Você está na página 1de 49

Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais

Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert. Bases ortonormais.

V. Araújo

Instituto de Matemática, Universidade Federal da Bahia

Mestrado/Doutorado em Matemática, UFBA, 2016

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Espaços de Hilbert
Seja H espaço de Banach sobre K com norma k · k induzida
por um produto interno (·, ·) : H × H → K, isto é, para
x, y, z ∈ H e α ∈ K
(αx + y , z) = ᾱ(x , z) + (y , z);
(x , y ) = (y , x);
(x , x) ≥ 0 e (x , x) = 0 ⇐⇒ x = 0,
e kx k = (x , x)1/ 2 .
Lema (desigualdade de Schwarz)
Em todo espaço normado com norma induzida por produto
interno vale |(x , y )| ≤ kx k · ky k, ∀x , y ∈ H. A igualdade ocorre
apenas se x , y forem proporcionais.

De fato, se (x , y ) 6= 0, para todo t ∈ K temos


0 ≤ (x − ty , x − ty ) = kx k2 − t(x , y ) − t̄(y , x) + t 2 ky k2 .

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Como (x , y ) 6= 0 fazemos t = (y , x)/ ky k2 para obter

|(x , y )|2 |(x , y )|2 |(x , y )|2


0 ≤ kx k2 − 2 + = kx k2 −
ky k2 ky k2 ky k2

logo |(x , y )|2 ≤ kx k2 ky k2 e a igualdade ocorre se, e só se,


x − ty = 0 para algum t ∈ K, ou seja, se e só se {x , y } não é
linearmente independente.
Isto é o mesmo que dizer que x = ty para algum t ∈ K. Se
(x , y ) = 0 a desigualdade é trivial.
Como consequência da desigualdade de Schwarz obtemos a
desigualdade triangular para k · k:

kx + y k2 = kx k2 + (x , y ) + (y , x) + ky k2
≤ kx k2 + 2|(x , y | + ky k2 ≤ kx k2 + 2kx k · ky k + ky k2
≤ (kx k + ky k)2 .

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Isto mostra que realmente k · k induzida por (·, ·) é uma norma


e também que a igualdade na desigualdade triangular ocorre
se, e só se

2kx k · ky k = (x , y ) + (y , x) = 2ℜ(x , y ).

Pela desigualdade de Schwarz, isto garante que

|(x , y )| ≥ ℜ(x , y ) = kx k · ky k ≥ |(x , y )|

e temos |(x , y )| = kx k · ky k.
Portanto, a igualdade na desigualdade triangular ocorre se
algumas das condições seguintes se verifica: ou x = 0, ou
y = 0, ou existe t ∈ K tal que x = ty .

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Exemplos de produto interno

Em Kn a aplicação bilinear
n
X
((z1 , . . . , zn ), (w1 , . . . , wn )) = z̄i wi
i=1

é o produto interno euclidiano usual (onde K = R ou C)


que induz a norma euclidiana.
Em ℓ2 (Z)
 X
(zn )n∈Z , (wn )n∈Z = z̄n wn
n∈Z

é um produto interno que induz a norma


2 1/ 2 .
P 
k(xn )n k2 = n∈Z |xn |

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Se (X , A, μ) é um espaço de medida e L2 (X , A, μ) é o espaço


das funções quadrado-integráveis, então
Z
(f , g) = f̄ · g d μ, f , g ∈ L2 (X , A, μ)

R
é um produto interno que induz a norma kf k2 = Ω
|f |2 d μ.

Todo produto interno é aplicação sesqulinear (bilinear no


caso de espaço vetorial real) contínua em relação à norma
induzida, pela desigualdade de Schwarz.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Identidade de Polarização
Usando a norma induzida por um produto interno em qualquer
espaço vetorial se obtém, por substituição algébrica elementar
usando propriedades do produto interno
Lema
Todo espaço vetorial H com produto interno real satisfaz

1
kx + y k2 − kx − y k2 , ∀x , y ∈ H.

(x , y ) =
4
Se o produto interno for complexo, então satisfaz

1
kx + y k2 − kx − y k2 + ikx + iy k2 − ikx − iy k2 .

(x , y ) =
4
Estas indentidades permitem recuperar o produto interno de
dois vetores a partir da norma.
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Identidade do Paralelogramo
Novamente por substituição algébrica elementar usando
propriedades do produto interno vem
Lema
Todo espaço vetorial H com produto interno satisfaz

x + y 2 x − y 2 1

2 2

+ = kx k + ky k , ∀x , y ∈ H.

2
2 2

Esta relação pode ser usada para mostrar que uma dada
norma não é induzida por um produto interno.
Exercício:
1 (ℓp (N), k · kp ) é espaço com produto interno se, e só se,
p = 2.
2 (C([−1, 1], R), k · k0 ) não é espaço com produto interno.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Noção de isomorfismo entre espaços de com produto


interno
Um operador linear U : (H, (·, ·)) → (S, [·, ·]) entre dois
espaços vetorias com produto interno é unitário se for
sobrejetor em S e preservar os produtos internos
[Ux , Uy ] = (x , y ), ∀x , y ∈ H.
Caso exista tal operador, os espaços dizem-se unitáriamente
equivalentes.
No caso particular de espaços vetoriais reais, também se usa o
termo operador ortogonal em vez de unitário.
Exercício: use a identidade de polarização para mostrar que
todo operador linear isométrico e sobrejetor entre espaços com
produto interno é necessariamente unitário. Mostre também
que todo operador unitário é uma isometria, portanto invertível,
e que seu inverso é ainda unitário. Se U é unitário, calcule
UU −1 e U −1 U.
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Completamente unitário
Adaptando a construção do completamento de espaços
normados, obtemos
Teorema

Se H, (·, ·) é espaço vetorial com produto interno, então H é
unitariamente equivalente a um subespaço denso num espaço
de Hilbert H que é chamado de completamento de H. Além
disto, quaisquer completamentos de H são unitariamente
equivalentes entre si.

A prova consiste, no final da construção do completamento de


um espaço normado, em verificar que é possível definir um
produto interno no espaço quociente das sequências de
Cauchy de elementos de H. Como H já tem um produto
interno, basta definir (x̄ , ȳ ) = limn→∞ (xn , yn ) se (xn )n≥1 e
(yn )n≥1 forem representantes das classes x̄ , ȳ (exercício).
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Ortogonalidade
O produto interno pode ser usado para definir ângulo entre
dois vetores e, em particular, a ortogonalidade. Dizemos que
x , y ∈ H são ortogonais e escrevemos x ⊥ y se (x , y ) = 0.
Se E , F são subconjuntos de H, então E ⊥ F significa que
(x , y ) = 0 para todo x ∈ E e y ∈ F .
Também escrevemos F ⊥ para o subespaço vetorial de todos
os elementos de H ortongonais a todos os elementos de F .
Lema (demonstração é exercício simples)
1 ~ 6= y =⇒ x , y são linearmente
x ⊥ y com x 6= 0
independentes;
2 x ⊥ y ⇐⇒ kx + y k2 = kx k2 + ky k2 (Pitágoras);
k·k
3 xn ⊥ y para todo n ≥ 1 e xn −−−→ x, então x ⊥ y .
n→∞

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Caracterização de ortogonalidade
Lema
Em todo espaço vetorial H com produto interno temos

x ⊥ y ⇐⇒ kx + ty k ≥ kx k, ∀t ∈ K.

É óbvio se t = 0. Seja t 6= 0 e note que

0 ≤ kx + ty k2 = kx k2 + 2ℜ t(x , y ) + |t |2 ky k2 .


Se (x , y ) = 0 temos kx + ty k2 = kx k2 + |t |2 ky k2 ≥ kx k2 para
qualquer t ∈ K. Se vale kx + ty k ≥ kx k para todo t ∈ K,
elevando ao quadrado e tomando t = −(y , x)/ ky k2 vem

|(x , y )|2 |(x , y )|2


kx k2 ≤ kx k2 − 2 +
ky k2 ky k2
e obtemos −|(x , y )|2 ≥ 0 o que garante que (x , y ) = 0.
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Complemento ortogonal em espaços de Hilbert


Teorema
Se E é subespaço vetorial fechado de um espaço de Hilbert H,
então H = E ⊕ E ⊥ (isto é, cada elemento x ∈ H se escreve de
maneira única x = y + z com y ∈ E , z ∈ E ⊥ ).

Note que claramente E ∩ E ⊥ = {0} pois x ∈ E ∩ E ⊥ satisfaz


(x , x) = 0. Vamos usar o
Lema
Para cada y ∈ H \ E existe único x ∈ E tal que
ky − x k = infw ∈E ky − w k e (y − x) ∈ E ⊥ .

Para provar o lema, seja δ = infw ∈E ky − w k e seja wn ∈ E tal


que ky − wn k −−−→ δ. A identidade do paralelogramo garante
n→∞

2kwn − y k2 + 2kwk − y k2 = kwn − wk k2 + kwn + wk − 2y k2 .

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Como (wk + wn )/ 2 ∈ E (pois E é convexo), segue

wn + wk 2


2 2 2
kwn − wk k = 2kwn − y k + 2kwk − y k − 4 y −

2

≤ 2kwn − y k2 + 2kwk − y k2 − 4δ2

e isto mostra que (wn )n≥1 é sequência de Cauchy em H. Como


E é fechado, esta sequência converge a algum ponto x em E e
por continuidade da norma vem que ky − x k = δ.
Temos ainda que tz − x ∈ E para todo t ∈ K, z ∈ E, logo
k(y − x) + tzk = ky + (tz − x)k ≥ δ = ky − x k e isto mostra, pela
caracterização de ortogonalidade já vista, que (y − x) ∈ E ⊥ .
Para a unicidade, suponhamos que x 0 ∈ E também satisfaz
(y − x 0 ) ∈ E ⊥ . Como E ⊥ é espaço
 vetorial, então
x 0 − x = (y − x) − (y − x 0 ) ∈ E ⊥ . Mas (x 0 − x) ∈ E, portanto
(x 0 − x) ∈ E ∩ E ⊥ = {0~ } e deduzimos que x = x 0 , concluindo a
prova do lema.
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Prova da existência de complemento ortogonal

Para provar o teorema, observo que já obtivemos x ∈ E tal que


(y − x) ∈ E ⊥ e de maneira única.
Então podemos escrever

y = x + (y − x), (y − x) ∈ E ⊥ , x ∈E

e com x e y − x obtidos de maneira única.


Como y era um ponto qualquer de H \ E, isto prova o
enunciado, pois para y ∈ E temos y = y + 0 com y ∈ E e
0 ∈ E ⊥.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal

Densidade e complemento ortogonal

Corolário
Seja H espaço de Hilbert.
1 Se E subespaço fechado de H, então (E ⊥ )⊥ = E e E é
também o complemento ortogonal de E ⊥ .
2 Para M subconjunto de E temos
ger M = H ⇐⇒ M ⊥ = {0}.

É claro que E ⊂ (E ⊥ )⊥ e como E ⊕ E ⊥ = H = (E ⊥ )⊥ ⊕ E ⊥


(pois E ⊥ é fechado por definição, logo podemos aplicar o
mesmo Teorema anterior a E ⊥ ), obtemos (E ⊥ )⊥ = E pela
unicidade da soma direta.
Seja N = ger M. Temos M ⊥ = N ⊥ = (N)⊥ (verifique!). Portanto

H = N ⊕ N = N ⊕ M ⊥ logo M = N se, e só se, M ⊥ = {0}.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Teorema de Representação de Riesz-Frechet


Este resultado é bem conhecido em Álgebra Linear: num
espaço vetorial de dimensão finita E com produto interno todo
funcional linear pode ser representado pelo produto interno
com algum vetor. Mais precisamente: todo f ∈ E 0 admite único
v ∈ E tal que f (x) = (v , x), ∀x ∈ E. Veremos que o mesmo
vale em espaços de Hilbert.
Teorema
Para cada f ∈ H0 existe um e um só x ∈ H tal que
< f , y >= (x , y ), ∀y ∈ H e kf k = kx k.

De fato, seja
T : H → H0 , x 7→ Tx : H → K : Tx (y ) = (x , y ), y ∈ H aplicação
de H em H0 e vamos ver que ela é uma isometria sesquilinear
(ou antilinear).

Note: kTx k = supky k=1 |(x , y )| ≤ supky k=1 kx k · ky k ≤ kx k.
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Observe que para y = x / kx k obtemos


Tx (y ) = (x , x)/ kx k = kx k com ky k = 1 e portanto kTx k ≥ kx k.
Concluimos que kTx k = kx k.
Isto mostra que T é isometria. Para verificar que é antilinear
(sesquilinear) com sua imagem: Tαx+w (y ) = (αx + w , y ) =
ᾱ(x , y ) + (w , y ) = ᾱTx (y ) + Tw (y ), ∀x , y , w ∈ H, logo
T (αx + y ) = ᾱTX + Tw . Resta provar que T é sobrejetiva.
Se f ≡ 0 então f = T0 . Se f 6≡ 0, então N(f ) = f −1 ({0}) é um
subespaço fechado de H que tem único ortogonal
H = N(f ) ⊕ N(f )⊥ e podemos achar x ∈ N(f )⊥ com kx k = 1.
Observamos que f (y )x − f (x)y ∈ N(f ) para todo y ∈ H,


portanto
0 = (x , f (y )x − f (x)y ) = f (y )(x , x) − (f (x)x , y ), ∀y ∈ H.
Isto significa f (y ) = (f (x)x , y ) para todo y ∈ H e podemos
escrever f = Tf (x)x , provando a sobrejetividade e concluindo a
demonstração do teorema.
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Interpretação geométrica

A demonstração permite concluir que se x , y ∈ N(f )⊥ \ {0},


então
f (x)x f (y )y
= .
(x , x) (y , y )

Portanto, N(f )⊥ (quando não nulo) é subespaço


unidimensional de H.
Em particular, H = N(f ) ⊕ N(f )⊥ e para qualquer
x ∈ N(f )⊥ \ {0} fixado

f (u + λx) = λf (x), ∀λ ∈ K, ∀u ∈ N(f ).

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Não se pode ignorar a completude do espaço H no


teorema de representação.

De fato, se N for o subespaço de ℓ2 (N) formado por


sequências com apenas P∞número finito de termos não nulos,
η
então f : N → K, η 7→ j=1 j j está em N 0 , mas não existe
€ Š
ξ ∈ N de maneira que f = Tξ porque 1j ∈ ℓ2 (N) \ N.
j≥1

Mais precisamente: pela desigualdade de Schwarz


!1/ 2 !1/ 2

X η j
X X 1 π
| < f,η > | = ≤ |ηj |2 = p kηk2

j j 2

j=1

j j 6

mostrando a continuidade, e €sabemos Šque a única


€ Š
representação é com f (η) = 1j j≥1 , η , mas 1j


/ N.
j≥1

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

H0 também é um espaço de Hilbert

Em H0 podemos definir um produto interno via a representação


de Riesz

[Tx , Ty ]H0 = (y , x)H , ∀x , y ∈ H.

É claro que esta aplicação H0 × H0 → K é um produto interno,


pois (·, ·) é produto interno e T é sesquilinear (verifique!).
Como T : H → H0 é isometria e a norma
kTx k = kx k = (x , x)1/ 2 = [Tx , Tx ]1/ 2 em H0 é induzida por [·, ·],
temos que H0 é espaço de Hilbert.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

H é reflexivo

Corolário
Todo espaço de Hilbert H é reflexivo.

Precisamos mostrar que J : H → H00 é sobrejetiva. Já


sabemos que H0 e H00 são espaços de Hilbert e podemos
aplicar o Teorema de Representação de Riesz-Frechet a H00 :
para todo g ∈ H00 existe único elemento Tx ∈ H0 , para algum
x ∈ H, tal que < g, Ty >= [Tx , Ty ], ∀y ∈ H.
Mas isto significa que

< g, Ty >= (y , x) = Ty (x) =< Ty , x >= J(x)(Ty ), ∀y ∈ H

e portanto g = J(x).
Como g ∈ H00 é arbitrário, mostramos que J : H → H00 é
sobrejetivo.
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Formas sesquilineares
Uma aplicação b : N1 × N2 → K onde N1 , N2 são espaços
normados sobre o corpo K, que seja linear na segunda
variável e sesquilinear (ou antilinear) na primeira variável
diz-se uma forma sesquilinear (bilinear se os espaços
vetoriais forem reais).
Uma forma sesquilinear é limitada se sua norma é finita, isto é
|b(x1 , x2 )|
kbk = sup <∞
x1 ∈N1 ,x2 ∈N2 kx1 kN1 · kx2 kN2

Corolário
Se b : H1 × H2 → K é forma sesquilinear limitada, então existe
único operador T ∈ B(H1 , H2 ) satisfazendo kT k = kbk e

b(x1 , x2 ) = (Tx1 , x2 )H2 , ∀x1 ∈ H1 , x2 ∈ H2 .

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Prova do Corolário
Para cada x1 ∈ H1 fixado, L(x1 ) : H2 → K, x2 7→ b(x1 , x2 ) é
linear e como
|L(x1 )x2 | = |b(x1 , x2 )| ≤ kbk · kx1 kH1 · kx2 kH2
vemos que kL(x1 )k ≤ kbkkx1 kH1 e L(x1 ) ∈ H20 .
Pelo Teorema de Representação de Riesz, existe único
y2 ∈ H2 tal que L(x1 )x2 = (y2 , x2 )H2 para todo x2 ∈ H2 .
Definimos T : H1 → H2 por Tx1 = y2 , de maneira que obtemos
b(x1 , x2 ) = (Tx1 , x2 )H2 , ∀x1 ∈ H1 , x2 ∈ H2 e T é uma aplicação
linear: para todo x2 ∈ H2 , x1 , x10 ∈ H1 e α ∈ K
(T (αx1 + x10 ), x2 ) = L(αx1 + x10 )x2 = b(αx1 + x10 , x2 )
= ᾱb(x1 , x2 ) + b(x10 , x2 ) = ᾱ(Tx1 , x2 ) + (Tx10 , x2 )
= (αTx1 , x2 ) + (Tx10 , x2 ) = (αTx1 + Tx10 , x2 )
logo T (αx1 + x10 ) = αTx1 + Tx10 .
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Note que T = 0 se, e só se, b ≡ 0. Se b 6≡ 0 obtemos

kTx1 kH2 |(Tx1 , Tx1 )H2 |


kT k = sup = sup ≤ kbk
x1 6=06=Tx1 kx1 kH1 x1 6=06=Tx1 kx1 kH1 kTx1 kH2

porque b(x1 , Tx1 ) = (Tx1 , Tx1 ) por definição de T . Mas kbk é


igual a

|(Tx1 , x2 )H2 | kTx1 kH2 kx2 kH2


sup ≤ sup = kT k
x1 6=06=x2 kx1 kH1 · kx2 kH2 x1 6=06=x2 kx1 kH1 · kx2 kH2

o que mostra que T ∈ B(H1 , H2 ) e kT k = kbk.


A unicidade de T segue da relação (Tx1 , x2 )H2 = (Sx1 , x2 )H2
para todos x1 ∈ H1 , x2 ∈ H2 implicar que T = S, pois vem
(Tx1 − Sx1 , x2 )H2 = 0, ∀x2 ∈ H2 , logo para x2 = Tx1 − Sx1
obtemos Tx1 − Sx1 = 0 com x1 ∈ H1 arbitrário.
Isto completa a prova do corolário.
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Adjuntos de Hilbert

O exemplo padrão de forma sesquilinear limitada é o produto


interno num espaço de Hilbert. Neste caso, com H1 = H2
temos T = Id.
O corolário permite definir para cada T ∈ B(H1 , H2 ) o
operador adjunto de Hilbert T ∗ ∈ B(H2 , H1 ) de maneira que

(x2 , Tx1 )H2 = (T ∗ x2 , x1 )H1 , ∀x1 ∈ H1 , x2 ∈ H2

e kT k = kT ∗ k.
Se T ∈ B(H), então T diz-se normal se TT ∗ = T ∗ T e se
T = T ∗ diz-se autoadjunto.
Vamos relacionar esta noção de adjunto com a noção já vista
envolvendo o espaço dual, depois de vermos alguns exemplos.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Exemplos
Em L2 (Ω, A, μ) temos o operador (Mϕ ψ)(t) = ϕ(t)ψ(t) onde
ϕ ∈ L∞ (Ω, A, μ) é fixada e ψ ∈ L2 (Ω, A, μ) que já vimos ser um
operador linear, que é contínuo com norma kMϕ k = kϕk∞ .
O adjunto de Hilbert deste operador é Mϕ∗ = Mϕ̄ e portanto
este é um operador normal. Ele é autoadjunto se, e só se, ϕ é
uma função real μ-qtp..
De fato, para φ, ψ ∈ L2 (Ω, A, μ) temos
Z Z
(φ, Mϕ ψ) = φϕψ d μ = ϕφψ d μ = (Mϕ̄ φ, ψ)
Ω Ω

e concluimos que Mϕ∗ = Mϕ̄ que é normal pois


Mϕ∗ Mϕ = Mϕ̄ϕ = Mϕϕ̄ = Mϕ Mϕ̄∗ , e Mϕ∗ = Mϕ se, e só se,
ϕ̄ = ϕ, μ mod 0.
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Em Kn um operador T ∈ B(Kn ) é representado por uma


matriz e seu operador adjunto de Hilbert T ∗ é
representado pelo complexo conjugado da transporta
desta matriz.
Para s 6= 0 fixado o operador Ts ∈ B(L2 (R, B, Leb)) dado
1
por (Ts ψ)(t) = 2s [ψ(t + s) − ψ(t − s)] com
ψ ∈ L (R, B, Leb) é autoadjunto.
2

De fato, tem-se para φ, ψ ∈ L2 (R, B, Leb)


Z Z
ψ(t ± s)φ(t) d Leb(t) = ψ(u)φ(u ∓ s) d Leb(u)

e com esta mudança de variáveis vem


Z Z
φ · Ts ψ d Leb = Ts φ · ψ d Leb .

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Dualidade com produto interno garante autoadjunto


Teorema (de Hellinger-Toeplitz)
Seja T : H ‰ operador linear tal que

(Tx , y ) = (x , Ty ), ∀x , y ∈ H.

Então T ∈ B(H) e T é autoadjunto.

De fato, para cada x ∈ H com kx k = 1 o funcional


Lx : H → K, y 7→ (Tx , y ) é limitado pela desigualdade de
Schwarz: |Lx (y )| ≤ kTx k · ky k. Mas Lx (y ) = (x , Ty ) e vem
|Lx (y )| ≤ kTy k para todo x ∈ BH . Pelo Princípio da Limitação
Uniforme, existe C > 0 tal que kLx k ≤ C para todo x ∈ BH .
Portanto

kTx k2 = |Lx (Tx)| ≤ CkTx k, ∀x ∈ H, kx k = 1

e concluímos que T ∈ B(H). Segue que T é autoadjunto.


V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Imagem real garante autoadjunto

Proposição
Seja T ∈ B(H) com H espaço de Hilbert sobre C. Então T é
autoadjunto se, e só se, (Tx , x) ∈ R para todo x ∈ H.

Este resultado pode ser intuido se pensarmos que os


operadores autoadjuntos devem ter uma base de autovetores
associados a autovalores reais.
Para provar, se T é autoadjunto, então

(Tx , x) = (x , Tx) = (Tx , x) =⇒ (Tx , x) ∈ R.

Reciprocamente, se (Tx , x) ∈ R, ∀x ∈ H, então

((T − T ∗ )x , x) = (Tx , x) − (T ∗ x , x) = (x , Tx) − (x , Tx) = 0.

Isto implica T − T ∗ = 0 via o seguinte lema técnico.


V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Anulação de operador em espaço vetorial complexo

Lema
Se (X , (·, ·)) é espaço vetorial complexo com produto interno
complexo e S : X ‰ é operador linear com (Sx , x) = 0, ∀x ∈ X ,
então S = 0.

Proof.
Para α ∈ C e x , y ∈ X vale

0 = (S(αx + y ), αx + y ) = ᾱ(Sx , y ) + α(Sy , x).

Para α = 1 e α = −i obtemos respectivamente

(Sx , y ) + (Sy , x) = 0 e (Sx , y ) − (Sy , x) = 0

logo (Sx , y ) = 0, ∀x , y ∈ X , o que garante que S = 0.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Contra-exemplo no caso real

A rotação em R2 de um ângulo reto R : R2 ‰ satisfaz


(Rx , x) ∈ R para todo x ∈ R2 mas não é operador linear
autoadjunto: considere as representações matriciais na base
canônica
   
0 −1 ∗ 0 1
R= e R = .
1 0 −1 0

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

O adjunto de Hilbert versus o adjunto

Proposição
Se Li : Hi → Hi0 , i = 1, 2 são as isometrias antilineares dadas
pelo Teorema de Representação de Riesz, então para
T ∈ B(H1 , H2 ) temos L1 T ∗ = T 0 L2 onde T 0 ∈ B(H20 , H10 ) é o
operador tal que < f , Tx >=< T 0 f , x > para todo f ∈ H20 .

É só conferir as definições:

(x2 , Tx1 ) = L2 (x2 )(Tx1 ) =< L2 (x2 ), Tx1 >=< T 0 L2 (x2 ), x1 >
=< L1 (L1−1 (T 0 L2 (x2 ))), x1 >=< L1 (y1 ), x1 >= (y1 , x1 )
| {z }
y1

= (L1−1 (T 0 L2 (x2 )), x1 ) = (T ∗ x2 , x1 )

portanto T ∗ = L1−1 ◦ T 0 ◦ L2 como enunciado.


V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos

Adjunto de Banach versus adjunto de Hilbert

O que escrevemos formalmente acima pode ser traduzido no


diagrama seguinte
T∗
H2 −−−→ H1
 
T
→ H2
dado H1 − obtemos
 
yL2 yL1
T0
H20 −−−→ H10

mostrando que a diferença entre T 0 e T ∗ é uma “mudança de


coordenadas” proporcionada pela aplicação sesquilinear
fornecida pelo Teorema de Representação de Riesz.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Famílias somáveis
P
Necessitamos de dar um sentido a somatórios da forma i∈I xi
quando os índices I formam conjunto não enumerável e não
queremos nos preocupar com possíveis estruturas de ordem
em I.
Dizemos que (xi )i∈I num espaço normado
P (X , k · k) é somável
e tem soma x ∈ X , e escrevemos i∈I xi = x, se para cada
ϵ > 0 existe subconjunto finito Fϵ ⊂ I tal que paraP todo
subconjunto finito F ⊂ I tal que F ⊃ Fϵ vale kx − i∈F xi k < ϵ.
A motivação para esta definição é que para sequência (xn )n≥1
de reais ou complexos são equivalentes as propriedades
P
n xn é absolutamente convergente para x;
∀ϵ > 0∃Fϵ ⊂ N, #Fϵ < ∞ e para
Ptodo F satisfazendo
Fϵ ⊂ F ⊂ N, #F < ∞ vale |x − n∈F xn | < ϵ.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Exemplos de aplicação

Lema
Sejam X , Y espaços normados e T ∈ B(X , Y ). Dada família
somável (xi )i∈I em X com soma x, então (Txi )i∈I é família
somável em Y com soma Tx.

Proof.
Para F ⊂ I qualquer conjunto finito temos

X X  X
Tx − Txi = T x − xi ≤ kT k · x − xi


i∈F i∈F x ∈F

e a conclusão segue da definição de família somável.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Familias de Cauchy
Uma família (xi )i∈I satisfaz a condição de Cauchy se, para
todo ϵ > 0, existe subconjunto finito Fϵ ⊂ I tal que
Ppara todo
subconjunto finito F 0 ⊂ I disjunto de Fϵ se tem k i∈F 0 xi k < ϵ.
Toda família somável satisfaz a condição de Cauchy
(exercício).
Se uma família (xi )i∈I é de Cauchy, então
I ∗ = {i ∈ I : xi 6= 0} é enumerável, pois temos I ∗ = ∪n≥1 In
com In = {i ∈ I : kxi k ≥ 1/ n} e pela condição de Cauchy,
cada In é finito (exercício).

Teorema (critério de Cauchy)


Num espaço de Banach, uma família de elementos é
convergente se, e só se, essa família é de Cauchy.
P
A prova é um exercício: mostrar que xn = i∈In xi é sequência
de Cauchy cujo limite é o limite da família.
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Famílias absolutamente somáveis


Dizemos que uma família (xi )i∈I num espaço de Banach
(X , k · k) é absolutamente somável se existe α ∈ K tal que
P
i∈I kxi k = α.

Lema
Uma família
P (xi )i∈I é absolutamente somável se, e só se, as
somas i∈F kxi k são uniformemente limitadas, para todo
subconjunto finito F de I. Além disto, toda família
absolutamente somável é somável.
De fato, se existe L ∈ R+ tal que i∈F kxi k ≤ L para todo
P

subconjunto
P finito F de I, então escrevemos
I = I0 + n≥1 (In \ In−1 ), com I0 = {i ∈ I : xi = 0} e
In = {i ∈ I : kxi k ≥ 1/ n}, e obtemos
k
X X ∞
X X
β = sup kxi k = kxi k,
k ≥1 n=1 i∈I \I n=1 i∈In \In−1
n n−1

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

uma vez que a sequência


!
k
X X
kxi k
n=1 i∈In \In−1 k ≥1

é monótona estritamente crescente e limitada em R. Assim,


dado ϵ > 0 existe K ∈ Z+ tal que para k ≥ K se tem

k
X X
β − kxi k < ϵ.


n=1 i∈In \In−1

Portanto, para F ⊂ I finito tal que F ⊃ IK temos que existe


M > K tal que F ⊂ IM ∪ I0 , logo
K
X X X M
X X
β−ϵ≤ kxi k ≤ kxi k ≤ kxi k ≤ β + ϵ.
n=1 i∈In \In−1 i∈F n=1 i∈In \In−1
P
Isto mostra que i∈I kxi k = β e (xi )i∈I é absolutamente
somável.
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

P
P α = i∈I kxi k e
Se (xi )i∈I é absolutamente somável, então para
para qualquer subconjunto finito F de I vale i∈F kxi k ≤ α.
Finalmente, se (xi )i∈I é absolutamente somável, então (xi )i∈I é
de Cauchy. De fato, como (kxi k)i∈I é somável, então esta
família é de Cauchy. Portanto, para cada ϵ > 0 existe Fϵ ⊂ I
conjunto finito tal que para todo conjunto finito F em I tal que
F ∩ Fϵ = ∅ vale
X X
xi ≤ kxi k < ϵ.


i∈F i∈F

Como estamos num espaço de Banach e (xi )i∈I é família que


satisfaz a condição de Cauchy, então esta família é somável.
Concluimos assim a prova do lema.
P
Devido a este lema, escrevemos i∈I kxi k < ∞ para indicar
que a família (xi )i∈I é somável.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Famílias ortogonais

Dizemos que uma família (xi )i∈I de elementos de um espaço


vetorial com produto interno é ortogonal se para todo
subconjunto finito F ⊂ I se tem que (xi , xj ) = 0, ∀i 6= j, i, j ∈ F .
Dizemos que uma família (xi )i∈I de elementos de um espaço
vetorial com produto interno é ortonormal se para todo
subconjunto finito F ⊂ I se tem que (xi , xj ) = δij , ∀i, j ∈ F .

Lema
Seja (yi )i∈I família ortonormal num espaço de Hilbert H e
(αi )i∈I família de elementos de K. Então
X X
αi yi converge em H ⇐⇒ |αi |2 < ∞ ⇐⇒ (αi )i∈I ∈ ℓ2 (I).
i∈I i∈I

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Prova do lema

P
Suponhamos que exista y = i∈I αi yi . Então (αi yi )i∈I é de
Cauchy. Portanto, para cada ϵ > 0 existe Fϵ finito em I tal que
P todo F 2finito 2em I comPF ∩ Fϵ = P
para ∅ se tem
2
k i∈F αi yi k < ϵ ⇐⇒
P i∈F αi yi , i∈F αi yi < ϵ ou seja
2 2
i∈F |αi | < ϵ .

Como ϵ > 0 é arbitrário, mostramos que (|αi |2 )i∈I é de Cauchy


e portanto (αi )i∈I tem quadrado somável, logo está em ℓ2 (I).
Reciprocamente, se (αi )i∈I tem quadrado somável, então
(|αi |2 )i∈I é família de Cauchy, o que garante, pela equivalência
acima,P que (αi yi )i∈I é família de Cauchy em H, logo existe
y = i∈I αi yi , e a prova está terminada.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Norma da soma de família somável

2 1/ 2 , pois para
P P 
Note que obtivemos i∈I αi yi = i∈I |αi |
todo ϵ > 0 existe Fϵ ⊂ I finito tal que para todo conjunto finito F
tal que F ⊃ Fϵ vale

X X
αi yi − ky k ≤ αi yi − y < ϵ,



i∈F i∈F

e a igualdade acima segue por definição de somabilidade da


família (|αi |2 )i∈I , já que

X ‚X Œ1/ 2
αi yi = |αi |2 .


i∈F i∈F

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Famílias ortogonais e coeficientes de Fourier


Teorema
Seja A ⊂ H família ortonormal e x ∈ H. Então
P
1 a série Ex = y ∈A (y , x)y é (absolutamente) convergente
P
e y ∈A |(y , x)|2 = kx k2 ⇐⇒ Ex = x.
2 (y , x) = 0 para todo y ∈ A exceto subconjunto enumerável
de elementos de A;
3o operador E é a projeção ortogonal de H sobre o
subespaço fechado (A⊥ )⊥ = ger(A).
P
Para um conjunto finito F ⊂ I arbitrário, seja z = y ∈F (y , x)y e
P P
observe que (z, x) = y ∈F (y , x)(y , x) = y ∈F |(y , x)|2 = kzk2
logo (esta é a “Desigualdade de Bessel”)
X
kx k2 − kzk2 = (x − z, x − z) ≥ 0 =⇒ |(y , x)|2 ≤ kx k2 .
y ∈F

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Portanto a família ((y , x)y )y ∈A é convergente e E : H → H está


bem definido. Mais ainda
!
X X X
kEx k2 = (y , x)y , (y , x)y = |(y , x)|2 ≤ kx k2
y ∈A y ∈A y ∈A

logo kE k ≤ 1 e E é operador contínuo. A condição necessária


para Ex = x segue da desigualdade acima e a suficiente de
kx − Ex k2 = kx k2 − kEx k2 e definição de somabilidade.
O segundo ítem segue de observação anterior, pois a família
((y , x))y ∈A é de Cauchy.
Para o último ítem, temos E ◦ E = E pois, por continuidade do
produto interno
X X
E(Ex) = (y , Ex)y = (y , (z, x)z)y
y ∈A y ,z∈A
X X
= (z, x)(y , z)y = (y , x)y = Ex .
y ,z∈A y ∈A

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Também temos (Ex , x − Ex) = 0, pois


!
X X X X
(y , x)y , x − (y , x)y = |(y , x)|2 − |(y , x)|2 = 0
y ∈A y ∈A y ∈A y ∈A

o que mostra que E : H → H é projeção ortogonal.


Finalmente, por definição de E, Ex é limite de combinações
lineares de elementos de A, portanto E(H) ⊂ ger(A).
Como E é projeção ortogonal, temos a decomposição
ortogonal H = N(E) ⊕ E(H) e portanto E(H) = N(E)⊥ e a
imagem de E é subespaço fechado. Portanto E(H) contém
todas as combinações lineares de elementos de A, logo
E(H) ⊃ ger(A).
Isto prova o ítem 3 do enunciado e completa a prova do
Teorema.

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Exemplo

Em H = L2 ([0, 1], B, Leb) temos sequência ortonormal


en (t) = e2πint , n ∈ Z com o produto interno
Z 1
(f , g) = f̄ · g d Leb
0

e a desigualdade de Bessel garante que para todo subconjunto


finito F ⊂ Z
2 Z
X Z 1 1
e −2πint f (t) d Leb(t) ≤ |f |2 d Leb .


0 0
n∈F

V. Araujo Análise Funcional (MAT513)


Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Uma família A = (xi )i∈I é uma base ortonormal do espaço de


Hilbert H se
A⊂P H é família ortonormal, e
x = y ∈A (y , x)y , ∀x ∈ H ou (A⊥ )⊥ = H .


Teorema
Todo subespaço vetorial fechado M de um espaço de Hilbert H
admite alguma base ortonormal.

A prova é uma aplicação do Lema de Zorn para encontrar uma


família ortonormal maximal, que tem que ser uma base
ortonormal (exercício).
Corolário
Se A é família ortonormal de um espaço de Hilbert H, são
A⊥ = {0}; (ii) A é uma base ortonormal para
equivalentes: (i) P
H; e (iii) kx k = y ∈A |(y , x)|2 , ∀x ∈ H (igualdade de
2

Bessel-Parseval).
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)
Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais

Exemplo
Como consequência do Teorema de Stone-Weierstrass, temos
que A = {en (t) = e2πint , n ∈ Z} é base ortonormal para
H = L2 ([0, 1], B, Leb), pois A é uma família separante no
compacto [a, b]: dados t 6= s em [a, b] existe n ∈ Z tal que
en (t) 6= en (s).
Então os polinômios com coeficientes complexos de potências
de elementos de A são densos em C([a, b], C) na norma da
topologia uniforme, ou seja, para cada ϵ > 0 e f ∈ C([a, b], C)
existe F ⊂ Z finito e coeficientes λn ∈ C, n ∈ F tais que
Z 1 2
X
f (t) − λn en (t) d Leb(t) < ϵ2 .

0

n∈F

Mas C([a, b], C) é denso em H com a norma quadrática k · k2 ,


e o resultado segue.
V. Araujo Análise Funcional (MAT513)

Você também pode gostar