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TEÓRICOS
Luiz Eduardo Dias Cardoso1
1 Advogado. Doutorando, Mestre e Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali).
Pós-graduando em Direito Penal e Processo Penal pela Academia Brasileira de Direito Constitucional
(ABDConst). Colunista do blog “Consultor Penal” (www.consultorpenal.com.br). Currículo Lattes:
http://bit.ly/LattesLuizEduardo.
2 ROXIN, Claus. A proteção de bens jurídicos como função do Direito Penal. Porto Alegre: Livraria do
4 JAKOBS, Günther; MELIÁ, Manuel Cancio. Direito Penal do Inimigo: noções e críticas. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2007. p. 26-30.
5 É algo semelhante àquilo que Ferrajoli afirma acerca do garantismo: não há nações garantistas e
Direito Penal do Inimigo. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 20, n. 94, p.57-86,
jan./fev. 2012. p. 67.
autor não é determinante e que a norma segue vigendo inalteradamente”. A partir
desta perspectiva, não é necessário ocupar-se mais sobre o conceito de bem jurídico9.
Outra divergência relevante diz respeito ao funcionalismo de Roxin e de
Jakobs. Embora ambos se filiem à teoria funcionalista do delito, cada qual o faz de
forma distinta: o primeiro adere à vertente teleológica; o segundo, à corrente
sistêmica.
Isto é, ambos partem de um ponto comum – o funcionalismo –, mas
seguem em caminhos distintos, a partir de seus conceitos-chave: para Roxin, o bem
jurídico, que possibilita o resgate da política criminal e, assim, de considerações
axiológicas (ou seja, valorativas), em uma lógica neokantiana10. De fato, o autor
considera que “o Direito Penal é a forma para realização das finalidades político-
criminais”11. Exatamente em razão da busca por esses fins – consubstanciados na
proteção de bens jurídicos –, denomina-se teleológica a corrente funcionalista
concebida por Roxin.
Já para o funcionalismo sistêmico, o escopo premente do Direito
Penal é a proteção de suas próprias normas, cuja confirmação ocorre mediante a
imposição das penas12. Com efeito, Jakobs rechaça qualquer reflexão valorativa
acerca da (i)legitimidade do conteúdo da norma penal, por compreender tal indagação
como não científica13. Em verdade, a legitimidade da norma penal lhe é automática,
na medida em que a pena prescrita pela norma tem exatamente o escopo de garantir
sua vigência e higidez.
A toda essa formulação teórica de que decorre o Direito Penal do Inimigo
se deve lançar um olhar crítico.
Nesse sentido, Zaffaroni – um dos baluartes da resistência contra a
adoção do Direito Penal do Inimigo –, aponta que a dialética entre o Estado de Direito
e o de polícia (que rapidamente desliza para o Estado absoluto) equivale, no campo
penal, à admissão – mais ampla ou restrita – “do tratamento punitivo a seres humanos
privados da condição de pessoas”14.
19MARCELLINO JÚNIOR, Julio Cesar; ROSA, Alexandre Morais da. O processo eficiente na lógica
econômica: desenvolvimento, aceleração e direitos fundamentais. Florianópolis: Empório do Direito.
2015. p. 55-56.
verdade histórica. Igualmente, cabe à doutrina identificar e insurgir-se contra práticas
e dispositivos que se adéquem àquela teoria penal.
Como citar:
CARDOSO, LUIZ EDUARDO DIAS. O Direito Penal do Inimigo: breve análise de
seus fundamentos teóricos. Consultor Penal. Disponível em:
https://consultorpenal.com.br/direito-penal-inimigo-fundamentos-teoricos/.