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No art. 127º CC, o legislador estabelece um limite mínimo de idade – 16 anos – para
a validade dos atos de administração ou disposição de bens que o menor haja obtido por seu
trabalho. No entanto, deveremos, neste sentido, ter em atenção a exceção do art 68º CT nº3:
“O menor com idade inferior a 16 anos que tenha concluído a escolaridade obrigatória ou
esteja matriculado e a frequentar o nível secundário de educação pode prestar trabalhos
leves que consistam em tarefas simples e definidas que, pela sua natureza, pelos esforços
físicos ou mentais exigidos ou pelas condições específicas em que são realizadas, não
sejam suscetíveis de o prejudicar no que respeita à integridade física, segurança e saúde,
assiduidade escolar, participação em programas de orientação ou de formação,
capacidade para beneficiar da instrução ministrada, ou ainda ao seu desenvolvimento
físico, psíquico, moral, intelectual e cultural”.
Segundo os dados facultados pelo caso, os pais terão consentido que Ana
participasse nos torneios, não havendo menção a nenhum rapto da menor a fim de a levar
para o estrangeiro para realizar uma competição internacional. A este propósito, o art.
125º CC determina que “os negócios relativos ou praticados no exercício de profissão, arte
ou ofício são válidos, desde que o menor tenha sido autorizado a exercer essa profissão, arte
ou ofício”.
Desta forma, acabamos por recair sobre o art. 70 nº3 CT: “O menor tem
capacidade para receber a retribuição, salvo oposição escrita dos seus representantes
legais”. Neste âmbito, sabemos que os pais da jovem para além de aterem deixado
participar nas competições, não se opuseram de forma escrita a qualquer retribuição,
aliás apenas “(…) recusam os EUR 500,00 (…)”.
Por outro lado, se assumíssemos que o treinador teria dado o montante a Ana,
apesar de saber e haver oposição escrita dos pais desta, então, constituiria uma
“contraordenação grave (…)”, de acordo com o Nº6 do art. 70º CT.
Por outro lado, o suprarreferido requisito para a efetuação de negócios por menores,
assenta a tónica no pressuposto que estes sejam normais na vida de um menor na idade
daquele que o efetuou. Assim sendo, só pode ser tido como próprio da sua vida corrente o
negócio que esteja ao alcance da sua capacidade natural e não envolva o dispêndio de
quantias importantes.
Por conseguinte, sustentamos que a compra de um Kayak Y por EUR 650,00 não
se coadunaria como um negócio da vida corrente por se tratar de um valor avultado
quando desembolsado por uma menina de 14 anos de classe média – presunção nossa.
De outro modo, o art. 126º CC determina que “não tem direito de invocar a
anulabilidade o menor que para praticar o ato tenha usado de dolo com o fim de se fazer
passar por maior ou emancipado”. Portanto, o ordenamento jurídico tutela primeiramente a
confiança de terceiros de boa fé quando contra estes tenha sido usado dolo, fazendo-se
passar por maior ou emancipado. Não sendo tal indicado no enunciado, refrearemos
dilações.
No entanto, surge pertinente saber se, igualmente, poderiam os pais de Ana requer a
anulação dos negócios referentes à venda da medalha por EUR 100,00 e da hoodie por
EUR 50,00, respetivamente a Hugo de 17 e Rita de 12 anos.
Para isso, reiteramos os preceitos de validade – constantes art. 127º nº1, al. B) CC –
que se revelam imprescindíveis no ordenamento jurídico, uma vez que sem eles a vida
diária seria impraticável: o negócio deve ser de carácter normal e corrente na vida de um
menor daquela idade e a disposição de bens deverá ser de pouca importância.
Sem dúvida, na ótica de Ana, a venda de uma camisola por EUR 50,00 e de uma
medalha por EUR 100,00 seria tratar de valores de pouca importância, para além de que
os atos à venda relativos são devidos à disposição de bens adquiridos pelo seu
“trabalho” – na senda do abordado em parágrafos atrás.
Com isto, culminamos com a acessão que, pela vontade dos pais de Ana, não
seriam anuláveis os negócios de venda da medalha e da hoodie. Por outro lado, tal já
seria possível se da ótica dos representantes legais de Rita nos referíssemos – que por não
ser pedida no enunciado, a esta nos coibiremos.
Por fim, atentemos na pretensão dos pais de João (25 anos), beneficiado pelo
regime de maior acompanhado, para a devolução a camisola doada ao filho. Temos
conhecimento que os pais possuem administrar a totalidade dos seus bens (art. 145º nº2-c)),
mas que implicações tem para a aceitação de uma doação? Vejamos.
Assim sendo, será necessário saber qual seria a vontade imperiosa do jovem em
relação à receção da hoodie, em conjunto com a ponderação do interesse. Outrossim, deverá
ser salvaguardada a vontade quando o interesse a tal não se tornou um obstáculo. Com
efeito, a autorização dos pais de João servirá somente para moderar a vontade, no caso
em que não há uma carência absoluta de autodeterminação.
De facto, estamos perante uma doação que não contêm quaisquer cargos – uma
doação pura – consequentemente, de acordo com o disposto no artigo 951º do Código
Civil, as doações puras feitas a pessoas que não têm capacidade para contratar produzem
efeitos independentemente de aceitação em tudo o que beneficie aos donatários. Desta
forma, não haverá necessidade de aceitação pelos pais do jovem.