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O PORTADOR DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA E SUA IDENTIDADE NA


SOCIEDADE

Trabalho apresentado a APAE pelas alunas


participantes da II Conferência de Inclusão.
Amazildes Gonçalves Gomes
Rosemary Fernandes Santos
Gilma Jacó Delcleciano
Regina da Conceição Santos Peixinho

Outubro 2014
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RESUMO

Nos dias atuais faz-se necessário reavaliar a questão da inclusão de alunos com
necessidades especiais (a deficiência auditiva). Dentro das dificuldades vemos também a
falta de verbas governamentais para programar a Educação Especial, tendo uma grande
maioria de professores sem capacitação adequada. É preciso adequar às práticas
pedagógicas para que haja o progresso e o sucesso da inclusão desses alunos com
deficiência auditiva na escola de ensino regular, Cabendo à escola, garantir para o portador
de surdez, um ambiente linguístico rico, que favoreça o seu desenvolvimento social, afetivo,
cognitivo psicomotor. Infelizmente os portadores de necessidades especiais, sofrem com os
preconceitos sociais por não se moldarem às exigências do mercado de trabalho. São os
oriundos das classes populares menos informados. A escola necessita ser transformada em
verdadeiras instituições de ensino, entendendo que a teoria e prática, conteúdo e
procedimento, ensino e sociedade são aspectos compartilhados viabilizando um ensino de
qualidade e o aprendizado para o resto da vida.

Educação. Inclusão. Qualidade.


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ABSTRACT

Nowadays it is necessary to reevaluate the issue of inclusion of students with special needs
(hearing impairment). Within the difficulties we also see the lack of government funding for
the Special Education program, with a large majority of teachers without adequate training. It
must suit the pedagogical practices so that there is progress and success of the inclusion of
these students with hearing disabilities in mainstream school, Fitting the school to ensure the
bearer of deafness, a rich linguistic environment that encourages their social, affective,
cognitive psychomotor. Unfortunately people with special needs, suffer from social prejudices
by not mold themselves to the demands of the labor market. Are those from the lower
classes less informed The school needs to be transformed into true institutions of learning,
understanding that theory and practice, content and procedure, education and society are
shared aspects enabling high-quality teaching and learning for the rest of his life.

Education, Inclusion Quality.


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APRESENTAÇÃO

Ainda nos dias atuais faz-se necessário reavaliar a questão da inclusão


de alunos com necessidades especiais (a deficiência auditiva). É com a inclusão no
ambiente escolar que pode proporcionar oportunidades e habilidades para que
esses alunos com necessidades especiais participem desta nova sociedade
emergente.

Por meio da inclusão escolar, vemos o objetivo que é o de buscar atender


crianças portadoras de necessidades especiais daí que a educação inclusiva esta
selada por dois marcos importantes, sendo que:

- O primeiro marco foi a realização da Conferência Mundial de Educação para todos.


Aconteceu em Jotien na Tailândia em março de 1990. O objetivo desta Conferência
foi para examinar o encaminhamento e enfrentamento da exclusão escolar.
- O segundo marco ocorreu em Salamânca, na Espanha em 1994, havendo a
elaboração de um documento denominado: Declaração de Salamânca, que enfatiza
várias questões, inclusive ao que se refere ao desenvolvimento de uma orientação
escolar inclusiva.

Crianças portadoras de necessidades educacionais especiais são


crianças com o padrão intelectual considerado reduzido, abaixo do normal e daí que
são conhecidas e denominadas como excepcionais. É um dilema para essas a
crianças terem acesso à educação quando atingem a idade escolar e dentre eles,
existe: a dificuldade de acesso a vagas em escolas especializadas e nas escolas
públicas de ensino regular; faltam adaptações; especializações adequadas. Por
essas razões as escolas não aceitam esse aluno especial.

Dentro das dificuldades vemos também a falta de verbas governamentais


para programar a Educação Especial, tendo uma grande maioria de professores
sem capacitação adequada. Ainda sobre a questão das dificuldades para a inclusão
do deficiente auditivo, que é uma tarefa difícil, é necessário aceitar as diferenças de
forma solidária, sem discriminação e preconceitos.
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É preciso adequar às práticas pedagógicas para que haja o progresso e o


sucesso da inclusão desses alunos com deficiência auditiva na escola de ensino
regular, porque ela deve assumir que as dificuldades desses alunos resultam de
como é ministrado o ensino e como ocorre a avaliação.

A escolha deste tema foi devido à inquietação de querer investigar e


entender como a Educação Inclusiva está ocorrendo no contexto educacional. Por
meio de análise da literatura, querendo investigar com o sentido de saber como
socializar as crianças que são portadoras de deficiência auditiva, tendo a intenção
de favorecer a melhoria do desenvolvimento psíquico e físico das crianças em
questão. Diante do que foi exposto, surgiu o tema desta pesquisa: Como está
ocorrendo a inclusão de alunos portadores de surdez na Sociedade atual?

Nos dias atuais, cabe que cada escola ao constatar os variados tipos de
necessidades especiais de seus alunos, Incluindo a auditiva que é em maior número
de casos, deve construir através do Projeto Político Pedagógico, com seu currículo
tendo espaços para atender a todos os educandos, assim, certamente vai ocorrer a
colaboração para desenvolver as potencialidades dessa clientela.

A metodologia deste estudo está caracterizada como uma pesquisa


bibliográfica, realizada através de artigos, livros e com a fundamentação teórica de
pesquisadores específicos da área de Surdez.

DESENVOLVIMENTO

A história dos surdos está incluída na história da humanidade, possuem


como grupo: Temas, linguagem, identidade e cultura nas quais para haver seu
reconhecimento foram travados batalhas desde a antiguidade até os dias atuais. Na
Idade Antiga, a crença era de que portadores de deficiência não podiam ser
educados por serem considerados como uma aberração da natureza.

Durante um longo período, os portadores de deficiência foram rotulados


de incapazes e não podiam participar de nenhum tipo de vida “normal” como as
pessoas da comunidade. Neste período, havia o extermínio de crianças que
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nascessem deficientes, não se preocupavam com uma forma de socializar os


deficientes.

No século xx, devido à evolução da tecnologia, a educação dos surdos foi


dominada com a ideia do oralismo. (queriam que os surdos aprendessem a falar).
Ocorreu insucesso devido aos surdos mesmo tendo a educação através do
oralismo, não conseguiam se comunicar, ou manter uma conversa, não conseguiam
emprego.(GOLDFELD, 1997, p. 31) afirma que: “o oralismo percebe a surdez como
uma deficiência que deve ser minimizada através da estimulação auditiva”.

Vemos que a filosofia oralista não aceita a língua de sinais como língua
natural do surdo e daí quer impor a língua oral, transformando a escola em clínica
fonoaudióloga, como um espaço de reabilitação da fala.

Cabe a escola, garantir para o portador de surdez, um ambiente


linguístico rico, que favoreça o seu desenvolvimento social, afetivo, cognitivo
psicomotor. Sabe-se que sessões de terapia da fala não permitem esse
desenvolvimento acima citado e traz consequências negativas ao desenvolvimento
saudável da criança surda.

Os portadores de surdez e a Educação no Brasil

No século passado, na década de 50, sob a lei nº 839 de 26 de janeiro.


Lei assinada por D. Pedro I quando inaugurou a fundação do Imperial Instituto dos
Surdos (atualmente Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES) foi fundado
em 26 de setembro de 1857, tendo o francês Ernesto Heret, professor, que ao
chegar ao Brasil foi apresentado ao Imperador e que também facilitou a Fundação
de outro Instituto, o Santa Terezinha no dia 15 de abril de 1829, oferecia
atendimento sócio pedagógico.

A princípio, a educação de portadores de surdez era feita através da


linguagem escrita articulada e falada; sinais e datilogia. Havia a disciplina “leitura
sobre os lábios” que, estava voltada só para os que apresentassem aptidões e a
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desenvolver a linguagem oral, o trabalho era feito por professores comuns, sem
especialização.

De acordo com a declaração de Salamanca, preocupada com a inclusão


(1990, p.15):
[...] a expressão necessidades educacionais especiais refere-se a
todas as crianças e jovens cujas carências se relacionam a
deficiência ou dificuldades escolares. (...) Neste conceito, terão que
se incluírem crianças de rua ou crianças que trabalham crianças de
populações remotas ou nômades, crianças de minorias linguísticas,
etnias ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavoráveis ou
marginais.

A inclusão educacional não pode ser entendida como o simples ato da


aceitação da matrícula de um educando na escola regular.

Atualmente no Brasil temos um novo paradigma da inclusão e se faz pela


consciência de que não se pode mais aceitar a exclusão, que foi construída
lentamente pela humanidade durante séculos. Agora, escola é para todos sem
distinção de credo, raça, sexo, classe social, é inclusiva e aberta para acolher as
diferenças. Direito que ficou estabelecido na Constituição de 1824, desde o Brasil
Império.

A construção da inclusão que, em termos de educação, se dá na família,


na comunidade, nas agências sociais de educação e em especial na escola significa
a construção de uma educação formadora dos valores de justiça, igualdade e
fraternidade.

A surdez é tida como uma questão de linguagem fora do sujeito e


podendo ser superada através da comunicação adotada por um grupo especial:

Sá (199, p.47) afirma que:

[...] a dificuldade maior dos surdos está exatamente na aquisição de


uma linguagem que subsidie seu desenvolvimento cognitivo, os
estudos que envolvem a condição de pessoa surda são revisto de
fundamental importância e seriedade, visto que a surdez analisa
exclusivamente do ponto de vista do desenvolvimento físico, não é
uma deficiência grave, mas a ausência da linguagem, além de criar
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dificuldade no relacionamento pessoal, acaba por impedir todo


desenvolvimento psicossocial do individuo.

É essencial a importância da comunicação para os seres humanos: O


individuo com surdez que não tem interação de troca de comunicação, acarreta um
negativismo na sua vida, levando-o ao afastamento, solidão e a perda de convívio
na sociedade, fazendo também com que tenha sérios problemas psicológico e
depressivo.

Teóricos defendem a Cultura surda no contexto de uma perspectiva


multicultural, vemos que MOURA (1996) defende a existência desta uma cultura
surda, afirmando que:

Apoiada nesta noção de multiculturalismo crítico e que vejo a


possibilidade de afirmação da cultura dos surdos, que deve ser vista
não como uma diversidade ser defendida e mantida fora do contexto
social mais amplo, mas que deve ser entendida como existente e
necessária de ser respeitada. A forma especial de o surdo ver,
perceber, estabelecer relações e valores deve ser usada na
educação dos surdos, integrada na sua educação em conjunto com
os valores culturais da sociedade ouvinte, que em seu todo vão
formar sua sociedade. (Moura 1996, p.116).

Existe por parte do portador de surdez, a busca da sua identidade e em


relação a esta busca, a língua é diretamente associada à identidade, a competência
natural e acaba proporcionando ao portador de surdez, o sentimento de que ele
pertence a um determinado grupo, ele tem uma identidade.

Entretanto são evidentes as dificuldades que o portador de surdez


enfrenta ao longo de sua vida, a começar por sua própria família que em sua grande
maioria, insiste em torna-lo um ser que compreende o falam o que conversam,
diante disso MORATO (2000, p.2) faz a seguinte afirmação:

Herdeira do raciocínio greco-romano, a cultura ocidental não tem


deixado de ver a perda ou alteração da linguagem como verdadeiro
escândalo, capaz de atingir literalmente a natureza do homem. Junto
com o esquecimento, a perda de linguagem parece ser o pior dos
meles de nossa época. Entretanto, não é de qualquer concepção de
linguagem que esta se falando aqui. A linguagem cuja perda é
lastimada é aquela que seria por excelência a expressão do poder
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racionalizante da mente e que, portanto, é tida como objetiva, clara,


transparente, verdadeira e comunicativa. Em outras palavras, uma
linguagem quase divina. Trata-se como se observa, de uma
concepção de linguagem profundamente idealizada.

Diante do exposto temos que admitir que o portador de surdez deva


conhecer a sua própria linguagem, (leitura labial), os pais, a família deve estar
disposta a considerar a integração à forma de comunicação e dessa forma, manter o
portador de surdez na estrutura familiar, como um ser normal.

A libra é considerada como a língua de sinais e assim legitima o portador


de surdez como sujeito de linguagem, sendo capaz de transformar o que chamam
de anormalidade em diferença. A comunidade surda tem como concepção, unir a
surdez e a língua em comum com o objetivo de definir uma realidade social que
deve também ser entendida como unidade social.

É um fato de que a perda audição existe e deve ser fortemente encarada e


enfrentada. (BUENO (1998), p. 06) faz a afirmação que:

Se ela passar a ser considerada como uma mera diferença, qualquer


ação contra a sua incidência deverá ser combatida. Se quisermos
manter a postura coerentemente democrática. Se, de outra forma,
concordarmos com formas para a sua preservação ou a sua
erradicação, apesar de qualquer discurso, ela será considerada
como um mal a ser evitado.

Quando se denomina “surdez” de deficiência auditiva, e quando propões


o implante cloquear para sanar esta deficiência, não se pode considerar uma
solução tecnológica para a “doença”. Ao existir propostas alternativas para curar a
surdez, está incluída nestas propostas, a dificuldade da sociedade de lidar com o
diferente. São essas dificuldades que existem em todos os lados para aceitar.

Diante das dificuldades que a escola enfrenta, é a falta de conhecimento


do professor em relação a de como lidar com o aluno portador de surdez, daí
sugerimos que haja formação continuada específica onde o professor ao fazer o
curso deve:
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- ter atenção nas aulas, não conversar em língua oral, use língua de sinais durante
todo o período de aula. Não tente traduzir conversa em sinais e sim procure
entender os sinais, a atenção na repetição e no contexto, irá ajuda lo a adquirir a
língua, a libra não é português sinalizado.

- Observe as conversas em libras, do instrutor com a turma ou com um aluno e


também entre dois portadores de surdez, fazendo assim você terá ajuda para
aumentar o seu vocabulário.

- Ao conversar em libras, não focalize só as mãos da outra pessoa, mantenha o


contato olho no olho, sempre observando as expressões corporais e faciais.

- Em uma conversa, procure ser ativo e quando não entender faça a expressão
facial de negação e acene com a cabeça quando entender certo. Isso faz parte da
cultura do surdo. Preste a sua atenção a todas as expressões faciais que os
portadores de surdez fazem quando conversam entre si, visto que a língua é
visual/gestual.

- Tenha dedicação para que o seu objetivo seja alcançado. Participe da aula,
comente e discorde ou concorde. Tire todas as suas dúvidas.

- O professor, não escuta, portanto respeite, ele não escuta e por isso use apenas a
língua de sinais. Use a libra sempre que tiver um portador de surdez presente.

- Procure entender o conteúdo da conversa com um sinal e se o sinal for repetido


pergunte o significado.

- Faça sua pergunta sempre ao instrutor e não a um colega assim você ganhará a
experiência de entender o significado pleno em libras.
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CONCLUSÃO

No Brasil, está constatado o esforço feito por determinados seguimentos


sociais e políticos no sentido de incluir em várias leis o direito à igualdade
educacional com atendimento integrado de aluno com deficiência auditiva na rede
regular de ensino.

Ainda assim, vemos que portador de necessidades especiais de surdez,


com nível de gravidade maior, tem sofrido também com as consequências da
política educacional em vigor, por conta de se mostrar democrática, culturalmente
vinculada aos interesses do sistema que na maioria das vezes inclui, mas não dá
assistência sistemática necessária.

Infelizmente os portadores de necessidades especiais, sofrem com os


preconceitos sociais por não se moldarem às exigências do mercado de trabalho.
São os oriundos das classes populares menos informados.

A escola necessita ser transformada em verdadeiras instituições de


ensino, entendendo que a teoria e prática, conteúdo e procedimento, ensino e
sociedade são aspectos compartilhados viabilizando um ensino de qualidade e o
aprendizado para o resto da vida.
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BIBLIOGRAFIA

BUENO, I. G. S Surdez, linguagem e Cultura. Caderno cede, (V.46, pp.41-56)


setembro 1998.

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Conferência mundial sobre necessidades


educativas especiais: Acesso a qualidade. Salamanca, Espanha, 1990.

GOLDFELD, M. A. A criança surda, linguagem e cognição numa perspectiva


sócia- interacionista. São Paulo: Plexus, 1997.

MOURA, M. C. O surdo: Caminhas para uma nova identidade. Rio de Janeiro:


Revinter, 1996.

MORATO, P. P Deficiência mental e aprendizagem. Estudos dos efeitos de


diferentes ambientes de aprendizagem na aquisição de conceitos espaciais com
trissonomia. 21 Lisboa: Universidade técnica de Lisboa. 2000.

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