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INSTITUTO DE HISTÓRIA
Niterói,
Dezembro, 2017
Projeto de monografia apresentado na Faculdade de História da Universidade Federal
Fluminense como requisito básico para a conclusão do curso de graduação.
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1. Introdução - Tema e Problematização
Essa posição de negligência por parte da metrópole frente a uma maior exploração da colônia
de Fernando Pó mudou apenas após a guerra civil espanhola. Franco impôs mudanças na
colônia, promovendo mudanças e investimento na produção promovendo lucros para a
Espanha.
Após esse período, a Guiné Equatorial é apresentada como uma colônia de assimilação. 3 A
partir da década de 1960 alguns hispano-guineenses participam da corte em Madri. Revoltas e
lutas pela emancipação já ocorriam na colônia, desde a década de 1950 4. Diante das revoltas e
da pressão da ONU, em 1968 a Guiné Equatorial conquista a independência. Eleições são
realizadas, na qual Francisco Nguema se torna presidente.
O período de presidência de Nguema foi marcado pela censura às mídias e aos intelectuais.
Bibliotecas foram fechadas e intelectuais foram perseguidos pelos agentes do governo 5. A
outrora próspera economia do café do cacau entrou em colapso 6. De forma geral, a economia
do país encontrava-se estagnada.
Este governo é acusado de perseguição às massas opositoras, com diversos mortos 7. O governo
de Francisco Nguema é acusado de perseguição ao povo Bubi e tal fato surge como legitimador
do golpe de Estado de 1979. Todos estes apectos serviram para enfraquecer o governo do
primeiro presidente da Guiné Equatorial. Teodoro Obiang, sobrinho de Francisco Nguema,
assume o poder, cargo que ocupa ainda hoje.
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De acordo com a EG Justice, alguns desafios foram superados com a queda de Francisco
Nguema do poder, porém o país enfrenta ainda o desrespeito aos direitos humanos por parte do
Estado e há grandes desafios socioeconômicos, incluindo falta de distribuição de renda e os
escândalos de corrupção8. Além disso, todos os meios de comunicação do país são controlados
pelo governo, prejudicando a atuação da mídia independente e o acesso à informação por grande
parte da população. Mídias como a EG Justice atuam fora do país, pois este tipo de mídia não
é permitido na Guiné Equatorial.
O governo de Obiang é acusado por diversos ativistas e por entidades do mundo todo de
negligência dos direitos humanos, prisões, tortura e extermínio de opositores. Outro desafio
enfrentado pelo governo diz respeito ao petróleo. Este gera grande renda ao país, porém há
pouco investimento na sociedade. Além disso, o país encontra-se na lista dos governos mais
corruptos, sendo acusados por diversos órgãos internacionais como a ONU e organizações de
ativistas10.
Os aspectos sociais são negativos de acordo com índices internacionais, apesar dos
significantes recursos em petróleo, com um dos maiores índices de produção per capita do
mundo. Porém, apenas a elite política do país possui acesso a estas riquezas. O acesso ao
saneamento básico também é restrito no país. No setor da saúde, apesar dos investimentos e
avanços dos últimos anos, maiores melhorias poderiam ser atingidas utilizando-se o recurso do
petróleo, por exemplo, de acordo com especialistas.
O contexto apresentado nesta introdução constrói uma imagem negativa da Guiné Equatorial
no contexto internacional. Grandes mídias e organizações internacionais sempre apontam os
aspectos negativos do pais em questão. Corrupção, miséria, violação dos direitos humanos,
prisões arbitrárias são sempre apontadas como as maiores características do país. Podemos nos
questionar, se, tratando-se de um país africano, essa mídia não está a alimentar ainda mais os
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estereótipos acerca do continente. Por se tratar de uma ditadura na África, ela irá sempre ser
representada como um dos governos mais catastróficos do mundo 11.
Porém há diversos outros aspectos relevantes a serem abordados, tais como a atuação social
dos ativistas e a riqueza de suas reivindicações. Outro aspecto importante é como o próprio
governo irá utilizar a imagem negativa que tem no exterior e manipulá-la a seu próprio favor.
Nota-se que ambos os grupos se utilizam dessa imagem negativa com o propósito de atingir
objetivos diferenciados.
Devemos observar o olhar positivo que o ativismo político pode ter encarado a entrada do
país na CPLP. Ponciano Nvó, advogado e ativista, que discursou destacando a possibilidade
das exigências da CPLP serem cumpridas pelo governo, dentre elas a abolição da pena de morte.
Outra possibilidade de melhoria seria a maior vigilância destes países estrangeiros em relação
à Guiné Equatorial.
Foi possível, inclusive, que um grupo de ativistas recorressem aos países membros da CPLP
com o pedido de que averiguassem as violações de direitos humanos no país. Até hoje, pouco
mudou no país e violações de direitos humanos continuam ocorrendo. Porém, podemos buscar
compreender se essa visão positiva e esperançosa teve uma maior proliferação entre os grupos
ativistas.
No ano seguinte à entrada da Guiné Equatorial na CPLP, a Beija Flor de Nilópolis realizou
um desfile de carnaval exaltando a cultura do país africano. Entendemos a escolha do tema da
escola de samba como fruto da entrada do país na CPLP e seu maior espaço no cenário
11 Ideias apresentadas pela orientadora Marina Berthet nas reuniões sobre o projeto.
12 disponível
em:https://brasil.elpais.com/brasil/2014/07/20/internacional/1405852956_098717.html
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internacional. Essas hipóteses serão trabalhadas na pesquisa utilizando como base para a
compreensão do contexto, as notícias das mídias abordando o desfile.
Porém, também foram feitas homenagens ao presidente africano e este teria doado um alto
valor em dinheiro para a escola. Este fato gerou a circulação de diversas críticas ao desfile por
parte da mídia. Ativistas políticos guineenses se apropriaram do desfile para realizar críticas
contundentes ao governo de seu país. Utilizando-se e apropriando-se da mídia, esses ativistas
buscaram estabelecer seu espaço de crítica ao governo.
Procuramos nesta pesquisa entender como o governo da Guiné Equatorial entende tanto o
desfile da Beija Flor como a entrada do país na CPLP como uma estratégia de legitimação
diante do cenário internacional, e ainda, na busca por países aliados.
Procuramos também, compreender o olhar dos ativistas do país diante deste contexto.
Notamos que este grupo busca na entrada da Guiné Equatorial na CPLP, uma forma de maior
visibilidade do país no exterior. Desta forma, os países estrangeiros poderiam "vigiar" os abusos
do governo com a população.
O desfile também é apropriado pelos ativistas. O tema escolhido pela escola da Beija-Flor
gerou uma maior visibilidade tanto para o país quanto para os ativistas. Diversas entrevistas
foram feitas com ativistas políticos nas mídias, possibilitando um maior campo de debate acerca
dos direitos humanos na Guiné Equatorial. Ainda que este debate possa encontrar dificuldades
de penetração devido ao entendimento difuso sobre o papel da cultura e da política.
A ideia surgida com essas leituras é que, mesmo os pesquisadores que propõe uma leitura
alternativa às análises baseadas no olhar colonial ainda preferem estudar países que foram
colônias de grandes nações imperialistas europeias. Sendo assim, a Guiné Equatorial, por se
tratar de uma ex-colônia espanhola, acaba sendo pouco analisada pela historiografia. Outro fator
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que contribui para o país atrair pouca atenção dos pesquisadores, é por se tratar de um pequeno
território que em 1980 concentrava uma população menor que 1.000 habitantes por metro
quadrado.
A partir da análise da bibliografia de obras sobre a História Geral da África percebemos que
o pouco de abordagens sobre a Guiné Equatorial concentra-se no período da colonização
espanhola e da autonomia e independência do país. As contribuições mais importantes dessas
obras é contestar a visão propagada de que certas independências africanas forma fruto apenas
de uma negociação com as metrópoles, sem haver conflitos nesses casos.
Ki-Zerbo no volume 2 de História da África Negra, faz uma análise da história da Guiné
Equatorial na página 313. O autor apresenta a colônia representada pelo regime de assimilação
pela Espanha. A justificativa é a participação em 1960 de dois hispano-guineenses na corte de
Madri. Porém cabe ressaltar as lutas e reivindicações ocorridas na década de 1950 pelos nativos,
que foram citadas por Fage.
Ki-Zerbo destaca a perseguição realizada por Francisco Nguema aos seus opositores. Muitos
opositores foram mortos e o governo do presidente é acusado de ter realizado execuções em
massa no país14. Em 1979 o sobrinho de Nguema, Teodoro Obiang, promove um sangrento
golpe de estado, e permanece no poder até hoje. Assim como o governo de seu tio, o presidente
também é acusado de diversas violações de direitos humanos.
Por outro lado, também é essencial entender como ativistas políticos e opositores ao regime
de Obiang utilizam-se da mídia e de entidades internacionais para conquistarem espaço e
visibilidade na sociedade. Compreender as estratégias desses setores para chamar a atenção
internacional é importante para entender o contexto em que o país se insere.
Nessa problemática considero a análise das mídias como importante forma de expressão dos
setores populares e do governo. Esse é o meio principal pelo qual ambos os setores buscam
comover e mudar a opinião internacional de acordo com seus pontos de vista e objetivos. É
através da mídia que as alianças são feitas e os pontos de vista são apresentados para os leitores.
Para este tipo de análise é essencial entender a mídia como veiculadora de ideologias. Assim,
diferentes periódicos apresentam diversas representações sobre um mesmo assunto.
O desfile da escola de samba Beija Flor em 2015, que teve como tema a Guiné Equatorial,
ocasionou tensão entre os dois grupos antagonistas. Gerou ainda, uma maior visibilidade para
os grupos de ativistas, com entrevistas e reportagens sobre violação dos direitos humanos no
14 KI-Zerbo.1972.
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país. Portanto, considero esse momento como ponto principal para uma melhor compreensão
da situação da Guiné Equatorial.
3. Objetivos:
3.1: Geral:
Como objetivo geral da pesquisa, nossa proposta é a análise das relações entre o governo da
Guiné Equatorial e os ativistas políticos do país. Essas relações são norteadas, principalmente,
pelas violações dos direitos humanos por agentes do governo. A análise baseia-se no relatório
da Anistia Internacional de 2014-2015, período em que se realizou o desfile da Beija Flor em
homenagem à Guiné Equatorial. Este o qual gerou diversas reações.
Considerando este aspecto, pretendemos compreender, de forma geral, quais os meios são
utilizados por ambos os grupos como forma de estabelecer seus discursos. A mídia aparece
como principal ferramenta de uso político, entre blogs, imprensa e sites de ativistas.
Pretendemos, nesta análise, compreender como o uso político desses meios de comunicação
interfere nas relações sociais no país e, também, na opinião pública internacional acerca do
regime vigente na Guiné Equatorial.
3.2 Específicos:
Compreender como ocorre a absorção, pelo carnaval, de temas que geram conflitos políticos
apresenta-se como objetivo específico dessa pesquisa. Neste caso, abordaremos a forma que a
escola da Beija-flor abordou e apresentou aspectos que são fonte de disputa na Guiné
Equatorial, em seu desfile de 2015. Para tal, é essencial, também, o outro viés do desfile da
escola de samba, que é a compreensão de como a homenagem da Beija Flor ao país, mudou ou
influenciou as relações entre ativistas políticos e o governo. E como estes também utilizaram
do desfile em seus discursos.
A partir dos conceitos de Viveiros de Castro, busco compreender ainda, de qual forma o
patronato interferiu, e se interferiu diretamente, no ritual do desfile. Em sua obra, a autora
buscou compreender a relação entre o jogo do bicho e as escolas de samba e como esta relação
pode gerar reações e mudanças no desenrolar do desfile das escolas de samba. O interessante é
percebermos como diferentes visões de mundo interferem na realização e apresentação da
temática do desfile.
No caso do desfile de 2015 da Beija Flor, pretendemos utilizar estas ideias para a análise da
relação entre o desenvolvimento do tema do desfile da escola de samba e o governo de Obiang,
que teria doado três milhões de dólares à escola de samba 17. Este é um aspecto sociológico o
qual possui potencial transformador no desenvolvimento do desfile da escola de samba.
Outra relação que buscamos analisar, tendo em consideração os conceitos elaborados pela
autora, é se a questão da reciprocidade entre a festa e a cidade, de um modo geral, foi alterada
pela escola ter abordado um tema que gerou polêmica. Viveiros de Castro afirma em sua obra,
que o desfile de carnaval nos revela uma síntese do imaginário que a sociedade apresenta sobre
determinado tema. Este é outro aspecto apresentado pela autora que influenciou esta pesquisa.
Para Berstein, a cultura política não está limitada a ideologias ou tradições políticas de um
país. Trata-se de um conjunto homogêneo que busca definir identidades. A análise destas
identidades pressupõe na definição de uma cultura política nacional, pois nas sociedades a
cultura expressa pelas elites e pelas massas são distintas. Para o autor, a diferença essencial está
na expressão desta cultura e não no conteúdo ou contexto cultural.
Outro aspecto da cultura política proposta por Berstein que pretendemos utilizar nesta
pesquisa, é a ideia a qual a interação entre os agentes deve ser considerada nas análises deste
campo. Esta interação gera mudanças ao longo do tempo na cultura política, além da
possibilidade nos depararmos com uma multiplicidade de culturas políticas no interior de um
grupo ou de determinada sociedade.
Desta forma pretendemos estabelecer uma relação entre as torturas (citadas nesta pesquisa) e
a corrupção do governo de Nguema como uma forma de estabelecimento de seu poder. Por
outro lado, entendemos que nenhum governo se mantém apenas pelas armas. Desta forma, a
análise irá abranger a entrada do país na CPLP e o investimento e participação ativa no desfile
de carnaval de 2015 como formas manter uma imagem positiva no exterior e buscar países
parceiros.
A escolha das mídias que serão utilizadas nesta pesquisa como fonte, foi feita levando-se em
consideração a necessidade de comparação entre os discursos do governo de Obiang e os
ativistas políticos no momento posterior ao desfile da escola de samba da Beija-Flor.
18BERSTEIN, Serge. A cultura política. In: RIOUX, Jean-Pierre & SIRINELLI, Jean-François. Para uma História
Cultural. Lisboa, Editorial Estampa, 1998.
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Comunicados oficiais do governo foram publicados online na imprensa da Guinea Ecuatorial
Press, como resposta às acusações de doação do presidente à escola de samba.
A comparação que será feita entre os dois discursos dos jornais será baseada na metodologia
de análise da imprensa de Heloísa de Farias Cruz e Maria do Rosário da Cunha Peixoto,
apresentada no livro Na Oficina do Historiador: Conversas sobre História e Imprensa. As
autoras defendem a comparação entre fontes como uma forma de compreendermos o campo
maior das disputas sociais.
Para a boa utilização das fontes de mídias, de acordo com as autoras, devemos compreender a
imprensa a partir de dois olhares. O primeiro que apresenta esta como força social ativa; o
segundo que entende a imprensa como braço do capitalismo, aspecto que evidencia a
necessidade de não analisarmos esta fonte como mera narrativa dos acontecimentos históricos,
mas sim como difusora de ideologias e desfazer-se do mito da objetividade da imprensa.
Notícias sobre o desfile que foram veiculadas pela imprensa brasileira serão utilizadas como
fonte referencial para uma compreensão mais abrangente do tema. Consideramos importante a
análise dessas mídias pelo fato do desfile ter-se realizado no país e assim, estar inserido no
contexto social brasileiro, aspecto este que deve ser levado em consideração. Esta utilização
19 Disponível em:
https://diariorombe.es/la-escuela-beija-flor-sera-juzgada-por-recibir-3-
millones-de-euros-de-los-obiang/
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será abordada através da defesa que Cruz e Rosário fazem para que a análise compare fontes,
permitindo uma maior compreensão das forças e práticas sociais do período em estudo.
Outra fonte que será utilizada será o desfile da Beija-Flor, com análise do aspecto visual e
do samba-enredo, além de como este processo documentado pela imprensa. O objetivo é
analisar o aspecto social das relações entre o governo de Obiang e a escola de samba brasileira,
e ainda, suas repercussões no campo social. A metodologia utilizada será desenvolvida por
Viveiros de Castro Cavalcanti em Carnaval carioca: dos bastidores ao desfile pela autora
abordar aspectos sociológicos do desfile de carnaval.
Esta metodologia será utilizada para a compreensão das continuidades e mudança na vida
social urbana. A defesa da autora é a utilização de aspectos internos e externos ao desfile de
carnaval. Entre estes estão samba-enredo, ritmos, processos de expansão da base social da
escola e de comercialização, além da relação com o investimento do jogo do bicho. No caso do
desfile da escola da Beija Flor em 2015, utilizaremos para esta pesquisa, o investimento do
governo da Guiné Equatorial como base para a análise.
BIBLIOGRAFIA:
CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. Carnaval Carioca: dos bastidores ao desfile.
3. ed. Rio de Janeiro. EDUFRJ. 2006.
LUCA, Tânia Regina de. História de, no e por meio dos periódicos. São Paulo. Contexto. 2005.
UNESCO. História Geral da África. São Paulo: Ática. / Unesco 1991. (Volumes 7 e 8).
FONTES:
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PORTAL LUSO TIMES. Vários. Disponível em: https://www.lusotimes.co.uk/ativistas-
pedem-cplp-averigue-violacoes-direitos-humanos-na-guine-equatorial/
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