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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

CIV 306 – Estruturas e Propriedades dos Materiais de Construção

Relatório Técnico: Ensaio de tração em aço

Andre Kazunori Maebara


Cleber Eduardo Fernandes Leal

São Carlos
2019
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 3
1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................... 3
1.1.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 3
1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................... 3
1.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 3
1.2.1 ELEMENTOS SUBMETIDOS À TRAÇÃO .......................................................... 3
1.2.2 O DIAGRAMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO........................................................... 4
1.2.3 PROPRIEDADES EXTRAÍDAS DO DIAGRAMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO ...... 5
2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ........................................................................... 10
2.1 O ENSAIO DE TRAÇÃO ...................................................................................... 10
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................. 13
3.1 CLASSIFICAÇÃO DAS BARRAS ....................................................................... 13
3.2 ALONGAMENTO PERCENTUAL ........................................................................ 14
3.3 PERCENTUAL DE REDUÇÃO DA ÁREA DA SEÇÃO DAS BARRAS ............... 14
3.4 DIAGRAMAS TENSÃO-DEFORMAÇÃO DAS BARRAS E PROPRIEDADES .... 15
3.4.1 TENSÃO LIMITE DE ESCOAMENTO .............................................................. 15
3.4.2 TENSÃO LIMITE DE RESISTÊNCIA ................................................................ 16
3.4.3 TENSÃO DE RUPTURA................................................................................... 17
3.4.4 MÓDULO DE ELASTICIDADE ......................................................................... 18
3.4.5 DENSIDADES DE ENERGIA DE DEFORMAÇÃO ........................................... 18
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 22
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 23
APÊNDICE A – IMAGENS DE CADA BARRA ANTES E APÓS OS ENSAIOS ................. 24
3

1. INTRODUÇÃO
Conhecer bem os materiais empregados na construção civil assume grande
importância na busca de um dimensionamento mais seguro e preciso. Além de direcionar
sua escolha/especificação, o domínio de propriedades físicas, químicas e mecânicas dos
materiais permite que projetistas e executores antecipem seu comportamento em serviço,
explorando suas características de maneira mais racional e eficiente.
Nesse sentido, este relatório aborda o ensaio de tração realizado no controle de
qualidade de aços empregados na construção civil, como fruto de uma aula experimental
realizada no dia 10/04/2019 e parte dos requisitos para aprovação na disciplina “CIV 306 –
Estrutura e Propriedades dos Materiais de Construção”.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 OBJETIVO GERAL


Ilustrar a importância do ensaio de tração no controle de qualidade de aços
empregados na construção.

1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


 Assimilar conceitos relacionados ao comportamento do aço quando solicitado
à tração;

 Assimilar as etapas que compõem a avaliação experimental de resistência do


material, quais as variáveis intervenientes e quais propriedades são inferidas;

 Compreender melhor conceitos como o modo de ruptura e níveis de tensões


em função da categoria de aço especificado.

1.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste item serão apresentados alguns dos principais conceitos relacionados ao


comportamento de materiais submetidos à tração, mais especificamente, o aço. Serão
abordados os conceitos de alongamento, escoamento, estricção, módulo de elasticidade,
além da descrição do procedimento experimental adotado.

1.2.1 ELEMENTOS SUBMETIDOS À TRAÇÃO

Considerando uma barra constituída de material homogêneo (mesmas propriedades


físicas e mecânicas em todo o seu volume), isotrópico (mesmas propriedades em todas as
direções), que permaneça reta ao ser solicitada por um carregamento normal aplicado ao
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longo do eixo do centroide de sua seção transversal, e ainda, que esta seção transversal
permaneça plana durante a solicitação, a tensão normal média em qualquer ponto da
seção é constante e obtida segundo a Equação 1 (HIBBELER, 2010).

P
 (1)
A
Onde:
 = Tensão normal média;
P = carregamento aplicado;
A = área da seção transversal da barra.

Quando a força aplicada traciona o elemento, a grandeza calculada pela Equação R


passa a ser uma tensão normal de tração, tal como ocorre no ensaio de tração do aço.

Alongamento percentual
Quando uma barra metálica é submetida à tração axial as tensões que surgem em
seu interior geram o aumento de seu comprimento, o qual recebe o nome de alongamento
(BAUER, 2008). Quando este alongamento é dado por unidade de comprimento, passa a
ser denominado deformação normal (HIBBELER, 2010). Também conhecida pelo termo
“alongamento percentual”, a deformação normal nada mais é do que a relação entre a
variação no comprimento da barra e seu comprimento inicial, conforme ilustra a Equação 2.

L  L0 L
 (%)  100  100 (2)
L0 L0
Onde:
 (%) = Deformação longitudinal ou alongamento percentual da barra;
L = alongamento longitudinal da barra;
L0 = comprimento de referência da barra (antes do ensaio);
L = comprimento final da barra (após o ensaio).

O comprimento de referência ( L0 ) das barras ensaiadas à tração corresponde à

distância entre as garras utilizadas pra fixá-las na máquina e aplicar o carregamento.


Segundo a NBR 7480 (ABNT, 2007), essa distância deve ser igual a 10 diâmetros nominais
da barra ensaiada, não sendo permitido o uso de corpos de prova usinados.

1.2.2 O DIAGRAMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO

Durante um ensaio de tração (seção 2.1) é possível calcular vários valores de tensão
e deformação correspondentes. Juntos estes possibilitam a construção do diagrama
tensão-deformação, cuja forma convencional consiste em representar no eixo das
abscissas (x) as deformações normais e no eixo das ordenadas (y) as tensões
5

correspondentes (calculadas com a área inicial da seção transversal) (HIBBELER, 2010). O


diagrama tensão-deformação típico de materiais dúcteis (ex. aço) é ilustrado na Figura 1.

Figura 1 – Diagrama tensão deformação típico do aço

Fonte: Adaptado de Hibbeler (2010).

O diagrama tensão-deformação do aço possui grande importância para engenharia


por permitir a inferência de propriedades mecânicas de um material comumente empregado
na fabricação de componentes construtivos e elementos estruturais. A seguir, com base nas
definições postas por Hibbeler (2010), são descritas algumas das principais propriedades do
material, cuja maioria é extraída da curva tensão-deformação.

1.2.3 PROPRIEDADES EXTRAÍDAS DO DIAGRAMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO

Limite de proporcionalidade (  lp )

A primeira região do diagrama se inicia com o comportamento elástico e linear do


aço. Neste momento as tensões e suas deformações correspondentes são diretamente
proporcionais, denotando uma reta, sendo as deformações totalmente reversíveis com a
retirada do carregamento. A tensão segue aumentado até que seja atingido o limite de
proporcionalidade. A partir deste ponto o regime de deformação do material ainda é
elástico porém deixa de ser linear. A reta passa então a sofrer curvatura e achatamento até
que se atinja o limite de elasticidade.
6

Limite de elasticidade (  f )

A partir deste ponto, o material cuja relação tensão-deformação já não é mais linear
passa a se deformar permanentemente, deixando o regime elástico e adentrando no regime
plástico. Mesmo que retirada toda a carga aplicada no corpo de prova, este já não retornará
a sua forma original. Por estar muito próximo do limite de proporcionalidade este limite não é
detectado com facilidade.

Tensão limite de escoamento (  e )

A segunda região da curva tem seu início marcado pelo limite de escoamento. Uma
vez atingida esta tensão, o corpo de prova passa a apresentar grandes deformações
plásticas para incrementos mínimos de carga (grande deslocamento da curva na direção
horizontal), sendo tais deformações cerca de 10 a 40 vezes maiores do que as produzidas
até o limite de elasticidade.
Em geral, a medição da tensão de escoamento é feita para uma deformação igual a
0,2% (0,002 mm/mm), trançando a partir de desse ponto uma paralela ao trecho retilíneo
inicial da curva tensão deformação. O ponto na curva interceptado pela paralela determina o
limite de escoamento do material (Figura 2).

Figura 2 – Limite de escoamento para liga de alumínio

Fonte: Hibbeler (2010).

Tensão limite de resistência (  r )

Após o escoamento, a tensão volta a crescer continuamente denotando o


endurecimento do aço por deformação. A curva, agora mais achatada, se eleva até que seja
atingido o limite de resistência do aço, o qual corresponde ao maior valor de tensão
alcançado durante o ensaio.
7

Estricção
Durante todo o ensaio, à medida que o corpo de prova se alonga, uma redução da
seção transversal razoavelmente uniforme ocorre em todo o seu comprimento. No entanto,
tendo atingido o limite de resistência, a área da seção transversal passa a diminuir de forma
mais pronunciada em uma determinada região do corpo de prova. Esse fenômeno,
conhecido por constrição ou estricção é causado por tensões internas de cisalhamento e o
deslizamento de planos formados no interior do material (Figura 3).

Figura 3 – Região de estricção

Fonte: Bauer (2008).

No intervalo onde ocorre estricção o diagrama tende a se curvar para baixo. Como a
área da seção transversal na região está sendo constantemente reduzida, esta também
passa a suportar cargas menores.

Percentual de redução da área de seção

O percentual de redução na área de uma barra, também chamado de densidade de


estricção por Bauer (2008) é obtido pela Equação 3. Essa propriedade reflete o grau de
ductilidade do material.
S  S0
 (%)  100
S0 (3)

Onde:
 (%) = Percentual de redução na área da barra;
S 0 = área da seção transversal antes do ensaio;
S = área da seção transversal após o ensaio.

Módulo de elasticidade e a Lei de Hooke

Conforme observado na Figura 1, a curva de tensão-deformação exibe uma relação


linear entre tensão e deformação dentro da região elástica. Esse comportamento foi
primeiramente verificado por Robert Hooke em 1676, o qual relacionou tensão e deformação
por meio de uma constante de proporcionalidade, dando origem à Equação 3, a chamada
Lei de Hooke. A constante de proporcionalidade, por sua vez, ficou conhecida como
8

módulo de elasticidade ou módulo de Young, em homenagem a Thomas Young que em


1807 também publicou sobre o módulo (HIBBELER, 2010).

  E  (4)
Onde:
 = Tensão normal;
E = módulo de elasticidade;
 = deformação.

De acordo com Beer et al. (2011), o maio valor de tensão normal para o qual a lei de
Hooke é válida condiz com o limite de proporcionalidade (  lp ) do material.

Módulo de resiliência

A deformação de um material pela ação de uma carga externa faz com que o mesmo
armazene energia internamente. Se esta energia é dada por unidade de volume de material
recebe o nome de densidade de energia de deformação. Quando a tensão normal atinge o

limite de proporcionalidade (  lp ) do material, esta densidade de energia, que é dada pela

Equação 5, recebe o nome de módulo de resiliência. Em termos físicos, resiliência


significa a capacidade do material em absorver energia sem deformar. Visualmente, o
módulo de resiliência equivale à área do triângulo formado abaixo da curva tensão-

deformação até o  lp .

1 
2
1
ur   lp   lp   lp (5)
2 2 E
Onde:
ur = Módulo de resiliência;
E = módulo de elasticidade;
 lp = tensão limite de proporcionalidade;
 lp = deformação no limite de proporcionalidade

Por conta da proximidade entre as tensões limites de proporcionalidade, de


elasticidade e de escoamento, uma simplificação encontrada na literatura é considerar as
três tensões iguais e igual ai valor da tensão de escoamento. Dessa forma, segundo Beer et
al. (2011), o módulo de resiliência pode ser aproximado pela Equação 6. Sua representação
visual consta na Figura 4.

2
uE  E (6)
2E
9

Onde:
u E = Módulo de resiliência;
E = módulo de elasticidade;
 E = tensão de escoamento.

Em outras palavras a resiliência traduz a capacidade do material após ter sofrido


tensões voltar ao seu estado normal (FREDEL, ORTEGA, e BASTOS, 2010).

Figura 4 – Representação visual do módulo de resiliência

Fonte: Beer et al. (2010).


Módulo de tenacidade

O módulo de tenacidade é a densidade de energia de deformação calculada no


ponto imediatamente antes da ruptura. Visualmente corresponde a toda a área abaixo da

curva tensão-deformação até r (HIBBELER, 2010). Fisicamente representa a quantidade

de energia necessária para levar o material à ruptura (FREDEL, ORTEGA, e BASTOS,


2010). Está relacionada a ductilidade do material, ao seu limite de resistência, e resistência
a impactos (BEER et al., 2011). Sua representação visual consta na Figura 5.

Figura 5 – Representação visual do módulo de tenacidade

Fonte: Beer et al. (2010).


10

Segundo Fredel, Ortega, e Bastos (2010), para materiais dúcteis como o aço, o
módulo de tenacidade pode ser aproximado pela Equação 7.

f
uT   e   u   (7)
2
Onde:
uT = Módulo de tenacidade para materiais dúcteis;
 u = tensão última (tensão de ruptura);
 f = deformação final.

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Esta seção traz dados referentes à execução do ensaio realizado. Serão


apresentados os materiais/equipamentos utilizados e o método aplicado, bem como
prescrições normativas norteadoras para execução do ensaio.
A fim de reduzir a variabilidade nos resultados e permitir a comparação entre testes
realizados por diferentes operadores e em diferentes localidades, o ensaio de tração (assim
como demais ensaios mecânicos) seguem procedimentos padronizados e estabelecidos nas
prescrições normativas. O ensaio de tração nos aços empregados na construção civil é
padronizado pela norma ABNT NBR ISO 6892-1:2013 (versão corrigida de 2018).

2.1 O ENSAIO DE TRAÇÃO

De maneira simplificada, o ensaio de tração em aços consiste em submeter uma


barra, com dimensões conhecidas, a uma força de tração axial até que a sua fratura seja
atingida. Como fruto do ensaio, têm-se a obtenção do diagrama tensão-deformação
(Seção1) do qual são inferidas propriedades do material tais como: módulo de elasticidade,
tensão limite de escoamento e tensão limite de resistência.
O ensaio em questão foi realizado no dia 10/04/2019 no Departamento de
Engenharia de Materiais da UFSCar. Foram testadas três amostras, contendo um corpo de
prova cada. Os espécimes consistiram de barras de aço estrutural com diâmetros
comumente usados na construção civil. As informações inicialmente conhecidas das barras
como seu comprimento total (L), massa (M) e a área (A) de seção constam no Quadro 1.

Quadro 1 – Informações iniciais das barras


Barras L (mm) M (g) A (mm²)
Barra 1 142,00 162,00 176,60
Barra 2 15,00 37,45 63,71
Barra 3 13,46 29,45 45,96
Fonte: Autores (2019)
11

Em um primeiro momento foram determinados os diâmetros médios de cada barra


por meio de 5 medições consecutivas ao longo de seus comprimentos, atendendo ao
mínimo de 3 medições recomendado pela ABNT NBR ISO 6892-1:2013 (versão corrigida de
2018). As medições foram realizadas com o ensaio com o auxílio de um paquímetro digital
(Figura 6). Os resultados das medições bem como as médias obtidas são apresentados no
Quadro 2.
Figura 6 – Medição do diâmetro da barra

Fonte: Autores (2019)

Quadro 2 – Valores medidos


ɸ médio
Barras ɸ1 (mm) ɸ2 (mm) ɸ3 (mm) ɸ4 (mm) ɸ5 (mm)
(mm)
Barra 1 4,27 4,30 4,25 4,36 4,27 4,29
Barra 2 6,18 6,24 6,04 6,24 6,14 6,17
Barra 3 7,79 7,91 7,62 7,69 7,85 7,77
Fonte: Autores (2019)

Por conta da grande variação verificada na seção transversal dos corpos de prova,
os diâmetros considerados no cálculo das demais propriedades foram os obtidos (conforme
recomendação dos professores tutores da disciplina) a partir dos valores conhecidos de
área de seção (A) inicialmente fornecidos (Quadro 3).

Quadro 3 – Diâmetros das barras


Área de seção
Barras ɸ (mm)
(mm²)
Barra 1 13,46 4,14
Barra 2 29,45 6,12
Barra 3 45,96 7,65
Fonte: Autores (2019)

Para aplicação do carregamento, utilizou-se uma Máquina de Ensaio Universal da


marca INSTRON®, modelo 5500R, acoplada a um computador tipo desktop e dotado do
software BlueHill para aquisição dos dados. A máquina possui dois braços, um fixo e outro
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móvel, sendo móvel acoplado a uma célula de carga de 25 toneladas. A fixação dos corpos
de prova a máquina foi feita utilizando as garras exibidas na Figura 7.

Figura 7 – Garras de fixação

Fonte: Autores (2019)

A determinação do comprimento de referência (L0) das barras foi feita subtraído 100
mm (referentes aos 2 trechos de 50 mm que adentravam as garras) de seu comprimento
total (L), atendendo também à especificação da NBR 7480 (ABNT, 2007) de L0  10   . Os

comprimentos de referência para cada barra constam no Quadro 4.

Quadro 4 – Comprimentos de referência das barras


Barras L0 (mm)
Barra 1 42,00
Barra 2 62,00
Barra 3 76,60
Fonte: Autores (2019)

Após as barras serem fixadas na máquina e terem seu L0 determinado, iniciou-se o

ensaio. A solicitação dos corpos de prova se deu pela aplicação de deslocamento constante,
à taxa de 2 mm/min, do início ao seu rompimento (Figura 8).

Figura 8 – Fratura do corpo de prova

Fonte: Autores (2019)


13

Por fim, após ensaiadas todas as barras, o software forneceu dados do experimento
como a força e deslocamento (Figura 9), necessários para a plotagem das curvas de
tensão-deformação e determinação das propriedades desejadas de cada barra de aço.

Figura 9 – Saída de dados do software BlueHill

Fonte: Autores (2019)

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesta seção serão apresentados os valores de cada uma das propriedades


encontradas pro material ensaiado e discussões pertinentes. Vale ressaltar que mesmo
sendo possível identificar curvas típicas de tensão-deformação, esses diagramas podem
apresentar grandes variações, uma vez que fatores como velocidade de aplicação da carga,
temperatura do material durante a realização do ensaio, composição do mesmo e suas
imperfeições microscópicas influenciam os resultados do teste (BEER et al., 2011;
HIBBELER, 2010).

3.1 CLASSIFICAÇÃO DAS BARRAS

De acordo com a NBR 7480 (ABNT, 2007) são considerados fios os aços com
diâmetro nominal igual ou inferior a 10 mm, obtidos por trefilação ou laminação a frio, e
classificados na categoria CA-60. A mesma norma define ainda as barras como sendo aços
com diâmetro nominal igual ou superior a 6,3 mm, obtidos por laminação a quente, e
classificados nas categorias CA-25 e CA-50. Nesse sentido, em função do diâmetro, a Barra
1 de diâmetro nominal 4,2 mm (   4,14mm no Quadro 3) se enquadra na categoria de fio,
exclusivamente produzido em aço CA-60.
De acordo com o item 4.2.3 da mesma norma, as barras em aço CA-25 devem ter
superfície obrigatoriamente lisa, livre de quaisquer nervuras ou entalhes. Dado que todos os
14

corpos de prova ensaiados continham nervuras, conclui-se que nenhuma barra da classe
CA-25 foi ensaida.

3.2 ALONGAMENTO PERCENTUAL

Os alongamentos percentuais das barras ensaiadas, medidos entre as garras da


máquina (comprimento de referência L0) e calculados pela Equação 2, são apresentados no
Quadro 5.

Quadro 5 - Alongamento percentual em 10Φ


Barras Lo (mm) Lf (mm) Alongamento (%)
Barra 1 42,00 45,28 7,81
Barra 2 62,00 78,70 26,94
Barra 3 176,60 181,34 2,68
Fonte: Autores (2019)

Observa-se no Quadro 5 que a barra 2 apresentou um alongamento percentual


significativamente maior que as demais. Tal resultado sugere uma maior ductilidade do
material em questão. No que se refere à microestrutura, o maior alongamento reflete um
maior deslizamento entre os planos cristalinos do metal.

3.3 PERCENTUAL DE REDUÇÃO DA ÁREA DA SEÇÃO DAS BARRAS

O percentuais de redução de área nas seções transversais das barras, calculados


pela Equação 3, são exibidos no Quadro 6.

Quadro 6 - Percentual de redução nas áreas de seção das barras


Barras Ai (mm²) Af (mm²) ΔΦ (%)
Barra 1 14,45 5,98 58,61
Barra 2 29,88 18,15 39,25
Barra 3 47,44 37,23 21,52
Fonte: Autores (2019)

As informações contidas no Quadro 6 permitem concluir que, ao contrário do que se


esperava, a maior estricção não foi apresentada pela barra de maior alongamento
longitudinal. A barra 1 apresentou um estrangulamento da seção transversal muito mais
pronunciado que as demais barras. Esse comportamento sugere que as barras 1 e 2 sejam
constituídas de aços diferentes. Conforme mencionado no item 1.2.3, a estricção das barras
é resultado de tensões internas de cisalhamento e, assim como no alongamento
longitudinal, ocorre com o deslizamento de planos formados no interior do material.
15

3.4 DIAGRAMAS TENSÃO-DEFORMAÇÃO DAS BARRAS E PROPRIEDADES

As curvas de tensão-deformação obtidas para as três barras ensaiadas são


apresentadas na Figura 10.

Figura 10 - Diagramas tensão-deformação das barras


900,00
Barra 1
800,00
700,00
Barra 2
Barra 3
Tensão (MPa)

600,00
500,00
400,00
300,00
200,00
100,00
0,00
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00
Deformação (%)
Fonte: Autores (2019)

3.4.1 TENSÃO LIMITE DE ESCOAMENTO

As tensões limite de escoamento das barras foram determinadas conforme o


procedimento descrito no item 1.2.3. e são apresentadas na Figura 11.

Figura 11 - Tensões limite de escoamento das barras

822,60

710,39
Tensão (MPa)

635,45

Deformação (%)
Fonte: Autores (2019)

Para a resistência ao escoamento, a NBR 7480 (ABNT, 2007) sugere os valores


mínimos de 600 MPa para os fios e, 250 MPa ou 500 MPa para barras de classes CA-25 e
CA-50, respectivamente.
16

Dessa forma, conclui-se que a barra 1, na verdade um fio, atende aos requisitos da
NBR 7480 (ABNT, 2007) por apresentar uma tensão de escoamento 110,39 MPa superior
ao limite proposto.
Em função de seu diâmetro e por apresentar tensão limite de escoamento em torne
de 75 MPa menor que o fio, infere-se que o segundo corpo de prova ensaiado corresponda
a uma barra feita em aço CA-50. Dessa forma, a barra 2 também apresentou tensão de
escoamento 135,45 MPa maior que o mínimo proposto pela normalização.
Comparando as barras 1 e 2, uma explicação para o maior valor da tensão limite de
escoamento apresentada pela barra 1 é o maior teor de carbono no aço de categoria CA-60.
Tal comportamento é ainda confirmado pelo trecho de escoamento reduzido da primeira
barra, uma vez que quanto maior o teor de carbono, menor a ductilidade da liga
(PELISSARI, 2019).
Quanto à barra 3, acredita-se que o valor elevado apresentado para tensão de
escoamento seja fruto de um escorregamento ocorrido durante o ensaio. Também foi
verificado que a ruptura do terceiro corpo de prova ocorreu fora da zona delimitada pelas
garras da máquina (Figura 12). Assim, a barra 3 deveria ser substituída e o ensaio refeito.
Como as amostras foram pré-definidas e não haviam peças para reposição vale a
análise de que, caso estivessem corretos, os resultados de escoamento apresentados pela
barra 3 atenderiam tanto aos requisitos das classes CA-50 quanto CA-60.

Figura 12 - Ruptura fora da zona delimitada na barra 3

Fonte: Autores (2019)

3.4.2 TENSÃO LIMITE DE RESISTÊNCIA

As tensões limite de resistência das barras, as quais corresponderam aos valores


máximos de tensão dos diagramas, são apresentadas na Figura 13.
17

Figura 13 - Tensões limite de resistência das barras


900,00 842,53 831,00
770,11 Barra 1
800,00
700,00
Barra 2
Barra 3
Tensão (MPa)

600,00
500,00
400,00
300,00
200,00
100,00
0,00
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00
Deformação (%)
Fonte: Autores (2019)

3.4.3 TENSÃO DE RUPTURA

As tensões de resistência das barras, as quais corresponderam aos valores finais de


tensão dos diagramas, são apresentadas na Figura 14.

Figura 14 - Tensões de ruptura das barras


900,00
Barra 1
800,00
716,52 692,78 Barra 2
700,00
Barra 3
Tensão (MPa)

600,00
485,35
500,00
400,00
300,00
200,00
100,00
0,00
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00
Deformação (%)
Fonte: Autores (2019)

Embora a barra 1 tenha apresentado maior tensão de escoamento, a barra 2 (e


também a barra 3) apresentou tensão limite de resistência e tensão de ruptura maiores. Algo
que pode estar relacionado a sua maior ductilidade, bem como sua maior capacidade de
absorver energia até a ruptura. O fato de mesmo a barra 1 contendo mais carbono não
apresentar a maior resistência também pode ser atribuído a falhas
internas/descontinuidades do material.
18

Quanto ao tipo de fratura, conclui-se da Figura 14 que a barra 2 apresenta uma


ruptura dúctil por atingir a falha após um longo trecho de deformação plástica, enquanto que
a barra 1 (e também a 3) apresentam uma ruptura mais frágil, por não se deformarem tanto
antes de se romperem.
Em termos da microestrutura, a ruptura representa o momento em que a solicitação
mecânica é tamanha que supera a força das ligações metálicas que compões o aço e sua
capacidade em manter a continuidade do material.

3.4.4 MÓDULO DE ELASTICIDADE

Para determinar módulo de elasticidade das barras ensaiadas adotou-se o seguinte


procedimento:
1. Foram extraídos três pontos do trecho retilíneo do diagrama tensão deformação
(regime elástico) com os quais traçou-se uma reta;
2. A inclinação da reta foi determinada (   ), sendo esta correspondente ao
módulo de elasticidade.
Os valores de módulo de elasticidade (E) obtido para cada barra são apresentados
no Quadro 7.

Quadro 7 - Módulo de elasticidade das barras ensaiadas


Barras Δσ (MPa) Δε E (GPa)
Barra 1 299,30 0,0164 18,25
Barra 2 398,51 0,0303 13,15
Barra 3 500,75 0,0330 15,17
Fonte: Autores (2019)

Do Quadro 7 conclui-se que a barra 1 forneceu o maior valor de rigidez entre as


barras ensaiadas, no entanto, todos os valores obtidos estão na ordem de 10% de valores
comercialmente praticados para o módulo de elasticidade (em torno de 200 GPa para os
aços empregados na construção civil).
A explicação para valores tão baixos está relacionada a ausência de extensômetros
para uma medição mais precisa de deformação das barras.

3.4.5 DENSIDADES DE ENERGIA DE DEFORMAÇÃO

A fim de se obter uma precisão maior que as aproximações fornecidas pelas


Equações 6 e 7, as densidades de energia de deformação das barras (tenacidade e
resiliência) também foram obtidas pelo seguinte procedimento:

1. Os valores pontuais de tensão e deformação fornecidos pelo software BlueHill


foram inseridos no software Autodesk® AutoCAD;
19

2. Com o comando “PLINE” plotou-se o diagrama tensão e deformação;

3. Com o comando “AREA” determinou-se a área abaixo dos diagramas.

Módulo de resiliência das barras

Para o módulo de resiliência a área a ser calculada foi delimitada traçando-se uma
reta vertical partindo do ponto correspondente a tensão de escoamento e em direção ao o
eixo das abscissas (X), até tocá-lo. Os valores de resiliência para cada barra, obtidos pela
Equação 6 e pelo procedimento descrito no item 3.3.4, são exibidos no Quadro 8.

Quadro 8 – Módulo de resiliências das barras


Resiliência (MJ/m³)
Barras
Pela Equação 6 Pela área abaixo da curva
Barra 1 13,83 15,21
Barra 2 15,38 16,18
Barra 3 22,29 24,10
Fonte: Autores (2019)

Da mesma forma, as representações visuais do módulo de resiliência são exibidas


para a barra 1, barra 2 e barra 3 na Figura 15, Figura 16 e Figura 17, respectivamente.

Figura 15 - Módulo de resiliência barra 1

Fonte: Autores (2019)


20

Figura 16 - Módulo de resiliência barra 2

Fonte: Autores (2019)


Figura 17 - Módulo de resiliência barra 3

Fonte: Autores (2019)


Módulo de tenacidade das barras
Os valores de módulo de tenacidade também foram obtidos pela Equação 7 e
segundo o procedimento do item 3.3.4, porém, considerando áreas abaixo de todas as
curvas tensão x deformação. Os resultados são apresentados pelas no Quadro 9.

Quadro 9 – Módulo de tenacidade das barras

Barras Tenacidade (MJ/m³)


Barra 1 64,32
Barra 2 173,47
Barra 3 68,05
Fonte: Autores (2019)
As representações visuais da tenacidade para a barra 1, barra 2 e barra 3 são
exibidas pelas Figura 18, 19 e 20, respectivamente.
21

Figura 18 - Módulo de tenacidade barra 1

Fonte: Autores (2019)


Figura 19 - Módulo de tenacidade barra 2

Fonte: Autores (2019)


Figura 20 - Módulo de tenacidade barra 3

Fonte: Autores (2019)


No que se refere às densidades de energia de deformação das barras, os valores de
resiliência apresentados pelas barras 1 e 2 foram semelhantes, sendo o da barra 2
ligeiramente superior. Se não fosse descartada, a barra 3 teria fornecido a maior resiliência
entre todas ensaiadas.
Quando a área passa a ser tomada abaixo de todo o diagrama tensão-deformação
(módulo de tenacidade das barras) o valor fornecido pela barra 2 passa a ser muito maior
22

que os demais. Tal comportamento é justificado pela extensão de seu trecho de deformação
plástica. Como pode ser percebido na Figura 19, esse longo patamar de escoamento é o
grande responsável pelo incremento de área abaixo da curva e, consequentemente, do valor
de tenacidade.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio do ensaio de tração em barras de aço foi possível entender a importância
que conhecer o comportamento mecânicos do material bem como suas limitações
representa para sua especificação e uso.
O ensaio também evidenciou uma limitação do método. Como o ensaio é feito em
trechos de barras, na sua forma natural, e não em corpos de prova usinados (onde a ruptura
acaba sendo direcionada para o trecho afunilado), não é tão simples garantir que a ruptura
aconteça no terço médio das espécimes. Como exemplo, têm-se o comportamento
apresentado pela barra 3, que teve sua ruptura fora da região delimitada pelas garras. Por
outro lado, vale refletir que se as barras fossem usinadas e afuniladas, tal procedimento
poderia interferir no encruamento do aço, fornecendo no ensaio valores que não
representariam a situação do material em serviço.
Por fim, foi possível verificar a relação entre o arranjo microestrutural e o
comportamento observado em cada trecho específico da curva tensão-deformação. Ficou
claro que composição dos aços (teor de carbono), a organização de seus planos cristalinos,
o afastamento ou deslizamento dos mesmos causado pela propagação de tensões internas
de cisalhamento, deflagram comportamentos específicos como o endurecimento por
deformação, o alongamento longitudinal, o estrangulamento das seções e a capacidade de
absorção de energia até o momento de falha.
23

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR ISSO 6892-1:


Materiais metálicos – Ensaio de Tração Parte 1: Método de ensaio à temperatura ambiente.
Rio de Janeiro, 2013 (versão corrigida 2018). 70 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 7480: Aço destinado a


armaduras para estruturas de concreto armado – Especificação. Rio de Janeiro, 2007. 13 p.

BAUER, L. A. F. Materiais de construção v. 2 – 5ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. 538 p.

BEER, F. P.; JOHNSTON, E. R.; DEWOLF, J. T.; MAZUREK, D. F. Mecânica dos Materiais
- 5ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. 799 p.

HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais - 7. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2010. 637 p.

PELISSARI, J. P. M. CIV 306 – Estrutura e propriedades dos materiais de construção.


São Carlos: UFSCar/PPGECiv, 2019. Notas de aula.

FREDEL, I. M. C.; ORTEGA, P.; BASTOS, E. Propriedades mecânicas: ensaios


fundamentais – v 1. Florianópolis: CERMAT/UFSC, 2010. Apostila.
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APÊNDICE A – Imagens de cada barra antes e após os ensaios


Figura 21 – Barra 1 intacta

Fonte: Autores (2019)

Figura 22 – Barra 1 após o ensaio

Fonte: Autores (2019)


25

Figura 23 – Barra 2 intacta

Fonte: Autores (2019)

Figura 24 – Barra 2 após o ensaio

Fonte: Autores (2019)


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Figura 25 – Barra 3 intacta

Fonte: Autores (2019)

Figura 26 – Barra 3 após o ensaio

Fonte: Autores (2019)

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