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1º CASO CONCRETO
O Supremo Tribunal Federal (STF) compreendeu que a lei do Rio Grande do Sul que
permite o sacrifício de animais em ritos religiosos é constitucional, por meio do julgamento
do Recurso Extraordinário (RE) 494601, o qual se questionava a validade da Lei estadual
12.131/2004, conforme a decisão abaixo:
O recurso foi interposto pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) contra
decisão do Tribunal de Justiça estadual (TJ-RS), o qual negou pedido de declaração de
inconstitucionalidade da Lei estadual 12.131/2004.
Art. 2º ........ Parágrafo único - Não se enquadra nessa vedação o livre exercício
dos cultos e liturgias de matriz africana".
Dando continuidade, o ministro Luís Roberto Barroso ressaltou que, de acordo com a
tradição e as normas das religiões de matriz africana, não se admite nenhum tipo de crueldade
com o animal e são empregados procedimentos e técnicas para que sua morte seja rápida e
indolor. Além disso, o ministro destacou que, como regra, o abate não produz desperdício de
alimento, pois a proteína animal é servida como alimento tanto para os deuses quanto para os
devotos e, muitas vezes, para as famílias de baixo poder aquisitivo localizadas no entorno dos
terreiros ou casas de culto.
A ministra Rosa Weber também negou provimento ao RE, pois entendeu que a ressalva
específica quanto às religiões de matriz africana está diretamente vinculada à intolerância, ao
preconceito e ao fato de as religiões afro serem estigmatizadas em seus rituais de abate.
Já o ministro Luiz Fux, considerou a norma constitucional, pois o mesmo afirmou que
este é o momento próprio para o Direito afirmar que não há nenhuma ilegalidade no culto e
liturgias.
O presidente do STF, ministro Dias Toffoli, registrou que todos os votos foram proferidos
no sentido de admitir o sacrifício de animais nos ritos religiosos e observou que as
divergências dizem respeito ao ponto de vista técnico-formal, relacionado à interpretação
conforme a Constituição da lei questionada. O Plenário negou provimento ao RE, vencidos
parcialmente o ministro Marco Aurélio (relator), Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, que
admitiam a constitucionalidade da lei dando interpretação conforme. Durante o
julgamento, entidades defenderam a liberdade de culto e afirmaram que as religiões de matriz
africana são alvo de preconceitos, que abrem caminho para a intolerância religiosa.
2º CASO CONCRETO
O relator, ministro Marco Aurélio, afirmou que laudos técnicos contidos no processo
demonstram consequências nocivas à saúde dos animais, assim como também os cavalos, de
acordo com os laudos, sofrem lesões. Para o relator, o sentido da expressão “crueldade”
constante no inciso VII do parágrafo 1º do artigo 225 da Constituição Federal alcança a
tortura e os maus-tratos infringidos aos bois durante a prática da vaquejada. Assim, o ministro
afirmou que é “intolerável a conduta humana autorizada pela norma estadual atacada”.
O ministro Edson Fachin divergiu do relator e votou pela improcedência da ação, pois
para ele, a vaquejada consiste em manifestação cultural, o que foi reconhecido pela própria
Procuradoria Geral da República na petição inicial. Esse entendimento foi seguido também
pelo ministro Gilmar Mendes. Já na outra sessão de 2 de junho de 2016, os ministros Luís
Roberto Barroso, Rosa Weber e Celso de Mello seguiram o relator. Porém, os ministros Teori
Zavascki e Luiz Fux seguiram a divergência, no sentido da validade da lei estadual.
ALGUNS CASOS:
I) MAUS TRATOS NAS INDÚSTRIAS DE PRODUÇÃO DE CARNE:
Segundo dados do IBGE, em 2014 foram abatidos 5,496 bilhões de frangos;
37,118 milhões de suínos e 33,907 milhões de bovinos, além de outras espécies de
aves, roedores, cavalos e ovinos (OLIVEIRA, L.I Paula, 2016).
II) No 1º trimestre de 2018, foram abatidas 7,72 milhões de cabeças de bovinos
(AGÊNCIA IBGE NOTÍCIAS, 2018).
III) PRODUÇÃO DE CARNE DE VILETA:
Este procedimento consiste em criar um bezerro desde o seu nascimento em um
local fechado, sendo entupido de comida e sem poder andar, procedimento que faz
seus músculos não se desenvolverem, assim, a carne fica mais macia.
IV) VAQUEJADAS:
Do momento em que o boi vê a porta se abrindo e sai em disparada pela pista de
areia até aquele em que é puxado pelo rabo e cai numa faixa demarcada, não se
passam nem 15 segundos. Nesse tempo, ele é perseguido por dois vaqueiros, cada
um em seu cavalo, correndo emparelhados ao bovino para evitar que ele escape.
A) O TRATAMENTO OFERTADO EM OUTROS PAÍSES;
A discussão sobre os direitos dos animais não-humanos é um tema global, fato que isso
levou a alterações legislativas em vários países, principalmente na Europa e nos Estados
Unidos. Na Áustria, em 1988 o seu Código Civil foi alterado no artigo 285 no sentido de que
“os animais não são objetos, são protegidos por leis especiais e as leis que dispuserem sobre
objetos não se aplicam aos animais exceto se houver disposição em contrário”. Na França, em
2015, o tratamento do Código civil foi considerado o mais incisivo, uma vez que considerou
os animais como: “seres vivos dotados de sensibilidade”. (MARCEDO, 2016)
A Alemanha, em um papel significativo nessa discussão, em 2022, promulgou a Lei
Fundamental de proteção aos animais, com um marco significativo, visto que foi o primeiro
país a inserir em sua constituição a proteção aos animais, e não abrange somente aos animais
vertebrados, mas todas as espécies de animais (CASPAR; GEISSEN, p. 474 e 476, 2008). Os
Estados Unidos, em 2001 na sua corte suprema, vigorava a ideia de que os animais são
sujeitos de direito. (RODRIGUES, p.198, 2011)
Dessa forma, a partir dos casos emblemáticos que acontece no Brasil e tendo em vista o
tratamento oferecido por outros países, percebe-se que o Brasil ainda está muito longe de
reconhecer e, sobretudo, efetivar os direitos subjetivo dos animais, seja porque a constituição
ainda os trata como propriedade dos homens, que mesmo dando uma função social, sabe-se
que isso não se aplica a todos os animais.
B) O TRATAMENTO OFERTADO POR NOSSA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA.
Observando-se os casos concretos e relacionado eles a questão constitucional, percebe-se
que o tratamento constitucional difere do tratamento ofertado pela constituição, mais uma vez
ratificado. Em muitos dos casos que são questões polêmicas sobre o direito dos animais não-
humanos, é possível perceber que, no mínimo dos direitos, como o direito a não tortura e a
crueldade não é aplicado, enquanto garantia constitucional, o que já é problemático, pois, até
o momento, tem-se uma Constituição que não abarca os direitos subjetivo dos animais, apenas
atribuem a eles um direito em razão da sua função socioeconômica e, sem nem isso é
alcançado, pode-se dizer que há de fato uma situação considerável de violação de direitos.
Nos casos em questão há claramente a lesão de direitos, sobretudo no que tange a
crueldade, que ainda é presente em muitos casos, o que configura que a atual proteção que se
dá aos animais não-humanos ainda é muito falha e necessita ser mais protetiva. Reconhecer
que os animais possuem direitos, ainda que não sejam os mesmos dos humanos, mas como
Peter Singner especifica, os direitos devem seguir as suas necessidades específicas, a igual
consideração.
REFERÊNCIAS
SILVEIRA, Patrícia Azevedo. AniMENOS: a condição dos animais no direito Brasileiro