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Universidade Lusófona

de Humanidades e

Tecnologias

Faculdade de Direito

Trabalho realizado no âmbito da disciplina de História do Direito Português

Ordenações Afonsinas e fontes Subsidiárias

Trabalho realizado por:

Raquel Alexandra

Bártolo de Andrade

Nº21806996

Ano Lectivo 2018/2019

2º Semestre
Índice

Introdução 3
Origem e Contextualização 4
Fontes Utilizadas 5
Técnicas Legislativas 6
Sistematização e conteúdo 7
Fontes de Direito Subsidiário 8
Bibliografia 1
0

2
Introdução

Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de História de Direito


Português.

Tem como objectivo elucidar os colegas sobre como as Ordenações Afonsinas


surgiram no nosso ordenamento Jurídico e clarificar a sua importância para o estudo
desta cadeira e da História do nosso direito em particular.

Vamos, assim, ao longo do nosso trabalho apontar os aspectos que nos parecem
mais relevantes para o enaltecimento do seu valor histórico e jurídico
Elaboração e início da vigência

A história da origem e da elaboração das ordenações, especificamente da


primeira, que foram as Ordenações Afonsinas, pode ser encontrada no prefácio do seu
livro I:
“No tempo em que mui alto e mui excelente Príncipe El Rei D.João de gloriosa
memória, pela força de deus reinou em Estes reinos, foi requerido algumas vezes em
Cortes pelos fidalgos e povos dos ditos reinos que por bom regimento deles mandasse
prover as leis e ordenações feitas pelos reis que ante ele foram, e acharia que pela
multiplicação delas se recresciam continuadamente muitas dúvidas e contendas, em tal
guisa que os julgadores dos feitos eram postos em tão grande trabalho que gravemente e
com grão dificuldade os podiam direitamente desembargar”
No reinado de D. João I, as várias queixas feitas nas Cortes em relação à
‘desigualdade das leis levaram o monarca a encarregar ao corregedor João Mendes de
elaborar uma coletânea do direito vigente capaz de facilitar a administração da justiça.
A compilação das Ordenações Afonsinas foi continuada por Rui Fernandes
durante a governação de D. Duarte e do infante D. Pedro e terminou em julho de 1446, na
vila de Arruda. De seguida, foi sujeita à aprovação de uma comissão revisora
composta por Rui Fernandes, Lopo Vasques, Luís Martins e Fernão Rodrigues que, mesmo
introduzindo algumas alterações, decide aprovar o documento!

Nasceram assim as Ordenações Afonsinas.

As Ordenações Afonsinas correspondem a uma coletânea de leis e de diversas


fontes jurídicas promulgadas durante o reinado de D. Afonso V. São a primeira compilação
oficial de Direito do reino e inserem-se num período de influência do Direito Comum, no
qual o rei legisla para esclarecer, completar ou inovar.
Até então, as leis gerais não obedeciam a um processo de formação único,
vigoravam preceitos contidos em forais e no costume e recorria-se, sem critérios definidos,
a concordatas e a normas de Direito Romano e Canónico.

Contra todas as expectativas, elas apenas vigoraram pouco mais de 60 anos. Isto
porque quando D. Manuel subiu ao trono, e mandou rever, alterar e aperfeiçoar as
Ordenações do reino. Para tal encarregou uma comissão: os seus trabalhos deram então
origem às Ordenações Manuelinas!
É, de igual modo, importante salientar a questão da promulgação do código e da
respectiva vigência das leis aí compiladas. Tendo o processo de organização terminado
em 1446, nada nos permite inferir do exórdio que tenham entrado de imediato em vigor.
De facto, depois de concluído o trabalho de organização, pelo Dr. Rui Fernandes, foi
designada uma comissão de homens de leis para proceder à revisão. Na opinião de M.
CAETANO:
“(...) é impossível (...) com os elementos existentes afirmar com segurança em
que ano começou a ser utilizada como compilação autêntica (...), em que época se tornou
conhecida do País pelos magistrados que haviam de aplicá-la, se é que chegou a sê-lo”
(1955, p. 15).
No seu entender, o regimento afonsino não terá entrado em vigor antes de 1454,
oito anos depois da promulgação (CAETANO, 1985, p. 532-535). E concluí, “(...) não
nos devemos deixar iludir pelas ideias actuais sobre publicação e vigência das leis”
(CAETANO, 1985, p. 534).
De facto, em nenhum dos exemplares conhecidos das Afonsinas se encontra a
declaração expressa da sua promulgação e, até à data, ainda não apareceu nenhum
documento nesse sentido. Ou seja, na época não havia uma regra prática definida sobre a
forma de dar publicidade aos diplomas legais e o início da correspondente vigência, para
além de que, ainda não se utilizava a imprensa pelo que levaria um tempo considerável
até se tirarem cópias manuscritas para a sua difusão.
Mas será que esta obra carecia mesmo de uma promulgação formal? Não
conhecemos um acto público ou oficial, em que o rei aluda a elas, porque se perdeu
definitivamente com os originais ou em diploma avulso, como tantos outros, ou
antes porque nunca foi realizado? De qualquer forma há um dado adquirido da maior
relevância para a compreensão de todo este processo de promulgação, publicação e
vigência das Afonsinas: estamos perante a compilação de ordenações já existentes e em
vigor, não sendo por isso direito novo, que não pudesse prescindir da publicação oficial.
Por outras palavras, as Ordenações Afonsinas são apenas um importante instrumento
de ajuntamento e actualização do direito vigente, por isso a questão da sua publicação
terá que ser formulada em termos distintos aos de uma nova Lei avulsa. Quero com isto
dizer que, apesar do incremento dado pela nova colecção, o direito vigente se manteve-se
antes e depois da sua conclusão.
Efetivamente, é em relação a isto que se dirigem as principais críticas feitas às
ordenações Afonsinas, em relação ao critério de sistematização e à dúvida de saber se
estas tiveram ou não uma vigência efectiva.
Quanto ao 1º aspecto, a doutrina dominante defende que o estilo compilatório
utilizado na escrita dos 4 últimos livros dificulta e confunde a tarefa de aplicação do
direito.
Quanto ao restantes os aspectos a doutrina tende hoje a aceitar, em função do
número de exemplares encontrados em todo o território, que as ordenações foram
suficientemente divulgadas e entraram de facto em vigor no reinado de D. Afonso V,
tendo sido aplicadas ao nível dos tribunais superiores do reino, designadamente na Casa
da Suplicação.
Apesar de ser já considerável o número de leis contidas nas Ordenações
Afonsinas, elas ainda não cobriam a totalidade das questões que eram necessárias
solucionar. Além das fontes principais do direito, estabeleceu-se um sistema de fontes
subsidiárias, uma hierarquia de fontes do direito para recorrer na falta de direito pátrio.
Fontes Utilizadas

O objetivo principal das Ordenações Afonsinas era reunir em uma única fonte, atualizada, o

Direito vigente da época. Desse modo tiveram por base as fontes que deram origem a esse

direito:

 Leis Gerais

 Resoluções Régias

 Concórdias, Concordatas e Bulas Inquirições

 Costumes gerais e Locais

 Estilos da Corte e dos Tribunais Superiores

 Normas das “Siete Partidas”

 Preceitos do Direito Romano e do Direito Canónico

É importante referir que duas das fontes do direito português que serviram de base às

Ordenações Afonsinas foram o Livro das Leis e Posturas e as Ordenações de D. Duarte.

Segundo Mário Júlio de Almeida Costa, estas coletâneas privadas de leis gerais poderão ter

sido trabalhos preparatórios das Ordenações Afonsinas.


Técnicas Legislativas

Foram dois os estilos legislativos utilizados nas Ordenações Afonsinas.

Verificou-se o estilo compilatório, ou seja, quando se transcreviam na íntegra as


fontes anteriores declarando depois comentários e anotações em que termos eram
aplicadas, afastadas ou modificadas, sendo um estilo mais perfeito do ponto de vista
histórico; e ainda o estilo decretório ou legislativo. Este consistia na formulação directa
de normas sem referência a eventuais fontes precedentes, sendo um estilo mais perfeito
do ponto de vista técnico.

Há autores que afirmam que se pode distinguir o “autor” dos livros devido ao
estilo utilizado: no primeiro livro, realizado por João Mendes, apenas se encontra o
estilo decretório ou legislativo enquanto que nos últimos quatro livros apenas se verifica
o estilo compilatório!
Sistematização e conteúdo

As Ordenações podem ser sistematizadas orgânica e materialmente.

Organicamente:

As Ordenações Afonsinas dividem-se em cinco livros, estes por títulos e estes


em parágrafos. Cada livro é antecedido por uma breve nota sobre o conteúdo ou objecto
que se vai referenciar.

Há uma teoria que afirma que as Ordenações se dividem em cinco livros porque
se baseia nas Decretais de Gregório IX.

Materialmente:

Livro:

I- Regimentos dos Cargos Públicos (72 títulos)


II- Todas as matérias relacionadas com a Igreja, os direitos do rei, a
administração fiscal, os privilégios da nobreza e a legislação especial
relacionada com os mouros e judeus (123 títulos)
III- Processo civil (128 títulos)
IV- Direito civil substantivo (Direito da Família, das Sucessões,
(112 títulos)

V- Direito e processo penal (121 títulos)

Uma pequena curiosidade no livro V: houve quem qualificasse este livro como “O Livro
Vermelho” por conter apenas normas criminais.
A ordem legislativa das Ordenações Afonsinas privilegia os temas que afectam as
actividades judiciais e governativas e, não obstante os critérios de superioridade jurídica e o
maior peso das leis originais (recentes), muitas leis ‘antepassadas’ constam do regimento
afonsino,
sobretudo nos livros II a V. O livro I das Ordenações toca especificamente assuntos
relacionados com os oficiais da Corte, ocupando-se a maioria dos títulos das atribuições
forenses dos ofícios respectivos.
Fontes de direito subsidiário

Quando as Ordenações foram aprovadas o nosso ordenamento mostrava-se


complexo: ao lado do Direito Civil vigorava o Direito Canónico. Então, o legislador
sentiu a necessidade de demonstrar qual a ordem e o âmbito de aplicação das normas
jurídicas nas relações a disciplinar no reino. Este tinha como principal objectivo evitar
conflitos entre o Direito Civil e o Direito Canónico!

Temos ainda de ter em atenção que nenhum caso poderia ficar por resolver.

Desta forma seguia-se todo um processo até se encontrar a solução do caso


concreto.

Primeiramente tínhamos de recorrer às Ordenações e ver se o caso era regulado por


estas: se o fosse resolver-se-ia através das suas disposições.

Se isto não acontecesse, baseando-nos no “Principio do prevalecimento do


Direito Pátrio ou Nacional”, teríamos que nos auxiliar neste direito pela seguinte ordem:

1. Leis do Reino
2. Estilos da Corte
3. Costume do Reino

Assim, desta forma, tínhamos de verificar em qual destas hipóteses estaria


contemplado o nosso caso e só passaríamos para a hipótese seguinte se a anterior fosse
esgotada sem encontrarmos solução.

Dizia inclusive nas Ordenações: “Quando a lei do Reino dispõe, cessam todas as
outras leis e direitos” – Livro II, Título 9.

No entanto, nem tudo se mostrava linear. Quando a solução para o caso não se
achasse nestas haveria que recorrer às fontes subsidiárias.

Eram elas:

Direito Romano
Direito Canónico

Glosa de Acúrsio
Opinião de Bártolo

A maioria dos autores apoia a seguinte formulação: o Direito Romano servia para
resolver casos de matéria temporal e o Direito Canónico matéria espiritual. No entanto,
poder-se-ia aplicar o Direito Canónico em matéria temporal quando esta fosse
acompanhada por um pecado.

Se a solução não fosse encontrada passaríamos então para a Glosa de Acúrsio ou


para a Opinião de Bártolo seguindo sempre o memo processo de exclusão.

Mas, temos de ter em atenção que o Professor Duarte Nogueira não segue este
entendimento: ele afirma que o Direito Romano apenas contempla a matéria temporal
enquanto o Direito Canónico a matéria espiritual. Mesmo havendo o critério do pecado
não nos socorríamos do Direito Canónico passando logo para o Glosa de Acúrsio ou
para a Opinião de Bártolo!

É assim que se nos apresenta o processo das Fontes Subsidiárias das Ordenações
Afonsinas, sempre com o intuito de não deixar nenhum caso por resolver.

Estão assim apresentadas as grandes bases das futuras compilações portuguesas!


Edição
A edição impressa das Ordenações Afonsinas foi promovida pela Universidade de
Coimbra, no final do século XVIII, e esteve ao cargo de Luís Joaquim Correia
da Silva, lente substituto da Faculdade de Leis.
Conclusão (Importância da obra)
As Ordenações Afonsinas, publicadas em 1446, durante o reinado de D. Afonso V,

constituíam uma espécie de colectânea ou código de leis e outras fontes jurídicas e que

reunia toda a legislação em vigor na altura.

Efetivamente, o período da compilação das leis foi particular, já que se caracterizou como

um momento em que o poder régio buscava seu estabelecimento, sendo projetada em

um tempo de maior resistência real em relação ao uso de prerrogativas pessoais, além

de caracterizar a ideia de unificação do reino sob a égide de identidade única.

Com a publicação das Ordenações Afonsinas, as leis tornaram-se uniformes para todo o país

impedindo, desta forma, os abusos praticados pela nobreza no que respeita à sua

interpretação, permitindo ao rei amplificar a sua política centralizadora.

O facto de constituírem a primeira compilação oficial, do direito do país, coloca as

Ordenações Afonsinas numa posição destacada na história do direito português.

Dentro desta conjuntura, assumiu esta obra um grande valor no direito português, pois

consolidou-se o sistema jurídico lusitano, dando margem a sua posterior evolução.

Além disso esteve na vanguarda de outras compilações com semelhantes propósitos em

outros países.
Bibliografia

Livros:

• Galvão Teles; 1942; Lisboa

• Caetano, Marcello; 1981; “História do Direito Português, Volume I, Fontes –


Direito Público (1140 - 1495)”; Editorial Verbo.

• Merêa, Manuel Paulo; compilado Araújo Barros; 1938; “Elementos de História


do Direito Português”; Coimbra; Casa do Castelo – Editora.

• Almeida Costa, Mário Júlio; “História do Direito Português”; 3ª edição;


Coimbra; Almedina.

• Albuquerque, Ruy e Martim; “História do Direito Português – 2º Volume”.

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