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TEMA: DIREITOS HUMNOS PARA NÃO-HUMANOS

SABE-SE QUE O DIREITO BRASILEIRO CONSIDERA OS ANIMAIS COMO


“BENS DE USO COMUM DO POVO”. JUSTIFIQUE A ASSRTIVA E EXPLIQUE O
SIGNIFICADO DE BENS DE USO COMUM DO POVO.
“Bens de uso comum do povo” é uma expressão empregado pela Constituição Federal
no caput do seu artigo 225. Uma vez que a Constituição Federal, considerada a norma de
maior hierarquia do ordenamento jurídico, emprega tal expressão para positivar os direitos
dos animais não-humanos, é importante, nesse sentido, fazer uma análise profunda de tal
termo, além de demonstrar qual a real intensão do legislador constituinte ao considerar os
animais como bens comum do povo.
Em uma primeira análise, cabe analisar a expressão bens, e o que esse instituto é para
o direito. Consoante, Carlos Roberto Gonçalves, “coisa é o gênero da qual bem é a espécie,
tudo aquilo que existe objetivamente, com a exclusão do homem” (p.19, 2014). Nesse sentido,
bem seria tudo aquilo que é patrimonial e pode ser apropriado pelo homem. A passo que a
Constituição trata os animais não-humanos como bens, ela está atribuindo a eles a faculdade
de ser propriedade, um instituto jurídico que pode objeto de relações jurídicas.
Nesse tocante, é preocupante, em um primeiro momento essa denominação
empregada pelo legislador constituinte, ao passo que ao designar os animais não-humanos
como bens, afasta, claramente, a presença de direitos subjetivos a tais seres, diante de uma
concepção antropocêntrica. Essa concepção, como bem colaciona Bastos, “predomina um
elevado grau de antropocentrismo ou, para alguns, na visão da relação entre nós, humanos, e
referidos animais, visão esta que predominou na elaboração da Constituição da República,
cujo texto considera a fauna como um “bem de uso comum do povo” (p. 41, 2018).
Dessa forma, uma vez que, sendo os animais considerados como objeto, eles são
excluídos de qualquer direito subjetivo, como uma justificativa, a de que o direito brasileiro
somente atribui às questões de dignidade, bem como direitos subjetivos apenas aos humanos,
já que que os animais não são capazes de assumir obrigações, sendo considerados, portanto,
como coisa.
Muito embora os animais não-humanos sejam considerados como coisa, objeto ou
propriedade, cabe analisar um aspecto importante, a justificava de eles serem usados bens
comuns do povo. Nesse sentido, cabe analisar o aspecto histórico da propriedade, uma vez
que isso influenciará em tal expressão. Segundo Carlos Roberto Gonçalves, “a concepção da
propriedade foi marcada, inicialmente, pelo aspecto nitidamente individualista”, isto é, a
propriedade era um instituto extremamente absoluto a quem o detinha, nem mesmo o Estado
poderia ser intervir por ser considerado um direito fundamental, apesar de na época não existir
tal expressão, mas significava que ninguém poderia intervir em tal direito, ele era absoluto
contra todos.
Com a evolução histórica de tal instituto, e voltando a uma concepção mais garantista,
o instituto da propriedade foi modificado. Hodiernamente, atribui-se a tal instituto uma
finalidade específica que é a observância do princípio da função social da propriedade, em
que a finalidade de toda posse e propriedade é cumprir uma finalidade social e econômica,
essa que está expressamente disposta no Artigo 5º, inciso XXIII da Constituição Federal,
entre os títulos dos Direitos e Garantias Fundamentais. Dessa forma, percebe-se que a
propriedade passou de uma concepção meramente patrimonial e privado para uma concepção
extrapatrimonial e pública, tendo implicações diretas na concepção de direitos dos animais
não-humanos.
Dessa forma, percebe-se que ao atribuir aos animais não-humanos um caráter
patrimonial, está se buscando objetivar direitos em uma justificativa socioeconomica.
Consoante Silveira, no curso da evolução do instituto jurídico da propriedade, o conceito
coisa vem sido transformado, passando de um viés essencialmente privado e passando a uma
abordagem de função social, nela incluso os valores ambientais (p.232, 2008). Diante disso,
na justificativa de que os animais possuem uma função socioecológica, que o tratamento
ofertado pela Constituição atribui ao mesmo um aspecto bens de uso comum.
É pelo fato de os animais constituírem-se como bens de uso comum e desempenharem
uma função socioecológica que cabe aplicar o princípio da proporcionalidade nos seguintes
aspectos: somente se pode servir dos animais não-humanos se
1) Se houver interesse público que autorize essa prática, em nome dos interesses difusos
e do próprio direito ao meio ambiente equilibrado;
2) Se for assegurado o desenvolvimento sustentável efetivo e sem incertezas científicas
que ponham em risco a espécie animal ou vegetal ou que constitua ameaça à saúde
humana
3) Se tal atividade, ainda considerada uma manifestação cultural, não constitua ato cruel,
conceitos que não são interdependentes
4) Se tal atividade não viola a dignidade humana, e não privilegia o interesse privado em
prejuízo do interesse público, sobretudo se, de alguma forma, direta ou indireta,
ocasione perigo abstrato ou conceito de dano ambiental.
Destarte, o termo empregado na Constituição Federal em um primeiro momento
conjectura um tratamento como bens, isto é, os animais não possuem direitos subjetivos ou
até mesmo intrínsecos, uma vez que não são dotados de capacidade para assumir obrigações,
sendo, portanto, tratados como bens, propriedade ou coisa. Em um segundo momento, os
animais são tratados como uso comum, uma vez que eles possuem uma função
socioecológica, e, nesse viés, é dever de todos, sociedade e Estado, na justificativa de
preservá-los para as futuras gerações.
Contudo, a par da interpretação conceitual sobre os direitos dos animais não-humanos
no direito brasileiro, em especial a Constituição Federal, é possível inferir do ordenamento
jurídico, que apesar de atribuir certos direitos aos mesmos, como a vedação á tortura e a
crueldade, questões de direitos fundamentais não são garantidos aos animais, mas os direitos
concedido a eles são justificados em face de um de toda uma cultura antropocêntrica, já que
esses direitos são defendidos em prol da coletividade, cujo direito é a um meio ambiente
equilibrado.

É PRECISO ALTERAR A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA PARA QUE OS ANIMAIS


POSSAM SER CONSIDERADOS SUJEITOS DE DIREITOS?
Como outrora discutido, a Constituição Federal considera os animais não-humanos são
“bens de uso comum do povo”, e, por conseguinte, oferta tratamento jurídico antropocêntrico,
uma vez que os animais não possuem direitos subjetivos, mas direitos que são voltados a uma
função socioecológico.
Nesse viés, uma vez que não há um tratamento aos animais que conferem direitos
subjetivos, é necessário alterar a constituição a fim de que os mesmos possam alcançar
direitos subjetivos? A primeira resposta é sim, todavia, cabe justificar em que medida seria
feita essa alteração e qual a justificativa. Nesse sentido, é necessário inicialmente identificar
se há algum tratamento ofertado aos animais não-humanos, como esse tratamento é ofertado e
se ele é suficiente.
Segundo Rodrigues (p.205, 2011), existem três concepções basilares sobre os direitos
dos animais, quais sejam: conservadores, os reformistas e os abolicionistas. Os conservadores
são defensores da concepção que os animais não-humanos não são sujeitos de direitos e, por
conseguinte, não deveria haver qualquer mudança de atitude para com os mesmos.
Os reformistas são fundamentada nas teorias filosóficas de Peter Singer, inspirado em
Jeremy Benthan, são defensores da ideia de bem-estar dos animais com base no princípio da
igual consideração, conforme Bastos: “O princípio básico da igualdade não requer tratamento
idêntico, mas sim igual consideração por seres diferentes pode levar a tratamentos e direitos
distintos” (p.50, 2018), insto é, esses valores são fundados no “respeito, bem-estar, valor
intrínseco, compaixão, sensibilidade ao sofrimento, inteligência” (RODRIGUES, p.205,
2011). Todavia, esses valores não estariam fundamentados em valores éticos, não em
argumentos de direitos.
Nessa linha teórica se prioriza o tratamento humanitário e a eliminação de qualquer
sofrimento. Nesse aspecto, poder-se-ia defender que os humanos pudesses se utilizar dos
animais, visto que eles são considerados para alcançar objetivos humanos, como bem coloca
Danielle Rodrigues:
Protege-se o bem-estar dos animais desde que exista certa precaução
relacionada a regulamentação da exploração dos não-humanos, vez que são
considerados como meios para alcançar os fins humanos e, com isso,
passíveis de serem apropriados pelo homem e considerados como coisas ou
objetos. Justamente por isso os não-humanos, poderiam ser usados em
pesquisas científicas em prol de um bem maior, que seria o bem da
humanidade (p.206, 2011).
Dito isso, reconhece que os valores morais que os animais possuem, sobretudo a
vedação a crueldade, porem não se reconhece os direito subjetivos e, dessa forma, defende o
uso dos não-humanos para recursos humanos enquanto finalidade aos humanos, desde que
tenha proteção quanto a exploração do não-humano.
Os abolicionistas, considerado os mais radicais, são defensores do ideal de que deve
cessar toda e qualquer forma de uso dos animais não humanos, por considerar eles sujeitos de
direitos (RODRIGUES, p.206, 2011). Nesse sentido, os direito que são defendidos nessa
concepção, diferente dos reformistas que defendem direitos morais, esses asseguram direitos
subjetivos, uma vez que são considerados aos animais uma extensão dos direitos
fundamentais. Seu maior defensor é Tom Regan, que assevera: “os não-humanos possuem os
mesmos direitos de experimentar os direitos do viver, já que são sujeitos-de-uma-vida”
(1983). Dessa forma, são assegurados a eles direitos fundamentais básicos como a vida,
igualdade, liberdade, e até mesmo a propriedade.
Na Constituição Federal, adota-se, claramente, a concepção reformista, uma vez que se
busca proteger em certa medida os animais não-humanos, enquanto exploração de seus
recursos pelos humanos. Todavia, entende-se que tal proteção ainda é rasa e necessita ser
melhor elaborada, quanto aos direitos dos mesmos. Se considerarmos que os animais não-
humanos são possuidores de direito, ainda que com base em valores morais em uma
moralidade institucional, uma vez que outrora fora discutido, segundo principalmente a teoria
da de Peter Singer, em que considera a capacidade de “sentir dor” o elo para que os animais
possam adquirir direitos tendo em vista o princípio da igual consideração (BASTOS, p.50,
2017), é necessário, portanto, que esse tratamento seja ofertado pela Constituição, pelo fato
desta ser a norma de maior hierarquia em nosso ordenamento jurídico e que dela emanam
todas as outras lei.
Nesse sentido, a principal mudança jurídica é a mudança no tratamento da noção de
crueldade.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público:
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas
que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a
extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
A Constituição assevera como uma das formas de assegurar ao ambiente equilibrado,
isto é, a função socioecológica, é vedando a submissão dos animais à crueldade. Todavia, a
vedação à crueldade ou a violência ainda é muito incipiente e não consegue se materializar na
realidade, fato é que a vedação a crueldade não consegue alcançar contornos fáticos suficiente
a proteger os direitos dos não-humanos. Nesse tocante, segundo Silveira, é uma vedação a
crueldade no âmbito simbólico, já que a vedação a crueldade é confundida e está subordinada
à função ecológica, ou seja, há uma relação se esses animais estão ou não ameaçados de
extinção pelo seu uso (p.234, 2008). Na medida em que protege apenas alguns animais, seja
porque estão sendo ameaçados de extinção, seja porque os humanos se simpatizam mais com
alguns animais do que outros, faz com que esse direito não seja realmente efetivado.
Diante disso, tendo em vista que a concepção reformista não assegura realmente uma
proteção efetiva dos direitos dos animais, é necessário, sim alterar a constituição. Não
obstante, já que se deve alterar a Constituição, qual a medida dessa alteração? Em um
primeiro aspecto, já que os animais não-humanos são considerados “bens de uso comum do
povo”, e em se tratando isso são considerados como propriedade que cumpre uma função
social, elencados dentro do rol de direitos e garantias fundamentais e, por conseguinte,
cláusula pétrea, essa alteração não poderá ser reducionista, mas, sim, uma alteração que vise
agregar mais direitos aos animais, além desses que eles já possuem.
Cabe, então, salientar a importância da concepção abolicionistas, uma vez que apenas
atribuir a vedação a crueldade, que como já exposto é simbólica, no sentido de garantir bem-
estar aos animais apenas aos que convém e, por outro lado, utilizar-se de outros animais sem
garantir os direitos previstos na constituição. Nesse tocante, é mister atribuir mais direitos, ou
seja, os direitos que são defendidos na concepção abolicionista, de que os animais possuem
direitos subjetivos e esses devem ser assegurados, sobretudo o direito à vida.
Portanto, a alteração constitucional tem que assegurar não uma vedação à crueldade
simbólica, mas concreta, em que ela não esteja subordinada a quantidade de animais
existentes, já que a crueldade não está relacionada ao indivíduo ser ou não sujeito de direito.
O fato de os animais não-humanos serem considerados bens de uso comum, não significa uso
ilimitado de poderes (SILVEIRA, p.234, 2008). Outrossim, é mister que paralelo a esse
direito, é fundamental assegurar direitos subjetivos, sobretudo a vida.
Essa visão da crueldade implica na visão de muitos aspectos, entre eles na
interpretação do texto constitucional pelo judiciário, como se poderá ver nos casos a seguir.

1º CASO CONCRETO

STF declara constitucionalidade da Lei nº 12.131/04 que permite sacrifício de animais


em rituais religiosos

O Supremo Tribunal Federal (STF) compreendeu que a lei do Rio Grande do Sul que
permite o sacrifício de animais em ritos religiosos é constitucional, por meio do julgamento
do Recurso Extraordinário (RE) 494601, o qual se questionava a validade da Lei estadual
12.131/2004, conforme a decisão abaixo:

Decisão: O Tribunal, por maioria, negou provimento ao recurso extraordinário, nos


termos do voto do Ministro Edson Fachin, Redator para o acórdão, vencidos, em parte,
os Ministros Marco Aurélio (Relator), Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, que
também admitiam a constitucionalidade da lei, dando-lhe interpretação conforme. Em
seguida, por maioria, fixou-se a seguinte tese: “É constitucional a lei de proteção animal
que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em
cultos de religiões de matriz africana”, vencido o Ministro Marco Aurélio. Não
participaram da fixação da tese os Ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.
Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de Mello. Presidência do Ministro Dias
Toffoli. Plenário, 28.03.2019.

O recurso foi interposto pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) contra
decisão do Tribunal de Justiça estadual (TJ-RS), o qual negou pedido de declaração de
inconstitucionalidade da Lei estadual 12.131/2004.

A Lei nº 12.131/04 publicada em 23 de julho de 2004 pretende autorizar, no Estado do


Rio Grande do Sul, o sacrifício de animais em rituais religiosos, com argumento de garantir o
pleno exercício das liberdades religiosas. Assim como o Decreto nº 43.252 publicado na
mesma data.

A Lei Estadual nº 12.131/04 estabelece o seguinte:

"Fica acrescentado parágrafo único ao artigo 2º da Lei nº 11.915, de 21 de maio


de 2003, que institui o Código Estadual de Proteção dos Animais, no âmbito do
Estado do Rio Grande do Sul, com a seguinte redação:

Art. 2º ........ Parágrafo único - Não se enquadra nessa vedação o livre exercício
dos cultos e liturgias de matriz africana".

Já na mesma data, regulamentando a alteração promovida pela Lei nº 12.131/04, foi


publicado o Decreto nº 43.252, estabelecendo, em seu artigo 3º, o seguinte:

"Para o exercício de cultos religiosos cuja liturgia provém de


religiões de matriz africana, somente poderão ser utilizados
animais destinados à alimentação humana, sem a utilização de
recursos de crueldade para a sua morte".

A norma introduziu dispositivo no Código Estadual de Proteção aos Animais (Lei


11.915/2003), o qual veda diversos tratamentos considerados cruéis aos animais, para afastar
a proibição no caso de sacrifício ritual em cultos e liturgias das religiões de matriz africana.
No STF, entre outros argumentos, o MP-RS sustentou que a lei estadual trata de matéria de
competência privativa da União, além de restringir a exceção às religiões de matriz africana.

O relator do caso, o ministro Marco Aurélio, votou no sentido de dar interpretação da


Constituição à lei estadual para fixar a constitucionalidade do sacrifício de animais em ritos
religiosos sendo vedada a prática de maus-tratos no ritual e condicionado o abate ao consumo
da carne.
Em seguida, o ministro Edson Fachin reconheceu a total validade do texto legal e votou
pelo desprovimento do RE. Segundo o ministro, a menção específica às religiões de matriz
africana não apresenta inconstitucionalidade, uma vez que a utilização de animais é de fato
intrínseca a esses cultos e deverá ser destinada uma proteção legal, uma vez que são objeto de
estigmatização e preconceito estrutural da sociedade.

O ministro Alexandre de Moraes em seu voto-vista decidiu pelo provimento parcial do


recurso, conferindo à lei do Rio Grande do Sul interpretação conforme a Constituição para
declarar a constitucionalidade de todos os ritos religiosos que realizem a sacralização com
abates de animais, afastando maus-tratos e tortura. Assim como no mesmo sentido votou o
ministro Gilmar Mendes.

Dando continuidade, o ministro Luís Roberto Barroso ressaltou que, de acordo com a
tradição e as normas das religiões de matriz africana, não se admite nenhum tipo de crueldade
com o animal e são empregados procedimentos e técnicas para que sua morte seja rápida e
indolor. Além disso, o ministro destacou que, como regra, o abate não produz desperdício de
alimento, pois a proteína animal é servida como alimento tanto para os deuses quanto para os
devotos e, muitas vezes, para as famílias de baixo poder aquisitivo localizadas no entorno dos
terreiros ou casas de culto.

A ministra Rosa Weber também negou provimento ao RE, pois entendeu que a ressalva
específica quanto às religiões de matriz africana está diretamente vinculada à intolerância, ao
preconceito e ao fato de as religiões afro serem estigmatizadas em seus rituais de abate.

Já o ministro Luiz Fux, considerou a norma constitucional, pois o mesmo afirmou que
este é o momento próprio para o Direito afirmar que não há nenhuma ilegalidade no culto e
liturgias.

Da mesma forma, a ministra Cármen Lúcia considerou que a referência específica às


religiões de matriz africana visa combater o preconceito que existe na sociedade e que não se
dá apenas em relação aos cultos, mas às pessoas de descendência africana.

O presidente do STF, ministro Dias Toffoli, registrou que todos os votos foram proferidos
no sentido de admitir o sacrifício de animais nos ritos religiosos e observou que as
divergências dizem respeito ao ponto de vista técnico-formal, relacionado à interpretação
conforme a Constituição da lei questionada. O Plenário negou provimento ao RE, vencidos
parcialmente o ministro Marco Aurélio (relator), Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, que
admitiam a constitucionalidade da lei dando interpretação conforme. Durante o
julgamento, entidades defenderam a liberdade de culto e afirmaram que as religiões de matriz
africana são alvo de preconceitos, que abrem caminho para a intolerância religiosa.

2º CASO CONCRETO

STF julga inconstitucional da lei cearense que regulamenta vaquejada

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou procedente a Ação Direta de


Inconstitucionalidade (ADI) 4983, ajuizada pelo procurador-geral da República contra a Lei
15.299/2013, do Estado do Ceará, que regulamenta a vaquejada como prática desportiva e
cultural no estado. Ante a norma realizada no Ceará, o tribunal constitucional foi chamado a
atuar para descrever a inconstitucionalidade desta norma, onde se alegou que norma feria aos
princípios constitucionais que versam sobre a proteção ao meio ambiente, já que importava na
ofensa ao direito dos animais e da fauna como um todo e o seu equilíbrio, posto que tal prática
cultural importa na utilização de bovinos para a sua ocorrência.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – LIMINAR – JULGAMENTO


DEFINITIVO. 1. Esta ação direta de inconstitucionalidade tem como objeto a Lei nº
15.299, de 8 de janeiro de 2013, do Estado do Ceará, que regulamenta a “ vaquejada”
como prática desportiva e cultural. A racionalidade própria ao Direito direciona a
aguardar-se o julgamento definitivo. 2. Aciono o disposto no artigo 12 da Lei nº 9.868/99.
Providenciem as informações, a manifestação do Advogado-Geral da União e o parecer
do Procurador-Geral da República. 3. Publiquem.Brasília, 27 de julho de 2013.Ministro
MARÇO AURÉLIORelator (STF - ADI: 4983 CE, Relator: Min. MARCO AURÉLIO,
Data de Julgamento: 27/07/2013, Data de Publicação: DJe-150 DIVULG 02/08/2013
PUBLIC 05/08/2013).

O relator, ministro Marco Aurélio, afirmou que laudos técnicos contidos no processo
demonstram consequências nocivas à saúde dos animais, assim como também os cavalos, de
acordo com os laudos, sofrem lesões. Para o relator, o sentido da expressão “crueldade”
constante no inciso VII do parágrafo 1º do artigo 225 da Constituição Federal alcança a
tortura e os maus-tratos infringidos aos bois durante a prática da vaquejada. Assim, o ministro
afirmou que é “intolerável a conduta humana autorizada pela norma estadual atacada”.

O ministro Edson Fachin divergiu do relator e votou pela improcedência da ação, pois
para ele, a vaquejada consiste em manifestação cultural, o que foi reconhecido pela própria
Procuradoria Geral da República na petição inicial. Esse entendimento foi seguido também
pelo ministro Gilmar Mendes. Já na outra sessão de 2 de junho de 2016, os ministros Luís
Roberto Barroso, Rosa Weber e Celso de Mello seguiram o relator. Porém, os ministros Teori
Zavascki e Luiz Fux seguiram a divergência, no sentido da validade da lei estadual.

O julgamento foi retomado na sessão de 6 de junho de 2016, com a apresentação do voto-


vista do ministro Dias Toffoli, favorável à constitucionalidade da lei cearense, pois ele
entendeu que a norma não atenta contra nenhum dispositivo da Constituição Federal.

Já na sessão de 6 de outubro de 2016, também votaram os ministros Ricardo


Lewandowski, e a presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, ambos pela procedência da
ação. Portanto, o Supremo analisou a questão sob o ponto de que esta norma visava preservar
o patrimônio cultural deste tipo de prática, sendo o que se alegou na defesa da norma pela
necessidade de preservação da plenitude do exercício dos direitos culturais, importando na
presença de uma colisão de temas constitucionalmente resguardados. A decisão final do
julgamento importou na utilização do argumento de que na ponderação entre estes direitos em
colisão, necessária a aplicação na espécie da norma protetora do meio ambiente, para
salvaguarda dos animais envolvidos neste tipo de prática lesiva, já que o direito cultural não
deve se sobrepor à defesa do meio ambiente e dos animais envolvidos, que não podem sofrer
maus tratos físicos para que o ser humano promova a sua expressão cultural.

Quanto a questão dos limites às manifestações culturais prevaleceu o entendimento


de que se afaste toda e qualquer prática que exponha e trate inadequadamente os animais,
ainda que sob o pretexto de ocorrer dentro de um contexto cultural ou esportivo. Sendo assim,
foi pedido uma medida cautelar que suspenda a eficácia da Lei nº 15.299/2013 do Estado do
Ceará.

RELACIONE TODAS AS DIVERSAS MATÉRIAS JORNALÍSTICAS


DISPONIBILIZADAS PARA LEITURA, USANDO-AS PARA OFERTAR POSIÇÕES
SE O TRATAMENTO OFERTADO AOS ANIMAIS NÃO HUMANOS, NA PRÁTICA
É COMPATÍVEL COM

ALGUNS CASOS:
I) MAUS TRATOS NAS INDÚSTRIAS DE PRODUÇÃO DE CARNE:
Segundo dados do IBGE, em 2014 foram abatidos 5,496 bilhões de frangos;
37,118 milhões de suínos e 33,907 milhões de bovinos, além de outras espécies de
aves, roedores, cavalos e ovinos (OLIVEIRA, L.I Paula, 2016).
II) No 1º trimestre de 2018, foram abatidas 7,72 milhões de cabeças de bovinos
(AGÊNCIA IBGE NOTÍCIAS, 2018).
III) PRODUÇÃO DE CARNE DE VILETA:
Este procedimento consiste em criar um bezerro desde o seu nascimento em um
local fechado, sendo entupido de comida e sem poder andar, procedimento que faz
seus músculos não se desenvolverem, assim, a carne fica mais macia.
IV) VAQUEJADAS:
Do momento em que o boi vê a porta se abrindo e sai em disparada pela pista de
areia até aquele em que é puxado pelo rabo e cai numa faixa demarcada, não se
passam nem 15 segundos. Nesse tempo, ele é perseguido por dois vaqueiros, cada
um em seu cavalo, correndo emparelhados ao bovino para evitar que ele escape.
A) O TRATAMENTO OFERTADO EM OUTROS PAÍSES;
A discussão sobre os direitos dos animais não-humanos é um tema global, fato que isso
levou a alterações legislativas em vários países, principalmente na Europa e nos Estados
Unidos. Na Áustria, em 1988 o seu Código Civil foi alterado no artigo 285 no sentido de que
“os animais não são objetos, são protegidos por leis especiais e as leis que dispuserem sobre
objetos não se aplicam aos animais exceto se houver disposição em contrário”. Na França, em
2015, o tratamento do Código civil foi considerado o mais incisivo, uma vez que considerou
os animais como: “seres vivos dotados de sensibilidade”. (MARCEDO, 2016)
A Alemanha, em um papel significativo nessa discussão, em 2022, promulgou a Lei
Fundamental de proteção aos animais, com um marco significativo, visto que foi o primeiro
país a inserir em sua constituição a proteção aos animais, e não abrange somente aos animais
vertebrados, mas todas as espécies de animais (CASPAR; GEISSEN, p. 474 e 476, 2008). Os
Estados Unidos, em 2001 na sua corte suprema, vigorava a ideia de que os animais são
sujeitos de direito. (RODRIGUES, p.198, 2011)
Dessa forma, a partir dos casos emblemáticos que acontece no Brasil e tendo em vista o
tratamento oferecido por outros países, percebe-se que o Brasil ainda está muito longe de
reconhecer e, sobretudo, efetivar os direitos subjetivo dos animais, seja porque a constituição
ainda os trata como propriedade dos homens, que mesmo dando uma função social, sabe-se
que isso não se aplica a todos os animais.
B) O TRATAMENTO OFERTADO POR NOSSA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA.
Observando-se os casos concretos e relacionado eles a questão constitucional, percebe-se
que o tratamento constitucional difere do tratamento ofertado pela constituição, mais uma vez
ratificado. Em muitos dos casos que são questões polêmicas sobre o direito dos animais não-
humanos, é possível perceber que, no mínimo dos direitos, como o direito a não tortura e a
crueldade não é aplicado, enquanto garantia constitucional, o que já é problemático, pois, até
o momento, tem-se uma Constituição que não abarca os direitos subjetivo dos animais, apenas
atribuem a eles um direito em razão da sua função socioeconômica e, sem nem isso é
alcançado, pode-se dizer que há de fato uma situação considerável de violação de direitos.
Nos casos em questão há claramente a lesão de direitos, sobretudo no que tange a
crueldade, que ainda é presente em muitos casos, o que configura que a atual proteção que se
dá aos animais não-humanos ainda é muito falha e necessita ser mais protetiva. Reconhecer
que os animais possuem direitos, ainda que não sejam os mesmos dos humanos, mas como
Peter Singner especifica, os direitos devem seguir as suas necessidades específicas, a igual
consideração.

REFERÊNCIAS
SILVEIRA, Patrícia Azevedo. AniMENOS: a condição dos animais no direito Brasileiro

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