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MODELOS HISTÓRICOS DE GESTÃO

Walber Santos Baptista1


e-mail: bwalber@yahoo.com.br

José Ferreira Irmão2

e-mail: jferreirairmao@yahoo.com.br

Resumo
O presente artigo pretende demonstrar que os estudos sobre gestão, num conceito mais
ampliado da organização e da administração, é anterior àqueles abordados no final do século
XIX por Taylor e nos meados da primeira década de XX por Fayol, onde, já na sua fase final,
a Revolução Industrial parecia, não entrar em declínio, todavia ter sua ascensão lastreada com
as novas contribuições advindas de um enfoque mecanicista e que não fossem apenas
justificadas sob o prisma econômico dos clássicos e neoclássicos do século XVIII e XIX. As
primeiras definições de uma gestão industrial foram postuladas pelos economistas, em parte
na Inglaterra, em parte na França. A primeira, tendo Smith capitaneando essa tese, para
justificar uma divisão ordinal de trabalho para o aumento da produtividade e a segunda, sob o
ângulo de um novo fator de produção, Say rompe os paradigmas formais da época, ampliando
o conceito de uma direção dos negócios industriais, o que algum tempo depois viria a ser
tema de estudos sobre o desenvolvimento econômico – tendo em Schumpeter seu expoente
principal – e motivando diversos indivíduos a empreender em variadas formas de negócios.

Palavras-chave: Pensamento Administrativo - Pensamento Econômico – Administração -


Modelos de Gestão - Empreendedorismo.

Management historic models

1
Professor da FAESC (Escada-PE) e da FAFICA (Caruaru-PE). Bacharel em Administração/FCAP-FESP/UPE,
Mestrando em Administração e Desenvolvimento Rural/PADR-UFRPE, Especialização em Business:
Empreendedorismo e Gestão Empresarial/DLCH-UFRPE.
2
Professor e pesquisador do PADR-Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Administração e
Desenvolvimento Rural, da UFRPE. Phd em Economia pela University College London,
Abstract

The present article intends to demonstrate that the studies on management, in an extended
concept more of the organization and of the administration, it is previous to those boarded
ones in the end of century XIX for Taylor and in the middles of the first decade of XX for
Fayol, where, already in its final phase, the Industrial Revolution seemed, not to enter in
decline, however to have its ascension based with the new happened contributions of a
mechanist approach and that only classics prism of and neoclassics of century XVIII and XIX
were not justified under the economic. The first definitions of an industrial management ware
claimed by the economists, in part in England, part in France. First, having Smith
commanding this thesis, to justify an ordinal division of work for the increase of the
productivity and second, under the angle of a new factor of production, Say breaches the
formal paradigms of the time, extending the concept of a direction of the industrial
businesses, what some time later would come to be subject of studies on the economic
development (with Schumpeter) and motivating diverse individuals to undertake in varied
business-oriented forms.

Key-words: Administrative Thought - Economic Thought – Administration - Models of


Management - entrepreneurship.

1 Pensamento Histórico da Economia

1.1 Modelo Clássico Econômico ou Modelo de Smith: Da Divisão do Trabalho

Adam Smith (1723-1790), escocês de Kircaldy, foi filósofo de formação e


considerado o pai da economia como ciência, pelos estudos que fez sobre o capitalismo da
época, decorrente da industrialização que trilhava a partir da Revolução Industrial (ARAÚJO,
1988; OSER e BLANCHFIELD, 1983). Smith, como informa os autores, foi um ferrenho
crítico do mercantilismo, principalmente porque via que a função econômica do governo
deveria limitar-se à conservação do ambiente de desenvolvimento da indústria, mas que não
deveria intervir na produção, comumente conhecida como ‘laissez-faire’; o próprio mercado
regularia a oferta e a demanda, o que ficou conhecida como ‘a mão invisível da economia’.
Smith, segundo Oser e Blanchfield (1983), advogava o comércio livre entre as
nações, a fim de permitir a divisão internacional do trabalho. Em seu livro ‘An Inquiry into
the Nature and Causes of the Wealth of Nations’ (‘Uma Indagação sobre a Natureza e as
Causas da Riqueza das Nações’), publicado em 1776, Smith traça uma nova era no que se
conhecia sobre Teoria Econômica, traduzindo o processo de industrialização na sua forma
primitiva, adentrando na organização, definindo também o modo de trabalho pela divisão de
tarefas, a interferência que o governo inglês exercia sobre a economia da época, ou seja, o
livro foi o divisor de águas entre o mercantilismo e fisiocratas e a economia sendo detalhada
com maior profundidade.
Para Smith, as ‘Forças Naturais’ tenderiam a harmonizar os interesses de
indivíduos e grupos (OSER e BLANCHFIELD, 1983). O seu livro também passa a ser a
‘bíblia’ dos industrialistas da Inglaterra, onde muitos dos quais extraíam ao seu bel prazer, os
argumentos que melhor lhes convinham, ignorando as advertências sugeridas por Smith, a
respeito do ‘laissez-faire’ total. Praticamente durante quase cem anos, a Teoria de Smith
reinou no mundo ocidental. Por volta do ano de 1870, nação após nação retornou ao
protecionismo tarifário, ponde em xeque tudo que marcou o capitalismo defendido por Smith
em segundo plano, e a liberdade de auto-regulação do mercado passa às mãos das
regulamentações governamentais.
Smith, como informam Oser e Blanchfield (1983), foi o primeiro dentre todos os
clássicos da economia, a estudar a indústria e suas relações com a produção e os meios para se
conseguir uma grande eficiência produtiva. No seu livro ‘A Riqueza das Nações’ (tratado aqui
de forma sintética), Smith concedeu ao primeiro capítulo o sugestivo título de ‘Da Divisão do
Trabalho’, o que naquela época (século XVIII) não era empregado, nem tão pouco conhecido.
Assim diz Smith (apud OSER e BLANCHFIELD, 1983):

Um maior aproveitamento da força produtiva do trabalho e da maior parte


da habilidade, destreza e julgamento com que é sempre dirigido, ou
aplicado, parece ter sido o efeito da divisão do trabalho (p.7).

Pode-se afirmar, baseado-se nos seus estudos, que ele foi o primeiro a estudar a
administração industrial como forma de melhorar, não só a produção das indústrias inglesas,
como também da produtividade do trabalhador/operário, em toda a história da Administração
e da Economia.
Dizia Smith que a Divisão do Trabalho aumenta a quantidade de trabalho
produzido por três motivos: a) cada trabalhador desenvolve destreza crescente no
desempenho de uma tarefa simples; b) poupa-se tempo se o trabalhador não precisa mudar o
tipo de trabalho que realiza e c) pode inventar máquinas para aumentar a produtividade,
uma vez que as tarefas foram simplificadas e rotinizadas com a divisão do trabalho (OSER e
BLANCHFIELD, 1983, p.72). A interpretação dada por Smith à administração industrial do
século XVIII estava muito próxima de ser o primeiro estudo científico dado à administração
pela sua função de simplesmente organizar.

1.2 Modelo de Transição ou Modelo de Say: Do Quarto Fator de Produção

Historicamente, em economia, quando se fala em Fatores de Produção,


normalmente citam-se os fatores Terra, Trabalho e Capital como sendo os únicos tratados por
essa ciência. O primeiro já havia sido incorporado pelos mercantilistas nas explorações
humanas, agrícolas e de minérios; com o desenvolvimento da idéia da ordem natural, os
fisiocratas (fisios = natureza; cratos = domínio) acreditaram que as sociedades humanas
estavam sujeitas a uma ordem natural. Opunham-se a qualquer tipo de imposição
governamental e achavam que a indústria, o comércio e as profissões eram úteis, mas estéreis;
[...] e só a agricultura era produtiva... os donos da terra, por isso, deveriam pagar imposto
(OSER e BLANCHFIELD, p.39) e consideravam os bens de luxo um empecilho à
acumulação de capital; o terceiro, abruptamente emerso, pelos clássicos, foi o que mais
transformou a teoria econômica e os estudos advindos do capitalismo vigente exerciam uma
forte pressão sobre os trabalhadores da época, onde a mão-de-obra recebia salário – por isso
proletária – e era explorada. Mas, como se verá adiante, outros fatores surgiram, ou foram
mais bem observados, com a própria evolução dos processos de produção.
Não há economia sem os chamados fatores de produção, que podem ser definidos
como sendo todo aquele fator necessário para que haja uma certa produção. Rossetti (1997,
p.90-91), por sua vez, infere sobre os chamados recursos de produção, ou fatores de produção,
e diz que “é o conjunto de fatores que sustentam os princípios das atividades econômicas, que
têm conceitos, características e tipologia próprios e que todas as economias devem dispor”.
Nesse contexto, a economia planifica o espaço teórico sobre os fatores de
produção, que Rossetti (1997) assim relaciona e nos apresenta as denominações de ‘terra,
trabalho, capital, tecnologia e empresariedade’. Segundo Rossetti (1997), o mecanismo de
utilização decorrente do emprego desses cinco fatores é que o atendimento das necessidades
individuais (o consumidor) e sociais (a população, os países, a sociedade) podem ser
satisfeitas, baseadas nas disponibilidades, nas qualificações ou capacitações, na mobilização e
na sua interação. Gambs (1959) também exorta que os economistas reconhecem que, para a
economia, existem quatro grupos de pessoas que recebem rendimentos e que cada um desses
grupos representa um fator correlato, excetuando o supracitado:

Terra  O proprietário de toda dádiva da terra (rios, mares, matas, minas, etc.);
Trabalho  Quase todo trabalho mental, manual ou corporal. Todo e qualquer profissional,
o artista, o executivo, o operário;
Capital  O proprietário ou investidor de bens físicos, de um investimento, de um prédio, de
máquinas, etc.;
Empresariedade  O empreendedor e seu ‘espírito empreendedor’.

Segundo Magalhães (1969), Jean-Baptiste Say (1767-1832) era francês e foi um


dos divulgadores das idéias de Smith na Europa; também foi considerado um clássico, embora
suas idéias tinham uma influência utilitarista. Foi um dos primeiros a instituir a utilidade nos
conceitos de economia, juntamente com Senior e Bentham, como também confirmam Oser e
Blanchfiel (1983). Say apresentou grandiosas contribuições no âmbito do pensamento
econômico, como a teoria do valor; b) o lucro é o excedente do empresário sobre o juro,
sendo uma concepção superior à de Ricardo; c) a teoria dos mercados (uma queda geral dos
preços abaixo do custo é inimaginável num sistema de livre empresa e Lei de Say: toda oferta
cria a sua própria demanda); d) um dinheiro só tem utilidade se for um instrumento de compra
e e) o quarto fato de produção.
Segundo Oser e Blanchfield (1983), foi Say, em 1808, quem acrescentou o termo
empresário como sendo o quarto fator de produção, aos três já existentes: ‘terra, capital e
trabalho’. Nessa interface – entre os produtos e serviços – surge o empreendedor, que não foi
percebido por Smith. “o proveitos desse empreendedor devem ser distinguidos de salários,
juros e rendas”, afirmou Say (apud OSER e BLANCHFIELD, 1983, p.121-122).
Say foi o primeiro a dar uma ênfase ao papel do empresário (empreendedor) com a
sua capacidade empresarial para a condução dos negócios. Sem uma boa capacidade
empresarial, nenhum negócio pode lograr sucesso. Mesmo que um empresário tenha os três
fatores definidos anteriormente, sem essa capacidade pessoal, não poderá haver uma
continuidade duradoura do empreendimento.
Todavia, o que mais aproxima Say das Ciências da Administração, é o fato de,
mesmo sendo um economista respeitado em seu período e, como Smith, que também foi um
dos precursores da funcionalidade da Divisão do Trabalho – conceito abordado depois, bem
melhor, por Fayol –, quebrou o tabu de só existirem apenas três fatores de produção: Terra,
Trabalho e Capital. Afirmou, então Say, contrariando Smith, que “o empresário
(entrepreneur) é o centro do processo produtivo”.

2 PENSAMENTO HISTÓRICO DA ADMINISTRAÇÃO


Os pioneiros clássicos da administração demonstraram, sobretudo, um elemento
diferenciador daquelas idéias e formulações estritamente econômicas do séc. XVIII e XIX,
que permaneciam em levitação contínua. Ainda se cozinhava a 2ª Revolução Industrial pela
Europa e já polvilhavam os Estados Unidos na utilização do petróleo, do asfalto, da
eletricidade e de caldeiras de grande porte queimadas a carvão; em outras palavras: foram os
avanços tecnológicos da época, que fizeram se tornar obsoletas as máquinas a vapor.
As indústrias careciam de um suporte humano bem treinado para operar as
máquinas e executar as tarefas e que gerasse uma alta produtividade – ‘The Best Way’ –, além
de se obter a máxima eficiência, também visava o lucro. Alguns modelos foram o alicerce
desse período, tendo iniciado com Frederick Taylor (o taylorismo), com Henri Fayol (o
fayolismo) e com Henry Ford (o fordismo), acrescentando o modelo de Alfred Sloan (o proto-
modelo de APO).

2.1 Modelo Taylorista

2.1.1 Explicação do Modelo

O chamado modelo taylorista, foi para a época, um modelo inovador, pois via no
homem o elemento-chave para se conseguir a máxima eficiência. O empirismo foi
fundamental para que o ser humano, trabalhador das indústrias americanas, pudesse
acompanhar a evolução da indústria estadunidense. Desta situação, Taylor mediu todo o
processo operativo de tal forma que os operários fossem otimizados em padrões de execução
operacionais, em busca de um modelo de gestão das operações fabris. Contudo, desde os
primeiros esforços até a admissão científica dos processos, aquele homem-operário, buscou
suas recompensas na troca que a própria indústria os instigava a produzir, retribuindo com
pagamentos por peças produzidas levando-os a uma condição de elementos integrantes de
máquina, ou seja: um ‘modelo tipicamente mecanicista’.
Daí, o taylorismo foi o sistema de organização e padronização de trabalho, que
consistia em calcular o máximo esforço que pode depender normalmente um trabalhador
(operário) em certa unidade de tempo, para então exigir de todos os trabalhadores da fábrica
um trabalho idêntico. É estabelecida uma tabela gradual de salários, conforme o operário se
aproxima mais ou menos do rendimento-padrão ou típico (MAGALHÃES, 1969). De acordo
com Taylor, a implantação da Administração Científica deve ser gradual e obedecer a um
certo período de tempo, para evitar alterações bruscas que causem descontentamento por parte
dos empregados e prejuízo aos patrões. Essa implantação requer um período de quatro a cinco
anos para um progresso efetivo.
Apesar de sua atitude francamente pessimista a respeito da natureza humana, já
que considera o operário como irresponsável, vadio e negligente, Taylor se preocupou em
criar um sistema educativo baseado na intensificação do ritmo de trabalho em busca da
eficiência empresarial e, em nível mais amplo, ressaltar a enorme perda que o país vinha
sofrendo com a vadiagem e a ineficiência dos operários em quase todos os atos diários.

2.1.2 Considerações da Administração Científica de Taylor

O modelo taylorista – com o recebimento de contribuições de outros teóricos como


Emerson, Gantt, Munstenberg e os Gilbreth, foi um marco nas novas elaborações dirigidas e
voltadas para a tarefa diária, cotidianas, rotineiras e operacionais do trabalhador das indústrias
em geral. Assim essas contribuições tomaram corpo nas práticas laborais o que é explicado a
seguir:

a) ocorreu um enfoque mecanicista, ou seja, a organização passou a ser comparada a uma


máquina, que segue um projeto pré-definido e recebe críticas dos estudiosos em
administração. A partir desse enfoque, cada funcionário é visto como uma engrenagem na
empresa, desrespeitando sua condição de ser humano; Taylor também tentou imprimir às
pessoas a mesma precisão e regularidade das máquinas; nem todos os processos produtivos
são compatíveis com um comportamento tão mecânico do ser humano. Esta dimensão
psicológica das empresas foi desprezada por Taylor (PUGH e HICKSON, 2004);
b) homo economicus foi o termo utilizado para descrever o interesse do trabalhador pelas
recompensas materiais praticadas pela indústria da época. A ênfase mecanicista não percebe
que o salário é importante, mas não é fundamental para a satisfação dos funcionários, com
esse ponto de vista, o reconhecimento ao trabalho realizado, os incentivos morais e a auto-
realização, são aspectos importantes que a Administração Científica desconsiderou
(CHIAVENATO, 2001; PRESTES MOTTA e VASCONCELOS, 2004);
c) uma visão atomizada do homem foi um dos aspectos impressos na teoria, pois ao
contrário do que previa Taylor, a comunicação informal entre os membros de uma
organização desempenha um papel importante para a melhoria dos processos produtivos. O
homem é um ser social, que não deve ser analisado apenas em sua individualidade, não
percebido por Taylor (CHIAVENATO, 2001);
d) o empirismo era o cerne da Administração Científica, pois foram constatadas evidências
meramente práticas do sucesso dos princípios tayloristas; não se constituiu nenhum modelo
teórico de análise que permitisse, por abstração, generalizar os achados de Taylor para o
universo das organizações (CHIAVENATO, 2001);
e) a abordagem era fechada, pois a Administração Científica não faz referência ao ambiente
da empresa e, desta forma, a organização é vista de forma fechada, desvinculada de seu
mercado, negligenciando as influências que recebem e impõe ao que a cerca
(CHIAVENATO, 2001); Taylor desconsidera os impactos do ambiente externo da empresa
em suas operações. Variáveis econômicas, culturais e sociais afetam diretamente a eficiência
da empresa; sobre estas, as medidas propostas por Taylor têm alcance limitado.

No transcorrer do movimento taylorista – que, por certo, foi um grande


alavancador de lucro para a indústria, em particular nas americanas, todavia também nas
inglesas e nas francesas –, os novos métodos passaram a ser utilizados de maneira maciça,
propiciando o surgimento de outras indústrias e conquistando mais especializações para os
processos fabris, o que induziram outras críticas que foram formuladas com correr do período,
o que não permite diminuir os feitos de Taylor e de seus seguidores. Outras críticas são,
assim, apresentadas:

a) a definição de objetivos era um ponto fortíssimo na Administração Científica, porém se


limitava à presença dos objetivos, pois para Taylor organizar é dividir todas as atividades
necessárias à consecução de qualquer objetivo e agrupá-las de maneira que possam ser
distribuídas às pessoas encarregadas de sua realização, ou em outras palavras – a menos que
haja um objetivo, não haverá razão para que as pessoas sejam agrupadas para a realização de
certas atividades (BONOW, 1960); toda a organização e suas partes devem ser uma expressão
do objetivo da organização, ou parte dela é dispensável e deve ser eliminada, pois todos
devem contribuir para que se consiga alcançar o seu objetivo.
b) o alcance do controle era aceito pelos tayloristas, pois afirma Bonow (1960) que o número
de pessoas diretamente subordinadas a um mesmo chefe deve se limitar à sua capacidade de
efetivamente supervisioná-las;
c) ocorria uma superespecialização do funcionário, pois com a divisão de tarefas, a
qualificação do funcionário passa a ser supérflua. Dessa forma, o funcionário executa tarefas
repetidas, monótonas e gera uma desarticulação do funcionário no processo como um todo
(PRESTES MOTTA e VASCONCELOS, 2004); as tarefas extremamente repetitivas –
resultantes da superespecialização e da divisão do trabalho –, causavam tédio, problemas
motores e psicológicos (CHIAVENATO, 2001);
d) era percebida uma exploração dos empregados. Era perceptível que a Administração
Científica fazia uso da exploração dos funcionários em prol de seus interesses particulares,
uma vez que estimulava a alienação dos funcionários, tinha uma forte ausência pela
consideração do aspecto humano e, junte-se a isto, a própria deficiência das condições sociais
da época (MORAES NETO, 1991);
e) abordagem parcial da organização. Taylor abordou predominantemente a variável
organizacional "tarefas". O seu trabalho e a escola de administração científica praticamente
desconsidera outros aspectos importantes da organização, tais como sua estrutura e tecnologia
(CHIAVENATO, 2001);
f) abordagem também era prescritiva. Taylor não se aprofunda nas razões explicativas da
realidade organizacional. Ele simplesmente constata de forma empírica alguns problemas de
eficiência e propõe soluções práticas para os mesmos. Portanto, a Teoria da Administração
Científica não identifica claramente as causas da ineficiência, apenas receita o remédio para
as suas conseqüências (CHIAVENATO, 2001);
g) O estudo Hoxie. Elaborado por Robert Hoxie, em 1915, para a Câmara dos Deputados
americana, o estudo tinha o objetivo de investigar os métodos de trabalhos propostos por
Taylor, todavia não foram conclusivos, mas ofereceram inclinação à Administração Científica
(PRESTES MOTTA e VASCONCELOS, 2004).

2.1.3 Críticas Observadas

Algumas críticas foram destacadas pelo uso intensivo dessas práticas técnico-
operacionais como o abuso do sistema que deturpou sua finalidade, criado para ajustar a
técnica do operário e lhe oferecer um justo salário, entretanto muitos deles se valeram para
conseguir maior produção e maior lucro. Uma outra crítica é que passou assim, a ser uma
mecanização do trabalho, estabelecendo uma seleção desumana que levou os menos dotados à
estafa.

2.2 Modelo Fayolista

O Fayolismo, segundo Chiavenato (2001), tem na sua gênese um enfoque voltado


à máxima eficiência, como o taylorismo, todavia Henri Fayol, o representante maior desta
corrente, preocupou-se em dar uma roupagem mais objetiva à ‘estrutura das organizações’ e
não às ‘tarefas’, como pregavam Taylor e seus seguidores.
Assim Fayol estabelece que toda empresa – seja ela de qualquer natureza –, tenha
o que ele chamou de ‘funções essenciais da empresa’, ou seja: uma divisão do trabalho ou
uma especialização, as quais citamos: as funções técnicas (ou as relacionadas com a produção
de bens ou serviços), as funções comerciais (ou as relacionadas com a compra, venda e troca)
e as funções financeiras (ou as relacionadas com a obtenção e gerência de capitais); as
funções de segurança (ou as relacionadas com a proteção dos bens e pessoas), as funções
contábeis (ou as relacionadas com os inventários, registros e balanços; custos e estatísticas) e
as funções administrativas (ou as que coordenam e sincronizam as demais funções).
Conforme observaram Chiavenato (2001) e Maximiano (2002), Fayol também percebeu na
departamentalização a maior das suas contribuições: as funções do administrador, que
decompõe o ato de administrar em: prever, organizar, comandar, coordenar e controlar.
Numa breve explicação das funções gerenciais, pode-se dizer que: a) a função
previsão significa visualizar o futuro e traçar o programa de ação; a unidade, a continuidade, a
flexibilidade e a apreciação, são os aspectos principais de um bom plano de ação; b) a função
organização é, segundo Pugh e Hickson (2004, p.112), a de elaborar a estrutura material e
humana do empreendimento, o que proporciona os fatores úteis para o funcionamento da
empresa e pode ser dividida em organização material e social (CHIAVENATO, 2001); c) a
função comando, significa dirigir e orientar o pessoal, onde o objetivo é alcançar o máximo
retorno de todos os empregados no interesse dos aspectos globais; d) a função coordenação a
que faz ligação; é a que faz unir e harmonizar todos os atos e todos os esforços coletivos
facilitando o trabalho e o sucesso; é o sincronismo das atividades e a adaptação dos meios aos
fins; e) a função controle e a de verificar se todas as atividades e resultados ocorrem em
conformidade com o plano adotado, as instruções transmitidas e os princípios estabelecidos.
O objetivo maior desta função é a de localizar fraquezas e erros no sentido de retificá-los e
prevenir a recorrência.
Fayol foi, notadamente, um homem brilhante na administração e sua principal
contribuição foi dada no pioneirismo à proposição de uma análise teórica das atividades
gerenciais, que segundo Pugh e Hickson (2004, p.115) “uma análise que tem resistido a uma
discussão crítica de mais de meio século”. É possível que Fayol tenha recebido influências de
Smith, onde se sabe que o conceito de ‘divisão de trabalho’ e de uma especialização de
tarefas, já tinham sido estudados e definidos por este.

2.3 Modelo Fordista

Henry Ford (1863-1947) revolucionou o mundo da indústria passando-a de


artesanal a industrial. Em suas fábricas se produzia tudo: desde a matéria-prima ao produto
acabado. Através da racionalização dos elementos da produção, Ford idealizou as linhas de
montagem, a padronização (algo que, à época, ainda estava engatinhando no empirismo de
Taylor) e a produção em massa (MORAES NETO, 1991). Com isso, atingiu para a época um
nível de produção jamais igualado. Sua produção tinha três características: ela deveria ser
progressiva, o trabalho deveria ser entregue ao trabalhador (e não o oposto) e as operações
deveriam ser divididas conforme seus elementos constituintes.
Para Ford (apud MORAES NETO, 1991), os principais efeitos da produção em
massa foram o aumento da facilidade do controle industrial, o produto passa a ter mais alto
padrão de qualidade, as máquinas passam a realizar grande parte dos trabalhos considerados
perigosos, danosos aos trabalhadores, insalubres, etc. e o operário que se liberta da carga
física que é transferida totalmente para a máquina e passa a ocupar cargos com maior
exigência mental. O sistema de Ford caracterizou-se pela aceleração da produção através de
trabalho ritmado, coordenado e econômico.
Ele adotou três princípios: a) princípio da intensificação, que consiste em diminuir
o tempo de duração com o emprego imediato dos equipamentos, da matéria-prima e da rápida
colocação do produto no mercado. (diminuição do tempo desde a fabricação da matéria-prima
até a colocação do produto no mercado); b) princípio da economicidade, que consiste em
reduzir ao mínimo o volume do estoque da matéria-prima em transformação. Por meio desse
princípio, conseguiu fazer com que o trator ou o automóvel fosse pago à sua empresa antes de
vencido o prazo de pagamento da matéria-prima adquirida, bem como do pagamento de
salários, a velocidade de produção deve ser rápida; diz Ford3: "o minério sai da mina no
sábado e é entregue sob a forma de um carro, ao consumidor, na terça-feira, à tarde";
reduzir ao mínimo o estoque de matéria-prima; c) princípio da produtividade, que consiste em
aumentar a capacidade de produção do homem no mesmo período (produtividade) por meio
da especialização e da linha de montagem. Assim, o operário pode ganhar mais, um mesmo
período de tempo, e o empresário ter maior produção. (aumentar a capacidade de produção de
um homem através da especialização e linha de montagem).
Caravantes, Panno e Kloeckner (2005) dizem que Ford não cultivava um
raciocínio linear e fácil de ser acompanhado. Ford foi, além de tudo, um dos primeiros
empresários a usar incentivos com seus empregados. Na área mercadológica, implantou a
assistência técnica, o sistema de concessionários e política de preços. Talvez levem séculos
para saber se Ford realmente nos deixou um legado bom ou ruim. Mas com certeza ele não
deixou o mundo tal qual o encontrou (MORAES NETO, 1991).

2.4 Modelo de Sloan

Foi o maior concorrente direto de Ford na indústria automotiva americana e


inovador em técnicas que seriam utilizadas num futuro mais adiante e copiado pelos próprios
concorrentes: a APO. Segundo Maximiano (2002), Alfred Sloan já havia preparado seu
‘Organization Study’ em 1919, quando desenvolveu o conceito de descentralização e
delegação de autoridade que se tornaria a marca da estrutura da GM.
Um dos objetivos principais de Sloan era o de como concorrer de forma acirrada
com a Ford Company, tendo sucesso com a produção de massa. Assim estabeleceu que, em
primeiro lugar, era preciso profissionalizar a administração e, em segundo lugar, era preciso
modificar o produto básico de Ford, para que pudesse servir a “qualquer bolso e propósito”
(MAXIMIANO, 2002, p.168).

3
PRINCÍPIOS básicos de Ford. Disponível em: <http://www.admbrasil.com.br/tex_ford.htm>.
2.4.1 Sobre a Profissionalização da Administração

Sloan partiu na frente dos concorrentes quando criou a descentralização das


empresas coligadas e transformou-as em centro de lucros. Para a época, isso foi um avanço
fenomenal (final da década de 10), o que representava uma dicotomia à consciência
mecanicista, reinante no período. Com a transformação da empresas em centros de lucro, cada
uma produziria carro ou componentes (bateria, caixa de direção e carburadores, etc.)
independentemente (MAXIMIANO, 2002).
Outra informação que Maximiano (2002) traz também, é que eram administradas
com base nos números pelo comando maior e a exigência de relatórios detalhados das vendas,
participação de mercado, estoques, lucros e perdas e orçamento de capital, quando havia
solicitação de dinheiro (investimento), ocorria a verdadeira profissionalização da organização.

2.4.2 Sobre a Expansão da Produção em Massa

Sloan faz os seguintes incrementos aos conceitos de produção em massa corrente à


época, transformando o foco central da produção e da objetivação operativa, para um foco
central nos objetivos organizacionais, na especialização e na diversificação produtiva. Assim,
Sloan apresenta o surgimento dos especialistas em administração financeira e marketing, além
dos engenheiros; uma solução para a estrutura organizacional; a diversificação da linha de
produção. Em 1945, Peter Drucker, segundo Maximiano (2002), divulga uma versão das
estratégias de Sloan, sendo copiadas pelos descentes de Ford e por outros executivos. Em
1960, Sloan, já beirando os 90 anos, escreve suas memórias e divulga, finalmente, suas
estratégias adotadas em 1925.
Segundo Nóbrega (2001), Sloan reinventou o conceito de produto criado por Ford
e, com isso, fez mais, foi o precursor da criação do marketing, pois nessa época (década de
20) já se fazia a propaganda, desenvolvimento de técnicas de venda, pesquisa de mercado, o
que Ford desprezava. “Marketing para Ford era preço, preço, preço mais nada”, comenta
Nóbrega (2001), enquanto para Sloan, marketing era satisfação do cliente e,
conseqüentemente, mais lucro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os modelos apresentados anteriormente se juntam a outros que se seguiram,


acrescentando novos pensamentos humanistas, comportamentais, sociológicos, matemáticos
e, evidentemente, as contribuições dos administradores da escola neoclássica. Os modelos
históricos são um marco nas Ciências da Administração, foram a origem do que hoje se
transformou a gestão, através das diversas contribuições e que a cada período da mutação
social em que vivem as organizações, puderam evoluir outros modelos avançados de
gerenciamento e de execução.
As relevantes contribuições econômicas do Século XVIII e XIX propiciaram um
foco direcionado à produção, à produtividade, ao controle e ao aspecto da empresariedade.
Também serviram de suporte aos estudos empíricos iniciados por Taylor e outros
engenheiros, inovadores, inventores e pesquisadores, do início do Século XX, orientados para
a execução das tarefas, da estrutura e das novas práticas administrativas, dos métodos que
facilitassem os objetivos industriais da época, expandindo para as atividades comerciais, de
serviços e governamentais e, da evolução, para o que também conhecemos como não-
governamentais. Assim é a Administração, surgida por uma necessidade dos capitalistas, dos
liberais clássicos e da organização industrial, que carecia, não só de uma divisão do trabalho,
mas também de um planejamento, de uma estrutura, de uma direção e de um controle para
que se firmasse como Ciência.

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