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Promessa de Amor

Helen R. Myers
O cowboy e o bebê John Paladin era capaz de domar um touro
selvagem com facilidade, mas não tinha o mínimo jeito para trocar
fraldas. Porém, desde que a esposa o deixara, o fazendeiro se viu
forçado a mostrar seus talentos de babá. Só que John sabia que o
filho precisava de algo mais do que os meros cuidados de um cowboy
inexperiente com crianças. O bebê precisava de uma mãe, e a melhor
que ele pudesse arranjar!
O cowboy,o bebê... e a dama Dana Dixon ficou chocada. Como John
Paladin tinha coragem de pedir sua ajuda quando, um ano antes,
fugira dela direto p/ os braços de outra mulher? Mas como poderia
dar as costas a 1bebê com olhos tão parecidos com os do homem que
ela amara 1 dia? E provavelmente ainda amava...
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Título original: A Father's Promise
Dados da Edição: Editora Nova Cultural 1998
Publicação original: 1994
Gênero: Romance contemporâneo
Digitalização: Simone Mello/Nina
Revisão: Edna Fiquer
Estado da Obra: Corrigida

J.J.,

Você foi uma maravilhosa surpresa, embora eu não estivesse muito preparado
para assumir o papel de pai. Mas já enfrentei situações piores. Veja minha vida
amorosa, por exemplo! Quando você ficar mais velho, bem mais velho, entenderá o
que quero dizer. De qualquer modo, desde a primeira vez em que o vi, senti que
essa situação estava correta de alguma maneira, independentemente do que passei
para chegar até ela.
Tem minha palavra de que farei todo o possível para lhe oferecer a vida e o lar
que você merece. Com um pouco de sorte, talvez até consiga fazê-lo sentir orgulho
de seu pai um dia.
Porém, o grande problema é que não entendo nada sobre bebês. Sei onde ficam
suas fraldas e a mamadeira, mas, a partir daí, tudo fica difícil demais para mim.
No entanto, conheço uma pessoa que poderá nos ajudar, e o nome dela é Dana.
No momento, ela está meio aborrecida comigo, e não posso culpá-la por isso. Seu
pai não sabe ser um galanteador. Mas sou louco por ela, filho. Sempre fui. Você
também vai amá-la, tenho certeza disso.
P.S.: Formaremos uma família. Eu prometo.
J.P.

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CAPITULO I

John Paladin não estava pronto para aquilo, e achava que nunca estaria. Mesmo assim, saiu do hospital
carregando nos braços o filho com dez dias de vida.
Assim que passou pela porta, ajeitou o chapéu de cowboy e puxou o tecido da camisa jeans, para
proteger o bebê do vento e da chuva.
— Agüente mais um pouco, filho — murmurou, desviando-se de alguns galhos mais baixos das árvores
que ladeavam a trilha até o estacionamento. — Logo passará o desconforto.
Depois de ouvir os próprios pensamentos e de considerar a perspectiva de seu futuro, aquela parecia ser
a única promessa viável no momento.
Uma rajada mais forte de vento o fez segurar o bebê mais próximo de si. Todo aquele frio e o mês de
novembro ainda nem chegara, pensou. Pelo visto, ele e o restante dos fazendeiros do Texas teriam um
inverno rigoroso pela frente.
O mais importante, porém, seria conseguir levar seu filho para casa, sem que ele acabasse adoecendo ou
coisa do gênero. Ao chegar lá, iria trocá-lo e dar-lhe a mamadeira. Então, tudo voltaria ao normal. Ou
quase.
Trocar fraldas e dar mamadeira seria até fácil, mas o resto... O pensamento o fez sentir um frio no
estômago.
Todas aquelas instruções que as enfermeiras lhe haviam dado o deixaram apreensivo. De fato, ficara tão
confuso com tantas recomendações que já se esquecera de boa parte delas.
Tinha a impressão de que a pior das tarefas seria dar banho no bebê. Lidar com aquele corpinho frágil
em meio à água aquecida na temperatura certa e um sabonete escorregadio não seria nada fácil.
"Não se preocupe ainda, John", disse a si mesmo. "Tudo acabará bem, você vai ver. O fato de ele ser seu
filho facilitará a situação."
Enquanto se encaminhava para o carro, John rezou para que a voz de sua consciência estivesse certa.
A certa altura, ouviu um protesto vindo de debaixo da fralda que cobria o rosto do bebê. Deus, será que
ele estava sufocando?, pensou, preocupado. Ou talvez estivesse apertando a criança demais. Estava come-
çando a desconfiar de que a chefe das enfermeiras tivera razão ao censurá-lo por andar com um bebê em
meio àquele clima frio e úmido.
Acelerou os passos, mas não chegou a correr. Melhor seria não arriscar a possibilidade de algum
acidente. A chuva deixara o chão escorregadio, e as solas de suas botas não eram lá muito confiáveis.
Ainda não conseguira entender como aquelas enfermeiras podiam ter noção de que seu filho ficaria tão
alto quanto ele. Ficara surpreso ao ouvir isso praticamente de todas. O que elas viam que ele não era capaz
de ver?
Suspirou, aliviado, quando finalmente conseguiu chegar à caminhonete. Dali em diante, viria outra das
partes difíceis da tarefa, concluiu, enquanto abria a porta do carro.
Teria de acomodar o bebê de uma forma segura, em um veículo sem o equipamento necessário para
isso. Ele respeitava e aprovava a lei que obrigava o uso do cinto de segurança, mas carregar um recém-
nascido exigia cuidados que iam além disso.
Tinha consciência de que o equipamento deveria haver sido comprado meses antes, mas com todos os
problemas que tivera com Celene e com o costumeiro trabalho pesado da fazenda Long J, a última coisa
que passara por sua mente fora comprar um equipamento adequado para transportar o bebê no carro.
Se Celene houvesse demonstrado um mínimo de preocupação com isso durante a gravidez, ele não teria
hesitado em providenciar o que fosse preciso. Mas a verdade fora bem diferente. Dera um carro a ela jus-
tamente pensando na impossibilidade de acompanhá-la em todas as compras para o enxoval do bebê.
Porém, Celene deixara o luxuoso jipe cor-de-rosa praticamente encostado na garagem da fazenda.
Até essa manhã.
Só de pensar na quantidade de vezes que sugerira que ela fosse ao shopping da cidade sentia o sangue
esquentar. Chegara até a oferecer seu cartão de crédito, mas tudo que ela fizera fora olhá-lo por cima da
revista de fofocas sobre artistas famosos e afundar mais sob os lençóis.
Depois de ajeitar o cobertor macio com o qual forrara a resistente caixa de papelão que encontrara na fa-
zenda, pela manhã, acomodou o bebê dentro dela, mantendo-o no banco do passageiro. Aquilo o manteria
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sob sua atenção durante todo o trajeto de volta, para o caso de algum imprevisto.
— Não se preocupe, garotão — disse ao filho. — Já recebi instruções de suas madrinhas enfermeiras
para dirigir como se estivesse carregando um vidro de nitroglicerina.
Girando a chave, deu partida no motor com um gesto decidido. Dali em diante, seria apenas ele e John
Júnior. Seu filho seria a pessoa mais importante de sua vida. E se ele tinha alguma dúvida quanto a isso
antes, a atitude irresponsável de Celene tratara de eliminá-la.
Se ao menos houvesse conseguido que o bebê ficasse no hospital por um ou dois dias, teria condições de
ir atrás daquela maluca e acertar a situação entre eles de uma vez por todas. Porém, as enfermeiras haviam
sido irredutíveis.
"Isso aqui não é um hotel, sr. Paladin", dissera uma delas.
"Não pode deixar seu filho quando ele mais precisa do senhor", afirmara a outra.
Nem mesmo seu velho amigo, o xerife Bud Hackman, deixara de chamá-lo de irresponsável quando
recebera seu telefonema logo cedo.
Talvez não houvesse sido sensato pensar em deixar o filho no hospital, enquanto ia atrás de Celene, mas
onde estavam a compreensão e a sensibilidade daquelas pessoas?
Vinha pagando seus pecados desde que agira impulsivamente durante a viagem a Abilene, de onde
voltara com uma noiva grávida, nove meses antes. Tudo que estava tentando fazer era remediar sua
insensatez, nada mais.
— Quem se importa com o que estiverem pensando? — resmungou, enquanto manobrava a pick-up
com gestos decididos para fora do estacionamento. — Não precisamos deles, não é, Júnior? Por enquanto,
pode tirar uma soneca, se quiser. Serão trinta e cinco quilômetros até chegarmos em casa.
Seus pensamentos logo se voltaram para a responsabilidade que teria dali em diante e, aos poucos, um
brilho de suor surgiu em sua testa, apesar do tempo frio.
Quando entrou pela trilha que levava à fazenda, estendeu a mão sobre o bebê e sorriu para ele,
mantendo o veículo a uma velocidade bem abaixo da que era permitida no local.
Gostaria muito de poder atribuir seu nervosismo à atitude de Celene, mas estaria mentindo se fizesse
isso. Sentia-se angustiado e mais apreensivo do que nunca. Se a visse novamente, não tinha idéia de qual
seria sua reação. Sua única certeza era que esta não seria nem um pouco pacífica.
O mais engraçado era saber que desde que vira Celene pela primeira vez, soubera que eles não haviam
nascido um para o outro. Ela era volúvel e irresponsável, do tipo que não suportaria ficar ao lado do mesmo
homem por muito tempo, ainda mais estando presa ao compromisso de um casamento.
Todavia, na noite em que a conhecera, em Abilene, o mais importante fora o detalhe de que ela não
tinha nada a ver com Dana Dixon. Quando dançaram, Celene não se aninhara perfeitamente em seus
braços, como Dana costumava fazer. E o perfume dela não abaixara suas defesas, como sempre acontecia
quando o de Dana invadia suas narinas.
O que Celene lhe proporcionara naquela noite fora apenas companhia, e algo mais que não ficara muito
bem resolvido. Deixara-se envolver pela sedução com que ela o cercara porque havia sido rejeitado pouco
antes e estava se sentindo solitário. Porém, teria sido o tipo de experiência pela qual qualquer homem pas-
saria e depois esqueceria. Não fosse por um detalhe, concluiu, olhando mais uma vez para o bebê adorme-
cido a seu lado.
Antes mesmo de conseguir pensar em uma maneira de fazer as pazes com Dana, já estava casado e
prestes a ser pai. Nunca se esqueceria da fúria de Celene, ao saber que estava grávida. Ela agira como se a
culpa daquilo fosse apenas dele. Bem, pelo menos ela aceitara ter o filho, sem optar por uma solução
desastrosa.
Entretanto, quando tudo parecia mais ou menos encaminhado, ele acordara pela manhã e não a
encontrara em parte alguma. Celene decidira que além de não querer ser esposa, também não desejava ser
mãe.
Para seu maior desespero, ao chegar ao quarto de John Júnior, encontrara-o chorando a plenos pulmões.
De fato, Celene não se encontrava em nenhum lugar da casa. Havia levado as roupas, os objetos pessoais e
o maldito carro cor-de-rosa.
Ligara para Bud e para alguns conhecidos, mas ninguém parecia disposto a ajudá-lo de fato. Em uma
última tentativa desesperada, fora até o hospital e também recebera um "não" como resposta.
Respirou fundo, frustrado. Se Dana não o tivesse deixado, nada disso teria acontecido.
Ficou surpreso ao reconhecer o carro de Bud pelo espelho retrovisor. Pelo visto, o xerife resolvera ver
pessoalmente o que ele decidira fazer.
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Parou o carro mais adiante e abaixou o vidro, no momento em que Bud já estava se aproximando.
— Tudo bem com você, J.P.?
John separava o grupo de pessoas que o cercavam em três categorias. Os que o temiam por algum
motivo costumavam chamá-lo de Grande John. Aqueles que o admiravam, pelo menos em algumas
ocasiões, chamavam-no de J.P. E os poucos que não queriam nem vê-lo referiam-se a ele como Paladin.
— Sim, estou ótimo — respondeu, com um tom de voz firme. — Mesmo sem receber ajuda do meu
melhor amigo — ironizou.
— Eu só disse que seria maluquice de sua parte deixar seu filho com estranhos e ir atrás de uma pessoa
que não quer mais saber de você — afirmou Bud, mantendo a sinceridade de sempre.
Dizendo isso, olhou para a caixa sobre o banco do passageiro. Sua expressão se manteve impassível, ex-
ceto pelo incômodo que os óculos cada vez mais molhados estavam lhe causando. A chuva diminuíra de
intensidade, mas ainda havia alguns pingos insistindo em cair.
— O que vai fazer a respeito do bebê?
— Ainda não sei — respondeu John, de modo evasivo. — Mas aceito sugestões. Que tal me emprestar
Kay por uns dez anos?
— Prefiro comer a torta de ruibarbo da minha sogra três vezes por dia pelo resto da minha vida.
— Diz isso porque não tem idéia do que ando comendo nos últimos dias — falou John, desanimado. —
Torta de ruibarbo nem me parece tão ruim assim no momento.
— Cuidado com o que diz, meu chapa — disse Bud, com um breve sorriso. — Para entrar em contato
com Lucille, basta que eu dê um telefonema.
John olhou para o filho e suspirou.
— Sei que acha que estou maluco e que precisa me vigiar, para me proteger de mim mesmo, mas
poderia me deixar um pouco em paz por favor? -— pediu ao amigo.
— Você não está facilitando as coisas nem um pouco — declarou Bud, não parecendo muito disposto
a atender ao pedido.
— Sobre o que está falando? — questionou John.
— Fiquei preocupado com a possibilidade de você fazer alguma besteira. Por isso, resolvi verificar se
estava tudo bem. Não esta em condições de pensar com clareza no momento, J.P. Precisa de ajuda e não
vou abandoná-lo em meio a uma situação tão difícil.
John respirou fundo, impaciente.
— Então pretende ficar aí na chuva e pegar pneumonia para me deixar com mais sentimento de culpa?
— ironizou. — Já sugeriu que não há nada que eu possa fazer sobre Celene. Sendo assim, dê-me alguma
dica de como agir com o bebê ou deixe-me em paz de uma vez, ok? Além do mais, estou correndo o risco
de fazê-lo adoecer, mantendo esse vidro aberto para conversar com você. Portanto, decida-se logo.
— Deveria ter pensado nisso antes de haver saído com ele nesse tempo — censurou Bud. Adquirindo
um tom mais solidário, completou: — Vou deixá-lo em paz, contanto que me mantenha informado do que
pretende fazer. Ah, e cuidado para não beber nada alcoólico enquanto estiver cuidando da criança, ok?
— Não me venha com essa, Bud. Sabe muito bem que nunca mais tomei nem um aperitivo desde que
meu filho nasceu.
— Ora, então já são dez dias. Meus parabéns! De qualquer maneira, tenha cautela de agora em diante, e
lembre-se de que a vida e o bem-estar desse bebê dependem de você.
Ditas por outra pessoa, aquelas palavras pareceram ainda mais intensas para John.
— Reconheço que você tem razão, mas não sei o que fazer — murmurou.
— O que você quer fazer? — indagou Bud.
— Quero me divorciar e ter a custódia completa do bebê o mais rápido possível.
— E o que mais?
— Criá-lo direito, para que ele se torne um homem melhor do que o pai dele — respondeu John. —
Mas, para ser sincero, não sei por onde começar.
— Dê um passo de cada vez, meu amigo.
John queria assentir, mas, em vez disso, limitou-se a segurar o volante com mais força.
— Também quero ter Dana de volta — confessou.
Passaram-se alguns segundos de silêncio.
— Você nunca teve Dana, John — salientou Bud, com relutância. — Certas coisas não podem mais ser
consertadas depois de serem quebradas.
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Porém, ao notar a expressão quase exasperada de John, Bud pareceu se arrepender e disse:
— Ok, então não fique aí parado e siga naquela direção. — Com o polegar, apontou a trilha atrás de si.
"Propriedade Dixon, estrada 5555!", o endereço soou como um grito na mente de John.
— Pode ser que ela não queira me ver — disse a Bud, lembrando-se do último e desastroso encontro
que haviam tido.
Fora na noite anterior à sua partida para a venda de algumas cabeças de gado em Abilene. Levado pelo
ciúme e a insegurança, ele se precipitara em algumas conclusões sobre ela e Guy Monroe.
— Provavelmente não — anuiu Bud. — Mas não acha que vale a pena tentar?
John estreitou os olhos.
— De que lado você está afinal?
— Sou pago para manter a lei e a ordem entre todos da comunidade. O fato de eu sempre haver tido
esperança de que você e Dana viessem a se entender não vem ao caso.
— Não acredita que isso ainda seja possível?
— Você sempre foi uma pessoa difícil de se lidar, John. E agora, com dois Paladin... — acrescentou
Bud, olhando para o bebê. — Acha que será fácil para ela? — Após uma breve pausa, completou: — De
qualquer maneira, mantenha o temperamento em baixa, ok?
— Eu nunca teria coragem de magoar Dana — declarou John. — Sei como que ela teve uma infância
difícil, e não quero aumentar os traumas que ela guarda com relação ao pai.
— Nenhum homem pode dizer com certeza como agiria em um momento de paixão, John — salientou o
xerife. — Já vi você perder o controle, sem se importar com as conseqüências de suas palavras e atitudes.
Por isso, estou avisando com antecedência. Não me obrigue a ter de ficar do lado de um de vocês.
— Prometo que não será preciso fazer isso — afirmou John, ligando novamente o motor. — Telefone
para a fazenda mais tarde. Talvez eu tenha alguma novidade para lhe contar.
— Ótimo. Ter sua palavra me deixa bem mais aliviado. Obrigado, J.P., e boa sorte.
Enquanto o xerife voltava para o carro, John fechou o vidro e pegou a trilha que conduzia à casa de
Dana. Como reagiria ela?, perguntou-se. Seria possível ver ao menos um lampejo de alegria naqueles
lindos olhos castanhos?
Ao ouvir o bebê se mexer a seu lado, falou:
— Mantenha os dedos cruzados, Júnior. Dana ficou muito aborrecida da última vez em que nos
encontramos, mas prometo que se houver ao menos uma pequena chance de reconciliação não irei
desperdiçá-la. Quando ela o vir, irá se apaixonar. Logo terá uma mãe, e a melhor de todas!
Todavia, não continuou sentindo a mesma autoconfiança quando chegou à casa de Dana. A visão da
propriedade o fez lembrar de que ela havia decidido comprá-la para ir morar com a mãe, em vez de aceitar
o que ele lhe havia proposto. Dana o rejeitara.
Ao estacionar o carro, avistou a placa diante da casa: "Contabilidade & Serviço de Imposto".
Dana havia montado o negócio cinco anos antes, logo depois de terminar a faculdade. Ela precisava de
um trabalho que pudesse ser feito em casa, já que também precisava cuidar da mãe que sofria de artrite.
Não demorou muito para Dana conquistar uma pequena clientela que aos poucos fora aumentando até
possibilitar uma renda mais ou menos estável para as duas.
Após a morte da mãe de Dana e de seu casamento com Celene, John ouvira dizer que ela conseguira
obter ainda mais clientes. "Melhor para ela", pensou.
— Bem, primeiro vamos ver que tipo de recepção teremos — disse, olhando para o bebê.
Achando que ele ficaria melhor acomodado ali mesmo, pegou a caixa com cuidado e saiu da
caminhonete.
Ao tocar a campainha, ficou surpreso ao notar que sua mão estava mais firme do que nunca. Estranho
que estivesse calmo em um momento tão decisivo de sua vida.
E se Dana não quisesse recebê-lo? O que ele faria se ela o visse pelo olho mágico e nem sequer abrisse a
porta?
Porém, para seu espanto, a porta foi aberta de repente.
— Desculpe por havê-lo deixado esperando, Carl, mas...
O pedido de desculpa e o sorriso desapareceram do rosto delicado quando Dana viu que não se tratava
da pessoa que ela estava esperando. A pasta que ela segurava tremeu em sua mão e, no mesmo instante, foi
colocada junto ao peito, como um escudo.
— Olá, Dana — John a cumprimentou.
O olhar espantado se desviou de John para a caixa, antes de voltar ao rosto dele.
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— Maldito — sussurrou ela.
Sem dúvida, aquela não estava sendo a melhor das recepções, pensou John.

CAPITULO II

“Feche a porta!", Dana disse a si mesma. "Feche-a agora, antes que seja tarde demais!"
Não queria se importar com aquele ar de desespero no rosto de John. Nem tampouco queria prestar aten-
ção na criança que ele trazia nos braços. Não podia abaixar suas defesas mais uma vez ou cometer o erro de
deixá-lo saber quanto ele ainda a afetava.
— E mesmo muita ousadia de sua parte — disse por entre os dentes.
O comentário pareceu torná-lo ainda mais exasperado.
— Eu sei — respondeu John. — Mas posso entrar, para conversarmos por um minuto?
A porta de entrada da casa não tinha proteção contra chuva e, por mais que estivesse furiosa com John
Paladin, ela não teria coragem de deixá-lo ali com um bebê recém-nascido nos braços. Sem dizer nada, deu
um passo atrás, abrindo espaço para ele entrar.
Como não estava esperando nenhum cliente, exceto Carl Hyatt, que pegaria a pasta com sua declaração
de imposto de renda, Dana vestira apenas um confortável agasalho de moletom. Não se preocupara nem um
pouco com a aparência, mas. ainda assim, a sua estava bem melhor do que a de John. Ele parecia abatido e
muito preocupado, bem diferente do homem atraente e autoconfiante, que sempre fazia as mulheres das
redondezas suspirarem.
— Está ótima, Dana.
— Mas você não parece nada bem — replicou ela, com sua costumeira sinceridade.
— Para ser franco, estou tendo um dia de cão.
Dana arqueou uma sobrancelha, determinada a se manter impassível a qualquer custo.
— Não me diga que a lua-de-mel já terminou?
— Você sabe que não houve nenhuma lua-de-mel.

— Ah, é mesmo. Vocês a tiveram antes do casamento, não foi? — ironizou ela.
— Também não houve nenhum casamento no sentido completo da palavra. Apenas uma cerimônia
legal, nada mais. E, se quer mesmo saber, também não houve amor na minha união com Celene —
acrescentou, com impaciência. — Eu lhe disse...
— Sim, você me disse — Dana o interrompeu, antes de começar a ouvir uma nova série de desculpas,
como no passado. — Mas eu também lhe disse que não tínhamos mais nada no dia em que veio me
procurar, quando voltou de Abilene. Isso significa que não há motivo para você estar aqui.
Dana considerou aquilo como uma justa declaração de independência diante das circunstâncias. Porém,
sua determinação foi por água abaixo quando John levantou a caixa forrada com um cobertor felpudo,
obrigando-a a olhar para o que ele trazia nela.
— Você ficou maluco?! Como tem coragem de carregar uma criança em uma caixa de papelão?
Por um momento, ele pareceu não saber o que responder.
— Não é a primeira vez que me chamam de maluco hoje — declarou. — Mas isso foi tudo que
consegui improvisar. Quer conhecer meu filho?
— Não — respondeu Dana, dando um passo atrás e cruzando os braços.
Ter contato com uma criança que tinha o mesmo sangue de John correndo nas veias era a última coisa
que ela desejava. Bastava ter de lidar com a curiosidade, o que já estava sendo bastante difícil.
— Tudo bem, mas preciso deixá-lo respirar com mais liberdade por alguns minutos — explicou John,
olhando em volta, como que escolhendo o melhor lugar para colocar a caixa. — Incomoda-se se eu...?
Dana queria resistir ao impulso de ajudá-lo, mas, por estar em sua própria casa, não teve muita escolha.
— Pode colocá-lo no sofá — respondeu.
Não conseguiu deixar de sentir-se culpada. Haviam terminado o relacionamento um dia antes de ele
haver partido para Abilene, mas era como se John nunca houvesse de fato saído de sua vida. Sentiu-se
ainda mais culpada quando ele olhou do carpete para as botas enlameadas.
— Pelo amor de Deus, John, não é hora de se preocupar com isso — disse a ele.
Manteve os braços cruzados, enquanto o observava ir até o sofá. Não ficou surpresa quando uma
sensação de vazio invadiu seu peito. Desde o dia em que soubera que John havia se casado lutara para

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evitar esse reencontro. Porém, vendo-o ali, à sua frente, não sabia se conseguiria lidar direito com a
situação.
Conhecia John desde que era uma tímida adolescente de dezesseis anos e ele, um atraente rapaz de
vinte. Incrível, mas mesmo com trinta anos, John continuava com a mesma aura de virilidade daquela
época.
Apesar do esforço para ignorar seus sentimentos contraditórios com relação a ele, nos últimos tempos
acabara sucumbindo a algumas fantasias. Imaginava como seria ser amada por John, dar à luz um filho dele
e depois aninhar o bebê em seus braços protetores, compartilhando uma vida em comum com o pai dele.
Atribuía sua mente sonhadora a seus genes irlandeses, mesma desculpa que sua mãe costumava usar
para justificar a bebedeira e o temperamento de seu pai. Com vinte e seis anos, já estava mais amadurecida
para entender que aquilo não passava de uma desculpa sem fundamento.
Ao ver John levantar o filho nos braços, conteve o fôlego. Como braços tão fortes e musculosos seriam
capazes de segurar um bebê com tanto cuidado?
Num impulso, atravessou a sala.
— Deixe-me segurá-lo. Talvez o esteja apertando demais. Afinal, nunca teve noção de sua própria
força.
— Exceto com você — salientou John.
Uma sensação de alerta se apoderou do corpo de Dana. Em parte devido à proximidade dos dois e, em
parte, por saber que John estava certo.
Ele tentara ser delicado com ela, tanto quanto um homem com aquele porte e aquele temperamento con-
seguiria ser. Exceto no dia em que haviam se conhecido e na véspera da partida para Abilene. Porém, ela
não queria pensar nisso no momento.
— Ora, ora... — murmurou, olhando para o bebê aninhado em seus braços.
Esforçando-se para não olhar para John e acabar denunciando sua vulnerabilidade, afastou-se um
pouco, balançando o filho dele nos braços.
— Assim está melhor, não? — disse para o bebê.
— Para mim, está perfeito — respondeu John, como se ela houvesse se dirigido a ele.
Dana sentiu o rosto esquentar. Somente John tinha o poder de fazê-la enrubescer com tanta facilidade.
Foi preciso utilizar toda sua concentração para ignorá-lo e focalizar a atenção na criança que outra mulher
dera a ele.
Porém, esse foi o segundo erro de seu dia porque apaixonou-se de imediato por aquele rostinho rosado e
rechonchudo. Seu coração se entregou mais uma vez, e com a mesma intensidade com que se entregara ao
pai dele um dia. Quando deu por si, seus olhos estavam cheios de lágrimas.
O filho de John era lindo. Perfeitamente lindo. Parecia uma miniatura do pai, com os mesmos olhos cas-
tanhos e os mesmos cabelos castanho-escuros. Para ela, aquilo era quase cruel.
— O que acha?
Dana sentiu-se incomodada com a pergunta tanto quanto com a presença de John em sua casa. Por outro
lado, não conseguiu deixar de acariciar o rostinho do bebê ao responder:
— Você tem muita sorte.
— Não tenho tanta certeza disso, mas obrigado. Parece que ele se adaptou muito bem ao seu colo.
Indignada com a atitude de John, Dana levantou a vista para ele.
— Não posso acreditar que tenha tido a audácia de trazer seu filho até aqui, sendo que ele deveria estar
em casa com a mãe.
— Não fiz isso por audácia, Dana, mas por desespero.
— O que está querendo dizer?
— Que você tem razão. Ele deveria estar em casa com a mãe, mas o problema é que ela não está lá.
Dana se tornou tensa.
— O que aconteceu?
— Celene me deixou.
Dana lutou contra o sentimento de solidariedade que ameaçou afetá-la. Felizmente, conseguiu contê-lo.
— Pelo visto, ela foi muito esperta.
John fez uma careta.
— Não me diga isso. Quero continuar pensando que fiz o possível para agradá-la e que ela não se
aproveitou de mim. — Tirou o chapéu e passou a mão pelos cabelos. — Eu deveria ter imaginado que
Celene não seria capaz de cumprir sua parte no acordo. O isolamento, o cansaço da rotina... Deve ter sido
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demais para uma pessoa volúvel como ela. De qualquer modo, eu sabia que nossa união não iria durar para
sempre.
Dana não queria ouvir todas aquelas mentiras de novo, mas não teve opção.
— Ela nunca quis o bebê — continuou John. — Mas concordou em ficar até que ele estivesse com
idade suficiente para não depender mais dela.
Dana respirou fundo.
— Isso é tolice, John. Um filho pode estar com vinte e um anos e ainda precisar dos pais. — Após uma
breve pausa, perguntou: — Quando ela foi embora?
— Acho que no intervalo entre minha saída pela manhã e a volta para o almoço. — John olhou para o
filho. — Ao chegar, ouvi o choro dele e, quando a procurei, ela já havia sumido.
— Durango não ouviu nem viu nada?

— Não. Ele disse que entreteu-se enquanto preparava o almoço e dava alguns telefonemas para mim.
Também sei que ele costuma deixar a tevê alta demais, mas desisti de discutir com ele a esse respeito.
Durango não vive sem assistir programas de entrevistas e não posso me arriscar a perdê-lo. Está difícil
encontrar bons empregados hoje em dia. — Abrindo o casaco, acrescentou: — Ela me deixou um bilhete.
Dana deu um passo atrás, como se ele estivesse prestes a sacar uma arma.
— Não estou interessada em ler o que Celene possa ter deixado para você, John.
— Ela disse que fez a parte dela e que quer voltar à vida de antes — afirmou ele, ignorando o protesto
de Dana.
— Uma mãe não abandona um filho assim, sem mais nem menos — falou ela, lembrando-se da própria
mãe, que apesar de ter mil razões para deixar o marido nunca o fizera por causa da filha.
— Mães normais, você quer dizer — salientou ele. — Fui até a cidade, na esperança de encontrá-la, mas
quando não consegui, imaginei que poderia deixar o bebê no hospital por um ou dois dias até conseguir
encontrá-la. Só que as enfermeiras praticamente me expulsaram de lá, dizendo que o hospital não era um
hotel.
— Pelo menos ainda resta alguém pensando com clareza — afirmou Dana. — Seria demais vocês dois
abandonarem o bebê, John. O que se passou pela sua cabeça?
— Nos primeiros minutos, tudo que eu queria era torcer o pescoço dela — confessou ele, dobrando a
aba do chapéu com fúria.
— Atitude típica — disse Dana, como que para si mesma.
Vivia dizendo a ele que justamente por aquele tipo de reação da parte dele era que os dois não poderiam
ter um futuro juntos.
— Teria resolvido tudo, não? — ironizou. — Celene acabaria morta ou em um hospital, e você na
cadeia. Estava realmente pensando no seu filho, não?
— Eu queria ir atrás dela e fazê-la assinar um documento com testemunhas, antes de ela desaparecer
de vez e complicar a situação só Deus sabe por quanto tempo. Como se não bastasse isso, hoje cedo,
quando telefonei para Bud, ele disse que se eu sair da cidade, irá decretar minha prisão e dar meu filho a um
orfanato.
Aquilo parecia bastante extremado para haver sido dito por Bud, mas Dana sabia que o xerife tentara
apenas evitar que John cometesse uma loucura. Bud era um amigo melhor do que John imaginava, ou
merecia.
— Pelo menos alguém por aqui continua usando o bom senso — disse-lhe.
— Preciso acabar com isso, Dana. De uma vez por todas.
— Sem dúvida que sim. Mas o que permanece um mistério é o motivo que o trouxe até aqui. Por acaso,
pareço com madre Tereza?
John deu um passo em direção a ela.
— Preciso de ajuda para cuidar do bebê.
— Então contrate alguém.
O bebê fez alguns sons de protesto, deixando-a com sentimento de culpa. Estava mais tensa do que
nunca, mas não poderia ceder aos apelos de John, senão estaria perdida.
Por outro lado, também tinha noção de que o bebê não tinha culpa pela irresponsabilidade dos pais.
— Não acredito que tenha sido esse o motivo que o trouxe até aqui — disse a John. — O que você
quer?
— O que você me deixará ter?
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Dana sentiu como se de repente o chão houvesse sumido debaixo de seus pés. Em um gesto quase
defensivo, virou-se de costas para ele e foi até a janela mais próxima. O fato de não ter de fitar os olhos de
John facilitaria o diálogo.
No entanto, aquela presença máscula continuava tão intensa quanto antes, às suas costas. Era
simplesmente impossível ignorar John Paladin quando ele queria se fazer notar.
Sua reação à presença dele sempre fora a mesma desde que ela chegara à cidade, com dezesseis anos,
quando seu pai fora contratado como chefe da polícia local.
Depois de discutir por causa da violação de uma lei de trânsito, John saíra do escritório de seu pai feito
um furacão, bem no momento em que ela se preparava para entrar.
A força do encontro a fizera cambalear para trás, mas John se apressara em ajudá-la e pedira desculpa.
A preocupação nos olhos dele fora sincera, assim como o brilho de interesse.
Seu pai tratara logo de acabar com a magia do momento, mas John a esperara depois, no final da rua.
Após se desculpar mais uma vez, convidou-a para sair.
Lisonjeada com o convite, mas também apreensiva com o porte físico de John, característica que ela
passara a temer por causa do pai, Dana explicara que o pai não a deixaria sair com algum rapaz até que ela
completasse dezoito anos.
Porém, logo ficou evidente que John Paladin era bastante persistente. Quando ele decidia que queria
algo, centralizava toda a atenção para seu intento, até conseguir realizá-lo. E John decidira que queria ter
Dana para si.
— Não podemos voltar, John. Ele se aproximou dela.
— Mas não quero voltar, prefiro ir adiante.

— Não acho que isso seja possível. Sabe que desde o começo achei que nosso relacionamento não daria
certo. E agora...
— Dana, não diga isso. — Ele tocou-lhe os cabelos macios, antes de descer a mão até o ombro dela. —
Sei que estraguei tudo.
Dana forçou um riso.
— Destruiu qualquer confiança que eu pudesse ter em você, é o que quer dizer.
— Não! — John a fez virar-se de frente para ele. — Não importa o que pense, mas não foi isso o que eu
fiz. E não acredito que não haja mais volta entre nós.
Apesar do efeito devastador do contato das mãos quentes de John em seus ombros, Dana se esforçou
para manter-se firme.
— O que eu disse é verdade — insistiu. — Destruiu a confiança que eu tinha em você.
— Aquilo foi apenas um momento de perda de controle, e por sua causa.
— Minha?! — Arrependendo-se por haver assustado o bebê, ela o balançou no colo e sussurrou: — Não
acredito que tenha dito isso!
— Pense um pouco. Se não houvesse dito que foi ao Fort Worth com Guy Monroe, eu não teria perdido
a calma daquela maneira.
— Eu expliquei que peguei carona com ele porque estávamos a caminho de um mesmo seminário sobre
negócios, mas você quis me ouvir? Não! Foi logo tirando conclusões precipitadas e me insultando!
— O sujeito é casado e tem três filhos, Dana. Aquilo não me pareceu certo.
— A esposa confia nele!
— Soube isso dela mesma ou foi algo que ele lhe disse? Pelo amor de Deus, Dana, sei que seu pai foi
bastante severo em sua criação, mas ele já se foi e você está com vinte e seis anos. Como pode continuar
sendo tão inocente a respeito das pessoas? Monroe já teve vários casos, e a esposa finge não saber por
causa dos filhos. Qualquer idiota poderia ver que você era a próxima presa que ele pretendia capturar.
Dana ficou boquiaberta.
— Isso não é verdade.
— Quer que eu cite nomes? — replicou John, impaciente.
Ela balançou a cabeça negativamente. Não queria ouvir mais nada sobre aquilo e nem ter dúvidas a
respeito da conduta de Guy. Eles eram bons amigos, e ele indicara a ela alguns de seus melhores clientes na
área comercial.
— Por que não me disse isso antes? — perguntou a John.
— Você teria acreditado?
— Não sei — admitiu Dana, com relutância. — O fato é que sua atitude não se justificou, qualquer que
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tenha sido a intenção de Guy. Você me ofendeu, e não tinha esse direito. Além de demonstrar que não con-
fiava em mim, ainda quis impor regras para o que eu poderia fazer ou não.
— Sabe o que sinto por você — declarou John.
— E quanto ao que eu sinto? De todas as pessoas de Dusty Flats, você, mais do que ninguém, deveria
saber que eu nunca me deixaria controlar novamente por alguém! Mesmo assim, quebrou todas as
promessas que havia feito. Tem idéia de como fiquei quando você...
— Sim. — John a interrompeu. — Não se passa um dia sequer sem que eu me arrependa pela maneira
como agi. Mas consegui me conter a tempo, lembra?
— Fiquei com as marcas de seus dedos nos meus braços por mais de uma semana — declarou Dana, por
entre os dentes. — E meus lábios ficaram feridos quando você... — Ela desviou o olhar.
— Quando a beijei. Por que não consegue dizer isso?
— Porque não foi um beijo! — retrucou ela. — Mais pareceu um ataque!
John respirou fundo.
— Fiquei louco de ciúme e perdi o controle — admitiu. — Qualquer pessoa está sujeita a cometer
falhas.
— Claro que sim :— respondeu Dana, com voz trêmula. — Só que a solução mais prática que você en-
controu foi ir para Abilene e dormir com a primeira mulher que encontrou pela frente, não?
— Aquilo foi um mau julgamento baseado em frustração e mágoa...
— Poupe-me dessas respostas clínicas, por favor — Dana o interrompeu.
— ...e estou pagando por isso até hoje — completou John. — Não há nada que você diga que eu já não
tenha dito a mim mesmo, ao longo dos últimos meses.
Dana fez menção de entregar o bebê de volta a ele.
— Então, não há motivo para continuar aqui.
— Claro que há — insistiu John. — Eu quero... Espere um pouco, Dana.
— Pegue-o de volta.
— Não. Primeiro ouça o que tenho a dizer.
— Por quê?
— Porque quero que me ensine a ser pai.
Ela arregalou os olhos, sem conseguir disfarçar a surpresa. Porém, antes que pudesse dizer algo, John
prosseguiu:
— Bud tem razão. Não posso deixar meu filho e ir atrás de Celene. Vou telefonar para meu
advogado e deixar que ele cuide do caso. O mais importante é que eu continue ao lado do meu filho, para
que ele sinta que pode contar comigo sempre que precisar. Mas... Droga, Dana, eu não sei por onde
começar!
— Poderia começar não praguejando diante dele.
Os lábios dele se curvaram em um sorriso.
— Então precisa se corrigir tanto quanto eu. Praguejou assim que abriu a porta, lembra?
— Isso prova que não sou a pessoa certa para cuidar dele — respondeu Dana, com voz firme. Foi até o
sofá e deitou o bebê de volta na caixa. — Lamento, mas não posso ajudá-lo. Além do mais, tenho tanta
experiência com crianças quanto você.
— Então poderemos aprender juntos, lendo alguns manuais que as enfermeiras me recomendaram. Mas
você, melhor do que ninguém, sabe como um pai não deve agir. Poderia me ajudar nesse aspecto. Não
quero que meu filho acabe tendo medo de mim, como você tinha de seu pai. Quero que ele me chame de
"papai" com orgulho, e não com receio de que eu grite ou faça um escândalo.
Dana sentiu sua resistência se desfazendo como gelo ao sol. Alguns anos antes, acreditaria em tudo que
John estava dizendo, mas já o conhecia o suficiente para saber que aquele tipo de atitude exigiria demais
dele.
— Antes de dizer "não" novamente — disse ele, quando ela começou a balançar a cabeça —, deixe-
me fazer outra proposta: ajude-me até que eu consiga contratar uma babá.
A proposta melhorara, mas ainda seria difícil de aceitar.
— Eu não... não posso, John.
— Mas tenho de cuidar da fazenda!
— Também tenho meu negócio para administrar — salientou ela.
— Eu sei, Dana, mas, se não me ajudar, minha única opção será recorrer a Durango.
— Não pode fazer isso! — Ela o censurou. — Durango fuma feito uma chaminé e é cuidadoso como
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um elefante em uma loja de cristais.
— Talvez. Mas, pelo visto, ele é a única pessoa disposta a me ajudar nesse momento.
Quando o bebê fez menção de começar a chorar, Dana deu-lhe a chupeta. Mordeu o lábio, pensativa.
Aquilo não era justo. Mal começara a se recuperar do rompimento com John, e lá estava ele, querendo
voltar para sua vida.
Droga, queria viver em uma situação segura e tranqüila! Sua mãe nunca tivera isso até seu pai
falecer, um ano antes de ela terminar a faculdade. Recusava-se a passar pelo mesmo que a mãe, mesmo
que para isso tivesse de continuar sozinha pelo resto da vida.
Por outro lado, continuava achando que aquele lindo bebê não tinha culpa pela irresponsabilidade
dos pais.
Olhou mais uma vez para o filho de John. O menino já nascera entre dois impasses: a mãe o
abandonara e o pai não tinha a mínima noção de como criá-lo. Não poderia simplesmente ignorar aquela
situação. Não com a vida de uma criança em jogo.
Mesmo ciente de que poderia estar cometendo o maior erro de sua vida, olhou para John.
— Tenho algumas exigências — disse, com cautela.
— Pode falar — respondeu John, sem hesitação.
— Não se empolgue. Duvido que gostará do que vou dizer.
— Está olhando para um novo John Paladin — afirmou ele, com um brilho diferente no olhar. —
Diga.
Dana respirou fundo.
— Primeiro, quero saber que tipo de aproximação física você tem em mente.
— Aproximação física? Bem, eu não havia pensado nisso.
Dana disfarçou o ar de desapontamento.
— Acho melhor começarmos daí. Não me considero nem um pouco treinada em técnicas de cuidados
infantis, mas parece óbvio que não é saudável um bebê sair nesse tempo.
— Sim, tem razão — anuiu John. — Mas o que está querendo dizer exatamente?
— Estou dizendo que ficarei na sua casa, para que não tenha de ficar trazendo-o até aqui.
Um sorriso iluminou o rosto de John.
— Oh, Dana, eu...
— Não precisa dizer nada — declarou ela, decidida a não se deixar levar pela empolgação dele. — Farei
isso por ele, não por você.
— Eu ia lhe agradecer, só isso.
— Não é preciso. Estamos fazendo apenas o que parece ser mais prático no momento. Também quero
liberdade para continuar com meu trabalho. Não pode exigir que eu deixe meus clientes só porque você se
meteu nessa confusão.
— Sim, claro. Eu não pensaria em lhe pedir mais do que o necessário, Dana. Além disso, quero lhe
pagar pelo trabalho.
— Nem pense nisso! — respondeu ela, indignada.
— A tarefa não será fácil — avisou ele. — Por que acha que Celene fugiu?
— Acho que quanto menos falarmos sobre sua esposa, melhor — respondeu Dana, mantendo o tom de
voz firme.
— Logo será ex-esposa — lembrou John.
— Em segundo lugar — continuou ela, ignorando o comentário —, vou ficar na sua casa, mas se
demorar a contratar uma babá, ou se alguma emergência o obrigar a sair no meio da noite para cuidar do
gado, terá de procurar outra pessoa para ficar com o bebê.
— Ok, entendi.
— Estou falando sério, John.
— Eu não estou?
— Não brinque comigo. Ainda não o perdoei pelo que fez, portanto, nada de referências sobre nosso
relacionamento passado enquanto eu estiver lá, certo?
— Ah, então pelo menos já está considerando que foi um relacionamento?
— E se eu descobrir que você não está se esforçando para encontrar uma babá, deixarei a fazenda
imediatamente.
Seguiu-se um momento de silêncio, durante o qual John a fitou com atenção. Dana já vira aquele olhar
antes, quando ele a beijara pela primeira vez. Jurou a si mesma que se ele tentasse beijá-la nesse momento,
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o acordo estaria cancelado no mesmo instante.
Porém, John se limitou a colocar o chapéu, antes de se abaixar para pegar o filho.
— O acordo parece justo — disse a Dana. — Sendo assim, estamos acertados.
— Estamos?
— Tenho apenas uma única exigência — salientou ele. — Mas é provável que você não goste porque
não lhe dará chance de dizer "não" — avisou.
— Não tenho nenhum problema em dizer "não" a você quando quero, John. Pode ter certeza disso.
— Ok. Bem, meu pedido é que venha agora mesmo para minha casa.
— Agora?!

CAPÍTULO III

— Por quê? — perguntou Dana, num fio de voz.


— Porque preciso de sua ajuda para fazer uma lista do que é necessário comprar para o bebê. — Diante
do silêncio de Dana, ele insistiu: — E então? Aceita me acompanhar?
— Está querendo dizer que ainda não comprou nada? Francamente, John. Você teve meses para fazer
isso!
Ele sabia disso melhor do que ninguém. Porém, tudo que pôde fazer foi dar de ombros.
— Você não conhece Celene — respondeu. — Ela não tinha nenhum interesse pelo filho. Continuei
tendo esperança de que ela acabaria fazendo o enxoval do bebê, por isso fui adiando as compras. Também
não posso negar que andei bastante ocupado com outros assuntos.
— Ocupado? Mas isso não justifica sua negligência. Acha justo ficar carregando seu filho em uma caixa
de papelão? — Olhando para o bebê mais uma vez, perguntou: — Qual o nome que deu a ele?
— John Júnior.
Dana revirou os olhos.
— Ah, o ego masculino. Quando ele passar os próximos vinte anos sendo comparado a você, não se
pergunte por que isso não o agrada.
John não havia pensado nesse detalhe.
— Talvez isso não aconteça — argumentou. — Quanto ao nome, uma das enfermeiras do hospital
começou a chamá-lo de J.J., já que algumas pessoas têm o hábito de me chamar de J.P.
Dana pareceu gostar da sugestão, pois seu olhar se tornou terno no mesmo instante.
— Gostei do apelido — disse ela, com um breve sorriso. — Também vou chamá-lo de J.J. Pelo menos,
soa mais apropriado do que Júnior.
— Acha mesmo?
— Sim. Bem, poderei ajudá-lo por algumas horas hoje. Irei segui-lo no meu carro.
Não era exatamente o que John havia planejado, mas já que conseguira convencer Dana a acompanhá-
lo, achou melhor não contestar.
— Ok, obrigado.
Ela pegou a bolsa e vestiu uma jaqueta vermelha, que ressaltava o tom claro de seus cabelos castanhos.
Depois de apagar a luz da sala, pegou as chaves do carro e abriu a porta para ele.
A chuva havia diminuído bastante, mas o caminho até Long J continuou sendo um grande desafio. O
tempo no Texas estava sempre surpreendendo seus habitantes. Aquele era um lugar para quem estava
disposto a trabalhar duro para ganhar a vida. Ainda assim, John adorava aquelas terras.
Na região mais próxima da fazenda, o terreno se mostrou ainda mais difícil. John olhou várias vezes
pelo espelho retrovisor, preocupado com a lama que seu carro estava jogando no cupê branco de Dana.
Sempre gostara de vê-la naquele carro esporte. O modelo arrojado, embora bastante feminino, parecia a
marca do desafio e da independência próprios do temperamento de Dana.
Ao estacionar diante da entrada da casa, esperou que ela parasse o carro ao lado do seu, antes de expor
J.J. ao tempo novamente.
Só esperava que Durango não fizesse nenhum comentário inapropriado ao vê-la. Concentrada em levar
o bebê a salvo para dentro, ela nem pareceu notar o estado enlameado do carro.
Ao passarem pela porta da cozinha, John notou uma certa hesitação por parte dela. Preocupado com os
próprios pensamentos, esquecera-se de considerar o nervosismo que Dana poderia estar sentindo ao voltar à
fazenda, depois de meses de ausência.
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Pela primeira vez, em semanas, ele observou a cozinha com mais atenção. Havia uma bagunça genera-
lizada pelo aposento, prova evidente do que Celene fizera à sua casa e à sua vida.
— Sinto muito pela bagunça — disse a Dana. — Deveríamos ter entrado pela porta da sala.
— Sim, talvez sua idéia não tenha sido lá muito boa.
John franziu o cenho. Estaria Dana pensando que ele a levara até ali na esperança de que ela arrumasse
aquela bagunça?
— Prometo que a cozinha estará impecável da próxima vez que entrar aqui.
— Tem certeza de que sua esposa não está mais aqui? — perguntou Dana, como que esperando que
Celene fosse aparecer a qualquer instante.
— Por acaso você viu algum jipe cor-de-rosa do lado de fora? — indagou ele, sem conseguir disfarçar a
ironia.
— Um o quê? Oh, não, não!
— Então acredite em mim. Ela foi embora.
Percebendo que quanto mais cedo saíssem dali, melhor, John tratou de levá-la logo para a sala.
Chegando lá, ele colocou a caixa de papelão sobre o sofá e tirou a jaqueta. Dana fez o mesmo e logo tirou
J.J. daquele local um tanto desconfortável.
— Prontinho, meu anjo — disse ela, livrando-o do lençol e do cueiro. — Ei, você é grande, não?
— Sim, nasceu com cinqüenta e um centímetros — declarou John, orgulhoso.
Dana o olhou de alto a baixo.
— Sua esposa foi muito corajosa, apesar de tudo.
— Acho que sim.
— J.J. vai ficar mais alto do que você.
John não havia pensado muito no assunto, mas sentiu uma sensação de culpa ao se lembrar dos comen-
tários das enfermeiras sobre como o parto de Celene havia sido difícil.
Porém, achou melhor afastar tais pensamentos, antes que começasse a sentir-se solidário com Celene,
mesmo depois do que ela fizera. Unindo as mãos, perguntou:
— E então? Por onde começamos?
— Pelo papel de parede?
John franziu o cenho. Mas quando percebeu um sorriso se insinuando nos lábios de Dana, logo entendeu
o que ela estava querendo dizer.
— Tem razão — respondeu. — Isso aqui está um horror. O certo seria começarmos mesmo pelas
paredes. — Levando-a até o andar de cima, abriu a porta de um dos aposentos e perguntou: — Que tal arru-
marmos esse aqui para J.J.?
Depois de analisar o quarto pequeno, mas aconchegante, Dana concordou.
— Ficará perfeito.
— Tem certeza? — indagou John.
— Sim. A menos que queira deixar o berço dele no seu quarto.
— No meu quarto? — repetiu ele, como se ela houvesse dito algo estranho demais para ser verdade.
— Ele é seu filho, John, não um estranho — salientou ela. — Seria melhor deixá-lo perto de você para o
caso de ele chorar durante a noite.
— E por que ele choraria?
Ao ouvir aquilo, Dana não conseguiu conter o riso. Apesar do prazer de vê-la sorrir, John sentiu-se
aborrecido. Perguntou-se o que poderia haver dito de tão engraçado.
— Também quero saber qual foi a piada, Dana. Estou precisando rir depois do que me aconteceu nesses
últimos meses.
— Não entendo muito sobre bebês, mas sei que eles mantêm seus próprios horários, sem se importarem
muito com os dos adultos. Eles acordam muito cedo e gostam de ser servidos rapidamente, quando estão
com fome.
John ficou preocupado ao ouvir aquilo. Não percebera nenhum choro do bebê no meio da noite, desde
que o trouxera para casa com Celene. Seria seu sono muito pesado? E se ele não ouvisse o choro do bebê?
— E o que faremos? — perguntou a ela.
— Bem, uma coisa de cada vez — respondeu Dana, mantendo a calma. — Acho melhor você ir
comprar os itens da lista enquanto cuido de tudo por aqui.
— No caminho, passarei na agência de classificados — avisou John. — Quanto mais cedo eu anunciar
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o emprego para uma babá, mais cedo a ajuda aparecerá.
— Boa idéia — aprovou Dana.
Só que John não saiu de imediato. Continuou no mesmo lugar, olhando-a com ar de adoração.
— Obrigado, Dana.
— Você já me agradeceu.
— Eu sei, mas estou começando a me dar conta da tarefa difícil que joguei em suas mãos.
Ela enrubesceu.
— Pode ser, mas a minha nem se compara à sua, papai. Agora vá logo, antes que me faça pensar na
idiotice que fiz ao aceitar vir até aqui.
— Você é muito especial, irlandesa.
— Claro que sou. E sabe quem costumava dizer isso? Meu pai, depois que pedia desculpa por haver me
agredido.

Dana reconheceu que fora indelicada com John. Não era do seu feitio responder daquela maneira, mas
nem ela mesma entendeu direito o que a havia levado a dizer aquilo.
Enquanto ouvia John acelerar a caminhonete com fúria, encostou-se na parede do quarto que seria de
J.J., e esperou que o tremor de seu corpo passasse.
John sempre tivera o poder de deixá-la desse jeito, e, dali em diante, teria de enfrentar o fato de que,
apesar de todo o trabalho que tivera para combater tal sentimento, pelo visto nada havia mudado.
Mais uma vez, sentiu-se envergonhada por seu comportamento. Nunca fora intencionalmente rude com
ninguém. Até minutos antes. John conseguia fazê-la mostrar um lado de sua personalidade que nem ela
mesma conhecia.
— Bem, temos muito trabalho pela frente — disse em voz alta, olhando para J.J., que continuava na
caixa onde o pai o havia deixado, só que em um sofá a um canto do aposento.
Ao ouvir a voz dela, o bebê olhou em sua direção.
— Aposto que não pretende facilitar nem um pouco as coisas para mim, não é, anjinho?
O bebê fez uma careta, mas não chegou a chorar.
— Sei que tenho de ser compreensiva. Afinal, que culpa tem você por haver nascido de uma mãe
maluca e de um pai mais maluco ainda? Também não é justo que você seja tão parecido com seu pai. Teria
sido mais fácil eu dizer "não" se você parecesse mais com sua mãe. Mas não, saiu tão charmoso quanto seu
pai, para meu maior desespero! Pelo visto, também vai arrasar muitos corações, mocinho.
Dizendo isso, beijou a testa do bebê e levou-o para o quarto de John, para trocar-lhe a fralda.
Desde o começo, avisara John de que ele precisaria mudar aquele temperamento inflamado, se quisesse
ficar com ela. Por mais que fosse apaixonada por ele, a combinação de sua vida problemática com sua na-
tureza competitiva servira para criar um ambiente sentimental aparentemente apropriado para desilusões.
Por isso, nunca se deixara envolver totalmente por John. Recusava-se a cometer os mesmos erros de sua
mãe. Erros que a haviam forçado a agüentar a brutalidade do marido em nome do amor.
Sua mãe sofrerá muito, ao lado de um homem que desde o início do casamento provara ter um tempera-
mento que combinava com sua indomável ambição. Felizmente, ele satisfazia no trabalho boa parte da ne-
cessidade de demonstrar controle e poder. Mas nem tudo se resolvia dessa maneira. Para Dana e a mãe,
cada dia representava uma nova provação. Donnal Dixon era uma verdadeira bomba ambulante, prestes a
explodir a qualquer instante.
A princípio, Dana apenas perdera o respeito pelo pai, mas, com o tempo, a falta de respeito se
transformara em repúdio. Quando ele morrera, um ano antes de ela terminar a faculdade, Dana não sentira
vontade de chorar. Terapia talvez houvesse ajudado, mas não havia como pagar um terapeuta e a faculdade
ao mesmo tempo. Por isso, limitara-se a ter longas conversas com a mãe e com a psicóloga da faculdade.
Longe da presença de Donnal, ela e a mãe haviam se tornado boas amigas.
Porém, quando tudo parecia estar se encaminhando, Sally Dixon caíra na banheira e tivera uma série de
complicações de saúde que a haviam levado a uma morte prematura, um ano antes.
Os ancestrais de John não pareciam ser muito diferentes. Certa vez, ele lhe dissera que tinha um pouco
de sangue italiano correndo nas veias. Devia ser essa a origem de seu temperamento forte. Depois que a
mãe dele sofrerá um enfarte durante o parto e ficara um pouco debilitada, deixara a maior parte das
responsabilidades sobre a criação do filho nas mãos do marido.
A reputação de James e de John, conhecidos como os "intempestivos Paladin", fora uma das primeiras
histórias que Dana ouvira ao chegar em Dusty Flats. Desde a primeira vez em que a vira, John se mostrara
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interessado nela, mas Dana sempre evitara uma completa aproximação. Porém, John continuou insistindo, e
só se afastou por algum tempo quando James morreu em um acidente de trator, quatro anos antes.
Na época, ele ficara com uma responsabilidade grande demais para um jovem de vinte e seis anos. Mas
mesmo assim lutara bravamente para manter a Long J ativa, e conseguira com sucesso, mas não sem antes
adquirir a fama de "um homem com pulso de ferro". Ela própria tivera chance de comprovar isso durante a
discussão que haviam tido, meses antes.
Tentando afastar os pensamentos desagradáveis, concentrou-se em verificar se a fralda de J.J. estava
molhada. No entanto, algumas dúvidas continuaram a assaltar sua mente.
E se estivesse cometendo um grande erro ao permanecer ali? Ficar na casa de John, cuidando do filho
que ele concebera com outra mulher, um dia depois de haver jurado que ela era a única mulher da vida
dele, parecia pura loucura.
Sim, a fralda estava molhada. Mas onde estariam as fraldas limpas?, questionou-se, lembrando-se de
que não perguntara esse detalhe a John.
— Não se preocupe, anjinho — disse ao bebê. — Encontraremos suas fraldas.
Levando-o no colo, saiu para o corredor e viu uma porta fechada mais adiante. Intuitivamente, soube
que aquele havia sido o quarto de Celene. Com um suspiro, resolveu ir até lá.
A atmosfera do quarto a fez sentir-se como uma intrusa. Não havia o menor sinal de organização, e
exatamente como na cozinha, a negligência reduzira tudo a uma grande bagunça.
Dana encontrou embalagens vazias de comida e copos usados, mas nada daquilo parecia haver sido
usado realmente por Celene, exceto a aliança sobre a mesinha-de-cabeceira.
Por que Celene não a levara consigo? Se ela fosse mesmo uma caçadora de fortunas, como John
sugerira, teria levado o anel e conseguido algum dinheiro com a venda dele.
Dana olhou para a aliança. Disse a si mesma que não se importava com tudo aquilo. Celene poderia
voltar para casa nesse mesmo instante, que ela própria se limitaria a pegar o casaco e ir embora. Ainda
assim, não resistiu ao impulso de colocá-lo no dedo anular da mão esquerda.
Notando que o tamanho era um pouco maior do que o de seu dedo, Dana experimentou uma sensação
estranha ao olhar para a aliança. A jóia pertencera à mulher com quem John dormira e que lhe dera um
filho. Como teria sido ser tocada por ele? O porte másculo de John intimidara Celene ou a deixara ainda
mais excitada? Teria John gostado disso?
Com um gesto brusco, tirou o anel do dedo e praticamente o jogou de volta sobre a mesinha-de-
cabeceira.
— Pare com isso, Dana — censurou-se em voz alta.
Tivera toda chance do mundo de experimentar tudo aquilo antes de Celene, mas não quisera se envolver
por completo. Jurara a si mesma que nunca deixaria nenhum homem controlar sua vida, portanto, não
adiantava lamentar.
Ajeitando J.J. no colo, continuou a procurar as fraldas. Felizmente, encontrou um pacote de fraldas
quase vazio dentro do guarda-roupa. Acima dele, uma porção de cabides jogados aleatoriamente
denunciavam a súbita partida de Celene.
Sentindo-se mais protetora do que nunca com relação ao bebê, Dana pendurou os cabides e pegou o
pacote de fraldas. "Como pôde fazer isso, Celene? Como teve coragem de abandonar seu filho?"
Ficou surpresa ao ser presenteada com um sorriso de J.J. enquanto voltavam para o quarto de John.
— Está começando a se acostumar comigo, não é? — disse a ele, também sorrindo. — Vou trocá-lo e
depois iremos à cozinha, ver o que há para comer.
Só então lembrou-se de que também não havia perguntado esse detalhe a John. Como teria o médico
recomendado a preparação da mamadeira de J.J.? Bem, nada que um telefonema para sua amiga Elizabeth,
que tivera um bebê havia pouco tempo, não pudesse resolver.
— Farei uma mamadeira deliciosa para você — disse ao bebê, enquanto lhe tirava a fralda suja.
Ao receber outro sorriso de J.J., deu-lhe um sonoro beijo na barriga.
— Oh, você é mesmo uma gracinha! Até que estamos nos saindo bem, não acha?
Só que nem tudo continuou tão fácil quanto no início. Enquanto estava dando banho nele, molhou muito
a blusa e percebeu que teria de encontrar algo para vestir. Como se não bastasse, J.J. molhou a fralda limpa
assim que ela o trocou. Céus, como as mães conseguiam sobreviver a tudo aquilo?
Quando levou-o para a cozinha, minutos depois, cantava baixinho uma das canções de ninar irlandesas
que a mãe lhe ensinara.
Já que J.J. não tinha a mãe por perto, era bom pelo menos se acostumar a ouvir uma voz feminina.
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Depois de telefonar para Elizabeth e receber algumas instruções básicas, concentrou-se em procurar os
ingredientes para a mamadeira. A certa altura, porém, sentiu uma brisa fria atrás de si. Ao se virar, deparou-
se com o empregado e cozinheiro de John.
— Ah, já estava em tempo de aparecer por aqui — disse a ele, fingindo um ar de censura.
Durango, como era chamado carinhosamente pelo pessoal da fazenda, sorriu para ela. Seu nome era
William Clive Durand, mas todos achavam que parecia empolado demais para um homem de quase
sessenta anos e de aparência rude, mas que estava sempre se desmanchando em sorrisos.
— Mal acredito no que meus olhos estão vendo — falou ele. — Aposto que se não fosse por um
momento de muita necessidade você nunca mais colocaria os
pés nesta fazenda.
Dana deu de ombros.
— Você me conhece, Durango. Uma vez bandeirante, sempre bandeirante.
— O garoto parece estar contente.
De fato, J.J. não aparentava o mínimo desconforto nos braços de Dana, mas ela não estava nem um
pouco disposta a admitir isso.
— Não tenha esperança, meu caro. Ficarei aqui por muito pouco tempo. E estou fazendo isso apenas
pelo bem de J.J., e nada mais.
— De qualquer maneira, é bom vê-la de novo, mocinha.
— Obrigada. E você? Como tem passado?
— Com certeza, melhor do que certas pessoas por aqui. Ei, veja só o estado desta cozinha! Não é de se
estranhar que John tenha preferido comer no barracão, com os empregados, nos últimos tempos.
Dana se surpreendeu.
— John estava comendo com vocês?
— Sim, desde algum tempo. Mas vendo o estado desta cozinha até entendo o motivo. A mulher era
mesmo terrível.
— Isso não é da nossa conta, Durango.
— Vi quando ela foi embora.
— Além do mais... Você o quê? Mas John disse que você não viu nada!
— Ouvi o barulho do jipe, mas quando fui olhar, o carro já ia longe.
— E por que não disse a John?
— Porque eu queria que ela fosse embora. Celene o estava deixando muito infeliz, e John está bem me-
lhor sem ela por perto. Também vi quando ele foi atrás dela. Não a encontrou, não é?
— Não.
— Claro. Você não estaria aqui, se ele a houvesse encontrado — concluiu ele. — Tem idéia do que
acontecerá de agora em diante?
— Por que não pergunta isso ao seu chefe, quando ele voltar?
— Pelo estado desta casa, aposto que John vai querer um daqueles divórcios rápidos. Quando ele a
trouxe para cá, eu disse que bastava alguém olhar para aquelas enormes unhas manicuradas para saber o
que Celene faria com a casa.
Tentando ignorar a satisfação em ouvir aquilo, Dana jogou no lixo uma embalagem vazia de
salgadinhos. Durango se aproximou dela no mesmo instante.
— Deixe-me ajudá-la — disse ele. — O que está procurando?
— Ingredientes para a mamadeira de J. J. Não creio que você saiba onde estão.
— Claro que sei! Celene não fazia nada que pudesse pedir para alguém fazer por ela. Por isso ela
preparava a lista de compras e eu mesmo as fazia e depois as guardava.
Dizendo isso, ele abriu uma parte mais baixa do armário e tirou alguns itens, colocando-os sobre a
mesa.
— Aqui estão.
— Obrigada.
Dana pegou uma das mamadeiras e suspirou. Pareciam substitutos muito impessoais, se comparados ao
aconchego de um seio materno.
— Não se preocupe, Dana, o bebê está acostumado a elas. A única boca que tocou...
— Durango!
Dana virou-se de costas para ele, fingindo procurar uma colher na pia. Não acreditava no que quase aca-
bara de ouvir. Não queria saber nada sobre as intimidades de John e de Celene.
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— Desculpe-me — disse Durango, reconhecendo que fora longe demais.
— Celene é esposa de John, e, até que ele diga o contrário, ela merece ser tratada com respeito.
— Pode ser, mas ela não era uma dama — insistiu ele, pegando uma panelinha em outro armário. —
Tome. Vai precisar disso. A outra preparava a mamadeira no microondas, mas já li a respeito do efeito de
ondas eletromagnéticas e não acho que seja saudável para a criança ser exposta a isso tão cedo.
Sem resistir ao impulso de olhar o maço de cigarros no bolso da camisa dele, Dana riu.
— Desde quando começou a cultuar a saúde?
— Sei que não tenho moral para falar isso, mas a saúde e o bem-estar de uma criança são muito impor-
tantes. Você e John deveriam se unir e...
— Quer parar, por favor?
Embaraçada, Dana começou a pôr os ingredientes da mamadeira na panelinha.
— Como eu já lhe disse, não adianta alimentar nenhuma esperança.
— Não estou alimentando esperanças, mas fatos são fatos. Se está aqui é porque não foi capaz de dizer
"não" para John. Estou apenas me perguntando quanto tempo sua mente conseguirá manter esse cabo-de-
guerra com seu coração.

Muito tempo depois de Durango haver se retirado, Dana continuava indignada com os comentários que
ele fizera.
Ele sempre fora muito sincero, mas dessa vez havia passado dos limites. Que fosse reclamar dela com
John, se quisesse, pois ela não titubeara em mandá-lo embora, já que lhe parecera a única maneira de ficar
em paz.
Somente depois de esterilizar a mamadeira, prepará-la e sentar-se com J.J. na cadeira de balanço da sala
foi que ela conseguiu respirar aliviada. O bebê começou a mamar com fúria, mostrando o quanto estava
faminto. Vendo aquele rostinho rosado concentrado em sugar o conteúdo da mamadeira, Dana não
conseguiu conter um sorriso. O filho de John era adorável.
Aos poucos, seus pensamentos se voltaram mais uma vez para John e para o relacionamento meio
conturbado que os dois haviam tido.
Seu lado romântico sobre amor, casamento e filhos fora abafado desde cedo. Conhecia muitas verdades
para continuar acreditando em tudo aquilo. E seu pai contribuíra muito para criar aquele trauma em seu ser.
Seria preciso um homem muito compreensivo e generoso para fazê-la mudar de idéia.
Absorta em tais pensamentos, mal notou quando a porta foi aberta e John ficou a observá-la por algum
tempo.

CAPITULO IV

John teve certeza de que nunca vira uma cena tão adorável em toda sua vida. Ver Dana segurando seu
filho quase adormecido era a visão de seus sonhos, o modo como sua vida realmente deveria ser, se ele não
houvesse sido tão idiota. J.J. não tinha o sangue de Dana, e ela não era sua esposa. Porém, talvez fosse
justamente esse o maior apelo da cena.
Dana ficou surpresa ao notar sua presença, mas se manteve imóvel para não assustar o bebê.
— Olá — disse ele.
— Shh... — Ela pediu silêncio, levando o dedo aos lábios.
John se aproximou dos dois devagar e sorriu ao ver o rosto angelical do filho adormecido.
— Não faz idéia de como vocês dois estão perfeitos assim, juntos — murmurou ele, mantendo o
sorriso no rosto.
Dana não respondeu, mas também não fez menção de contestar. Invadido por uma sensação de gratidão,
John se manteve em silêncio durante alguns segundos, sentindo uma espécie de nó na garganta. Não era
uma boa hora para dizer nada, apenas para observar, sentir...
Sem dizer nenhuma palavra, fitou o olhar tímido de Dana e sorriu para ela, acariciando-lhe a face com o
dorso dos dedos.
— Não, John — murmurou ela, afastando-se ligeiramente do contato.
Apesar da frustração por haver sido rejeitado, John entendeu o motivo que levara Dana a fazer
aquilo. Por isso, afastou a mão do rosto dela.
— Como quiser — disse. — Mas não vou me desculpar por querer tocá-la. Ainda mais com essa
sua pele tão macia quanto a de J.J. Além disso...
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— Agora que já voltou, preciso ir embora — Dana o interrompeu, levantando-se da cadeira com
cuidado para não acordar o bebê. — Vou levá-lo para cima e deixá-lo na sua cama, cercado por
travesseiros. Aprendi isso com uma amiga e sei que não há problema. — Após uma breve pausa,
acrescentou: — Conseguiu encontrar tudo que estava na lista? Se você quiser, poderei fazer o restante
das compras amanhã, antes de vir para cá.
Percebendo o modo como ela insistia em manter-se ocupada com palavras, John achou que seria
mais prático se Dana jogasse um balde de água fria em sua cabeça de uma vez.
— Dana...
— Precisará de mais ingredientes para a mamadeira. Desculpe-me por não haver pensado nisso
antes. Bem, mas amanhã eu...
— Dana, pare um pouco, por favor.
Ela parou no primeiro degrau da escada, mas se recusou a olhar para ele. Cansado, depois de todos
os acontecimentos conturbados do dia, John encostou-se na parede e fechou os olhos por um
momento.
— Não precisa ficar dando desculpas — disse a ela. — Entendi a mensagem.
— Não tenho certeza disso — replicou Dana.
John forçou um sorriso.
— Posso ter muitos defeitos, mas sei me manter no meu lugar quando não estou sendo desejado por
perto.
Ele esperou que Dana fosse dizer algo, mas ela continuou embalando J.J. devagar. Para John, aquele si-
lêncio foi pior do que uma confissão. Por um momento, teve vontade de voltar a seu antigo método de
reação e esmurrar a parede, chutar uma cadeira ou qualquer coisa do gênero. Afinal, seu pai sempre dissera:
"E melhor ter uma cadeira quebrada do que uma úlcera sangrando". Porém, o bom senso e a presença de
Dana e de seu filho o fizeram se conter.
— Está esquecendo o principal.
Ao ouvir aquilo, John franziu o cenho, sem entender onde ela estava querendo chegar.
— Estou esquecendo o quê?
— Que você é casado.
— Não mais.
— John, você é casado.
— Ok, mas apenas temporariamente.
— E também tem um filho. Como eu já lhe disse antes, tudo mudou. Não me faça mudar de idéia a
respeito de ajudá-lo.
Isso o fez se calar. Por que a vida ficava tão complicada de vez em quando?
— Tem razão. Nada mais é como antes. Tenho um filho. — Suspirou. — Fiz algumas besteiras, mas
não mereço sua condenação eterna por isso, Dana. Esse não é o ponto principal da questão.
— Sim, é.
— Não — insistiu ele, com um breve sorriso frustrado. — A questão é que por mais que o
relacionamento entre nós esteja complicado no momento, ele ainda não terminou. Nunca vai terminar,
Dana. Sei disso e, se for sincera com você mesma, também terá de admitir isso.
— Você me assusta quando fala assim.
— Não é essa minha intenção. Não quero que tenha medo de mim, mas que enfrente a realidade com
sensatez.
— Acha que meras palavras ainda significam algo para mim, John? Tenho ouvido promessas durante
toda minha vida. "Nunca mais vou magoá-la, querida", "Seu pai vai mudar, tenha paciência". Mas nunca
cumpriram as promessas que me fizeram. Nem mesmo você.
John censurou-se mais uma vez pela maneira como agira, detestando ser comparado às pessoas que a
haviam decepcionado. Ainda assim, manteve-se esperançoso no fato de que por mais que Dana estivesse
magoada, não fugira dele quando fora procurá-la, em busca de ajuda.
— Ouça — disse Dana —, acho que esta conversa era necessária para esclarecer algumas coisas, mas
ela também prova quanto é importante que você encontre outra pessoa para cuidar de seu filho. Lembrou-se
de colocar o anúncio no jornal?
— Sim. Mas só será publicado a partir de segunda-feira.
Dana pareceu desapontada por um momento, mas assentiu, aceitando a idéia.
— Ok. Pelo menos isso lhe dará tempo para entrar em forma.
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— Entrar em forma? — John levou a mão à barriga.
— O que há de errado comigo?
— Não é a esse tipo de forma que estou me referindo — explicou Dana. — Precisa fazer a barba e
ficar mais apresentável quando for entrevistar as candidatas.
Dizendo isso, subiu a escada, deixando John pensativo. Dana tinha razão, concluiu ele, levando a mão à
barba, que não era feita havia dias. Faria aquilo por ela.

Dana concluiu que ficaria aliviada quando o anúncio fosse publicado no jornal. Afinal, isso significaria
que John havia sido sincero e que pretendia cumprir sua parte no acordo.
Porém, alguns dias depois, quando John começou a entrevistar as primeiras candidatas, ela deu-se conta
de que havia se enganado. Até então, não percebera quanto já havia se afeiçoado ao bebê.
A primeiras mulheres não pareceram oferecer nenhuma ameaça, principalmente depois que ela percebeu
que John não as aprovara. Todas partiram pouco depois de haverem chegado. Tinham currículos breves,
por não haverem permanecido muito tempo nos últimos empregos. Além disso, apresentaram mais exigên-
cias do que credenciais.
Entretanto, na sexta-feira, um novo tipo de candidata começou a aparecer. Tratava-se de verdadeiras
damas, com experiência no trabalho e boas indicações. Não estavam interessadas apenas no emprego, mas
também no desenvolvimento da criança que ficaria sob seus cuidados.
Foi então que Dana começou a ficar mais preocupada, passando a ouvir as entrevistas do lado de fora da
porta, geralmente mantendo J.J. nos braços, para ter a desculpa de estar passeando com ele, no caso de ser
flagrada.
No entanto, a primeira vez que John a flagrou, ocorreu por puro acaso. Ficou tão embaraçada que sentiu
o rosto esquentar.
Mais tarde, pedira desculpa a John e surpreendera-se quando ele declarara que a interferência dela seria
útil. Apesar da surpresa e do leve brilho irônico nos olhos de John, ela aceitou a sugestão.
Porém, estar autorizada a ouvir as entrevistas facilitou a situação apenas em parte. Embora não perdesse
nenhuma parte das entrevistas, ficava preocupada quando alguma candidata parecia estar mais qualificada
para o emprego.
Uma semana depois de as entrevistas haverem começado, ela se encontrava do lado de fora da porta,
mordendo o lábio enquanto escutava com crescente preocupação os risos de John e de Louise Hanratty. Foi
preciso que ela acenasse da porta várias vezes, até John conseguir notar sua presença.
— Algum problema? — perguntou ele, antes de pedir licença a Louise e acompanhá-la até a cozinha.
— Sinto muito em ter de chamá-lo até aqui — sussurrou ela, mantendo J.J. no colo —, mas eu tinha de
lhe falar algo.
— Sobre a sra. Hanratty? O quê?
Dana meneou a cabeça.
— Percebi que você não levou muito em consideração o fato de ela só haver trabalhado com meninas.
Ela não iria compreender as necessidades de um menino, John.
— Necessidades?
— Olhe só para ela. Não vejo alguém segurar um lencinho de renda entre os dedos há séculos! — exa-
gerou. — Ela é simpática e parece bem qualificada, mas imagine quando, daqui a um ou dois anos, J.J.
começar a querer explorar o mundo à sua volta com maior interesse? Essa mulher não vai saber lidar com a
situação. Mas é você quem deve dar a palavra final. O que acha do que eu disse?
John estreitou os olhos por um momento, pensativo.
— Tem toda razão — admitiu ele, por fim.
Minutos depois, Louise Hanratty deixou a casa, parecendo mais confusa do que nunca.
Naquela mesma tarde, John entrevistou a srta. Collins e, mais uma vez, Dana balançou a cabeça
negativamente, quando ele pediu sua opinião. Dessa vez, porém, foi ele quem a levou à cozinha.
— Ela tem um currículo impecável, Dana. E cuidou tanto de meninos quanto de meninas.
— Eu ouvi — respondeu, pegando os ingredientes para a mamadeira do bebê.
— Então, o que há de errado? Para mim, ela pareceu a mais qualificada até agora. Acabou de sair de um
emprego onde cuidava dos filhos de um magnata na Arábia Saudita!
Dana assentiu.
— Eu sei. Mas, nesse caso, não interessa se ela cuidou de meninas, meninos ou de animais de
estimação! O que me preocupa é que ela estava acostumada a ter outros empregados providenciando tudo
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que fosse necessário para ela e para as crianças. Você acha que ela vai suportar viver em uma fazenda onde
todos têm de aprender praticamente a sobreviver por conta própria? Duvido que Durango se mostre
disposto a atender todas as exigências que ela fizer.
John demonstrou um ar de preocupação.
— Eu não havia pensado nisso.
— Bem, pois essa é minha opinião — afirmou Dana, ajustando a chama do fogão. — Mas, como
sempre, a palavra final é sua.
A situação mudou bastante depois disso. John se tornou muito mais cauteloso e, durante os dias
seguintes, traçou critérios rígidos, entrevistando as candidatas primeiro pelo telefone.
A princípio, Dana sentiu-se culpada, sabendo que apenas uma santa seria capaz de atender a todas as
exigências. Na sexta-feira seguinte, uma outra candidata chegou até a ser convocada para a entrevista
pessoal, mas saiu da casa pouco depois, acusando John de ser exigente demais.
— Ouviu isso? — perguntou ele, quando Dana levou J.J. ao escritório e entregou-o ao pai.
— Não entenda isso como algo pessoal — disse Dana. — Ela apenas não atende às suas exigências.
Além disso, você viu o modo como ela anda? Ficou evidente que tem algum problema nas articulações. Ela
não ia agüentar ficar descendo e subindo a escada por muito tempo. E se J.J. se machucasse ou precisasse
dela de repente e ela estivesse na cozinha?
— Tem razão — anuiu ele, cocando o queixo. — Foi melhor ela ter ido embora. Seria ridículo contratá-
la agora e ter de dispensá-la daqui a alguns dias.
O bom senso avisou a Dana que ela teria de mostrar empecilhos em breve. Caso contrário, John
começaria a desconfiar de que ela não estava querendo outra pessoa para cuidar do bebê. Ter J.J. junto de si
o dia inteiro e rir um pouco com John, à noite, quando ele a levava para casa, estava sendo mais prazeroso
do que ela queria admitir.
De fato, Dana só percebeu isso verdadeiramente na terceira semana, durante a entrevista com uma
atraente jovem de cabelos negros. Tratava-se de uma viúva que aparentava ter mais ou menos a mesma
idade de John.
Mantendo-se no alto da escada, Dana observou quando John conduziu a sra. Pamela Davis até o
escritório. Logo percebeu que a nova candidata tinha um alto Q.I., além de outros atributos, e isso começou
a deixá-la preocupada. A certa altura, começou a andar de um lado para outro do corredor, enquanto ouvia
a entrevista.
— ...então, em vez de voltar a dar aula para uma classe com trinta alunos, resolveu centralizar toda
sua atenção em apenas uma criança — dizia John. — É uma atitude muito generosa de sua parte.
Pelo modo como ele estava falando, Dana percebeu que John parecia satisfeito. O tom afável da
conversa não a agradou nem um pouco.
— Obrigada, sr. Paladin. Mas, para ser mesmo sincera, recusei outro emprego de babá porque o casal
iria se mudar para a Europa e eu não queria sair do país.
— Entendo. O mais importante, porém, é que a senhora gosta de crianças. Tem certeza de que não será
um mero trabalho sem importância?
— Claro que tenho, sr. Paladin. Adoro crianças e, mesmo correndo o risco de parecer piegas, confesso
que também tenho esperança de ser mãe um dia.
Dana sentiu um aperto no estômago. Estaria mesmo ouvindo aquilo? Se aquela mulher fosse contratada,
sua função ali estaria terminada. Por mais que procurasse, não encontrava nenhum defeito na candidata. De
fato, John seria maluco se a dispensasse.
— Pode me dar licença por um minuto? — ouviu-o dizer.
Antes que ele saísse, Dana correu para a cozinha. Porém, ao abrir a porta, John parecia saber
exatamente onde a encontraria.
— Precisa de algo? — perguntou Dana, com ar inocente.
— Onde está J.J.?
— Dormindo lá em cima. Por quê?
— Você não me fez nenhum sinal durante toda a entrevista. Pensei que houvesse algo errado.
— Não. Bem, na verdade, não fiquei ouvindo a entrevista por muito tempo.
— Vi que você estava no alto da escada quando a conduzi até o escritório — observou John. — Depois
percebi sua presença do lado de fora do corredor. Portanto, sei que ouviu a conversa.
— Ok — Dana admitiu, frustrada. — Talvez seja ela a pessoa por quem está procurando.
— Está dizendo que a aprovou?
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— Não! Quero dizer, não exatamente.
— Então, explique-me o que está sentindo, Dana.
Se decidisse dizer a verdade, ela teria de confessar que estava se sentindo péssima, mas não era isso que
tinha em mente.
— Nada, não estou sentindo nada. Você... não vai apressar um pouco a decisão?
— Já entrevistei mais de doze pessoas, Dana. E já dispensei até mais do que isso, contando com as
conversas por telefone. Não posso continuar adiando a decisão. Além disso, preciso voltar a cuidar da
fazenda. Meus livros de contas estão uma verdadeira bagunça e...
— Por que não disse antes? — ela o interrompeu. — Eu poderia ajudá-lo com isso.
O olhar irônico de John mostrou quanto o comentário dela fora inoportuno. Dana apertou os lábios
quando ele se aproximou e segurou-a pelos ombros.
— Será que preciso lembrá-la de que você insistiu em me ajudar apenas com J.J.?
— Eu... estou ciente de quanto você tem trabalhado ultimamente.
— E você também — salientou John. — Como se não bastasse, não quer que eu lhe pague.
— Já conversamos sobre esse detalhe. Desde que você não me impeça de continuar com meu trabalho
normal, cuidar de J.J. não está atrapalhando meus compromissos.
John a olhou em silêncio por um momento.
— O que está acontecendo, irlandesa?
Dana sentiu o coração acelerar, como sempre acontecia quando ele a chamava daquela maneira.
— Não estou entendendo o que quer dizer.
— Explique o que é isso que anda fazendo — falou John, gesticulando com um ar vago.
— Não há nada para ser definido.
— Sim, claro que há. Estou com uma forte impressão de que você não está querendo que eu contrate
uma babá.
Dana sentiu-se como se houvessem tirado o chão de sob seus pés.
— Oh, isso é ridículo! — protestou. — Eu não...
— Diga-me o motivo.
Dana sabia que não conseguiria mentir para ele, não sob a mira daquele olhar intenso.
— Quero o melhor para J.J., só isso — respondeu. — É algo natural.
— E? — John a questionou.
— Sim. Considere a situação dessa perspectiva. — Aflita, fechou os olhos por um momento, tentando
encontrar argumentos plausíveis. — Tenho passado muito tempo com ele, desde que vim para cá. Sinto
como se o conhecesse melhor do que a qualquer outra pessoa. Exceto, talvez, você.
Receosa de que John pudesse perceber o tremor em sua voz, Dana limpou a garganta, determinada a
não dizer nem mais uma palavra antes da saber qual seria a decisão dele.
— Pamela Davis é uma farsa.
Dana franziu o cenho, sem entender o que John estava querendo dizer.
— O quê?
— Ela é irmã de uma amiga minha, de Abilene. Pedi a Pamela para fazer a entrevista quando desconfiei
de que você estava parecendo exigente demais. Eu queria descobrir quanto você agüentaria até me dizer
que gostaria de continuar cuidando de J.J.
— Isso é ridículo — repetiu ela, detestando haver sido pega em uma armadilha. — Você precisa de
ajuda, e essa tem sido e continua sendo minha única preocupação.
— Já tenho a ajuda necessária, e a melhor. De quem mais posso precisar? — John deslizou a ponta dos
dedos pelos cabelos dela, suavemente. — E isso o que está pensando, irlandesa? Chegou à conclusão de
que talvez eu mereça um pouco mais de confiança, e de que não seria tão ruim assim manter as coisas como
estão?
"Sim!", Dana teve vontade de gritar. J.J. já fazia parte de sua vida, e ela não sabia o que faria se John
dissesse que não precisava mais de sua ajuda. Também não queria nem pensar na tortura que seria deixar
uma mulher como a tal Pamela passando a maior parte do tempo na fazenda. Porém, como poderia
confessar tudo isso sem derrubar as barreiras que ela acreditava ainda serem necessárias em sua vida?
— Fale comigo, Dana. O próximo passo tem de ser seu.
Dana o fitou nos olhos.
— Não acredito que tenha feito isso comigo.
— Não fiz nada que você mesma não tenha feito primeiro.
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John tinha razão, mas essa situação era nova para Dana e ela não estava sabendo muito bem como lidar
com ela. Nunca sentira ciúme antes.
O que estava havendo com ela, afinal? Pensara que nunca mais conseguiria olhar para John sem vê-lo
como alguém que a insultara por ela haver ido a um seminário com um amigo, e que voltara de Abilene
pouco depois com uma noiva grávida. No entanto, ali estava, querendo ficar ao lado dele e do filho!
— Eu pensei que estava tudo resolvido! — desabafou, passando a mão pelos cabelos.
— Foi uma boa tentativa. — John sorriu. — Mas você esqueceu de que às vezes a vida não é muito
simples.
John estava certo mais uma vez, admitiu Dana. Teria sido sensatez ou teimosia que a mantivera tão de-
cidida a manter-se longe de John?
— Minha atitude não está sendo justa com relação a você — falou, olhando-o fixamente.
Por um momento, John pareceu desapontado.
— Está querendo dizer que posso voltar para o escritório, pegar o telefone e contratar qualquer uma
daquelas mulheres? — Dana não conseguiu responder. — Seria capaz de ir embora sem sequer olhar para
trás, se eu lhe pedisse para fazer isso? — indagou John.
Ela sentiu um vazio no peito ao ouvir aquilo. Só de pensar em nunca mais segurar J.J. no colo já sentia
os olhos se enchendo de lágrimas. Por outro lado, como poderia continuar ali sem voltar a se envolver com
John? A proximidade entre ambos estava tornando isso cada vez mais difícil.
— E se eu... — Ela hesitou. — Bem, o que você diria se eu decidisse ficar por mais algum tempo?
John continuou impassível.
— Tudo depende do que você quer dizer com "algum tempo". Não tenho mais disponibilidade para ficar
fazendo essas entrevistas todas as semanas.
— Entendo. Tudo dependerá do fato de você não interpretar os fatos como algo além do que eles
querem significar na verdade.
John deu um passo atrás.
— Oh, Dana! Você é mesmo um caixa de surpresas. — Com um suspiro, continuou: — Está bem. Vou
continuar com o plano.
— Que plano?
— Aquele sobre o qual lhe falei antes. Pretendo lhe mostrar que sou uma pessoa de confiança e também
um bom pai.
Mais uma vez, Dana sentiu suas resistências desmoronando, como as paredes de um iceberg.
— Não posso prometer nada — avisou a John.
— Tudo bem, mas poderia pelo menos me dar um sinal de aceitação.
Dana estreitou os olhos, desconfiada.
— O que está sugerindo?
— Achei que seria válido selarmos o acordo com algum gesto.
Ela teve receio do que sentiria se fosse tocada por John.
— Trocar um aperto de mãos pareceria meio idiota, não acha? — perguntou a ele.
— E verdade — anuiu John. — Mas que tal um beijo?
Dana sentiu um arrepio pelo corpo.
— Paladin! — Ela o censurou. — Não acredito que...
— John a silenciou tocando-lhe os lábios com o dedo indicador.
— Economize o fôlego, irlandesa. Um beijo bem aqui e será tudo. Prometo.
— Por quê?
— Porque você tentou me enganar, em vez de se dirigir a mim com a mesma sinceridade com que tenho
lidado com você. — Tornando o tom de voz mais carinhoso, acrescentou: — E também porque isso lhe
provará de uma vez por todas que não precisa ter medo de mim.
— Não terei de retribuir o beijo?
— Claro que não — respondeu ele, para surpresa de Dana. — Irei beijá-la sem esperar nada em troca.
— Aqui? — Ela apontou para os próprios lábios.
— Exatamente. Espero que se comporte e que não tire proveito da situação.
Dana não soube se deveria rir ou chorar. O John Paladin que ela conhecera no passado não faria
piadinhas como aquelas.
Respirando fundo, fechou os olhos e levantou o rosto. Quanto mais cedo aquilo terminasse, melhor.
Foi então que sentiu um breve toque dos lábios de John no canto de seus lábios. Conteve o fôlego por
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um instante, mas a sensação se foi tão rapidamente quanto começara. Ao abrir os olhos, viu que ele a
observava com um olhar indecifrável.
— Tudo bem? — perguntou a ela.
Ele só poderia estar brincando, pensou Dana.
— Já... já me beijou?
— Sim.
— Tem certeza?
— Sim. Foi você mesma quem quis um contato mais breve possível. Bem, vou telefonar para o jornal e
pedir que suspendam a publicação do anúncio.
Quando ele fez menção de se afastar, Dana segurou-lhe o braço.
— Algum problema? — perguntou John, voltando a olhá-la.
— Você sabe que sim — respondeu ela, sentindo a força dos músculos do braço dele.
— Então fale.
— Não reverta a situação, fazendo-me parecer boba, John Paladin. Por mais que eu mereça alguma
repreensão, não faça isso, por favor.
Ele a olhou por um longo tempo, antes de deslizar o polegar sobre seus lábios.
— Eu nunca teria coragem de fazê-la parecer boba, Dana. Nunca.

CAPÍTULO V

— Quer uma xícara de café?


John franziu o cenho, estranhando a pergunta de Durango. O restante dos empregados se encontrava
espalhado pela fazenda, cuidando do gado, mas Durango havia chegado a casa pouco antes, para preparar o
jantar.
— Se eu quisesse, já teria me servido — respondeu John, impaciente. — Por que não quer responder à
minha pergunta?
— Porque preciso de algum tempo para analisar a situação.
— Diga apenas "sim" ou "não", droga — insistiu John. — Acha que Dana aceitará passar o Dia de Ação
de Graças conosco ou não? Por que é tão difícil responder a essa pergunta?
— A resposta precisa vir de você mesmo, J.P. — replicou Durango. — Não gosto de opinar sobre esses
assuntos e você sabe muito bem disso.
— Eu sei, mas você faz parte da casa, e tem obrigação de opinar. Portanto, diga-me quando tiver uma
resposta.
Durango riu, com ironia.
— Ah, e também pense como organizaremos um jantar para todos aqui em casa — acrescentou John.
— Vai oferecer o jantar aqui por causa de Dana? — Durango se surpreendeu.
— Claro que sim. Acha que vou levá-la para o meio daquela bagunça onde comemos nos últimos
meses? Além disso, não poderemos sair com J.J. à noite, em meio ao tempo frio. Ele pode acabar
adoecendo. Se ficarmos aqui, não terei de me preocupar com esses detalhes.
— Isto é, se Dana vier, você deixará seu filho aos cuidados dela e não terá de se preocupar, certo? —
insinuou Durango.
Ao contrário do que Durango estava sugerindo, ele não se importava em cuidar do filho. Aprendera a
gostar da tarefa com Dana.
— Está com aquele ar sonhador novamente — disse Durango.
Embaraçado, John fuzilou-o com o olhar. As insinuações de Durango costumavam não incomodá-lo, já
que o antigo empregado já era quase como se fosse da família. Porém, quando era Dana quem estava em
jogo, tudo se tornava diferente.
— Preocupe-se com seus próprios assuntos, Durango.
— Antes ou depois de responder à sua pergunta? — questionou ele, com um sorriso irônico. — Ok, se
quer que eu seja sincero, acho que ela vai recusar.
— Por quê?
— Dana terá receio de que a situação fique íntima.
— Como poderá ficar com um bando de homens por perto? — indagou John.
Durango pareceu ofendido com o comentário.
— Podemos não ter classe, J.P., mas somos a única família que você tem, além de J.J., e Dana sabe
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que todos passamos o Dia de Ação de Graças juntos, desde que seu pai era vivo. Tudo isso cria um clima
muito familiar, meu rapaz. E isso deixará Dana apreensiva.
— Pois vou convidá-la — insistiu John. — E você trate de avisar aos outros para se comportarem
direito.
— Pode deixar, patrão. Ah... mas antes de sair, poderia abrir a gaveta dos talheres?
— De novo? — John arqueou uma sobrancelha.
Algumas vezes por ano, Durango acabava emperrando a pesada gaveta dos talheres.
— Se soubesse fechá-la direito, isso não aconteceria.
Dizendo isso, John se inclinou e tentou puxar a gaveta. Só que dessa vez ela pareceu resistir mais do que
das outras.
— Oh, mas que ótimo — ironizou. — Dessa vez, você realmente conseguiu, Durango. — Afaste-se
um pouco.
— Tenha cuidado, patrão. Não quero que se machuque.
Lançando um olhar impaciente por cima do ombro, John puxou a gaveta com um gesto firme. Porém, se
tivesse a mínima idéia do que aconteceria em seguida, não o teria feito.
A gaveta desemperrou de repente e a rapidez do movimento a fez se soltar por completo, jogando
talheres para todos os lados.
Durango não perdeu tempo em se esconder atrás da geladeira, enquanto John observava os talheres
voando como se estivesse em meio a uma cena mostrada em câmera lenta.
Nesse mesmo instante, a porta se abriu de repente.
— Parem! Parem já com isso!
Surpreso, John se virou, deparando-se com o olhar furioso de Dana.
Mantendo as mãos na cintura, ela estava batendo o pé, indignada.
— Vocês deviam estar envergonhados! Principalmente você, John Paladin! Que tipo de exemplo cos-
tuma dar a seus empregados?
— Mas eu não...
— Claro que não! Onde já se viu dois homens brigando feito crianças? E Durango tem quase o dobro de
sua idade! — disse a John.
— Ei, mas não estou tão velho assim! — protestou o empregado.
— Não estávamos brigando — explicou John.
— Ah, então esse desastre aconteceu enquanto discutiam o menu? — ironizou Dana. — E pensar que eu
estava começando a achar que você havia mudado, John. — Balançando a cabeça, encaminhou-se nova-
mente para a porta. — Vim apenas avisá-lo que seu advogado telefonou. Quer que você telefone para ele
assim que possível.
— Dana! — chamou John, seguindo-a.
Sentiu um frio na barriga, ao pensar no que ela poderia fazer. E se Dana se recusasse a ouvi-lo e fosse
embora?
Conseguiu alcançá-la antes mesmo que ela saísse da cozinha.
— Dana, eu posso explicar.
— Não quero ouvir mais desculpas, John. Mantendo-se de costas para ele, pegou as roupinhas
do bebê, deixadas na secadora pouco antes.
— Você entendeu tudo errado — insistiu ele, posicionando-se diante dela.
— Com licença, John. Preciso ir ver como está J.J. Ele já deve ter acordado.
John sabia que iria se arriscar, mas precisava tentar.
— Espere! — Segurou-a pela cintura, antes que ela escapasse. — Só um minuto. O que você acha que
viu e o que realmente aconteceu são coisas bem diferentes. Se eu estivesse agredindo Durango por algum
motivo, não iria negá-lo. Precisa acreditar nisso. Dessa vez, é você quem está tirando conclusões
precipitadas, Dana.
Ao perceber que ela não estava mais tentando se afastar dele, John a soltou, dando o espaço que ela
precisava.
Forçando um sorriso, disse:
— Eu só queria me explicar. Durango emperrou a gaveta dos talheres novamente. Você sabe que ele faz
isso de vez em quando.
Dana estreitou os olhos.
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— Quer dizer que não estavam brigando?
— Não.
— Mas eu pensei... Você estava tão furioso...
— Aposto que você não se sentiria diferente se visse uma gaveta cheia de talheres voando pelos ares.
Dana apertou os lábios, embaraçada.
— Nem sei o que dizer.
— Foi um erro de interpretação, só isso.
— Não seja tão generoso. Tirei conclusões precipitadas.
Dana pareceu tão adorável naquele momento que John teve de se conter para não envolvê-la nos braços.
Porém, limitou-se apenas a tocar-lhe os cabelos.
— Ei, fico contente em saber que não continua furiosa comigo. Seria terrível ficar com a impressão de
que a desapontei pela... Quantas vezes mesmo? Pela décima vez?
— Eu deveria ter tido mais calma — Dana se censurou. — Você tem se esforçado muito nas últimas
semanas.
— Acha mesmo? Não tive certeza de que você estivesse percebendo.
— Claro que percebi. Eu estava sendo apenas...
— Cautelosa — John completou por ela. — Eu sei. E entendo sua atitude.
— Mas ela não foi correta — insistiu Dana. — Estou começando a ver que não é justo fazer alguém
pagar pelos erros de outra pessoa. No futuro, farei o possível para não ser preconceituosa. — Desviando o
olhar, acrescentou: — Sei que não é muito, mas...
— Sim, é muito, irlandesa.
— Você acha?
John a fitou por um longo tempo, antes de responder:
— Sim, pode acreditar.
— Preciso mesmo subir — lembrou Dana, sem deixar de notar o modo intenso como John continuou a
olhá-la. — J.J. deve estar...
— Só mais um minuto — disse ele. — Há algo que quero lhe perguntar.
— Sim?
John hesitou por um instante.
— Bem, o Dia de Ação de Graças está próximo e será o primeiro da vida de J.J.
— Também estive pensando nisso. — Com um leve sorriso se insinuando nos lábios, ela acrescentou: —
As primeiras participações "sociais" de J.J. serão importantes para você.
— Sim. Por isso, pensei se você não se importaria em... — Por um momento, John esqueceu o que iria
dizer, hipnotizado pelo brilho sedutor dos olhos castanhos de Dana. — Oh, bem, se não tiver nenhum outro
compromisso...
— Não, não tenho. Para ser sincera, cheguei ao ponto de considerar essa data igual a outra qualquer.
— Pois está na hora de mudar isso — afirmou John.
— Isso significa que está me convidando para comemorar a data aqui?
— Sim, por favor. Não será a mesma coisa sem sua presença.
— Acho que serei útil para cuidar de J.J.
John queria explicar que não era esse o motivo pelo qual ele a convidara para a celebração. Porém, não
encontrou palavras que pudessem convencê-la disso.
— Isso significa um "sim"? — perguntou a ela, quase com receio de que a questão quebrasse a
atmosfera de calmaria entre eles. — Tem de ser um "sim", irlandesa.

Como Dana poderia haver dado outra resposta? Enquanto descia a escada com J.J. no colo, no início da
tarde do Dia de Ação de Graças, sentiu um frio no estômago.
Ao ajudar Durango a arrumar a mesa, pela manhã, a falta de conhecimento que ele demonstrara com re-
lação à disposição dos talheres dera-lhe a forte impressão de que era a primeira vez que John convidava os
empregados para jantar em sua casa.
Ciente disso, escolheu seu vestido com um cuidado especial. Nada muito chamativo nem discreto
demais. Selecionou um modelo azul feito de um tecido sofisticado, mas lavável, para o caso de algum
imprevisto. Um lindo colar de pérolas com pingente de safira e brincos combinando completava o visual.
De fato, serviriam até de distração para J.J., se ele ficasse impaciente.
De qualquer forma, no que dizia respeito à sua autoconfiança, teria de deixar claro que não era "a
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outra". Não que precisasse se defender, mas um telefonema do advogado de John dera detalhes sobre o
paradeiro de Celene, e isso mudara um pouco a situação.
A esposa de John fora localizada em Atlantic City, onde estava tendo aulas de como se tornar líder de
mesa em cassinos. Os papéis do divórcio já estavam em andamento, e se havia um período em que Dana
deveria se manter longe da situação, esse período seria os próximos dias.
Enquanto ela se aproximava do final da escada, John apareceu, vindo da cozinha. Vestido com uma
camisa preta e calça cinza, exalava masculinidade de uma maneira quase perturbadora. Porém, o que fez
sua pulsação realmente acelerar foi a lembrança de que John ainda acreditava em uma possível
reconciliação amorosa entre eles.
— Uau... — murmurou, ao vê-la.
Sem saber ao certo o que responder, Dana sorriu.
— O mesmo para você — falou, por fim.
Sempre sentira-se intimidada com aquele poder que John tinha de embaraçá-la. O que se deveria dizer a
um homem com aquele brilho sedutor no olhar, sem fazê-lo entender sua resposta de uma maneira errada?
— Não sei se será seguro deixar que o restante dos rapazes a vejam — disse John.
— Quer cancelar tudo? Se quiser, posso ficar no andar de cima com J.J. enquanto você os dispensa.
John balançou a cabeça devagar e levou a mão às costas dela, conduzindo-a para a direção oposta da
sala.
— E arrasar o coração de todos? Nem pensar! Eles estão agindo como se estivéssemos no Natal por
aqui. Eu gostaria de dizer o mesmo de Durango, mas ele não dá muita importância a essas datas. Importa-se
apenas com a comida, como em qualquer outra ocasião.
Era agradável ver John relaxado. De fato, ele mudara bastante, desde que ela começara a cuidar do bebê.
Perceber isso, deu-lhe forças para acompanhá-lo com mais confiança até a sala de jantar. No entanto, foram
recebidos com um completo silêncio assim que entraram no aposento.
Havia quatro homens presentes, além de John e de Durango. Ao verem Dana, nenhum deles conseguiu
disfarçar a admiração diante de tanta beleza. Olharam de um para o outro, esperando que algum deles dis-
sesse algo primeiro.
Dana sentiu-se embaraçada. Conseguia discutir com tranqüilidade sobre juros de empréstimos e índices
de impostos, mas sentia-se totalmente perdida quando o foco das atenções era sua feminilidade.
"Meu Deus, estão com tanto medo de mim quanto eu deles", pensou. Não era de se admirar, concluiu,
lançando um olhar curioso para John. Ele estava observando os empregados com um ar sério. Estaria
tentando dizer a eles que deveriam fazê-la sentir-se à vontade? Ou aquele seria mesmo um ar de ciúme?
Chegando à conclusão de que tal resposta não era muito importante, Dana mostrou seu melhor sorriso.
— Fiquem à vontade, por favor — disse a todos, sentando em uma das cadeiras com J.J. no colo.
Quando John se aproximou para ajudá-la, ela aproveitou a oportunidade para sussurrar-lhe:
— Comporte-se.
Dana já conhecia os empregados de vista, mas todos fizeram questão de se apresentar. Zeke, Hap, T.J. e
Fred. Todos usavam jeans e camisas com as mangas dobradas, formando uma espécie de quarteto
inusitado.
No entanto, foi Durango quem animou o ambiente. Assim que ele apareceu carregando uma bandeja
com peru assado como se estivesse prestes a servir à realeza, seguiu-se uma série de aplausos e risos.
Assustado com o barulho repentino, J.J. começou a protestar.
— Ouçam só isso — disse T.J., indicando o bebê com seu dedo calejado. — Ele já tem a braveza do
pai. Mas garanto que olhar para ele é bem mais agradável do que olhar para o pai dele — brincou Zeke,
fazendo caretas brincalhonas para o bebê.
— Comecem logo a comer, senão a comida vai esfriar — avisou Durango.
Ao imaginar o trabalho que ele tivera para preparar tudo aquilo, Dana perguntou:
— Precisa de ajuda, Durango?
— Claro que ele não precisa — respondeu John, antes que o empregado pudesse se manifestar. — Du-
rango está acostumado a cozinhar.
— E verdade — anuiu ele, com um sorriso. — Mas obrigado mesmo assim.
Cerca de uma hora depois, quando todos já estavam encostados em suas cadeiras, satisfeitos, John se
ofereceu para segurar J.J., assim que o bebê acabou de tomar a mamadeira. Só então Dana pôde terminar de
comer o que restava de sua comida, já quase fria.
Seguindo as instruções de Dana, John segurou o bebê de pé, para que ele pudesse eliminar o ar do
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estômago. Enquanto segurava o filho, começou uma acalorada discussão com T.J. sobre a incompetência
de um time de futebol. De repente, porém, o bebê soluçou, como que confirmando algo que o pai dissera.
Porém, o gesto o fez enviar uma boa dose de mamadeira já processada pela gola da camisa de John.
Dana teve de manter o guardanapo junto à boca, para não se juntar às gargalhadas que ecoaram pelo
aposento. O ar de verdadeiro pavor que surgiu no rosto de John ajudou-a a manter-se séria. Estendendo os
braços na direção do bebê, falou:
— Venha cá, rapazinho. Isso é o que se costuma chamar de "hora da saída estratégica".
A saída de Dana foi seguida por risos e frases de encorajamento.
— Leve o chefe também — disse T.J. — Ele está precisando trocar a camisa.
— Até logo, Dana — despediu-se Zeke.
— Obrigado pela companhia — acrescentou Fred.
Era agradável sentir-se parte do grupo, mas o que a deixou mais surpresa foi perceber que John a seguiu
escada acima.
— Quando você e J.J. se livrarem dessas roupas, irei lavá-las para não ficarem manchadas.
— Nada disso — protestou John. — Já fez até mais do que devia. Vou tirar a camisa, mas eu mesmo
cuidarei dela.
Dana pensou que ele iria até o próprio quarto trocar de roupa, mas John a seguiu ao quarto do bebê. En-
quanto ela trocava J.J., ele tirou a camisa e deixou-a de lado.
Dana tentou não prestar atenção, concentrando-se em brincar com o bebê. Entretanto, John insistiu em
segurar o filho no colo, para que ela levasse as roupinhas dele para o banheiro. Ao levantar a vista, Dana
não conseguiu deixar de olhar para aquele peito forte e másculo. Aquilo só serviu para lembrá-la de que ela
nunca o tinha visto daquele jeito antes.
— Algo errado? — perguntou John, fazendo-a se dar conta de que estava olhando para o peito dele
por mais tempo do que deveria.
Umedecendo os lábios, disse:
— Não, nada. Hum... Por que não o traz ao banheiro, para que eu possa banhá-lo?
Ao chegar ao banheiro, encheu a banheira do bebê com água e pegou o sabonete infantil. Manteve a ca-
beça baixa, com receio de se deparar novamente com o físico másculo de John. Teria ele idéia de quanto a
afetava? Sim, claro que tinha.
— Onde ponho isso? — indagou ele, mostrando a camisa.
— Deixe-a na pia. Quando eu levar as roupas do bebê para a lavanderia, cuidarei dela também.
Ao terminar de preparar a água do banho, Dana endireitou o corpo. Porém, não viu que John estava logo
atrás e esbarrou nele.
— Oh, sinto muito — disse.
— Por quê?
A voz aveludada provocou um arrepio em Dana.
— John... — sussurrou ela, sentindo-se vulnerável diante de tanta masculinidade.
— Fique tranqüila, irlandesa. Não estou fazendo nada, apenas olhando para você.
— Esse é o problema.
— Aposto que muitos outros homens já olharam para você.
— Talvez, mas nenhum deles me deixou com essa apreensão que estou sentindo — admitiu ela.
— Por quê?
Dana sabia que iria magoá-lo se respondesse. Por outro lado, não conseguiria deixar de ser sincera com
ele.
— Não tenho uma resposta precisa. Só sei que você é diferente de alguma maneira, J.P.
— Prefiro quando me chama de John. Faz com que eu não me sinta distante de você.
— De minha parte, prefiro quando não temos de falar tão seriamente. — Diante do silêncio de John,
acrescentou: — Por que insiste em perder seu tempo comigo? Já tentei explicar uma porção de vezes que
não pretendo ocupar o lugar que outra mulher almejava ter em sua vida.
— O que está querendo dizer, Dana?
— Você sabe muito bem. Além disso, com J.J. envolvido na história...
— Não gosta de crianças?
— Acha que eu estaria aqui se não gostasse? — Dana respondeu com outra pergunta. — A questão
principal é que não quero me envolver com ninguém.
John mudou a posição do bebê em seu colo e segurou-a pelo pulso. Dana conteve o fôlego.
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— Estamos envolvidos desde o primeiro dia em que nos vimos, irlandesa. Quero me casar com você.

CAPÍTULO VI

Dana não deveria ter ficado chocada, afinal, John nunca fora do tipo que fazia rodeios para dizer o que
lhe vinha à mente, mas ela simplesmente não conseguiu evitar o choque.
Talvez por pensar que o desencorajara demais para algum dia ouvir uma proposta de casamento vinda
dele. Ou talvez por imaginar que o sentimento de culpa sobre J.J. e Celene o levasse a se conter.
No entanto, qualquer que houvesse sido o caso, chegou à conclusão de que errara ao sentir-se tão segura
quanto à atitude de John.
— Sempre fico surpreso ao ver as mudanças da expressão de seu rosto. Elas mostram muitas emoções
— murmurou ele, traçando o contorno do rosto dela com a ponta do dedo indicador. — Diga-me: o que a
verdadeira Dana está pensando?
— Que você a está deixando louca — respondeu ela. — Não pode fazer uma proposta dessas, John.
Não houve nem mesmo reconciliação entre nós.
— Mas estamos sempre juntos nos últimos tempos.
— Sim, mas isso não significa que esteja tudo resolvido.
— Não mesmo, irlandesa?
Dana invejou a calma de John diante de tanta proximidade entre os dois. De qualquer maneira, não po-
dia se deixar levar pelo coração para responder ao questionamento dele.
— Ainda acabará se dando conta de que não vale a pena insistir em ter algo comigo — declarou, esfor-
çando-se para manter a voz firme. — Não passo de uma covarde, John. Aprendi a ter medo até da minha
própria sombra.
— Pare de se recriminar — aconselhou ele, com um tom de voz gentil. — Você é cautelosa, só isso. E
apesar dos erros que já cometi, venho tentando ao máximo respeitar esse lado de sua personalidade. —
Tocando os cabelos dela, acrescentou: — Só que em momentos como esse é difícil manter minhas mãos
longe de você.
Seguiu-se um momento de silêncio. Nem mesmo J. J. se manifestou.
— Ouvir isso é tão ruim assim, Dana?
Ela não conseguiu responder e nem se afastar de John. Embora trêmulas, suas pernas pareciam estar
coladas ao chão.
— Toque-me mais uma vez, irlandesa — pediu ele, como que sentindo o dilema que a afligia.
De súbito, pegou a mão dela e encostou-a junto ao peito nu.
— Quando a vejo passar tanto tempo com meu filho, confesso que chego a sentir inveja dos
momentos que ele passa em seus braços.
Dana conteve o fôlego, sentindo o calor da pele dele em seus dedos.
— O problema é que lido melhor com crianças do que com cowboys — conseguiu dizer a ele.
— Tenho dúvidas quanto a isso.
Dana sentiu que não resistiria muito tempo a todo aquele charme. Passara anos protegendo-se da
influência de John e, nesse momento, quando ele começara a mostrar um lado mais sensível e vulnerável,
ela já não sabia como reagir.
— Pode me tocar, Dana. Garanto que não sou perigoso.
Ela quase se sobressaltou. Além de tudo, será que John também lia pensamentos? Ou seus sentimentos
estariam estampados em seu rosto, mais do que ela imaginava?
— Não será justo com você — disse a ele.
— Injusto seria perceber o brilho de curiosidade em seu olhar e negar-lhe a chance de quebrar
algumas barreiras e de espantar alguns medos — respondeu John. Dando o dedo para J.J. segurar e distrair-
se, sorriu para o filho, antes de voltar a olhá-la. — Principalmente o medo que tem de mim — acrescentou.
Dana não tinha idéia de que isso fosse acontecer, mas, ao olhar para o brilho de sensualidade nos olhos
de John, sentiu anos de repressão se esvaindo de seu ser. Pensando bem, que mal poderia haver em deixar
que seus dedos sentissem mais completamente a textura daquela pele quente?
Devagar, deixou que sua mão deslizasse sobre toda a extensão do peito de John. Seus músculos eram
rígidos, denunciando o poder de toda aquela masculinidade.
Ela não bebera nada alcoólico durante o jantar, então qual seria a explicação para aquela súbita tontura?
Qualquer que fosse o motivo, a sensação também fez com que ela encarasse com mais naturalidade uma
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maior ousadia de sua parte.
Apesar dos saltos, teve de levantar-se mais um pouco para alcançá-lo. Com cuidado para não machucar
J.J., trouxe os lábios de John para junto dos seus.
Os olhos de ambos permaneceram abertos. Os seus, com certeza, refletiam toda sua inexperiência.
Nos de John, porém, ela viu um brilho de encorajamento e de desejo.
Seguindo seu impulso mais íntimo, roçou a língua pelos lábios dele.
Envolta pela magia daquela deliciosa sensação, acabou se rendendo e fechando os olhos. Ao ouvir o
leve gemido trêmulo de John, suspirou de pura satisfação. Levar um homem como John Paladin a
manifestar aquilo a fez sentir-se extremamente feminina e desejável.
De repente, porém, a lembrança da noite em que haviam discutido lhe veio à mente. O modo quase vio-
lento como John a beijara na ocasião a deixara mais assustada do que ela imaginara.
Ao afastar-se dele, lutou para manter o equilíbrio.
— Desculpe-me — murmurou, embaraçada. — Mas não pude deixar de me lembrar.
John emitiu algo entre um gemido frustrado e um resmungo.
— Ok. Tudo bem — disse, beijando-a no alto da cabeça. — Está vendo? Não aconteceu nada terrível.
Dana não acreditou muito nisso. Dana podia até ainda ser virgem, mas seus instintos estavam bem agu-
çados, e ela sabia muito bem reconhecer quando um homem estava afetado fisicamente pelo desejo. No en-
tanto, John havia mudado de alguma maneira.
— Você mudou — disse a ele. — E continua mudando. O John Paladin que conheci estaria dando mur-
ros de frustração na parede mais próxima.
— A idéia não deixa de ser atraente, mas...
— Você não está se rendendo mais aos impulsos — completou Dana.
Ela sentiu vontade de beijá-lo novamente, mas se conteve. Não seria justo os dois se torturarem mais
uma vez. Não tinha o direito de exigir mais sacrifício de John, se ela própria não estivesse disposta a correr
riscos.
— O que está se passando por essa sua cabecinha? — perguntou ele, estreitando os olhos.
— Estou tentando conciliar minhas expectativas com a realidade. Eu não esperava ter um dia tão
maravilhoso hoje.
Os lábios de John se curvaram em um sorriso.
— Quer dizer que mudou sua opinião a meu respeito?
— Acho que provei isso, não? — indagou Dana.
— Mesmo depois do que lhe propus?
Dana sentiu o rosto esquentar. Porém, antes que ela pudesse responder, J.J. soluçou alto.
— Não me dirigi a você, rapazinho — brincou John, com ar de riso.
— Ele parece ser o único por aqui que está ciente de que as coisas estão indo rápido demais. J.J. está
molhado. Por que não o troca, enquanto termino de arrumar aqui?

Rápido demais. Uma semana depois, John continuava a pensar nas palavras de Dana, enquanto
calculava os gastos da fazenda.
Vinha lutando contra o terrível impulso de sentir pena de si mesmo. Tocar e beijar Dana fora incrível.
Os muros emocionais que ela mantinha em torno de si para se proteger pareciam estar menos resistentes do
que nunca.
Talvez ela tivesse razão em agir com cautela em relação a ele. Afinal, legalmente ele continuava sendo
um homem casado. Ambos eram católicos, embora seus laços com a igreja houvessem se tornado mais
fracos com o passar dos anos, devido à aversão de seu pai por todo tipo de ritual.
Mas Dana sabia que Celene queria o divórcio tanto quanto John, e que ela também estava disposta a
ceder a custódia total de J.J. para ele.
Porém, depois do que acontecera no Dia de Ação de Graças, não haviam voltado a trocar nenhuma
carícia. A cada dia que passava, John sentia mais vontade de beijá-la novamente, mas o bom senso lhe dizia
para ir com calma. E se Dana houvesse chegado à conclusão de que tudo aquilo não passara de um erro?
De súbito, o beep de sua calculadora trouxe seus pensamentos de volta à realidade. Perdera-se no
cálculo das contas pela terceira vez.
— Droga! Essa maldita tendência...
Ao lembrar-se de que o filho se encontrava no mesmo aposento, ele se conteve. J.J. estava no carrinho,
fitando-o com olhar de curiosidade.
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— Faça de conta que não ouviu isso, rapazinho — disse John.
— Mas eu ouvi.
Dana entrou no escritório, espalhando pelo ar um delicioso perfume floral. Ela avisara que iria chegar
mais tarde nesse dia, devido a alguns compromissos com clientes.
Por mais que houvesse ficado satisfeito com a chegada dela, o fato de haver errado a contabilidade pela
terceira vez manteve John mal-humorado. Ele detestava fazer contas mais do que trocar fraldas.
Dana se aproximou de J.J., que começou a sacudir os bracinhos e as perninhas ao reconhecê-la.
— Olá, gracinha — disse ela. — Como está meu bebê preferido?
— Agora que está aqui — começou John —, acho que vou abandonar esta causa perdida e me unir aos
rapazes. Quando ajudo no trabalho com o gado, pelo menos me sinto mais útil.
Dana se virou para ele.
— Eu lhe disse que não me importaria em ajudá-lo com a contabilidade, e que isso me ajudaria a preen-
cher o tempo, enquanto cuido de J.J. — lembrou ela. — O que houve?
— Nada. Acho que me atrapalhei por causa do cansaço — mentiu John.
— J.J. não o deixou dormir direito?
— Não foi isso. Eu e ele dormimos bem.
— Então está com indigestão ou algo do gênero?
— Nunca tenho indigestão — respondeu John, parecendo indignado com o comentário.
— Então está bravo comigo.
Não se tratou de uma pergunta. Ainda assim, John sentiu-se na obrigação de desmentir.
— Não diga tolices.
— Você está, sim. Posso sentir isso. Se fiz algo errado, quero saber o que é.
"Sim, você está me deixando maluco!", John sentiu vontade de gritar. "Estou cansado de esperar que
você perceba o que está bem debaixo do seu nariz. E também estou cansado de dormir sozinho naquela
cama enorme."
Mas claro que não poderia dizer nada disso. Aquela era Dana, e não alguma outra mulher. As regras
normais de relacionamento não se aplicavam àquele coração sensível.
— O problema não é com você, Dana. Eu estava fazendo a contabilidade, e sabe quanto detesto isso.
Fez menção de sair, mas quando passou por ela, Dana o segurou pelo braço.
— Espere.
"Será que nunca teria um descanso?", John se perguntou.
— Preciso mesmo sair.
— O que tenho a dizer levará apenas um minuto. É sobre as necessidades espirituais de J.J.
— John franziu o cenho, sem entender onde ela estava querendo chegar.
— Já pensou em batizá-lo? — perguntou Dana. — Sei que não sou a pessoa mais devota da cidade, mas
acho que está na hora de pensarmos nisso. Seu filho merece, John.
— Para ser sincero, isso nem havia passado pela minha cabeça.
— Você foi batizado?
— Sim. Não lembro direito como são os detalhes da cerimônia. É preciso escolher padrinhos, não?
Então serei eu e...
— Não pode participar desse jeito, John. Você é o pai.
— Oh! Para que serviam os pais afinal?, ele se perguntou. — Será que poderíamos conversar sobre isso
depois? Preciso sair, antes que fique tarde.
— Sim, claro.
Dana ficou de lado, abrindo espaço para ele passar.
— Esqueça o que eu disse, e cuide de suas prioridades.
John não deixou de perceber o sarcasmo na voz dela.
— Ei, mas eu...

— Pelo amor de Deus, John. Como pode considerar o batismo de seu filho como algo menos importante
do que seu trabalho na fazenda?
— Mas não foi o que eu disse!
— Não mesmo? Então por que está com tanta pressa para deixar o assunto de lado?
John suspirou. Como poderia explicar que se ficasse ali por mais um minuto, poderia acabar arruinando
tudo de positivo que conseguira conquistar com relação a ela?
31
Colocando o chapéu, limitou-se a dizer:
— Tenho de ir.

Dana levou algum tempo para se concentrar no próprio trabalho e deixar de pensar no modo como John
havia agido. Porém, seu nível de concentração não foi total.
Após o almoço, levou J.J. para um passeio pelos arredores, torcendo para Durango não aparecer para
conversar com ela. Chegou a sentir-se culpada quando o avistou de longe e apenas acenou, tratando logo de
desviar o caminho.
Sua mente insistia em manter-se ocupada com a imagem de John. Não conseguia entendê-lo. Quisera
apenas ajudar com a sugestão do batismo, já que ambos eram católicos. Os homens não costumavam se
importar com detalhes desse tipo, e John parecia ser ainda mais negligente do que a maioria, devido à sua
formação.
Porém, de uma coisa tinha certeza: não iria se desculpar por haver sugerido o batismo. Talvez até procu-
rasse o padre por conta própria quando fosse à cidade.
Por fim, a caminhada ajudou-a a se acalmar. Ao voltarem para casa, preparou a mamadeira de J.J. e não
demorou muito para ele acabar adormecendo enquanto mamava. Dana o levou para o quarto de John, para
que ele pudesse dormir com mais tranqüilidade. Porém, ela própria acabou cochilando, devido ao cansaço
pelo exercício da caminhada.
E foi lá que John a encontrou, horas depois. Dana abriu os olhos ao sentir alguém se aproximar da cama.
— O que aconteceu? — perguntou, com um sobressalto.
— Nada — respondeu John. — Você está bem?
— Sim. Por que você...?
Só então ela percebeu que o quarto se encontrava parcialmente escuro. Ao abaixar a vista, viu J.J. ainda
adormecido junto dela.
— Meu Deus, que horas são?
— Quase seis. Quando vi que a casa estava escura, apesar de seu carro estar lá fora, deduzi que
estivessem em casa. Mas não imaginei que encontraria uma cena tão terna no meu quarto.
— Acho que nós dois ficamos mais cansados com a caminhada depois do almoço do que imaginei.
— Então está tudo bem? — insistiu John.
— Sim, está. — Olhando-o com mais atenção, acrescentou: — Você também parece cansado. Conseguiu
pôr seu importante trabalho em ordem?
John afastou o chapéu para trás, percebendo a ironia.
— Pensei que já houvesse esquecido o que aconteceu.
— Já superei a parte dolorosa. Ainda assim, é difícil esquecer certas coisas, como o descaso pela
espiritualização de um filho, por exemplo.
John respirou fundo. Segurando a mão dela entre as dele, falou:
— Minha atitude foi de pura autodefesa, Dana. Mas esqueça o que aconteceu.
— Eu me sentiria melhor se me explicasse por que agiu daquela maneira intempestiva.
John a olhou com um ar impaciente, mas pareceu lembrar-se da presença do bebê e manteve o tom de
voz baixo ao dizer:
— Você me deixou preocupado.
— Preocupado? — Ela franziu o cenho. — Mas eu avisei que chegaria mais tarde hoje.
— As pessoas dizem muitas coisas que não cumprem, Dana.
— Não no meu caso.
— Ok, mas isso não muda nada — insistiu John. — Foi como me senti e pronto.
— Está adquirindo aquele ar autoritário novamente.
— Não use isso como desculpa, querida. E não adianta me acusar por dizer algo que a faz sentir-se
feminina.
— Não me chame de querida. — Apesar do protesto, Dana reconheceu que John estava certo. Ela se
acostumara a se proteger escondendo-se por trás da idéia de que John era autoritário e de que gostava de
realizar tudo ao modo dele. Quando J.J. se mexeu, Dana olhou para ele. — Não deveríamos estar
discutindo assim — disse. — Afinal, estamos do mesmo lado, não? O dele.
John olhou para o filho.
— Ainda fico surpreso ao olhar para J.J. e saber que ele é uma parte de mim.
— Mas sente-se orgulhoso disso.
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— Muito — admitiu John, voltando a fitá-la. — Eu queria lhe dizer que pensei sobre o que você disse
hoje e cheguei à conclusão de que está certa. Durante o trajeto de volta, pensei em quanto você ficaria satis-
feita. Com sorte, eu poderia até ser presenteado com um daqueles lindos sorrisos.
— Está se referindo ao batizado? Oh, John, que bom que aceitou a idéia!
— Ainda bem que gostou. Mas sei bem onde estarei me metendo. Tenho certeza de que o fato de eu
estar em meio a um divórcio e de eu não ser um freqüentador assíduo da igreja criará complicações.
— Verei o que posso fazer quanto a isso — prometeu Dana. — O importante é que você tenha
concordado em realizar o batismo. Bem, já decidiu quem serão os padrinhos?
— Bem, isso me causará mais algumas horas de problema.
Dana não conseguiu deixar de sentir-se decepcionada. Pensara que tal escolha seria bem mais fácil para
John.
— O padrinho com certeza será Bud Hackman — declarou ele. — Será a melhor pessoa para cuidar de
J.J. se algo me acontecer.
— Nada vai lhe acontecer — protestou Dana. — Então, Kay será a madrinha?
— Não — respondeu ele, sem hesitar. — Espero que ela não fique desapontada, mas não há dúvida
sobre quem terá de ser a madrinha.
— "Terá de ser"? — Ela franziu o cenho.

— Sim. Ou pretende recusar?


Dana mal conseguiu conter a alegria.
— Oh, John! Você tem certeza?
— Absoluta.
— Não está sugerindo isso por um senso de obrigação?
— Claro que não! — John se indignou. — Querer que você seja madrinha do meu filho não tem nada a
ver com obrigação.
Sem conseguir conter a felicidade, Dana o beijou no rosto.
— Obrigada, John.
Quando ele a fitou nos olhos e aproximou-se devagar, Dana não fez menção de se afastar. Nem mesmo
quando os lábios dele cobriram os seus, em um beijo lento, mas muito sensual.
Dana esqueceu-se de onde estava, tendo a impressão de haver sido arremessada às estrelas de repente.
Suspirou alto, sem embaraço de demonstrar quanto aquilo estava sendo maravilhoso para ela.
Ao sentir os braços de John em torno de si, rendeu-se ainda mais, entreabrindo os lábios. Percebeu uma
breve hesitação em John, mas logo ele conduziu o beijo a um nível mais intenso.
— Tem certeza, irlandesa? — sussurrou ele, afastando-se ligeiramente.
Era uma pergunta justa, mas Dana não tinha uma resposta. Inebriada pelas sensações, queria apenas se
deixar levar por elas.
Como resposta, enlaçou os braços em torno do pescoço de John, em um convite silencioso. O chapéu
dele caiu para trás, mas nenhum deles se importou. O ritmo dos beijos foi se tornando cada vez mais
intenso, envolvendo-os em um delicioso calor sensual.
— Estou aqui, Dana. E ficarei com você para sempre — sussurrou John.
Ouvir aquilo pareceu deixá-la em alerta por alguns segundos.
— Não tenha medo, meu anjo. Quero tê-la junto de mim, só isso. Nada sairá do nosso controle.
Enquanto falava, John acariciou o ombro dela e foi descendo a mão devagar, até alcançar-lhe o seio.
Apesar da nova onda de desejo que a invadiu, Dana se sobressaltou.
— Eu te quero muito, Dana — murmurou John, surpreso com a reação dela.
— Então era isso o que queria? Pensou que me convidando para ser madrinha do seu filho conseguiria
qualquer coisa a mais com facilidade? Pois fique sabendo que não sou fácil como aquela com quem você se
casou!
John respirou fundo, sentindo como se houvesse recebido um balde de água fria no corpo. Indignado,
acendeu a luz do abajur. A claridade fez J.J. despertar e não demorou muito para começarem a ouvir seu
choro de protesto.
John o pegou no colo, mas não deixou de olhar Dana.
— Por que ainda me surpreendo quando você diz algo com a intenção de me arrasar? Para alguém com
um rosto de anjo, você tem a língua de uma feiticeira, Dana.
— Isso não é justo!
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— Justo?! Casar-me com alguém que eu não queria também não foi justo, mas Celene tinha ao menos
uma qualidade que não posso deixar de mencionar: ela nunca teve medo de amar!
Foi a vez de Dana sentir o tal balde de água fria. Aquilo só serviu para provar que apesar do que já
haviam passado juntos, ele ainda não a conhecia.
J.J. aumentou ainda mais o volume do choro, levando-a a estender os braços para pegá-lo em seu colo.
— A fralda deve estar molhada. Vou trocá-lo, antes de descermos — disse a John.
— Pode deixar. Ele é meu filho e eu mesmo posso fazer isso.

CAPITULO VII

— Entendo. Sendo assim, não há mais motivo para eu permanecer aqui, as últimas palavras de Dana,
antes de sair do quarto, continuavam ecoando na mente de John.
— Droga! — praguejou ele, ao notar que passara direto pela porta da delegacia.
Não vinha prestando muita atenção em seus atos, nos últimos dois dias, desde que Dana havia ido
embora. Mas passar direto por um local que ele conhecia como a palma da mão fora simplesmente ridículo.
— Segure-se aí, garotão — disse ao filho, deitado no suporte acolchoado, no banco de trás.
Virou na esquina da biblioteca pública logo adiante, cujo estacionamento ficava ao lado da delegacia.
Com certeza não se importariam que ele deixasse o carro ali por alguns minutos, pensou.
Depois de desligar o veículo e de tirar J. J. do suporte, tomou o cuidado de cobrir parcialmente o rosto
do bebê, para que ele não pegasse friagem no caminho.
Um policial chamado Grady, com mais ou menos a sua idade, estava saindo da delegacia quando John
chegou. O rapaz sorriu, segurando a porta para ele passar. John assentiu, retribuindo o sorriso, apesar de seu
humor não estar dos melhores nessa manhã. Tinha muito trabalho à sua espera na fazenda. Além disso, não
estaria ali se não fosse pelo que Dana havia começado.
— Vejam só quem está aqui! — disse o policial da recepção, com o mesmo ar de zombaria com que
tratava John sempre que o via. — Olá, papai!
Ignorando as piadas dos conhecidos, John se encaminhou diretamente até Bud, que se encontrava de pé
à porta do escritório, tomando uma xícara de café.
— Podemos conversar por um minuto? — perguntou ao xerife. — Em particular.
— Parece que alguém levantou-se pelo lado errado da cama hoje — resmungou o policial da recepção,
com uma careta de desagrado.
— Ok, Cooney, chega de piadinhas — censurou Bud, ficando de lado para John entrar no escritório. —
Para ser sincero, você não parece estar muito bem, meu amigo — disse ele, ao fechar a porta.
— Não durmo direito há dois dias — explicou John. Ao sentar-se diante da mesa de Bud, acomodou J.J.
em seu colo. — Ele está inquieto — acrescentou, afastando a fralda do rosto do bebê.
J.J. fez uma careta e olhou para o pai, como que protestando por não haver tido chance de observar o
trajeto até ali.
— Ei, garotão! — brincou Bud, inclinando-se para olhá-lo e tocá-lo no queixo.
— E melhor não fazer isso — avisou John. — Ele não costuma se dar muito bem com estranhos.
Porém, as brincadeiras de Bud e suas imitações de animais provocaram muitos risos no bebê. John disse
a si mesmo que não deveria estar surpreso. Afinal, as últimas quarenta e oito horas não estavam sendo
muito comuns em sua vida. Por que esperar que seu filho fosse reagir de forma diferente? Do jeito que as
coisas estavam, só faltava o governador fazer uma declaração pública de que John Paladin fora eleito o
idiota do ano!
— Ei, você já está bem crescido, não? — perguntou Bud ao bebê, mantendo o tom de brincadeira. —
Daqui há pouco tempo estará montando algum potro na fazenda de seu pai. — Ao endireitar o corpo, olhou
para o rosto preocupado de John. — E então? Qual o motivo por trás de sua visita, meu amigo?
— Mulheres.
Bud puxou um pouco o tecido da calça e sentou-se atrás da mesa.
— O que fez a Dana dessa vez?
John arregalou os olhos.
— O que é isso, afinal? — questionou, indignado. — Alguma conspiração contra mim? Primeiro
Durango, agora você. Por que não passou pela cabeça de vocês que dessa vez a culpa pode ser dela?
— Porque, apesar da confusão em que se meteu com Celene, você é um homem fiel. Seu erro foi se
interessar pela única mulher que não caiu a seus pés assim que você demonstrou algum interesse. Porém,
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isso nunca o desanimou. Bastou olhar para Dana e decidir "aquela garota será minha", para pensar que tudo
já estava resolvido. Só que as coisas com ela não são tão simples assim, meu caro. Mantenha as rédeas
curtas, J.P.! Precisa mostrar quem é que manda.
Ao ouvir aquilo, John ajeitou o chapéu com mais firmeza e levantou-se, balançando o filho devagar.
— Eu deveria saber que seria pura perda de tempo vir até aqui.
Bud respirou fundo.
— Ok, ok. Sente-se. Reconheço que fui insensível.
John obedeceu, ainda que a contragosto.
— Acha que desabafei com você sobre meu relacionamento com Dana para depois ouvir você me acu-
sar? Se eu pudesse, faria o tempo voltar àquele dia e consertaria aquela besteira. Só que isso não é possível.
Ela estava determinada a sair com o tal Guy Monroe, independentemente da minha opinião. Sei bem o tipo
de raposa que ele é, mas não fui ouvido quando tentei alertá-la.
— Não deveria tê-la beijado enquanto estava furioso, J.P.
— Como você se sentiu na primeira vez em que tocou Kay? O que sente quando a abraça?
— Oh, nem me lembre disso — protestou Bud. — Encontrarei a casa sozinha hoje. Ela foi levar as
crianças para passar o fim de semana na casa da mãe dela.
— E a esse tipo de sentimento que me refiro. Não consegui me manter longe de Dana. Quando a beijei,
simplesmente perdi o controle. — Fechou os olhos por um instante, sentindo-se culpado..— Não é possível
escolher por quem nos sentimos atraídos, Bud. Tentei me livrar do que sinto por Dana, mas não consegui.
Ela está impregnada em mim, entende? Sinto o perfume dela em todos os lugares onde vou. Continuo
insistindo, por achar que algum dia ela acabará me dando outra chance.
— O amor às vezes é cruel — filosofou Bud.
John nunca utilizara a palavra "amor" para descrever seus sentimentos por Dana, e não o faria até que
pudesse confessar a ela o que realmente sentia.
— Vamos mudar de assunto — sugeriu ao xerife. — O motivo que me trouxe até aqui é J.J. Ele
precisa de um padrinho de batismo, e eu gostaria que fosse você.
Bud sorriu.
— Você realmente tem um jeito inusitado de prolongar uma visita.
— Bem, foi Dana quem lembrou que precisávamos batizar J.J. — explicou John. — Será bom fazermos
isso, no caso de me acontecer algo.
Bud o olhou em silêncio por um momento. Cruzando os braços sobre o peito, falou:
— Será uma honra ser padrinho de seu filho, J.P. Quando e onde precisará da minha presença?
John respirou aliviado.
— Terei de lhe responder isso depois.
— Ainda não marcou a data?
— Nem a data, nem a igreja, nem o padre. Aquilo tudo era uma de suas últimas preocupações.
Quando J.J. se tornou inquieto, John começou a balançar a perna, tentando distraí-lo.
— Não comece, J.J. — ralhou ele. — Dê um tempo a seu pai, sim? O horário de sua mamadeira é só
daqui a duas horas. — Olhando para Bud, completou:
— Não me lembro de haver comido tanto quando tinha a idade dele. Onde será que ele armazena tanta
comida?
— Na fralda.
O riso de Bud foi contagiante, mas, mesmo assim, John limitou-se a curvar os lábios, antes de ficar de
pé novamente.
— Estou me sentindo um idiota — desabafou.
— Bem, todos agimos como idiotas de vez em quando — disse Bud, tentando consolá-lo. — Se Kay o
visse agora, iria querer preparar algum prato especial para você. Ela é do tipo de mulher conservadora, que
acha que tudo se resolve pelo estômago.
Até que não seria má idéia tentar essa solução, pensou John. As únicas coisas que haviam entrado em
seu estômago naqueles dois dias havia sido café e biscoitos.
— Fale comigo, John. Que outro problema o está perturbando? Há algo mais sobre Dana, não é?
Seguiu-se um momento de silêncio.
— Sim, há — admitiu John, com um suspiro. — Bem, ela me deixou e estou atrapalhado com essa
história de batismo. Não tenho idéia de como organizar o evento. Você sabe que a última vez em que estive
em uma igreja foi para comparecer ao enterro da mãe de Dana.
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Mesmo assim, ele nem conseguira ficar até o final. Não suportara ver Dana chorando. Ela parecia tão
sozinha, apesar de todas as pessoas em volta dela, que ele tivera de se conter para não tomá-la nos braços e
levá-la para longe de lá, a fim de consolá-la. De qualquer forma, Dana teria detestado se ele houvesse feito
isso.
— O que quer dizer com "ela o deixou"? — indagou o xerife, interrompendo os pensamentos de John.
— Quem o está ajudando a cuidar de J.J.?
— Ninguém.
Bud assobiou baixinho.
— Não é de admirar que esteja com esse ar de cansaço. Mas não é do feitio de Dana começar algo e não
terminar. Ainda mais no que diz respeito ao bebê. Kay me contou que os viu no mercado outro dia e
realmente pareciam mãe e filho. Dana adora seu filho.
— Acho que sim — anuiu John. — O pai dele é que representa o maior problema para ela.
Bud riu.
— Não exagere. Esse é o seu ponto de vista sobre a situação, e não significa que seja o correto.
— Nada está acontecendo da maneira como imaginei. Eu sabia que demoraria algum tempo até eu con-
seguir consertar a besteira que cometi, mas eu estava tentando mudar. Cheguei a pensar que havíamos feito
um bom progresso desde o Dia de Ação de Graças.
— Só que Dana não acha o mesmo? — deduziu Bud.
— Desisti de tentar deduzir o que se passa pela cabeça dela.
— As mulheres são mesmo misteriosas, John. E isso que as torna especiais. Vamos, conte-me o que
aconteceu.
Seria difícil, concluiu John. Ele nunca fora. muito bom em desabafar mesmo com o melhor amigo.
— Eu a beijei — disse simplesmente.
— Isso eu já havia imaginado — afirmou Bud.
— Na verdade, eu a beijei mais de uma vez. E... Bem, ela praticamente me jogou um balde de água fria.
— Tentou conversar com ela sobre isso? — indagou o xerife.
John deu de ombros.
— Não disse a ela para compartilhar com você o que estava sentindo? — insistiu Bud, incrédulo. —
Vocês nunca conversam?
— Claro que conversamos.
— Pelo visto, não sobre os assuntos que deveriam.
Para John, não havia nada pior do que alguém apontar um problema que ele vinha tentando esconder ha-
via anos.
— Nós conversamos — repetiu, como que tentando se convencer de que aquilo era verdade. — Mas...
— Nunca sobre sexo — completou Bud.
John preferiria levar um soco no queixo a ter de passar por isso. Ajeitando o bebê no colo, respondeu:
— Ok, "sr. Sabe Tudo". O que devo fazer?
— Quem escolheu para ser a madrinha de J.J.?
John suspirou.
— Você sabe a resposta.
— Então faça o possível para que ela volte a falar com você. E quando conseguir isso, dessa vez lembre-
se de que mesmo os assuntos embaraçosos devem ser abordados entre um homem e uma mulher que real-
mente se importam um com o outro.

John voltou para a fazenda pensando no conselho de Bud. O sermão não fora uma experiência das mais
agradáveis, mas teve de reconhecer que o amigo o ajudara muito. Mais uma vez.
Talvez Bud acreditasse que muitos de seus problemas com Dana se deviam às cicatrizes emocionais que
ela carregava, mas estava na hora de admitir que seu próprio trabalho para ajudá-la poderia ter sido melhor.
Tornar-se apenas visível na vida dela não fora a solução correta. Era provável que Dana houvesse in-
terpretado sua persistência como algo sufocante e intimidador.
Entretanto, a questão que permanecia em sua mente era se haveria espaço para uma terceira chance no
coração de Dana. Determinado a descobrir a resposta, entrou com o carro na trilha que conduzia à casa
dela.
Dana atendeu à porta quase imediatamente, para espanto de John. Ao vê-lo, porém, sua expressão
tornou-se fria.
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— Surpresa — disse ele.
Esperou que ela fosse responder algo, mas Dana continuou apenas a olhá-lo.
— Podemos conversar?
John pensou que ela fecharia a porta diante dele, mas, para sua surpresa, Dana ficou de lado para ele
entrar.

O conjunto de calça e blusa de malha brancos que ela estava usando a deixavam com um aspecto femi-
nino e vulnerável ao mesmo tempo, fazendo-a ficar com uma aparência de adolescente.
Sem se importar com o embaraço da situação, J.J. começou a soltar gritinhos e a estender os braços na
direção dela, assim que a reconheceu.
— Deixe-me segurá-lo — pediu Dana, após fechar a porta. — Ele adoeceu?
— Não. Bem, não sei se consegui preparar a mamadeira direito ontem, mas ele pareceu gostar do
conteúdo. Só que hoje ele acordou impaciente e está assim desde então.
— Aposto que não sem motivo. O que quis dizer com "não sei se consegui preparar a mamadeira
direito"?
— Dana...
— Você esterilizou o recipiente, como lhe ensinei?
— Sim.
— Então ele deve estar bem.
Teria sido mais fácil abordar uma leoa cuidando dos filhotes, pensou John.
— J.J. está muito bem. Olhe só para ele.
Dana fez o que ele sugerira e não conseguiu deixar de sorrir, ao ver aquele rostinho adorável sorrindo
para ela. Ao notar que John os observava, voltou a ficar séria e olhou para ele.
— Talvez ele esteja apenas sentindo-se rejeitado — sugeriu.
— Oh, muito — ironizou John. — Manter-me acordado com ele no colo durante as duas últimas noites
não representou nada como companhia.
— Desculpe-me — disse Dana, reconhecendo que fora dura no comentário. — Você deve estar exausto.
John percebeu as olheiras sob os olhos dela. Pelo visto, Dana também não andara dormindo direito.
— Se já terminou sua tentativa de me fazer sentir como um inseto repulsivo, posso falar agora? — per-
guntou ele, enfiando as mãos nos bolsos do casaco.
— Pare de exagerar — ralhou Dana, evitando encará-lo. — Pode falar, mas já vou avisando que sua
tática não vai funcionar. Não vou voltar para Long J. Na verdade, eu deveria ter deixado que você
contratasse uma daquelas babás.
— Só que não o fez. Sabotou as entrevistas, e ambos sabemos muito bem o motivo. Você adora J.J. E
quer saber mais?
— Não.
— Também é louca por mim!
Dana arregalou os olhos. John nunca a vira tão chocada.
— Chega, J.P. — falou ela. — Tentamos uma vez e não deu certo.
— Tivemos uma "briguinha", mas isso não representa o fim do mundo.
— "Briguinha"? Nós não temos feito outra coisa a não ser tentar nos magoar!
— Então vamos falar sobre o motivo que nos leva a fazer isso, Dana.
— Não, não vamos.
— Acho que se afastou de mim duas noites atrás por causa de alguma lembrança desagradável.
— Prefiro esquecer o que aconteceu, se não se importa.
— Mas eu não quero esquecer — insistiu John. — Não posso. Quando nos tocamos, acontece algo
especial, irlandesa. Sei disso e acredito no que estou dizendo. Mas... peço desculpa por minha precipitação.
Acho que a única maneira de me redimir é fazendo-lhe uma promessa.
— Outra? — perguntou Dana, incrédula.
— Nunca é fácil convencê-la, não é? — protestou John. — Sim, vou lhe fazer outra promessa. A última.
De agora em diante, manterei as mãos longe de você, a menos que diga o contrário. Sairei da sua vida de
uma vez por todas.
Dana arqueou as sobrancelhas.
— Posso ter essa declaração por escrito?
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— Só se concordar com dois detalhes. O primeiro é ser madrinha de J.J. Faça isso e prometo assinar o
documento com meu sangue, se for preciso.
Dana revirou os olhos.
— Quanto exagero. Mas, pensando bem, não deixa de ser uma idéia interessante. Posso escolher a
veia?
John não conseguiu se manter sério.
— Não me importo em correr riscos, mas não sou louco a esse ponto, minha cara. Até aqui tudo bem?
— Depende. Qual é a outra exigência?
— Que fale comigo.
— Não é isso que estou fazendo agora?
— Não. Estou me referindo a conversar.
— Sobre o quê? — indagou ela, com ar de suspeita.
— Sobre tudo.
Dana ajeitou o babador de J.J., antes de dizer:
— Sei que fiz alguns comentários sobre você não me compreender, mas isso não significa que terá de
sofrer essa violenta metamorfose para conseguir que eu o ajude. Eu... reconheço que não fui justa ao deixá-
lo cuidar sozinho de J.J. Ofereço-me para ficar com ele até que você possa entrar em contato com uma da-
quelas candidatas. Talvez alguma delas ainda não tenha arranjado um emprego.
John empurrou o chapéu para trás.
— Não quero nenhuma delas para cuidar de J.J. Quero você. E não estou dizendo isso com a intenção de
me aproveitar da situação depois. Eu a conheço melhor do que imagina, irlandesa. Sei que tem amizade
com algumas pessoas dessa cidade, mas ninguém é realmente de confiança para você. Seu pai fez questão
de mantê-la longe de todos, exceto dele e de sua mãe.
— Ela precisava de mim — explicou ela, num fio de voz. — E eu não me importava com isso.
— Meu pai também precisava de mim, mas nunca abriu mão de deixar algumas horas por semana para
que eu pudesse me divertir, jogar futebol e sair em companhia de Bud de vez em quando. Long J repre-
sentava tudo para ele, mas o velho Paladin tinha noção de que um garoto deveria aproveitar bem a infância.
Você também acredita nisso. Caso contrário, não teria usado aquele argumento de que uma das babás não
se acostumaria ao ritmo de J.J., quando ele começasse a descobrir o mundo. O que aconteceu à criança que
existiu em você, Dana? O que aconteceu aos medos e aos sonhos que ela nunca pôde expressar?
— Não acho que...
— Vou lhe dizer o que acho — continuou John, com receio de que ela não o deixasse terminar. — Acho
que essa criança ainda está escondida em você, só que atrás de um muro tão espesso que nem você
consegue ouvi-la chorar.
— Pare! — pediu Dana, sentindo os olhos se encherem de lágrimas. — Será que não entende que não
quero ouvir?Por que não, querida? Seu pai já morreu. Ele não pode mais magoá-la. Sua mãe também
morreu e não precisa mais de você. Está livre, Dana. Por que não se entrega à liberdade de se conhecer? —
John respirou fundo. — Quero entender o que a afeta, para estar do seu lado quando precisar de apoio. Mas,
para tanto, terá de aprender a lidar com as lembranças desagradáveis, para que elas não se transformem em
entraves na sua vida.
Dana continuou ouvindo, sem interrompê-lo.
— Acho que piorei seus traumas mais do que ajudei-a a superá-los, e não posso garantir que agirei
sempre corretamente com relação a isso. Mas se me der uma terceira chance, prometo que me esforçarei ao
máximo. Mais uma vez.
Dana pestanejou, parecendo impaciente.
— Já tentamos isso antes e não deu certo — lembrou.
— Não dessa maneira, Dana — salientou John. — Das outras vezes, entrei em sua vida e disse:
"Estou aqui, vou ficar e você é minha". O que estou propondo agora é diferente. Droga, o que eu estava
fazendo era praticamente uma repetição, do comportamento de seu pai! O que estou querendo agora é
que dê uma chance a você mesma, e não a mim. — Com um sorriso, acrescentou: — O que acha de nos
descobrirmos juntos?
Uma lágrima rolou pelo rosto de Dana. Um gemido quase de dor escapou de seus lábios. Em silêncio,
levantou a cabeça e olhou para o teto, tentando se controlar.
— Desde quando se tornou tão poético, John Paladin? — perguntou, quando voltou a olhá-lo.
Poético? Ele? Aquilo soou como uma grande novidade aos ouvidos de John. Só tinha noção de que suas
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pernas estavam um pouco trêmulas, nada mais. Se Dana o rejeitasse, não sabia o que faria de sua vida dali
em diante. Só tinha certeza de que não conseguiria esperar uma resposta por muito tempo.
— Isso é um "sim" ou um "não"? — perguntou.

CAPÍTULO VIII

— Não, John. Aquilo não é um amontoado de neve na estrada. O termômetro está marcando uma
temperatura bem baixa, mais ainda não chegou ao ponto de congelamento, e provavelmente não baixará
mais do que isso esta noite. Agora quer relaxar, por favor? — disse Bud, com calma, sem tirar os olhos da
estrada.
— Eu estava apenas curioso. Você sabe o que costumam dizer: "Dois pares de olhos enxergam melhor
do que um". Veja só o modo como aquele BMW passou por nós! Se o sujeito chegasse mais perto
acabaríamos batendo.
Sentadas no banco de trás do carro, Dana e Kay trocaram um olhar de cumplicidade.
— Acredita nisso? — sussurrou Dana, contendo o riso.
— Casamentos, nascimentos e batismos deixam os homens muito estressados — explicou Kay, com um
sorriso paciente.
Um ano mais nova do que Bud, a simpática ruiva conhecia John tanto quanto o marido, já que eram
amigos desde muitos anos.
— Tente relaxar, John. Bud mandou colocar os pneus especiais para o inverno assim que soube sobre
a possível mudança na temperatura. Nós vamos chegar a tempo. Não se esqueça de que não poderão
começar a cerimônia sem nossa presença.
Dana olhou mais uma vez para fora da janela do carro. A garoa fina havia começado antes da saída de
Dusty Flats. E ali, na metade do caminho para Abilene, já era possível perceber sinais de que logo iria
começar a nevar. John estava certo em se preocupar com o perigo na estrada, já que o asfalto costumava
ficar escorregadio naquelas condições. Só que ele se esquecera de que o tráfego os obrigaria a seguir
devagar, diminuindo o risco.
Além disso, Kay também tinha razão. O padre Patrick, com quem haviam combinado tudo dez dias an-
tes, esperaria por eles. Bud era um motorista responsável e estava muito mais calmo do que John. Não
poderiam estar em mãos mais competentes.
— Veja só o que seu filho está fazendo — disse a John, tentando distraí-lo e dar um pouco de sossego
a Bud.
J.J. parecia determinado a puxar todas fitas que prendiam seu chapéu. Uma ponta que passava além de
seu queixo já estava úmida de tanto ser levada à boca.
A expressão preocupada de John se suavizou assim que ele olhou para J.J.
— Ei, garotão, não faça isso com o presente de sua madrinha, mesmo que não considere laços algo
muito masculino. Prometo lhe comprar um chapéu de verdade assim que sua cabeça crescer o suficiente
para usar um.
— Isso não vai demorar muito, levando-se em conta que ele é um Paladin — observou Bud.
Todos riram. Mas Dana voltou a ficar séria assim que seu olhar encontrou o de John. Por um momento,
foi como se só existissem os dois dentro do carro. O acontecimento estava sendo muito importante para ele,
concluiu Dana, sentindo um aperto no peito.
Ela começara a perceber aquilo dias antes, desde que voltara a cuidar de J.J. Nos últimos dias, John
vinha se esforçando ao máximo para ser um pai exemplar, mesmo com uma porção de outras tarefas para
cumprir na fazenda.
Celene provou ser o maior dos problemas. Ela telefonara no começo da semana para reclamar da
demora para a obtenção do divórcio. Aconselhado pelo advogado, John deixara praticamente tudo de lado e
fora com o advogado até Atlantic City para apanhar Celene. Em seguida, o trio fora até o México para
conseguirem uma dissolução mais rápida do casamento.
Depois viera a dificuldade em encontrar uma igreja que aceitasse realizar o batismo apesar de situação
heterodoxa entre John e Celene. Fora frustrante ver a decepção de John ao conversar com o padre
ultraconservador de Dusty Flats e receber uma resposta negativa. A certa altura, ele começara a perder a
esperança. Fora então que Dana encontrara o jovem padre Patrick, em Abilene. O religioso tinha idéias
mais modernas e aceitáveis dentro da igreja. Mostrara-se não apenas simpático, mas compreensivo,
oferecendo ajuda no que fosse preciso quanto ao batismo, e também no doloroso processo de divórcio.
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Ainda assim, toda aquela "maratona" ficou evidente no rosto cansado de John. Por mais que ele
estivesse lindo com o terno de lã cinza, Dana sabia quanto John estava exausto e preocupado com a
quantidade de trabalho acumulado na fazenda. Como se não bastasse, o inverno estava chegando mais cedo
do que o normal, o que dificultaria ainda mais a situação.
Todavia, sua única preocupação no momento parecia ser o batismo do filho. Isso demonstrava quanto
ele estava empenhado em cumprir a promessa que fizera a ela. Ao se dar conta disso, Dana não pôde deixar
de sentir-se orgulhosa dele. E também ficou grata pela paciência que ele vinha tendo com ela.
— Ainda me lembro do batismo de nosso primeiro filho — disse Kay, interrompendo os pensamentos
de Dana. Trocando um olhar com o marido, através do retrovisor, ela acrescentou: — A maior parte da
equipe de Bud estava de cama, com gripe, e ele quase teve uma crise de estafa ao tentar manter a delegacia
funcionando e providenciar os detalhes do batismo ao mesmo tempo. Você se lembra, querido?
— Será que é o momento certo para contar a ela que estávamos em meio a uma maratona de pôquer? —
provocou John, olhando para Bud.
— Teria sido melhor se estivéssemos — resmungou o xerife. — Sabe que sempre tive sorte com cartas,
e um dinheiro extra até teria nos ajudado com as despesas da casa nova, da família se formando e tudo
mais. Em vez disso, porém, eu só me preocupava em chegar logo em casa, para ver minha esposa e meu
filho. Nada como os braços carinhosos de uma mulher para manter a sanidade e o senso de equilíbrio de um
homem.
Dana viu John virar a cabeça para a janela, fingindo interesse na paisagem. O que ele estaria pensando?
Teria ele receio de que o amigo reconhecesse uma sombra de inveja em seu olhar? Deus sabia que ela
própria também não deixara de sentir uma ponta de inveja ao ouvir aquilo.
Estaria John desapontado com o fato de a situação entre eles não estar mudando com mais rapidez? Sua
primeira semana, depois da volta a Long J, fora uma verdadeira provação para os dois. Dana o flagrara vá-
rias vezes observando-a em silêncio. Fora preciso algum tempo para ela se acostumar à nova situação.
Afinal, nunca fora alvo de observação antes, mas a promessa de John incluía a tentativa de ajudá-la a "sair
do casulo emocional".
Pelo visto, ele achava que nada havia mudado, mas Dana não concordava com isso. Muita coisa mudara
desde então, e ela teve vontade de tocar o ombro dele e confessar isso. Talvez a sensação de que ela não
estava preparada para o casamento ainda continuasse a persegui-la, mas...
— Adorei essa roupinha que você encontrou para J.J. — a voz de Kay interrompeu seus pensamentos
mais uma vez. — E de alguma loja da região? Pensei que conhecia todos os estilos das lojas de Dusty Flats,
mas nunca vi algo assim.
— Não, não é da região — respondeu Dana. — Encomendei-a por meio de um catálogo de Dallas.
Encostando o dedo junto à mãozinha de J.J., ficou observando-o segurar seu dedo com firmeza. Em se-
guida, desprezou a chupeta e tentou levar o dedo de Dana à boca.
— Oh, não' Nada disso, mocinho — ralhou ela. — Não é saudável querer o que não deve ter.
— Esse não é necessariamente um desejo exclusivo dos bebês — salientou Kay.
— Eu ouvi isso —- interveio Bud, olhando-a por cima do ombro. — Qualquer que seja a indireta, nunca
se esqueça de quem a ama de verdade.
O amor entre Bud e Kay ficava evidente em cada palavra e em cada olhar que trocavam. A
compatibilidade devia ser o segredo para manter aquela felicidade, pensou Dana.
— Vocês têm sorte em compartilharem tantas coisas em comum — disse, esperando obter alguma
confirmação de sua teoria.
— É isso o que pensa? — indagou o xerife.
Aquela não era bem a resposta que Dana esperava ouvir.
— Meu palpite passou longe? — perguntou a eles.
— Sim, de certa forma — falou Kay, pousando a mão sobre a dela. — Na escola, fomos eleitos como o
casal que tinha menos características em comum em nossas personalidades. Pensavam que ao final do curso
eu iria desmanchar o namoro com Bud e viajar para Nova York, para trabalhar como modelo ou algo do
gênero. E que Bud abriria alguma loja de conveniência à beira da estrada. O fato de continuarmos juntos
prova que nunca se pode prever o futuro com certeza.
— "Nunca diga nunca" — citou Bud.
Dana olhou de um para o outro, ciente da mensagem que haviam deixado no ar com aquela história. Ela
os conhecia desde que se mudara para Dusty Flats, mas por serem um pouco mais velhos, nunca tinham
feito parte de seu círculo de amizades, já que as poucas pessoas com quem seu pai a deixara ter contato
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tinham quase sempre a mesma idade que ela. A revelação de que perdera amizades tão preciosas por tanto
tempo deixou-a mais chocada do que ela poderia imaginar.
Quando chegaram à igreja, observou quando Bud se apressou em abrir a porta do carro para Kay, antes
de trocarem um beijo apaixonado. Então sua atenção se voltou para John, que se aproximara para ajudá-la
com J.J.
— Tudo bem? — perguntou ele, parecendo preocupado.
— Sim. Por que não estaria?
Somente ao notar o desapontamento nos olhos dele foi que Dana se deu conta de que sua reação fora de-
fensiva, como no passado. Ela sentiu vontade de se desculpar, mas a essa altura ele já estava se afastando
com o filho nos braços. Por fim, foi Bud quem ajudou-a a sair do carro.
— Vamos lá, Dana. Pegue meu outro braço. Sempre tive a ambição de viver cercado por mulheres
bonitas.
Dana riu, agradecida, mas seu olhar logo se voltou para John, que seguiu em direção à igreja.
Apesar de íntima e relativamente rápida, a cerimônia de batismo foi inesquecível, graças à simpatia do
padre Patrick, cuja eloqüência deixou todos admirados.
Dana sentiu a garganta apertar por várias vezes e chegou a ouvir Kay assuar o nariz com delicadeza
atrás dela. No entanto, foi John quem mais a surpreendeu. Assim que teve a primeira chance de olhar para
ele, teve a impressão de vê-lo com a cabeça abaixada, em uma prece silenciosa. Da segunda vez em que o
olhou, percebeu que ele também estava lutando contra as emoções.
Sempre simpática e prestativa, Kay se aproximou dele, oferecendo-lhe apoio. A visão do rosto
comovido de John continuou na mente de Dana por muito tempo. Ao olhar para J.J., cujos protestos
indicavam que ele não estava gostando muito de tudo aquilo, não pôde deixar de pensar em quanto aquela
criança era importante para John. Por fim, Bud teve de chamar sua atenção para lembrá-la de que ela
precisava responder à pergunta do padre.
— Sim — respondeu, sabendo que se tratava de um juramento sobre seu afilhado.
Como todos os grandes momentos da vida, a cerimônia pareceu curta demais para tantos preparativos.
Enquanto John e Bud agradeciam ao padre pelas belas palavras, Dana e Kay se encaminharam a uma das
salas laterais, para trocar a fralda de J.J.
— Você é mesmo um anjinho, sabia? — falou Kay, distraindo o bebê enquanto Dana o trocava.
— Ele se comportou direitinho, não? — disse Dana, orgulhosa do afilhado. — Você acha que John ficou
satisfeito com o andamento da cerimônia?
— Você viu bem como ele ficou — respondeu Kay. Como sempre, a esposa de Bud fora direta. Ciente
de que também deveria ser sincera, Dana assentiu. — John Paladin é um dos homens mais complicados e
temperamentais que já conheci — afirmou Kay, forçando um sorriso.
Dana ficou surpresa ao ouvir aquilo.
— Ele é meio contraditório às vezes, mas... complicado?
— O que você vê quando olha para ele? Mantendo a sinceridade, Dana respondeu:
— Vejo alguém cuja presença é impossível de ser notada. Um homem com força e poder. Kay meneou
a cabeça.
— Mas ele não é uma montanha de granito, Dana. Por mais que tenha aquela aparência de força, se o
ferir, ele sangrará como qualquer ser humano normal. E foi isso que você viu hoje. Um homem tem de ser
muito sensível para se comover com as palavras de um padre em uma cerimônia de batismo, e John nem
conseguiu conter as lágrimas. Apesar de tanta sensibilidade, John continua sendo o homem mais solitário
que conheço.
Solitário?, pensou Dana. Estariam elas falando do mesmo homem? Se aquilo fosse verdade, então ela
era a única pessoa que não conhecia John Paladin durante todo aquele tempo.
— Para ser sincera, acho que ele está sempre ocupado demais para prestar atenção aos próprios senti-
mentos — falou.
— É verdade — concordou Kay. — John deixa a fazenda consumir todo o tempo dele. Cruzando os
braços, encostou-se na parede. — Mas ele tem um grupo de empregados competentes trabalhando em Long
J — salientou ela. — Poderia ter mais tempo para si mesmo, se quisesse, mas não se preocupa com isso
porque não tem nenhuma outra ocupação para preencher seu tempo.
— Com o nascimento de J.J. isso mudou um pouco — lembrou Dana.
— Sim, a presença do filho é importante, mas não é tudo. Não é suficiente para alguém como John, com

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tanto amor para oferecer.
Dana ficou surpresa mais uma vez.
— Celene é bonita? — perguntou de repente.
Kay pensou por um instante.
— Ela é esperta, e sabe valorizar suas características mais atraentes. Sem metade da maquiagem que
costuma usar, seria considerada apenas uma garota "bonitinha". Mas, com boa maquiagem e roupas selecio-
nadas, qualquer mulher se torna atraente. Acha que John é tão inconseqüente a ponto de haver se interes-
sado apenas por isso?
— Isso ficou mais do que óbvio, não? — respondeu Dana, terminando de fechar a fralda de J.J.
— O que está evidente é que você nunca olhou além de seus próprios problemas para enxergar os de
alguma outra pessoa.
Espantada, Dana olhou para Kay. A ruiva lançou-lhe um sorriso compreensivo.
— Ótimo. Estou satisfeita que meu comentário tenha chamado sua atenção. — Tocando o ombro da
amiga, continuou: — Gosto muito de você, Dana, mas por John o que sinto é amor de uma irmã. Tenho
medo que ele não consiga extrair da vida a felicidade que merece. Pare de negar as características que vocês
têm em comum. Vocês deveriam estar se ajudando e não entrando em conflito. Está muito fechada em seus
próprios traumas e não quer enxergar os problemas de John. Se não tomar cuidado, quando despertar para a
realidade, vai se dar conta tarde demais de que a melhor chance para sua felicidade escapou por entre seus
dedos por puro descaso. E não apenas uma vez, mas duas.

O tempo cada vez mais frio obrigou-os a desistir de comemorar o batismo com um almoço na cidade.
Por isso, Bud os levou de volta para Dusty Flats pouco depois.
Dana não se importou com isso, embora o trajeto de volta mais tenha parecido com o cortejo de um fu-
neral do que com a comemoração de um batismo. Não que alguém estivesse aborrecido. Na verdade,
estavam todos absortos em seus próprios pensamentos.
Na residência dos Hackman, John se despediu dos dois, agradecendo mais uma vez pelo batismo e pela
amizade que continuava a uni-los. Bud se ofereceu para levar Dana para casa, mas ela explicou que havia
deixado o carro na fazenda.
— Ficarei bem, se não demorar muito para voltar para casa — disse, ao se despedir.
Assim que entraram na caminhonete de John, ela percebeu que ele ainda estava com um ar de
preocupação.
— Está pensando nos problemas com a fazenda, não é? — perguntou, ajeitando J.J. no colo.
—Sim — admitiu John. — Parece que esse ano o inverno será rigoroso e não poderemos conduzir o
gado até os lugares certos para alimentarmos os animais com mais facilidade.
— Terá de sair assim que chegarmos à fazenda — deduziu ela.
Como Kay dissera antes, a fazenda tomava tempo demais na vida de John.
— Eu deveria, mas não posso deixar J. J. Talvez os empregados entendam...
— Eu ficarei com ele — Dana se ofereceu.
John a olhou por um momento, antes de ligar o carro. Dana não o culpou pelo espanto, já que ela
própria ficara surpresa com a decisão. Do jeito que estava a condição do tempo, se ela ficasse em Long J,
talvez não conseguisse voltar para casa antes de alguns dias, devido à quantidade de neve que logo se
acumularia na estrada.
— Você já fez muito, Dana — respondeu John, com um ar de agradecimento. — Não tenho o direito de
exigir mais nada de você.
— Mas não é nenhuma exigência! Sou eu quem está se oferecendo para cuidar de J.J.
John se manteve em silêncio por um longo tempo, antes de dizer:
— Agradeço pela oferta.
— Não há o que agradecer.
— Acho que fiquei surpreso com sua decisão.
— Garanto que isso não aconteceu apenas com você — afirmou Dana.
Se John aceitasse a proposta significaria dormirem sob o mesmo teto, sem muita opção para ocultar as
carências físicas e emocionais.
Apenas a sugestão disso seria suficiente para fazer Dana entrar em pânico semanas antes, mas, ao ser
sugerida, a idéia já não lhe pareceu tão assustadora.

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O trajeto até a fazenda demorou pouco mais de quinze minutos. J.J. já estava impaciente quando saíram
do carro.
John dirigira com cuidado para não assustá-lo e Dana o assegurou de que o mau humor do bebê deveria
ser apenas cansaço depois de toda aquela agitação.
Porém, mesmo depois de estar trocado e banhado, J.J. continuou impaciente.
— Não se preocupe — disse Dana, quando John apareceu, já vestido com a roupa de trabalho. — Ele
vai adormecer assim que terminar a mamadeira. Pode ir, mas tenha cuidado.
John olhou para o relógio, notando que já havia se passado alguns minutos das duas horas da tarde.
— Tentarei voltar assim que puder — avisou-a. — Durango irá comigo, portanto, se precisar de
alguma coisa, terá de telefonar para Bud.
Dana percebeu que John estava realmente preocupado em deixá-la ali, sozinha com o bebê. O estado de
saúde de Durango não o deixaria se mover com a mesma facilidade dos outros, e talvez isso os atrasasse
um pouco.
— Está com fome? — perguntou Dana. — Se quiser, posso preparar um sanduíche rápido e café ou...
— Durango já cuidou disso. Verifiquei isso com ele, enquanto você estava dando banho em J.J. Está
tudo preparado na cozinha. — Batendo as luvas sobre a palma da mão, acrescentou: — Não era assim que
as coisas deveriam estar transcorrendo.
— Não tem problema — Dana o tranqüilizou.
O olhar de John a percorreu de alto a baixo, mostrando um brilho de admiração.
— Está tão bonita. Merecia pelo menos um almoço especial ou algo do gênero.
— Você sabe que não me importo com isso, John. De verdade.
Dana teve a impressão de que ele iria dizer algo mais, ou mesmo beijá-la antes de sair. A atmosfera de
expectativa a fez dar um passo atrás, para recuperar o fôlego.
Entretanto, John limitou-se a ajeitar o chapéu e sair sem dizer mais nada.

O tempo foi ficando pior, conforme as horas foram se passando. E também a sensação de
arrependimento de Dana, por haver evitado se aproximar de John mais uma vez.
No início da noite, caiu uma chuva forte. Quando a energia elétrica acabou de repente, ela não soube
como ligar o novo gerador que John havia comprado. Por isso, levou J.J. para a sala e acendeu a lareira.
Além de iluminar o aposento, o fogo também serviria para aquecê-los.
Depois de acomodar o bebê entre as almofadas do sofá, pegou uma lanterna e foi até o quarto de John,
de onde voltou com uma porção de lençóis e de travesseiros. Talvez a energia elétrica demorasse para
voltar, e John saíra com tanta pressa que não pensara em deixar um estoque de madeira extra para a lareira.
Lembrar-se de John a deixou preocupada. Por mais que o escuro não estivesse agradável dentro de casa,
do lado de fora a situação deveria estar pior. Será que John e os empregados haviam ido muito longe para
reunir o gado? E se algo acontecesse a algum deles? Ou a John?
Quanto mais tentava distrair os pensamentos, mais a angústia persistia. Depois de ajeitar os lençóis e os
travesseiros e acomodar J.J. com mais conforto, pensou em cochilar um pouco, mas logo descartou a idéia,
sabendo que não conseguiria.
Aproveitando a iluminação ainda que fraca da lanterna, foi até a cozinha e preparou um pouco de café.
Em seguida, fez alguns sanduíches com os ingredientes que Durango estocara na geladeira. Se os
empregados voltassem famintos, pelo menos teriam algo já pronto para comer.
Ao voltar para a sala, sentou-se ao lado de J.J., que a essa altura já havia adormecido. Sem nada para se
distrair, a casa pareceu maior e muito vazia de repente. Adorava ver J.J. dormindo, mas seus pensamentos
estavam tão conturbados que ela não quis ficar muito perto dele, para não lhe perturbar o sono delicado.
Pegar a lanterna e ver se a chuva não estava entrando pela janela dos outros aposentos lhe pareceu uma
solução eficaz para passar o tempo. Também aproveitaria para ver se os homens já estavam voltando para
casa.
Pela primeira vez, começou a observar com mais atenção os detalhes da casa de John. Talvez assim
encontrasse algumas respostas para aquelas questões que continuavam a ocupar sua mente.
Por que não notara antes que não havia nenhuma foto pela casa? Aquela da sala, com a vista aérea da
fazenda, não contava. Queria ver pessoas, rostos como o da mãe e do pai de John, mas não havia
simplesmente nada. Era estranho ver que John e os pais nunca haviam se interessado por esse tipo de
lembrança.
Seu próprio pai, por outro lado, adorava fotos. Todas mostravam um falso clima de alegria na família,
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mas isso pouco importava para ele. Mantinha fotos de família na mesa de trabalho, mas preferia mesmo
quando a foto dele saía em algum jornal da cidade. Então seu ego inflava feito um balão.
Parou de repente, ao avistar uma caixa diferente, disposta sobre uma prateleira na biblioteca. Nunca a
tinha visto ali antes. Provavelmente por que sempre se forçava a realizar apenas seu trabalho, mantendo-se
o mais longe possível de tudo que dizia respeito a John.
Ao pegar a delicada caixa, admirou seus detalhes prateados, com a figura de um unicórnio na tampa.
Não resistiu ao impulso de segurar a lanterna mais próxima, para observar o objeto com mais atenção. Foi
então que viu uma fechadura na parte da frente, mas sem chave. Curiosa, tentou levantar a tampa, e não
encontrou nenhuma resistência. A caixa estava aberta.
Dentro havia uma porção de papéis, recortes de jornal e uma foto. Ao analisá-los, conteve o fôlego.
Tudo se referia a ela!
A foto mostrava o momento em que ela recebera o diploma do colégio. Nem sabia que John
comparecera àquela cerimônia. Não fazia idéia de que ele se importava tanto com ela, e desde aquela
época! Tudo bem que John chegara a mencionar isso algumas vezes, mas ouvi-lo falar e ter as provas em
mãos era algo muito diferente.
Para sua surpresa, também encontrou uma cópia do certificado que ela ganhara como melhor aluna da
classe, no último ano do colégio. Será que John sabia que ela forçara a voz de propósito, para ficar com
laringite e não ser a oradora da classe na formatura? Ainda se lembrava de quanto seu pai ficara furioso ao
descobrir a verdade.
— Oh, John... — murmurou.
Gostaria de poder chorar pelos dois, mas não conseguiu. Sua única reação foi ficar com as mãos
trêmulas. Guardou tudo dentro da caixa e a fechou. De repente, ouviu um som diferente. Teria J.J.
acordado?
Sentindo o coração acelerar, voltou para a sala e descobriu que o bebê havia mesmo acordado. Ao vê-la,
iluminada pela luz da lanterna, ele balbuciou algo.
— Estou aqui, meu anjo — disse, sentando-se ao lado dele. — Estou aqui.
Notando que ele estava tranqüilo, encostou a cabeça no encosto do sofá e fechou os olhos por um
instante, pensando em tudo que encontrara naquela caixa.

CAPÍTULO IX

Quando John entrou em casa, pela porta da cozinha, já passava das dez horas da noite, havia acabado de
tirar a jaqueta e as botas encharcadas quando viu a garrafa grande de café e uma bandeja com sanduíches
sobre a mesa. Grato e aliviado ao mesmo tempo, levou tudo para o alojamento dos empregados. Com
certeza, estavam tão exaustos quanto ele.
Ao voltar para casa, pensou em subir para tomar um banho e vestir uma roupa limpa, antes de comer
algo. Porém, ao passar pela sala, viu a luz acesa, a lareira ainda parcialmente aquecida e Dana adormecida
no sofá, junto com J.J.
Deduzindo o que acontecera, John não pôde deixar de sorrir. Dana fora muito esperta ao acender a
lareira quando a luz acabara, provavelmente por causa da tempestade. Enquanto subia a escada, não
conseguiu desviar a vista daquele lindo rosto adormecido.
Do lado de fora, o maior perigo da tempestade já passara, restando apenas o vento e a garoa. Pela
manhã, se o tempo continuasse mais estável, seria provável que não houvesse mais perigo nas estradas.
Então ele mandaria Dana voltar para casa pela última vez.

Depois de tomar um banho, vestiu jeans e uma camisa de flanela. Ao voltar para a sala, serviu-se de uma
dose de conhaque e sentou-se na cadeira de balanço, observando Dana e seu filho lindamente adormecidos.
Queria ficar ali até que ela acordasse e gravar bem a cena na memória, porque tomara uma decisão nessa
noite.
Não agüentava mais ter Dana tão perto de si e não poder tocá-la nem mostrar quanto se importava com
ela. A promessa de que daria algum tempo para ela fora sincera, e talvez o maior sacrifício de sua vida.
Mas nem isso fora suficiente para reaproximá-los.
Chegara o momento de enfrentar a derrota. Soubera disso no momento em que ela o evitara, antes de ele
partir à tarde. A atitude de Dana continuou a se repetir em sua mente, principalmente quando ele se deu
conta de que ela compartilhara um dos dias mais importantes de sua vida. Se nem mesmo isso a convencera
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de que deveriam ficar juntos, nada mais a convenceria.
Portanto, só havia uma coisa a fazer. Uma última chance de fazê-la enxergar o que ela estava perdendo e
reconhecer que se esconder não era a melhor solução. Todavia, se não desse certo, ele teria de aceitar a re-
solução do destino. Por isso, seria mais sensato não gerar nenhuma expectativa.

J.J. acordou primeiro. Quando o fogo começou a aumentar na lareira, depois dos novos pedaços de
lenha que acrescentara, o crepitar das chamas o fez despertar. Ele olhou para Dana, como que esperando
que ela também fosse despertar.
O coração de John se encheu de ternura diante da cena. Mais ainda quando um sorriso se insinuou nos
lábios do bebê. Agitando os bracinhos e as perninhas, deu alguns gritinhos, como que comemorando algo
que só ele sabia o que era.
— Sei como se sente, garotão — sussurrou John.
Sem querer que J.J. a acordasse, John pegou-o no colo com cuidado e voltou para a cadeira de balanço.
O Natal seria dali a algumas semanas, pensou ele, observando o semblante inocente do filho. Queria tornar
a data especial de alguma maneira. Talvez para resgatar tudo que ele não tivera nos últimos anos. Com
carinho, beijou as mãozinhas de J.J.
— Farei o melhor por você, J.J. — prometeu. — Sempre. Só não sei se conseguirei fazer o mesmo
por Dana.
Os dois ficaram ali por um longo tempo, até Dana abrir os olhos. Ela pareceu assustada quando não viu
J.J. perto de si.
— Tudo bem. Ele está aqui.
Levantando a vista, ela murmurou:
— Oh, meu Deus... Você voltou.
Percebendo que Dana se tornara tensa ao vê-lo, John sentiu um aperto no peito.
— Já faz algum tempo.
— E mesmo? Sinto muito por não haver acordado antes. Que horas são?
— Quase onze, eu acho. A energia elétrica já voltou e a chuva diminuiu bastante.
— Oh, que bom. Vocês... — Cobriu a boca, com um bocejo. — Desculpe-me. Conseguiram transferir o
gado para outro lugar?
— A maior parte.
Dana se espreguiçou, fazendo o lençol revelar que ela vestira um dos pijamas dele.
— Espero que não se importe — ela se desculpou. — Eu estava quase cochilando quando percebi que
poderia estragar a roupa do batismo. Por isso fui até seu quarto e peguei um pijama emprestado.
— Tudo bem.
A verdade era que ela estava adorável com aquele pijama bem maior do que o número dela.
— Como está J.J.? — perguntou Dana, aproximando-se para olhar o bebê. — Não voltou a ficar
impaciente, espero?
John olhou para o filho, notando que ele voltara a ficar com sono.
— Não. Ele parece estar bem. Talvez aquela impaciência fosse apenas cansaço mesmo. Se quiser ir dor-
mir em algum quarto lá em cima, fique à vontade. Vou levar J.J. para o dele. Ele precisa começar a se
acostumar a dormir nele.
— Tudo bem, mas não precisa se importar em me acomodar em um quarto. J.J. pode até dormir comigo
aqui embaixo. Vou apenas verificar a fralda dele...
— Farei isso quando o levar para cima — insistiu John. — Talvez seja melhor ele não se acostumar a
dormir sempre com alguém por perto. Além disso, já tomamos muito de seu tempo. Tudo está sob controle
agora. Os rapazes poderão terminar o trabalho sem minha ajuda amanhã. Ficarei aqui com J.J.
A falta de emoção na voz de John, ou mesmo sua expressão fria, afetaram Dana no mesmo instante. Ele
percebeu que ela estava tentando encontrar as palavras certas para dizer.
— Você... parece que você andou pensando muito enquanto reunia o gado.
John esforçou-se para não sentir-se culpado pelo riso nervoso de Dana.
— Na verdade, fiquei mais pensativo depois que me sentei aqui — admitiu ele.
— Entendo. Então o que você disse realmente significa... Corrija-me se eu estiver errada, mas tenho a
impressão de que está se despedindo de mim.
— Claro que não — John apressou-se em dizer. — Você é a madrinha de J.J. Tornou-se parte da vida
dele, mas eu também me sinto na obrigação de lembrar que também tem sua própria vida. Não acho justo
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prendê-la mais aqui.
— Não fale como se não passasse de um egoísta — ralhou Dana.
— Não é essa minha intenção.
— Ainda bem, porque estou aqui por vontade própria. Fiquei feliz em poder ajudar.
— Agradeço por isso, Dana. Só que preciso começar a pensar em como será meu futuro sozinho.
— Oh!
— Preciso deixar que você vá embora, pelo nosso próprio bem — acrescentou, olhando para J.J.
— Entendo —. murmurou ela, mal conseguindo disfarçar o desapontamento.
John perdera as energias para lutar. Não tinha dúvida de que Dana se importava com seu filho, mas isso
não era suficiente. Queria seu próprio lugar naquele coração. Preferia não ter nada, a mantê-la por perto
apenas parcialmente.
"Diga algo, Dana. Por favor!", pediu em pensamento.
Quando ela continuou em silêncio, ele não conseguiu evitar uma onda de desapontamento. Ficou de pé
de repente.
— Acho melhor levar J.J. para o quarto — disse a ela, sentindo uma súbita necessidade de se afastar
dali.
Subiu a escada devagar, tomado por um desagradável peso no peito. Não se permitiu olhar para ela nem
sequer mais uma vez.

Dana não teve idéia de quanto tempo continuou sentada no sofá, olhando para a cadeira de balanço
vazia. Estava com dificuldade até para fazer coisas básicas como respirar. Pensar, então, tornara-se
impossível no momento.
Se não saísse logo para tomar um pouco de ar, acabaria desmaiando. De súbito, começou a sentir os pri-
meiros indícios de uma hiperventilação.
Apesar das pernas trêmulas, conseguiu ficar de pé e pegar o casaco, deixado sobre uma cadeira. Estava
prestes a vesti-lo quando lembrou-se de que estava usando o pijama de John.
Com mãos trêmulas, trocou de roupa rapidamente e encaminhou-se para a cozinha, meio cambaleante.
O ar frio ajudou a clarear seus pensamentos por um momento. Sentindo o ar gélido atingi-la quase com
violência, fechou o casaco com mais firmeza. John dissera que o tempo melhorara? Pois não era o que
parecia.
Até a chuva estava horrivelmente fria e logo umedeceu seus cabelos, enquanto ela se dirigia até o carro.
Em questão de segundos, ficou gelada e trêmula de frio.
Assim que ligou o carro, deu marcha à ré e afastou-se da casa. Ir embora dali tornara-se a decisão mais
importante no momento.
Foi então que pisou no freio de repente. O que estava fazendo afinal?, perguntou-se. Não decidira
apenas ir embora de Long J, estava fugindo! E esse era o procedimento de pessoas covardes. Sair sem se
despedir, evitando se reencontrar com John. Deus, já fizera isso por tempo demais! Fugira de seus medos,
de seus sentimentos e principalmente de John.
Se fosse embora nesse momento, não haveria uma terceira chance, apesar do que John dissera sobre ela
fazer parte da vida de J.J. Ela distinguira um brilho de determinação nos olhos dele, algo que lhe disse mui-
to mais do que mil palavras. Se fosse embora, nunca mais seria capaz de se olhar no espelho de novo sem
sentir desapontamento e frustração.
Ela merecia tudo que John dissera. A questão era: por que ele não a dispensara antes? Passara anos se
escondendo por trás da desculpa da crueldade de seu pai, forçando John a carregar a própria culpa. Claro
que no passado ele fora muito autoritário e possessivo, além de temperamental. Mas John mudara! E muito
mais do que ela acreditara a princípio.
"Pense, Dana!", disse a si mesma. O antigo John Paladin aceitaria cuidar do filho sozinho com tanta
determinação e vontade de aprender? Não. Alguma vez chegara na fazenda pela manhã e encontrara o bebê
mal alimentado ou sem a fralda recém-trocada? Não. Ela mesma não o vira dar banho em J.J., utilizando
aquelas mãos fortes com tanta delicadeza para lidar com o corpinho delicado do bebê? John era um pai
maravilhoso.
— O melhor — sussurrou, apoiando as mãos sobre o volante.
E quanto ao respeito com que ele tratava os empregados? Principalmente tendo todos os motivos do
mundo para estar impaciente, devido aos problemas com o divórcio, com a criação de J.J. e com a própria
fazenda. Apesar disso, nenhum dos empregados pedira a conta ou olhava-o com temor. Não, todos o
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respeitavam.
Durante o jantar de Ação de Graças, todos haviam comparecido e feito piadas com ele, tratando-o como
um colega de trabalho. O único momento em que John parecera ficar aborrecido fora quando eles a haviam
observado com olhares demorados demais.
Pensando bem, somente em assuntos que diziam respeito a ela era que John ficava alterado. Levada pelo
egoísmo de olhar apenas para seus próprios traumas, e pela teimosia de não admiti-los, nunca percebia
como acabava levando John a perder a paciência.
A situação realmente saíra do controle no Dia de Ação de Graças? Não. Nem mesmo quando haviam
trocado aquele beijo. Quando ela pedira que ele parasse, John atendera o pedido no mesmo instante. Depois
disso, tivera todo o direito de sentir-se frustrado e de ser indelicado com ela, mas, pelo contrário, ele lhe
dera outra chance. E o que ela fizera com isso?
— Oh, céus, o que eu fiz hoje? — perguntou-se, apoiando a cabeça no volante.
Na verdade, ficara embaraçada na presença de Kay e de Bud. Eles eram pessoas maravilhosas, mas ela
sentira como se cada um de seus gestos e palavras estivessem sendo analisados nos mínimos detalhes. Sem
conseguir sentir-se à vontade, acabara tratando John com indelicadeza diante da igreja.
— Oh, Deus!
Depois, quando haviam chegado à fazenda, ela praticamente evitara que ele a tocasse antes de partir
com Durango. Não porque não desejasse isso, mas por medo de sua própria reação.
Por certo, aquilo fora a gota d'água. Afinal, quanto um homem tinha de ceder para demonstrar que havia
mudado?
Sem hesitar, conduziu o carro novamente até o estacionamento e desligou o motor. Em questão de
segundos, estava de volta ao interior da casa.
— Dana?
Ela foi direto para a escada, mas parou ao ouvir a voz de John. Pelo visto, ele voltara para o andar de
baixo e sentara-se novamente na cadeira de balanço.
O brilho de esperança nos atraentes olhos castanhos deu a Dana o incentivo que ela precisava para
correr até ele.
Apoiando-se na ponta dos pés, diante dele, falou:
— Não posso ir embora, John. Por favor, não me peça para fazer isso. Eu te amo e também amo J.J.
Quero ficar com vocês.
John continuou a olhá-la, como que não acreditando no que acabara de ouvir. Segurando o rosto dela
entre as mãos, perguntou:
— O que disse?
— Eu não quero ir embora.
— Não, o restante.
Dana desejou poder sorrir, mas não tinha certeza de qual seria a reação de John.
— Eu te amo — repetiu. — Cansei de lutar contra meus sentimentos e de me deixar dominar pelos
meus medos Eu...
Dana não conseguiu terminar a frase porque os lábios de John cobriram os dela, em um beijo
apaixonado. Em seguida, beijou-a no rosto, no pescoço, atrás das orelhas...
Quando se afastou, enxugou o rosto dela. Seria a chuva que o molhara ou lágrimas de felicidade? John
não soube dizer.
— Não acredito que isso esteja acontecendo — disse a ela.
— Sim, está. — Dana sorriu.
— Céus, é bom demais para ser verdade! Justamente quando eu estava aqui, desesperado, pensando em
como suportaria viver longe de você, entrou de repente para dizer que me ama? Mal posso acreditar!
— Nenhum homem seria tão paciente quanto você tem sido comigo, John.
— Eu te amo, Dana. Sou louco por você. Não tinha outra saída a não ser insistir e ter esperança de que
ficássemos juntos.
Ficando de pé, John abraçou-a com sensualidade, antes de beijá-la mais uma vez.
— Faça amor comigo, John — sussurrou Dana, com um brilho de desejo no olhar.
John mal havia conseguido ouvir direito as palavras, mas a expressão de Dana lhe revelou mais do que
ele poderia imaginar.
Em resposta, deslizou as mãos por dentro do casaco dela, trazendo-a mais para junto de si.
47
Dana continuou fitando-o nos olhos, mas não conseguiu manter os seus abertos por muito tempo. Ren-
deu-se à deliciosa exploração das mãos de John alcançando lugares sensíveis de seu corpo sedento de amor.
Não conseguiu conter um suspiro de prazer quando as mãos firmes cobriram seus seios completamente
e seus mamilos foram acariciados pelos polegares de John.
Segundos depois, seus lábios substituíram o lugar onde seus dedos haviam estado, provocando um
gemido de prazer em Dana.
— Você é linda... — sussurrou ele.
Como ela pudera se privar de tudo aquilo durante tanto tempo?, Dana se perguntou. Mesmo tomado pela
paixão, John parecia o homem mais cuidadoso do mundo. No entanto, isso serviu apenas para aumentar
ainda mais seu desejo.
Em um gesto mais ousado, insinuou as mãos por dentro da camisa dele, moldando com os dedos os con-
tornos daquele peito másculo.
— Tem idéia de quantas vezes sonhei com esse momento? — murmurou ele. — Passei noites em
claro imaginando como seria poder tê-la assim, em meus braços...
Aos poucos, os beijos e as carícias foram se tornando cada vez mais intensos.
Até que, quando Dana pensou que ele iria levá-la para o quarto, John se afastou de repente.
— O que foi? — perguntou a ele. — Fiz algo errado?
Ele sorriu.
— Não, nada. Quero apenas realizar tudo da maneira mais apropriada.
— Mas eu pensei que...
John a silenciou com outro beijo.
— Seria maravilhoso, Dana. Mas primeiro quero me casar com você. Quero vê-la entrar na igreja toda
vestida de branco, como venho sonhando há anos. E na primeira vez em que fizermos amor, quero que seja
tudo muito especial.
Dana olhou para a lareira acesa e para os lençóis que continuavam sobre o sofá.
— Pensei que aqui seria suficientemente romântico.
— Não me tente a mudar de idéia agora, feiticeira. Já me decidi.
Ela estreitou os olhos.
— Está ficando autoritário novamente.
— Autoritário demais? — perguntou John, arqueando uma sobrancelha.
Dana assentiu, mas acabou sorrindo e aceitando a decisão que ele tomara. Em seguida, ofereceu os
lábios a ele mais uma vez.
— Hum... — murmurou John, ao se afastar, muito tempo depois. — Alguma vez pensou em se casar
no dia de Ano-Novo?
Dana ainda estava sem fôlego, mas conseguiu balbuciar:
— Seria um casamento legal?
John havia praticamente acabado de conseguir o divórcio e considerando-se as dificuldades que haviam
enfrentado com o batismo de J.J., não seria fácil conseguir algo tão inusitado.
— Acho que sim — respondeu John. — Mas vou verificar isso com mais detalhes. Vai dar certo. Quero
seu nome próximo ao meu em uma certidão de casamento, antes que eu acorde de repente e veja que tudo
isso não passou de um sonho.
— E real, John — afirmou Dana, afastando os cabelos da testa dele. — Dessa vez é para sempre. Graças
a você, finalmente consegui enxergar que estava na hora de deixar o passado para trás. — Bem, Kay tam-
bém contribuíra para sua decisão, mas explicaria isso a John em uma outra oportunidade. — Ambos come-
temos erros — afirmou Dana. — Eu deveria haver acreditado em você antes e reconhecer que você havia
mudado de fato. Mas o orgulho não permitiu que eu fizesse isso. — Beijou-o com carinho. — Sinto muito,
John, mas prometo que agora dará certo.
— Também estou começando a acreditar nisso — respondeu ele. — Mas...
Conteve o fôlego ao notar que o decote de Dana se abrira mais uma vez, revelando a sedutora curva
entre seus seios.
— Por que não fica de pé para deixar de me torturar? — pediu ele, com olhar suplicante.
Dana sorriu com um ar sedutor e fez menção de se afastar, porém, John a deteve no último instante.
— Espere. Antes que vá...
Em um ousado gesto de sensualidade, ele abriu mais o decote dela e beijou-lhe cada um dos seios.
— John...
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Quando ambos trocaram um olhar apaixonado, ele sussurrou:
— Eu te amo.

CAPITULO X

O casamento não aconteceu no Ano-Novo. De fato, a espera pelo grande acontecimento pareceu durar
uma eternidade, mas Dana e John finalmente se casaram no último dia do mês de janeiro.
"Sou mesmo um homem de sorte", pensou John, olhando sua noiva entrar na mesma igreja onde J.J.
havia sido batizado. Ela nunca lhe parecera tão linda quanto naquele momento.
Vestida de branco, com um longo véu caído atrás da cabeça, olhava-o com um charmoso ar de mistério,
enquanto caminhava lentamente em sua direção.
— O que farei depois com o vestido de noiva? — perguntara, quando ainda estavam fazendo os prepa-
rativos para o casamento.
— Não sei. Talvez nossa filha queira usá-lo no próprio casamento, daqui a alguns anos — sugerira John.
O branco do vestido contrastava com o lindo colar de brilhantes e esmeraldas que ele dera a ela como
presente de casamento. Por mais que a jóia se destacasse sobre a pele alva de Dana, nada se comparava ao
brilho intenso daqueles olhos castanhos cada vez mais próximos dos seus.
Deus, como a amava. O sentimento era tão intenso que às vezes chegava a surpreendê-lo. Esperava que
o tremor de suas pernas não estivesse sendo denunciado através do tecido de seu elegante terno cinza.
No colo de Kay, J.J. olhava para todos os lados, levado pela curiosidade de seus cinco meses de idade.
Ao reconhecer Dana, quando ela se aproximou, sorriu para aquela a quem já chamava de "mã".
John suspirou, mal se contendo de felicidade. Na fazenda, ficara tudo preparado para uma grande festa,
que se estenderia durante todo o dia.
Olhando para Bud, sorriu ao receber um cumprimento de aprovação. Se o amigo lhe desse um dos
abraços fraternais que costumava dar em celebrações como essa, era bem capaz de começar a chorar feito
um bebê no ombro dele. Nunca pensara que um dia Dana aceitaria realmente se tornar sua esposa.
Pouco depois, Durango lhe entregou a mão de Dana. Ele a beijou e ambos se aproximaram do altar.
Quando ela retribuiu seu sorriso com confiança, John suspirou mais uma vez, tendo a certeza de que
tudo daria certo.
Diante deles, o simpático padre Patrick começou a cerimônia.
— Sinto um grande amor preenchendo esta igreja hoje, meus amigos. E por ele somos abençoados...
O discurso foi simples, mas extremamente inspirado. Por vezes, Dana e John chegaram a sentir os olhos
cheios de lágrimas, mas conseguiram conter a emoção.
Minutos depois dos votos, foram declarados marido e mulher.
— Têm certeza de que não querem que o levemos conosco?
Dana sorriu para J.J., antes de olhar para o rosto preocupado de Kay.
— Obrigada, Kay, mas não será preciso. Nós ficaremos bem.
— Adoraríamos passar algum tempo com J.J. — afirmou a esposa de Bud. — Nossas crianças também o
adoram, e agora que Josh parou de usar fraldas há um bom tempo, estou sentindo falta de ter perninhas e
bracinhos rechonchudos por perto.
— Agradeço pela preocupação, mas hoje realmente pretendemos começar nossa vida como uma
verdadeira família — respondeu Dana, com gentileza. Beijando o rosto da amiga, acrescentou: — Sei que
vai nos entender.
As duas haviam se tornado boas amigas nos últimos meses. Fora Kay quem a ajudara a escolher o
vestido de noiva e que lhe explicara alguns detalhes íntimos sobre o casamento, já que a mãe de Dana
nunca tivera coragem de falar sobre aquilo com a filha.
Dana estava sentindo-se mais calma do que nunca, embora fosse o dia de seu casamento. Talvez por
saber intuitivamente que sua vida conseguira entrar em ordem, depois de muito tempo de turbulências
emocionais.
Estava unida ao homem de sua vida e seria mãe de uma criança que ela já adotara como filho com todo
seu coração.
— Há algo que pode fazer por mim, Kay — disse à amiga.
— Pode falar.

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— Quero que me perdoe.
Kay franziu o cenho, confusa.
— Perdoar por quê?
— Pelo sermão que teve de me dar alguns meses atrás.
— Não lhe dei nenhum sermão, Dana, apenas apontei a verdade, por gostar muito de você e de John.
— Não faz idéia de quanto aquelas palavras me ajudaram — afirmou Dana. — Eu precisava ouvi-las,
e ninguém melhor do que você para dizê-las, minha amiga. Obrigada por haver ficado do meu lado naquele
momento difícil.
Kay, que fora madrinha do casamento, estendeu os braços para Dana e a abraçou com carinho.
— Tenho certeza de que vocês serão muito felizes. Ficarei tão orgulhosa de você quanto ficaria de
minha própria irmã, Dana.

Já era quase noite quando o último dos convidados partiu da fazenda. Durango e os outros empregados
foram para os alojamentos, deixando os noivos sozinhos na casa. A porta de entrada, os rapazes haviam
deixado uma placa onde se lia: "Recém-casados. Não perturbe!"
Rindo ao ver a placa, John trancou a porta e apagou a luz, deixando o ambiente iluminado apenas pelas
luzes que entravam pela janela.
Seu sorriso se transformou em um suspiro quando ele se aproximou de Dana.
— Gostou do casamento, sra. Paladin? — perguntou, puxando-a para si.
— Esse foi o dia mais feliz da minha vida, sr. Paladin.
John beijou-a na testa.
— Está muito cansada?
Dana sorriu, com charme.
— Não tanto assim.

— Quer subir para nosso quarto? — indagou John, com um tom de voz sedutor, antes de beijar a pele
sensível atrás da orelha dela.
— Só se você vier comigo — respondeu Dana, com receio de que ele tivesse algo para fazer no andar de
baixo.
— Claro que irei com você. —John sorriu. — Esperei por isso durante muito tempo e não seria louco de
deixá-la subir sozinha para o quarto em uma noite tão especial.
Dana enlaçou os braços em torno do pescoço dele.
— Leve-me para nossa cama, meu amor — sussurrou, com um irresistível brilho de sedução no olhar.
— E J.J.? — perguntou ele.
Dana sorriu.
— Eu e Kay o colocamos para dormir ainda há pouco. Portanto, a noite é nossa. Pelo menos, por
enquanto — brincou.
Mantendo o bom humor, John tomou-a nos braços e levou-a para o quarto, colocando-a com cuidado
sobre a cama.
Deitando-se ao lado dela, olhou-a com um ar de encantamento. Sob a luz tênue do abajur, Dana parecia
ainda mais linda e irreal. Quase como se fizesse parte de um sonho. Seu mais lindo sonho...
— Estamos juntos, irlandesa-— murmurou. — Só você e eu.
Dana o fitou nos olhos ao dizer:
— Quero ser sua, John.
— Você sempre foi. E sempre será.
Com um beijo infinitamente carinhoso, John apagou qualquer traço de nervosismo que pudesse haver
nela.
A sensualidade contida em cada gesto de John deixou Dana ainda mais excitada. Beijaram-se mais uma
vez, deixando que seus gestos falassem mais do que qualquer outra coisa.
— Deus, você me deixa louco... — sussurrou John, deslizando os lábios pela curva sensível do pescoço
de Dana.
Ela gemeu baixinho, virando-se lentamente para que ele abrisse a enorme carreira de botões de seu
vestido.
— Sempre achei que esse detalhe era cruel com o noivo — murmurou ele, com um sorriso, começando
a abri-los.
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Minutos depois, os dois já estavam nus e deitados novamente na cama. Dana nunca imaginara que fosse
tão natural ser despida pelo homem amado.
Quando deu por si, já estava nos braços de John, em meio àquela envolvente atmosfera romântica. Seus
corpos ansiavam pela chance de se tornarem um, mas o momento final deveria vir naturalmente, quando
ambos se procurassem com o máximo da paixão.
— Eu te amo, Dana.
As mãos firmes, mas carinhosas, percorriam seu corpo com lentidão, tocando-a nos lugares certos e
despertando-a para o amor. Mantendo-a sob a doce tortura da espera, John revelou-se um amante
maravilhoso, dosando cada carícia com uma dose de ousadia e de romantismo.
— Oh, John... Por favor...
Um sorriso de satisfação se insinuou nos lábios dele, ao ver Dana completamente rendida a seus braços
e ansiosa para que ele a possuísse.
Quando deitou sobre ela, ouviu Dana suspirar, demonstrando que estava pronta para recebê-lo.
Para ela, todas as dúvidas e receios haviam desaparecido. Restava apenas John, aquele que estava
prestes a transformá-la em uma mulher no sentido completo da palavra.
Por mais que a desejasse, em nenhum momento John deixou de demonstrar que se lembrava de que tudo
aquilo era novidade para Dana. E ela o amou ainda mais por isso.
Um gemido mais alto cortou o silêncio do quarto quando ele finalmente a possuiu, depois que Dana se
mostrou completamente pronta para ele.
Amaram-se com paixão e tranqüilidade ao mesmo tempo, com a certeza da felicidade a uni-los cada vez
mais. Por fim, quando o clímax os arrebatou a um mundo maravilhoso de sensações, Dana pensou que
fosse desmaiar de tanto prazer, mas o calor dos braços fortes do marido foi suficiente para mantê-la
consciente. John era um amante ainda mais maravilhoso do que ela imaginara. E seria só seu dali em diante.
Permaneceram abraçados durante um tempo que pareceu infinito, compartilhando uma agradável
languidez.

John estava olhando Dana dormir havia algum tempo quando o som dos leves gemidos de J. J. lhe
chegou aos ouvidos.
Despertando por completo, saiu da cama com cuidado para não acordar Dana e enrolou uma toalha na
cintura, antes de ir ao quarto do filho.
— Ei, olá, rapazinho — murmurou, inclinando-se sobre o berço.
A luz do aposento, que ele sempre deixava parcialmente iluminado, revelou que o bebê estava bem
acordado.
— Como estão as coisas por aqui? — perguntou a J.J. — Ganhei alguns pontos em nossa competição,
hein? — falou, dando o dedo indicador para o bebê brincar. — Mantive minha promessa, não mantive?
— E que promessa foi essa?
John se virou ao reconhecer a voz de Dana, vinda da porta. Ela estava descalça, vestida apenas com um
robe branco.
— Estamos tendo uma conversa de homem para homem — respondeu John, pegando o filho nos braços.
— Certo, parceiro?
— Isso não está me cheirando bem — disse Dana, fingindo desconfiança. — Estou correndo algum
risco que desconheço?
— Muitos — declarou John, inclinando-se para beijá-la. — Mas nada com que não consiga lidar.
J.J. demonstrou seu próprio gesto de aprovação, inclinando-se na direção dela para beijá-la no rosto,
como aprendera a fazer havia alguns dias.
Percebendo a escolha do filho, John reconheceu a derrota e o entregou a ela.
Então acompanhou a esposa e o filho até seu quarto, sentindo pela primeira vez, depois de muito tempo,
que sua vida estava realmente completa.

DICAS

O DÉCIMO-OITAVO MÊS

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Desenvolvimento motor e psicológico
Nesta fase a criança já anda a até corre com autonomia. Sente uma atração especial por
escadas ou por balanços e escorregadores. As mães nesta fase costumam ficar apreensivas com
os riscos que essas brincadeiras oferecem, mas com calma e atenção os perigos podem ser
evitados. Aos dezoitos meses, as crianças repetem quase tudo o que ouvem e passam a usar uma
só palavra no lugar de uma frase, como água querendo dizer: eu quero água. Aprende a montar
quebra-cabeças simples e reconhece fotos suas. A música continua sendo uma fonte de prazer
para a criança, que agora já consegue cantarolar junto com a melodia. Brincar com água é outra
atividade que deixa as crianças fascinadas e uma piscina plástica é um ótimo presente. É por
meio das brincadeiras que a criança fortalece a musculatura e aprende coisas com rapidez
espantosa.

Alimentação
A alimentação segue igual aos 15 meses. Mas os purês podem ir sendo substituídos
gradualmente por alimentos mais sólidos. Agora a criança já pode receber suflês de legumes ou
queijo. As saladas de legumes ou de verduras cruas começam a ser introduzidas na alimentação.
Grande fonte de vitaminas e minerais, elas podem fazer parte das duas principais refeições,
sempre acompanhadas de carne, ovo, ou queijo. Entretanto, para que o consumo de verduras seja
isento de perigos é preciso lavar as verduras em água corrente e deixá-las de molho por
aproximadamente 15 minutos em uma solução de água com 1 colher (sopa) de vinagre. Depois,
elas devem ser enxaguadas e só então servidas. Como tempero, apenas algumas gotas de suco de
limão. As carnes moídas agora já podem ser refogadas ou acrescidas de ovo, pão amanhecido e
temperos e grelhadas na forma de hambúrguer. Também é aos dezoitos meses que os
achocolatados começam a ser empregados na alimentação das crianças. Os legumes secos, como
ervilhas e lentilhas, levam mais tempo para serem digeridos e devem ser oferecidos, de
preferência, no horário do almoço.
Nota: Os refogados não são incluídos no cardápio infantil diariamente; o mais prudente é usá-
los dia sim, dia não.

Relação de quantidades mínimas que uma criança deve comer entre 15 meses e os 2
anos:
Leite: 1 copo (cerca de 220 ml) por dia.
Ovos: 1/2 ovo cozido, de duas a três vezes por semana.
Carnes em geral: 2-4 colheres (sopa) por dia.
Arroz, batatas ou massa: 3 colheres (sopa) por dia.
Verduras folhosas: 3 colheres (sopa) por dia.
Cenoura: 1/4 de cenoura por dia.
Suco de frutas cítricas (laranja, acerola, caju): 1 copo por dia.
Frutas (maçã, banana, pêra, mamão, caqui, pêssego): 1/2 fruta de tamanho médio. No caso do
abacate, 1/4 de uma fruta pequena.
Farinhas tipo maisena, fubá, aveia: 2 colheres (sopa) por dia.
Pudins, cremes, doces, bolos: 2 colheres (sopa) por dia.

CARDÁPIO I

. Desjejum
(6-7 horas)

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Creme de ricota com fruta-do-conde

. Lanche
(9-10 horas)

Suco de laranja, adoçado com o mínimo de açúcar possível.

. Almoço
(10-11 horas)

3 colheres (sopa) de arroz


2 colheres (sopa) de caldo de feijão
2-3 colheres (sopa) de suflê de milho
Salada de alface e tomate
Pudim de maçã com biscoito

. Lanche
(14-15 horas)

1 ovo cozido

. Jantar
(18-19 horas)

Sopa de couve-flor
2 colheres (sopa) de carne moída
Torrada
Banana crua

CARDÁPIO II

. Desjejum
(6-7 horas)

1/2 fatia de pão integral com geléia


de fruta Café com leite
Pêra crua

. Lanche
(9-10 horas)

Suco de cenoura, adoçado com um mínimo de açúcar possível

. Almoço
(10-11 horas)

3 colheres (sopa) de arroz


2 colheres (sopa) de peixe grelhado
2 colheres (sopa) de salada de legumes
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Gelatina

. Lanche
(14-15 horas)

Flocos de milho com leite

. Jantar
(18-19 horas)

2 colheres (sopa) de arroz


2 colheres (sopa) de caldo de feijão
2 colheres (sopa) de purê de cenoura
1 falso hambúrguer
Flan de laranja

CARDÁPIO III

. Desjejum
(6-7 horas)

Musse de abacate Biscoitos tipo Maria

. Lanche
(9-10 horas)

Suco de acerola
(com um mínimo de açúcar possível)

. Almoço
(10-11 horas)

3 colheres (sopa) de arroz


2 colheres (sopa) de caldo de feijão
2 colheres (sopa) de miolo cozido e
refogado com legumes Salada de alface e tomate Doce de leite

. Lanche
(14-15 horas)

Iogurte batido com fruta e adoçado


com mel Torrada Compota de pêra com creme de leite

. Jantar
(18-19 horas)

Sopa de legumes, verduras e massinha


2 colheres (sopa) de carne de galinha desfiada

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RECEITAS

Pão-de-ló

4 ovos
4 colheres (sopa) de açúcar
4 colheres de farinha de trigo
1 colher (chá) de fermento em pó

Bata as claras em neve, junte as gemas e bata bem. Peneire o açúcar, a farinha de trigo e o
fermento juntos, e vá integrando essa mistura aos ovos, delicadamente. Coloque a massa em uma
assadeira pequena, untada com margarina e polvilhada com farinha de trigo. Asse por cerca de
15-20 minutos. Retire antes de corar. Corte ao meio e recheie com doce de leite, goiabada ou
geléia de fruta. Deixe esfriar completamente antes de oferecer ao bebê.

Suflê de milho

2 colheres (sopa) de margarida


2 colheres (sopa) de farinha de trigo
1 colher (chá) de sal
1 xícara de leite
2 xícaras de milho verde escorrido
2 colheres (chá) de cebola ralada
3 ovos separados

Aqueça o forno. Unte uma fôrma com capacidade de 1 litro. Numa panela, derreta a
margarina e junte a farinha de trigo e o sal. Mexa bem. Vá acrescentando o leite sem parar de
mexer. Cozinhe lentamente durante 5 minutos, mexendo sempre, até que o molho engrosse.
Junte o milho e a cebola, retire do fogo e deixe esfriar um pouco. Acrescente as gemas bem ba-
tidas. Por último, adicione as claras batidas em neve. Despeje na fôrma preparada. Asse em forno
moderado durante 30-40 minutos.

Falso hambúrguer

250 g de carne moída


miolo de 1 pão francês umedecido com leite
1 colher (sobremesa) rasa de farinha de trigo
1 gema batida
1 pitada de sal
1 colher (chá) de cebola ralada
1/2 colher (chá) de alho esmagado (opcional)

Junte todos os ingredientes e misture bem, amassando com as mãos. Se for preciso, adicione
um pouco mais de farinha de trigo, até dar "liga" na massa. Em seguida, molde pequenos discos
com a massa, como se fossem mini-hambúrgueres. Embrulhe-os separadamente em filme
plástico e congele. Sirva-os fritos ou grelhados.

Cuidados para evitar acidentes


Mesmo os animais de estimação que estão acostumados a conviver com crianças, se
provocados podem se enfurecer e morder ou arranhá-las. E preciso ficar atento e alertar as
crianças para não agir com os animais vivos como se estivessem lidando com seus bichos de
brinquedos.

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Notas gerais
• A disciplina começa a ser ensinada à criança. Entretanto, esse é um processo lento e difícil,
que só começará a surtir efeitos depois dos dois anos. Agora, os pais devem se contentar com
ensinamentos como "obrigado" e "desculpe" repetidos em ocasiões oportunas, que acabarão
sendo imitados pela criança.
As moleiras, agora, já devem estar fechadas. Basta passar a mão sobre o local onde elas
existiam para se perceber que os ossos estão completamente soldados.
Desde os seis meses de idade, a criança já tem pesadelos, mas eles passam a ocorrer com
mais freqüência dos 15 meses em diante. Isso porque a criança, até aos quatro anos de vida, não
consegue distinguir direito entre o que é realidade e o que é fantasia. E nem sempre acender as
luzes e explicar que ela teve um pesadelo irá ajudá-la a se acalmar. Mesmo que volte a dormir, a
criança poderá ter pesadelos novamente. O melhor a fazer é entrar na fantasia que ela criou e
eliminar bichos-papões ou monstros, "expulsando-os" de casa.

O sono do bebê
Idade: 15 aos 18 meses
Diurno: 2 horas logo após o almoço
Noturno: 10-12 horas

O desenvolvimento do bebê
182MÊS MENINOS MENINAS
COMPLETO
Peso 10,8-11,3 kg 10,6-10,8 kg
Estatura 80 cm 79 cm
Perímetro cefálico 48,5 cm 47,5 cm
Perímetro toráxico 49,5 cm 48,5 cm
Aumento mensal 200 g 200 g

Dentição
Dezesseis dentes: 2 incisivos medianos inferiores, 2 superiores; 2 incisivos laterais superiores
e 2 inferiores; 2 molares superiores e 2 molares inferiores; 2 caninos superiores e 2 inferiores.

Nessa fase começam a surgir os molares e os caninos. As crianças costumam ficar mais
irritadiças e salivam muito. A inapetência cresce e a criança manifesta mal-estar geral.
O que pode ajudar a melhorar o incômodo é passar a cada 2 horas, com um algodão, o
seguinte preparado: um comprimido de analgésico dissolvido em um copo de água filtrada e
fervida.

HELEN R. MYERS satisfaz sua preferência por uma vida mais tranqüila vivendo em meio a
uma floresta de pinheiros, a leste do Texas, com o marido, Robert. Escrever tem sido a
realização de um antigo sonho, e dar um teor diferente a cada nova história uma eterna ambição.
Assumidamente inquieta, considera esse lado de sua personalidade como algo benéfico em seu

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trabalho. Segundo ela mesma costuma dizer: "Essa minha inquietação me faz estar sempre ex-
plorando novos territórios e novas experiências dentro dos romances".

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