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“Cândido Tostes”, Jan/Fev, nº 366, 64: 12-21, 2009

ANÁLISE SENSORIAL NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS

Sensory analysis in the food industry


Lílian Viana Teixeira 1

RESUMO

No setor de alimentos, a análise sensorial é de grande importância por avaliar a


aceitabilidade mercadológica e a qualidade do produto, sendo parte inerente ao plano de
controle de qualidade de uma indústria. É por meio dos órgãos dos sentidos que se procedem
tais avaliações, e, como são executadas por pessoas, é importante um criterioso preparo
das amostras testadas e adequada aplicação do teste para se evitar influência de fatores
psicológicos, como, por exemplo, cores que podem remeter a conceitos pré-formados.
Termos para indexação: análise sensorial; qualidade; indústria de alimentos.

1 INTRODUÇÃO 2 REVISÃO DE LITERATURA

A análise sensorial é definida pela Asso- 2.1 Histórico


ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT,
1993) como a disciplina científica usada para Sabe-se que métodos de degustação, como
evocar, medir, analisar e interpretar reações das forma de análise sensorial de alimentos, foram apli-
características dos alimentos e materiais como cados pela primeira vez na Europa, há tempos atrás,
são percebidas pelos sentidos da visão, olfato, com o objetivo de controlar a qualidade de cerve-
gosto, tato e audição. jarias e destilarias. Nos Estados Unidos, durante a
A análise sensorial normalmente é reali- Segunda Guerra Mundial, surgiu da necessidade de
zada por uma equipe montada para analisar as se produzir alimentos de qualidade e que não fossem
características sensoriais de um produto para um rejeitados pelos soldados do exército. A partir desta
determinado fim. Pode se avaliar a seleção da necessidade surgiram então os métodos de aplicação
matéria prima a ser utilizada em um novo pro- da degustação, estabelecendo a análise sensorial co-
duto, o efeito de processamento, a qualidade da mo base científica (Monteiro, 1984; Chaves, 1998).
textura, o sabor, a estabilidade de armazena- Segundo este mesmo autor, essa prática chegou ao
mento, a reação do consumidor, entre outros. Brasil em 1954 no laboratório de degustação da
Para alcançar o objetivo específico de cada aná- seção de Tecnologia do Instituto Agronômico de
lise, são elaborados métodos de avaliação dife- Campinas (S.P.), para avaliar o café.
renciados, visando a obtenção de respostas mais O primeiro livro sobre a análise sensorial
adequadas ao perfil pesquisado do produto. Esses como controle da qualidade em indústrias alimen-
métodos apresentam características que se mol- tícias foi escrito por Muños et al em 1992. Porém,
dam com o objetivo da análise. O resultado, que os primeiros registros da análise sensorial sendo
deve ser expresso de forma específica conforme empregada com a finalidade de controle de qua-
o teste aplicado, é estudado estatisticamente con- lidade em indústrias de alimentos datam da década
cluindo assim a viabilidade do produto. de 40, mas somente em 1980, esta área começou
A qualidade sensorial do alimento e a ma- a ter maior ênfase, quando o Institute of Food
nutenção da mesma favorecem a fidelidade do Technologists (IFT) organizou seminários sobre o
co n sumi d o r a u m p ro d u to esp ec íf ic o em u m tema (Muñoz, 1999).
mercado cada vez mais exigente. Com base nesses
aspectos e considerando a importância da qua- 2.2 As propriedades sensoriais
lidade na indústria de alimentos, o objetivo deste
trabalho foi realizar uma revisão de literatura A nossa “máquina” de análise sensorial é
abordando alguns itens da análise sensorial. composta pelos nossos sistemas sensoriais: olfa-

1 Médica Veterinária: UFMG, especialista e mestre em tecnologia e inspeção de produtos de origem animal; DSc.
genética e melhoramento genético. e-mail: viana.lilian@gmail.com
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tivo, gustativo, tátil, auditivo e visual. Esses o sabor dos alimentos, a qual podemos com-
sistemas avaliam os atributos dos alimentos, ou provar quando estamos resfriados e, então,
seja, suas propriedades sensoriais (Anzaldúa- não sentimos o sabor dos alimentos. Os pro-
Morales, 1994). vadores de vinho, chá ou café avaliam esta
As propriedades são as seguintes: característica, apertando tais amostras com
a língua contra o palato, induzindo a difusão
- Cor das substâncias aromáticas pela membrana
O primeiro contato do consumidor com palatina, e também aspirando pelo nariz para
um produto, geralmente, é com a apresen- perceber o odor das substâncias que se vola-
tação visual, onde se destacam a cor e a tilizam na boca (Anzalcúa-Morales, 1994;
aparência. Todo produto possui uma aparên- ABNT, 1993).
cia e uma cor esperadas que são associadas
às reações pessoais de aceitação, indiferença - Gosto
ou rejeição. A forma geralmente está rela- É uma das propriedades sensoriais da cavi-
cionada à forma natural, ou a uma forma dade bucal relacionadas ao paladar, perce-
comercial consagrada culturalmente. A cor bidas na boca. É a identificação, através
de um objeto possui três características das papilas gustativas, das características
distintas que são o tom, determinado pelo básicas (ou gostos primários) dos alimentos,
comprimento de onda da luz refletida pelo ou seja, os gostos ácidos, amargos, doces e/
objeto; a intensidade, que depende da con- ou salgados (Teixeira et al, 1987; Huy, 1992;
centração de substâncias corantes dentro ABNT, 1993; Anzaldúa-Morales, 1994). É
do alimento e o brilho, que é a quantidade importante ressaltar que existem pessoas
da luz refletida pelo corpo em comparação com adequada percepção para algum(s) des-
com a quantidade de luz que incide sobre o ses gostos básicos que pode(m) apresentar
mesmo (Teixeira et al, 1987; Huy, 1992; percepção p obre ou nula para ou tro(s)
Anzaldúa-Morales, 1994). (Anzaldúa-Morales, 1994).
O sabor (equivalente em português para
- Odor a palavra inglesa flavour), é um atributo
Segundo a ABNT, odor é a propriedade complexo, definido como experiência mis-
sensorial perceptível pelo órgão olfativo ta, mas unitária de sensações olfativas, gus-
quando certas substâncias voláteis são aspi- tativas e táteis percebidas durante a degus-
radas (ABNT, 1993). Essas substâncias, em tação (ABNT, 1993). O sabor é influencia-
diferentes concentrações, estimulam dife- do pelos efeitos táteis, térmicos, dolorosos
rentes receptores de acordo com seus valo- e/ou sinestésicos, e essa inter-relação de
res de limiar específicos. Muitas substâncias características é o que diferencia um ali-
possuem notas características, e os alimen- mento do outro. Quando um sabor não pode
tos podem ser compostos por várias dessas ser definido claramente é denominado sui
notas, como, por exemplo, notas doces e generis, porém, por meio da análise sen-
notas ácidas na maçã, cujos especialistas em sorial, pode-se obter o perfil do sabor do
odores identificam facilmente, princi- alimento, que consiste na descrição de cada
palmente por sua memória olfativa (Teixeira componente de um produto. Algumas carac-
et al, 1987; Anzaldúa-Morales, 1994). Ainda terísticas devem ser levadas em con si-
segundo Teixeira et al (1987), outras carac- deração em alguns alimentos (ou ingredien-
terísticas do odor são a intensidade, a persis- tes de alimentos) e uma delas é o tempo de
tência e a saturação; a primeira tem relação percepção, ou seja, o tempo para ser perce-
com a própria característica do odor (nota) bida pelo paladar. Outra característica im-
e a concentração; a persistência (a segunda portante para se observar é o sabor residual
característica) também pode estar relacio- que permanece na boca algum tempo após
nada indiretamente com a intensidade, mas o alimento ser deglutido (Teixeira et al,
está diretamente relacionada ao tempo de 1987; Huy, 1992; ABNT, 1993; Anzaldúa-
duração. Já a saturação está relacionada com Morales, 1994).
a capacidade do sistema nervoso central
em se acostumar ao odor e passar a não - Textura
percebê-lo conscientemente. A textura é a principal característica per-
O aroma é a propriedade de perceber as cebida pelo tato. É o conjunto de todas as
substâncias aromáticas de um alimento de- propriedades reológicas e estruturais (geo-
pois de colocá-lo na boca, via retronasal. métricas e de superfície) de um alimento,
Esta propriedade é essencial para compor perceptíveis pelos receptores mecânicos,
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táteis e eventualmente pelos receptores recipientes adequados, uniformes, limpos, sem


visuais e auditivos (ABNT, 1993). A tex- odores ou sabores residuais e em tamanho ade-
tura se manifesta quando o alimento sofre quado. Para líquidos usa-se aço inox, vidro e alguns
uma deformação (quando é mordido, pren- plásticos, sendo que para bebidas quentes se pode
sado, cortado, etc), e é através dessa inter- usar cerâmicas e para bebidas muito frias, vidros.
ferência na integridade do alimento que se Para alimentos sólidos se pode usar pratos ou pires
pode ter noção da resistência, coesividade, de papel, plástico ou vidro, além de folha de alu-
fibrosidade, granulosidade, aspereza, cro- mínio. Os talheres devem ser preferencialmente de
cância, entre outras (tab. 1). As proprie- aço inox (Chaves, 1980; Monteiro, 1984; Teixeira
dades da textura podem ser classificadas et al, 1987; Moraes, 1988).
em três categorias: mecânica, geométrica Para os degustadores não sofrerem qualquer
e de composição, que por sua vez podem influência psicológica, as amostras devem ser devi-
ser subdivididas em primárias e secundá- damente preparadas antes de serem apresentadas
rias, (Anzaldua-Morales, 1984). Para ali- para a análise (Chaves, 1980; Monteiro, 1984;
mentos líquidos, tal deformação se chama Teixeira et al, 1987; Moraes, 1988; Anzaldáua-
fluidez; para alimentos semi-sólidos ao Morales, 1994). As cores, por exemplo, podem
invés de textura, denomina-se consistência influenciar a análise sensorial de um alimento,
(Teixeira et al, 1987; Huy, 1992; Anzaldúa- tanto no que diz respeito à identificação de sabores
Morales, 1994). (um grande número d e pessoas é incapaz de
identificar sabores em bebidas incolores) quanto
- Som na medição da aceitabilidade de um produto. Com
Os alimentos possuem sons caracterís- o objetivo de minimizar estes efeitos, lança-se
ticos, que são reconhecidos pela experiência mão de lâmpadas coloridas (azuis, vermelhas ou
prévia do consumidor quando são consumi- alaranjadas) nas cabines de análise sensorial
dos ou preparados; sendo associado princi- (Teixeira et al, 1987).
palmente à textura do alimento (Teixeira Quanto ao odor/aroma, é importante que
et al, 1987; Huy, 1992). o ambiente de prova tenha circulação de ar ade-
quada. A duração da análise e o intervalo entre
2.3 Preparo e apresentação das amostras uma prova e outra devem ser suficientes para
evitar saturação dos receptores olfatórios, prin-
A sala de preparo de amostras deve possuir cipalmente se a análise for exclusivamente sobre
todo o material necessário para o trabalho. Alguns odor (Chaves, 1980; Monteiro, 1984; Teixeira
equipamentos, como balança analítica, provetas, et al, 1987; Moraes, 1988).
termômetros, destilador de água, banhos-maria, Para evitar interferências na análise do sa-
geladeira, forno, fogão, bandejas e pia são impres- bor, os utensílios devem estar limpos, e o ambiente
cindíveis. As amostras devem ser apresentadas em ausente de odores fortes, pois estes podem in-

Tabela 1 – Definições de algumas características primárias de textura

PROPRIEDADES DEFINIÇÕES
Dureza Física: força necessária para deformar o alimento.
Sensorial: força requerida para comprimir um alimento na boca até sua ruptura.
Coesividade Física: força que pode deformar um material antes de romper.
Sensorial: grau até o qual se comprime uma substância antes de rompê-la.
Viscosidade Física: taxa de fluxo por unidade de força.
Sensorial: força requerida para retirar um líquido de uma superfície.
Elasticidade Física: taxa a qual um material deformado regressa a sua condição inicial
depois de retirar a força deformante.
Sensorial: grau ao qual regressa um produto a sua forma original uma vez que
já tenha sido comprimido pelos dentes.
Adesividade Física: trabalho necessário para vencer as forças de atração entre a superfície
do alimento e a superfície dos outros materiais que o alimento entra em contato.
Sensorial: força requerida para se retirar o material aderido à boca durante
seu consumo.
Fonte: Larmond (1976), citado por Anzaldúa-Morales (1994).
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terferir na análise. Para alimentos que apresentem etc) para cada amostra (Monteiro, 1984; Moraes,
sabor residual, é recomendado “limpar” a boca 1988; Anzaldúa-Morales, 1994).
com alguns alimentos, como maçã, biscoito sem Os questionários devem ser atrativos, sim-
sal e outros. Se o alimento tem sabor pouco pro- ples e adequados para o tipo de juiz, sendo um
nunciado, este pode ficar mais tempo na boca do questionário para cada teste. Deve ter espaço para
degustador. A prática de enxaguar a boca com preenchimento do nome do juiz e da data, e os
água entre as provas pode ou não ser adotada, dados dos testes devem ser registrados em outra fi-
mas caso seja deve ser realizada do inicio ao fim cha e só depois analisados conjuntamente (Teixeira
das provas (Monteiro, 1984; Teixeira et al, 1987; et al, 1987; Anzaldúa-Morales, 1994).
Moraes, 1988; Anzaldáua-Morales, 1994).
Para a adequada percepção do tato pelo 2.4 Co ndições gera is para a a nálise
analista, o tamanho da amostra deve ser suficiente sensorial
para ser mordido e movimentado na boca. Existem
medidas e consensos estipulados para tais análises. O local dos testes deve possuir cabines pre-
Alguns alimentos, como o requeijão, a manteiga ferencialmente individuais, com espaço suficiente
e a margarina, necessitam da utilização de veículos para acomodar confortavelmente o juiz e as amos-
para realização desta prova. Neste caso, deve-se tras. A iluminação deve ser com luz natural ou
atentar para que esse veículo seja o mais insípido fluorescente natural, porém deve-se ter o recurso
e inerte possível (Anzaldúa-Morales, 1994). adicional de lâmpadas coloridas para mascarar a
Quando se pretende analisar o som do ali- cor de certas amostras ou homogeneizá-las. As
mento é necessária a eliminação de ruídos estra- cabines devem ser isoladas de barulhos e de locais
nhos, que podem alterar a percepção e a atenção movimentados, ficando sempre longe de odores
do juiz que estiver realizando a prova (Teixeira et que possam interferir na análise. A temperatura
al, 1987). Nesses casos, o local de análise deve no local da análise deve estar em torno de 22ºC,
ser tranqüilo e afastado de áreas barulhentas com umidade relativa do ar entre 50 e 55%. As
(Chaves, 1980; Anzaldúa-Morales, 1994). paredes devem ser brancas ou de cores neutras, e
A quantidade de amostra a ser avaliada deve a área de preparo das amostras não deve ser visível
ser suficiente para apreciação pelo juiz. Em relação aos juízes (Monteiro, 1984; Teixeira et al, 1987;
a alimentos líquidos, indica-se 16 mL por amostra, Mo raes, 19 88; Pedrero e Pangb orn, 198 9;
e para alimentos sólidos 25-28g por amostra; se Anzaldáua-Morales, 1994).
o material avaliado for uma bebida indica-se até O fator “horário da prova” é muito im-
50 mL por amostra, conforme disponibilidade de portante, pois o apetite (tanto exacerbado quanto
material e número de testes que o juiz irá fazer no ausente) pode interferir no resultado. Por isso
mesmo dia (Monteiro, 1984; Moraes, 1988). recomenda-se realizar a prova duas horas antes
A temperatura das amostras deve ser uni- ou depois das refeições. (Monteiro, 1984; Teixeira
forme e preferencialmente igual àquela que é de et al, 1987; Moraes, 1988; Pedrero e Pangborn,
costume consumir. Porém a percepção das papilas 1989; Anzaldáua-Morales, 1994)
fica prejudicada quando em temperaturas muito O planejamento dos testes deve ser reali-
altas ou muito baixas, sendo indicadas algumas zad o ad eq u ad amen te, p o r meio d o q u al será
temperaturas ideais para a análise de alguns ali- escolhido o melhor delineamento para se obter
mentos (Monteiro, 1984). as informações desejadas. Este delineamento con-
Sempre que for possível evitar o uso de sistirá no tipo de teste a ser aplicado, número
veículos é aconselhável, pois as características ideal de juízes e tipo de análise estatística exe-
sensoriais deste podem se misturar com as da cutável (Monteiro, 1984; Teixeira et al, 1987;
amostra. Existem alguns veículos mais utilizados, Anzaldáua-Morales, 1994).
que devem ser o mais insípidos e inertes possíveis Quanto ao procedimento dos testes, a equi-
(pão judeu, torradas etc). As diluições também pe deve ser instruída de forma clara e objetiva de
devem ser evitadas, a não ser que o produto tenha como proceder. É importante reforçar alguns
um sabor picante ou muito intenso (como Chili e procedimentos, como lavar a boca com água (ou
alho, entre outros). Em testes afetivos não se com pão, biscoito ou maçã) em cada troca de
deve diluir amostras (Anzaldúa-Morales, 1994). amostra e sempre prová-las da esquerda para a
A codificação da amostra deve ser feita de direita. Não há interferência no teste em si se o
modo a não induzir a classificações, sendo, por juiz engolir ou não as amostras, porém reco-
isso, desaconselhável o uso de numeração simples menda-se que ele cuspa, para evitar desconfortos
(1, 2, 3..) ou por letras (a, b, c..), pois pode-se como enjôo, sensação de saciedade, entre outros,
induzir a classificar a mostra “1” ou “a” como que poderiam interferir no sucesso das provas,
melhor. O recomendado é a utilização de código principalmente se consistirem de muitas amos-
feito com três dígitos aleatoriamente (452, 604, tras. Os testes de odor devem prescindir os de
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sabor, quando forem executados no mesmo dia ma-se painel de análise sensorial (Monteiro, 1984;
(Teixeira et al, 1987; Anzaldúa-Morales, 1994). Teixeira et al, 1987; Moraes, 1988; Anzaldáua-
A análise sensorial é medida por meio das Morales, 1994).
reações pessoais dos juízes, por isso existe uma certa Essa equipe pode ser formada por fun-
vulnerabilidade dos resultados a essas reações. Para cionários da indústria onde se faz o produto,
minimizar esse tipo de interferência pessoal na aná- contudo não é recomendado que façam parte do
lise, a aplicação dos testes deve ser cercada de cui- painel aqueles que estiverem envolvidos direta-
dados, a fim de evitar erros, descritos nos parágrafos mente com a produção e/ou desenvolvimento do
a seguir, conforme Anzaldúa-Morales (1994): produto, ou ainda aqueles que apresentam aversão
Para evitar incorrer no erro de expecta- ao mesmo (Moraes, 1988).
tiva, não devem ser dadas informações sobre o Os participantes de uma análise sensorial
teste a ser realizado em si, apenas aquelas que devem apresentar algumas características, como
forem necessárias sobre o produto e o procedi- boa saúde e apetite, habilidade de concentração,
mento a ser seguido. Pelo mesmo motivo, não sensibilidade no mínimo mediana, capacidade de
devem participar do teste pessoas envolvidas com reproduzir os resultados e, principalmente, boa
o desenvolvimento da pesquisa. vontade. Nos casos de fumantes, pede-se não fumar
Para evitar que o juiz seja influenciado por uma hora antes dos testes; aos demais não mascar
características que não são importantes na análise chicletes ou fazer uso de bebida alcoólica meia hora
do produto, e nem relacionar uma característica antes dos testes. O uso de perfume não é permitido
logicamente com outra (erro de estímulo e/ou e as pessoas resfriadas são dispensadas (Monteiro,
lógica), as amostras devem ser apresentadas de 1984; Moraes, 1988; Pedrero e Pangborn, 1989).
forma homogênea (mesmo tamanho, quantidade, O tamanho da equipe dependerá do tipo de
forma, etc) e, se for o caso, ter suas características teste a ser empregado (Tab 2) e da habilidade e
mascaradas. sensibilidade dos juízes, podendo variar de oito,
O efeito global acontece quando o juiz ava- em equipe de laboratório treinada e/ou para testes
lia mais de uma característica na amostra (sem ser tipo descritivos, a mais de 100 juízes, no caso de
o caso de fazê-lo), comparando, indevidamente, testes de consumidor (Monteiro, 1984; Pedrero
características diferentes. Já o efeito de sugestão e Pangborn, 1989).
ocorre quando o juiz é influenciado pelas expressões
faciais dos outros juízes. Para se evitar esse efeito 2.5.1 - Tipos de juízes
deve-se realizar a prova em cabines individuais,
evitando contato visual entre os provadores. Segundo Anzaldúa-Morales (1994) existem
A falta de motivação também deve ser evi- três tipos de juízes. Os especialistas (ou “experts”),
tada e, por isso, os testes devem ser bem planejados que tem grande experiência em provar produtos
e realizados de forma eficiente. específicos, como vinho, café, chá e etc, e que
O efeito de contraste ocorre quando o possuem grande sensibilidade para perceber a dife-
juiz experimenta uma amostra desagradável logo rença entre amostras e suas características. Por
após uma agradável, ou vice-versa, o que poderia serem tão eficientes, eficiência essa advinda de um
induzir uma classificação mais severa da segunda. longo treinamento, só a análise de um especialista
Este erro pode acontecer tanto em testes com sobre o produto é suficiente, e por isso é muito
escala hedônica quanto nos testes descritivos, po- cara. Esse tipo de juiz deve manter-se “em forma”:
dendo ocorrer influência também do erro de asso- abster-se de fumar, não comer ou beber alimentos
ciação lógica, e, para se evitar tais erros, deve-se muito condimentados nem muito quentes ou frios
apresentar as amostras em ordem aleatória. e não consumir (exceto durante as provas) o produ-
Geralmente, quando é difícil detectar a dife- to com o qual trabalha (Pedrero e Pangborn, 1989;
rença entre amostras, os juízes tendem a eleger a Anzaldáua-Morales, 1994).
amostra central como diferente (efeito de posi- Os juízes treinados são aqueles que pos-
ção). O erro de análise advindo deste fato pode suem boa habilidade para perceber algumas pro-
ser evitado através de apresentação aleatória das priedades sensoriais, e que receberam uma base
amostras aos degustadores. teórica e prática. Esses devem realizar provas senso-
riais com certa periodicidade. A equipe formada
2.5 Montagem de um painel sensorial por esse tipo de juiz deve conter de 7 a 15 integran-
tes, e geralmente esta equipe realiza testes descri-
A seleção de pessoas que irão avaliar sen- tivos ou discriminativos complexos (ordenamento;
sorialmente um produto é uma etapa importante comparação múltipla etc). Estes juízes também de-
para se obter resultados adequados. Essas pessoas vem abster-se de hábitos que prejudiquem a habili-
são denominadas de juízes (ou degustadores, ou dade sensorial (Moraes, 1988; Pedrero e Pangborn,
provadores) e a equipe formada pelos juízes cha- 1989; Anzaldáua-Morales, 1994).
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Os juizes consumidores, são pessoas sele- pressão. O treinamento pode levar de 10 semanas
cionadas aleatóriamente, mas devem ser consumi- a 12 meses e é constituído de bases teóricas e
dores habituais ou potenciais do produto testado. práticas, com adequada metodologia e material.
Esse tipo de juiz é empregado somente em provas É feito para familiarizar o degustador com os pro-
afetivas, e é necessário um grande número (no míni- cedimentos e definições, e para aperfeiçoar a
mo trinta) (Chaves, 1980; Monteiro, 1984; Pedrero sensibilidade e memória sensorial. Os candidatos
e Pangborn, 1989; Anzaldáua-Morales, 1994). devem ser treinados por meio de métodos descri-
tivos (perfil) e/ou discriminativos (diferenças sim-
2.5.2 Seleção e treinamento ples – triangular). Os resultados passam por uma
análise de variância e os candidatos são classi-
A seleção é realizada para se verificar a capa- ficados pelo teste F (Monteiro, 1984; Moraes,
cidade de detecção de diferenças nos produtos pelos 1988; Anzaldúa-Morales, 1994).
juízes. Esta seleção pode ser feita de duas formas,
seja através de soluções químicas representativas 2.6 Principais métodos e testes sensoriais
dos quatro gostos básicos (doce, salgado, ácido e
amargo), determinando-se os limites mínimos de Para se fazer uma análise sensorial de um
detecção, ou pelo reconhecimento, ou seja usando- produto, existem vários métodos com objetivos
se o próprio produto a ser estudado (Monteiro, específicos, que são selecionados conforme o
1984; Moraes, 1988; Anzaldua-Morales, 1994). objetivo da análise, como, por exemplo, méto-
É importante ter em mãos todos os dados dos de sensibilidade para se selecionar ou treinar
do possível juiz, como idade, hábitos alimentares, juízes, ou métodos afetivos para se verificar a
se fumante ou não, dentre outros. Também é im- aceitabilidade do mercado consumidor. Os méto-
portante considerar, além da habilidade, a disponi- dos podem ser divididos em quatro grandes gru-
bilidade, o interesse e adequada capacidade de ex- pos, e para cada grupo existem testes específicos

Tabela 2 – Alguns métodos sensoriais, seus pré-requisitos e finalidades.

Nº DE AMOSTRAS
MÉTODO Nº JUÍZES FINALIDADE
TESTADAS SERVIDAS
ESCALA
Descritiva 1-6 1-6 5-15 Seleção da amostra
Numérica 1-6 1-6 5-12 Seleção da amostra
Composta 1-4 1-4 5-12 Avaliação comparada
DIFERENÇA
Triangular 1 3 6-25 Detectar diferenças quando as
variações entre as amostras
são pequenas
Duo-trio 1 3 6-25 Detectar d if eren ças q u and o
e x i st em v a ri aç õ e s e n t re a s
amostras e também para trei-
n a me n t o .
Coparação pareada 2 8 5-12 Detectar pequenas diferenças
quando há pequena variação
entre as amostras
Coparação multipla 1-4 1-5 5-12 Detectar diferenças de inten-
sidade média quando há peque-
na variação entre as amostras
ANALÍTICO
Estímulo único 1 1 6-25 Detectar sabor estranho
Perfil de sabor 1 1 4-6 Detectar sabor estranho ou
mudança de sabor; descrever o
sabor de produtos novos, aná-
lise de sabor
Fonte: Laboissière et al (2001).
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(Chaves, 1980; Teixeira et al, 1987; Moraes, é o que se chama “aceitação”. A aceitação de um
1988; Pedrero e Pangborn, 1989; Huy, 1992; produto varia com os padrões de vida e base cul-
Anzaldáua-Morales, 1994). tural e demonstra a reação do consumidor diante
de vários aspectos como, por exemplo, o preço,
2.6.1 Métodos afetivos e não somente se o juiz agradou ou não do produto
(Teixeira et al, 1987; Moraes, 1988).
As provas afetivas consistem na manifes-
tação subjetiva do juiz sobre o produto testado, 2.6.2 Métodos de diferença ou discriminativos
demonstrando se tal produto agrada ou desagrada,
se é aceito ou não, se é preferido a outro. Por advir Os métodos de diferença são realizados atra-
de uma manifestação pessoal, essa provas são as vés de testes que irão indicar a existência ou não
que apresentam maior variabilidade nos resultados, de diferença entre amostras analisadas. São testes
sendo mais difíceis de serem interpretada. São pro- objetivos e podem ser empregados em controle
vas realizadas com o objetivo de verificar a prefe- de qualidade, desenvolvimento de novos produtos
rência e o grau de satisfação com um novo produto e para testar a precisão e a confiabilidade dos
(testes de preferência), e/ou a probabilidade de provadores (Teixeira et al, 1987; Chaves, 2001).
adquirir o produto testado (teste de aceitação)
(Teixeira et al, 1987; Moraes, 1988; Pedrero e - Teste pareado
Pangborn, 1989; Anzaldáua-Morales, 1994). Este teste é aplicado apresentando amostras
Para aplicar estes testes é necessário uma aos pares, para comparação e detecção de diferen-
equipe grande. O mínimo usual para analisar um ças ou preferências. Duas amostras são apresen-
produto no laboratório por provas afetivas é de tadas e o degustador é solicitado para identificar
30 juízes, contudo quando se deseja detectar pe- uma diferença entre elas o teste é denominado de
quenas diferenças recomenda-se 50 a 100 pessoas pareado simples. Contudo, se for solicitada a iden-
para montar o painel de análise. Quando são utili- tificação de qual das amostras apresenta a caracte-
zadas 1000 pessoas para se fazer este tipo de teste, rística testada mais intensamente, o teste passa a
este passa a ser uma avaliação massal, e é deno- denominar-se comparação pareada. Pode-se usar
minado de teste do consumidor. Os juizes eleitos também uma amostra padrão para cada par, sendo
para essas provas devem ser consumidores habituais o grau de diferença entre amostras e padrão indi-
ou potenciais do produto testado (Teixeira et al, cados em pontuação de zero (nenhuma diferença)
1987; Moraes, 1988; Pedrero e Pangborn, 1989; à cinco (diferença extremamente grande). Para a
Anzaldáua-Morales, 1994). realização deste teste precisa-se de, no mínimo, 7
juízes treinados e experientes ou 20 juízes treina-
- Teste de preferência dos ou 30 juízes não treinados. A principal vanta-
Neste tipo de prova, deseja-se saber qual gem desse teste é sua simplicidade e menor fadiga
amostra é preferida em detrimento de outra. A pre- sensorial (Teixeira et al, 1987; Chaves, 2001).
ferência é uma apreciação pessoal, geralmente
influenciada pela cultura (princípios religiosos, - Teste duo-trio
grupos raciais, vivência familiar, posição social, P ar a es t a p r o v a s ão ap re s en ta d a s t rê s
entre outros), além da qualidade do alimento. São amostras ao juiz, das quais uma é identificada
necessárias equipes grandes para se obter uma dife- como referência, e as outras duas são codificadas
rença estatisticamente significativa nos resultados, aleatoriamente, pedindo-se para identificar qual
que representem exatamente a população à qual o das amostras é igual a referência. As amostras
produto se destina (Anzaldáua-Morales, 1994; podem ser apresentadas juntamente com a refe-
Pedrero e Pangborn, 1989; Moraes, 1988; Teixeira rência, devendo esta ser provada primeiramente,
et al, 1987). ou separadamente, sendo a amostra referência
Esta prova é similar a uma prova discrimi- apresentada primeiro e depois que essa é analisada
natória de comparação simples, porém no teste de e retirada apresenta-se as outra duas. É reco-
preferência não se deseja saber o que os juízes podem mendado que o número de tríades testadas não
distinguir entre as duas amostras, sem importar seu ultrapasse quatro. Este teste é especialmente re-
gosto pessoal, mas sim a preferência por uma deter- comendado quando a amostra de referência é bem
minada amostra (Anzaldáua-Morales, 1994). Para conhecida dos provadores. É um teste comu-
se determinar a preferência pode-se empregar os mente utilizado na rotina do controle de qualidade
métodos pareados, por ordenação ou por escala de bebidas alcoólicas (Huy, 1992; Anzaldáua-
hedônica (Moraes, 1988). Morales, 1994; Chaves, 2001).

- Teste de aceitação - Teste Triangular


O desejo de uma pessoa adquirir um produto Este teste se constitui na apresentação si-
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multânea, ao juiz, de duas amostras iguais e uma 2.6.3 Método analítico ou descritivo
diferente, sendo que a amostra diferente é que
deve ser identificada. É uma prova aplicada quando Estes testes são assim denominados por des-
deseja-se identificar pequenas diferenças entre as creverem e quantificarem as informações a res-
amostras, ou quando as diferenças que envolvem peito da característica que está sendo avaliada.
todas as características sensoriais, no geral, devem
ser avaliadas. É empregado quando se tem um nú- - Teste de Amostra única
mero pequeno de juízes e quando se deseja sele- Este tipo de teste baseia-se no princípio de
cionar e treinar provadores. As amostras devem que, no consumo normal de alimentos, o consu-
ser homogêneas e não induzirem facilmente à fadi- midor saboreia um tipo de alimento de cada vez.
ga e adaptação sensorial (Chaves, 1980; Teixeira Sendo assim, são apresentadas várias amostras,
et al, 1987; Huy, 1992; Anzaldáua-Morales, 1994; porém gradualmente, ao jui,z que avalia uma por
Chaves, 2001). vez. A avaliação pode obedecer a uma escala nu-
mérica pré-estabelecida, ou indicar a presença ou
- Teste de ordenação ausência, bem como a intensidade de determinado
Esta prova consiste na apresentação si- atributo. Este teste exige juízes treinados e expe-
multânea de várias amostras aos degustadores, rientes (Teixeira et al, 1987).
que devem arranjá-las em ordem (crescente ou
decrescente) de acordo com a sua preferência - Perfil de características (quantitativa)
ou intensidade da característica que está sendo A análise descritiva quantitativa avalia, atra-
analisada. O limite de amostras geralmente varia vés de pontuação, a aparência, cor, odor, sabor e
entre três e 10, dependendo das condições dos textura de um produto. É um método utilizado para
juízes, podendo ser maior quanto maior o treina- desenvolver um registro do perfil sensorial de um
mento e experiência. É um teste amplamente produto ou dos componentes sensoriais de seus in-
utilizado devido à sua simplicidade, facilidade gredientes. Para tal faz-se uso de uma escala espe-
de interpretação e aplicação, podendo ser utili- cial de valores com pontuação, de um a cinco, onde
zado para avaliar um grande número de amostras um representa péssimo, três representa bom e cinco
ao mesmo tempo. Pode-se lançar mão de pa- representa excelente (Anzaldúa-Morales, 1994).
drões, codificados ou não, para efeito de compa- Este tipo de teste requer mais de cinco juízes
ração entre a preferência e a qualidade, princi- treinados e experientes, pois exige muita habi-
palmente quando se trata de qualidade nutricional lidade e perspicácia para poder diferenciar as vá-
(Teixeira et al, 1987; Moraes, 1988; Anzaldáua- rias características presentes. É amplamente reco-
Morales, 1994). mendado para o desenvolvimento de novos produ-
tos, para controle de qualidade, para correlacionar
- Teste por comparação múltipla dados sensoriais e instrumentais, além de ser ex-
Uma amostra padrão, que pode ser de uma celente treinamento para juízes (Chaves, 1980;
formulação ou marca conhecida, e várias outras Teixeira et al, 1987; Anzaldúa-Morales, 1994).
codificadas, totalizando mais de três amostras, A análise do teste se faz pela soma e as
são oferecidas ao juiz, que deve avaliá-las compa- médias das pontuações dadas pelos juízes para
rando-as com o padrão. Essa comparação pode cada atributo do produto analisado. Geralmente,
ser feita em um questionário em escala (Teixeira faz-se uma representação gráfica visual multi-
et al, 1987; Chaves, 2001). dimensional com os resultados para comparar os
Podem ser aplicados como testes de dife- atributos entre os diferentes produtos (Teixeira
renças verdadeiras, quando o provador classifica et al, 1987).
as amostras dentro de dois grupos semelhantes; Quando se avalia somente a textura de um
ou como testes de diferenças, nas quais o provador produto, este passa a ser um teste descritivo quali-
é requisitado para identificar os grupos de maior tativo (ao invés de quantitativo). Esse tipo de aná-
ou menor intensidade de um determinado atributo lise é quase que exclusivamente feito em produtos
pré-estabelecido. Pode também ser utilizado para cárneos, e apresenta um rigoroso procedimento,
indicar até qual concentração pode-se adicionar exigindo de seis a oito juízes extremamente treina-
um determinado componente sem alterar signifi- dos e experientes (Anzaldúua-Morales, 1994).
cativamente as propriedades sensoriais do produto.
A utilização de um número muito grande de amos- - Testes de escalas
tras para a realização desta prova não é recomen- Os testes de escala podem ser divididos em
dada, pois pode causar fadiga sensorial, especial- três tipos principais, que são escalas hedônicas,
mente quando o atributo analisado é sabor (Chaves, escalas hedônicas faciais, e escalas numéricas. A
1980; Teixeira et al, 1987; Anzaldáua-Morales, 1994; aplicação dessas escalas podem ser de forma
Chaves, 2001). escrita, para o degustador preencher ou podem
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ser verbais, onde o degustador expressa verbal- de análise, a escala ou o aparelho já podem ser
mente sua apreciação sobre o produto para o substituídos por um computador com um controle
coordenador do teste. As escalas verbais são mais similar ao de jogos eletrônicos (joystick) (Anzaldúa-
simples de se aplicar, porém não é recomendado Morales, 1994).
o uso dessas com mais de cinco descrições de apre- As principais características sensoriais tes-
ciação ou com mais de duas amostras (Anzaldúua- tadas por esse método são o odor, o aroma e o
Morales, 1994). sabor. A textura também pode ser avaliada dessa
Hedônica é uma palavra de origem grega maneira, sendo que o principal de seus atributos ana-
que significa “prazer” e os métodos que utilizam lisados é a fibrosidade (Anzaldúa-Morales, 1994).
as escalas hedônicas são aplicados quando se deseja
medir graus de satisfação. As escalas hedônicas 2.6.4 Métodos de Sensibilidade
expressam o grau de “gostar ou desgostar” através
da descrição das apreciações (que depois são Os métodos de sensibilidade geralmente são
convertidas em pontos), possuindo sempre um utilizados para avaliar a sensibilidade do juiz ao
ponto central de indiferença; logo, apresentando sabor.
número impar de classificações, variando, geral-
mente, entre três e nove. Quando a análise senso- - Teste de sensibilidade (“Threshold”)
rial é realizada por crianças, utiliza-se a escala Os testes de sensibilidade são rotineira-
hedônica facial, onde são desenhadas “carinhas” mente denominados de “Threshold”. A palavra
com expressões faciais diversas para a criança “threshold” tem por definição o “limite mínimo
correlacionar com a sensação percebida ao provar detectável de concentração de uma substância” ou
o produto (Teixeira et al, 1987; Moraes, 1988; limite que um provador pode perceber alguma di-
Anzaldúua-Morales, 1994). ferença em algum estímulo (Teixeira et al, 1987).
Nas escalas numéricas o degustador loca- Esses testes são efetuados para medir a ca-
liza a classificação do produto em uma escala de pacidade dos provadores em utilizar os sentidos
pontuações apenas (sem apreciações). Estas po- do olfato e do gosto para distinguir características
dem ainda ser divididas em estruturada e não estru- específicas, tornando-se uma ferramenta para sele-
turada. Na escala numérica estruturada todos os ção e treinamento de juízes. Podem ser subdi-
graus e termos aparecem, enquanto na não estru- vididos em: limite (ou Threshold) absoluto; limite
turada tem-se somente uma linha que não tem (ou Threshold) de reconhecimento e limite (ou
pontos marcados e que somente nas extremidades Threshold) de diferença (Teixeira et al, 1987).
apresentam os temos que expressam o máximo e O limite absoluto objetiva medir a habili-
o mínimo de intensidade dos parâmetros testados dade dos degustadores em relação à sensibilidade,
(Teixeira et al, 1987; Moraes, 1988). com a qual eles detectam os gostos primários,
através da prova de soluções em ordem crescente
- Testes de duração (tempo-intensidade) de concentração. O limite de reconhecimento é a
Algumas propriedades sensoriais, como o concentração na qual um sabor específico pode ser
odor, dependem de um certo tempo para serem reconhecido, e é sempre maior do que a concen-
percebidas. Assim, alguns atributos dos alimentos tração do limite absoluto. O limite de diferença é o
requerem um certo tempo para se manifestarem, limite mínimo de alteração detectável na concen-
podendo-se denominar tal fato de percepção retar- tração de uma substância (Teixeira et al, 1987).
dada. Outro fenômeno é denominado de persis-
tência. É o que ocorre quando a sensação perma- 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
nece mesmo após a amostra ter sido engolida,
como é o caso de edulcorantes artificiais. Os testes A análise sensorial pode ser aplicada para
de tempo-intensidade medem a intensidade e va- diferentes objetivos nos dias de hoje, como, por
riações dos atributos dos alimentos ao longo do exemplo, para a determinação de normas e esta-
tempo (Anzaldáua-Morales, 1994). belecimento de critérios e referências de quali-
Esse tipo de análise pode ser feita com uma dade, pelos quais a matéria prima, os ingredientes
amostra padrão onde o juiz utiliza um questionário e o produto final podem ser classificados e ava-
em escala ou um instrumento para expressar a liados. Outra importante aplicação é no contro-
intensidade da propriedade analisada. Em seguida, le de qualidade da produção industrial, que visa
o mesmo procedimento é realizado para as demais manter as características comerciais do produto,
amostras a serem testadas. Para a avaliação da per- atendendo as exigências dos consumidores. A
sistência do efeito, o juiz vai voltando a marcação análise sensorial desempenha também papel de
no aparelho ou marcando na escala (nos tempos destaque no desenvolvimento de novos produtos.
determinados), em direção ao mínimo, à medida Como disciplina científica, a análise sen-
que a propriedade desaparece. Hoje, para esse tipo sorial é embasada por várias outras ciências: a
Rev. Inst. Latic. “Cândido Tostes”, Jan/Fev, nº 366, 64: 12-21, 2009 Pág. 21

estatística, a psicologia, a química, a física, a avaliação sensorial de alimentos e bebidas.


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pois é o único capaz de agregar conhecimentos metodologia fun damental para el con trol de
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quality control plan in the industry. It is through Sensorial de Alimentos: tópicos em ciência
the sense organs that make such assessments, de alimentos B. Apostilas do curso d e pó s-
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