Você está na página 1de 4

04/06/2019 Diferença não é doença: OMS retira transexualidade da lista de transtornos mentais – CRP-PR

 

Diferença não é doença: OMS retira


transexualidade da lista de transtornos
mentais
19 de junho de 2018

“Um grande passo, mas ainda é


preciso lutar pela efetiva
despatologização da
transexualidade e travestilidade.”
Foi assim que a Psicóloga
Grazielle Tagliamento (CRP-
08/17992), coordenadora do
Núcleo de Diversidade de Gênero
e Sexualidades (Diverges) da
Comissão de Direitos Humanos
do Conselho Regional de
Psicologia do Paraná (CRP-PR),
de niu a retirada da transexualidade e travestilidade da categoria de transtornos
mentais da Classi cação Internacional de Doenças (CID 11), divulgada na última
segunda-feira (18) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso porque a
legislação brasileira ainda contribui para a patologização das identidades que
fogem do padrão cisnormativo. “O acesso ao SUS para as cirurgias do processo
transexualizador, por exemplo, ainda dá margem à patologização quando exige um
acompanhamento psicológico compulsório e um laudo”, explica. “No entanto, não

https://crppr.org.br/diferenca-nao-e-doenca-oms-retira-transexualidade-da-lista-de-transtornos-mentais/ 1/4
04/06/2019 Diferença não é doença: OMS retira transexualidade da lista de transtornos mentais – CRP-PR

podemos diminuir o tamanho desta conquista, que dará força para que avancemos
mais.”
A nova classi cação, que entrará em vigor apenas em 1º de janeiro 2022,
mantém a transexualidade e a travestilidade como “incongruência de
gênero”, mas as retira do código da categoria “Desordens mentais,
comportamentais e do neurodesenvolvimento” e inclui em “Condições
relacionadas à saúde sexual” – após uma série de pesquisas cientí cas,
entre elas uma publicada na revista Lancet intitulada “Removing
transgender identity from the classi cation of mental disorders: a Mexican
eld study for ICD-11” (Removendo a identidade transgênero da
classi cação de desordens mentais: um campo de estudo mexicano da CID
11).
A alteração, de acordo com Lale Say, coordenadora do Departamento de
Saúde Reprodutiva e Pesquisa da OMS, visa a diminuir o estigma em
relação às diferentes identidades de gênero e conferir maior aceitação
social; com a manutenção de um código em outra categoria, a intenção é
garantir assistência médica a esta população. A coordenadora do Diverges,
no entanto, vê que essa manutenção ainda não é o ideal. “Se a
transexualidade e a travestilidade são consideradas uma incongruência de
gênero, quer dizer que se parte de um padrão de normalidade de gênero. O
que muitos movimentos sociais esperavam, no entanto, é que os
procedimentos relacionados à travestilidade e à transexualidade cassem
na mesma categoria da gravidez, por exemplo, que requer cuidados
médicos, mas não é considerada uma doença”, explica.
Outra alteração importante destacada pela Psicóloga Grazielle Tagliamento é a
remoção da “orientação sexual egodistônica” da CID – quando, supostamente, o
sofrimento é decorrente do desejo de mudar a orientação sexual. “As pesquisas
cientí cas já demonstraram que o sofrimento vem do preconceito e da violência
enfrentados na sociedade, e não pela orientação sexual ou identidade de gênero”,
a rma. Com isso, a Psicóloga avalia que os Conselhos de Psicologia ganham mais

https://crppr.org.br/diferenca-nao-e-doenca-oms-retira-transexualidade-da-lista-de-transtornos-mentais/ 2/4
04/06/2019 Diferença não é doença: OMS retira transexualidade da lista de transtornos mentais – CRP-PR

força para defender a Resolução CFP nº 01/99, que proíbe pro ssionais de
Psicologia de promoverem terapias de “reversão sexual” ou “cura gay” e foi alvo de
processos judiciais para invalidação.

Psicologia: acolher sem patologizar

A luta para que as identidades trans deixem de ser vistas como doença já
garantiu algumas conquistas importantes para esta comunidade. Em
março de 2018, o Superior Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade,
que as pessoas trans podem alterar o nome e gênero no registro civil sem
necessidade de cirurgia ou laudo. Além disso, o Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Paraná (HC-PR), em Curitiba, está em processo de
implantação das cirurgias transexualizadoras gratuitas  após mobilização
da Defensoria Pública do Paraná, do CRP-PR, da ONG Transgrupo Marcela
Prado e da OAB-PR.
Já o Conselho Federal de Psicologia (CFP) divulgou, em janeiro deste ano,
a Resolução nº 01/2018, que estabelece normas de atuação para Psicólogas(os)
em relação às pessoas transexuais e travestis. O documento, que já está em vigor,
determina que a(o) pro ssional não pode  submeter uma pessoa travesti ou
transexual a um tratamento de “reversão” ou “cura” da sua identidade de gênero
nem utilizar técnicas que contribuam para a patologização das vivências trans.
Além disso, não é permitido participar de eventos ou serviços que contribuam para
a discriminação ou patologização de pessoas travestis e transexuais, pautando o
trabalho da Psicologia na autonomia da pessoa sobre a sua vivência.

https://crppr.org.br/diferenca-nao-e-doenca-oms-retira-transexualidade-da-lista-de-transtornos-mentais/ 3/4
04/06/2019 Diferença não é doença: OMS retira transexualidade da lista de transtornos mentais – CRP-PR

2019 © Conselho Regional de Psicologia do Paraná CRP-PR.


Todos os direitos reservados. All rights reserved.

    

https://crppr.org.br/diferenca-nao-e-doenca-oms-retira-transexualidade-da-lista-de-transtornos-mentais/ 4/4

Você também pode gostar