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Revista Adusp Janeiro 2010

Avaliação nas políticas


educacionais atuais
reitera desigualdades

E D U C A Ç Ã O
Sandra Zákia Sousa
Professora na Faculdade de Educação da USP
Valéria Virgínia Lopes
Doutora em Educação pela USP

D O S S I Ê

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Janeiro 2010 Revista Adusp

“Os significados que assumem as avaliações, seja para os gestores das


instâncias centrais e intermediárias responsáveis pela administração
da educação, seja para as instituições de ensino, vão depender,
essencialmente, do uso que se fizer de seus resultados. As decisões
deles decorrentes tanto podem servir a propósitos de democratização,
como podem potencializar iniciativas que intensifiquem desigualdades
e levem à exclusão. Neste momento, acolhem-se, nas políticas de
avaliação educacional, princípios de desigualdade e competição”

Não há neutralidade nos cami- subsidiando os processos decisó- que, no plano do discurso, visam à
nhos utilizados em uma atividade rios e as intervenções dos gestores e qualidade de ensino para todos.
avaliativa. Avalia-se para afirmar profissionais da educação atuantes Como efeito colateral, a opção pe-
valores, ou seja, induzir mudanças nas diferentes instâncias dos siste- la avaliação em larga escala vem pro-
em uma dada direção. mas e instituições educacionais. porcionando o estabelecimento de
No caso das avaliações de siste- A tônica das iniciativas governa- comparações e competitividade en-
mas, que têm nas provas seu princi- mentais em avaliação vem recain- tre instituições educacionais e entre
pal instrumento, estas sinalizam, a do na verificação do desempenho governos subnacionais e, ainda, tem
partir de padrões pré-estabelecidos, dos estudantes, por meio de provas; sido mobilizadora da opinião pública,
as expectativas a serem atendidas no seus resultados são interpretados muitas vezes de modo espetacular.
decorrer da trajetória escolar, ou se- como evidência da qualidade de Produto da reforma educacional
ja, indicam o que se considera válido ensino de um dado sistema, de uma produzida a partir da reforma geren-
em termos de resultados escolares. dada rede ou instituição. Ao se en- cial do Estado brasileiro, a avaliação
Do ensino fundamental ao su- fatizar os produtos em detrimento visa gerar, gradualmente, impactos
perior, a avaliação de sistemas vem dos processos, bem como, ao não na lógica de gestão das políticas pú-
contribuindo para a disseminação se considerar, nas análises dos re- blicas, com reflexos nas relações e
do debate sobre a qualidade que se sultados das provas, os contextos de nos processos de trabalho.
tem e em relação à qualidade que produção e reprodução dos saberes Dentre as iniciativas do governo
se quer alcançar. Seus mecanismos escolares ou acadêmicos e os con- federal estão o Sistema Nacional de
vêm pautando as políticas públicas textos sociais de estudantes e pro- Educação Básica (Saeb), o Exame
educacionais no Brasil, nas últimas fessores, está-se optando por con- Nacional do Ensino Médio (Enem)
duas décadas, ancorando-se no pro- trole e regulação, desprezando-se o e o Sistema Nacional de Avaliação
pósito de alavancar a qualidade, potencial indutor para as mudanças da Educação Superior (Sinaes).

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mente, do uso que se fizer de seus sistemas educacionais (escolas, mu-
resultados. As decisões deles de- nicípios, estados, regiões e Brasil).
correntes tanto podem servir a pro- Isso quer dizer que cada uma das
“A ampla difusão dos
pósitos de democratização, como partes do sistema é responsável por
resultados das avaliações, podem potencializar iniciativas que seus resultados e, também, pelos
intensifiquem desigualdades e le- resultados gerais, criando uma re-
a responsabilização pelos
vem à exclusão. de de compromissos e cobranças,
resultados e o uso de A ampla difusão dos resultados permitindo a identificação de “bem
das avaliações, em nome da trans- sucedidos” e “fracassados”.
incentivos simbólicos ou
parência, a responsabilização pe- Além da responsabilização pelos
monetários são iniciativas los resultados e o uso de incentivos resultados, a avaliação realizada em
que gradualmente vêm se simbólicos ou monetários, são ini- âmbito nacional carrega grande po-
ciativas que gradualmente vêm se tencial para a conformação dos cur-
inserindo nos programas inserindo nos programas e planos rículos. Embora se possa discordar
governamentais com vistas à governamentais com vistas à indu- da tendência de homogeneização
ção de mudanças. do que se ensina em todo o Brasil,
indução de mudanças” É o caso, por exemplo, da divul- esse não parece ser o principal risco
gação dos resultados do Enem por que o desenho da política de ava-
escola, embora seu delineamento liação apresenta quando se trata da
O Saeb é constituído por duas atual permita apenas a avaliação do educação básica. O que se destaca
avaliações: a Avaliação Nacional da estudante. Também, a opção pela aqui, como preocupação central, é
Educação Básica (Aneb), que carre- Prova Brasil, cujos resultados es- a redução dos currículos, uma vez
ga informalmente o nome do siste- tão disponíveis para cada uma das que a Prova Brasil, principal indi-
ma de avaliação, e a Avaliação Na- redes e para cada uma das escolas, cador da qualidade da Educação
cional do Rendimento Escolar (An- é exemplar das perspectivas que se Básica, mede o desempenho dos
resc), conhecida como Prova Brasil. colocam atualmente de uso dos re- estudantes apenas em Língua Por-
A Aneb é realizada por amostragem sultados. A possibilidade de acesso tuguesa e Matemática.
em cada unidade da federação e a aos resultados por escola e por rede
Prova Brasil, de base censitária, tem de ensino e a criação do Índice de
foco nas unidades escolares. Desenvolvimento da Educação Bá- “Nas avaliações, destacam-
A avaliação amostral, com a qual sica (Ideb), pelo governo federal,
se a ênfase nos resultados; a
as escolas e até mesmo os municí- potencializou as iniciativas de res-
pios nunca se identificaram, somada ponsabilização que vinham se esbo- atribuição de mérito a alunos,
à necessidade de fazer da avaliação çando de modo tímido em alguns
instituições, redes; predomínio
um instrumento de gestão para/das estados e municípios.
unidades escolares levou à proposi- Os resultados da Prova Brasil, de dados quantitativos etc. Os
ção da Prova Brasil, cujos resultados combinados com as taxas de apro- resultados são divulgados pela
estão disponíveis para cada uma das vação informadas pelo Censo Es-
redes e para cada escola. colar, produzem o Ideb. Esse índice mídia em forma de ranking,
Os significados que assumem as pretende provocar a melhoria da reforçando-se assim o papel da
avaliações, seja para os gestores das qualidade do ensino nas escolas,
instâncias centrais e intermediárias uma vez que além de se saber em avaliação no gerenciamento
responsáveis pela administração da qual patamar se está, estão pre- das políticas educacionais”
educação, seja para as instituições vistas, até 2022, metas a serem al-
de ensino, vão depender, essencial- cançadas em todas as esferas dos

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As questões que se colocam são: das IES é uma conformação aos
essas áreas do conhecimento são su- padrões estabelecidos sem, no en-
ficientes para se medir a qualidade tanto, alterar substantivamente o “Mapeamento realizado em
do ensino? A inserção e inclusão das projeto institucional em curso”.
novas gerações — papel social da es- Nos padrões de avaliação, da 2007 registra a existência
cola básica — se dá somente a partir Educação Básica ao Ensino Supe- de sistemas próprios de
de bons desempenhos nessas áreas? rior, como observam Sousa e Oli-
Ainda sobre o potencial de res- veira: avaliação em 14 unidades
ponsabilização que essas avaliações “(...) a crença no poder indutor da federação. No entanto,
assumem na organização das políti- da competição, gerada pela divul-
cas educacionais, está o suposto de gação dos rankings, desconsidera os
embora a avaliação tenha se
que a avaliação gera competição e a seus limites. Exatamente por tra- disseminado, seus resultados
competição gera qualidade. O pro- tar-se de um mercado segmentado,
tinham pouco impacto na
blema a ser equacionado é bastante nem todos buscarão situar-se nos
conhecido: “políticas educacionais primeiros lugares do ranking, mas indução de propostas e ações”
formuladas e implementadas sob os sim no melhor lugar possível em
auspícios da classificação e seleção função dos valores investidos. Nesse
incorporam, conseqüentemente, a tipo de lógica, há espaço, também, Um dos reflexos imediatamen-
exclusão, como inerente aos seus para a instituição de baixa qualida- te visíveis dos efeitos da legitimida-
resultados, o que é incompatível de a baixo custo.” (2003, p. 889) de que a avaliação alcançou como
com o direito de todos à educação” Quanto às características dessas instrumento de regulação e gestão
(SOUSA, 2009). avaliações, destacam-se: a ênfase das políticas educacionais está na
No caso do Ensino Superior, nos resultados; a atribuição de mé- criação de sistemas próprios de ava-
a situação não é muito diferente. rito a estudantes, instituições ou re- liação da Educação Básica, por esta-
Sua expansão, entre os anos 1995 e des de ensino, com classificação; o dos e municípios brasileiros. Mape-
2002, concentrou-se na esfera pri- predomínio de dados quantitativos; amento realizado em 2007 sobre as
vada; e a avaliação, apresentada e a desarticulação entre a avaliação iniciativas de avaliação vigentes em
como meio de estabelecer algum externa e os demais procedimentos nível estadual registra a existência
controle de qualidade sobre essa realizados pelas escolas e/ou redes de sistemas próprios de avaliação
expansão, focou no desempenho de ensino e IES. em 14 unidades da federação (LO-
dos estudantes. Criado o Sistema Somada a tais características es- PES, 2007), sendo que, em 12 delas,
Nacional de Avaliação da Educa- tá a divulgação dos resultados pela a avaliação focava o desempenho do
ção Superior (Sinaes), ocorre, além mídia, em forma de ranking. Essa estudante em provas padronizadas.
da avaliação de desempenho, a ava- abordagem reforça ainda mais o No entanto, embora a avaliação
liação das condições institucionais papel que a avaliação assume no tenha se disseminado como com-
de oferta do ensino. Ampliou-se a gerenciamento das políticas educa- ponente fundamental da gestão,
concepção; no entanto, a verifica- cionais, ou seja, “no marco político, seus resultados, até recentemente,
ção das instalações, equipamentos e o aparelhamento e a prática da ava- tinham pouco impacto na indução
projeto pedagógico das instituições liação não prescindiram da busca de propostas e ações. O mesmo ma-
de ensino superior (IES) não per- de legitimidade, apoiando-se esta peamento informa que, na maioria
mite alcançar as dinâmicas internas na difusão da idéia e na indução a dos sistemas estaduais de educação,
e relações de trabalho; tampouco um sentimento de necessidade da com sistemas próprios de avaliação,
se verifica melhor desempenho dos avaliação para qualificar a gestão fazia-se pouco uso dos resultados.
estudantes. Segundo Sousa e Bruno da educação” (SOUSA; FREITAS, Quando utilizados, os resultados das
(2008), “ao que parece, a tendência 2004, p. 170). avaliações auxiliavam na formulação

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de professores e na melhoria de
equipamentos para as escolas, ve-
rificam-se baixos desempenhos dos
estudantes.
O reconhecimento de que o dese-
nho de avaliação não tem ajudado a
criar cenários de mudanças positivas
— pois não se verifica significativa
melhoria de desempenho dos estu-
dantes, e tampouco tem mobilizado
as escolas e as IES para o debate
acerca de possíveis melhorias no en-
sino — fez com que novas iniciativas
se pusessem em movimento.

“Em 2001, os resultados


do Saresp foram até
utilizados para definir
de propostas de cursos de formação em ranking vem provocando mi-
aprovação ou reprovação
de professores ou na produção de grações de estudantes, sobretudo
materiais didáticos. Além disso, os no Ensino Médio. Apoiadas nos ao final dos ciclos do ensino
relatórios de avaliação chegavam às resultados das avaliações, muitas fundamental em SP (4ª e 8ª
escolas muito tempo depois da rea- famílias procuram matricular seus
lização da avaliação e sua redação, filhos nas melhores colocadas. Não séries). Tomando para si a
em alguns casos, era muito superfi- nos esqueçamos, no entanto, de que autoridade para aprovar ou
cial; em outros, muito especializada. essa informação muda ano a ano,
Em ambas as situações, faziam pou- pelo menos entre as “dez mais”; e, reprovar, a SEE-SP criou
co sentido para produzir alterações principalmente, do fato de que a um clima de animosidade na
nas práticas dos professores. possibilidade de escolha é algo que
No ensino superior, estudos se coloca para poucos. comunidade escolar”
revelam que as mudanças recaem O que se verificou, até muito
sobre a construção de currículos recentemente, foi a tímida capaci- Algumas dessas iniciativas visam
apoiados nas Diretrizes Curricula- dade da avaliação de induzir ações, agregar conseqüências aos resulta-
res Nacionais (DCN); na melhoria evidenciando o não enraizamen- dos das avaliações. São ilustrativas
de bibliotecas, equipamentos, labo- to da lógica da competição, que se dessa tendência as iniciativas que
ratórios e instalações e na contra- acreditava poderia, por si mesma, vêm sendo conduzidas pela Secre-
tação de professores titulados em movimentar dirigentes da educa- taria de Estado da Educação de
regime de tempo integral, o que, no ção, professores, estudantes e famí- São Paulo (SEE-SP).
entanto, não necessariamente signi- lias na busca da qualidade. Em primeiro lugar destaca-se a
fica dedicarem-se a outras ativida- O que parece surpreendente, centralidade da avaliação na orga-
des além de aulas (REAL, 2007). no desenho geral da política, é que nização da política educacional no
Para as escolas particulares de após anos de investimentos na ava- estado. Desde sua criação, em 1996,
ensino, a divulgação de resultados liação em larga escala, na formação o Sistema de Avaliação do Rendi-

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mento Escolar do Estado de São e taxas de aprovação informadas pelo
Paulo (Saresp) vem realizando en- Censo Escolar).
saios mais ou menos bem sucedidos Por fim, e quase como um cami- “Ao estabelecer a premiação
de ser o principal mecanismo de nho natural, os resultados do Sa-
gestão das políticas e das escolas. resp são fonte de informação para ou o incentivo financeiro
Vale lembrar que o Documento a tomada de decisão relativa à re- como mecanismo de gestão
de Implantação do Saresp (1996, muneração por desempenho para
p. 6) anuncia que um de seus obje- os profissionais das escolas. Para do sistema de ensino,
tivos é “criar novas formas de gerir remuneração, além dos resultados fortalece-se a perspectiva da
o sistema de ensino e as escolas”. de desempenho dos estudantes,
Com variações metodológicas re- também contam a assiduidade dos
competição, minorando as
lativas aos instrumentos de coleta profissionais e a aprovação/repro- possibilidades de cooperação
de dados, à aplicação das provas e vação dos estudantes.
e construção de identidade de
à definição das séries a serem ava- Essa não é uma medida nova no
liadas, o Saresp manteve-se como Brasil: a Secretaria de Educação rede entre as escolas”
mecanismo de informação sobre o do Rio de Janeiro vem premiando
desempenho dos estudantes. Em escolas, com incentivos financei-
2001, os resultados do Saresp foram ros, desde 2000. Mas, nesse caso, O quarto ingrediente está em
até utilizados para definir aprova- estão contabilizados aspectos da movimento. Até o momento, são
ção ou reprovação dos estudantes gestão escolar, além do desempe- poucos os estudos, no Brasil, que
ao final dos ciclos que organizam o nho dos estudantes. abordam as iniciativas dessa natu-
Ensino Fundamental em São Pau- Análise feita por Brooke (2006) reza e ainda não há elementos que
lo (4ª e 8ª séries), gerando muita sobre o futuro das políticas de res- permitam concluir acerca de seus
polêmica. Desautorizando as esco- ponsabilização no Brasil, tendo em impactos. Sabe-se que, mesmo em
las e tomando para si a autoridade conta a experiência de outros pa- países que se utilizam desses meca-
para aprovar ou reprovar, a SEE- íses, particularmente dos Estados nismos, como os Estados Unidos,
SP criou um clima de animosida- Unidos, identifica o movimento de as pesquisas não são conclusivas
de em toda a comunidade escolar: acréscimo de ingredientes na com- (Carnoy e Loeb, 2004).
crianças, adolescentes, familiares e posição do cenário favorável à im- Ao estabelecer a premiação ou o
profissionais do ensino. Dado o im- plantação dessas políticas: incentivo financeiro como mecanis-
pacto da medida, a SEE-SP recuou 1. a decisão, por parte das auto- mo de gestão do sistema de ensino,
na iniciativa e o Saresp voltou aos ridades, de tornar públicas as dife- fortalece-se a perspectiva da compe-
moldes anteriores. renças de nível de desempenho das tição, minorando as possibilidades
Em 2007, nova reestruturação escolas (ingrediente autoridade); 2. de cooperação e de construção de
vai ampliar os poderes da avaliação: o uso de testes ou procedimentos identidade de rede entre as escolas.
vinculação da avaliação ao alcance padronizados para fornecer este tipo Além disso, elementos muito
de metas para cada uma das escolas de informação (ingrediente infor- objetivos são decisivos para o de-
(Plano de Metas para 2010, Governo mação); 3. os critérios para analisar sempenho dos alunos: sua condição
do Estado de São Paulo). Essa mu- esta informação e para determinar social de origem e as condições de
dança preparou o terreno para a cria- quais escolas têm melhor desem- oferta do ensino — sejam elas de
ção do Índice de Desenvolvimento penho (ingrediente padrões); 4. os natureza física, como a infraestru-
da Educação do Estado de São Paulo critérios para a aplicação de incenti- tura, os equipamentos e os mate-
(Idesp), em 2008, cuja composição vos ou sanções conforme os padrões riais didáticos disponíveis, sejam
assemelha-se à do Ideb (desempenho estabelecidos (ingrediente conseqü- elas de natureza humana, como a
dos estudantes em prova padronizada ências). (BROOKE, 2006, p. 379) formação inicial e continuada dos

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profissionais das escolas. “vestir a camisa”. No caso da rede dos professores e dos demais profis-
Condições objetivas muito di- estadual de São Paulo, muito pre- sionais das escolas na elaboração e
ferenciadas conflitam com o esta- cisa ser feito, uma vez que a rota- na implementação de ações é urgen-
belecimento de padrões externos e tividade de profissionais tem sido te. A defesa da qualidade é bandeira
supostos patamares de qualidade. uma marca indelével. Além disso, comum, o problema está em saber
Mas, ao que parece, não se pre- jogam-se para dentro das escolas e de qual qualidade se trata. Porque,
tende que todas as escolas da rede para o seu grupo de profissionais insistimos, estamos falando da in-
estadual de São Paulo atinjam pata- as cobranças, as desconfianças, as clusão e inserção das novas gerações
mares iguais de qualidade. A Nota inseguranças. Essa não parece ser — papel extremamente importante.
Técnica do Idesp esclarece: uma boa aposta. O debate sobre o que é, afinal,
“(...) cada escola possui uma me- a qualidade que se espera alcançar
ta própria, ou seja, as metas anuais não pode se restringir à constatação
consideram as peculiaridades da es- “A qualidade que se tem da qualidade que se tem. Precisa
cola e estabelecem passos para a avançar. É preciso encarar que a
na educação pública está
melhoria da qualidade de acordo qualidade que se tem na educação
com aquilo que é possível a escola profundamente ancorada pública está profundamente ancora-
atingir e do esforço que precisam re- da nas condições de vida das pessoas
nas condições de vida
alizar. Por um lado, escolas com bai- e que a escola — que muitas vezes
xos IDESPs têm um caminho mais das pessoas e a escola é a única oportunidade de contato
longo a percorrer em relação àque- precisa criar novos canais com a cultura sistematizada — pre-
las escolas com IDESPs mais eleva- cisa criar novos canais de diálogo,
dos. Por outro lado, pequenas ini- de diálogo, de difusão e de difusão e construção de conheci-
ciativas ou mudanças na rotina das construção de conhecimento, mento, contando para isso com con-
escolas com baixos IDESPs geram dições objetivas de realização.
avanços muito maiores do que para contando com condições Neste momento, acolhem-se,
escolas que já têm IDESPs elevados. objetivas de realização” nas políticas de avaliação educa-
Desta forma, todas as escolas têm cional, princípios de desigualdade
as mesmas condições de cumprir as e competição. Vamos ver, em bre-
metas que foram estabelecidas” (in: Assim, retoma-se, aqui, a questão ve, mais uma onda da avaliação.
http://idesp.edunet.sp.gov.br/Arqui- da qualidade. Se é certo que as polí- Serão punidos aqueles que não
vos/NotaTecnicaPQE2008.pdf). ticas públicas vêm buscando meca- contribuem para a melhoria? Se
Um elemento importante a ser nismos de superação da baixa quali- forem, quem primeiro será atingi-
considerado em qualquer competi- dade, com estratégias de indução, do: professores ou estudantes? A
ção que envolve um grupo é o po- como é o caso da avaliação externa, história da educação no Brasil faz
tencial que seus membros têm de parece óbvio que o envolvimento supor que serão os estudantes.

Referências Bibliográficas
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