Você está na página 1de 6

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


7ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

Registro: 2019.0000369792

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1000851-


91.2017.8.26.0142, da Comarca de Colina, em que é apelante JOSE BALTAZAR DOS
SANTOS JUNIOR, é apelado SATOSHI ITO - (GRANJA ITO).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 7ª Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MARY GRÜN


(Presidente sem voto), MARIA DE LOURDES LOPEZ GIL E JOSÉ RUBENS QUEIROZ
GOMES.

São Paulo, 14 de maio de 2019.

Rômolo Russo
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
7ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

Ap. nº. 1000851-91.2017.8.26.0142


Comarca: Colina Vara Única
APELANTE(S): JOSÉ BALTAZAR DOS SANTOS JUNIOR.
APELADO(S): SATOSHI ITO (GRANJA ITO).

VOTO nº. 25.804

APELAÇÃO. Embargos de Terceiro. Improcedência.


Inconformismo. Desacolhimento. Muito embora não
registrada a penhora, a má-fé do embargante restou
demonstrada nos autos. Inteligência da Súmula nº.
375, do STJ. Embargante que é filho e herdeiro
necessário do executado, anterior proprietário do
imóvel. Reconhecimento da fraude contra credores
perpetrada por José Baltazar dos Santos, pai do
embargante, em ação pauliana transitada em
julgado. Evidenciado, pelo grau de parentesco, o
conhecimento das ações pauliana e executiva que
culminaram com a penhora do bem. Má-fé
reconhecida. Sentença mantida. Recurso
desprovido.

Da r. sentença proferida pela Magistrada NATÁLIA


SCHIER HINCKEL (fls. 240/242), que julgara improcedentes os embargos de
terceiro, apela o embargante.

Em suas razões recursais (fls. 246/251) José Baltazar


dos Santos Junior sustenta, em síntese, que:

a) o simples fato de ser filho legítimo e herdeiro de


José Baltazar dos Santos, bem como de ter comprado o imóvel que pertenceu ao
seu pai não é suficiente para o reconhecimento da má-fé;

b) apesar do imóvel ter sido objeto de ação pauliana,


permaneceu no nome de João José Viganô e sua mulher até julho de 2002,
ocasião em que não havia nenhuma restrição averbada na matrícula;

c) realmente comprou e pagou o preço pelo imóvel e,


Apelação Cível nº 1000851-91.2017.8.26.0142 -Voto nº 25.804 2
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
7ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

na época, nada impedia a aquisição;

d) é o legítimo proprietário e está na posse do bem há


mais de 15 anos, não havendo qualquer simulação na compra;

e) a obrigação de averbar a penhora era do


embargado, que não o fez;

Requer o provimento do recurso para julgar


procedentes os embargos de terceiro.

Recurso tempestivo e preparado a fls. 252, foi recebido


no duplo efeito (fls. 357).

Contrarrazões a fls. 256/273 pela manutenção da r.


senteça.

Não houve oposição ao julgamento virtual.

É o relatório.

Trata-se de embargos de terceiro opostos por José


Baltazar dos Santos Júnior em face da determinação de penhora de bem imóvel
por ele adquirido, objeto da matrícula nº. 17.537, do Cartório de Registro de
Imóveis de Barretos, determinada nos autos da ação executiva promovida por
Satoshi Ito em face de José Baltazar dos Santos.

Como cediço, os embargos de terceiro têm por


finalidade livrar de injusta constrição judicial bens que foram apreendidos em um
processo no qual o seu proprietário ou possuidor não é parte.

Pressupõem, portanto, a existência de uma constrição


judicial que ofenda a posse ou a propriedade de um bem de pessoa que não seja
parte no processo.

Pois bem.

Na hipótese dos autos, em 24/07/2002 o embargante

Apelação Cível nº 1000851-91.2017.8.26.0142 -Voto nº 25.804 3


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
7ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

adquiriu o imóvel descrito na inicial de João José Viganô e sua mulher Maura
Alice dos Reis Viganô.

Com efeito, a jurisprudência consolidou o entendimento


de ser necessária, para a configuração da fraude à execução, a averbação da
penhora ou a prova da má-fé do terceiro adquirente.

Nesse sentido, é a Súmula 375 do E. Superior Tribunal


de Justiça:

Súmula nº 375 do STJ: “O reconhecimento da fraude à execução


depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova da má-fé
do terceiro adquirente”.

O embargante ampara a pretensão de desconstituição


da penhora na alegada boa-fé, por não constar na matrícula do imóvel qualquer
restrição no momento da aquisição.

Entretanto, necessário observar que o imóvel já havia


pertencido ao genitor do embargante, José Baltazar dos Santos.

E pela r. sentença proferida nos autos da ação


pauliana nº. 388/88, confirmada por v. acórdão de julho de 1991 (fls. 333/340 e
350/353), houve o reconhecimento da fraude contra credores perpetrada por José
Baltazar dos Santos, pai do embargante, com declaração de ineficácia de
diversos negócios jurídicos onerosos envolvendo vários imóveis, dentre os quais
o objeto destes embargos.

Assim, como bem observou a d. Magistrada a fls.


241/242, sendo o embargante filho e legítimo herdeiro do executado José
Baltazar dos Santos, não merece credibilidade o alegado desconhecimento da
ação pauliana e da ação executiva promovidas contra o seu pai (Proc. nº. 388/88
e 0000002-50.1991.8.26.0142), que resultaram na constrição do imóvel objeto
destes embargos.

O grau de parentesco do embargante evidencia, pois,

Apelação Cível nº 1000851-91.2017.8.26.0142 -Voto nº 25.804 4


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
7ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

que tinha pleno conhecimento da ação pauliana e da ação executiva promovidas


contra o seu genitor, que culminaram com a desconstituição das alienações
subsequentes e penhora do imóvel, tendo-se como demonstrada a sua má-fé.

Nessa quadra, sem estofo jurídico a pretensão


recursal.

Nesse sentido, é o precedente deste E. TJSP:

“EMBARGOS DE TERCEIRO. Penhora de bem imóvel.


Sentença de improcedência. Irresignação da parte
embargante. Descabimento. Cerceamento de defesa
não configurado. Provas dos autos suficientes para a
solução da controvérsia. Impertinência da produção de
prova oral 'in casu'. Requisitos do art. 792 do NCPC
preenchidos. Aplicação da Súmula 375 do E. STJ.
Alienação de bem imóvel após a citação da parte
executada. Procuração pública e contrato particular
acostados aos autos que estão datados de 08/06/2012,
isto é, aproximadamente um mês depois da
distribuição da ação executiva
n.º0001624-68.2012.8.26.0615 (promovida pelo
embargado em desfavor de Edmar Garruti) e depois de
quatro dias da citação do executado Edmar naqueles
autos. Conjunto probatório dos autos evidencia,
ademais, que o embargante Reginaldo tinha
conhecimento da execução que culminou com a
penhora do imóvel 'sub judice'. Má-fé da parte
adquirente evidenciada. Fraude à execução
configurada. Sentença mantida. Honorários
advocatícios arbitrados em favor da parte 'ex adversa'
majorados para 15% do valor da causa. Incidência da
norma prevista no artigo 85, §11, do CPC. Aplicação
do art. 252 do RITJSP. Recurso não provido” grifei
(Apelação nº. 1001008-66.2018.8.260.615, Rel. Des.
WALTER BARONE, j. em 25.04.2019).

Forçoso reconhecer, pois, que a sorte dos embargos


não poderia ser outra.

Objetivamente inviável, por conseguinte, qualquer


alteração no r. julgado de primeiro grau.

Apelação Cível nº 1000851-91.2017.8.26.0142 -Voto nº 25.804 5


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
7ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

Nos moldes do art. 85, § 11, do CPC/2015, majoro os


honorários sucumbenciais para 15% do valor atualizado da causa.

Por esses fundamentos, meu voto nega provimento


ao recurso.

RÔMOLO RUSSO
Relator

Apelação Cível nº 1000851-91.2017.8.26.0142 -Voto nº 25.804 6

Você também pode gostar