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Como ficou o regime de precatórios após a decisão do Supremo:

Previsto no art. 100 da Constituição, o regime de “precatórios” nada mais é do que a forma
dos cidadãos receberem pagamentos, por parte do Estado, que forem resultantes de decisões
judiciais.
O regime de precatórios foi substancialmente reformulado pela EC 62/2009, que alterou
praticamente todo o art. 100 da Constituição (que passou a contar com 16 parágrafos) e ainda
inseriu o art. 97 nos ADCT, com os seus 18 parágrafos que criavam um regime especial para
pagamentos e regulamentavam o tema enquanto não fosse editada uma lei complementar.
Pelas regras polêmicas inseridas, principalmente no art. 97 dos ADCT, a EC 62/09, ficou
conhecida como a “emenda do calote”. Pois criava um parcelamento de até 15 anos da dívida e
ainda permitia a vinculação do pagamento ao depósito de um valor irrisório (percentual que
variava de 1 a 2% da Receita Corrente Líquida apurada) em uma conta especial, além de
prever um “leilão” para o recebimento de precatórios, que permitiria a redução drástica do
valor a receber pelo credor.
Agora, no mês de março de 2013, o STF julgou as ADI 4357 e 4425. Neste julgamento,
declarou inconstitucional todo o art. 97, dos ADCT, da Constituição Federal, extinguindo assim
o Regime Especial para os pagamentos dos precatórios, passando a vigorar tão somente as
regras do art. 100 da parte dogmática e, ainda assim, com ressalvas, a saber:
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos
de idade ou mais na data de expedição do precatório, ou sejam portadores de
doença grave, definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos
os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os fins do
disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo
que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.
O STF declarou inconstitucional1 a expressão “na data de expedição do precatório” por
entender que o aferimento da idade para justificar a preferência deve ser no momento do
pagamento, pois caso contrário, pessoas com 60 anos incompletos que ficassem fora do
regime preferencial acabariam, pela demora do pagamento, terem bem mais de 60 anos no
momento que o precatório fosse pago.
§ 9º No momento da expedição dos precatórios, independentemente de
regulamentação, deles deverá ser abatido, a título de compensação, valor
correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e
constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas
parcelas vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja
suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial.
§ 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública
devedora, para resposta em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de
abatimento, informação sobre os débitos que preencham as condições
estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos.
Devido ao princípio da isonomia, os parágrafos 9º e 10º foram julgados inconstitucionais2 pelo
STF. Eles forçavam uma compensação compulsória daquilo que o cidadão tinha a receber com
aquilo que o cidadão devia para o Estado. Era uma forma de impedir que o cidadão recebesse
valores antes de quitar dívidas com a Fazenda Pública. Acontece que o dispositivo não previa
qualquer compensação compulsória no sentido inverso, da Fazenda Pública com o cidadão, o

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ADI 4357 – Julgamento em 13 de Março de 2013.
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ADI 4357 – Julgamento em 13 de Março de 2013.

Rua das Marrecas, 15 – Centro – CEP 20031-120. Rio de Janeiro – RJ. Telefax: (21) 2544-3752/2544-9202
que justificou a sua declaração de inconstitucionalidade, por entender o Supremo que tal
compensação deveria ser bilateral, senão ocasionaria verdadeiro confisco.
§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de
valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento,
independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração
básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão
juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de
poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios.
Foi declarada inconstitucional3 a expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta
de poupança".
A decisão pela retirada do índice da caderneta de poupança se deu pela insuficiência da
correção da inflação, que tem sido em valores superiores aos juros pagos pelas cadernetas de
poupança. Assim, caberá ao juiz, no momento da decisão, arbitrar o índice de correção de
forma que se consiga correções que não sejam corroídas pela inflação. Isto ocorreu para evitar
o “enriquecimento sem causa” do Estado em cima dos valores dos cidadãos.

Resumo sobre precatórios, no regime atual:


 O regime é obrigatório para todo crédito contra a fazenda pública oriundo de sentença
judicial transitada em julgado, salvo para o definido em lei (de cada um dos entes)
como sendo de pequeno valor;
 Pequeno valor não pode ser uma quantia inferior ao teto do Regime Geral de Previdência;
 A ordem de pagamento é a seguinte:
1º- Créditos de natureza alimentícia de maiores de 60 anos (a ser apurado no momento do
pagamento) ou portadores de doença grave, limitados a três vezes o definido como
pequeno valor.
2º- Demais créditos de natureza alimentícia;
3º- Ordem cronológica da apresentação dos demais precatórios, vedado o fracionamento.
 Se o precatório for apresentado até 1º de julho, é obrigatório que se inclua no orçamento
do ano seguinte, e se pague até o final daquele ano, corrigido monetariamente. Se não
pagar até o final do ano, além da correção, irá incidir juros simples (em índices a serem
arbitrados pelo juiz de forma que a inflação seja corrigida), ficando excluída a incidência de
juros compensatórios.
 O Presidente do Tribunal competente que, por ato comissivo ou omissivo, retardar ou tentar
frustrar a liquidação regular de precatórios incorrerá em crime de responsabilidade e
responderá, também, perante o Conselho Nacional de Justiça.

Um abraço a todos.

Vítor Cruz
Criador do site www.nota11.com.br e
autor da obra “Constituição Federal Anotada para Concursos”.

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ADI 4357 – Julgamento em 13 de Março de 2013.

Rua das Marrecas, 15 – Centro – CEP 20031-120. Rio de Janeiro – RJ. Telefax: (21) 2544-3752/2544-9202

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