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PLANEJAMENTO INTEGRADO DE RECURSOS - PEA

5730/Versão 2016
Resenha 3 - Planejamento Estratégico - EPE 2012-2015 e Relatório
Analı́tico - Projeções do Mercasdo de Energia Elétrica
Hermom Leal Moreira Miguel Edgar Morales Udaeta
PEA - POLI - USP - São Paulo - Brazil

Jun/2016

1 Introdução Balanço Energético. Outro aspecto alvo do plane-


jamento da expansão realizado no Brasil pela EPE é a
conservação de energia que está relacionado às
A energia elétrica é um dos principais insumos e materias polı́ticas de uso racional de energia e/ou GLD
primas para alavancar o crescimento econômico. Nota- - Gerenciamento pelo Lado da Demanda, com
velmente, mesmo sendo o Brasil um dos maiores pro- impacto significativo na redução do consumo de ener-
dutores de energia do mundo, é paradoxalmente o que gia. Este modelo de estudos iniciados a partir de 2005
possui uma das cinco energiais mais caras do mundo. A consideram também os aspectos ligados às polı́ticas de
eliminação destas discrepâncias só podem ser eliminadas eficiência energética cujos indicadores de qualidade e
através de um bom planejamento do setor elétrico. A eficiência energética são definidos pela ANEEL - Agência
EPE - Empresa de Pesquisas Energéticas têm como atri- Nacional de Energia Elétrica.
buição realizar o Plano Decenal de Expansão do Setor
Elétrico. O relatório Analı́tidco com as projeções 2005-
2015 considera uma taxa média de crescimento em
torno de 5.1% , que alinha-se com a expectativa de 2 Incertezas no Planejamento do
crescimento de renda de 4,2% ao ano em média. Os
estudos iniciais basearam-se tambpem nas previsões de
Setor Elétrico
aceleração do crescimento econômico e financeiro
com cenários que projetados para baixo, médio e alto Algumas incertezas puderam ser observadas historica-
crescimento. Os cenários consideram ainda o montante mente no Brasil como aconteceu no conhecido programa
de consumidores residenciais, grandes consumido- de racionamento de energia elétrica ocorrido a partir
res industriais e cargas comerciais, observando a da metade do ano de 2001 e começo de 2002, que teve
trajetória de demanda destes setores observando a taxa como objetivo reduzir o consumo de energia elétrica por
crescimento do PIB - Produto Interno Bruto (% meio do uso consciente de energia e aplicações de equi-
ao ano) , os dados do IBGE - Instituto Brasileiro pamentos mais eficientes que reduziram a demanda de
de Geografia e Estatı́stica como referência para o energia na época às custas de uma impactante redução
crescimento populacional residencial, bem como na produtividade do paı́s atribuı́da, muitas vezes, pe-
a evolução do consumo dos grandes consumido- los representantes do MME - Ministério de Mi-
res. Desde 2005 a EPE considera a autoprodução de nas e Energia às imprevisibilidades do setor. O
consumidores do setor industrial que produz local- baixo crescimento econômico e produtivo do paı́s pode
mente sua energia, tendo com isto parâmetro para análise ser atribuı́do, entre outros fatores, às fragilidades do
da necessidade de grandes reforços transmissão setor elétrico, pois a energia elétrica é um dos princi-
de energia e geração podendo, com isto, muitas ve- pais insumos e até mesmo matéria prima para produção
zes, postergar os investimentos. Para os grandes dos bens de consumo. Devido às dimensões continen-
consumidores considera-se como previsão de consumo as tais do paı́s, os regimes de chuva variáveis e/ou sazo-
projeções e expectativas do mercado baseados no nais, o planejamento da expansão e da operação deve
cenário interno e externo e no montante da auto- considerar a importância fundamental da boa atuação
produção de energia clássica (PCH’s, MCH’S, Grupos do SIN - Sistema Interligado Nacional, prevendo
Geradores, etc) que são computadas para o cálculo do quais investimentos são necessários para as melhorias na

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composição dos seus subsistemas que têm com o objetivo consumo da classe residencial significativamente. Em to-
complementar e garantir a oferta de energia por meio da dos estes casos, o planejamento para investimentos foram
inteligação da rede básica nas diversas regiões buscando insuficientes para amortizar o impacto da economia no
operar de forma ótima o sistema elétrico através da im- crescimento da carga, o que contribuiu ainda mais para
portação e exportação de energia entre os subsistemas o agravamento da crise energética. As distorções entre
buscando garantir um abastecimento seguro e equânine previsão de oferta e demanda, e os erros estratégicos im-
de energia elétrica em todo território nacional. Os proje- pactam no planejamento e na tomada de decisão prin-
tos de novas plantas de geração (energia nova) de cipalmente quando a capacidade de resiliência para um
energia advindas de fontes renováveis e não renováveis, sistema tão complexo é baixa, podendo isto ser exemplifi-
bem como o análise dos projeto e dos termos ligados às cado pela crise hı́drica ocorrida no ano passado que refle-
licitações de novas e antigas concessões de obras e/ou tiu na capacidade de oferta de energia devido à redução
operação de linhas de transmissão, também fazem parte dos nı́veis dos reservatórios das hidroelétricas cujos refle-
do escopo de responsabilidades da EPE como empresa xos se deram justamente na desaceleração do crescimento
responsável pelos estudos de planejamento da expansão econômico e retração do mercado, seguido por outros fa-
do sistema elétrico. O planejamento da expansão para o tores mais ou menos interrelacionados como o aumento
setor residencial inclui diversas ações para a uni- da inflação, desvalorização monetária, redução do PIB,
versalização do uso de energia elétrica, impulsionadas demonstrando assim a complexidade do planejamento do
por polı́ticas internacionais (em especial) da ONU - Or- setor. Caso as previsões para o crescimento tivessem
ganização das Nações Unidas, em que recursos financei- sido consolidadas conforme os instrumentos de projeção
ros significativos foram aplicados em programas como o e expectativas utilizados como indicadores para o pla-
”Luz para Todos”, buscando tornar possı́vel o atendi- nejamento da expansão, o déficit de energia teria sido
mento a consumidores de regiões isoladas. No planeja- agravado.
mento da expansão também são considerados os nı́veis de
cogeração dos grandes consumidores industriais que
no ambiente de mercado livre podem ser utilizados para
o consumo próprio bem como àqueles que podem ser in- 4 Discussões sobre o Modelo de
jetados na rede computados como oferta. A projeção da
demanda e consumo no setor comercial está ligada aos
Planejamento do Setor Elétrico
resultados e reflexos da economia analisando a relação
entre demanda e oferta de produtos de bens de consumo Diversas medidas emergenciais foram executadas ao
que são produzidos pela indústria que deverão sinalizar longo da última década com objetivo de minimizar o
o ritmo do comércio interno e externo. impacto das vulnerabilidades do setor. Logo após
a crise de energia inciada com os grandes apagões, fo-
ram incentivadas a inserção de diversas térmicas cha-
madas de usinas de back-up movidas à carvão, óleo com-
3 Interação entre a economia e o bustı́vel e gás, com efeitos no aumento dos custos de
produção de energia elétrica e consequentemente
setor elétrico na tarifa de energia elétrica que uma das mais caras
do mundo. Além disto é importante destacar que boa
A polı́tica energética do paı́s é definida através de es- parte da produção agrı́cola não requer uso intensivo de
tudos do setor que sinalizarão quais medidas devem in- produção, sendo que para uma abrupta modificação do
cluı́das no planejamento integrado de recursos sendo que setor primário, (pau Brasil, Cana-de-açúcar, soja, milho,
o cenário econômico interage diretamente com o setor algodão) tı́pico do Brasil desde os tempos coloniais, para
elétrico impactando por meio de uma via de mão dupla os o setor secundário (comércio) e terciário(indústria) que
investimentos que devem ser realiazados e o retorno des- requerem uso intensivo de energia o atual planejamento
tes investimentos que impactaraão na economia favore- da expansão é insuficiente pois as projeções para o cres-
cendo a melhoria da produção industrial, segurança, in- cimento são tı́midas girando em torno de crescimentos
fraestrutura, transportes, saúde, educação, entre outros. próximos de 1,5 a 2,0%, por exemplo para expansão do
Os planos econômicos, como por exemplo, o Plano Real subsistemas interligados. Outro gargalo que interfere em
trouxe como resultados o aumento do poder de compra questões relativas ao desempenho do PIB e seu impacto
da população gerando um aumento do consumo. Outro na balança comercial, está relacionado aos sérios pro-
exemplo disto foram algumas medidas governamentais blemas relativos à logı́stica e modais de transporte, que
de incentivo ao crédito e redução de juros que incremen- majoritariamente utiliza o sistema rodoviário para esco-
taram o aumento de consumo de energia elétrica devido amento das safras internamente e externamente. Com
à compra de equipamentos e produtos eletroeletrônicos, a queda do preço do petróleo internacionalmente a Pe-
em especial da linha branca, impactando no aumento do trobrás obteve perdas hercúleas por causa do impacto

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dos preços internacionais, pela desvalorização da moeda 6 Conclusões
interna e problemas relativos à má gestão em diversos se-
tores da empresas, cujos efeitos causaram quedas e des- A revisão do modelo de planejamento de expansão do
valorização de seus ativos, que com isto refletiram no setor elétrico é urgente devendo incluir os aspectos rela-
preço do petróleo utilizado na malha rodoviária e nas cionados às dimensões do PIR - Planejamento Integrado
usinas termoelétricas. Uma das estratégias para a mi- de Recursos, buscando a intensificação de ferramentas
nimização do impacto da crise no setor elétrico que têm que incluam de forma efetiva elementos de maior aber-
sido cı́clico, EPE têm realizado revisçoes nos contratos tura para o modelo de mercado livre, aplicações rostas
de concessão. Os investimos no setor elétrico depen- de tecnologia disponı́vel que viabilize a modicidade ta-
dem do rumos do planejamento polı́tico, econômico e rifária, a confiabilidade do sistema e segurança energética
orçamentário, devendo respeitar o PPA - Plano Pluri- principalmente maximizando o uso de fontes renováveis
anual definido. de energia atendendo à polı́ticas de redução de emissões
de gases do efeito estufa e baixo carbono.

Referências
5 Diagnóstico do Setor Elétrico [1] EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA -
EPE. EPE - Planejamento Estratégico -
2012-2015. 1a ed. Rio de Janeiro :MME,2013. 52
O TCU - Triunal de Contas da União, têm como respon- p.
sailidade, entre outras, analisar e fiscalizar a aplicação
[2] EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA -
dos recursos públicos por meio de investimentos no setor
EPE. EPE - Relatóri Analı́tico - Projeções
elétrico periodicamente. Para isto, o TCU possui um se-
do Mercado de Energia Elétrica - 2005-2015.
tor especı́fico que analisa especificamente o setor e no ano
1a ed. Rio de Janeiro :MME,2005. 178 p.
de 2014 publicou o Relatório Sistêmico de Fiscalização
de Energia - Exercı́cio 2014 destacando quais são os prin- [3] Brasil. Tribunal de Contas da União. Relatório
cipais gargalos, déficits, erros de investimento, desempe- sistêmico de fiscalização de energia: exercı́cio de
nho com vistas aos indicadores do setor que indicam a 2014 / Tribunal de Contas da União; Relatoria Vi-
eficiência da relação entre teoria e prática, entre plane- tal do Rêgo. ? Brası́lia : TCU, Secretaria de Fisca-
jado e executado. O TCU informou as discrepâncias e lização de Infraestrutura de Energia Elétrica (Sein-
não conformidades que demonstram determinadas fra- fraElétrica), 2016. 75 p. ? (Relatório Sistêmico de
gilidades que devem ser solucionadas e suprimidas ele- Fiscalização - Fisc)
candas em itens como a. falhas no planejamento da ex-
pansão da capacidade de geração; b. superavaliação da
garantia fı́sica das usinas geradoras; c. indisponibilidade
de parte do parque de geração termelétrica; d. atraso
na entrega de obras de geração e transmissão de ener-
gia elétrica; e. não realização de repotenciação de usi-
nas existentes; f. diminuição acentuada da relação entre
energia armazenada e carga, em razão da expansão da
oferta por meio da construção de usinas a fio d?água;
g. elevado nı́vel de perdas elétricas no sistema; h. perda
significativa de receitas e capacidade de investimento das
concessionárias de geração, principalmente estatais, que
renovaram concessões nos termos da MP 579/2012; i.
emissão de sinal de preço equivocado, na medida em que
a redução do valor da tarifa, decorrente da renovação das
concessões de geração e transmissão, contrariou cenário
desfavorável de oferta e demanda de energia; j. exposição
involuntária das distribuidoras aos elevados preços do
mercado de curto prazo, em decorrência de cancelamento
de leilão de energia existente, em 2012, e ausência de es-
tudos e medidas de contingência ante a não renovação de
parte dos contratos de concessões (MP 579/2012).

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