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I
Reconhecemos a essencialidade da apropriação da linguagem escrita, sabemos
da importância da literatura e confiamos em seu papel formador. Nessa ordem
de ideias, entendemos o direito que tem todo o ser humano (criança, jovem,
adulto) à leitura e à compreensão de bons textos literários.
Falar de leitura hoje, implica reconhecer que o mundo contemporâneo demanda
semioses múltiplas, e, por conseguinte, entende-se leitura como ato fenomênico;
perspectiva que entende que somos também leitores de formas, sons, cores, luz,
volumes, estruturas, gestos, silêncios, etc.
A designação que atribuímos ao leitor já alcança outras esferas e diferentes
palavras concorrem para nomear aquele que lê: receptor, telespectador, leitor,
narratário, destinatário, intérprete, ouvinte, espectador, interlocutor, arquileitor,
leitor-modelo, leitor-ideal, leitor implícito, leitor explicito, internauta, leitor
ubíquo etc etc.
II
1
Síntese
1
Esta síntese corresponde a leituras e fichamentos que realizei para meus estudos e cursos.
inicial pode ser tão grande que um longo processo de recepção faz-se necessário para que se
alcance aquilo que, no horizonte inicial, revelou-se inesperado e inacessível. ” (1944:44)
VI. Propõe a visão sincrônica como forma de mostrar o sistema de relações da
literatura de uma dada época e a sucessão desses sistemas.
VII. Invertendo a posição marxista da literatura como reflexo da sociedade, Jauss
enfatiza que a literatura pré-forma a compreensão de mundo do leitor, repercutindo então em
seu comportamento social.
O conceito de horizonte, Jauss retirou dos escritos de H. G. Gadamer que reiterava “que
só pode entender um texto quando se compreendeu a pergunta para a qual ele constitui uma
resposta”.
Wolfgang Iser
A crítica de Iser a Chklovski está ligada ao fato de, para ele, a arte obscurecer e
aumentar a dificuldade e a duração da percepção. Para Iser (1979:112), “não se pode dizer que
a arte complica a percepção do objeto, mas sim que, por seus graus de complexidade, dificulta
a constituição do sentindo, consequentemente a ideação pelo leitor”. Com essa observação,
ele transforma o conceito de estranhamento em dificuldade de ideação e nos compele a
abandonar as imagens já formadas e criar imagens que não seriam concebíveis habitualmente.
Para a crítica que Jauss fazia aos formalistas, sobre a ausência de condicionantes
históricas, Roman Jakobson (1983:490) esclarece que: a pesquisa formalista demonstrou
claramente que o desvio e as modificações não são meramente dados históricos (primeiro
havia A, depois A1 apareceu em seu lugar), mas sim que o desvio é também um fenômeno
sincrônico de experiência direta, um valor artístico altamente relevante”.
Para Jakobson, a importância dos estudos formalistas refere-se também ao fato de que
A crítica que se faz aos estudos desses teóricos é que o recebedor (como quer
Mukarovsky) “é reduzido a um papel passivo, encarado como espaço onde se realizam de
modo surpreendente os artifícios artísticos não familiares” (Zilberman, 1989:20).
Na esteira dessas teorias, outras também apontam o leitor como um elemento
importante para a recepção: a sociologia da leitura, liderada por Goldman, Lukács, Escarpit
que, não teorizando metodologicamente sobre os problemas da recepção, não traz uma
contribuição específica para a teoria da recepção. Mesmo assim teve um papel importante ao
permitir a compreensão do fato literário, como bem de circulação e consumo.
Jauss considera¹¹ que a concepção marxista de Literatura, que norteou os estudos da
Sociologia da Literatura até Lukács se restringiu à teoria do reflexo e, daí, ao ideal da mimesis
do realismo burguês, só a partir de Brecht pode-se falar de uma consideração do efeito da
Literatura.
Outros autores, nas últimas décadas, defenderam outras ideias e tiveram papel
importante, não como teóricos da recepção, mas pesquisadores que marcaram os estudos
teóricos tanto da literatura quanto da comunicação e, de alguma forma, acabaram discutindo o
papel do leitor.
Do estruturalismo francês, merece destaque Roland Barthes. A publicação de seu
livro Le degré zero de l’écriture, em Paris, 1953 (anterior às obras dos teóricos alemães),
coloca em cena o conceito de écriture que, para ele, “é uma realidade ambígua: por um lado,
ela nasce incontestavelmente de uma confrontação do escritor coma sociedade; por outro lado,
ela remete o escritor, por uma espécie de transferência trágica, às fontes instrumentais de sua
criação.” (apud Perrone-Moisés 1978:35).
Vinte anos mais tarde (1973), ele publicou Le plaisir Du texte. Nesta obra, a relação
exto / leitor recebe um tratamento novo, uma visão hedonista da leitura. Segundo Jauss
(1979:73), Bathes empenhou-se na reabilitação do prazer estético. Dirigindo-se contra a
suspeita panideológica de que todo prazer estético não passa de um instrumento da classe
dominante, e acabou radicalizando a questão, transformando o ato de leitura num ato de
prazer, pleno de sensualidade, mas comandado pelo texto. Barthes queria delinear uma
estética moderna para examinar a fundo o prazer do consumidor, daí oferece a dicotomia
prazer (plaisir) e gozo (jouissance):
Texto de prazer: aquele que contenta, preenche, dá euforia; aquele que vem da
cultura, não rompe com ela, está ligado a uma prática confortável da leitura. Texto de
fruição: aquele que coloca em estado de perda, que desconforta (talvez até um certo
enfado), faz vacilar as bases históricas, culturais, psicológicas, do leitor, a
consistência de seus gestos, de seus valores e suas lembranças, faz em crise sua
relação com linguagem. (Barthes, 1973:22)
Uma parte da crítica marxista e os próprios teóricos da recepção foram duros com o
autor. Tery Eagleton (1944:88) afirma que “assim a literatura parece um laboratório e mais
um boudoir. (...) Barthes nos apresenta uma experiência privada, a social, essencialmente
anárquica”. Jauss (idem: 74), ao se referir ao prazer estético, também critica Barthes dizendo
que ele ressalta unilateralmente o ‘caráter insular’ da situação de leitura comunicativa”. Desta
forma, Jauss acrescenta, ainda, que Le plaisir Du texte vai tão longe que a primazia ontológica
do texto, de início abandona, retorna, podendo tornar-se até mesmo um objet-fétiche
(1979:74).Assim, finaliza Jauss: “Cabem neste reparo as teorias da chamada semiótica
parisiense e do grupo TEL QUEL, contra as quais se levantou a conhecida e até hoje não
rebatida censura de Sarte: absolutizam a abra como écriture, afastam o leitor e, com isso,
esquecem que a literatura é comunicação” (Jauss, 1979:53).
Um leitor mais atento percebe que Barthes fez o que pretendia: “o prazer do texto”, e
não, o prazer da leitura. Para ele, o leitor é o contra-herói e coloca mais explicitamente que
“não é a pessoa do outro que me é necessária, é o espaço: possibilidade de uma dialética do
desejo, de uma imprevisão do desfrute: que os dados não estejam lançados, que haja um jogo”
(Barthes, 1973:9). Nessa medida, que governa o leitor é o texto e, com isso, retorna a visão
imanentista (que os professores de Konstanz tanto criticavam), mas numa roupagem
escritural.
Na mesma década dos alemães, outro autor começou a se destacar: Umberto Eco. Em
1962, publicou Obra Aberta, marco inicial de seus estudos sobre a interpretação. Nesse livro,
procura defender a ideia de que a obra de arte (não só a literatura) é um objeto produzido por
um autor que organiza uma seção de efeitos comunicativos de modo cada possível fruidor
possa re-compreender (através do jogo de respostas à configuração de efeitos sentida como
estimulo pela sensibilidade e pela inteligência) a mencionada obra, a forma originária
imaginada pelo autor. Para Eco, o autor produz uma obra acabada, mas cada fruidor traz uma
situação existencial concreta, uma sensibilidade, (...), gostos, preconceitos pessoais, e de
modo que a compreensão da forma organizada se verifica segundo uma determinada
perspectiva individual. (Eco, 1971:40).
A grande contribuição da Obra Aberta (1971:48) tenha sido talvez considerar a obra de
arte em geral, não só a literatura, e perceber que a estética contemporânea, principalmente
pintura, musica, em lugar de sujeitar-se à “abertura” com fator inevitável, erige-a em
programa produtivo. É o caso de “Finnegans Wake, de James Joyce. Obra em que “ todo
acontecimento, toda palavra, encontra-se numa relação possível com todos os outros e é da
escolha semântica efetuada em presença de um termo que depende o modo de entender todos
os demais. Isso não significa que a obra não tenha um sentido(...), mas esse sentido tem a
riqueza do cosmo”. Quanto ao fruidor, Eco (1971:93) destaca que:
As poéticas contemporâneas, ao propor estruturas artísticas que exigem do
fruidor em empenho autônomo especial, frequentemente uma reconstrução,
sempre variável, do material proposto, refletem uma tendência geral de nossa
cultura em direção àqueles processos em que, ao invés de sequência unívoca a
necessária de eventos, se estabelece como um campo de probabilidades, uma
ambiguidade de situação capaz de estimular escolhas operativas ou
interpretativas sempre diferentes.
Ele próprio faz a crítica ao seu trabalho dizendo que: “Nesse livro eu defendia o papel
ativo do intérprete na leitura de textos dotados de valor estético. [...] em outras palavras, eu
estava estudando a dialética entre os direitos dos textos e os direitos de seus intérpretes.
Tenho a impressão de que, nas últimas décadas, os diretos dos intérpretes foram
exagerados”. (Eco, 1993:23).Em seus escritos mais recentes, U. Eco (1993:29) recoloca as
questões já levantadas no anteriores e adiciona um terceiro elemento. “Sugeri que entre a
intenção do autor (muito difícil de descobrir e frequentemente irrelevante para a interpretação
de um texto) e a intenção do intérprete que (para citar Richard Rorty) simplesmente “desbasta
o texto até chegar a uma forma que sirva a seu propósito” existe uma terceira possibilidade.
Existe a intenção do texto”.
Essa intentio operis significa que a uma intenção transparente do texto, que invalida
uma interpretação insustentável.
“A intenção do texto não é revelada pela superfície textual. Ou, se for revelada, ela o é
apenas no sentindo da letra sonegada. É preciso querer “vê-la”. Nesse ponto as ideias de Eco
vão ao encontro das de W.Iser (1979:89) quando este se refere às correções que o texto
impões: “mas a complexidade da estrutura do texto dificulta a ocupação completa desta
situação pelas representações do leitor”. Dessa forma, “os vazios do texto e das negações nele
contidas, a atividade de constituição decorrente da assimetria entre texto e leitor adquire uma
estrutura determinada, que controla o processo de interação”.De qualquer forma, a intentio
operis é uma forma de conter aos “vôos delirantes”. Mais tarde, Eco fez uma conferência na
qual ele coloca os limites para o leitor paranoico que procura pistas onde não há índices
suficientes. Superinterpretação é, para Eco, uma literatura suspeita.
Não há muita diferença entre o que Eco propõe e o chamado círculo hermenêutico, pois
ele concorda com os teóricos alemães e diz que, “desse modo, mais do que um parâmetro a
ser utilizado com a finalidade de validar a interpretação, o texto é um objeto que a
interpretação constrói no decorrer do esforço circular de valorizar-se com base no que acaba
sendo o seu resultado. Não tenho vergonha de admitir que estou definindo assim o antigo a
ainda válido círculo hermenêutico”.
Nos Estados Unidos, com o New Criticism, a discussão se dá em torno do mesmo
problema – a imanência do texto. A contrapartida veio com Reader – Response Criticism,
W.Iser também chegou a fazer parte desse grupo, liderado por Stanley Fish, Gerald Prince,
entre outros. A proposta colocou em cheque o texto e assumiu radicalmente a defesa do leitor.
A crítica acusou-o de estar propondo uma anarquia da leitura, porém para se libertar
deste embaraço, ele “recorre a certas estratégias de interpretação que os leitores têm em
comum e que governarão suas reações pessoais”. Essas estratégias são formadas nas
academias o que impede grande divergência de leitura, e são as “Interpretative Communities”
as responsáveis pela estabilidade das interpretações. Fish reafirma “que o sentido é um
evento, isto é, um processo a ocorrer durante a leitura, subordinado às transformações por que
passam as operações mentais do leitor. O texto confunde-se à experiência que proporciona e a
que o leitor carrega consigo, perdendo toda objetividade. A objetividade do texto é uma
ilusão” (apud Zilberman, 1989:27).
Vale lembrar que “desconstrução” não é algo que o leitor pode fazer com um texto;
trata-se de algo que o texto já faz a si mesmo. Assim, é o texto que faz algo ao leitor,
na medida em que este é levado a reconhecer a possibilidade de duas ou mais leituras,
rigorosamente defensáveis, igualmente justificáveis, mas logicamente incompatíveis”
(Ibidem)
Benjamim não está interessado num público determinado, para esse autor, o fato de a
obra entrar ou não um receptor ideal, ou um tradutor que lhe seja comensurado, que
corresponda à sua demanda, não impede que a traduzibilidade dela seja vista, apoditicamente,
como algo que lhe é ontologicamente inerente (Campos, 1989:84). Nesse sentido, o trabalho
de Benjamin encontra eco na obra de Pierce (no que se refere ao conceito de signo).Esta
proposta de Benjamin do tradutor como leitor-autor autoriza-nos a colocá-lo neste elenco de
possíveis nomes que mereceriam uma releitura sob a ótica da recepção.
Na América Latina: Jorge Luis Borges
Deixar de citá-lo seria imperdoável. Como poeta, novelista, crítico, tradutor pensa a
relação texto / autor /leitor em quase todos os seus escritos. Creio haver “uma possível teoria
de recepção borgiana”.Borges faz da leitura um movimento de descoberta e invenção. Para
ele, a palavra inventar equivalia etimologicamente a descobrir, ou seja, a um exercício de
leitura como vivência inauguradora da interpretação.
As conclusões não podem ser compreendidas de forma homogênea. Mas, com exceção
do desconstrutivismo, acabam focalizando a recepção do texto literário ou, mais amplamente,
o texto artístico, quando o leitor está num momento privilegiando-o da leitura de um texto
especial. Vale considerar que leitor e texto, implica ainda: instituição literária, editores,
organizadores, críticos especialistas ou não, jornais, estratégias de marketing, academias, que
acabam determinando quem vai ler o que, e quando.
1.Propostas de trabalho
a) Estudar Coleção Vaga-lume como proposto por Iannace.
b) Estudar como os clássicos estão sendo lidos pela via da arte sequencial -
HQ
c) A relação palavra e imagem no livro infantil. Os textos que recebem
ilustração comportam recepção específica? Como o livro ilustrado lê os clássicos?
Ex: Inês, Cântico dos Cânticos...
d) Estudo dos livros premiados
Para 6ª feira
2. Leitura de K Varga, como proposto pela Prá, que fará alguma discussão e atividade.
3. Lembrete de Convites aos orientandos e autores