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O pintor revolucionário

Plínio PalhanoArtista plástico

Publicado em: 13/05/2019 03:00 Atualizado em: 13/05/2019 08:41

Paul Cézanne nasceu e morreu rico, graças principalmente ao pai, Louis-


Auguste, homem habilidoso nos negócios, de origens operárias, ex-
chapeleiro que ascendeu como banqueiro e se tornou um dos cidadãos
mais bem-sucedidos de Aix-en-Provance, terra natal do pintor burguês, “o
mais burguês dos burgueses franceses”, também considerado o mais
revolucionário do seu tempo. Como a sociedade de Aix não aceitava o ex-
chapeleiro por puro preconceito pelas suas origens, até mesmo quando
alcançou o status de banqueiro de destaque, direcionou o seu filho a uma
formação sólida, porque pretendia que ele seguisse a carreira da
magistratura para honrá-lo ante os concidadãos que o renegava.

Cézanne estudou nos melhores centros educacionais e foi no Colégio


Bourbon que conheceu Émile Zola, quando construíram uma bela amizade
no período da juventude que, na maturidade, apresentou discordâncias
pessoais nas concepções de vida, mas os laços permaneceram. Os dois
eram estudantes notáveis interessados em literatura e poesia, que fez
Cézanne registrar a outro amigo: “Imagine que, no colégio, Zola e eu
passávamos por fenômenos...” Após esse período de formação o escritor
segue à Paris para a sua trajetória, inicialmente, como jornalista, e Paul
fica em Aix sob a influência do pai que o queria na faculdade de direito
para concretizar o sonho de ver o filho como magistrado.

Impelido por Louis-Auguste estuda um ano no curso de direito, mas logo


sente que não é o seu caminho e o pai fica decepcionado. Quer ir à Paris
para estudar pintura. O banqueiro não pensa em apoiá-lo, mas a irmã
Marie e a mãe, Anne, conseguem dobrar o velho Louis, e este a
contragosto permite que Cézanne vá à Paris, como experiência, e
permaneça durante um ano, mantendo-o com uma modesta pensão. Após
alguns fracassos do pintor em Paris, retorna para Aix-en-Provance e o pai
o coloca no banco, para mais uma decepção: o único homem da família
não queria cumprir a tarefa de continuar a atividade do pai, escolheu
definitivamente ser um pintor, para o desgosto de Louis-Auguste
Cézanne...

A história de Paul Cézanne é um testemunho vivo de inteligência,


perseverança e coragem em alto grau. Foi um artista, em grande parte de
sua trajetória, incompreendido pelo público, pela crítica vigente, por
alguns artistas e pela oficialidade da arte, na academia e nos Salões de
Paris. A sua formação como pintor foi complexa, renegado pela Escola de
Belas Artes fez o seu próprio caminho, aliando-se a outros que também
estavam no mesmo estágio de vida, os considerados rebeldes ao o
estabelecido do que era arte nos meios acadêmicos. Após passar por uma
fase romântica-expressionista, com pinceladas largas, dramáticas,
espessas, ele embarca na concepção dos jovens artistas que estavam a
propagar na pintura a luz natural das paisagens e sobre as coisas, que o
jornalismo à época os identificou como impressionistas, e não foram
aceitos de imediato pelo grande público. Começou a frequentar a
convivência com Camille Pissarro, de quem adquiriu a captação da luz
pelas pinceladas, uma influência enriquecedora e uma amizade
permanente. Ao mesmo tempo veio Auguste Renoir, Claude Monet, que
compartilharam juntos em exposições impressionistas com outros
pintores.

Mas, Cézanne foi além do impressionismo. Criou sua própria concepção de


interpretar o mundo visível, à medida que envelhecia, refinava a sua
pintura e quando apresentou esses períodos foram denominados pela
crítica posterior de analítico, sintético e barroco; fases em momentos
diferentes, mas que se confundem numa geometria sólida e arquitetural,
baseada na construção da cor no espaço, ainda não explorado por outros
criadores. Ele se dizia um artista do futuro, e o foi. Reconhecido nos seus
últimos dias como um dos gênios que contribuíram para uma nova visão
na arte, sua obra então se espalha sobre a Europa e América; admirado,
principalmente, entre os jovens artistas que o tratavam com um respeito
a um demiurgo. A partir dele a modernidade se concretizou, não teria
mais volta, a revolução foi instalada...

https://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/opiniao/2019/05/13/3
475451/o-pintor-revolucionario.shtml

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