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ANTONIO SOUSA RIBEIRO Faculdade de Leties a Univericase Ge Coimara e Cento de Eatucoe Soci MODERNISMO E POS- -MODERNISMO —0 PONTO DA SITUAGAO ceriaiee mere iracinss gui iabineah site eee ieee iy rae, Taig ce ee hope ecpeanii at dened et che ct ieee ein ae Stee eimai, sii Dipee at nee Pa “« E M termos um tanto grosseiros, podemos carac- terizar 0 pensamento pés-moderno (..) como © pensamento que se recusa a transtormar 0 Outro no Mesmo» (During, 1987:33): eis uma definicdo, entre muitas outras possiveis, que, pela sua propria generalidade, nao deixaria por certo de ‘obter facil consenso. No contexto «p6s-modemor, 0 Outro cuja diferenga ha que preservar 6, evidentemente, antes de mais, 0 «Outro da RazAo», esse slado de fora que, segundo ‘Adorno @ Horkheimer, um lluminisme regredido & condigéo mmitica recalca como’ fonte incontrolada de pavor. E, no entanto, a andlise critica da «dialéctiea do lluminismo- que ambos levam a cabo mantinha-se ainda, apesar de tudo, no interior do paradigma racionalista, recusando-se a abandonar «0 trabalho, tornado paradoxal, da andlise conceptual» (Habermas, 19858:130) © aasumindo a tareta de siluminar 0 Huminismo a respeito de si proprio» (idem: 143), Nisto se dis- tingue inequivocamente da empresa nietzschiana, com a qual, como mostra Habermas, oferece varios paralelismos flagran- tes. Assim, a «ciéncia melancélica» em que se constitui a teo- ria frankturtense preserva a ideia da Razo continua a reivindicar-se como teoria critica, se bem que t4o-somente por lum tour de force assente no paradoxo de um passimismo 23 ie uen nso oe ftgsotoe edo Gespotae que aio tm nennum exsroto fe'suas organs por sso «forma fue aneontam de Subjugar 0 mundo & ‘encortt9 num Musi, 1999259 © tuminemo #0 pavor mio, fomago rasicat 2 imandne's pure do fear absoltamont Pada do fora. poraus Pimples nia de ‘Adorno/Horkaimer, 18038. 24 Antonio Sousa Ribeiro radical sforgado a langar mo da mesma critica que declarou obsoletas. Esta «denunela a transmutagao totalitéria do llumi= nismo com 08 proprios melos deste» (Habermas, 1985a:144). ‘Assim também, embora consciente de uma nostélgica poste- rloridade, a teoria adorniana ¢ indiferente a quaisquer preten- sbes «pés-filosoficass, como se exprime na célebre assercao iniial da Dialdctica Negativa: A tilosotia, que chegou a parecer ultrapassada, mantém-se ‘iva, porque se debvou. perder 8 oportunidade da sua reall 2agho (Adorno, 1982: 18) ‘Como 6 bem sabido, 6 na dimensio estética que Adorno encontra 0 lugar possivel desse Outro recalcado pela Razao, dessa «reminiscéncia da natureza no sujeito, em cujo cum- primento ae encerra a verdade incompreendida de toda a cub tura» (Adorno/Horkeimer, 1981:33). A reinterpretagao da dimansio mimética da arte nos termos de «uma posigao perante a realidade que esta para além da contraposigao rigida entre sujeito e objecto» (Adorno, 1981:163) configura uma racionalidade outra capaz de, paradoxalmente, manter viva uma possibilidade utopica de reconciliagao.(') A negatl- vidade radical que, segundo Adorno, funda 0 projecto moderaista nao @ em si um valor absoluto, mas antes a con- sequéncia inescapavel da situagao objectiva da arte numa situagao historica concreta. Ela encontra no principio da dis- sondncia, «protétipo estético da ambivaléncia» e, enquanto tal, suma espécie de invariante do modernismo» (Adorno, 4081:28-30), 0 seu equivalente estrutural, testomunno também da situagdo aporética da arte, uma vez perdidas, na moderna sociedade capitalista, todas as evidéncias quanto ao seu esta- tuto e legitimagao. Uma vez due, desde muito cedo, condicionados nom damente pelo colapso do movimento operdrio perante a ‘ascensdo do nazismo e pelo tracasso das esperancas deposi- tadas na Russia Sovistica, os tedricos da escola de Frankfurt do i ave HM. Enzenaberger eaplou no eu Wicada' a Adomng “om nome dos fm rome doa autres que nao cabom de ada / Feet eas ac sepacdar/(2)Inpocintmerte/om note dom SEisetos desonperart"pacientomenta) ay ome Gos. Ceseeperados/ due Tarde Senet Endenaberer rte) Re au extamporancicade ‘Sondlsio poxmoderna into a sor da negansor como o det snore es parece To"30 tornado obscltos, nds a stesso Salva Indicagao em contro, odes ae tradugbes so minhas modernismo (Birger, 19836), mantém-so inextricavelmente imerso nas aporias de uma intransigente negatividade. O pathos da distingao que marca a sua teoria estétiea, o rigorismo da recusa liminar da légica do senso comum ¢ das formas do quotidiano, vistas como irremediavelmente degradadas, fencontra a expresso mais exemplar na rejeicao sem apelo da industria da culturae, (2) reflexo fiel da sestratégia de hiber- ‘nagdor cujos limites Habermas, no contexto de uma reflexao sobre «8 actualidade de W. Benjamins, jd em 1972 apontava ‘Adorno segue ums estratégia de hibernagto, cule, traqueza roads vslualmonte no aos carsior Gatonaho, nore. {Sante quo.atese de Adorno porsa demonstar sxemplos sa iteratura.e da musica eng Stover a feiturasoltara'e a avcigho contemplats, ito 6 S"Sotrade real da individuagao burguesa, Para as aries que S80 objecto de uma fecopgdo coleciva’—a arqulectura © intura desentacse, pelo. conta, ta como ura de Massa @ 8 mosica de consume que 3° {mou dependente Joa medi electronicos, uma evalvgao ue aponta pare lém da simples industria da eutura @ Ado {ivatide a fortor a esperanga de Benjamin numa lumina (ho protena generalzada (Habermas, 197295-190). {A srpleituras da Dialdetica do tluminismo por Habermas, ‘que a atrds citel insere-se no seu projecto de reconstrugao a teoria critica, cuja pega maior até ao momento 6 a Teoria da Acgao Comunicativa. Do ponto de vista deste projecto, ‘este texto, de 1982, que viria a constituir, com algumas alte- ragdes, 0 quinto capitulo dO Discurso Filosdtico da Moder- nnidade, ocupa um lugar claramente estratégico: o diagnéstico critica dos paradoxos da tradigao teorica da Escola de Frank- furt vai de par com uma avaliagao fortemente negativa da maré pos-estruturalista, bem patente na preocupagao com @ especiticagao inequivoca do «diterendos dos autores da Dia- Iectica do lluminismo em relagao a Nietzsche. Para Habermas, 0 rigorismo ascético da teoria frankfur- tense, que, no plano da teoria estetica, parte da critica totall- Zante & industria da cultura para a formulag4o de uma intran- sigente estética da negatividade, leva-a a uma visao drasticamente redutora do processo da modemnidade que ignora aspactos essenciais da modernidade culturaly: Adorno @ Horkheimer partem de uma Optica limitada que gera insen- sibilidade perante os tragos e as formas existentes de racio- rnalidade comunicativas (Habermas, 1985a: 138 e 155). Tratar- sed entdo, sem que isso implique abandonar a perspective a Sosa ab aime atau et a Modernismo 2 Poe-Mod 25

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