Trata-se da clássica defesa do princípio da liberdade do pensar e discutir,
argumentando que o único fim para o qual a humanidade está garantida, individual ou coletivamente, em interferir com a liberdade de ação de qualquer um dos seus, é o da auto-proteção (self-protection). O objetivo do ensaio é, portanto, o da importância, para o homem e para a sociedade, de uma larga variedade de espécies de caráter, e de conceder total liberdade para a natureza humana expandir-se em inumeráveis e conflitantes direções. Essa celebração de individualidade e desdenho pela conformidade percorre toda essa obra. Mill rejeita tentativas, tanto através de coerção legal ou social, de coagir as opiniões e comportamentos dos indivíduos. Ele argumenta que o único tempo em que a coerção é aceitável seria quando o comportamento de um indivíduo ofende outros – de outro modo, a sociedade deve tratar diversidade com pleno respeito. Mill justifica o valor da liberdade por meio de uma abordagem Utilitarista. Tenta demonstrar os efeitos positivos da liberdade de todos e da sociedade como um todo. Em particular. Mill relaciona liberdade com a habilidade para progredir e evitar estagnação social. Liberdade de opinião é valiosa, então, por dois principais motivos. Primeiro, que a opinião impopular pode estar certa (may be right). Segundo, se a opinião é errada (wrong), refutá-la irá permitir às pessoas melhor entender suas próprias opiniões. Liberdade de agir é desejável por razões paralelas. O não-conformismo pode estar correto (correct), ou ela pode ter um modo de vida (way of life) que melhor satisfaz suas necessidades, se não a de alguns outros. Adicionalmente, esses não- conformismos desafiam a complacência social e protegem a sociedade da estagnação. O argumento de Mill procede em cinco capítulos. No primeiro, ele fornece uma breve visão geral acerca do significado de liberdade; também introduz os argumentos básicos em favor de se respeitá-la, ao grau que não afete nenhuns outros. No segundo capítulo, detalha o porquê do valor da liberdade de opinar e agir. Essa obra foi criticada por tratar demasiada vagamente sobre os limites da liberdade e por pôr muita ênfase no individual, não fazendo úteis distinções dentre ações que causem prejuízo a somente um si mesmo ou ações que o causem a outros. Assim sendo, o texto proporciona uma defesa apaixonada à defesa do não-conformismo como positivo para a sociedade e igualmente apaixonada lembrança que nenhum pode estar completamente certo que seu modo de vida é o melhor ou único de se viver.
Capítulo I (Introdução)
Mill começa delimitando o escopo de sua dissertação à Liberdade Civil ou
Social. Irá olhar para quais tipos de poder a sociedade pode legitimamente exercer sobre o individual. Prevê que a questão irá ser de importância crescente pois alguns homens entraram em um estágio mais civilizado de desenvolvimento, que apresenta “novas condições” sob as quais problemas de liberdade individual devam ser endereçadas. Mill então torna a uma visão geral do desenvolvimento do conceito de liberdade. Na Grécia antiga, Roma e Inglaterra, liberdade implicava “proteção contra a tirania dos governantes políticos,’ e governantes e governados eram frequentemente pensados como uma relação de antagonismo necessário. O líder não governava pela vontade de seu povo, mas enquanto seu poder fosse visto como necessário, isso era também considerado perigoso. Patriotas tentaram limitar a vontade do líder de dois modos: 1) Eles ganharam imunidades chamadas “liberdades ou direitos políticos.” O líder era pensado como tendo o dever de respeitar aquelas imunidades, e haveria um direito de rebelião caso fossem infringidos. 2) Limites constitucionais desenvolveram-se, sob o que a comunidade ou seus representativos ganharam algum poder de consentir sobre importantes atos de governança. Aponta-se que eventualmente homens progrediram a um tal ponto em que eles gostariam que seus líderes fossem seus servos, e para refletir seus interesses e vontade. Pensou-se que não era necessário limitar esse novo tipo do governante, pois ele era responsável pelo povo, e não havia medo de que o povo tiranizasse a si mesmo. Entretanto, quando uma atual República Democrática se desenvolveu (Os E.U.A.), deu- se conta de que o povo não governa a si mesmo. De outro modo, o povo com poder exerce-o sobre outrem destituídos de poder. Em particular, a maioria pode conscientemente tentar oprimir a minoria. Esse conceito de tirania da maioria tornou-se aceito pela maioria dos pensadores. Mill, entretanto, argumenta que a sociedade também pode tiranizar sem usar de meios políticos. Ao contrário, o poder da opinião pública pode ser mais sufocante para a individualidade e mais dissidente do que qualquer lei poderia o ser. Após, ele escreve que deve haver proteção para o povo contra as opiniões públicas prevalecentes, e a tendência da sociedade de impor seus valores sobre os outros. A questão, então, como Mill a vê, é quando e como limitar a oscilação da opinião pública sobre independência individual. Houve pouquíssimo consenso dentre nações sobre a resposta a essa questão, e pessoas tendem a ser muito complacentes sobre seus próprios costumes no líder com o dissenso. Pessoas tendem a crer que tendo fortes emoções em um assunto as faz ter mais razões para aquela crença desnecessária, falhando em se dar conta de que sem razões, suas crenças são meras preferências, frequentemente refletindo auto-interesse. Mais além, nas ocasiões em que individuais questionam a imposição da opinião pública em padrões sociais, eles estão geralmente questionando se as preferencias da sociedade devem ser impostas a outros. Mill também nota que na Inglaterra não há princípio reconhecido pelo que se julgue interferência legislativa na conduta privada. Depois de postos os problemas principais, Mill volta ao que ele chama de “objeto de sua dissertação.” Escreve que ele irá argumentar que o único tempo em que individuais ou sociedade como um todo pode intervir na liberdade individual é a auto- proteção. Mill assevera que o argumento de que uma certa lei ou opinião pública seja para o bem ou bem-estar de um individual não é suficiente para que se justifique a lei ou opinião pública como uma força coercitiva; coerção de muitos perante um individual é somente aceitável quando um individual represente uma ameaça aos outros. Está bem argumentar com alguém sobre suas ações, mas não o obrigar. “Sobre si mesmo, sobre seu próprio corpo e mente, o individual é soberano.” Mill nota que o direito de liberdade não se aplica a crianças ou sociedades “retrógradas” (backward societies). Somente quando as pessoas são capazes de aprender com a discussão que a liberdade é válida; doutro modo, o povo deve ser cuidado. Mill também nota que ele não está a justificar a reivindicação de liberdade como um direito abstrato. Pelo contrário, está a fundamentando em sua utilidade, nos permanentes interesses da humanidade. Escreve que se uma pessoa cause prejuízo a outrem, ativa ou omissivamente, é apropridado à sociedade condenar aquela legalmente ou por meio de desaprovação geral. Individuais podem até mesmo ser compelidos a fazer o bem a outrem, como salvar a vida de alguém, pois fazer de outro modo causaria mal a outra pessoa. Em contraste, a sociedade somente tem um interesse indireto no que uma pessoa faz a si mesmo ou a outras pessoas de livre consentimento. Mill divide a apropriada esfera da liberdade humana em três categorias, afirmando que qualquer sociedade livre deve as respeitá-las todas. Primeiro, há o domínio da consciência, e liberdade de pensar e opinar individuais. Segundo, há o planejar a própria vida, e a liberdade de gostos e perseguições (pursuits). Terceiro, há a liberdade de se unir com outros consentindo individuais (consenting indivudals) para qualquer propósito que não causem prejuízo a outros. Essas liberdades refletem a ideia de que a verdadeira liberdade significa um perseguir seu próprio bem de sua própria maneira enquanto isso não previna outros de fazerem o mesmo. Essas idades contradizem diretamente a crescente tendência da sociedade a demandar conformismo, e, a menos que convicções morais tornem contra essa tendência, essa demanda por conformidade somente irá aumentar.
Capítulo II (Da Liberdade de Pensar e Discutir)
No segundo capítulo, Mill volta-se ao problema de se as pessoas, por meio de
seu governo ou de si mesmas, deveriam ser permitidas coagir ou limitar a expressão de opinião de alguma outra. Ele enfaticamente diz que tais ações são ilegítimas. Mesmo se apenas uma pessoa possui uma opinião particular, à humanidade não seria justificável silenciá-la. Silenciar essas opiniões é errado pois rouba “a raça humana, sua posteridade e até mesmo a geração existente.” Em particular, rouba-se aqueles que discordam daquelas opiniões silenciadas. Volta-se, depois, às razões pelas quais a humanidade é lesada pelo silenciar de opiniões. Seu primeiro argumento é de que a opinião suprimida possa ser verdadeira. Ele escreve que, sendo os seres-humanas não infalíveis, eles não têm autoridade para decidir um problema em nome de todos, e manter outros de virem com seus próprios juízos. Asserta que a razão pela qual a liberdade de opinião é tão frequentemente em perigo é a de que na prática as pessoas tendem a estar seguras de sua própria certeza, e excluindo aquilo, na infaliabilidade do mundo que eles vêm a ter contato. Tal confiança não é justificável e todas as pessoas são lesadas no silenciar de potenciais ideias verdadeiras. Depois de apresentar esse primeiro argumento, passa a olhar a possíveis críticas de seu raciocínio e respondê-las. Primeiro, há a crítica de que ainda que muitas pessoas estejam erradas, elas ainda têm o dever de agir em sua própria “consciente convicção.” Quando pessoas tem certeza de estarem certas, elas seriam covardes se não agissem nessa crença e permitir que doutrinas exprimirem que estariam lesando a humanidade. Para isso, Mill responde que o único caminho pelo que uma pessoa pode estar segura de que está correta é o em que há completa liberdade para contradizer e desprovar suas crenças. Homens tem a capacidade de corrigir seus erros, mas apenas por meio da experiencia e discussão. O julgamento humano é só valioso se as pessoas permanecerem abertas ao criticismo (criticismo). Então, a única vez em que uma pessoa pode estar correta é se ela está constantemente aberta às opiniões diferentes; deve haver um convite permanente para que se desprovem suas crenças. Segundo, há a crítica de que os governantes tem um dever de manter algumas crenças importantes ao bem-estar da sociedade. Apenas homens “maus” tentariam as debilitar. Mill responde que esse argumento ainda permanece em uma assunção de infalibilidade – a utilidade de uma opinião é ainda algo a se debater, e requer discussão. Além disso, a verdade de uma crença é fundamental para saber se é ela desejável nela se acredita. Mill observa que a assunção de infalibilidade acerca de alguma questão implica que não apenas se sinta muito seguro sobre uma crença, mas também que se inclua a tentativa de decidi-la para outras pessoas. É em sufocantes opiniões divergentes em nome de um bem social que alguns dos mais temíveis erros na história da humanidade foram cometidos. Escreve sobre Sócrates e Jesus Cristo, duas ilustres figuras na história, que foram postas à morte por blasfemarem em razão de suas crenças terem sido radicais para seu tempo. Mill então considera se a sociedade deve ser capaz de censurar uma opinião que rejeita uma crença moral comum ou a existência de Deus e um estado de coisas futuro. Ele dá o exemplo do Imperador Marco Aurélio, um home justo a amável que condenou o cristianismo, falhando em ver seus valores para a sociedade. Ele argumenta que se se pode aceitar a legitimidade de punir opiniões irreligiosas, deve-se também aceitar que se tenha sentido como Marco Aurélio fez, que o Cristianismo era perigoso, justificar-se-ia no punir do Cristianismo. Terceiro, Mill considera as críticas de que verdade pode ser justificavelmente perseguida, pois perseguir é algo que verdade tem de enfrentar e isso sempre irá permanecer. Responde que tal sentimento é duramente injusto para com aqueles que são realmente perseguidos por sustentarem ideias verdadeiras. Ao se descobrir algo verdadeiro, aquelas pessoas realizaram um grande serviço à humanidade. Suportar a perseguição dessas pessoas sugere que suas contribuições não estão realmente sendo valorizadas. Mill também sustenta que é errado assumir que “verdade sempre triunfa sobre perseguição.” Pode levar séculos para a verdade re-emergir depois de ser suprimida. Por exemplo, A Reforma da Igreja Cátolica foi posta abaixo vinte vezes antes que Martin Luther restasse bem-sucedido. È mera sentimentalidade pensar que verdade é mais forte que erro, ainda que verdade tenda a ser redescoberta na passagem do tempo se extinguida. Quarto, Mill responde ao possível argumento contra si de que vez que não mais pomos dissidentes à morte, opiniões verdadeiras não mais serão extintas. Replica que a acusação (persecution) penal à opiniões ainda é significante na sociedade, por exemplo no caso de blasfêmia ou ateísmo. Não há garantia, dada a opinião pública geral, de que mais formas extermas de acusação penal não irão re-emergir. Em adição, continua a haver intolerancia social do dissidente. Argumenta Mill que a intolerancia da sociedade leva as pessoas a esconder seus pontos-de-vista e sufoca intelectualismo e pensar independentes. Sufocar a liberdade de pensar lesa a verdade, não importando se um exemplo particular de pensamento livre leva a conclusões falsas. Depois de explicar como opiniões populares podem ser falsas, Mill faz três argumentos adicionais em favor da liberdade de opinar. Seu segundo argumento (depois do argumento discutido na última seção, de que a opinião popular possa ser falsa), é de que até mesmo se a opinião popular é verdadeira, se não for debatida se tornará “dogma morto.” Se verdade é simplesmente posta como um pré-conceito, então as pessoas não irão completamente a compreender e não irão entender como refutar objeções a ela. O desacordo, ainda que falso, mantém viva a verdade contra a qual discorda. Mill então volta-se a duas potenciais críticas ao seu argumento. Primeiro, poderia ser dito que às pessoas devem ser ensinados os fundamentos de suas opiniões, e, assim o sendo, elas não iriam meramente ostentar pré-juízos, mas realmente entender as bases das suas opiniões. Mill replica que em casos em que opiniões divergentes são possíveis, entender a verdade requer afastar argumentos ao contrário. Se uma pessoa não consegue refutar objeções, então não pode devidamente ser dita como entendedora de sua opinião. Logo após, ele deve escutar aquelas objeções de pessoas que realmente acreditam nelas, pois são somente elas que podem mostrar a força total dos argumentos. Responder a objeções é tão importante que se não existirem dissidentes, é necessário que se os imagine, e que se venha com os argumentos mais persuasivos que eles poderiam fazer. Uma segunda crítica pode ser a de que não é necessário à humanidade em geral ser familiar com objeções potenciais às suas crenças, mas somente aos filósofos e teólogos estarem assim conscientes. Mill responde que essa objeções não enfrequecem seu argumento para o livre discutir, pois aos dissidentes ainda deve ser dada voz com a qual objetem das opiniões. Mais além, enquanto na Igreja Catolica há uma distinção clara entre pessoas comuns e intelectuais, em países Protestantes, como a Inglaterra, cada pessoa é considerada responsável pelas suas escolhas, Ainda, em tempos modernos, é praticamente impossível manter das pessoas comuns escritos só acessíveis aos intelectuais. Mill então apresenta um terceiro argumento para o valor da liberdade de pensar e discutir. Ele escreve que se uma opinião verdadeira não é debatida, o sentido dessa opinião perder-se-á. Isso pode ser visto na história das crenças ética e religiosa – quando eles param de ser desafiados, eles perdem sua “força de viver.” Mill diz que o Cristianismo encara uma situação tal qual que a crença das pessoas não se reflete em suas condutas. Como um resultado, pessoas não entendem verdadeiramente as doutrinas que ostentam firmemente, e esse mal-entendido leva a sérios erros. Mill fornece uma possível crítica a esse ponto-de-vista. Ele escreve que poder-se-ia perguntar se é essencial ao “verdadeiro saber” que alguns segurem opiniões errôneas; responde que haver um número crescente de opiniões incontestadas é tanto “inevitável quanto indispensável” no processo de melhoria humano. Entretanto, isso não significa que a perda do debate não seja uma desvantagem, e ele encoraja professores a tentar compensar a perda do dissenso. Volta-se, após, a um quarto argumento para a liberdade de opinar. Escreve que em casos de doutrinas conflitantes, talvez o mais comum caso seja o de que ao invés de uma ser verdadeira, a outra, falsa, a verdade está em algum lugar dentre elas. Progresso normalmente somente subtitui uma verdade parcial por outra, a mais nova verdade mais adequada às necessidades da época. Dissidente ou heréticas opiniões comumente refletem as verdades parciais não reconhecidas na opinião popular e são valiosas para que se traga atenção a um “fragmento de sabedoria.” Esse fato pode ser visto na politica, em que opiniões divergentes mantêm-se ponderadas. Em qualquer questão aberta, o lado menos popular ao tempo é o lado que deve ser mais encorajado. Esse lado reflete interesses que estão sendo negligenciados. Mill então olha a crítica desse quarto argumento. Diz que pode ser debatido que alguns princípios, como os do Cristianismo, são totalmente verdadeiros e. se alguém discordar, estará completamente errado. Responde Mill que assim dizendo que de muitos modos a moralidade cristã é “incompleta e parcial,” e que algumas das ideias éticas mais importantes derivaram de fontes Greco-romanas. Ele argumenta que Cristo ele mesmo entendia sua mensagem como incompleta e que seria um erro rejeitar suplementos seculares à moralidade cristã. Mais basicamente, a imperfeição humana implica que a diversidade de opinião seria requerida para entender a verdade. Depois de uma olhada nesses quatro argumentos para liberdade, Mill brevemente aborda o argumento de que a livre expressão deve ser permitida, mas apenas se conjugada à “discussão justa.” Ele diz que tal padrão seria muito difícil de se sustentar por uma perspectiva prática. Mill pustula que seria preferível apenas serem dissidents aqueles que gozassem de um alto padrão de conduta. Ultimamente, não é o local do Direito restringir a discussão desse modo; opinião pública deve olhar para os casos individuais e segurar ambos os lados em um mesmo padrão.