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Genetica Bom Pacas PDF
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1.1. Introdução
Ao se cruzar cultivares de feijão (Phaseolus vulgaris L.) que têm flores brancas, que
sejam homozigotas, obtém-se a primeira geração filial, a F1, com flores de cor púrpura.
Sabe-se que a geração F1 é, por excelência, heterozigota, derivada do cruzamento entre
paternais homozigotos, portanto possui em seu genótipo as duas formas alélicas em todos
seus genes.
Ao se cruzar as plantas da F1 entre si obtém-se a geração F2, onde se percebe que a
proporção de flores púrpuras para brancas é de 9:7. Com essa proporção chega-se a
concluir que são dois genes que estão agindo para a manifestação do fenótipo e que o
produto protéico resultante possui uma interação do tipo Epistasia (Ver Texto 5).
É de conhecimento que na epistasia um alelo de um gene pode inibir o outro, ou que,
quando os dois alelos ou apenas um de um gene não está presente no genótipo, o fenótipo
fica alterado. Para melhor se entender a proporção epistática mencionada citar-se-á abaixo
sua composição genotípica, usando simbologia aleatória.
Genética molecular 2
3 aa B- branca
1 aabb branca
Para manter ambos os filamentos unidos os degraus da escada, que são as bases
nitrogenadas, estão ligadas entre si por pontes de hidrogênio. As bases nitrogenadas
possuem uma ordenação específica de ligação. A Adenina liga-se com 2 pontes de
hidrogênio a Timina e a Citosina com 3 pontes a Guanina. Esse pareamento é constante,
apenas as quantidades se alteram.
Toda molécula de DNA, num organismo, encerra a informação para o
desenvolvimento desse mesmo organismo. A cor do hipocótilo, a posição e a pigmentação
das folhas, das flores, o tamanho das vagens ou das espigas, o peso das sementes, a
produtividade são característica determinadas pelos genes que estão no DNA. E, além
disso, possui também a informação para a produção de enzimas que irão desdobrar os
substratos no interior das células, para que essas características possam se manifestar.
Portanto a molécula de DNA tem o que se denomina de gene. Se o gene está presente
a característica que ele determina aparecerá. Se a sua forma alélica estiver presente no
genótipo, outra característica se manifestará, dependendo do tipo de interação que estiver
envolvido esse gene.
Então para se responder como a cor púrpura é produzida deve-se levar em
consideração que um alelo dominante de um gene A deve estar presente. Esse alelo, no
DNA, possui a informação, codificada na sequência e bases nucleotídicas, que produz uma
enzima que transforma o substrato 1 em 2. Assim como, no outro gene B, o alelo
dominante também deve estar presente para haver a transformação do substrato 2 em 3. O
substrato 3 é o que produz a cor púrpura.
Em resumo:
alelo A alelo B
EA EB
Caso um desses alelos não esteja presente no indivíduo a cor será branca, porque
haverá bloqueio na rota metabólica, conforme esquema abaixo:
alelos aa alelos B- alelos A- alelos bb
ou
Ea EB EA Eb
O período de interfase pode ser subdividido em três subperíodos: G1, S e G2. Ambos
subperíodos, G1 e G2, derivam da primeira letra da palavra gap, que, em inglês significa
parada. No período G1 são produzidas enzimas para o crescimento e diferenciação celular,
e enzimas que atuarão sobre o DNA no subperíodo seguinte. Neste estágio o DNA recebe o
nome de cromatina. Ela está desespiralizada permitindo a expressão fenotípica do gene,
através de uma outra macromolécula denominada RNA.
No período S (Síntese) é onde ocorre a duplicação de toda molécula do DNA.
Enzimas específicas já produzidas agem sobre o DNA fazendo sua duplicação.
Esse processo, como não poderia deixar de ser, é de forma ordenada. Nas
extremidades e ao longo do DNA, ao mesmo tempo, proteínas começam a agir
desenrolando os filamentos, são as chamadas DNA-topoisomerases. A DNA-girase, que é
uma delas, provavelmente faça o DNA girar de forma contrária ao seu enrolamento
natural, provocando o afrouxamento dos dois filamentos. A DNA-helicase provavelmente
quebre as pontes de hidrogênio no local de origem da duplicação. Com o afrouxamento dos
fios de DNA a principal enzima de duplicação poderia agir. É a DNA- polimerase.
O DNA pode ser copiado em novo DNA, como processo acima descrito, ou ser
copiado para uma nova macromolécula chamada RNA (ácido ribonucleico).
Se se entender o genes como uma conta, o DNA pode ser entendido como um “colar
de contas”. Os genes desta forma estão dispostos linearmente ao longo de todo DNA.
Hoje se sabe que nem todos os genes se transformam em proteínas para originarem
fenótipos. Há genes nos eucariontes que não funcionam. Esses já funcionaram durante o
processo de evolução da espécie ou poderão funcionar permitindo sua readaptação a
ambientes modificados, como tem acontecido nos últimos tempos.
Há no genoma sequências de genes não repetidas e sequências altamente repetitivas
decorridas de processo de duplicação ao longo da evolução. A maioria dos genes
estruturais estão nas sequências não repetitivas produzindo as proteínas. Em ervilha cerca
de 15% do DNA é constituído de cópias únicas ou com pouca repetição (Mantel et al,
1994). Esses autores citam que o DNA altamente repetitivo forma a heterocromatina nos
centrômeros dos cromossomos.
Ao longo do DNA existem genes que controlam genes. São chamados de
controladores ou reguladores. Esses genes produzem proteínas que se ligam ou se desligam
do DNA permitindo a produção ou não de proteínas pelos genes estruturais.
Os genes estruturais são os que realmente produzem enzimas que entrarão nas rotas
metabólicas para a transformação de substratos e, por consequência, a caracterização do
fenótipo. Por isso pode-se afirmar que esses são os genes que se transformam em
Genética molecular 6
1.5.1. A transcrição
base nitrogenada que irá parear com a adenina será a uracila e a outra é no açúcar, que é
uma ribose. Dessa forma simples o RNA mensageiro vai se formando, até que a RNA
polimerase encontre o ponto de término da transcrição. A direção dessa síntese é da
extremidade 5’ >>>3’ da molécula de DNA.
Guilfoyle e Malcolm em 1980 (citado por Mantell et al, 1994) isolaram a enzima
RNA polimerase em embriões de soja, enquanto Jendrirak (1980), citado pelos mesmos
autores, a isolou em trigo. Isto foi a confirmação da analogia do que ocorre entre os
processos de transcrição em organismos diferentes, no caso a soja e o trigo.
Deve-se aqui por uma ressalva: nos eucariontes o RNA produzido da forma acima
descrita recebe, atualmente, o nome de pré-RNA, pois ele contém partes que irão se
transformar em proteínas e partes que não fazem parte das proteínas, naquele momento.
Após a produção do pré-RNA algumas transformações devem ocorrer para que ele
possa atravessar a carioteca e ir até os ribossomos. Essas modificações são necessárias
porque grande parte dos genes eucariontes é interrompida. Entretanto, a RNA polimerase
copia todo segmento, indiscriminadamente, do DNA para formar o pré-RNA. As
transformações posteriores são para que passe somente cheguem ao citoplasma, partindo
do núcleo, as informações na forma de bases nucleotídicas que codificarão a proteína. As
estruturas no pré-RNA que se transformarão em proteínas se chamam exons e segmentos
que não são traduzidos que se denominam de introns.
Figura 1.1 Formas de produção de RNAm a partir de diferentes exons que ocorre em
diferentes tecidos vegetais (Alternative splicing) (Fonte:
http://pandasthumb.org/images/altsplice.jpg)
Após essas transformações, que ocorrem ainda dentro do núcleo, o RNAm está pronto
para ir até o retículo endoplasmático e iniciar o processo de tradução.
Nem todos os organismos têm como material genético, o DNA de filamento duplo. Há
vírus que possui moléculas de RNA como material genético. Um exemplo é o TMV, vírus do
mosaico do tomate, que é um retrovírus. Antes desse vírus infectar a planta ocorre a produção do
DNA a partir do seu RNA usando a enzima chamada transcriptase reversa. A partir daí fixa-se
sobre a folha e injeta seu DNA no interior da célula hospedeira, que possui DNA normal de
filamento duplo e após a célula passa a trabalhar com as informações genéticas injetadas pelo
vírus.
1.5.3. A tradução
aminoácidos vão sendo colocados conforme a informação ditada pelo códon exposto no sítio A
do ribossomo. O processo continua seqüencialmente até encontrar o ponto final.
O ponto final é caracterizado por três códons. São eles: UAA, UAG e UGA. Esses códons
vêm na porção 3’, antes da cauda de Poli A e determina o desligamento do RNAm do RNAr. O
que permanece é a proteína formada com sua seqüência primária de aminoácidos e já com suas
outras estruturas, secundária, terciária e quaternária, definidas. Essa correlação existente entre
códons no RNAm e aminoácidos na proteína, permitiram o estabelecimento de um código
genético.
Depois das descobertas que: (1) o DNA é o material genético; (2) que o RNAm é uma
cópia do DNA e o intermediário entre a informação genética e a proteína e (3) que a estrutura
primária da proteína está em acordo com a informação constante no DNA, ficou estabelecido
um código, com pequenas variações entre os organismos e que resume todo o processo de
tradução.
2. O código é em trincas
Com a explicação do item anterior percebe-se que cada três bases ribonucleotídicas no
RNAm corresponde a um códon e que nenhuma dessas bases será aproveitada para outro códon,
anterior ou posterior.
3. O código é degenerado
Ao se verificar a tabela de códons percebe-se que vários aminoácidos são codificados por
mais de um códon, por exemplo, glicina é codificada por GGG, GGC, GGA e GGU. Exceção a
esta propriedade tem a metionina que é codificada apenas por AUG e triptofano por UGG,
somente.
1.7. A Proteína
Viu-se no início deste capítulo que a produção de determinado fenótipo, cor púrpura das
flores de feijão, é dependente exclusivo de dois genes de interação epistática. A cor branca
evidencia a falta de um alelo dominante. Os fenótipos, como resultantes finais de todo processo
molecular, são dependentes dos genes, das interações entre si e deles com o meio ambiente.
Sob esse aspecto e do ponto de vista que todos os cromossomos, e, portanto todos os
genes, estão em todas as células, como é que ocorre a regulação metabólica desses genes?
Quando se analisa uma cenoura, por exemplo, pode-se perceber que no colo a cor verde aparece
quando ela fica a descoberta do solo. A luz, portanto é a indutora para que genes responsáveis
pela produção de clorofila fiquem ligados e o fenótipo verde apareça. No ápice da cenoura a cor
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é sempre constante. Neste ponto os genes responsáveis pela produção de clorofila estão
desligados, mesmo estando presentes nos cromossomos e, portanto nas células.
Outro processo indutivo de regulação gênica pode ser observado quando sementes
colocadas no solo começam o processo de germinação. Nesse caso é necessário que moléculas
de água penetrem pelo tegumento atingindo o embrião. Entretanto para que o embrião seja
nutrido, a giberelina, um hormônio vegetal, é ativado e, a partir dele, enzimas são produzidas
para a degradação do endosperma. A primeira enzima produzida pela indução da giberelina é a
alfa-amilase, tornando-se, portanto, a principal hidrolase na germinação das sementes. É uma
endoenzima que hidroliza das ligações α-(1,4) ao longo dos polímeros de amilose e
amilopectina.
A giberelina, que é produzida nas células do eixo embrionário, difunde-se até o escutelo e
a camada de aleurona, onde atua como um ativador primário na cascata de sinais, que culmina
com a indução de um fator de transcrição (o GAMyb) e a expressão gênica das enzimas
hidrolíticas (Ueguchi-Tanaka, et al., 2000). Além disso, esse hormônio promove o alongamento
do caule das plantas.
Em ervilhas altas foi identificado o gene Le(le) que promove o alongamento do caule. O
alelo Le codifica uma enzima que hidrolisa o GA20 para produzir GA1. O alelo recessivo le
codifica uma enzima defectiva que tem função diminuída na proporção de 1/20 da normal,
deixando as plantas anãs por possuírem menos GA1.
A giberelina também atua sobre as proteínas que regulam a divisão celular (CDK’s) –
proteínas quinases dependentes de ciclina – em plantas de arroz submersas. Nessas plantas a
giberelina ativa o ciclo celular primeiro na transição da fase G1 para a fase S, provocando
aumento da atividade mitótica. Os genes CDK’s são então ativados nas fases anteriores da
mitose e quando atingem essa fase disparam a divisão celular no meristema intercalar do caule,
aumentando o número de células e também possibilitando seu alongamento.
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