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São Paulo
2019
FELIPE MUZEL GOMES
São Paulo
2019
DEDICATÓRIA
Muito Obrigado!
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO................................................................................................06
5.CONCLUSÃO..................................................................................................46
6.BIBLIOGRAFIA................................................................................................48
.
INTRODUÇÃO
1
Nietzsche, Friedrich. Assim Falou Zaratustra - Clássicos de Nietzsche. Nostrum Editora. Edição
do Kindle.
pensadores o tem como “profeta” neste sentido. O que Nietzsche não imaginava
é que em vez de surgirem os “super-homens”, surgiu uma humanidade que após
abrir mão dos pilares que a construíram, passou a aceitar qualquer coisa como
verdade.
No século seguinte então, surgiu um pensador que conseguiu definir com
maestria o que estava acontecendo no mundo, que é Zygmunt Bauman.
Bauman,, um sociólogo polônes, que assistiu a profecia de Nietzsche se
cumprir no século seguinte, conseguiu fazer uma síntese do que estava
acontecendo no mundo e escreveu o clássico Modernidade Líquida.
Em Modernidade Líquida2, Bauman desenvolve o raciocínio mais aceito
pelos pensadores modernos do que aconteceu com a nossa geração. O
sociólogo polonês diz que no momento anterior da atual história vivíamos numa
realidade sólida, em termos de princípios, valores, relacionamentos, família etc.
Mas que no atual momento, o mundo abriu mão de tudo o que lhe era sólido,
princípios valores etc. E passou a questionar tudo o que tínhamos como verdade
que até aquele momento havia sustentado a humanidade no seu modo de
pensar e viver. O ser humano moderno passou a questionar suas bases, no
momento em que todos apregoavam que a tecnologia e a ciência (isso por
grande influência Iluminista) era o apogeu e salvação da humanidade, junto com
o atual estado de evolução humana que vivíamos, e de repente fomos pegos por
duas Grandes Guerras Mundiais. Ou seja, num dado momento em que
julgávamos viver o ápice da evolução humana, aconteceu o que poderíamos
dizer que as duas maiores tragédias da humanidade. A partir do pós-guerra, o
ser humano passou a questionar tudo aquilo que a geração anterior pregava, e
houve uma mudança radical no modo de se pensar no mundo. Ao mesmo tempo
que o ser humano se questionava sobre suas bases, a tecnologia continuou
avançando, principalmente com a Guerra-Fria do pós-guerra, e esta tecnologia
deu origem ao fenômeno da globalização, que foi o processo de aproximação
entre as diversas sociedades e nações existentes por todo o mundo, seja no
âmbito econômico, social, cultural ou político. E para que tamanha aproximação
da humanidade inteira pudesse dar certo no âmbito de se pensar tivemos que
abrir mão de verdades que tínhamos como absolutas e irrefutáveis. E foi aí que
2
Bauman, Zygmunt. Modernidade líquida. Zahar. Edição do Kindle.
nos transformamos numa “Modernidade Líquida”, segundo a ideia de Bauman.
Tudo o que era sólido para nós anteriormente se tornou líquido. O líquido se
adapta a qualquer molde. Se pegarmos um litro de água e diversos recipientes
de mesmo volume só que de formas diferentes (quadriculares, triangulares,
octogonais, ou qualquer outra forma) essa água irá se amoldar nesses
recipientes facilmente devido sua fluidez. O mesmo não acontece quando a água
está em seu estado sólido.
Portanto, para que, neste determinado momento a humanidade pudesse
conviver em harmonia, nos transformamos numa modernidade líquida, para que
o pensamentos de todos se enquadrassem. A partir desse momento, não poderia
haver mais uma verdade absoluta na humanidade para que não houvesse
conflitos ou ameaça de conflitos.
Porém, chegamos num ponto em que a relativização da verdade e de
valores, está fazendo mal para a própria humanidade. Nunca antes houve tantos
divórcios na história da humanidade, nunca houve tantas possibilidades de
gêneros sexuais ao ser humano (52 ao todo)3, nunca antes a humanidade sofreu
tamanha epidemia de doenças mentais e que vem sido reconhecida como fruto
da pós-modernidade e sua crise de valores e bom senso4, nunca antes filhos
abandonaram os pais como ocorre hoje5, sem falar também nas crises de
imigrantes atual no mundo moderno e a apatia de diversos países em aceitar
esses imigrantes, que é algo que o próprio Bauman teve a oportunidade de falar
sobre enquanto estava vivo6.
Ou seja, o abandono total daquilo que tínhamos como verdades e valores,
e a transposição para uma realidade que acredita que não há verdades e valores
absolutos e que isso é subjetivo, tem deixado nossa humanidade doente,
desordenada e desorganizada. Temos colhidos frutos terríveis por não voltarmos
a repensar o que é verdade e o que não é verdade, e simplesmente deixar que
o mundo continue girando sem levantar esta questão.
3
https://epoca.globo.com/vida/noticia/2014/03/52-opcoes-de-bidentidade-sexual-no-facebookb.html
4
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-epidemia-de-doenca-mental/
5
https://noticias.ne10.uol.com.br/coluna/a-mulher-e-a-lei/noticia/2016/08/29/filhos-que-abandonam-
os-pais-634517.php
6
https://www.youtube.com/watch?v=GTu_bycoEEw.
Foi pensando nesta crise que o mundo vive atualmente, e como
poderíamos de alguma forma colocá-lo “nos eixos” novamente que surgiu a ideia
deste trabalho de conclusão de curso.
Como cristãos, acreditamos que a Bíblia contém a Verdade, e que
somente esta Verdade pode regenerar e reestruturar este mundo.
1. UMA TEOLOGIA BÍBLICA SOBRE O TEMA
Para termos uma ampla visão bíblia sobre o que é verdade ou não
devemos analisar tanto o Antigo Testamento como o Novo Testamento. Para
isso iniciaremos um estudo sobre como o Antigo Testamento trata esta questão.
7
Comentário Bíblico Africano (Locais do Kindle 6366-6380). Editora Mundo Cristão. Edição do
Kindle.
Uma segunda definição de Wright começa a esclarecer o
papel que o povo de Deus exerce no Antigo Testamento:
“A missão de Deus envolve o povo de Deus vivendo à
maneira de Deus diante das nações”. A ideia, portanto, era
que a nação de Israel fosse um povo em exposição,
encarnando em sua vida comunitária a intenção original de
Deus com a criação e seu propósito escatológico para a
humanidade. Ele viria e habitaria no meio deles e lhes daria
sua Torá para dirigir a vida coletiva de seu povo de acordo
com o seu caminho. O povo de Deus seria um sinal
atraente diante de todas as nações daquilo que Deus havia
pretendido desde o início e do propósito para o qual se
movia: a restauração de toda a criação e vida humana da
corrupção do pecado. Israel assumiria seu lugar na missão
de Deus principalmente sendo o que ele o chamou a ser,
uma vez que “missão não está primordialmente
relacionado a ir. E também não está relacionado
essencialmente a fazer alguma coisa. Missão está
relacionado a ser. Está relacionado a um tipo distinto de
povo, uma comunidade [...] contracultural entre as nações”.
Markus Barth acertadamente afirma que o povo de Deus
“não tem outro destino e propósito a não ser viver
publicamente para a glória de Deus”. A palavra
“publicamente” indica que sua vida é vivida diante das
nações. Como esclarece Barth, entretanto, viver à maneira
de Deus é para o louvor de sua glória. O povo de Deus foi
“criado e reunido, iluminado e comissionado, sustentado e
equipado para um único propósito: ‘Para que sejamos um
louvor para a glória de Deus’ ”. A vida do povo de Deus é
manifestar a glória de Deus diante dos olhos atentos das
nações.8
8
Goheen, Michael. A Igreja missional na Bíblia (Locais do Kindle 827-835). Vida Nova. Edição
do Kindle.
um povo em busca da forma social apropriada “que
deixasse claro para todos como Deus queria que fosse o
mundo”. Mas que forma específica de sociedade é
adequada para oferecer um testemunho fiel da intenção de
Deus com a criação? Lohfink acredita que o Antigo
Testamento “descreve o longo caminho que o povo de
Deus trilhou na sua busca pela forma correta, até mesmo
na miséria do Exílio e na Diáspora”. Isso sugere que muitas
formas foram testadas até que Israel finalmente
encontrasse a “correta”.9
Israel então falhou em sua missão em cumprir a lei de Deus, então Deus
enviou Jesus Cristo para que sua lei fosse cumprida, conforme ele mesmo disse:
“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas
cumprir”10 (Mateus 5.17-18), e conforme Paulo em suas Cartas explica o
cumprimento da lei em Cristo, por exemplos quando afirma que “Porque o fim da
lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê”11 (Romanos 10.4) e também em
Gálatas (3.23-24) ao afirmar que “Antes que viesse essa fé, estávamos sob a
custódia da Lei, nela encerrados, até que a fé que haveria de vir fosse revelada.
Assim, a Lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fossemos justificados pela
9
Goheen, Michael. A Igreja missional na Bíblia (Locais do Kindle 1598-1603). Vida Nova. Edição
do Kindle.
10
Bíblia Almeida Revista e Corrigida. Editora Sociedade Bíblica do Brasil, edição 2009.
11
Bíblia Almeida Revista e Corrigida. Editora Sociedade Bíblica do Brasil, edição 2009
fé”.12 Ou seja, Jesus foi o único que foi capaz de cumprir a lei, e por ele ter
cumprido a lei podemos ser salvos.
Jesus, foi o novo caminho construído por Deus para que pudéssemos ser
salvos e reconciliados com Deus. Jesus estabeleceu a nova aliança, e nesta
nova aliança os de fora (gentios) foram convidados a participar. Cristo então
conseguiu cumprir o que Israel não conseguiu, cumprir a Lei e ser Luz para as
nações. O verdadeiro caminho perfeito.
O próprio Cristo, aquele que cumpriu a lei através do seu agir e de sua
vida, declara no Evangelho de João, capítulo 14 e verso 6, dizendo: “Eu sou o
Caminho, a Verdade e também a Vida. Ninguém chega ao Pai sem mim.”13
Em seu livro John´s Gospel: a short study, Dr. William Michael McCrocklin
comenta sobre o fato de Jesus dizer ser a verdade:
12
A Bíblia em ordem Cronológica, Nova Versão Internacional. Editora Vida. Edição de 2003.
13
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. P, 33715.
14
McCrocklin, Dr. William Michael. JOHN'S GOSPEL: A Short Study (p. 269). Dr. W Michael
McCrocklin. Edição do Kindle. p, 4088.
1.2.3 A Bíblia como a verdade revelada por Deus que deve se contrapor
em relação as verdades deste mundo
15
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. p,38142.
plano de Deus para salvá-lo através do seu pacto
de graça com um povo escolhido, culminando em
Cristo; a vinda de Cristo, como Salvador, que
morreu para levar o pecado do homem; a
ressurreição de Cristo de entre os mortos; sua
exaltação no céu, e o envio do Espírito Santo; e
o resgate do homem, primeiro da culpa e da
alienação, depois da escravidão, e finalmente
da mortalidade, em sua progressiva experiência
da liberdade dos filhos de Deus. Nada disso
seria conhecido sem a revelação bíblica: "a
Escritura contém o guia perfeito de uma vida boa
e feliz". Mais precisamente, a Bíblia instrui para a
salvação "pela fé em Cristo Jesus". Assim, sendo
a Bíblia um livro de salvação, e salvação por
meio de Cristo, a Bíblia é essencialmente
cristocêntrica. O Antigo Testamento prenuncia e
prefigura Cristo de muitas e diferentes maneiras;
os evangelhos contam a história do seu
nascimento, da sua vida, das suas palavras e
obras, da sua morte e ressurreição. Atos descreve
o que ele continuou fazendo e ensinando através
dos apóstolos que escolhera, especialmente a
propagação do evangelho e o estabelecimento
da Igreja, de Jerusalém a Roma; as epístolas
expõem a ilimitada glória da pessoa e da obra
de Cristo, aplicando-a à vida do cristão e da
Igreja; o Apocalipse, por sua vez, descreve
Cristo agora no trono de Deus, prestes a vir
para consumar a sua salvação e o seu
julgamento. Esta compreensível apresentação de
Jesus Cristo pretende despertar a nossa fé nele,
de modo a sermos salvos pela fé.16
16
Stott, John. Tu Porém, A Mensagem de 2 Timóteo. Editora ABU, edição 1982
elemento estranho, imposto de fora para dentro, mas algo que faz parte da
própria constituição humana. Existe algo no interior do ser humano que ecoa o
“sim” e o “não” de Deus, o certo e o errado.”17
O pastor presbiteriano Augustus Nicodemus, em uma de suas
pregações18, elucida a passagem dizendo que em todos os homens e em todas
as culturas, Deus colocou sua lei. Que ninguém pode se eximir do julgamento de
Deus alegando que desconhece sua lei, pois a lei está em seu coração.
O homem foi feito a imagem e semelhança de Deus, e apesar desta
imagem ter sido distorcida após a queda, ainda sobrou no ser humano
fragmentos que o assemelham a Deus e a seu conhecimento como diria C.S.
Lewis em seu livro Cristianismo puro e simples19.
Ainda sobre este texto, David M. Kasali comenta:
17
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. p,35356
18
https://www.youtube.com/watch?v=7E3jBIcspYs&index=16&list=PLRynC5gAJTbkI85xgqcWA
4uWbzOw3pXNS
19
Lewis, C. S. Cristianismo puro e simples. Editora Martins Fontes. Edição de 2009. p, 05-12.
20
Comentário Bíblico Africano (Locais do Kindle 73408-73410). Editora Mundo Cristão. Edição
do Kindle.
2 A PERSPECTIVA DA TEOLOGIA REFORMADA
21
Calvino, João. Institutas da Religião Cristã . Editora Fiel. Edição do Kindle. p.338
Calvino ainda comenta sobre a dificuldade do ser humano em reconhecer
a verdade divina em sua vida, o que seria fruto de sua ambição e egoísmo, e
que por isso, busca por si próprio seus próprios caminhos e verdades:
22
Calvino, João. Romanos (Comentários Bíblicos João Calvino) . Editora Fiel. Edição do Kindle.
pp. 2061 e 2017
seculares, entre esses diversos representantes da Alemanha, Suíça, Inglaterra
e outros países da Europa, Sínodo este convocado para combater o pensamento
Arminiano e seus pontos.
A Depravação Total, é o primeiro dos cinco pontos do Calvinismo, que
segue uma ordem lógica de raciocínio construída pelos teólogos da época.
Resumidamente a Depravação Total do homem, significa que o ser humano se
rebelou contra Deus, que é mau por natureza, que não é merecedor da graça de
Deus e que por si só, se não for o agir de Deus em sua vida nunca será
restaurado. Conforme diz o pastor e teólogo John Piper:
Logo, seguindo todo raciocínio, o ser humano por ter se rebelado contra
Deus e sua vontade ficou cego e desejou seguir seus próprios caminhos, e com
isso criou “verdades” que melhor satisfizesse seus desejos pecaminosos.
Vimos aqui, uma breve perspectiva de Calvino, de que todo o ser humano
pela revelação natural de Deus, possui em seu interior o conhecimento da
vontade ou lei divina, que é a verdade absoluta. Agora iremos analisar o
Pensamento de Calvino em relação em como nos aprofundarmos na verdade de
Deus e onde podemos encontrá-la de modo claro.
23
Piper, John. Cinco Pontos: Em direção a uma experiência mais profunda da graça de Deus
(Locais do Kindle 279-284). Editora Fiel. Edição do Kindle.
2.3 Como ter total acesso à verdade segundo a perspectiva de Calvino
Podemos notar neste seu escrito que para Calvino a Palavra de Deus é
oposta ao que o mundo diz e julga ser correto, e que para Deus as verdades
relativas vinda do mundo é abominável perante Deus. Calvino continua:
24 Calvino, João. Comentário de Salmos - Vol. 4 (Série Comentários Bíblicos João Calvino) (p.
251). Editora Fiel. Edição do Kindle.
25 Calvino, João. Comentário de Salmos - Vol. 4 (Série Comentários Bíblicos João Calvino) (p.
26
Calvino, João. Comentário de Salmos - Vol. 1 (Série Comentários Bíblicos João Calvino) (pp.
41-42). Editora Fiel. Edição do Kindle.
27
History, Hourly. Martin Luther: A Life From Beginning to End. Hourly History. Edição do
Kindle.
28
Jorge, Fernando. Lutero e a Igreja do Pecado. Editora Novo Século. Edição 2007. p.48.
Por tanto, para Lutero, em sua visão medieval e frente suas experiências
místicas, Satanás é era o causador de todos os males, inclusive aquele que faz
os homens abandonarem a Palavra de Deus e buscar suas próprias verdades,
causando a degradação humana e destruição da Criação. Sobre este tema ele
comenta:
29
Lutero, Martinho. Somente a Fé – Um ano com Lutero. Editado por James C. Galvin. Editora
Ultimato p. 220.
piores do que eram antes. Isso é o que acontece quando
as pessoas tentam ser livres dos mandamentos de Deus.30
30
Lutero, Martinho. Somente a Fé – Um ano com Lutero. Editado por James C. Galvin. Editora
Ultimato p. 258.
31
Sproul, R.C.. O Legado de Lutero . Editora Fiel. Edição do Kindle. pp. 824-825.
Destarte, através desse princípio da reforma, as escrituras contém a
Palavra de Deus, e que, enquanto VERDADE é capaz de combater o relativismo
da verdade do pós-modernismo.
No livro Teologia da Reforma, editado por Matthew Barret encontramos a
seguinte definição:
Sola Scriptura, a convicção de que a Escritura e somente
ela é a autoridade final mediante a qual toda reivindicação
da verdade cristã é testada, tem sido descrito como o
princípio formal da Reforma, ao lado do sola fide, a
justificação somente pela fé, como seu princípio material.
Se os reformadores se sentiriam confortáveis com essa
distinção é um ponto a ser discutido. O que é mais
importante é a abundância de evidências de que, quaisquer
que fossem suas particularidades, cada uma das principais
vozes desse período compartilhava uma compreensão das
Escrituras como a Palavra de Deus, que carrega a
autoridade do Deus cuja Palavra escrita não invalida todas
as outras autoridades, mas que é o teste final delas. É a
boa Palavra de um Deus bom, e é um tesouro precioso em
que se deleitam os salvos por Cristo que são habitados por
seu Espírito.32
32
Barrett, Matthew (2017-07-31T22:58:59). Teologia da Reforma . Thomas Nelson Brasil. Edição
do Kindle. p.3935.
puritanos (calvinistas ingleses) junto com alguns influentes presbiterianos
escoceses, na intenção de se fazer uma reforma na Igreja da Inglaterra. Seus
padrões doutrinários são um dos mais aceitos pelos protestantes e reformados
ao redor do mundo.
A Confissão de Fé de Westminster trata logo em seu começo sobre as
escrituras dizendo:
Temos aqui mais uma corrente da Teologia Reformada que trata sobre o
aspecto da depravação humana que busca suas próprias vontades e verdades,
apresentando como solução e cura para este problema a busca pela verdade
contida na Palavra de Deus e sua prática.
Podemos concluir neste capítulo que os principais reformadores e
também a Teologia Reformada apresentam pensamentos que combatem a ideia
33
Guimarães, José Antônio Lucas. Confissão de Fé de Westminster: Edição com reflexões de
João Calvino . Edição do Kindle. p.132
34
Guimarães, José Antônio Lucas. Confissão de Fé de Westminster: Edição com reflexões de
João Calvino . Edição do Kindle. p.159
de que o ser humano possui a escolha de decidir livremente o que é certo ou
errado, e que somente a Bíblia ou Palavra de Deus é a fonte de toda verdade e
de tudo aquilo que é bom para o ser humano.
O que Norman esta nos dizendo é que somos seletivos em relação ao que
é verdade. Quando se trata de assuntos sérios como família, amigos, negócios,
saúde, compra de mercadorias, segurança, entre outros exigimos a verdade
absoluta. Mas quando tratamos sobre moralidade ou religião a verdade não nos
interessa. Fazemos o que quiser com a verdade, escolhemos a verdade que
mais nos satisfaz.
Gustaf Aulén corrobora com essa linha de pensamento quando diz:
35 Geisler, Normam L.. Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu (Locais do Kindle 566-576).
Editora Vida. Edição do Kindle.
36
Aulén, Gustaf. A Fé Cristâ. Editora Aste. 2ª Edição, 2002. p.218.
Deus, pois abrange também a impiedade....Deus então as
entregou a suas próprias invenções37.
O pastor e teólogo Timothy Keller vai um pouco mais além nesta temática,
dizendo que quando criamos verdades alternativas com relação a verdade de
Deus, criamos falsos ídolos e acabamos por viver em função destes:
37
Oliveira dos Santos, Lysias. Comentário Bíblico Latino Americano de Romanos. Editora Fonte
Editorial. 1ª Edição, 2018. p.123
38
Keller, Timothy. Romanos 1-7 para Você. Editora Vida Nova. 1ª Edição, 2017. p.57.
39
Keller, Timothy (2019-01-10T23:58:59). Deuses falsos. Vida Nova. Edição do Kindle.
Lesslie Newbigin foi pastor da Igreja Reformada Unida (Reino Unido),
bispo da Igreja do Sul da índia e secretário-geral do Conselho Mundial de
Igrejas. Newbigin, é uma referência para missiólogos e teólogos que tentam
compreender a sociedade em que vivemos.
A experiência de Newbigin começa quando partiu para o campo
missionário na Índia aos 26 anos de idade em 1936, onde permaneceu como
bispo até se aposentar em 1974. Quando Newbigin retornou à sua pátria, ele
simplesmente não a reconhecia mais. Se deparou com uma Europa Pós-cristã,
como previu Nietzsche. Percebeu que A Teologia Liberal somada com a Pós-
Modernidade haviam destruído a Igreja no continente Europeu, que hoje é
conhecido como Pós-Cristão. As igrejas que sobreviveram viviam somente para
si mesmas, não tinham visão missional, não estavam despertadas para pregar o
evangelho mais, basicamente uma igreja que não saía de suas “quatro paredes”
e estava muito bem acomodada com relação a isto. Newbigin havia acabado de
sair de um campo missionário extremamente fértil, e reencontrado sua pátria
devastada em relação ao que a Igreja lá tinha se tornado, uma igreja sem visão,
sem perspectiva missional, uma igreja que sobrevivia, e muitas delas sendo
vendidas como imóveis por terem morrido. Newbigin então começou a estudar
para tentar entender o que estava acontecendo e publicou diversos livros
célebres como The Open Secret, para tentar despertar os novos teólogos a
respeito do que estava acontecendo com a sociedade e como combater os males
que o Iluminismo e a Pós-Modernidade haviam causado na Igreja no Ocidente40.
Newbigin em seu livro O Evangelho em uma Sociedade Pluralista escreve
um tratado de como a Igreja deve entender o mundo atual e como deve reagir
diante da Pós-Modernidade. O teólogo afirma que é um mito dizer que nossa
sociedade é secular, pois todo ser humano em seu íntimo necessita do sagrado
e possui fé em alguma coisa, e que no atual momento ao invés da religião estar
de fato morrendo, na verdade está ocorrendo um grande crescimento religioso
(ele fala do aspecto de religião em geral), conforme escreveu:
40
https://www.christianitytoday.com/ct/2010/january/1.44.html
os sociólogos não aceitam mais a teoria que teve tanto
valor desde a época da escrita de Weber. Os sociólogos
acumularam uma grande massa de material estatístico que
demonstra o contínuo e muitas vezes crescente vigor da
crença religiosa naquela sociedade que avançou mais
longe no caminho da racionalização, industrialização e
urbanização - ou seja, os Estados Unidos. Os principais
fatos são bem conhecidos. Os elementos fortemente
conservadores e evangélicos nas Igrejas Protestantes
passaram por um notável renascimento, enquanto as
igrejas que tentaram ajustar suas crenças e práticas ao
temperamento da modernidade estão em declínio. A
crença religiosa tornou-se um fator sério nas políticas
públicas - algo que os sociólogos até vinte anos atrás
consideravam uma característica do passado que não
reapareceria. E, como é bem sabido, novos movimentos
religiosos apareceram em um número e variedade
desconcertantes, não apenas nos Estados Unidos, mas em
todo o mundo "desenvolvido". Além disso, esses
movimentos não estão principalmente entre os setores
marginalizados e desfavorecidos da sociedade. Os
sociólogos da religião sabem há muito tempo que os povos
à margem da sociedade, que sentem que não têm
esperança no mundo atual, são propensos a acolher as
crenças religiosas, muitas vezes de natureza apocalíptica,
que oferecem esperança para um novo tipo de religião.
ordem e outro mundo. Mas os novos movimentos
religiosos, que são uma característica tão proeminente do
mundo "desenvolvido", estão atraindo não essas pessoas
desfavorecidas, mas, ao contrário, os jovens das camadas
mais abastadas da sociedade. Em uma recente coletânea
de ensaios de importantes sociólogos, principalmente dos
Estados Unidos, há uma confissão quase unânime de que
a crença aceita sem críticas até dez ou vinte anos atrás, a
saber, que o processo de modernização levaria
necessariamente ao declínio de religião, estava totalmente
enganado. Para citar apenas um desses escritores, o
professor Rodney Stark, professor de sociologia na
Universidade de Washington, a evidência “leva à conclusão
de que a secularização não inaugurará uma era pós-
religiosa. Em vez disso, ele repetidamente levará a um
reabastecimento de vigorosas organizações religiosas
sobrenaturais, provocando reavivamento ”(The Sacred in a
Secular Age, Berkeley, 1985, p. 146)41.
41
Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 3963-3981).
Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.
O autor portanto, e com base em dados estatísticos, enfatiza que a religião
não está desaparecendo, na realidade está renascendo, e com a pluralidade e
globalização novas religiões tem aparecido. Ele não enfatiza que o Cristianismo
está crescendo no Ocidente, mas que um nova onda de novas religiões estão
surgindo, e que portanto a ideia iluminista de progresso e racionalização que
seus principais expoentes pregavam junto com o discurso de que a religião iria
desaparecer está caindo por água abaixo.
Diante disto, Newbigin diz que a Igreja está viva e continuará viva:
43
Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 4237-4243).
Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.
44 Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 4259-4262).
46
Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 4273-4286).
Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.
estar diante das pessoas em nome de Deus. Jesus é o
único Sumo Sacerdote que sozinho pode cumprir e
cumpriu este ofício. A Igreja é enviada ao mundo para
continuar o que ele veio fazer, no poder do mesmo Espírito,
reconciliando as pessoas com Deus (João 20: 19-23). Esse
sacerdócio deve ser exercido na vida do mundo. É no
negócio secular comum do mundo que os sacrifícios de
amor e obediência devem ser oferecidos a Deus. É no
contexto dos assuntos seculares que o grande poder
liberado no mundo através da obra de Cristo deve ser
manifestado. A Igreja reúne todos os domingos, o dia da
ressurreição e do Pentecostes, para renovar sua
participação no sacerdócio de Cristo. Mas o exercício
desse sacerdócio não está dentro dos muros da Igreja, mas
nos negócios diários do mundo. É somente desse modo
que a vida pública do mundo, seus hábitos e suposições
aceitos, podem ser desafiados pelo evangelho e trazidos
sob a luz da verdade que foi revelada em Jesus. Pode ser
de fato o dever da Igreja, por meio de seus representantes
designados - bispos, sínodos e assembléias - falar uma
palavra de vez em quando para a nação e para o mundo.
Mas tais pronunciamentos só pesam quando são validados
pela forma como os cristãos estão realmente se
comportando e usando sua influência na vida pública. É
claro que também é verdade que os cristãos individuais
serão enfraquecidos em seus esforços para viver o
evangelho em compromissos seculares se o que eles estão
fazendo não tiver o apoio da Igreja como um todo. Existe
uma relação recíproca entre os pronunciamentos oficiais e
o compromisso individual. Tem que ser dito, eu acho, que
nos últimos anos tem havido uma disjunção amplamente
percebida entre os pronunciamentos oficiais e individuais47.
49
. Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 4342-4349).
Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.
É extremamente difícil discordar do pensamento de Newbigin, ele
praticamente sintetizou o que aconteceu com a maioria das igrejas no Ocidente.
Igrejas que se acomodaram, que deixaram de lado a visão missionária, que o
evento mais importante é o culto de final de semana, igrejas que se tornaram
uma espécie de “clube” em que seus membros só se vêem aos finais de semana
por cerca de duas horas e voltam felizes para casa por ouvirem um bom sermão
do pastor. Igrejas que vivem para os próprios membros sem pensar nos de fora
e na missão que Deus lhes incumbiu de expandir o seu Reino e proclamar as
boas novas. Uma Igreja que se acomodou dentro de suas quatro paredes.
Mas ainda há tempo de voltarmos nossa visão para a Igreja que Jesus
sonhou, ainda há tempo de nos voltarmos para Deus e perguntarmos: “Senhor,
qual é o rumo que o Senhor deseja que sua comunidade tome? não o rumo que
nós como seres humanos desejamos, mas o rumo que o Senhor deseja”. Afinal
a Igreja apesar de tudo continua viva e existindo como o próprio Deus prometeu
que faria. Passamos por diversos momentos difíceis na história da Igreja e os
superamos, como por exemplo a Reforma Protestante frente todo o governo da
Igreja Católica e seu poderio, e com ela houve um grande despertamento para
com a Igreja de Deus. Acredito que mais do que nunca devemos levar a sério o
lema “Igreja Reformada sempre reformando” para que sejamos encorajados a
mudarmos o rumo da Igreja conforme a Vontade de Deus para com ela. Só assim
conseguiremos ser relevantes no mundo atual, e mostrar a todos que a Bíblia
contém a Verdade.
Tim Keller, em sua visão inicial já pensava em como tornar a igreja que
iria plantar relevante. Seu foco seria o próximo, o benefício da cidade, e um
movimento evangelístico que abrangesse todo o Reino de Deus independente
50
Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.01-19.
51 Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Neste princípio, Tim Keller nos diz que a Igreja deve ser o modelo a ser
seguido pela cultura. A igreja deve apresentar o modelo ideal de vida. E para
isso não temos que esperar que os outros venham até nós, mas nós temos que
ir até eles com atos e palavras mostrando que conhecemos a Verdade e que ela
é boa e agradável, assim como Cristo veio ao mundo para nos salvar (o
movimento de Deus em direção ao ser humano), a Igreja deve ir ao encontro das
pessoas e da cultura, mostrar qual é a vontade e o desejo de Deus para elas.
O segundo princípio para Timothy Keller para que uma igreja seja
relevante é que ela guie a sociedade para uma mudança espiritual:
52
Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.273-274.
53
Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.283.
Deus. Como Igreja temos o dever de religar a humanidade espiritualmente até
Deus. Como comunidade local devemos ser cristãos como Esdras e Neemias,
que em seu tempo foram usados por Deus para levar Israel a se reestabelecer
espiritualmente como nação perante Deus. Devemos em nosso contexto local
deixar Deus guiar nossas vidas e nos usar para que ocorra o reestabelecimento
espiritual de toda a sociedade a nossa volta perante Deus.
O terceiro princípio é ideia de que a Igreja deve trazer transformação
social onde se localizar:
54
Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.301.
Nossas cidades estão cheias de iniquidade. Nossa cultura
é descrita como essencialmente pós-cristã, secular e
frequentemente totalmente antagonista aos valores
bíblicos e hostil às virtudes bíblicas. O mal esta se
multiplicando e os pobres enfrentam uma situação
duplamente ameaçadora....Ester nos dá permissão para
refletirmos sobre nosso chamado para servir a Deus dentro
da Matriz de um sistema secular e opressivo para
confrontar o mal e trabalhar pela justiça55.
55
Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.312.
56
Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.311.
de fato é ser Igreja, e após essa autocrítica, “reformar o que precisa ser
reformado” e então ser agente de transformação na sociedade.
CONCLUSÃO
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=7E3jBIcspYs&index=16&list=PLRynC5gAJ
TbkI85xgqcWA4uWbzOw3pXNS>
History, Hourly. Martin Luther: A Life From Beginning to End. Hourly History.
Edição do Kindle.
Geisler, Normam L. Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu. Editora Vida. Edição
do Kindle.
Keller, Timothy. Romanos 1-7 para Você. Editora Vida Nova. 1ª Edição, 2017.