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FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA OAB-DF

(Reconhecida de Utilidade Pública - Decreto nº 91.322, de 13.06.85)

EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DO SEGUNDO JUIZADO


ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE SANTA
MARIA – DF.

Autos n.º: 0702731-96.2018.8.07.0010

ALTINA DE MELO, natural de Manhuaçu-MG, brasileira, divorciada,


portadora do RG sob o n° 1.459.203 SSP-DF, inscrita no CPF sob o Nº
054.908.713-34, nascida em 15/10/1936, filha de José Quirino de Melo e
Florentina Braga de Melo, residente e domiciliada na QR 302, Conjunto A, Casa
23, Santa Maria- DF, CEP 72.502-500, vem respeitosamente, perante Vossa
Excelência, por intermédio da FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA DA
OAB-DF, NÚCLEO DE SANTA MARIA/DF, na pessoa da Advogada NÚBIA
PEREIRA BRAGANÇA DA COSTA, brasileira, solteira, inscrita na OAB/DF sob
o nº. 29.242, Coordenadora Jurídica da FAJ/OAB/DF e da Advogada voluntária
Dra. Edicleide Barbosa de Souza, brasileira, solteira, inscrita na OAB/DF sob
o nº. 50.502, com e-mail fagoabsantamaria@gmail.com (procuração em
anexo), parcialmente inconformada com a respeitável sentença proferida,
interpor RECURSO INOMINADO, com fundamento na Lei 9.099/95, artigo 42,
pelas razões anexas, a serem recebidas e encaminhadas à Turma Recursal
competente.
Por ser beneficiária da justiça gratuita, a parte autora deixou de efetuar
o preparo.
Nestes termos requer que seja recebido o presente recurso e
encaminhado para a turma recursal.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Santa Maria, 08 de novembro de 2018.

_________ _

Núbia Pereira Bragança da Costa Melson Heliodoro P


ires Gonçalves OAB/DF 29.242 OAB/DF 54.290
Coordenadora Jurídica da FAJ – OAB/DF Advogado Voluntário da FAJ –
OAB/DF
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RAZÕES DE RECURSO INOMINADO

Nº do Processo: 0702731-96.2018.8.07.0010

Recorrente: ALTINA DE MELO

Recorrido: OI S.A.

Vara de Origem: 2º Juizado Especial Cível e Criminal de Santa Maria – DF

EGRÉGIA TURMA RECURSAL


COLENDA CÂMARA
ÍNCLITOS JULGADORES

I-DA TEMPESTIVIDADE
De acordo com o disposto no artigo 42 da Lei nº 9.099/95, o Recurso Inominado
deverá ser interposto no prazo de 10 dias a contar da ciência da sentença pela
recorrida. Assim sendo, considerando que foi publicada a R. Sentença no DJ
eletrônico em 24/10/2018 (conforme certidão ID 24453411) e a FAJ tomou ciência
em 23/10/2018, verifica-se que as razões do recurso inominado são plenamente
tempestivas.

II-DO CABIMENTO DO RECURSO

Em sede de juizado especial, cabe recurso inominado de sentença (Lei 9.099/95, art.
41, caput). É o caso dos autos, em que a sentença proferida não foi parcialmente
favorável a recorrente, em razão da improcedência do pedido de dano moral
esposado na exordial.
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III-SÍNTESE PROCESSUAL

A Recorrente ajuizou a exordial pleiteando a rescisão do contrato de


prestação de serviços que mantinha com a requerida e pleiteou danos morais
estimados em R$ 3.000,00 (três mil reais), tendo em vista a má prestação de
serviços e os transtornos sofridos pela requerente.
Tendo sido designada audiência de conciliação em 21/08/2018, às
14:50h, esta restou infrutífera.
Foi apresentada contestação pela parte requerida tempestivamente, na
qual alegou a ausência da comprovação do alegado pela parte autora e
ausência de danos morais passíveis de indenização.
Após regular processamento do feito, foi prolatada sentença de mérito
cujo dispositivo segue:

‘’Dispensado o relatório na forma do disposto no art. 38 da Lei 9.099/95.


Procedo ao julgamento antecipado da lide, pois as partes não manifestaram
interesse na produção de outras provas além dos documentos já trazidos aos autos.
Não havendo questões preliminares, presentes os pressupostos processuais e as
condições da ação, passo ao exame do mérito.
Consigno que a relação jurídica estabelecida entre as partes é de consumo, uma vez
que a requerida é fornecedora de produtos e serviços, sendo a parte autora
destinatária final (artigos 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor).
A requerente alega que a partir de abril de 2018 seu telefone passou a não realizar
e receber chamadas; que o fato lhe causou uma série de transtornos, motivo pelo
qual pleiteia a rescisão do contrato sem qualquer ônus, bem como a condenação da
requerida ao pagamento de indenização por danos morais.
Em sua contestação, a requerida nega haver problemas nos serviços prestados,
juntando aos autos mídia contendo conversa com a requerente, na qual ela teria
afirmado que a linha estaria funcionando perfeitamente.
Pois bem.
De acordo com a distribuição estática do ônus da prova estabelecido no Código de
Processo Civil, incumbe ao autor a prova do fato constitutivo do direito que alega
(art. 373, I, do CPC).
Analisando as contas do período de abril a junho de 2018, verifico que no seu
histórico consta a realização de ligações, bem como o recebimento de ligações (ID
19377582 – pág. 5 a 20).
Ademais, a mídia acostada aos autos pela requerida, contém ligação realizada pelo
seu serviço de atendimento na qual a autora afirma que a linha está funcionando
normalmente (ID 22009023).
Portanto, tenho que a requerente não se desincumbiu do seu ônus probatório no
tocante à alegação de que teria ocorrido falha na prestação do serviço.
Por conseguinte, não há como acolher seu pedido relacionado ao dano moral, pois
não há nos autos comprovação dos fatos relatados na exordial.
Quanto à rescisão do contrato, possui a requerente a faculdade de rescindir o
contrato, pois não se pode obrigar o consumidor a manter um contrato contra sua
vontade.
Como a requerente ainda possui crédito relacionado ao acordo firmado no processo
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nº 0702506-13.2017.8.07.0010 (ID 19377582), a rescisão deverá ocorrer sem
qualquer ônus para consumidora.
Ante o exposto, julgo parcialmente procedente o pedido formulado na inicial, para
decretar a rescisão do contrato de prestação de serviços de telefonia mantido entre
as partes, relacionado à linha telefônica de nº (61) 3393-1445, sem qualquer ônus
para a requerente.
Por conseguinte, declaro resolvido o mérito, na forma do art.487, I, do Código de
Processo Civil.
Sem condenação em custas e honorários advocatícios, consoante disposto nos
artigos 54 e 55 da Lei nº 9.099/95.
Após o trânsito em julgado, arquivem-se os autos.
Sentença registrada eletronicamente nesta data. Intimem-se.
Santa Maria (DF), 19 de outubro de 2018.’’Haranayr Inácia do Rêgo Almeida
Madruga Juíza de Direito

IV-RAZÕES PARA REFORMA

Na R. Sentença prolatada pelo juízo a quo reconheceu a relação de


consumo existente entre a prestação de serviços fornecida pela requerida à
recorrente.
Pelas disposições constantes nos artigos 14 e 18 do CDC, observa-se
conceitualmente que vício é uma distorção no produto ou serviço que
acarreta o seu mau funcionamento, tornando o produto inadequado, sem,
contudo, causa um dano externo ao consumidor.
Durante a analise da instrução processual, o R. Juízo a quo averiguo no
histórico de contas telefônicas da recorrente a realização e o recebimento de
algumas ligações telefônicas, docs. de IDs 193775832 e 21622799, verificou
ainda a existência de mídia juntada pela requerida em que a recorrente afirma
em uma ligação telefônica que o telefone estava funcionando.
Muito embora o R. Juízo tenha fundamentado suas razões de decidir
nestes elementos probatórios, as razões de decidir não devem prosperar, data
vênia, pois conforme depreende-se da exordial a requerente, ora recorrente
informou que a má prestação de serviços estava revestida de precariedade,
uma vez que a linha alternava em funcionar e não funcionar e para tanto, a
requerente demonstrou nos documentos acima aduzidos que as ligações
telefônicas foram realizadas em algumas oportunidades, mas deixou de
funcionar na maioria das vezes, conforme demonstrado na tabela abaixo que
reproduz fielmente o histórico de ligações constante nos autos.

CHAMADAS LOCAIS PARA MÓVEIS, REFERÊNCIA- MARÇO DE 2018


FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA OAB-DF
(Reconhecida de Utilidade Pública - Decreto nº 91.322, de 13.06.85)

DATA HORA DURAÇÃO NÚMERO


TELEFÔNICO
16-02-2018 10:39:13 00:00:23 (61)9.9862-
5558
21-02-2018 16:16:38 00:00:06 (61)9.9846-
7346
26-02-2018 13:39:15 00:00:48 (61)9.8625-
5581

-Observação: Foram realizadas chamadas apenas nos dias 16, 21 e 26 de


fevereiro, totalizando 00:01:07 de duração do total de chamadas realizadas
durante fevereiro de 2018. Nos outros dias o serviço se encontrava
indisponível.

CHAMADAS RECEBIDAS DE MÓVEL A COBRAR, REFERÊNCIA- ABRIL DE 2018

DATA HORA DURAÇÃO NÚMERO


TELEFÔNICO
29-03-2018 18:09:17 00:04:38 (61)9.8525-
1568
30-03-2018 08:37:03 00:00:48 (61)9.8525-
1568
30-03-2018 08:46:52 00:04:25 (61)9.8525-
1568
01-04-2018 11:04:16 00:03:55 (61)9.9287-
2420
01-04-2018 11:34:37 00:01:06 (61)9.9287-
2420
01-04-2018 12:10:04 00:00:37 (61)9.9287-
2420

Observação: Foram realizadas chamadas apenas nos dias 29 e 30 do mês de


março e no dia 01 de abril, totalizando 00:15:29 de duração do total de
chamadas realizadas durante os dias 29 de março até o dia 01 de abril de
2018. Nos outros dias o serviço se encontrava indisponível.

CHAMADAS LOCAIS PARA MÓVEL, REFERÊNCIA- MAIO DE 2018


Foram realizadas apenas duas ligações nos dias 06 e 22 de maio de 2018, para
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o número (61)9.8525-1568, que ocorreram respectivamente às 15:56:02 e
10:45:55, sendo que a primeira ligação teve duração de 22 segundos de
chamada e a segunda ligação teve duração de 1 minuto e 29 segundos de
chamada.
CHAMADAS RECEBIDAS DE MÓVEL A COBRAR, REFERÊNCIA- MAIO DE 2018
Foram recebidas apenas duas ligação, que ocorreram nos dia 08 e 23 de maio
de 2018, ambas para o número (61)9.8525-1568, que ocorreram
respectivamente às 19:00:06h e 10:45:55h, sendo que a primeira chamada
teve duração de 1 minuto e 20 segundos e a segunda chamada teve duração
de 1 minuto e 29 segundos. As chamadas recebidas e realizadas durante o mês
de maio totalizando apenas 04 minutos e quarenta segundos de chamadas
durantes o mês de maio, tendo em vista que nas outras datas o serviço
encontrava-se indisponível.
Observação: Durante os meses de junho, julho e agosto não houve histórico de
chamadas realizadas.
O histórico de chamadas recebidas e realizadas por si só demonstram
a ineficiência da operadora na prestação de seus serviços, e além disso a parte
autora trouxe aos autos documento de ID 19377582, de fls. 21-22, que
demonstram que o Hospital Regional de Santa Maria tentou contatar a
recorrente em 02 de maio de 2018, para o agendamento de uma consulta a
ocorrer em 08 de maio de 2018, que por sorte foi reagendada para o dia 29 de
maio de 2018, em virtude da atenção recebida pela equipe médica que enviou
um agente do posto de saúde para diligenciar até a residência da recorrente,
devido sua idade avançada.
Segundo a melhor doutrina de Rosana Rinberg, ao conceituar o vício,
afirma que o mesmo:
“é um defeito interno da própria coisa, que apenas torna o produto ou serviço
inadequado ou impróprio ao consumo, atingindo o patrimônio do consumidor, na
medida que compromete a qualidade ou características do produto ou serviço,
diminuindo-lhe o valor, mas sem alcançar a incolumidade física ou psíquica do
consumidor. Não há no vício manifestação externa, capaz de causar dano”(
RINBERG, Rosana. Fato do produto ou do serviço: acidentes de consumo.Revista do
Consumidor, São Paulo: RT, ano 09, n. 35, jul./set., 2000, p. 147-148.).

A responsabilidade pelo vício do produto ou do serviço decorre da


violação de um dever de adequação, qual seja, o dever dos fornecedores de
oferecer produtos ou serviços no mercado de consumo que sirvam aos fins
que legitimamente deles se esperam. Diante do exposto é de se apreciar que
houve falha durante a prestação dos serviços de telefonia pela simples
averiguação do histórico de contas colacionada, no entanto em contra posição
a ligação diligenciada pela operadora onde a requerente informa que o
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telefone estava funcionando, que tem duração de 20 segundos, corrobora com
as informações iniciais aduzidas pela recorrente, pois demonstra que houve
reclamação da requerente para a operadora sobre a prestação de serviços,
muito embora naquela ocasião o telefone encontrava-se apto para realizar
chamadas.
Por conseguinte, ignorar todo o contexto fático deixando de analisar
subjetivamente a narrativa inicial, é ignorar que os fatos nem sempre se
apresentam de modo tão cartesiano, isto é, que não seguem um roteiro
padronizado confeccionado sob medida para expô-los, sem espaço para
dúvidas.

V-DA NORMA VIOLADA


É nítido o dever de indenizar da recorrente uma vez que a prestação de
serviço oferecida por ela foi defeituosa, em virtude disso, foram causados
danos a recorrida. O artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor contempla
a responsabilidade objetiva dos fornecedores no caso de vício do serviço.
Assim assevera a norma ofendida:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,


pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.

No caso, ficou configurado a má prestação de serviços telefônicos da


requerida. Importante salientar que a recorrente é pessoa idosa e precisa dos
serviços telefônicos para conseguir se comunicar com sua prole e para pedir
assistência médica ou de socorro, devido a sua idade avançada que beira os 83
anos e mobilidade reduzida pelo decorrer das primaveras vividas.

Assim sendo restou amplamente demonstrado e comprovado o


desrespeito e a violação ao artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, visto
que, não foram empenhados esforços para resolver o impasse
extrajudicialmente, tão pouco na audiência de conciliação que restou
infrutífera, oportunidade em que deve prosperar o dever de indenizar em
danos morais a recorrente em R$ 3.000,00 (três mil reais) como forma de
aplicar sanção pedagógica para que preste seus serviços com respeito ao
consumidor.
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(Reconhecida de Utilidade Pública - Decreto nº 91.322, de 13.06.85)
VI-DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer:

a) que a Egrégia Turma Recursal de provimento ao recurso inominado


interposto pela recorrente e que seja reformada a respeitável sentença do R.
juízo de primeiro grau para reconhecer a falha na prestação dos serviços de
telefonia pela requerida, afim de que seja condenada a indenizar a recorrente
na quantia de R$ 3.000,00(três mil reais) a título de danos morais, como forma
de inteira justiça;

b) requer a concessão dos benefícios da justiça gratuita, nos termos do artigo 98


do CPC;

c) requer o recebimento da presente razão recursal, bem como seu provimento,


para reformar parcialmente a sentença de ID 21715644;

d) que intimações e publicações relacionadas a este processo sejam realizadas


em nome FAJ - FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA DA OAB/DF -
FAJ/OAB/DF, da DRA. NÚBIA PEREIRA BRAGANÇA DA COSTA, OAB/DF nº 29.242,
Coordenadora Jurídica da FAJ/OAB – Núcleo de Santa Maria/DF e da advogada
voluntária EDICLEIDE BARBOSA DE SOUZA, OAB/DF N° 50.502.

Termos em que, pede e espera deferimento.

Santa Maria/DF, 08 de novembro de 2018.

______________________ _______________________
Dra. EDICLEIDE B. DE SOUZA Dra. NÚBIA BRAGANÇA
Advogada Voluntária FAJ Coordenadora FAJ
OAB/DF N° 50.502 OAB/DF Nº 29242

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