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FARMACOTÉCNICA

AULA 01 – INTRODUÇÃO
Ramo da farmácia praticado por profissionais farmacêuticos que tem por objetivo a
manipulação de princípios ativos para a fabricação de medicamentos. Compete à
disciplina estudar a forma farmacêutica mais adequada e o melhor meio de conservação
dos medicamentos, de modo a prolongar o seu período de utilização.

Motivos para o crescimento do setor

• Movimento da “Assistência Farmacêutica”;


• Dificuldades de terapias medicamentosas individualizadas que não estão
disponíveis no mercado;
• Disponibilidade de novos equipamentos, materiais, fornecedores e legislações;
• Informações sobre a compatibilidade e estabilidade de preparações farmacêuticas
manipuladas.
o São testes de controle de qualidade utilizados em medicamentos
manipulados: características organolépticas, verificação de peso e volume,
controle de pH, determinação de viscosidade e densidade relativa, avaliação
do grau de floculação, redispersibilidade, volume de sedimentação e
controle biológico. Geralmente, os medicamentos apresentam 120 dias de
estabilidade.

Fatores para a consolidação da farmácia magistral

• Implantação de sistema de gestão da qualidade; treinamentos contínuos;


• Informatização, emprego de novas tecnologias;
• Adaptação de tecnologias já existentes à escala industrial;
• Cumprimento da legislação sanitária;
• Comportamento profissional ético;
• Adoção de política adequada de formação de preços e de estratégias de
marketing.

Benefícios de medicamentos manipulados

• Versatilidade posológica (ajuste de doses ou concentração relacionados à forma


farmacêutica);
• Versatilidade de associação de fármacos (permite realizar associações de
fármacos que, muitas vezes, não estão disponíveis no mercado tradicional);
• Possibilidade de alterar forma farmacêutica e excipientes (p. ex., sabor, corante ou
até mesmo em casos de alergias alimentares [lactose]);
• Resgaste de medicamentos descontinuados (p. ex., inviáveis, economicamente,
para a indústria, apesar de necessários; medicamentos que sofreram alterações na
composição dose ou forma farmacêutica);
• Manipulação de medicamentos órfãos (destinados a doenças raras na população
em geral e, consequentemente, caros ao consumidor);
• Economia (dispensa marketing do MEDICAMENTO [não do estabelecimento], por
se tratar de compostos individualizados);
• Personalização da terapêutica;
• Desestimula a automedicação, permitindo ao profissional farmacêutico auxiliar os
consumidores sobre o uso racional de medicamentos.

Conceitos importantes

• Forma farmacêutica: forma de apresentação do medicamento. Ex.: comprimido,


xarope, cápsula;
• Droga: matéria-prima vegetal, podendo ser de origem animal, vegetal ou mineral;
• Fármaco: substância após sofrer processo de extração e purificação, tendo origem
sintética ou semissintética;
• Medicamento: preparação farmacêutica que contém um ou mais fármacos
destinados ao tratamento, prevenção, promoção ou diagnósticos de doenças;
o Oficinal: manipulado na própria farmácia, de acordo com normas e doses
estabelecidas por farmacopeias ou formulários internacionais (p. ex., tintura
de iodo, álcool canforado);
o Magistral: preparado na farmácia, a partir de uma prescrição de profissional
habilitado, destinada a um único indivíduo (preparação individualizada);
• Prescrição magistral: utiliza-se a nomenclatura genérica e descreve a forma
farmacêutica e dose/concentração do fármaco;
• Remédio: qualquer meio utilizado para prevenir ou tratar doenças (p. ex., chá,
massagem);
• Substância proscrita: substâncias que são de uso proibido no Brasil. Estão
descritas na Lista F do anexo I da Portaria SVS/MS nº 344/98, com suas
respectivas atualizações.

O que define a escolha de uma forma farmacêutica?

• Necessidades do paciente (p. ex., indivíduos que possuem dificuldade de


deglutição);
• Fórmula e via de administração (p. ex., pomada [uso tópico]; supositório [uso retal,
vaginal e uretral]);
• Equipamentos disponíveis (p. ex., encapsuladora, utilizado para produzir cápsulas).

Quais os atributos de uma forma farmacêutica?

• Deve ser livre de materiais estranhos;


• Quantidade e velocidade adequados;
• Fármaco deve ser compatível com a via de administração;
• Aceitável;
• Estável;
• Boa ação farmacológica.

FORMAS FARMACÊUTICAS

Classificação das formas farmacêuticas


Sólidas

Vantagens Tipos
Custo baixo Pós
Boa aceitação Granulados
Facilidade de administração Cápsulas
Controle de biodisponibilidade Comprimidos (orais, vaginais e
revestidos
Hóstias
Implantações
Papéis
Pérolas
Pílulas

Semissólidas: destinadas principalmente às mucosas.

✓ Tipos: cremes; géis; unguentos; pastas; pomadas; cataplasmas; loções.

Indicações Classificação
Ação epidérmica Quanto à penetrabilidade
Ação Endodérmica Quanto à físico-química
Ação Hipodérmica Quanto ao aspecto

Líquidas

Classificação Tipos
Quanto à complexidade tecnológica Alcoolatos
Quanto à complexidade técnica Alcoolaturas
Colutórios
Emulsões
Enemas
Soluções
Suspensões
Elixires
Colírios
Óleos medicinais
Poções
Tinturas
Xaropes
Melitos
Extratos fluidos
Hidrolatos
Loções

Gasosas
✓ Tipos: sprays, aerossóis, vaporizações, fumigações.

Classificações das formas farmacêuticas gasosas

• Sprays: são semelhantes aos aerossóis, porém o diâmetro da partícula é maior


(0,5 micrômetro); podem ser considerados “nevoeiros molhantes’;
• Aerossóis: caracterizam-se por constituírem um “nevoeiro não-molhante”, formado
por microgotas (diâmetro entre 0,05 a 0,2 micrômetro). Formam uma suspensão
coloidal em que a fase contínua é o gás e a fase dispersa, o líquido;
• Vaporizações: resultantes da liberação de vapor de água por si só ou contendo
antissépticos; destinam-se à inalação;
• Fumigações: resultantes da combustão de determinadas plantas ou liberação de
gases (p. ex., formol) com fins desinfetantes de espações ou dirigidos para as vias
respiratórias com fins medicamentos antissépticos (inalação);

Formas farmacêuticas menos utilizadas

• Hóstias ou pastilhas
o Preparações farmacêuticas sólidas destinadas a se dissolverem lentamente
na boca e preparadas por modulagem de adjuvantes associados a PA. Os
adjuvantes podem ser:
▪ Açúcar + mucilagens;
▪ Açúcar sem mucilagens;
▪ Gelatina + glicerina;
▪ Gomas, de elevado teor.
Formas farmacêuticas diferenciadas

• Ampolas
o São tubos de vidro ou plástico, coloridos ou incolores, estirados nos dois
topos, ou pequenas garrafas seladas e podem conter pós ou líquidos. O pó
normalmente é utilizado na preparação extemporânea de solutos invejáveis;
o Servem para facilitar a esterilização e conservação do seu conteúdo;
o O conteúdo pode ser aplicado via parenteral, oral e tópico.

Fórmula e componentes do medicamento

Solução antimicótica

Iodo………………………………………………………………………………………2,0%
Iodeto de potássio…………………………………………………………………….2,5%
Ácido benzoico………………………………………………………………………...2,0%
Glicerina………………………………………………………………………………...2,0%
Álcool……………………………………………………………………………………70%
Q.s.p……………………………………………………………………………………..100%

F.S.A. - 50 mL

Princípios ativos: ação farmacológica ou terapêutica; alopático ou fitoterápico.

• Classe química;
• Classe terapêutica;
• Alvo molecular;
• Especificidade:
◦ Fármacos específicos: atuam na molécula-alvo específica, interagindo com
receptores;
◦ Fármacos inespecíficos: não têm molécula-alvo, tampouco interagem com
receptores (possuem ação geral).

Excipientes ou adjuvantes: não possuem ação farmacológica, mas contribuem com a


ação do fármaco (melhoram o desempenho do medicamento).

• Estabilizantes;
• Agentes corretivos: corantes, flavorizantes e edulcorantes.

São características de um excipiente ideal


• Ser toxicologicamente inativo;
• Química e fisicamente inerte frente ao fármaco;
• Compatível com outros ingredientes da formulação;
• Incolor e insípido;
• Elevada fluidez e boa capacidade de escoamento (sólido);
• Alta capacidade de sofrer compressão (sólido);
• Disponível a partir de diversas fontes, com custos adequados;
• Fácil de ser armazenado;
• Ser reprodutível de lote-a-lote;
• Desempenho consistente com a forma farmacêutica ao qual se destina;

Alguns tipos de excipiente e adjuvantes

• Agentes corretivos: corantes, flavorizantes e edulcorantes;


• Estabilizantes: químicos, físico-químicos, físicos e biológicos;

ESTABILIZANTES QUÍMICOS
São compostos tóxicos farmacologicamente inativos que tem como função manter a
formulação quimicamente estável. Exs.: alcalinizantes ou acidificantes, antioxidantes,
quelantes (sequestrantes) e tamponantes.

Alcalinizantes ou acidificantes
◦ Ácido cítrico;
◦ Ácido acético;
◦ Acido clorídrico;
◦ Acido bórico;
◦ Carbonato de amônia;;
◦ Dietanolamina;
◦ Hidróxido de potássio;
◦ Bicarbonato de sódio;
◦ Trietanolamina.

Antioxidantes: são substâncias que evitam a oxidação do PA (princípio ativo) ou da


formulação. Eles interrompem a formação de radicais livres reduzindo as espécies
oxidadas, não permitindo a oxidação. Exemplos:
• Ácido ascórbico (aquoso);
• Bissulfito de sódio (aquoso);
• Ascorbil palmitato (oleoso);
• BHT (oleoso);
• BHA (oleoso).

Quelantes: formam complexos estáveis com metais que possam desestabilizar as


formulações. São preparações líquidas. Exemplos:
• EDTA;
• Ácido cítrico;
• Ácido tartárico.

Tamponantes: são utilizados para evitar variações bruscas de pH, mantendo a


formulação numa faixa adequada que garanta a estabilidade, solubilidade e absorção.
Exemplos:
• Tampão citrato;
• Tampão fosfato;
• Tampão borato.

ESTABILIZANTES FÍSICO-QUÍMICOS
Alteram quimicamente a relação entre a fase dispersa e o veículo, não permitindo
alterações físicas (separação das fases de uma emulsão). Exemplos:
• Emulsificantes;
• Surfactantes ou tensoativos;
• Molhantes;
• Floculantes.

Emulsificantes: estabiliza as emulsões, ou seja, permite que um líquido fique disperso no


outro, no qual é imiscível. Exemplos:
• Monoestearato de glicerila;
• Álcool cetílico;
• Gelatina.

Sulfactantes ou tensoativos: reduzem a tensão superficial entre duas fases de


polaridades diferentes. Exemplos:
• Cloreto de benalzônico;
• Nonoxinol 10;
• Polissorbato 80-tween®;
• Lauril sulfato de sódio.

Molhantes: diminui a tensão superficial entre a água e as partículas sólidas, num sistema
sólido-líquido-gás. Exemplos:
• Lauril sulfato de sódio;
• Polissorbato 20, 60, 80-tween®.

Floculantes: favorecem o agrupamento de partículas para que formem aglomerados


facilmente dispersáveis, modificando o processo de sedimentação. Exemplos:
• Lauril sulfato de sódio;
• Polissorbato 80-tween®;
• Cloreto de sódio;
• Argilas.

ESTABILIZANTES FÍSICOS
Atual apenas na estabilidade física dos PA ou das preparações. São classificados em:
• Agentes doadores de consistências;
• Agentes de revestimento;
• Agentes suspensores;
• Aglutinantes;
• Desagregantes ou desintegrantes;
• Deslizantes, lubrificantes e antiaderentes;
• Umectantes;
• Levigantes.

Agentes doadores de consistências: aumentam a consistência de uma preparação.


Exemplos:
• Álcool cetílico;
• Cera branca;
• Cera amarela;
• Parafina;
• Álcool estearílico.

Agentes de revestimento: utilizados em comprimidos, grânulos, cápsulas ou pellets para


proteger o fármaco da ação de fatores externos, para evitar a degradação no suco
gástrico e obter liberação no intestino.
• As películas de proteção podem ser produzidas com substâncias de origem animal
(ceras e gelatina) e substâncias derivadas da celulose (metil ou etilcelulose,
acetato de celulose), entre outras.

Agentes suspensores: tem a função de aumentar a viscosidade da fase externa de uma


suspensão, reduzindo a velocidade de sedimentação. Exemplos:
• Goma arábica;
• Goma xantana;
• Bentonita;
• Alginato de sódio.

Aglutinantes físicos: utilizados em formas farmacêuticas sólidas para promover a


agregação de partículas durante a granulação e a compressão. Exemplos:
• Goma arábica;
• Etilcelulose;
• Gelatina;
• Metilcelulose;
• Povidona (PVP);
• Amido.

Desagregantes ou desintegrantes: usados em formas farmacêuticas sólidas com a


função de acelerar a desintegração e/ou dissolução, facilitando a absorção. Exemplos:
• Amido;
• Alginato de sódio;
• Celulose microcristalina;
• Glicolato sódico de amido (Explotab).

Deslizantes, lubrificantes e antiaderentes: utilizados na preparação de comprimidos e


cápsulas com função de melhorar o fluxo das misturas e evitar a deterioração dos
equipamentos. Exemplos:
• Deslizantes: sílica, amido de milho, talco.
• Lubrificantes: estearato de magnésio, estearato de cálcio e silicone.
• Antiaderentes: estearato de magnésio, talco.

Umectantes: previnem o ressecamento das preparações. Exemplos:


• Glicerina;
• Propilenoglicol;
• Sorbitol.

Levigantes: utilizados no processo de redução do tamanho das partículas por trituração


ou espatulação. Exemplos;
• Óleo mineral;
• Glicerina;
• PEG 400.

ESTABILIZANTES BIOLÓGICOS
São utilizados para evitar a proliferação bacteriana. São classificados em:
• Conservantes antimicrobianos;
• Conservantes antifúngicos.

Conservantes antimicrobianos: evitam a proliferação de microrganismos em geral.


Exemplos:

• Metilparabeno (Nipagin);
• Cloreto de benzalcônico;
• Propilparabeno (Nipasol);
• Cloreto de cetilpiridínio.

Conservantes antifúngicos: protegem a formulação contra o crescimento fúngico.


Exemplos:

• Butilparabeno;
• Etilparabeno;
• Metilparabeno (Nipagin);
• Propilparabeno (Nipasol);
• Ácido benzoico;
• Propionato de sódio;
• Benzoato de sódio.

AGENTES CORRETIVOS
Não possuem ação farmacológica, somente modificam as propriedades organolépticas de
cor, sabor e aroma. São classificados em:

• Corantes;
• Flavorizantes;
• Edulcorantes.

Corantes: colorem o medicamento, ou seja, possuem finalidade estética. Não devem ser
tóxicos ou ter ação farmacológica. Exemplos:

• Amarelo de tartrazina;
• Azul de metileno;
• Urucum.

Flavorizantes: dão sabor e odor aos medicamentos. Exemplos:

• Óleos de anis;
• Óleo essencial de canela;
• Óleo essencial de menta;
• Salicilato de metila;
• Maltol;
• Mentol;
• Ácido cítrico.

Edulcorantes: adoçam a preparação. Exemplos:

• Sacarose;
• Sorbitol;
• Manitol;
• Sacarina sódica;
• Aspartame;
• Xarope de milho;
• Frutose.

VEÍCULOS
Não possuem ação farmacológica, mas auxiliam na ação terapêutica melhorando o
desempenho dos medicamentos. São classificados em:

• Veículos líquidos;
• Veículos semissólidos;
• Veículos sólidos.

Veículos líquidos: utilizados, na maioria das vezes, em formas farmacêuticas líquidas


com o objetivo de completar o volume final do medicamento, podendo ser utilizados ainda
como solventes. Exemplos:

• Água destilada;
• Etanol;
• Glicerina;
• Óleos;
• Propilenoglicol.

Veículos semissólidos: são classificados em:

• Lipofílicos: caracterizados pela mistura de ceras e óleos. Exemplos:


◦ Cera de abelha;
◦ Parafina;
◦ Álcool cetílico.
• Hidrofílicos: caracterizados por sistemas em gel. Exemplos:
◦ Derivados de celulose;
◦ Ácido carboxivinílico;
◦ Polipeptídios.
Veículos sólidos: são substâncias que, muitas vezes, estarão em menor quantidade,
pois os fármacos representam a maior parte da formulação; também definidos como
excipientes ou diluentes, desde que sua função seja completar a fórmula (dar volume).
Exemplos:

• Amido;
• Celulose microcristalina;
• Lactose.

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