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FELIPE MUZEL GOMES

A IMPORTÂNCIA DA BÍBLIA FRENTE A VERDADE


RELATIVA NA PÓS MODERNIDADE

São Paulo
2019
FELIPE MUZEL GOMES

A IMPORTÂNCIA DA BÍBLIA FRENTE A VERDADE


RELATIVA DA PÓS-MODERNIDADE

Trabalho apresentado em cumprimento às


exigências do Trabalho de Conclusão do
Curso (TCC) do Curso Livre de Teologia
EAD-FECP, pelo orientador e professor
Sérgio Paulo Frazão.

São Paulo
2019
DEDICATÓRIA

Primeiramente ao Deus eterno, que em sua beleza e magnificência, me


escolheu na eternidade para que um dia eu pudesse servi-lo. Por nunca ter me
abandonado, nunca ter me deixado faltar nada, mesmo em meio a tantas dificuldades.
Aos meus pais, João Batista e Algina, que me educaram nos ensinamentos do
Senhor, que sempre me ajudaram financeiramente quando precisei, e sem o qual eu
jamais chegaria até aqui sem todo o suporte e amor deles.
Ao amado pastor e orientador Sérgio Paulo Frazão, o qual em toda a faculdade
nunca conheci um professor tão solícito, diligente, aberto para poder conversar e
orientar, já não o considero como orientador, mas sim como amigo.
Ao pastor Caio Batista, que me acolheu num momento tão difícil de crises
teológicas, decepções com igrejas, depressão, crises vocacionais. E que me ajudou
a me reencontrar e me candidatar, finalmente, como seminarista da Igreja
Presbiteriana Independente do Brasil.
A Igreja Presbiteriana Independente do Jardim Morumbi de Sorocaba – por todo
carinho e acolhimento desde que aqui cheguei.
Ao Conselho da Igreja Presbiteriana Independente do Jardim Morumbi de
Sorocaba, por me apoiar e por acreditar e investir em meu chamado pastoral.
Ao Presbitério de Sorocaba, pela confiança em minha vida.
A todos os professores, colegas e coordenadores do curso de Teologia EAD,
meus agradecimentos.
A equipe de apoio do curso por todo o suporte durante todo esse tempo, em
especial ao querido pastor Vardilei Ribeiro, homem humilde e trabalhador que ao
longo de todo o curso me ajudou e orientou em todas as tarefas escritas que tive de
fazer.
Aos meus amigos Bruno Veloso, Renato Novaes, Daniel Lopes, Odair Junior,
Gustavo Machado e Rafael Ribeiro, que nessa caminhada vieram em forma de
presente para me acompanharem e me alegrarem durante essa jornada.
Gostaria de fazer um agradecimento especial ao meu falecido cãozinho Bob,
que perdi recentemente e precocemente. Era um cãozinho muito calmo e leal,
comigo por um ano, e em todas as crises que passei eu gostava de passar um
tempo com ele. Ele me distraia de todos os meus problemas. E justamente quando
superei todos esses problemas ele partiu. Obrigado Bob, por sem usar nenhuma
palavra me ensinar muito sobre o amor e fidelidade, eu nunca te esquecerei.

Muito Obrigado!
SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO................................................................................................06

2.UMA TEOLOGIA BÍBLICA SOBRE O TEMA..................................................11

3.A PERSPECTIVA DA TEOLOGIA REFORMADA..........................................19

4.OS TEÓLOGOS CONTEMPORÂNEOS E O COMBATE CONTRA AS FALSAS


VERDADES........................................................................................................28

5.CONCLUSÃO..................................................................................................46

6.BIBLIOGRAFIA................................................................................................48

.
INTRODUÇÃO

Por que estudarmos a importância da Bíblia frente a verdade relativa da


Pós-modernidade?
Vivemos num mundo em que nada mais é absoluto, em que cada pessoa
possui sua própria verdade e a segue sem questionamentos.
Nunca antes na história passamos por um momento em que a
humanidade abandonou de tamanha forma princípios e valores construídos há
séculos por gerações anteriores, cada qual conforme sua cultura. É um
fenômeno global, que através da globalização e do auge da tecnologia ganhou
forma e influência em todo o mundo.
Talvez uma análise do Ocidente ajude a mostrar isto (não que este
fenômeno não ocorra também no Mundo Oriental, pois devido a globalização e
o ápice da tecnologia, a humanidade num dado momento passou, em um
contexto geral, a processar diversos assuntos de forma comum).
Quanto ao Ocidente (o qual podemos fazer uma análise mais facilmente,
pois vivemos nele e por isso fomos influenciados por sua cosmovisão de mundo),
é interessante que esse fenômeno foi previsto por um pensador do século XIX,
no caso Friedrich Nietzsche.
Nietzsche, em seu livro Assim falou Zaratustra1, previu que o Ocidente iria
abrir mão dos pilares que o formaram, que no caso seria a Filosofia Helenística
e o Cristianismo, e que então entraria em crise por conta disto. Nietzsche, então
sugere que quem tiraria o mundo desta crise seriam os “super-homens”
(Übermensch), que iriam surgir. Estes seriam seres humanos dotados de
extrema inteligência e racionalidade, a ponto de abrir mão de qualquer
sentimento para tomada de decisões. Para Nietzsche, estes pensadores que
iram surgir no futuro, iriam tirar a humanidade de sua crise e conduzi-la para um
novo patamar de existência e pensamento.
Nietzsche acertou em cheio a questão sobre o Ocidente num determinado
momento querer abrir mão dos pilares que o formaram (o pensamento grego e
o cristianismo), tanto é que ele se autoproclamava um “profeta”, e muitos

1
Nietzsche, Friedrich. Assim Falou Zaratustra - Clássicos de Nietzsche. Nostrum Editora. Edição
do Kindle.
pensadores o tem como “profeta” neste sentido. O que Nietzsche não imaginava
é que em vez de surgirem os “super-homens”, surgiu uma humanidade que após
abrir mão dos pilares que a construíram, passou a aceitar qualquer coisa como
verdade.
No século seguinte então, surgiu um pensador que conseguiu definir com
maestria o que estava acontecendo no mundo, que é Zygmunt Bauman.
Bauman,, um sociólogo polônes, que assistiu a profecia de Nietzsche se
cumprir no século seguinte, conseguiu fazer uma síntese do que estava
acontecendo no mundo e escreveu o clássico Modernidade Líquida.
Em Modernidade Líquida2, Bauman desenvolve o raciocínio mais aceito
pelos pensadores modernos do que aconteceu com a nossa geração. O
sociólogo polonês diz que no momento anterior da atual história vivíamos numa
realidade sólida, em termos de princípios, valores, relacionamentos, família etc.
Mas que no atual momento, o mundo abriu mão de tudo o que lhe era sólido,
princípios valores etc. E passou a questionar tudo o que tínhamos como verdade
que até aquele momento havia sustentado a humanidade no seu modo de
pensar e viver. O ser humano moderno passou a questionar suas bases, no
momento em que todos apregoavam que a tecnologia e a ciência (isso por
grande influência Iluminista) era o apogeu e salvação da humanidade, junto com
o atual estado de evolução humana que vivíamos, e de repente fomos pegos por
duas Grandes Guerras Mundiais. Ou seja, num dado momento em que
julgávamos viver o ápice da evolução humana, aconteceu o que poderíamos
dizer que as duas maiores tragédias da humanidade. A partir do pós-guerra, o
ser humano passou a questionar tudo aquilo que a geração anterior pregava, e
houve uma mudança radical no modo de se pensar no mundo. Ao mesmo tempo
que o ser humano se questionava sobre suas bases, a tecnologia continuou
avançando, principalmente com a Guerra-Fria do pós-guerra, e esta tecnologia
deu origem ao fenômeno da globalização, que foi o processo de aproximação
entre as diversas sociedades e nações existentes por todo o mundo, seja no
âmbito econômico, social, cultural ou político. E para que tamanha aproximação
da humanidade inteira pudesse dar certo no âmbito de se pensar tivemos que
abrir mão de verdades que tínhamos como absolutas e irrefutáveis. E foi aí que

2
Bauman, Zygmunt. Modernidade líquida. Zahar. Edição do Kindle.
nos transformamos numa “Modernidade Líquida”, segundo a ideia de Bauman.
Tudo o que era sólido para nós anteriormente se tornou líquido. O líquido se
adapta a qualquer molde. Se pegarmos um litro de água e diversos recipientes
de mesmo volume só que de formas diferentes (quadriculares, triangulares,
octogonais, ou qualquer outra forma) essa água irá se amoldar nesses
recipientes facilmente devido sua fluidez. O mesmo não acontece quando a água
está em seu estado sólido.
Portanto, para que, neste determinado momento a humanidade pudesse
conviver em harmonia, nos transformamos numa modernidade líquida, para que
o pensamentos de todos se enquadrassem. A partir desse momento, não poderia
haver mais uma verdade absoluta na humanidade para que não houvesse
conflitos ou ameaça de conflitos.
Porém, chegamos num ponto em que a relativização da verdade e de
valores, está fazendo mal para a própria humanidade. Nunca antes houve tantos
divórcios na história da humanidade, nunca houve tantas possibilidades de
gêneros sexuais ao ser humano (52 ao todo)3, nunca antes a humanidade sofreu
tamanha epidemia de doenças mentais e que vem sido reconhecida como fruto
da pós-modernidade e sua crise de valores e bom senso4, nunca antes filhos
abandonaram os pais como ocorre hoje5, sem falar também nas crises de
imigrantes atual no mundo moderno e a apatia de diversos países em aceitar
esses imigrantes, que é algo que o próprio Bauman teve a oportunidade de falar
sobre enquanto estava vivo6.
Ou seja, o abandono total daquilo que tínhamos como verdades e valores,
e a transposição para uma realidade que acredita que não há verdades e valores
absolutos e que isso é subjetivo, tem deixado nossa humanidade doente,
desordenada e desorganizada. Temos colhidos frutos terríveis por não voltarmos
a repensar o que é verdade e o que não é verdade, e simplesmente deixar que
o mundo continue girando sem levantar esta questão.

3
https://epoca.globo.com/vida/noticia/2014/03/52-opcoes-de-bidentidade-sexual-no-facebookb.html
4
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-epidemia-de-doenca-mental/
5
https://noticias.ne10.uol.com.br/coluna/a-mulher-e-a-lei/noticia/2016/08/29/filhos-que-abandonam-
os-pais-634517.php
6
https://www.youtube.com/watch?v=GTu_bycoEEw.
Foi pensando nesta crise que o mundo vive atualmente, e como
poderíamos de alguma forma colocá-lo “nos eixos” novamente que surgiu a ideia
deste trabalho de conclusão de curso.
Como cristãos, acreditamos que a Bíblia contém a Verdade, e que
somente esta Verdade pode regenerar e reestruturar este mundo.
1. UMA TEOLOGIA BÍBLICA SOBRE O TEMA

Para termos uma ampla visão bíblia sobre o que é verdade ou não
devemos analisar tanto o Antigo Testamento como o Novo Testamento. Para
isso iniciaremos um estudo sobre como o Antigo Testamento trata esta questão.

1.1 A visão do Antigo Testamento como Verdade

A história da criação, e da formação do povo judeu no Antigo Testamento


é permeada de paradigmas que foram implantados nas raízes deste povo como
a verdade revelada de Deus para eles.
Talvez o melhor ponto de partida para o assunto seja a manifestação de
Deus entregando ao povo seus mandamentos em Êxodo 20. 3-17. Neste ponto
há a manifestação mais clara de Deus quanto como o seu povo deveria viver. É
claro que Deus já havia se manifestado anteriormente e feito uma aliança com
Abraão (Gênesis 15) e dado certas instruções como a circuncisão (Gênesis 17)
já para Abraão cumprir e os seus descendentes também, mas o ápice da
revelação de Deus como lei para que seu povo seguisse começa quando Moisés
revela ao povo os 10 mandamentos e a lei de Deus a partir de Êxodo 20. Este é
um momento chave na narrativa Bíblica, onde Deus em toda sua glória
finalmente dá uma lei e instruções para seu povo seguir para que possa ser
abençoado e cumpram sua vontade como Deus deles. O comentarista Abel
Ndjerareou sobre este tema diz o seguinte:

Agora Deus se dirige diretamente ao povo, proferindo


aquelas que, em hebraico, são conhecidas como as Dez
Palavras (Dt 4:13; 10:4), também chamadas de Decálogo
(do grego, deka logos, “dez palavras”) ou “Dez
Mandamentos”. Essas estipulações seguem o mesmo
padrão dos tratados do Antigo Oriente Próximo,
semelhantes àqueles elaborados na África antiga entre o
rei de uma nação poderosa e o governante de uma nação
mais fraca. O texto do tratado apresentava os detalhes da
nova relação entre o suserano (o rei poderoso) e seu
vassalo (a nação mais fraca). O suserano impunha deveres
e tributos, além de exigir obediência e lealdade
incondicionais. Por vezes, esses acordos incluíam regras
específicas para garantir a proteção do suserano de futuros
ataques. No entanto, embora a forma e a estrutura da
aliança estabelecida por Deus com Israel fosse semelhante
à de tratados políticos humanos, seu conteúdo é bem
diferente de qualquer acordo desse tipo. Como nos demais
tratados, este começa com uma explanação dos vínculos
históricos entre as duas partes: Eu sou o SENHOR teu
Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa de servidão
(20:1-2). No entanto, continua com declarações sucintas
que revelam a natureza de Deus e expressam sua vontade
para seu povo. Deus assumiu um compromisso com eles e
agiu de modo a cumprir as promessas que fez aos
patriarcas, esperando do povo uma contrapartida. Deseja
que seu povo sirva de modelo, transmitindo as verdades
divinas às nações. A fim de cumprir essa responsabilidade
e viver como um exemplo daquilo que o reino de Deus pode
ser na terra, os israelitas deveriam aprender a obedecer
exclusivamente ao Senhor, seu libertador, adorá-lo
corretamente e distingui-lo dos ídolos. Também deveriam
aprender a amar os outros membros da comunidade liberta
e resgatada. Os Dez Mandamentos são uma declaração
daquilo que seria necessário para tal.7

O povo judeu então, a partir deste momento havia aprofundado sua


aliança com Deus, recebendo ordens que deveriam ser seguidas para que
fossem abençoados e agradassem seu Deus. Em contrapartida, se
desobedecessem a Deus e seus mandamentos iriam sofrer consequências
graves, das quais o antigo testamento está repleto de exemplos, e das quais
Deus mesmo os advertiu (Deuteronômio 28).
O povo judeu recebeu os mandamentos e a lei como modo de vida que
deveria ser seguido à risca. E ao longo de sua jornada como nação estes
mandamentos se tornaram verdades irrefutáveis para eles, a ponto de que se
determinado mandamento fosse desobedecido, a consequência poderia ser a
própria morte da pessoa.
Porém os mandamentos de Deus e a lei de Deus para o povo judeu não
era só para abençoar eles, mas para ser benção para os estrangeiros também.
Para Michael Goheen, a nação de Israel no Antigo testamento deveria ser
benção aos de fora, dando exemplo às nações através de seus atos e cumprindo
a lei dada por Deus. Michael Goheen explica seu pensamento que partiu da ideia
do teólogo Christopher Wright:

7
Comentário Bíblico Africano (Locais do Kindle 6366-6380). Editora Mundo Cristão. Edição do
Kindle.
Uma segunda definição de Wright começa a esclarecer o
papel que o povo de Deus exerce no Antigo Testamento:
“A missão de Deus envolve o povo de Deus vivendo à
maneira de Deus diante das nações”. A ideia, portanto, era
que a nação de Israel fosse um povo em exposição,
encarnando em sua vida comunitária a intenção original de
Deus com a criação e seu propósito escatológico para a
humanidade. Ele viria e habitaria no meio deles e lhes daria
sua Torá para dirigir a vida coletiva de seu povo de acordo
com o seu caminho. O povo de Deus seria um sinal
atraente diante de todas as nações daquilo que Deus havia
pretendido desde o início e do propósito para o qual se
movia: a restauração de toda a criação e vida humana da
corrupção do pecado. Israel assumiria seu lugar na missão
de Deus principalmente sendo o que ele o chamou a ser,
uma vez que “missão não está primordialmente
relacionado a ir. E também não está relacionado
essencialmente a fazer alguma coisa. Missão está
relacionado a ser. Está relacionado a um tipo distinto de
povo, uma comunidade [...] contracultural entre as nações”.
Markus Barth acertadamente afirma que o povo de Deus
“não tem outro destino e propósito a não ser viver
publicamente para a glória de Deus”. A palavra
“publicamente” indica que sua vida é vivida diante das
nações. Como esclarece Barth, entretanto, viver à maneira
de Deus é para o louvor de sua glória. O povo de Deus foi
“criado e reunido, iluminado e comissionado, sustentado e
equipado para um único propósito: ‘Para que sejamos um
louvor para a glória de Deus’ ”. A vida do povo de Deus é
manifestar a glória de Deus diante dos olhos atentos das
nações.8

Ou seja, Israel através do cumprimento da lei estaria sendo luz do mundo


e exemplo de vida para as outras nações que existiam a sua volta, a partir do
momento que Deus entregou sua lei ao povo de Israel, Deus começou a
restaurar o mundo do pecado, e se seu povo cumprisse seus mandamentos
todos a sua volta veriam a glória e o poder de Deus manifestados na vida desta
nação. Continuando sua defesa Goheen cita o Teólogo Lohfink, afirmando:

Lohfink observa a importância que a investigação das


várias formas da vida comunitária de Israel tem para a
eclesiologia. Na sua opinião, a história de Israel descreve

8
Goheen, Michael. A Igreja missional na Bíblia (Locais do Kindle 827-835). Vida Nova. Edição
do Kindle.
um povo em busca da forma social apropriada “que
deixasse claro para todos como Deus queria que fosse o
mundo”. Mas que forma específica de sociedade é
adequada para oferecer um testemunho fiel da intenção de
Deus com a criação? Lohfink acredita que o Antigo
Testamento “descreve o longo caminho que o povo de
Deus trilhou na sua busca pela forma correta, até mesmo
na miséria do Exílio e na Diáspora”. Isso sugere que muitas
formas foram testadas até que Israel finalmente
encontrasse a “correta”.9

Ou seja, Deus no antigo testamento começou seu processo de


restauração do ser humano através da lei. A lei naquele momento era a verdade
de Deus frente ao seu povo e outras nações, porém todos sabemos que Israel
falhou em sua missão de cumprir a lei, então Deus teve que providenciar uma
forma para que a lei (sua verdade) fosse cumprida, que foi o envio de Jesus
Cristo, o qual analisaremos agora fazendo um estudo do tema a luz do Novo
Testamento.

1.2 A Visão do Novo Testamento sobre Verdade

Israel então falhou em sua missão em cumprir a lei de Deus, então Deus
enviou Jesus Cristo para que sua lei fosse cumprida, conforme ele mesmo disse:
“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas
cumprir”10 (Mateus 5.17-18), e conforme Paulo em suas Cartas explica o
cumprimento da lei em Cristo, por exemplos quando afirma que “Porque o fim da
lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê”11 (Romanos 10.4) e também em
Gálatas (3.23-24) ao afirmar que “Antes que viesse essa fé, estávamos sob a
custódia da Lei, nela encerrados, até que a fé que haveria de vir fosse revelada.
Assim, a Lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fossemos justificados pela

9
Goheen, Michael. A Igreja missional na Bíblia (Locais do Kindle 1598-1603). Vida Nova. Edição
do Kindle.
10
Bíblia Almeida Revista e Corrigida. Editora Sociedade Bíblica do Brasil, edição 2009.
11
Bíblia Almeida Revista e Corrigida. Editora Sociedade Bíblica do Brasil, edição 2009
fé”.12 Ou seja, Jesus foi o único que foi capaz de cumprir a lei, e por ele ter
cumprido a lei podemos ser salvos.

Jesus, foi o novo caminho construído por Deus para que pudéssemos ser
salvos e reconciliados com Deus. Jesus estabeleceu a nova aliança, e nesta
nova aliança os de fora (gentios) foram convidados a participar. Cristo então
conseguiu cumprir o que Israel não conseguiu, cumprir a Lei e ser Luz para as
nações. O verdadeiro caminho perfeito.

1.2.2 Jesus como Verdade

O próprio Cristo, aquele que cumpriu a lei através do seu agir e de sua
vida, declara no Evangelho de João, capítulo 14 e verso 6, dizendo: “Eu sou o
Caminho, a Verdade e também a Vida. Ninguém chega ao Pai sem mim.”13
Em seu livro John´s Gospel: a short study, Dr. William Michael McCrocklin
comenta sobre o fato de Jesus dizer ser a verdade:

Jesus é a verdade porque ele é o “Logos” vivo, revelando


apenas a verdade sobre todas as coisas. Sabemos que
tudo o que Jesus disse e ensinou foi falado diretamente do
Pai. Essa é a verdade final.14

De fato Jesus se apresenta como a verdade, a verdade definitiva de todas


as coisas, a Revelação definitiva de Deus à humanidade, aquele que Deus
providenciou para que sua lei fosse cumprida. O verdadeiro “Logos”, a Palavra
encarnada, o Deus encarnado. O Deus que amou ao mundo de tal forma que
deu seu Filho Unigênito apara morrer por ele, de forma que todo aquele que nele
cresce não perecesse, mas tivesse a vida eterna, conforme João 3:16.
Se Jesus é de fato o Messias, aquele que cumpriu a lei, aquele que é a
verdade absoluta, a verdade suprema de todas as coisas, logo, nós que cremos
na veracidade e autenticidade das Escrituras (tema do próximo tópico), não
podemos negociar nossos valores com os valores do mundo contemporâneo,
devemos defender a veracidade de Cristo e sua Palavra.

12
A Bíblia em ordem Cronológica, Nova Versão Internacional. Editora Vida. Edição de 2003.
13
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. P, 33715.
14
McCrocklin, Dr. William Michael. JOHN'S GOSPEL: A Short Study (p. 269). Dr. W Michael
McCrocklin. Edição do Kindle. p, 4088.
1.2.3 A Bíblia como a verdade revelada por Deus que deve se contrapor
em relação as verdades deste mundo

O texto mais apropriado para este tópico se encontra em 2 Timóteo,


capítulo 3, versos 14 a 17: “Mas não se permita intimidar por causa disso.
Persevere no que você ouviu e aprendeu, certo da integridade dos seus mestres
— afinal, você recebeu as Escrituras com o leite da sua mãe! Não há nada como
a Palavra de Deus escrita para mostrar o caminho para a salvação por meio da
fé em Cristo Jesus. Cada parte da Escritura é inspirada por Deus e útil de um
modo ou de outro — para mostrar a verdade, denunciar nossa rebelião, corrigir
nossos erros, ensinar como viver o caminho de Deus. Por meio da Palavra,
somos unidos e moldados para as tarefas que Deus deseja nos incumbir.15
Há muita especulação em relação as cartas pastorais escritas por Paulo,
no sentido de haver dúvidas se são mesmo de sua autoria, mas este não é o
tema deste trabalho de conclusão de curso, e creio que como cristãos temos que
crer que Deus em sua divina providência ao longo dos séculos permitiu que sua
Palavra chegasse desta maneira até nós para que pudéssemos segui-la como
regra de fé e prática.
Sobre este texto, John R. W. Stott afirma:

Somente a sua origem divina garante e


explica a sua utilidade para o homem. Para
mostrar o que isso significa, Paulo emprega
duas expressões. A primeira encontra-se no
versículo 15: "as sagradas letras", diz ele, "podem
tornar-te sábio para a salvação". A Bíblia é
essencialmente um manual de salvação. O seu
propósito mais alto não é ensinar fatos da ciência
(p. ex.: a natureza das rochas da lua), que o
homem pode descobrir por sua própria
investigação experimental, mas sim ensinar fatos
da salvação, que nenhuma exploração espacial
pode descobrir, mas que somente Deus pode
revelar. A Bíblia toda explica o plano de salvação:
a criação do homem à imagem do Deus; sua
queda em pecado através da desobediência, e o
conseqüente juízo; o permanente amor de Deus
para com ele, a despeito de sua rebelião; o eterno

15
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. p,38142.
plano de Deus para salvá-lo através do seu pacto
de graça com um povo escolhido, culminando em
Cristo; a vinda de Cristo, como Salvador, que
morreu para levar o pecado do homem; a
ressurreição de Cristo de entre os mortos; sua
exaltação no céu, e o envio do Espírito Santo; e
o resgate do homem, primeiro da culpa e da
alienação, depois da escravidão, e finalmente
da mortalidade, em sua progressiva experiência
da liberdade dos filhos de Deus. Nada disso
seria conhecido sem a revelação bíblica: "a
Escritura contém o guia perfeito de uma vida boa
e feliz". Mais precisamente, a Bíblia instrui para a
salvação "pela fé em Cristo Jesus". Assim, sendo
a Bíblia um livro de salvação, e salvação por
meio de Cristo, a Bíblia é essencialmente
cristocêntrica. O Antigo Testamento prenuncia e
prefigura Cristo de muitas e diferentes maneiras;
os evangelhos contam a história do seu
nascimento, da sua vida, das suas palavras e
obras, da sua morte e ressurreição. Atos descreve
o que ele continuou fazendo e ensinando através
dos apóstolos que escolhera, especialmente a
propagação do evangelho e o estabelecimento
da Igreja, de Jerusalém a Roma; as epístolas
expõem a ilimitada glória da pessoa e da obra
de Cristo, aplicando-a à vida do cristão e da
Igreja; o Apocalipse, por sua vez, descreve
Cristo agora no trono de Deus, prestes a vir
para consumar a sua salvação e o seu
julgamento. Esta compreensível apresentação de
Jesus Cristo pretende despertar a nossa fé nele,
de modo a sermos salvos pela fé.16

Diante disto, temos um sério problema, se a Bíblia contém a verdade


absoluta apresentada por Deus, temos que reconhecer que o presente século
está totalmente longe da verdade divina e do próprio Deus.

1.2.4 A vontade de Deus dentro do coração humano

A Bíblia relata em Romanos 2.14-15 que “Se um pagão, que desconhece


a lei de Deus, consegue segui-la mais ou menos por instinto, ele confirma a
verdade dela pela obediência. Comprova assim que a lei de Deus não é um

16
Stott, John. Tu Porém, A Mensagem de 2 Timóteo. Editora ABU, edição 1982
elemento estranho, imposto de fora para dentro, mas algo que faz parte da
própria constituição humana. Existe algo no interior do ser humano que ecoa o
“sim” e o “não” de Deus, o certo e o errado.”17
O pastor presbiteriano Augustus Nicodemus, em uma de suas
pregações18, elucida a passagem dizendo que em todos os homens e em todas
as culturas, Deus colocou sua lei. Que ninguém pode se eximir do julgamento de
Deus alegando que desconhece sua lei, pois a lei está em seu coração.
O homem foi feito a imagem e semelhança de Deus, e apesar desta
imagem ter sido distorcida após a queda, ainda sobrou no ser humano
fragmentos que o assemelham a Deus e a seu conhecimento como diria C.S.
Lewis em seu livro Cristianismo puro e simples19.
Ainda sobre este texto, David M. Kasali comenta:

As pessoas não serão julgadas com base naquilo que não


sabem, mas naquilo que efetivamente conhecem. Aqueles
que nunca viram uma Bíblia ainda assim podem conhecer
a revelação de Deus por meio da natureza e das leis
gravadas em sua própria consciência. Essas pessoas
serão julgadas com base nesse conhecimento.20

Logo, biblicamente falando, o ser humano não pode se eximir de não


conhecer a vontade de Deus, pois em seu íntimo Deus colocou sua vontade e
sua verdade no coração dos homens.
Portanto, em relação a teologia bíblica, podemos concluir neste primeiro
capítulo, que a Bíblia, um livro hoje julgado pela maioria das pessoas como
ultrapassado, possui total importância nesta era Pós-Moderna, pois ela é a única
que pode mostrar ao mundo que existe sim uma verdade, a verdade revelada
por Deus, e que a humanidade está em constante declínio por não se voltar à
Palavra de Deus e seus desígnios.

17
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. p,35356
18
https://www.youtube.com/watch?v=7E3jBIcspYs&index=16&list=PLRynC5gAJTbkI85xgqcWA
4uWbzOw3pXNS
19
Lewis, C. S. Cristianismo puro e simples. Editora Martins Fontes. Edição de 2009. p, 05-12.
20
Comentário Bíblico Africano (Locais do Kindle 73408-73410). Editora Mundo Cristão. Edição
do Kindle.
2 A PERSPECTIVA DA TEOLOGIA REFORMADA

O movimento reformista do Século XIV ao Século XVI apresentou homens


como João Wycliffe, Ulrico Zuínglio, John Knox, Martinho Lutero, João Calvino e
outros, marcaram a história do protestantismo. E estes também apresentam
escritos a respeito da “Verdade”.
A seguir, analisaremos os pensamentos de Martinho Lutero e de João
Calvino, grandes reformadores do final do século XV e início do século XVI, entre
outros pontos da Reforma.

2.1 A Perspectiva de João Calvino

João Calvino em seus escritos, defende que todo ser humano é


conhecedor por natureza da vontade de Deus. Apesar da queda, o homem ainda
possui capacidade de reconhecer o que é certo e errado nesta vida, mesmo que
este homem não conheça a Deus, Deus escreveu em seu coração sua lei, assim
ele comenta:

Para guardar os homens de serem ignorantes a respeito


dessas coisas, o Senhor gravou e, por assim dizer,
estampou a lei no coração de todos (Romanos 2.1–16).
Mas isso nada é senão a consciência, a qual nos testifica
interiormente aquelas coisas que devemos a Deus; ela põe
diante de nós o bem e o mal, e assim nos acusa e nos
condena, cônscios como somos, em nosso íntimo, de que
não temos cumprido com nosso dever, como nos
convém.21

Calvino, defende que não há desculpas ao ser humano ao se esquivar da


vontade de Deus. Para este reformador e teólogo, Deus tomou a precaução de
incutir na mente humana aquilo que é certo e errado aos seus olhos, para que
não possam se esquivar do juízo de Deus no tempo vindouro.

21
Calvino, João. Institutas da Religião Cristã . Editora Fiel. Edição do Kindle. p.338
Calvino ainda comenta sobre a dificuldade do ser humano em reconhecer
a verdade divina em sua vida, o que seria fruto de sua ambição e egoísmo, e
que por isso, busca por si próprio seus próprios caminhos e verdades:

Todavia, o homem se encontra inchado pela ignorância e


a ambição, e cego de egoísmo. Por conseguinte, é incapaz
de ver a si mesmo e, por assim dizer, descer em seu interior
e confessar sua miséria.... Esse ensino da justiça divina em
nosso coração mostra nitidamente o quanto nos temos
afastado da vereda reta.

Calvino então, segue o mesmo raciocínio de que o ser humano é capaz


de ter em seu interior a vontade de Deus, porém devido sua natureza
pecaminosa, prefere seguir caminhos diferentes, caminhos estes que satisfazem
o desejo da carne.
Ao comentar a Carta de Paulo aos Romanos, Calvino disserta sobre não
haver desculpas ao ser humano que não conhece a e consequentemente resolve
seguir seus próprios caminhos:

É suficiente (aos gentios) saber que acreditam que há um


Deus, e que honra e culto lhe são devidos. Pouco importa,
também, que não permitam que se cobice a mulher do
próximo, possessões, ou alguma coisa que tenham como
sua, se toleram as faltas sem rancor e ódio, porque tudo
aquilo que julgam como sendo ruim sabem também que
não deve ser cultivado.... Há, pois, [no homem], um certo
conhecimento da lei, o qual confirma que uma ação é boa
e digna de ser seguida, enquanto que outra será evitada
com horror.22

2.2 A Depravação Total

Todos estes apontamentos feito por Calvino estão ligado ao que a


Teologia chama de “Depravação Total”, que é um dos cinco pontos do calvinismo
cunhado pelo Sínodo de Dort, Sínodo este convocado pelos estados Gerais (da
Holanda) e composto por um grupo de 84 teólogos e 18 representantes

22
Calvino, João. Romanos (Comentários Bíblicos João Calvino) . Editora Fiel. Edição do Kindle.
pp. 2061 e 2017
seculares, entre esses diversos representantes da Alemanha, Suíça, Inglaterra
e outros países da Europa, Sínodo este convocado para combater o pensamento
Arminiano e seus pontos.
A Depravação Total, é o primeiro dos cinco pontos do Calvinismo, que
segue uma ordem lógica de raciocínio construída pelos teólogos da época.
Resumidamente a Depravação Total do homem, significa que o ser humano se
rebelou contra Deus, que é mau por natureza, que não é merecedor da graça de
Deus e que por si só, se não for o agir de Deus em sua vida nunca será
restaurado. Conforme diz o pastor e teólogo John Piper:

Em resumo, a depravação total significa que nossa rebelião


contra Deus é total; tudo que fazemos nesta rebelião é
pecaminoso; nossa incapacidade de submeter-nos a Deus
ou de reformar a nós mesmos é total, e somos, portanto,
merecedores de punição eterna. É difícil enfatizarmos
demais a importância de admitir que a nossa condição é
realmente tão má. Se pensarmos em nós mesmos como
basicamente bons ou como menos do que em total
discordância com Deus, nossa compreensão da obra de
Deus na redenção será deficiente. Contudo, se nos
humilharmos sob esta verdade terrível de nossa
depravação total, estaremos em condição de ver e apreciar
a glória e a maravilha da obra de Deus.23

Logo, seguindo todo raciocínio, o ser humano por ter se rebelado contra
Deus e sua vontade ficou cego e desejou seguir seus próprios caminhos, e com
isso criou “verdades” que melhor satisfizesse seus desejos pecaminosos.
Vimos aqui, uma breve perspectiva de Calvino, de que todo o ser humano
pela revelação natural de Deus, possui em seu interior o conhecimento da
vontade ou lei divina, que é a verdade absoluta. Agora iremos analisar o
Pensamento de Calvino em relação em como nos aprofundarmos na verdade de
Deus e onde podemos encontrá-la de modo claro.

23
Piper, John. Cinco Pontos: Em direção a uma experiência mais profunda da graça de Deus
(Locais do Kindle 279-284). Editora Fiel. Edição do Kindle.
2.3 Como ter total acesso à verdade segundo a perspectiva de Calvino

Para Calvino, não existe relativização da verdade, e sim uma única


verdade, e está só é possível ser conhecida por inteiro através das Escrituras
Sagradas.
Calvino em seus escritos, defende que se o homem deseja se aprofundar
e realmente conhecer a Deus, a única forma de se fazê-lo é através do
conhecimento das Escrituras. Calvino comenta:

Precisamos notar que a palavra de Deus é posta em


oposição a todos os conselhos humanos. O que o mundo
julga certo é amiúde tido como incorreto e perverso no
critério de Deus, o qual não aprova nenhum outro modo de
viver, senão aquele que é ordenado em conformidade com
a norma de sua lei. 24

Podemos notar neste seu escrito que para Calvino a Palavra de Deus é
oposta ao que o mundo diz e julga ser correto, e que para Deus as verdades
relativas vinda do mundo é abominável perante Deus. Calvino continua:

Davi não poderia ter sido guiado pela Palavra de Deus, a


menos que renunciasse, antes, a sabedoria da carne, pois
somente quando somos levados a fazer isso é que
começamos a possuir uma disposição passível de
instrução..... Estejamos certos de que aqui há uma luz
infalível, se tivermos nossos olhos abertos para contemplá-
la.25

Na teologia de Calvino, para conseguirmos abrir mão de nossas próprias


verdades e abraçarmos a verdade de Deus, temos que primeiramente renunciar
a nós mesmos e nosso próprio conceito de conhecimento e sabedoria falhos, só
assim então poderíamos contemplar a “luz infalível” (conhecimento e verdade
infalível) contida nas Escrituras Sagradas.

24 Calvino, João. Comentário de Salmos - Vol. 4 (Série Comentários Bíblicos João Calvino) (p.
251). Editora Fiel. Edição do Kindle.
25 Calvino, João. Comentário de Salmos - Vol. 4 (Série Comentários Bíblicos João Calvino) (p.

251). Editora Fiel. Edição do Kindle.


Calvino, além de tudo, tinha a noção de que o mundo não compreende a
opção de vida do cristão em seguir a Palavra de Deus e ter ela como regra de fé
e prática, conforme escreveu:

“....era de suma importância que o justo fosse confirmado


na vereda da santidade, pela consideração da miserável
condição de todos os homens destituídos da bênção de
Deus e da convicção de que Deus a ninguém é favorável
senão àqueles que zelosamente se devotam ao estudo da
verdade divina. Além do mais, como a corrupção sempre
prevaleceu no mundo, a uma extensão tal que o caráter
geral da vida humana nada mais é senão um perene
afastar-se da lei de Deus....”26

É interessante notarmos, que neste escrito ele usa exatamente o termo


“verdade divina”, distinguindo a verdade de Deus com a verdade do mundo, que
advém da corrupção do mundo que faz os homens se afastarem da lei de Deus.

2.4 A perspectiva de Lutero

Antes de analisarmos o pensamento de Lutero, é necessário destacar que


o reformador tinha uma experiência mística diferente dos demais reformadores,
alguns historiadores dizem que Lutero era capaz de ver, e responder ao próprio
Diabo, e de certa forma seus escritos demonstram certa obsessão pelo Diabo27,
como exemplo tempos a seguinte citação dada a Lutero:

Na época das minhas primeiras conferências sobre os


Salmo, após ter cantado as matinas, eu estava sentado,
redigindo as minhas primeiras lições, quando o diabo
surgiu e fez barulho três vezes, atrás da minha estufa,
como se tivesse arrastado uma vasilha para fora do
Inferno. Vendo que ele não queria parar, apanhei os meus
livros, arrumei-os e ia meter-me na cama.... Eu senti de
novo o claustro, por cima do quarto, mas como percebi que
era o diabo, não lhe dei mais atenção e adormeci.28

26
Calvino, João. Comentário de Salmos - Vol. 1 (Série Comentários Bíblicos João Calvino) (pp.
41-42). Editora Fiel. Edição do Kindle.
27
History, Hourly. Martin Luther: A Life From Beginning to End. Hourly History. Edição do
Kindle.
28
Jorge, Fernando. Lutero e a Igreja do Pecado. Editora Novo Século. Edição 2007. p.48.
Por tanto, para Lutero, em sua visão medieval e frente suas experiências
místicas, Satanás é era o causador de todos os males, inclusive aquele que faz
os homens abandonarem a Palavra de Deus e buscar suas próprias verdades,
causando a degradação humana e destruição da Criação. Sobre este tema ele
comenta:

Foi assim que Satanás enganou Adão e Eva. Eles


perderam a confiança em Deus e não criam mais no que
ele falava. Em vez disso, eles acreditavam nas mentira de
Satanás. Quando Satanás destitui as pessoas da confiança
em Deus, não é de surpreender que elas se tornem
orgulhosas e desprezem a Deus e outras pessoas. No fim
elas se voltam para o adultério, assassinato e assim por
diante. Abandonar a Palavra de Deus é a raiz de todas as
tentações. O resultado é a destruição e violação de todos
os mandamentos de Deus. A incredulidade é a fonte de
todo pecado. Se satanás for capaz de perverter a Palavra
de Deus ou de roubá-la do coração das pessoas, ele
atingirá seu objetivo – as pessoas não mais crerão em
Deus.29

Ou seja, Lutero constrói um raciocínio de que Satanás é quem engana as


pessoas e as faz decidirem o que é verdade ou não, se rebelando contra Deus
e sua Palavra.
Em sua época, Lutero já via exemplos no cotidiano de pessoas que
tentavam amenizar ou deturpar a Palavra de Deus para que pudessem se sentir
melhores consigo mesmas seguindo suas próprias convicções, da mesma forma
como acontece nos dias de hoje. A respeito disto escreveu:

Hoje, algumas pessoas querem atenuar os mandamentos


de Deus. Elas pensam que as pessoas devem ser tratadas
somente com amor e tolerância e que não devem ser
amedrontadas por exemplos da ira de Deus....Pessoas
arrogantes e teimosas desprezam a Palavra de Deus e
riem de palavras bem intencionadas de advertência. Elas
se sentem tão bem acerca de si mesmas que, todas as
vezes que alguém lhes disser sobre a extensão da
misericórdia e da graça de Deus, isso apenas as deixará

29
Lutero, Martinho. Somente a Fé – Um ano com Lutero. Editado por James C. Galvin. Editora
Ultimato p. 220.
piores do que eram antes. Isso é o que acontece quando
as pessoas tentam ser livres dos mandamentos de Deus.30

Ademais, Lutero é o exemplo vivo de alguém que se apegou a Palavra de


Deus para fazer a Reforma. Foi Deus através de sua Palavra que abriu os olhos
de Lutero em relação aos erros que a Igreja Medieval cometia e a necessidade
de se levantar contra um sistema que havia deturpado a Palavra e a verdade de
Deus contida nela. Em uma de suas defesas contra o papado de Roma ele
escreveu:
A não ser que eu esteja convencido pelo testemunho das
Escrituras ou por uma clara razão (pois não confio no papa,
nem apenas em concílios, visto que é bem sabido que eles
têm errado frequentemente e se contradizem), estou preso
às Escrituras que tenho citado e minha consciência é cativa
à Palavra de Deus. Não posso negar, e não negarei nada,
pois não é seguro nem direito ir contra a consciência. Não
posso fazer de outro modo. Que Deus me ajude! Amém.31

Lutero foi alguém que combateu os erros e as mentiras e falsas verdades


que reinavam no mundo naquela época, tendo como espada e principal arma a
Palavra de Deus. Através da Palavra de Deus ele denunciava os abusos e erros
da Igreja Católica, a religião que reinava no mundo em sua época. A Palavra de
Deus foi o seu parâmetro para combater os erros que haviam na igreja e no
mundo em sua época, deixando o mesmo exemplo a ser seguido nos
pressupostos de um dos pilares da Reforma – IGREJA REFORMADA SEMPRE
REFORMANDO.

2.4 Sola Scriptura

Sola Scriptura é um dos cinco Solas da Reforma Protestante, que


sintetizam a doutrina protestante, e que também foi utilizada para combater os
ensinamentos da Igreja Católica na época da Reforma.

30
Lutero, Martinho. Somente a Fé – Um ano com Lutero. Editado por James C. Galvin. Editora
Ultimato p. 258.
31
Sproul, R.C.. O Legado de Lutero . Editora Fiel. Edição do Kindle. pp. 824-825.
Destarte, através desse princípio da reforma, as escrituras contém a
Palavra de Deus, e que, enquanto VERDADE é capaz de combater o relativismo
da verdade do pós-modernismo.
No livro Teologia da Reforma, editado por Matthew Barret encontramos a
seguinte definição:
Sola Scriptura, a convicção de que a Escritura e somente
ela é a autoridade final mediante a qual toda reivindicação
da verdade cristã é testada, tem sido descrito como o
princípio formal da Reforma, ao lado do sola fide, a
justificação somente pela fé, como seu princípio material.
Se os reformadores se sentiriam confortáveis com essa
distinção é um ponto a ser discutido. O que é mais
importante é a abundância de evidências de que, quaisquer
que fossem suas particularidades, cada uma das principais
vozes desse período compartilhava uma compreensão das
Escrituras como a Palavra de Deus, que carrega a
autoridade do Deus cuja Palavra escrita não invalida todas
as outras autoridades, mas que é o teste final delas. É a
boa Palavra de um Deus bom, e é um tesouro precioso em
que se deleitam os salvos por Cristo que são habitados por
seu Espírito.32

A doutrina do Sola Scriptura é uma doutrina feita por humanos, porém


inteiramente com bases Bíblicas e por isso válida. Devemos abraçar esta
doutrina, principalmente por ser de origem e teologia Protestante.
Afirmamos através desta doutrina, que as Escrituras contém a Palavra de
Deus, a qual contém a verdade capaz de combater a relativização da verdade
nesta era pós-moderna.

2.5 A Confissão de Fé de Westminster

Ainda sobre o tema podemos discorrer os pensamentos estabelecidos na


Confissão de fé de Westminster.
A Confissão de Fé de Westminster foi um dos mais ricos documentos
teológicos produzidos na história da humanidade, junto ao Catecismo Maior e o
Breve de Westminster. Tais documentos foram produzidos ao longo dos anos
1643 a 1649 na abadia de Westminster, pelos mais cultos e piedosos ministros

32
Barrett, Matthew (2017-07-31T22:58:59). Teologia da Reforma . Thomas Nelson Brasil. Edição
do Kindle. p.3935.
puritanos (calvinistas ingleses) junto com alguns influentes presbiterianos
escoceses, na intenção de se fazer uma reforma na Igreja da Inglaterra. Seus
padrões doutrinários são um dos mais aceitos pelos protestantes e reformados
ao redor do mundo.
A Confissão de Fé de Westminster trata logo em seu começo sobre as
escrituras dizendo:

Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da


providência manifestam de tal modo a bondade, a
sabedoria e o poder de Deus, que as pessoas ficam
inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele
conhecimento de Deus e da sua vontade, necessário à
salvação. O Senhor, por isso, foi servido, em diversos
tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua
Igreja aquela sua vontade. Depois, para melhor
preservação e propagação da verdade, para o mais seguro
estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da
carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente
servido fazê-la escrever toda. Isso torna indispensável a
Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos
de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.33

Continua em seguida afirmando:

A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve


ser crida e obedecida, não depende do testemunho de
qualquer pessoa ou Igreja, mas depende somente de Deus
(a mesma verdade) que é o seu Autor. Ela tem, portanto,
de ser recebida, porque é a Palavra de Deus.34

Temos aqui mais uma corrente da Teologia Reformada que trata sobre o
aspecto da depravação humana que busca suas próprias vontades e verdades,
apresentando como solução e cura para este problema a busca pela verdade
contida na Palavra de Deus e sua prática.
Podemos concluir neste capítulo que os principais reformadores e
também a Teologia Reformada apresentam pensamentos que combatem a ideia

33
Guimarães, José Antônio Lucas. Confissão de Fé de Westminster: Edição com reflexões de
João Calvino . Edição do Kindle. p.132
34
Guimarães, José Antônio Lucas. Confissão de Fé de Westminster: Edição com reflexões de
João Calvino . Edição do Kindle. p.159
de que o ser humano possui a escolha de decidir livremente o que é certo ou
errado, e que somente a Bíblia ou Palavra de Deus é a fonte de toda verdade e
de tudo aquilo que é bom para o ser humano.

3 OS TEÓLOGOS CONTEMPORÂNEOS E O COMBATE CONTRA AS


FALSAS VERDADES

Discutimos até o momento o tema sob a perspectiva bíblica e reformada,


e vimos que desde os tempos bíblicos e na época da própria Reforma, o
problema do ser humano com a verdade divina sempre existiu, e este sempre
tentou de alguma forma se eximir de desconhecer a vontade de Deus e sua
Verdade.
Como foi dito na introdução deste trabalho, vivemos um momento crítico,
em que nunca antes a humanidade relativizou tanto o que é verdade. Isso como
resposta aos acontecimentos históricos que viveu e também como tentativa de
construir um mundo harmonioso em que todos aceitam as verdades dos outros
para não haver conflitos. E isto tem feito um mal terrível à humanidade, como já
foi dito e exemplificado.
Neste momento é hora de analisarmos as respostas dos teólogos
contemporâneos sobre o assunto.
Norman Geisler levanta uma questão interessante para este debate:

Exigimos, por exemplo, verdade de: • entes queridos


(ninguém quer ouvir uma mentira de um cônjuge ou de um
filho); • médicos (queremos ter a receita do remédio correto
e que seja realizado o procedimento médico adequado); •
corretores de ações da bolsa de valores (exigimos que nos
digam a verdade sobre as ações que estão nos
recomendando); • tribunais (queremos que condenem
apenas os verdadeiramente culpados); • empregadores
(queremos que nos digam a verdade e que nos paguem de
maneira justa); • companhias aéreas (exigimos aviões
verdadeiramente seguros e pilotos realmente sóbrios).
Também esperamos ouvir a verdade quando escolhemos
um livro de referência, lemos um artigo ou assistimos ao
noticiário. Queremos a verdade de anunciantes,
professores e políticos. Pressupomos que a sinalização
das estradas, as bulas dos remédios e os rótulos das
comidas revelam a verdade. De fato, exigimos a verdade
em praticamente todas as facetas da vida que afetam
nosso dinheiro, nossos relacionamentos, nossa segurança
ou nossa saúde. No entanto, apesar das firmes demandas
pela verdade nessas áreas, muitos de nós dizem que não
estão interessados na verdade quando o assunto é
moralidade ou religião. O fato é que muitos simplesmente
rejeitam a ideia de que qualquer religião possa ser
verdadeira. Como temos certeza de que você já percebeu,
existe uma grande contradição aqui. Por que exigimos
verdade em tudo, exceto na moralidade e na religião? Por
que dizemos “isso é verdade para você mas não para mim”,
quando estamos falando sobre a moralidade ou religião,
mas nunca pensamos nessa falta de sentido quando
estamos falando com um corretor de ações da bolsa de
valores sobre o nosso dinheiro ou com o médico sobre a
nossa saúde?35

O que Norman esta nos dizendo é que somos seletivos em relação ao que
é verdade. Quando se trata de assuntos sérios como família, amigos, negócios,
saúde, compra de mercadorias, segurança, entre outros exigimos a verdade
absoluta. Mas quando tratamos sobre moralidade ou religião a verdade não nos
interessa. Fazemos o que quiser com a verdade, escolhemos a verdade que
mais nos satisfaz.
Gustaf Aulén corrobora com essa linha de pensamento quando diz:

A essência do pecado está no fato de que o homem


procura os seus interesses. O pecado está sempre
envolvido no quaerere quae sua sunt. Essa procura
egocêntrica dos seus próprios interesses pode tomar várias
facetas36.

Para o pastor jubilado e teólogo Lysias de Oliveira o ser humano


abandonou as verdades divinas para viver suas próprias vontades e
consequentemente Deus os entregou as suas próprias invenções:

As pessoas desobedeceram a verdade divina e Deus as


entregou a suas próprias loucuras....A injustiça praticada
no abandono da verdade de Deus é uma injustiça contra

35 Geisler, Normam L.. Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu (Locais do Kindle 566-576).
Editora Vida. Edição do Kindle.
36
Aulén, Gustaf. A Fé Cristâ. Editora Aste. 2ª Edição, 2002. p.218.
Deus, pois abrange também a impiedade....Deus então as
entregou a suas próprias invenções37.

O pastor e teólogo Timothy Keller vai um pouco mais além nesta temática,
dizendo que quando criamos verdades alternativas com relação a verdade de
Deus, criamos falsos ídolos e acabamos por viver em função destes:

Suprimimos a verdade acerca de Deus e de seus padrões,


de modo a podermos adorar outras coisas e viver em
função delas. E mais, nem sempre seguimos nossa
consciência. Assim, às vezes descobrimos nossos
pensamentos nos “acusando”, bem como nos
“defendendo” – todo mundo faz coisas que sabem serem
erradas38.

Keller possui um pensamento teológico de que se não é Deus quem está


ocupando o centro do coração do homem, alguma outra coisa está, seja dinheiro,
poder, um relacionamento, um negócio, um cargo etc. Este pensamento ele
expõe em seu livro Deuses Falsos39. O fato é que na visão de Keller, o ser
humano troca as verdades de Deus por falsos ídolos, como no Antigo
Testamento no deserto quando o povo judeu decidiu construir um bezerro de
ouro e adorá-lo como um novo deus.
Fato é que, nós seres humanos quando não estamos seguindo a verdade
de Deus, estamos seguindo a verdade de algum falso deus que criamos para
nós e que nos satisfaz da maneira que nos agrada.
Mas será que como Igreja estamos sendo luz do mundo, sendo relevantes
e atuando da maneira certa no atual momento em que vivemos?

3.1 A experiência de Lesslie Newbigin e a Sociedade Pluralista

37
Oliveira dos Santos, Lysias. Comentário Bíblico Latino Americano de Romanos. Editora Fonte
Editorial. 1ª Edição, 2018. p.123
38
Keller, Timothy. Romanos 1-7 para Você. Editora Vida Nova. 1ª Edição, 2017. p.57.
39
Keller, Timothy (2019-01-10T23:58:59). Deuses falsos. Vida Nova. Edição do Kindle.
Lesslie Newbigin foi pastor da Igreja Reformada Unida (Reino Unido),
bispo da Igreja do Sul da índia e secretário-geral do Conselho Mundial de
Igrejas. Newbigin, é uma referência para missiólogos e teólogos que tentam
compreender a sociedade em que vivemos.
A experiência de Newbigin começa quando partiu para o campo
missionário na Índia aos 26 anos de idade em 1936, onde permaneceu como
bispo até se aposentar em 1974. Quando Newbigin retornou à sua pátria, ele
simplesmente não a reconhecia mais. Se deparou com uma Europa Pós-cristã,
como previu Nietzsche. Percebeu que A Teologia Liberal somada com a Pós-
Modernidade haviam destruído a Igreja no continente Europeu, que hoje é
conhecido como Pós-Cristão. As igrejas que sobreviveram viviam somente para
si mesmas, não tinham visão missional, não estavam despertadas para pregar o
evangelho mais, basicamente uma igreja que não saía de suas “quatro paredes”
e estava muito bem acomodada com relação a isto. Newbigin havia acabado de
sair de um campo missionário extremamente fértil, e reencontrado sua pátria
devastada em relação ao que a Igreja lá tinha se tornado, uma igreja sem visão,
sem perspectiva missional, uma igreja que sobrevivia, e muitas delas sendo
vendidas como imóveis por terem morrido. Newbigin então começou a estudar
para tentar entender o que estava acontecendo e publicou diversos livros
célebres como The Open Secret, para tentar despertar os novos teólogos a
respeito do que estava acontecendo com a sociedade e como combater os males
que o Iluminismo e a Pós-Modernidade haviam causado na Igreja no Ocidente40.
Newbigin em seu livro O Evangelho em uma Sociedade Pluralista escreve
um tratado de como a Igreja deve entender o mundo atual e como deve reagir
diante da Pós-Modernidade. O teólogo afirma que é um mito dizer que nossa
sociedade é secular, pois todo ser humano em seu íntimo necessita do sagrado
e possui fé em alguma coisa, e que no atual momento ao invés da religião estar
de fato morrendo, na verdade está ocorrendo um grande crescimento religioso
(ele fala do aspecto de religião em geral), conforme escreveu:

Diante da evidência estatística da sobrevivência e do vigor


da religião nas sociedades mais altamente secularizadas,

40
https://www.christianitytoday.com/ct/2010/january/1.44.html
os sociólogos não aceitam mais a teoria que teve tanto
valor desde a época da escrita de Weber. Os sociólogos
acumularam uma grande massa de material estatístico que
demonstra o contínuo e muitas vezes crescente vigor da
crença religiosa naquela sociedade que avançou mais
longe no caminho da racionalização, industrialização e
urbanização - ou seja, os Estados Unidos. Os principais
fatos são bem conhecidos. Os elementos fortemente
conservadores e evangélicos nas Igrejas Protestantes
passaram por um notável renascimento, enquanto as
igrejas que tentaram ajustar suas crenças e práticas ao
temperamento da modernidade estão em declínio. A
crença religiosa tornou-se um fator sério nas políticas
públicas - algo que os sociólogos até vinte anos atrás
consideravam uma característica do passado que não
reapareceria. E, como é bem sabido, novos movimentos
religiosos apareceram em um número e variedade
desconcertantes, não apenas nos Estados Unidos, mas em
todo o mundo "desenvolvido". Além disso, esses
movimentos não estão principalmente entre os setores
marginalizados e desfavorecidos da sociedade. Os
sociólogos da religião sabem há muito tempo que os povos
à margem da sociedade, que sentem que não têm
esperança no mundo atual, são propensos a acolher as
crenças religiosas, muitas vezes de natureza apocalíptica,
que oferecem esperança para um novo tipo de religião.
ordem e outro mundo. Mas os novos movimentos
religiosos, que são uma característica tão proeminente do
mundo "desenvolvido", estão atraindo não essas pessoas
desfavorecidas, mas, ao contrário, os jovens das camadas
mais abastadas da sociedade. Em uma recente coletânea
de ensaios de importantes sociólogos, principalmente dos
Estados Unidos, há uma confissão quase unânime de que
a crença aceita sem críticas até dez ou vinte anos atrás, a
saber, que o processo de modernização levaria
necessariamente ao declínio de religião, estava totalmente
enganado. Para citar apenas um desses escritores, o
professor Rodney Stark, professor de sociologia na
Universidade de Washington, a evidência “leva à conclusão
de que a secularização não inaugurará uma era pós-
religiosa. Em vez disso, ele repetidamente levará a um
reabastecimento de vigorosas organizações religiosas
sobrenaturais, provocando reavivamento ”(The Sacred in a
Secular Age, Berkeley, 1985, p. 146)41.

41
Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 3963-3981).
Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.
O autor portanto, e com base em dados estatísticos, enfatiza que a religião
não está desaparecendo, na realidade está renascendo, e com a pluralidade e
globalização novas religiões tem aparecido. Ele não enfatiza que o Cristianismo
está crescendo no Ocidente, mas que um nova onda de novas religiões estão
surgindo, e que portanto a ideia iluminista de progresso e racionalização que
seus principais expoentes pregavam junto com o discurso de que a religião iria
desaparecer está caindo por água abaixo.
Diante disto, Newbigin diz que a Igreja está viva e continuará viva:

A Igreja é uma entidade que sobreviveu a muitos estados,


nações e impérios e superará os que existem hoje. A Igreja
não é outra coisa senão aquele movimento lançado na vida
pública do mundo por seu soberano Senhor para continuar
o que ele veio fazer até que seja concluído em seu retorno
na glória. Tem a promessa de que as portas do inferno não
prevalecerão contra ela. Apesar dos crimes, erros,
compromissos e erros pelos quais sua história foi
manchada e está manchada até hoje, a Igreja é a grande
realidade em comparação com as nações, impérios e
civilizações que estão passando por fenômenos. A Igreja
nunca pode se estabelecer como uma sociedade voluntária
preocupada apenas com assuntos privados e domésticos.
É obrigado a desafiar em nome do único Senhor todos os
poderes, ideologias, mitos, suposições e cosmovisões que
não o reconhecem como Senhor. Se isso envolve conflito,
problemas e rejeição, então temos o exemplo de Jesus
diante de nós e sua lembrança de que um servo não é
maior que seu mestre42.

Mas a questão agora é: Como a Igreja conseguirá sobreviver após o


estrago que o Iluminismo e a Pós-Modernidade lhe causou? Newbigin, diante de
seus vastos estudos sobre nossa sociedade, sua experiência como missionário
e líder cristão nos fornece algumas alternativas.
O primeiro passo seria olharmos para como a Igreja está e como ela era
no princípio, nesse sentido ele escreve:

Jesus, como eu disse anteriormente, não escreveu um

42Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 4131-4138).


Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.
livro, mas formou uma comunidade. Esta comunidade tem
em seu coração a lembrança e o ensaio de suas palavras
e ações, e os sacramentos dados por ele através dos quais
é permitido engajar novos membros em sua vida e renovar
esta vida repetidas vezes através do compartilhamento de
sua vida ressuscitada através de o corpo quebrado e a
alma derramada. Existe nele e para ele. Ele é o centro de
sua vida. Seu caráter é dado a ele, quando é fiel à sua
natureza, não pelos caracteres de seus membros, mas por
seu caráter. Na medida em que é fiel ao seu chamado,
torna-se o lugar onde homens e mulheres e crianças
acham que o evangelho lhes dá a estrutura de
entendimento, as “lentes” através das quais eles são
capazes de entender e lidar com o mundo43.

Esta afirmação de Newbigin nos leva a pensar: O que estamos fazendo


com a Igreja? Será que temos por nossas próprias mãos escolhido o que fazer
com ela ou temos nos dirigido a Deus e perguntado como líderes: “Senhor, que
caminho devemos tomar para o melhor da tua Igreja?”.
A partir deste ponto de vista ele aponta seis características que revelaria
uma Igreja fiel ao seu chamado e que seria capaz de ser relevante e transformar
o mundo atual. A primeira delas seria uma comunidade de louvor. O louvor
legítimo e não aparente em uma comunidade levaria essa comunidade a ser
grata por toda graça de Deus e como resposta essa comunidade transbordará
dessa graça ao próximo querendo espalhar as boas novas. Nesse sentido ele
escreve:

Na adoração cristã, reconhecemos que, se tivéssemos


recebido justiça em vez de caridade, estaríamos a caminho
da perdição. Uma congregação cristã é, portanto, um corpo
de pessoas com gratidão de sobra, uma gratidão que pode
se transformar em cuidado com o próximo. E é da essência
da questão que essa preocupação com o próximo é o
estouro de um grande dom da graça e não, principalmente,
a expressão do compromisso com uma cruzada moral44.

43
Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 4237-4243).
Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.
44 Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 4259-4262).

Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.


A segunda característica seria uma comunidade verdadeira, não moldada
pelas coisas ruins que a cultura pode nos trazer e querer por em prática em
nossas comunidades coisas nocivas que a cultura oferece:

Toda pessoa que vive em uma sociedade “moderna” está


sujeita a um bombardeio quase contínuo de idéias,
imagens, slogans e histórias que pressupõem uma
estrutura de plausibilidade radicalmente diferente daquela
que é controlada pela compreensão cristã da natureza e do
destino humanos. O poder da mídia contemporânea para
moldar o pensamento e a imaginação é muito grande.
Mesmo os poderes críticos mais alertas são facilmente
oprimidos. Uma congregação cristã é uma comunidade na
qual, através da constante lembrança e ensaio da
verdadeira história da natureza e destino humanos, pode
ser mantida uma atitude de saudável ceticismo, um
ceticismo que permite a participação na vida da sociedade
sem ser confundido. e iludido por suas próprias crenças
sobre si mesmo. E, se a congregação deve funcionar
efetivamente como uma comunidade de verdade, sua
maneira de falar a verdade não deve estar alinhada com as
técnicas da propaganda moderna, mas deve ter a
modéstia, a sobriedade e o realismo que são próprios de
um discípulo. de Jesus45.

A terceira característica é uma comunidade que vive para o próximo e não


para si mesma. A Igreja não pode se tornar um “clube de final de semana” para
seus membros, a igreja local deve logicamente cuidar de si mesma como
organismo local, mas o fim dela não deve ser esse, a Igreja deve ter uma visão
missional e ir além das quatro paredes:

Será uma comunidade que não vive para si mesma, mas


está profundamente envolvida nas preocupações de sua
vizinhança. Será a igreja para o lugar específico onde ela
vive, não a igreja para aqueles que desejam ser membros
dela - ou melhor, será para eles na medida em que estejam
dispostos a ser para a comunidade mais ampla. É muito
significativo que, no uso consistente do Novo Testamento,
a palavra ekkLēsia seja qualificada apenas de duas
maneiras; é "a Igreja de Deus" ou "de Cristo" e é a igreja
de um lugar. Uma congregação cristã é definida por essa

45Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 4266-4273).


Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.
dupla relação: é a embaixada de Deus em um lugar
específico. Qualquer um desses relacionamentos vitais
pode ser negligenciado. A congregação pode ser tão
identificada com o lugar que deixa de ser o veículo do
julgamento e misericórdia de Deus para aquele lugar e se
torna simplesmente o foco da auto-imagem das pessoas
daquele lugar. Ou pode estar tão preocupado com a
relação de seus membros com Deus que volta as costas
para a vizinhança e é percebido como irrelevante para suas
preocupações. Com o desenvolvimento de estruturas
denominacionais poderosas, agências nacionais para
evangelismo ou ação social, pode acontecer que essas
coisas não sejam mais vistas como responsabilidade direta
da congregação local, exceto na medida em que elas são
chamadas a apoiá-las financeiramente. Mas se a
congregação local não é percebida em sua própria
vizinhança como o lugar de onde a boa notícia transborda,
os programas de ação social e política lançados pelas
agências nacionais tendem a perder sua relação integral
com as boas novas e chegar a ser visto como parte de uma
cruzada moral em vez de parte do evangelho. A
congregação local é o lugar onde a relação apropriada é
mais fácil e naturalmente mantida46.

A quarta característica que Newbigin nos traz é a da Igreja que prega o


Sacerdócio Universal dos crentes, em que todos os membros são chamados a
serem equipados e levarem a bandeira do Reino de Deus adiante. Crentes que
saiam da zona de conforto dos bancos da igreja local e se envolvam com o
chamado de Cristo para pregação do evangelho e a manifestação dos dons que
foram distribuídos para a Igreja:

Uma comunidade onde homens e mulheres estão


preparados e apoiados no exercício do sacerdócio no
mundo. A Igreja é descrita no Novo Testamento como um
sacerdócio real, chamado para “oferecer sacrifícios
espirituais aceitáveis a Deus” e para “declarar os feitos
maravilhosos daquele que os chamou das trevas para a
sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2: 5). 9). O ofício de um
sacerdote é ficar diante de Deus em nome das pessoas e

46
Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 4273-4286).
Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.
estar diante das pessoas em nome de Deus. Jesus é o
único Sumo Sacerdote que sozinho pode cumprir e
cumpriu este ofício. A Igreja é enviada ao mundo para
continuar o que ele veio fazer, no poder do mesmo Espírito,
reconciliando as pessoas com Deus (João 20: 19-23). Esse
sacerdócio deve ser exercido na vida do mundo. É no
negócio secular comum do mundo que os sacrifícios de
amor e obediência devem ser oferecidos a Deus. É no
contexto dos assuntos seculares que o grande poder
liberado no mundo através da obra de Cristo deve ser
manifestado. A Igreja reúne todos os domingos, o dia da
ressurreição e do Pentecostes, para renovar sua
participação no sacerdócio de Cristo. Mas o exercício
desse sacerdócio não está dentro dos muros da Igreja, mas
nos negócios diários do mundo. É somente desse modo
que a vida pública do mundo, seus hábitos e suposições
aceitos, podem ser desafiados pelo evangelho e trazidos
sob a luz da verdade que foi revelada em Jesus. Pode ser
de fato o dever da Igreja, por meio de seus representantes
designados - bispos, sínodos e assembléias - falar uma
palavra de vez em quando para a nação e para o mundo.
Mas tais pronunciamentos só pesam quando são validados
pela forma como os cristãos estão realmente se
comportando e usando sua influência na vida pública. É
claro que também é verdade que os cristãos individuais
serão enfraquecidos em seus esforços para viver o
evangelho em compromissos seculares se o que eles estão
fazendo não tiver o apoio da Igreja como um todo. Existe
uma relação recíproca entre os pronunciamentos oficiais e
o compromisso individual. Tem que ser dito, eu acho, que
nos últimos anos tem havido uma disjunção amplamente
percebida entre os pronunciamentos oficiais e individuais47.

A quinta característica, é que a Igreja deve ser uma comunidade de


responsabilidade mútua. As ações do cristão dentro de sua comunidade servirá
de exemplo e luz para o mundo, quando demonstra que em sua comunidade as
pessoas se amam, que há cuidado mútuo, que é uma comunidade organizada.
Isso irá se refletir frente a desordem do mundo Pós-Moderno individualista:

Ser uma comunidade de responsabilidade mútua. Para que


a Igreja seja eficaz em defender e alcançar uma nova
47
Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 4286-4302).
Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.
ordem social na nação, ela deve ser uma nova ordem
social. A raiz mais profunda do mal-estar contemporâneo
da cultura ocidental é um individualismo que nega a
realidade fundamental de nossa natureza humana como
dada por Deus - a saber, que crescemos na verdadeira
humanidade somente em relacionamentos de fidelidade e
responsabilidade uns pelos outros. A congregação local é
chamada a ser e, pela graça de Deus, é uma comunidade
de responsabilidade mútua. Quando é assim, permanece
na comunidade mais ampla do bairro e da nação não
primariamente como promotora de programas de mudança
social (embora seja isso), mas principalmente como a
antecipação de uma ordem social diferente. Seus membros
serão defensores da libertação humana, sendo eles
mesmos libertados. Suas ações por justiça e paz serão
vistas como o transbordamento de uma vida em Cristo,
onde a justiça de Deus e a paz de Deus já são um tesouro
experiente48.

Finalmente, a última característica que Newbigin elenca para que a Igreja


atual seja relevante e capaz de ser luz no Mundo Pós-Moderno e transformá-lo
é que ela deve ser uma comunidade de esperança. O mundo atual já não suporta
mais a ideia de que a razão por si só basta para dar sentido a vida, tanto é que
o número de religiões que estão surgindo é enorme como já foi dito, e a busca
pelo sagrado e por uma experiência mística pelas pessoas tem crescido cada
vez mais:

Uma comunidade de esperança. Como já disse, acho que


uma das características mais marcantes da cultura
ocidental contemporânea é o virtual desaparecimento da
esperança. A crença no progresso do século XIX não nos
sustenta mais. Existe um pessimismo generalizado sobre o
futuro da civilização "ocidental". Muitos escritores cristãos
falam de nossa cultura em termos de constrangimento,
culpa e vergonha. Em seu estudo da sociedade ocidental
contemporânea, o escritor cristão chinês Carver T. Yu
encontra como seus dois elementos-chave "otimismo
tecnológico e pessimismo literário" (Ser e relação: uma
crítica teológica do dualismo ocidental e individualismo, p.
1). A tecnologia continua avançando com conquistas cada
vez mais brilhantes; mas os romances, o drama e a
literatura geral do Ocidente estão cheios de niilismo e

48Newbigin,Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 4320-4327).


Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.
desespero. Não é de surpreender que muitos ocidentais
sejam atraídos para os tipos orientais de espiritualidade,
nos quais a luta para alcançar o propósito de um criador
pessoal é substituída pela paz atemporal do misticismo
panteístico. Como tentei sugerir em um capítulo anterior, o
evangelho oferece uma compreensão da situação humana
que torna possível ser preenchido com uma esperança que
é tanto ansiosa quanto paciente, mesmo nas situações
mais desesperançadas. Devo repetir mais uma vez que é
somente quando estamos verdadeiramente “habituando” a
história do evangelho, apenas quando estamos tão
profundamente envolvidos na vida da comunidade que é
moldada por essa história que ela se torna nossa
verdadeira “estrutura de plausibilidade”, que nós são
capazes de viver de forma constante e confiante nessa
atitude de esperança ansiosa. Quase tudo na "estrutura de
plausibilidade" que é a habitação de nossa sociedade
parece contradizer essa esperança cristã. Tudo sugere que
é absurdo acreditar que a verdadeira autoridade sobre
todas as coisas é representada em um homem crucificado.
Nenhuma quantidade de argumentos brilhantes pode fazer
soar razoável para os habitantes da estrutura de
plausibilidade reinante. É por isso que estou sugerindo que
a única hermenêutica possível do evangelho é uma
congregação que acredita nisso. Se o evangelho deve
desafiar a vida pública de nossa sociedade, se os cristãos
devem ocupar o “terreno elevado” que eles desocuparam
no meio-dia da “modernidade”, não será formando um
partido político cristão, ou por campanhas agressivas de
propaganda. Mais uma vez, é preciso dizer que não pode
haver volta à era “constantiniana”. Será apenas por
movimentos que começam com a congregação local na
qual a realidade da nova criação está presente, conhecida
e experimentada, e da qual homens e mulheres irão a
todos os setores da vida pública para reivindicá-la para
Cristo, para desmascarar as ilusões que permaneceram
ocultas e expor todas as áreas da vida pública à iluminação
do evangelho. Mas isso só acontecerá se e quando as
congregações locais renunciarem a uma preocupação
introvertida por sua própria vida, e reconhecerem que
existem para o benefício daqueles que não são membros,
como sinal, instrumento e antecipação da graça redentora
de Deus por toda a vida de sociedade49.

49
. Newbigin, Lesslie. O Evangelho em uma Sociedade Pluralista (Locais do Kindle 4342-4349).
Wm. B. Eerdmans Publishing Co .. Edição do Kindle.
É extremamente difícil discordar do pensamento de Newbigin, ele
praticamente sintetizou o que aconteceu com a maioria das igrejas no Ocidente.
Igrejas que se acomodaram, que deixaram de lado a visão missionária, que o
evento mais importante é o culto de final de semana, igrejas que se tornaram
uma espécie de “clube” em que seus membros só se vêem aos finais de semana
por cerca de duas horas e voltam felizes para casa por ouvirem um bom sermão
do pastor. Igrejas que vivem para os próprios membros sem pensar nos de fora
e na missão que Deus lhes incumbiu de expandir o seu Reino e proclamar as
boas novas. Uma Igreja que se acomodou dentro de suas quatro paredes.
Mas ainda há tempo de voltarmos nossa visão para a Igreja que Jesus
sonhou, ainda há tempo de nos voltarmos para Deus e perguntarmos: “Senhor,
qual é o rumo que o Senhor deseja que sua comunidade tome? não o rumo que
nós como seres humanos desejamos, mas o rumo que o Senhor deseja”. Afinal
a Igreja apesar de tudo continua viva e existindo como o próprio Deus prometeu
que faria. Passamos por diversos momentos difíceis na história da Igreja e os
superamos, como por exemplo a Reforma Protestante frente todo o governo da
Igreja Católica e seu poderio, e com ela houve um grande despertamento para
com a Igreja de Deus. Acredito que mais do que nunca devemos levar a sério o
lema “Igreja Reformada sempre reformando” para que sejamos encorajados a
mudarmos o rumo da Igreja conforme a Vontade de Deus para com ela. Só assim
conseguiremos ser relevantes no mundo atual, e mostrar a todos que a Bíblia
contém a Verdade.

3.2 Uma Igreja Relevante no Mundo Moderno

Sabemos que não há verdade que se sobreponha a verdade bíblica e a


de Deus, e o desafio que temos é trazer ao mundo esta verdade, sendo luz do
Mundo e sal da Terra. Como então poderia a Igreja ser relevante para a
Sociedade e cumprir esse desafio no século XXI?
Acredito que um dos líderes mais promissores no atual momento em que
vivemos e que tem conseguido cumprir esse chamado com integridade e amor
perante Deus seja Timothy Keller.
O pastor presbiteriano Timothy Keller fundou em 1989 a igreja Redeemer
Presbyterian Church em Nova York, talvez o lugar em que mais se é possível ver
a fusão de culturas e ideias no mundo moderno diante da Pós-Modernidade. O
fato é que sua igreja é reconhecida mundialmente pelos atuais líderes religiosos
como uma igreja relevante, que se comunica com a sociedade, que atrai as
pessoas a sua volta, que é íntegra e ao mesmo tempo prega o verdadeiro
Evangelho de Deus. E além de tudo planta igrejas com os mesmos princípios ao
redor do mundo50.
Antes de plantar a Redeemer Timothy Keller conta que escreveu em um
papel três princípios que iria seguir depois de muito meditar:

Encontrei as seguintes três declarações escritas várias


vezes, em papel de anotações, que escrevia para mim
mesmo antes de conversar com as pessoas sobre a igreja.
Esta é a primeira versão de uma visão:

a) Queremos ser não apenas uma congregação para


nós mesmos, mas também para nossos amigos que ainda
não crêem em Cristo neste momento de suas vidas.
(Princípio: a convicção de que o evangelho é a chave para
mudar qualquer pessoa). Esta é a verdade que tanto
crentes como não crentes precisam ouvir constantemente.)

b) Não queremos ser apenas um ministério para nós


mesmos, mas também para a paz e o beneficio de toda a
cidade. Nosso alvo não é somente a maior igreja, mas
também a maior cidade. (Princípio: a convicção de que não
há um lugar melhor para um cristão viver e servir do que
uma grande cidade.)

c) Não queremos ser apenas uma igreja individual, mas


um movimento do evangelho servindo todas as igrejas e
plantando novas igrejas (Princípio: a convicção de que a
igreja real é tão diversa que inclui todas as raças e culturas,
e que nenhuma congregação individual poderia realmente
representar Cristo para a cidade)51.

Tim Keller, em sua visão inicial já pensava em como tornar a igreja que
iria plantar relevante. Seu foco seria o próximo, o benefício da cidade, e um
movimento evangelístico que abrangesse todo o Reino de Deus independente

50
Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.01-19.
51 Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja

Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.18.


da denominação religiosa. De fato sua igreja é reconhecida mundialmente pelo
excelente trabalho, reputação que possui e pelo plantio de igrejas no mundo
afora de igrejas que seguem sua filosofia de comunidade. Diferente de muitas
denominações que usurpam o evangelho, pregam aquilo que o homem quer
ouvir ou exploram e manipulam crentes, a Redeemer é uma igreja presbiteriana
séria, que prega o verdadeiro evangelho, e expande debaixo da autoridade de
Deus o seu Reino.
Timothy Keller no passar dos escreveu diversos livros e consolidou
diversos pensamentos sobre como uma igreja poderia conseguir se tornar
relevante e fazer a diferença no mundo moderno, e destacou quatro princípios
para que uma igreja conseguisse ser relevante no mundo moderno partindo do
local onde se encontra. O Primeiro princípio é aplicar o evangelho à cultura:

Talvez a melhor analogia para descrever tudo isto é aquela


da casa modelo. Somos uma comunidade modelo do reino
de Cristo na cidade incrédula. Em um pedaço da terra,
comprado com o sangue de Cristo, Ele desenvolve um
novo reino. Para como mostrar como este reino seria, ele
constrói uma casa modelo; eventualmente todo aquele
bairro se encherá daquele mesmo tipo de casa. Em seguida
ele convida o mundo para visitar a casa modelo para verem
como o bairro será. A igreja é quem mora naquela casa
modelo, e quem convida os vizinhos, abrindo suas portas
para que conheçam a Cristo. Evangelismo acontece
quando sinais são levantados, dizendo, “entre e dêem uma
olhada”... Como cidadãos desta nova cidade dentro da
velha cidade, e não apenas como sobreviventes, vemos
nossa propriedade como um presente de Jesus, nosso
Construtor (Lucas 17-20-21). Como residentes, e não como
peregrinos, esperamos o reino vindouro quando o Senhor
retornar de seu distante país (Lucas 19:12). A terra já é
dele... nesta casa modelo, viveremos nosso novo estilo de
vida como cidadãos da cidade celestial que um dia virá...
Não abandonaremos nossos trabalhos ou desertaremos a
cidade que existe hoje... Devemos buscar a paz e
prosperidade da cidade para a qual Deus nos chamara em
exílio (Jeremias 29:7). E nossos interesses nesta busca
tornam-se tão grandes quanto as cidades onde nosso
desenvolvimento divino será realizado....Jesus Cristo se
tornourealm ente e completamente humano,
completamente engajado conosco – e sem um único traço
de pecado que seja. A encarnação tornou-se nosso modelo
mais extremo. Sabíamos que Deus era amoroso, sábio, e
santo, mas Cristo trouxe o amor, sabedoria e santidade de
Deus para perto de nós, e nos mostrou isto de forma
concreta. Isto é o que iremos fazer. Os cristãos devem
verdadeiramente se envolver na cultura, e ainda assim
manterem sua cidadania celestial (Filipenses 3:20).
Devemos trazer amor, sabedoria e santidade para o meio
de nossa cultura, e fazer isto sem pecado52.

Neste princípio, Tim Keller nos diz que a Igreja deve ser o modelo a ser
seguido pela cultura. A igreja deve apresentar o modelo ideal de vida. E para
isso não temos que esperar que os outros venham até nós, mas nós temos que
ir até eles com atos e palavras mostrando que conhecemos a Verdade e que ela
é boa e agradável, assim como Cristo veio ao mundo para nos salvar (o
movimento de Deus em direção ao ser humano), a Igreja deve ir ao encontro das
pessoas e da cultura, mostrar qual é a vontade e o desejo de Deus para elas.
O segundo princípio para Timothy Keller para que uma igreja seja
relevante é que ela guie a sociedade para uma mudança espiritual:

Esdras e Neemias ministraram aos exilados que


retornavam do domínio Persa no período de 430-400 AC.
O propósito deles era encorajar os judeus através da
revelação de que seu Deus soberano estava continuando
seu trabalho redentor e restabelecendo a verdadeira
adoração entre eles. Esdras tinha autoridade
governamental, mas sua qualificação mais importante era
ensinar as leis de Deus. A palavra escrita de Deus tornou-
se uma força movedora em seu meio. Ele era
poderosamente usado por Deus para trazer renovação
espiritual em um tempo de grande adversidade e
desencorajamento. Neste papel, Esdras é um modelo
bíblico de líder de mudança espiritual que influenciava toda
uma sociedade53.

Neste princípio Timothy Keller usa o exemplo de Esdras e Neemias como


líderes que guiaram Israel a se reestabelecerem como uma comunidade perante
Deus, a se religarem espiritualmente com Deus. No mundo Moderno temos que
ter a visão de que a Igreja é a única que é capaz de guiar a humanidade até

52
Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.273-274.
53
Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.283.
Deus. Como Igreja temos o dever de religar a humanidade espiritualmente até
Deus. Como comunidade local devemos ser cristãos como Esdras e Neemias,
que em seu tempo foram usados por Deus para levar Israel a se reestabelecer
espiritualmente como nação perante Deus. Devemos em nosso contexto local
deixar Deus guiar nossas vidas e nos usar para que ocorra o reestabelecimento
espiritual de toda a sociedade a nossa volta perante Deus.
O terceiro princípio é ideia de que a Igreja deve trazer transformação
social onde se localizar:

Neemias orou e agiu. Sua vida de oração era importante,


mas o que ele fazia também era, o desenvolvimento e a
organização da comunidade. Mais do que qualquer um
nas escrituras, este líder integrava as perspectivas e
ações necessárias para transformar cidades hoje em
dia.... Observamos com admiração como ele fez sua
cuidadosa pesquisa durante a noite , e então mobilizou toda
a comunidade para reconstruir o muro. Ele não usou sua
credibilidade Persa para buscar a mão de obra da
construção para fazer o muro. Ele entendeu que, para os
moradores explorados da cidade, este muro serviria tanto
para sua identidade como sua segurança. A comunidade,
tanto de crentes como de incrédulos, trabalharam naquele
muro com suas próprias mãos. Ele se aproximou das
pessoas, não como vítimas que precisavam dele, mas
como pessoas com a capacidade de mudar sua situação.
Isto é de suma importância. Neemias entendeu a realidade
ecológica de que uma comunidade saudável é um sistema
de apoio crucial para pessoas e famílias saudáveis.54

Para Tim Keller, a Igreja deve estar envolvida na transformação social a


sua volta. Pautado no modelo de Neemias, Keller afirma que para sermos
relevantes no mundo moderno a Igreja deve ser uma agente de transformação
em sua localidade, pensar em como ela pode contribuir com sociedade a sua
volta. Desta forma, a sociedade veria a Igreja com outros olhos e seria uma
abertura para pregar o evangelho.
O quarto e último princípio é o de que a Igreja deve ser autora de uma
mudança cultural na sociedade através de seus membros:

54
Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.301.
Nossas cidades estão cheias de iniquidade. Nossa cultura
é descrita como essencialmente pós-cristã, secular e
frequentemente totalmente antagonista aos valores
bíblicos e hostil às virtudes bíblicas. O mal esta se
multiplicando e os pobres enfrentam uma situação
duplamente ameaçadora....Ester nos dá permissão para
refletirmos sobre nosso chamado para servir a Deus dentro
da Matriz de um sistema secular e opressivo para
confrontar o mal e trabalhar pela justiça55.

Ele ainda afirma a importância da profissão do crente como oportunidade


para mudar a cultura local:

O evangelho capacita os cristãos para trabalharem em suas


vocações com distinção e excelência cristã. O resultado é
que a cultura da cidade é transformada de dentro para
fora56.

Neste último princípio Keller afirma que devemos ser agentes de


transformação da cultura local, assim como Ester foi em sua época. Devemos,
onde quer que estejamos, sermos crentes comprometidos em fazer as coisas
conforme a vontade de Deus. Através de nosso comprometimento em sermos
fiéis a Deus em tudo que fazemos, incluindo nosso trabalho diário, estaríamos
nos opondo às coisas erradas que ocorrem no mundo, e na medida que nos
opomos estaremos sendo agentes de mudança cultural na sociedade.
Portanto, para Timothy Keller, para que a Igreja seja relevante no mundo
moderno, ela deve ser uma Igreja atuante, que aplica o Evangelho à cultura, que
cause transformação espiritual, social e cultural na sociedade.
Com base em todo este capítulo podemos concluir que o Mundo padece
por seguir suas próprias verdades e que a Igreja é a única capaz de trazer a cura
para este mal, por ser o corpo de Cristo, representante do seu Reino e portadora
do Evangelho de Cristo, a única cura possível para a sociedade moderna. Porém
a Igreja para ser eficaz nesse trabalho deve fazer uma autocrítica bíblica do que

55
Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.312.
56
Keller, Timothy, Thompson, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Editora Igreja
Presbiteriana Redenção. Edição de 2002. p.311.
de fato é ser Igreja, e após essa autocrítica, “reformar o que precisa ser
reformado” e então ser agente de transformação na sociedade.

CONCLUSÃO

Através deste trabalho podemos concluir que a Pós-Modernidade, apesar


de nos trazer coisas boas como o avanço da tecnologia e a aproximação das
pessoas no mundo por meio da globalização e modernização, também trouxe
inúmeros males como o fato de termos aberto mão repentinamente de princípios
e valores que nos guiaram como humanidade por anos.
Vivemos dias em que não se pode dizer que há uma verdade absoluta
pelo fato de que isto causaria mal estar na convivência humana. Por conta disto
cada um possui a “verdade” que quiser e lhe faz feliz.
Porém, de fato existe sim, dentro do coração humano resquícios de que
existe uma verdade absoluta. Por exemplo, independente de raça ou cultura,
nenhum ser humano (conscientemente são) é capaz de concordar com alguém
que mata outra pessoa injustamente. Isto é o que Paula afirma em Romanos ser
a lei de Deus escrita em nossos corações, pois o ser humano apesar da queda,
ainda ecoa em seu coração resquícios da imagem e semelhança de Deus.
Como cristãos, acreditamos que Deus, em sua misericórdia e soberania
permitiu que sua verdade chegasse até nós através da Bíblia, que através dos
séculos foi escrita por homens inspirados por ele, homens estes de diferentes
épocas, culturas, contextos e lugares. Pela fé, acreditamos que a Bíblia contém
a Palavra de Deus e sua Verdade e que somente esta seria capaz de restaurar
a ordem e a harmonia no mundo moderno.
A Igreja, o verdadeiro corpo de Cristo, é a única capaz de mostrar ao
mundo a vontade de Deus, pois ela é portadora da Palavra de Deus e incumbida
de pregá-la.
Porém, a Igreja vive um momento de crise devido aos resquícios do
Iluminismo e dos impactos da Pós-Modernidade. De uma forma geral, a Igreja
não é mais como a Igreja Primitiva em Atos, o modelo ideal de Igreja, e
precisamos restaurar as características que a Bíblia nos deixou como modelo
para sermos Igreja.
Somente “reformando aquilo que precisa ser reformado” conseguiremos
como Igreja impactar o mundo moderno com a Verdade de Deus contida na
Bíblia.
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