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Fernando A. M. Marinho
Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, fmarinho@usp.br
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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
solo. White et al (1970) formularam uma teoria saturado, possibilitou que a mesma fosse usada
para a dessaturação de meios porosos, cujo como uma importante ferramenta de alguns
mecanismo permite a definição de quatro modelos de previsão da resistência ao
regiões distintas de saturação. Na Figura 1 estão cisalhamento (Vanapalli et al, 1996; Kalili e
apresentadas as diversas regiões em que se Khabbaz, 1998).
divide a curva de retenção. Estas diferentes Estes aspectos da relação entre a resistência
condições em que a água se encontra no interior ao cisalhamento em função da sucção com a
da estrutura do solo estão ilustradas na Figura 2. curva de retenção foram analisados neste artigo
Na região de efeito de contorno (Figura 2a) os para um solo residual de gnaisse compactado no
poros estão preenchidos com água e o solo está teor de umidade ótimo da curva de compactação
saturado, com o ar podendo estar presente na definida com a energia do Proctor Normal.
forma de ar ocluso. Foram realizados 22 ensaios de compressão
simples em corpos de prova com diferentes
valores de sucção inicial. Com os resultados
destes ensaios e o valor do ângulo de atrito
efetivo, obtido de ensaios de compressão
triaxial saturados, pode-se definir o intercepto
de coesão utilizado para esta análise.
2 CARACTERIZAÇÃO DO SOLO E
MOLDAGEM DOS CORPOS DE PROVA
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Após moldagem, os 22 corpos de prova foram Logo após a obtenção da sucção inicial os
preparados por umedecimento ou secagem para corpos de prova foram colocados em uma célula
que apresentassem diferentes valores de sucção utilizada para realização de ensaios triaxiais e
no inicio do ensaio do compressão simples. Os envoltos em filme plástico para se evitar a perda
valores de teor de umidade e respectivas de umidade. Na prensa de compressão os
sucções iniciais desejados para cada corpo de corpos de prova foram submetidos a uma
prova foram definidos pela curva de retenção deformação axial de 0,03 mm/min. Não foi
obtida por Oliveira (2004). Os corpos de prova observada nenhuma variação no teor de
que foram secados foram deixados expostos às umidade dos corpos de prova após a ruptura.
condições ambientes tendo o seu peso Trata-se, portanto de um ensaio de compressão
controlado até atingir o valor estipulado na simples com deformação controlada e teor de
curva de retenção. Para umedecimento foi umidade constante, sendo permitida a drenagem
utilizado o processo de aspersão de água em da fase ar. Na Tabela 1 estão apresentados os
sucessivas etapas até se atingir o teor de valores iniciais dos índices físicos dos corpos de
umidade desejada. Após as etapas de prova, da sucção e da resistência a compressão
umedecimento ou secagem, e aguardando um simples.
período de equilíbrio inicial de no mínimo 24
horas, foram colocados dois papéis filtro na Tabela 1. Condições iniciais dos corpos de prova e
lateral de cada corpo de prova sendo resultados dos ensaios de compressão simples
γd S Sucção σc
posteriormente envoltos em filme plástico e C.P. e
(kN/m3) (%) (kPa) (kPa)
papel alumínio e colocados no interior de uma
1 15,02 0,80 82,5 157 227,8
caixa de isopor por um período superior a 7
dias, para obtenção do valor da sucção. 2 15,09 0,80 76,7 427 268,4
Na Figura 3 estão apresentadas as condições 3 15,24 0,78 70,6 600 383,0
inicias de moldagem e as condições finais de 4 15,37 0,76 61,2 743 478,2
cada corpo de prova após a etapa de 5 15,29 0,77 57,2 761 489,6
umedecimento ou secagem. Observa-se que as 6 15,40 0,76 51,4 963 560,3
sucções inicias dos corpos de prova variaram de
7 15,39 0,76 40,5 1583 573,5
20 kPa a 12000 kPa. A linha contínua da Figura
8 15,34 0,77 29,6 1855 542,4
3 representa a Curva de Retenção obtida por
Oliveira (2004) representada pela equação 9 15,34 0,77 21,0 3312 524,5
proposta por Fredlund e Xing (1994). 10 15,06 0,80 83,2 125 206,9
11 15,33 0,77 86,5 117 240,9
100
3
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400
compressão simples foram multiplicados por
300
600 kPa
0,58. O intercepto de coesão assim obtido está
427 kPa
200
apresentado na Figura 6. Observa-se que ocorre
126 kPa
um aumento dos valores de coesão até valores
100
22 kPa de sucção da ordem de 1000 kPa. A partir do
0 valor de sucção de 1000 kPa a coesão
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deformação axial (%) permanece constante até o valor de 12000 kPa.
Figura 4. Resultados dos ensaios de compressão simples Para se visualizar em uma escala mais adequada
de corpos de prova moldados nas condições da umidade o que acontece para valores de sucção de até
ótima.
1000 kPa, os resultados da Figura 6 estão
apresentados na Figura 7 até este valor de
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
sucção, juntamente com os valores do índice de
vazios dos corpos de prova.
A influência da sucção foi analisada pelo
intercepto de coesão definido pelos resultados 200
Intercepto de Coesão (kPa)
4
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200
30o
100
0
0,90
0,88
0,86
Indice de vazios
0,84
0,82
0,80
0,78
0,76
0,74
0,72
(b)
0,70
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
Sucção (kPa)
Figura 7. Intercepto de coesão e índice de vazios inicial dos corpos de prova moldados na umidade ótima.
Este fato demonstra que até este valor a sucção compactado na umidade ótima e o segundo
é tão eficaz quanto a pressão confinante efetiva valor corresponde ao instante em que não
no sentido de aumentar a resistência ao ocorre mais redução de volume do corpo de
cisalhamento do corpo de prova. A partir deste prova devido ao procedimento de secagem,
valor de sucção o incremento de resistência ao correspondendo ao grau de saturação de 50%.
cisalhamento em função do aumento da sucção
passa a diminuir gradativamente até atingir o 6 CONCLUSÕES
valor de 1000 kPa, onde se iguala a zero.
Portanto, para os dados experimentais Com a realização de 22 ensaios de compressão
apresentados na Figura 7a, tem-se um ajuste simples, realizados em corpos de prova com
linear com declividade de 30o até o valor de diferentes valores de sucção inicial, e o valor do
sucção da ordem de 50 kPa, um ajuste não ângulo de atrito efetivo, determinado de ensaios
linear para sucções variando entre 50 KPa e triaxiais saturados, pôde-se determinar o
1000 kPa e a partir de 1000 kPa um ajuste intercepto de coesão de um solo residual de
linear com declividade igual a zero. Em relação gnaisse compactado na umidade ótima. A
ao índice de vazios dos corpos de prova, influência da sucção na relação não linear do
apresentados na Figura 7b, observa-se que as intercepto de coesão foi verificada utilizando-se
reduções destes valores são maiores para como base as variações volumétricas dos corpos
sucções de até 50 kPa e passam a diminuir a de prova, através de seus índices de vazios
uma taxa menor até se tornarem praticamente iniciais, e a curva de retenção obtida por
constante para valores de sucção superiores a Oliveira (2004), para as mesmas condições de
1000 kPa. Confrontando os valores de sucção moldagem. Pode-se concluir que ficaram bem
de 50 kPa e 1000 kPa com a curva de retenção e definidos três intervalos de sucção onde a sua
os dados experimentais aqui apresentados, tem- influência nos valores do intercepto de coesão
se que o primeiro valor corresponde ao inicio da se dá de forma diferente. Na curva de retenção
dessaturação do solo residual de gnaisse o primeiro intervalo corresponde ao trecho
inicial da curva definido até o momento do
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início da entrada de ar. Neste intervalo, em Vanapalli, S. K. (1994). Simple Procedures and their
relação ao intercepto de coesão, a sucção é tão Interpretation in Evaluating the Shear Strength an
Unsaturated Soil. PhD Thesis, University of
eficaz quanto a pressão de confinamento efetiva Saskatchevan, Canada.
dos ensaios triaxiais saturados de forma que Vanapalli, S. K., Fredlund, D. G., Pufahl, D. E., Clifton,
φ’ = φb. Para o intervalo de 50 kPa até 1000 A W. (1996). Model for The Prediction of Shear
kPa, φb passa a ser menor que φ’ e diminui Strength with Respect to Soil Suction. Canadian
Geotechnical Journal, Vol.33, pp.379-392.
gradativamente de valor até se tornar igual a White, N. F., Duke, H. R., Sunada, D. K., Corey, A.T.
zero. É para o valor de sucção superior a 1000 (1970). Physics of Desaturation in Porous Materials.
kPa, limite superior deste segundo intervalo de Journal of the Irrigation and Drainage Division,
sucção, que se estabilizam as reduções Proceedings ASCE, Vol. 96, No IR2, pp. 165-191.
volumétricas dos corpos de prova na etapa de
preparação dos mesmos para o ensaio. Portanto,
o aumento da sucção esta relacionado ao
aumento nos valores da resistência ao
cisalhamento do intercepto de coesão até o
momento em que a mesma consegue reduzir o
índice de vazios do corpo de prova. O último
intervalo de sucção, definido para valores
superiores a 1000 kPa, φb= 0 e o índice de
vazios inicial dos corpos de prova, após a etapa
de preparação para o ensaio, são semelhantes.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
Bishop, A.W., and Wesley, L.D. (1975). A hydraulic
triaxial apparatus for controlled stress path testing.
Géotechnique, 25(4), 657–670.
Fredlund, D. G., Vanapalli, S. K., Xing, A., Pufahl, D. E.
(1995). Predicting the Shear Strength Function for
Unsaturated Soils Using the Soil-Water Characteristic
Curve. Proceeding of the First International
Conference on Unsaturated Soil. Vol. 1, pp. 63-69.
Paris, France.
Fredlund, D. G., Xing, A. (1994). Equations for the Soil-
Water Characteristic Curve. Canadian Geotechnical
Journal, Vol. 31, pp.521-532.
Gan, J. K-M; Fredlund, D. G. (1996). Shear Strength
Characteristics of Two Saproltic Solis. Canadian
Geotechnical Journal, Vol.33, pp.595- 09.
Khalili, N., Khabbaz, M. H. (1998). A Unique
Relationship for χ for the Determination of the Shear
Strength of Unsaturated Soils. Geotechnique, Vol. 48,
No 5, 681-687.
Oliveira, O. M. (2004). Estudo Sobre a Resistência ao
Cisalhamento de um Solo Residual Compactado Não
Saturado. Tese de doutorado - Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo/EPUSP, 330p.
Rassam, D. W. and Freeman, C. (2002). “Predicting the
Shear Strength Envelope of Unsaturated Soils,”
Geotechnical Testing Journal, GTJODJ, Vol. 25, No.
2, pp. 215–220.