuais, simplesmente porque há segmentos que raramente utilizam
determinados instrumentos - de modo que as amostras de processos são “pequenas demais”
resultando em variância excessiva. Por exemplo, verificamos que as ações de despejo não se
aplicam a credores financeiros, pois estas instituições raramente ajuizam este tipo de ação.
20
4.2.2.1. Devedor/requerido pessoa física versus pessoa jurídica
A figura 7 abaixo apresenta a trajetória dos indicadores judiciais de acordo com o segmento
(pessoa física ou jurídica), para as classes pertinentes aos índices. Exceto por busca e
apreensão em alienação fiduciária, em todos os casos o valor médio das ações para pessoas
físicas é muito superior ao relativo às pessoas físicas. Este é um resultado intuitivo, de acordo
com o esperado. O caso de busca e apreensão pode se explicar pelo fato do objeto das ações
tratar tipicamente de veículos, o que deve explicar a semelhança no valor das ações. Exceto
por títulos executivos extrajudiciais, a trajetória dos índices apresenta uma tendência comum.
Observa-se um descolamento gradual da trajetória dos títulos executivos, entre PF e PJ, desde
a crise de 2008; o valor médio para PJ cresce de modo relativamente acelerado a partir de
2010, atingindo uma inflexão no fim de 2014, enquanto o valor para PF segue crescendo até o
fim de 2015.
Outro fato estilizado, aparente nos gráficos, é um comportamento relativamente mais “suave”
da trajetória do valor médio para pessoas físicas, comparadas às pessoas jurídicas.
Figura 7: Valor médio das ações judiciais (Reais constantes), segundo classe processual e
segmento (devedor/requerido pessoa física versus pessoa jurídica), média móvel de 12 meses.
São Paulo.
21
4.2.2.2. Credor/requerente financeiro versus não-financeiro
A Figura 8 apresenta a trajetória do valor médio das ações, segundo classe processual, para
bancos e não-bancos que sejam pessoas jurídicas (como requerentes ou credores). Conforme
apontado no início desta seção, excluem-se ações de despejo nas quais os bancos são
demandantes, pois trata-se de uma situação rara, não sendo possível nem pertinente o
cômputo de um indicador definido desta forma.
Os gráficos apontam para valores médios muito superiores no caso dos bancos ao longo de
toda a amostra, o que é esperado, pois estas instituições são mais seletivas e impõem
barreiras e custos fixos na concessão de crédito que resultam em uma elevação no valor médio
das operações, em relação aos outros segmentos do mercado.
Figura 8: Valor médio das ações judiciais (Reais constantes), segundo classe processual e
segmento (bancário versus não-bancário). São Paulo.
22
4.2.2.3. Setor de atividade econômica: serviços
A figura 9 abaixo apresenta uma comparação do indicador do valor médio dos pedidos judiciais
(judicial claims) no setor de serviços, em relação ao mesmo indicador para o agregado.
Diferentemente dos recortes anteriores, nesse caso as diferenças na média e na variância não
parecem tão evidentes.
Figura 9: Valor médio das ações judiciais (Reais constantes, 2007=1), segundo classe processual
e setor de atividade econômica: serviços e agregado (todos os setores). São Paulo.
excessivamente acentuadas, devido às amostras menores que as mensais. Este indicador será
publicado após revisão do problema. Deve-se ressaltar que a análise da defasagem de
23
publicação dos indicadores apresentada no Apêndice não se aplica para o indicador diário, pois
sua base é diária.
A figura 10 abaixo apresenta a evolução diária do indicador do valor mediano dos títulos
executivos extrajudiciais, juntamente com uma média móvel de 365 dias, que permite uma
melhor observação da tendência do indicador, livre das oscilações acentuadas, observadas no
dado diário.
Figura 10: Valor mediano (Reais constantes, 2007=1) dos títulos executivos extrajudiciais,
diário e média móvel de 365 dias. São Paulo.
24
Figura 11: Valor mediano dos títulos executivos extrajudiciais (Reais constantes, 2007=1).
Indicado mensal e média mensal do indicador diário. São Paulo.
25
4.3. Discussão
Figura 12: Indicadores judiciais de volume (unidades) e valor médio (Reais constantes,
2007=1), segundo classes processuais. São Paulo.
Nota: Linhas sólidas correspondem aos indicadores de volume (eixo primário). Linhas
tracejadas correspondem aos indicadores de valor médio (eixo secundário).
A partir dos indicadores de valor médio e da quantidade de processos judiciais, podemos obter
uma estimativa do valor total dos processos diretamente, a partir do produto dos dois
26
indicadores. Na figura 13 abaixo apresentamos estes indicadores do valor total. Os gráficos
estão no formato de índice com base fixa, para facilitar a visualização dos dados. Como os
indicadores de valor e de quantidade em geral oscilam na mesma direção, o resultado é que as
séries de valor total apresentam uma variância mais elevada.
Figura 13: Quantidade, valor médio e valor total dos títulos executivos extrajudiciais. Índice
base fixa. São Paulo.
27
5. Validade externa
Conforme apontado na seção 3, o volume de demandas judiciais (judicial claims) varia não
somente por conta de oscilações na inadimplência, mas também por conta de oscilações no
“tamanho” do mercado de crédito. Assim sendo, nesta seção, “limpamos” os indicadores
judiciais do “efeito” do crescimento do mercado de crédito, gerando agregados “ajustados”,
conceitualmente mais consistentes com as diversas medidas da taxa de inadimplência. Este
procedimento consiste em rodar uma regressão do valor total do pedido contra o saldo das
operações de crédito. O indicador ajustado é o erro dessa regressão. Este erro será positivo
(negativo) quando o valor efetivo dos pedidos for superior ao valor previsto com base no saldo
das operações de crédito.
18
A taxa de inadimplência utilizada se refere a São Paulo. Os demais indicadores se referem ao Brasil,
pois não estão disponíveis para São Paulo.
28
Figura 14: Volume das ações de títulos executivos extrajudiciais, ajustado, e indicadores de
inadimplência. São Paulo.
Nota: Linhas sólidas correspondem aos indicadores judiciais ajustados de volume (eixo
primário). Linhas tracejadas correspondem aos indicadores de inadimplência do Banco Central
(eixo secundário), conforme indicado no título do gráfico.
29
Figura 15: Valor total das ações de títulos executivos extrajudiciais, ajustado (em mil reais), e
indicadores de inadimplência. São Paulo.
Nota: Linhas sólidas correspondem aos indicadores judiciais ajustados de volume (eixo
primário). Linhas tracejadas correspondem aos indicadores de inadimplência do Banco Central
(eixo secundário), conforme indicado no título do gráfico.
Na figura 16 a seguir, confrontamos a trajetória do valor total das ações judiciais (ajustado pela
evolução do saldo das operações), segundo classe processual, com a trajetória da taxa de
inadimplência total em São Paulo.
30
Figura 16: Valor total das ações de títulos executivos extrajudiciais, ajustado (em mil reais),
segundo classe processual, e taxa de inadimplência total. São Paulo
Nota: Linhas sólidas correspondem aos indicadores judiciais ajustados de valor total das ações
(eixo primário), conforme definido no título do gráfico. Linhas tracejadas correspondem ao
indicador da taxa de inadimplência total, do Banco Central (eixo secundário).
Uma questão empírica relevante é se outros momentos da distribuição do valor dos processos,
como por exemplo a mediana, seriam capazes de capturar as flutuações de curto prazo na
inadimplência. Portanto, na figura 17 abaixo repetimos as figuras anteriores, porém
considerando o valor mediano de judicial claims, também ajustados pela evolução do saldo
das operações. Pelo exposto na figura, o valor mediano (ajustado ou não ajustado) dos judicial
claims não parece ser um indicador adequado para capturar flutuações na taxa de
inadimplência total. Na verdade, as figuras sugerem que quando a inadimplência aumenta, o
valor mediano (ajustado) também aumenta. Isto é, em momentos de queda da inadimplência,
o valor mediano de judicial claims é menor. A figura FIG_CICLO no final desta seção confirma a
ideia de que nos momentos de maior inadimplência, a massa de processos de valor mais
elevado aumenta, contribuindo para o aumento da mediana.
31
Figura 17 Valor mediano (ajustado) das ações judiciais, segundo classe processual, e taxa de
inadimplência total. São Paulo.
Nota: Linhas sólidas correspondem aos indicadores judiciais ajustados de valor mediano (eixo
primário), conforme definido no título do gráfico. Linhas tracejadas correspondem ao
indicador da taxa de inadimplência total, do Banco Central (eixo secundário).
Nas figuras a seguir, repetimos a análise anterior para alguns dos indicadores judiciais por
segmento, atentando para as comparações com indicadores de inadimplência por segmento,
como por exemplo, o de pessoas jurídicas e os instrumentos de alienação fiduciária.
A figura 18 abaixo apresenta a trajetória ajustada19 do valor médio dos títulos executivos
extrajudiciais, quando o executado é pessoa jurídica. Deve-se ressaltar que, no caso dos dados
por segmento, não é possível apresentar estimativa do valor total, pois não dispomos dos
dados de quantidade.
19
Isto é, o quanto o valor médio ou volume dos judicial claims excedem o previsto pelo tamanho do
mercado ou volume das operações.
32
Figura 18: Valor médio (ajustado) dos títulos executivos extrajudiciais quando o requerido é
pessoa jurídica e outros indicadores do mercado de crédito.
Nota: Linhas sólidas correspondem ao indicador do Valor médio (ajustado) dos títulos
executivos extrajudiciais (eixo primário). Linhas tracejadas correspondem aos indicadores de
inadimplência do Banco Central (eixo secundário), conforme definido no título do gráfico.
33
Figura 19: Valor médio (ajustado) dos despejos quando o requerido é pessoa física e outros
indicadores do mercado de crédito.
Nota: Linhas sólidas correspondem ao indicador do Valor médio (ajustado) das ações de
despejo (eixo primário). Linhas tracejadas correspondem aos indicadores de inadimplência do
Banco Central (eixo secundário), conforme definido no título do gráfico.
34
Figura 20: Indicadores judiciais (ajustados) de valor médio e percentual do total de provisões
em relação à carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional
Nota: Linhas sólidas correspondem ao indicador do Valor médio (ajustado) dos títulos
executivos extrajudiciais (eixo primário), conforme definido no título do gráfico. Linhas
tracejadas correspondem ao indicador do total de provisões como porcentagem da carteira de
crédito do Sistema Financeiro Nacional (eixo secundário).
Até o momento, a análise dos indicadores do valor dos judicial claims se limitou a observar
alguns momentos da distribuição. Seria interessante, contudo, observar a totalidade desta
distribuição, que varia ao longo do tempo. Uma forma de visualizar o comportamento destas
distribuições seria representá-las em diferentes fases do ciclo de crédito. Estes ciclos alternam
entre períodos de expansão e de contração da oferta de crédito. Os seguintes períodos foram
identificados: I- entre Março de 2005 e Maio de 2008, observa-se expansão acelerada dos
saldos das operações; II- entre Junho de 2008 e Novembro de 2009, uma forte contração; III-
entre Dezembro de 2009 e Fevereiro de 2014, um período de relativa estabilidade, com a
estoque de crédito crescendo a taxa constante; IV- entre Março de 2014 e Dezembro de 2016,
nova contração, quando se observa forte desaceleração nas taxas de expansão; V- De Janeiro
de 2017 até os dias de hoje, uma certa estabilidade, com leve tendência de recuperação.
Portanto temos caracterizadas três fases do ciclo: expansão (período I), retração (períodos II e
IV) e estabilidade (períodos III e V). Assim, na figura FIG_CICLO a seguir, apresentamos
35
aproximações (kernel density estimates) para a distribuição do valor da ação, conforme as Formatted: Font: Italic
fases do ciclo definidas acima20.
Figura 21: Distribuição do valor real da ação judicial, segundo fases do ciclo de crédito:
expansão, retração e estabilidade. Classes processuais do indicador judicial. São Paulo.
Expansão: até 2008m5. Retração: 2008m6-2009m11 e 2014m3-2016m12. Estabilidade:
2009m12-2014m2 e 2017m1 em diante.
Dois fatos ficam evidentes a partir da figura acima. Primeiro, as distribuições de judicial claims
são semelhantes nos casos de estabilidade ou retração do mercado de crédito. Segundo, tais
distribuições mudam de formato, entre as fases de expansão e as fases de
estabilidade/retração, com.a proporção de casos de maior valor elevando-se no segundo caso.
20
Às distribuições estão truncadas em dez, vinte ou trinta mil reais, dependendo da classe, pois as
distribuições completas possuem caudas muito longas (valores extremos), de modo que comprometeria
a visualização adequada do gráfico. Os valores são deflacionados pelo IPC FIPE para São Paulo.
36
segundo recortes que capturam diferentes segmentos do mercado de crédito. Na presente
versão, o painel conta com os recortes de pessoa física/pessoa jurídica; crédito
bancário/crédito não-bancário e o setor de serviços.
Algumas características fazem deste painel de indicadores uma fonte única de informação e
complementar aos indicadores tradicionais: a rapidez de apuração; a frequência diária, em
alguns casos; e a possibilidade de recortes regionais.
37
Referências
Castro, Alexandre (2016). “Judicial Indicators and Business Cycles in Brazil”. Disponível
em: https://ssrn.com/abstract=2821897.
Cooter, Robert and Ulen, Thomas, "Law and Economics, 6th edition" (2016). Berkeley
Law Books. Disponível em:https://scholarship.law.berkeley.edu/books/2
38
Apêndices
Desenvolvido majoritariamente em linguagem Python 3.6, sobre uma base de dados relacional
PostgreSQL, o sistema IpeaJus contém atualmente quase 40 mil linhas de código, que
possibilitaram a coleta e análise de mais de 140 milhões de registros relativos a processos da
esfera federal e esfera estadual (São Paulo). A Figura A.1 abaixo apresenta o diagrama
entidade-relacionamento simplificado da base de dados. O diagrama contém as principais
tabelas que suportam o sistema IpeaJus, como por exemplo a tabela Processo, que contém as
informações básicas de um processo judicial, como a sua numeração processual, a data de
distribuição, a unidade (vara ou juizado, etc.), a classe, o assunto, o juiz, etc. O diagrama
mostra de que forma as tabelas se relacionam entre si. Por exemplo: a tabela processo possui
um código para a classe processual, que será identificado na tabela classe processual. Para
tornar viável a exposição deste esquema analítico em uma única página, foram omitidas cerca
de 30 outras tabelas que suportam o armazenamento das diferentes informações específicas a
cada tribunal ou a um assunto processual específico. A arquitetura do banco de dados
apresenta um caráter bastante geral e abstrato, podendo assim suportar informações
provenientes não só dos tribunais já inclusos na pesquisa (TJSP e Tribunais Regionais Federais)
mas também informações processuais de qualquer outro tribunal do sistema de justiça
brasileiro.
39
Figura A.1: Diagrama entidade-relacionamento do banco de dados IPEAJUS.
40
forma explícita, ou a partir do conteúdo de publicação (despacho, sentença, intimação, edital,
etc.)21. Em todos os casos, o sistema sempre executa a validação da classe/assunto antes de
inserir as informações processuais no banco de dados. Uma vez que um processo é validado e
inserido no banco de dados, todos os processos associados a ele são também inseridos,
preservando a relação original, conforme o banco de dados do tribunal. A esta teia de relações
entre processos denominamos “árvore processual”. Esta árvore do processo pode conter tanto
incidentes processuais, como por exemplo uma habilitação de crédito, no caso de falências,
quanto recursos, como por exemplo um recurso inominado, no caso de um procedimento do
juizado especial. A “árvore processual” é um elemento crítico do banco de dados processual
pois é a partir dele que podemos caracterizar eventos relevantes como a recorribilidade e a
reforma de sentenças.
21
Por exemplo, considere um processo falimentar. Expressões como “habilitação de crédito”, “lista de
credores”, “decretada a falência”, etc., estão tipicamente associadas a processos da classe de falência
ou recuperação judicial de empresas.
22
Embora a operacionalização de tais conceitos seja relativamente direta, são necessárias algumas
classificações mais sutis como, por exemplo, se a sentença é passível ou não de recurso (sentenças sem
resolução de mérito em geral não são passíveis de recurso externo).
23
A análise de desempenho do classificador pressupõe duas tarefas: primeiro, determinar as sentenças
que foram classificadas, como porcentagem do total de sentenças; segundo, avaliar a taxa de erro do
classificador, quando for possível. Ambas as tarefas são específicas ao negócio, isto é, a matéria ou
assunto processual que é objeto da pesquisa. Por exemplo, a taxa de classificação não é a mesma para
sentenças de falência, de pedidos de benefício assistencial ou para sentenças de improbidade
administrativa. Vale ressaltar, contudo, que uma parte significativa dos filtros textuais para classificação
de sentenças são comuns a todos os assuntos e matérias processuais: a parte que classifica sentenças
sem resolução de mérito (abandono, litispendência, acordo, etc.).
41
Figura A.2: Estrutura do sistema IPEAJUS.
No TJSP, a produção dos indicadores judiciais se baseou - no período até a data de 13/09/2018
- num total de 45,4 mil cadernos de diários oficiais, entre capital e interior. Deste acervo,
foram mapeados 60,4 milhões de processos, dentre os quais identificamos 8.8 milhões
relativos às classes processuais que definem os indicadores. A partir deste universo de
processos, definimos diversos recortes amostrais, como se segue:
Diário-
42
- Valor agregado; xxxx processos amostrados
- PJ PF; yyyy requeridos classificados; xxxx processos amostrados
- Financeiro nao financeiro; yyyy requerentes classificados; xxxx processos amostrados
- Setor serviços;yyyy requeridos classificados; xxxx processos amostrados
Diário-
O módulo de extração de informações a partir do texto bruto dos diários é capaz de verificar
todo o texto da publicação em busca de informações diversas, incluindo: numeração de
processos (NPU ou outras); listas de distribuição de processos (numeração, data distribuição,
classe processual, comarca e vara, nomes de partes e advogados. Este módulo possui uma
característica bastante flexível, podendo prospectar informações a partir da aplicação de
expressões regulares, que buscam padrões textuais pré-estabelecidos. A partir da definição de
blocos de texto, o módulo permite a associação entre atributos, como classe ou assunto
processual, e um determinado número de processo. O módulo pode ser usado também para
prospectar identidades (CPF ou CNPJ) de indivíduos, para mapear processos associados a eles.
Este procedimento foi aplicado na busca de processos falimentares, por exemplo.
A partir dos NPUs obtidos pelos módulos mais básicos do sistema, o módulo de consulta
processual pública foi desenvolvido de forma a obter as informações completas a respeito de
um dado NPU. Nesta fase do processamento, são obtidas as seguintes informações: classe
processual, assunto processual, nomes das partes e seu envolvimento no processo (autor ou
réu), advogados, movimentos processuais, data de distribuição, juiz responsável pelo
julgamento, sentenças, etc. Todas as informações disponibilizadas podem ser obtidas pelo
sistema e armazenadas. Entretanto, para fins de desempenho de processamento, foram
definidas duas funcionalidades principais dentro deste módulo: (i) busca de classe e assunto
processual e (ii) busca do processo na íntegra (iii) outras tarefas. Desta forma, a partir do
processamento da etapa (i), menos custosa computacionalmente, pode-se definir o
subconjunto de NPUs que deverá ter suas informações obtidas na íntegra. Outras tarefas,
definidas no item (iii), consistem em explorar o banco de dados do tribunal para obter
informações potencialmente úteis ao nosso sistema. Por exemplo, para identificar empresas
em situação falimentar, podemos utilizar a consulta por documento da parte (no caso o CNPJ),
para obter uma listagem dos processos e respectivos nomes de parte associados aquele
documento. Esta tarefa foi amplamente utilizada para a identificação das empresas que
constam do banco de falências.
43
indicadores judiciais e por isso é apresentado com detalhes no Apêndice A.2 abaixo. A
elaboração de indicadores (iii) consiste na definição de construtos a partir da combinação de
atributos do processo, consolidados no banco de dados.
Os microdados processuais produzidos pelo sistema IPEAJUS são, em grande parte, dados não-
estruturados, ou, na melhor das hipóteses, semi-estruturados. Isto é, são informações em
formato de linguagem natural (texto), ao invés de informações numéricas, categóricas ou
codificadas, como é o caso de bancos de dados tradicionais, como o Censo, a PNAD ou a RAIS.
Esta peculiaridade impõe um desafio para tornar o banco de dados de processos judiciais
tratável e utilizável em pesquisas empíricas de cunho quantitativo.
Para realizar o tratamento dos dados não-estruturados, o sistema IPEAJUS conta com um
amplo leque de classificadores, destinados a caracterizar e classificar sentenças (ou quaisquer
outras publicações judiciais, como despachos, decisões interlocutórias, intimações, editais,
etc.) e partes pertencentes aos processos judiciais.
No tocante a produção dos indicadores judiciais propostos neste estudo, utilizamos apenas os
classificadores referentes a partes dos processos, pois os resultados dos processos (duração e
teor da sentença) não têm serventia, pelo menos na atual versão dos indicadores judiciais.24
Desta forma, esta exposição fica circunscrita aos classificadores de partes.
Para produzir indicadores judiciais do mercado de crédito, segundo nichos específicos (por
exemplo, bancário ou não-bancário, pessoa física ou pessoa jurídica, setor de atividade
econômica, micro e pequena empresa, etc.), precisamos classificar as partes do processo. Nem
as listas de processos extraídas dos diários oficiais nem as informações do acompanhamento
processual contém este tipo de informação. Portanto é necessária uma estrutura de
processamento - detalhada nas subseções a seguir - para mapear este tipo de informação. Esta
estrutura compreende quatro estratégias: identificação a partir da consulta por documento
(CPF ou CNPJ) e inserção na tabela empresa; pareamento de registros com o banco de dados
da RAIS/MTE; expressões regulares; algoritmos de aprendizado de máquina (machine
learning). As duas primeiras classificam às partes indiretamente através da RAIS. As duas
últimas classificam uma parte sem conhecer o documento (CPF ou CNPJ).
24
É possível no futuro, propor indicadores que capturem outros aspectos dos processos judiciais, como
por exemplo a duração média dos processos ou mesmo o resultado, que, no caso de execuções, poderia
ser medido por exemplo, como a porcentagem recuperada do crédito requisitado (judicial claim), ou
como a porcentagem de processos que terminaram em acordo.
44
Consulta por documento da parte no Tribunal
Todos os CNPJ da RAIS de 2015 foram consultados na base do TJSP. Todos os nomes
correspondentes a cada CNPJ encontrado foram armazenados em uma tabela (“tabela
empresa”), juntamente com a quantidade de processos encontrados para cada nome. O fato
de uma dada empresa ter um processo no banco de dados do tribunal não quer dizer que a
busca por CNPJ trará algum resultado, pois é possível que tal empresa não tenha o CNPJ
cadastrado no banco de dados do Tribunal. Por isso, o pareamento de nomes diretamente na
RAIS, descrito a seguir, é um método complementar para identificar às empresas cujo CNPJ
não está cadastrado no Tribunal.
Outra estratégia que utilizamos foi fazer um pareamento entre as partes identificadas no
diário de justiça e o banco de dados da RAIS/MTE, este banco de dados foi utilizado
principalmente para identificar os setores de atuação25. Além de podermos identificar
facilmente se a parte é pessoa jurídica, instituição financeira e órgão governamental.
Utilizando essa estratégia conseguimos parear mais de 1,6 milhões de partes processuais.
Embora a qualidade das informações que tivemos ao realizar o pareamento com a RAIS/MTE
seja muito relevante foram necessárias aplicar outras estratégias para podermos aumentar a
massa de dados que conseguimos classificar, pois 1,6 milhões de partes processuais é uma
quantidade muito pequena tendo em vista os recortes por classe processual. Por conta disso
escolhemos utilizar além da integração com base de dados da RAIS/MTE aplicar um algoritmo
de Machine Learning.
Expressões regulares
O método de expressões regulares consiste em identificar nos nomes das partes, algum tipo de
padrão ou assinatura que possa fornecer alguma pista inequívoca acerca de atributos
associados a parte. Por exemplo, a parte “Banco do Brasil S.A.” pode ser classificado com
precisão como sendo pessoa jurídica por conta do “S.A.”, e banco por conta do nome “Banco
do Brasil”. De forma mais geral, denominações de tipos de empresa - inclusive estrangeiras -
como SA, LTDA, EI, EIRELI, LLP, LLC, GBH, etc., possibilitam uma classificação inequívoca do
atributo pessoa jurídica. De forma mais específica, diante do reduzido número de bancos
operando no Brasil, buscamos, através de expressões regulares, os nomes de todas estas
instituições, inserindo algum grau de flexibilidade nas grafias, para capturar, erros tipográficos
e variações na nomeação da parte.
Para utilizar essa estratégia definimos um critério para testar e validá-la, onde criamos uma
base de teste com 10 mil empresas e aplicamos as expressões regulares para descobrir se é
uma empresa tivemos uma taxa de classificação correta de 90%. Também aplicamos as
expressões regulares para uma outra base de teste com 10 mil nomes de pessoa física e o
25
E certamente pode ser utilizado para “estimar” o tamanho da empresa, a partir do número de
vínculos trabalhistas ativos.
45
classificador para pessoa jurídica apurou menos de 1% de erro de classificação. Aplicamos o
mesmo teste para o classificador de banco na lista de bancos retirada do site do Banco Central
e tivemos 100% de classificação correta.
Para conseguirmos uma massa de dados relevante a ponto de conseguirmos criar os recortes
dos índices criamos um algoritmo supervisionado de machine learning, utilizamos como base
de aprendizado mais de 100 mil nomes de empresas e sua classificação de setor de atividade
econômica. Testamos diversos métodos diferentes (LinearSVC, SGDClassifier, NearestCentroid,
MultinomialNB e BernoulliNB) realizamos um benchmark entre eles e o que obteve um melhor
resultado foi o LinearSVC, por isso foi escolhido este método.
Fizemos um teste de validação onde foi criado uma base de teste com mais de 10 mil casos
com o nome de empresas e o setor correspondente criamos um critério de confiabilidade para
o algoritmo onde entre os 10 mil o algoritmo classificou o setor de atividade de apenas 1 mil
empresas. E verificamos que a taxa de acerto dos setores se comportava de forma distinta
para cada setor de atividade: enquanto que no setor de serviços conseguimos uma taxa de
acerto de 97%, nos setores de comércio, indústria e agricultura conseguimos uma taxa de
acerto de menos abaixo de 65%. Por conta da reduzida taxa de acerto dos outros setores,
incluímos apenas o setor de serviços no recorte de atividade econômica
Apenas para oferecer ao leitor uma visão mais clara do volume de informação processado para
a produção dos indicadores judiciais, foram inicialmente contabilizadas 121 milhões de partes
nos diários da justiça de São Paulo, desde 200426. Os métodos conseguiram classificar, no total,
mais de 43 milhões de partes. Dentro do subconjunto de partes classificadas há o recorte pela
classe processual de interesse, neste recorte conseguimos classificar 2,6 milhões. Podemos ver
na tabela 1 a comparação da quantidade de partes identificadas.
26
O efetivo de partes envolvidas pode ser significativamente maior pois a publicação da distribuição
relaciona apenas uma parte do processo.
46
Diário Partes classificadas Partes classificadas nas
Classes Processuais
Diagrama de venn para representar quantas partes são identificadas simultaneamente por
dois ou três métodos utilizados.
47
A3. Apuração do indicador: estrutura de defasagem de publicações
A tabela A.2 abaixo apresenta a duração até a publicação, segundo o mês da distribuição do
processo. Chama a atenção o fato de que a defasagem média para o mês de dezembro é o
dobro da observada para os demais meses: 14 versus 7 dias. Além disso, são necessários 31
dias (contra cerca de 10 dias, para os demais meses) para que 90% dos processos do mês de
dezembro sejam publicados. Este padrão não chega a ser surpreendente, visto que o recesso
forense neste mês faz com que se reduzam o número de edições do diário oficial. Ou seja,
muitos dos processos distribuídos no mês de dezembro serão publicados somente no mês de
Janeiro.
Tabela A.2: Diferença entre a data da publicação e a data da distribuição, segundo o mês de
distribuição do processo, em dias.
1 6.9 13 29,192
2 6.2 10 22,170
3 6.1 11 25,134
4 6.6 12 23,769
5 6.4 12 25,231
6 6 11 23,522
7 5.3 8 24,525
8 5.4 8 20,929
48
9 5.3 9 16,899
10 5.8 9 15,831
11 6.3 10 14,322
12 15 31 13,178
Tabela A.3: Diferença entre a data da publicação e a data da distribuição, segundo o dia do
mês de distribuição do processo, em dias.
1 5.8 10 7,760
2 6.1 10 7,735
3 7.6 13 7,247
4 6.9 11 7,695
5 6.6 10 8,335
6 6 10 8,412
7 6 11 8,409
49
8 6.5 12 8,583
9 6.1 10 8,645
10 6.1 11 8,369
11 6.1 9 8,807
12 6.4 12 8,590
13 6.5 12 8,009
14 6.5 13 8,028
15 6.8 16 8,875
16 7.8 24 8,955
17 6.6 15 8,865
18 7.2 21 9,910
19 9.2 23 11,044
20 6.6 14 8,718
21 6.8 14 7,476
22 6.2 12 8,082
23 6.2 10 8,328
24 6.3 10 7,313
25 6.7 11 7,758
26 6 10 8,552
27 6.2 8 7,529
28 6.7 11 6,981
29 5.3 8 8,859
30 5.2 9 7,238
31 6.1 9 5,595
Para complementar a análise, apresentamos na Figura A.3 abaixo uma aproximação (kernel
density estimate) para a distribuição do número de processos distribuídos a cada dia do mês.
50
Figura A.3: Distribuição do volume de casos novos, segundo o dia da distribuição. Inclui todas
as classes processuais dos indicadores.
Modelo estatístico
Visando determinar quais atributos observáveis do processo afetam as chances da sua inclusão
na amostra do índice, estimamos os parâmetros de um modelo probit. Este modelo explica a
probabilidade de um processo judicial pertencer à amostra sorteada n dias após a distribuição
do processo, com n=1, ...,10. Ou seja, se um processo distribuído em um dia, digamos D0, foi
publicado no diário oficial em até n dias. A probabilidade de o processo ser amostrado
depende, além da faixa de valor da ação (classificada segundo quintis da distribuição
amostral), de efeitos de calendário (dia do mês, dia da semana e mês), de efeitos de jurisdição
(capital versus interior).
51
A tabela A.4 abaixo apresenta os efeitos marginais na média, calculados para cada faixa de
valor da ação (quintil). A análise é realizada separadamente para cada classe processual, pois
os indicadores são definidos segundo classe processual, portanto não faria sentido um modelo
contemplando todas as classes conjuntamente. Nas linhas, apresentam-se diferentes datas de
publicação, com n=1,3,5,7,9. O resultado indica que as chances de o processo ser amostrado
variam muito pouco quando o processo muda de faixa de valor27. Concluímos, portanto, que
os indicadores judiciais de valor de disputas podem ser apurados com poucos dias de
defasagem, sem risco de ocorrência de viés de seleção de processos decorrente do valor da
ação. Conforme discutido anteriormente, esta seria uma preocupação caso ocorresse alguma
seleção em função de valor.
27
De fato, percebe-se uma superposição - entre distintas categorias de valor - dos intervalos de
confiança para os efeitos marginais. Assim sendo, provavelmente um teste estatístico formal não seria
capaz de rejeitar a hipótese nula de que os efeitos marginais fossem diferentes. Mesmo no caso em que
os efeitos marginais fossem significativamente diferentes do ponto de vista estatístico, a diferença de
magnitude nas probabilidades de seleção da amostra do indicador seria desprezível do ponto de vista
substantivo.
52
4.quintil_valor 0.008***, 0.446***, 0.763***, 0.860***, 0.884***
Monitória
53
4.quintil_valor 0.010***, 0.432***, 0.760***, 0.861***, 0.886***
54
(0.00), (0.00), (0.00), (0.00), 0
Despejo
55
(0.00), (0.01), (0.01), (0.01), -0.01
Nota: Todos os modelos incluem efeitos fixos de dia da semana, da do mês, ano e localização
(capital versus interior).
Por fim, nas figuras A.4, A.5, A.6 e A.7 a seguir, apresentamos a trajetória dos indicadores
judiciais, computado em diferentes datas de apuração. O objetivo destas figuras é mostrar que
o valor do indicador apurado 5 dias após o término do período de referência é muito próximo
do valor revisado após um longo período decorrido desde o término do período de referência.
As barras indicam a magnitude do erro percentual relativo ao indicador nas respectivas datas
de apuração (dia 5 e dia 15 do mês).
56
Figura A.4: Índice de valor médio dos processos judiciais, em diferentes datas de apuração (dia
5 e dia 10), e erro percentual em relação ao indicador revisado. Títulos executivos
extrajudiciais. São Paulo.
57
Figura A.5: Índice de valor médio dos processos judiciais, em diferentes datas de apuração (dia
5 e dia 10), e erro percentual em relação ao indicador revisado. Monitórias. São Paulo.
58
Figura A.6: Índice de valor médio dos processos judiciais, em diferentes datas de apuração (dia
5 e dia 10), e erro percentual em relação ao indicador revisado. Busca e apreensão em
alienação fiduciária. São Paulo.
59
Figura A.7: Índice de valor médio dos processos judiciais, em diferentes datas de apuração (dia
5 e dia 10), e erro percentual em relação ao indicador revisado. Despejo. São Paulo.
60
A.4. Relação completa dos indicadores
Indicadores agregados
Valor / busca e apreensão em alienação fiduciária / requerente pessoa jurídica do setor não-
financeiro
61
Valor / busca e apreensão em alienação fiduciária / requerido setor de serviços
Indicador diário
62