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V. Araújo
Espaços de Hilbert
Seja H espaço de Banach sobre K com norma k · k induzida
por um produto interno (·, ·) : H × H → K, isto é, para
x, y, z ∈ H e α ∈ K
(αx + y , z) = ᾱ(x , z) + (y , z);
(x , y ) = (y , x);
(x , x) ≥ 0 e (x , x) = 0 ⇐⇒ x = 0,
e kx k = (x , x)1/ 2 .
Lema (desigualdade de Schwarz)
Em todo espaço normado com norma induzida por produto
interno vale |(x , y )| ≤ kx k · ky k, ∀x , y ∈ H. A igualdade ocorre
apenas se x , y forem proporcionais.
kx + y k2 = kx k2 + (x , y ) + (y , x) + ky k2
≤ kx k2 + 2|(x , y | + ky k2 ≤ kx k2 + 2kx k · ky k + ky k2
≤ (kx k + ky k)2 .
2kx k · ky k = (x , y ) + (y , x) = 2ℜ(x , y ).
e temos |(x , y )| = kx k · ky k.
Portanto, a igualdade na desigualdade triangular ocorre se
algumas das condições seguintes se verifica: ou x = 0, ou
y = 0, ou existe t ∈ K tal que x = ty .
Em Kn a aplicação bilinear
n
X
((z1 , . . . , zn ), (w1 , . . . , wn )) = z̄i wi
i=1
Identidade de Polarização
Usando a norma induzida por um produto interno em qualquer
espaço vetorial se obtém, por substituição algébrica elementar
usando propriedades do produto interno
Lema
Todo espaço vetorial H com produto interno real satisfaz
1
kx + y k2 − kx − y k2 , ∀x , y ∈ H.
(x , y ) =
4
Se o produto interno for complexo, então satisfaz
1
kx + y k2 − kx − y k2 + ikx + iy k2 − ikx − iy k2 .
(x , y ) =
4
Estas indentidades permitem recuperar o produto interno de
dois vetores a partir da norma.
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Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Schwartz Exemplos Identidades Completamento Ortogonal
Identidade do Paralelogramo
Novamente por substituição algébrica elementar usando
propriedades do produto interno vem
Lema
Todo espaço vetorial H com produto interno satisfaz
x + y
2
x − y
2 1
2 2
+
= kx k + ky k , ∀x , y ∈ H.
2
2
2
Esta relação pode ser usada para mostrar que uma dada
norma não é induzida por um produto interno.
Exercício:
1 (ℓp (N), k · kp ) é espaço com produto interno se, e só se,
p = 2.
2 (C([−1, 1], R), k · k0 ) não é espaço com produto interno.
Completamente unitário
Adaptando a construção do completamento de espaços
normados, obtemos
Teorema
Se H, (·, ·) é espaço vetorial com produto interno, então H é
unitariamente equivalente a um subespaço denso num espaço
de Hilbert H que é chamado de completamento de H. Além
disto, quaisquer completamentos de H são unitariamente
equivalentes entre si.
Ortogonalidade
O produto interno pode ser usado para definir ângulo entre
dois vetores e, em particular, a ortogonalidade. Dizemos que
x , y ∈ H são ortogonais e escrevemos x ⊥ y se (x , y ) = 0.
Se E , F são subconjuntos de H, então E ⊥ F significa que
(x , y ) = 0 para todo x ∈ E e y ∈ F .
Também escrevemos F ⊥ para o subespaço vetorial de todos
os elementos de H ortongonais a todos os elementos de F .
Lema (demonstração é exercício simples)
1 ~ 6= y =⇒ x , y são linearmente
x ⊥ y com x 6= 0
independentes;
2 x ⊥ y ⇐⇒ kx + y k2 = kx k2 + ky k2 (Pitágoras);
k·k
3 xn ⊥ y para todo n ≥ 1 e xn −−−→ x, então x ⊥ y .
n→∞
Caracterização de ortogonalidade
Lema
Em todo espaço vetorial H com produto interno temos
x ⊥ y ⇐⇒ kx + ty k ≥ kx k, ∀t ∈ K.
0 ≤ kx + ty k2 = kx k2 + 2ℜ t(x , y ) + |t |2 ky k2 .
Se (x , y ) = 0 temos kx + ty k2 = kx k2 + |t |2 ky k2 ≥ kx k2 para
qualquer t ∈ K. Se vale kx + ty k ≥ kx k para todo t ∈ K,
elevando ao quadrado e tomando t = −(y , x)/ ky k2 vem
wn + wk
2
2 2 2
kwn − wk k = 2kwn − y k + 2kwk − y k − 4
y −
2
y = x + (y − x), (y − x) ∈ E ⊥ , x ∈E
Corolário
Seja H espaço de Hilbert.
1 Se E subespaço fechado de H, então (E ⊥ )⊥ = E e E é
também o complemento ortogonal de E ⊥ .
2 Para M subconjunto de E temos
ger M = H ⇐⇒ M ⊥ = {0}.
De fato, seja
T : H → H0 , x 7→ Tx : H → K : Tx (y ) = (x , y ), y ∈ H aplicação
de H em H0 e vamos ver que ela é uma isometria sesquilinear
(ou antilinear).
Note: kTx k = supky k=1 |(x , y )| ≤ supky k=1 kx k · ky k ≤ kx k.
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Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos
portanto
0 = (x , f (y )x − f (x)y ) = f (y )(x , x) − (f (x)x , y ), ∀y ∈ H.
Isto significa f (y ) = (f (x)x , y ) para todo y ∈ H e podemos
escrever f = Tf (x)x , provando a sobrejetividade e concluindo a
demonstração do teorema.
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Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos
Interpretação geométrica
H é reflexivo
Corolário
Todo espaço de Hilbert H é reflexivo.
e portanto g = J(x).
Como g ∈ H00 é arbitrário, mostramos que J : H → H00 é
sobrejetivo.
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Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Representação de Riesz Reflexividade Adjuntos
Formas sesquilineares
Uma aplicação b : N1 × N2 → K onde N1 , N2 são espaços
normados sobre o corpo K, que seja linear na segunda
variável e sesquilinear (ou antilinear) na primeira variável
diz-se uma forma sesquilinear (bilinear se os espaços
vetoriais forem reais).
Uma forma sesquilinear é limitada se sua norma é finita, isto é
|b(x1 , x2 )|
kbk = sup <∞
x1 ∈N1 ,x2 ∈N2 kx1 kN1 · kx2 kN2
Corolário
Se b : H1 × H2 → K é forma sesquilinear limitada, então existe
único operador T ∈ B(H1 , H2 ) satisfazendo kT k = kbk e
Prova do Corolário
Para cada x1 ∈ H1 fixado, L(x1 ) : H2 → K, x2 7→ b(x1 , x2 ) é
linear e como
|L(x1 )x2 | = |b(x1 , x2 )| ≤ kbk · kx1 kH1 · kx2 kH2
vemos que kL(x1 )k ≤ kbkkx1 kH1 e L(x1 ) ∈ H20 .
Pelo Teorema de Representação de Riesz, existe único
y2 ∈ H2 tal que L(x1 )x2 = (y2 , x2 )H2 para todo x2 ∈ H2 .
Definimos T : H1 → H2 por Tx1 = y2 , de maneira que obtemos
b(x1 , x2 ) = (Tx1 , x2 )H2 , ∀x1 ∈ H1 , x2 ∈ H2 e T é uma aplicação
linear: para todo x2 ∈ H2 , x1 , x10 ∈ H1 e α ∈ K
(T (αx1 + x10 ), x2 ) = L(αx1 + x10 )x2 = b(αx1 + x10 , x2 )
= ᾱb(x1 , x2 ) + b(x10 , x2 ) = ᾱ(Tx1 , x2 ) + (Tx10 , x2 )
= (αTx1 , x2 ) + (Tx10 , x2 ) = (αTx1 + Tx10 , x2 )
logo T (αx1 + x10 ) = αTx1 + Tx10 .
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Adjuntos de Hilbert
e kT k = kT ∗ k.
Se T ∈ B(H), então T diz-se normal se TT ∗ = T ∗ T e se
T = T ∗ diz-se autoadjunto.
Vamos relacionar esta noção de adjunto com a noção já vista
envolvendo o espaço dual, depois de vermos alguns exemplos.
Exemplos
Em L2 (Ω, A, μ) temos o operador (Mϕ ψ)(t) = ϕ(t)ψ(t) onde
ϕ ∈ L∞ (Ω, A, μ) é fixada e ψ ∈ L2 (Ω, A, μ) que já vimos ser um
operador linear, que é contínuo com norma kMϕ k = kϕk∞ .
O adjunto de Hilbert deste operador é Mϕ∗ = Mϕ̄ e portanto
este é um operador normal. Ele é autoadjunto se, e só se, ϕ é
uma função real μ-qtp..
De fato, para φ, ψ ∈ L2 (Ω, A, μ) temos
Z Z
(φ, Mϕ ψ) = φϕψ d μ = ϕφψ d μ = (Mϕ̄ φ, ψ)
Ω Ω
(Tx , y ) = (x , Ty ), ∀x , y ∈ H.
Proposição
Seja T ∈ B(H) com H espaço de Hilbert sobre C. Então T é
autoadjunto se, e só se, (Tx , x) ∈ R para todo x ∈ H.
Lema
Se (X , (·, ·)) é espaço vetorial complexo com produto interno
complexo e S : X é operador linear com (Sx , x) = 0, ∀x ∈ X ,
então S = 0.
Proof.
Para α ∈ C e x , y ∈ X vale
Proposição
Se Li : Hi → Hi0 , i = 1, 2 são as isometrias antilineares dadas
pelo Teorema de Representação de Riesz, então para
T ∈ B(H1 , H2 ) temos L1 T ∗ = T 0 L2 onde T 0 ∈ B(H20 , H10 ) é o
operador tal que < f , Tx >=< T 0 f , x > para todo f ∈ H20 .
É só conferir as definições:
(x2 , Tx1 ) = L2 (x2 )(Tx1 ) =< L2 (x2 ), Tx1 >=< T 0 L2 (x2 ), x1 >
=< L1 (L1−1 (T 0 L2 (x2 ))), x1 >=< L1 (y1 ), x1 >= (y1 , x1 )
| {z }
y1
Famílias somáveis
P
Necessitamos de dar um sentido a somatórios da forma i∈I xi
quando os índices I formam conjunto não enumerável e não
queremos nos preocupar com possíveis estruturas de ordem
em I.
Dizemos que (xi )i∈I num espaço normado
P (X , k · k) é somável
e tem soma x ∈ X , e escrevemos i∈I xi = x, se para cada
ϵ > 0 existe subconjunto finito Fϵ ⊂ I tal que paraP todo
subconjunto finito F ⊂ I tal que F ⊃ Fϵ vale kx − i∈F xi k < ϵ.
A motivação para esta definição é que para sequência (xn )n≥1
de reais ou complexos são equivalentes as propriedades
P
n xn é absolutamente convergente para x;
∀ϵ > 0∃Fϵ ⊂ N, #Fϵ < ∞ e para
Ptodo F satisfazendo
Fϵ ⊂ F ⊂ N, #F < ∞ vale |x − n∈F xn | < ϵ.
Exemplos de aplicação
Lema
Sejam X , Y espaços normados e T ∈ B(X , Y ). Dada família
somável (xi )i∈I em X com soma x, então (Txi )i∈I é família
somável em Y com soma Tx.
Proof.
Para F ⊂ I qualquer conjunto finito temos
X
X
X
Tx − Txi
=
T x − xi
≤ kT k ·
x − xi
i∈F i∈F x ∈F
Familias de Cauchy
Uma família (xi )i∈I satisfaz a condição de Cauchy se, para
todo ϵ > 0, existe subconjunto finito Fϵ ⊂ I tal que
Ppara todo
subconjunto finito F 0 ⊂ I disjunto de Fϵ se tem k i∈F 0 xi k < ϵ.
Toda família somável satisfaz a condição de Cauchy
(exercício).
Se uma família (xi )i∈I é de Cauchy, então
I ∗ = {i ∈ I : xi 6= 0} é enumerável, pois temos I ∗ = ∪n≥1 In
com In = {i ∈ I : kxi k ≥ 1/ n} e pela condição de Cauchy,
cada In é finito (exercício).
Lema
Uma família
P (xi )i∈I é absolutamente somável se, e só se, as
somas i∈F kxi k são uniformemente limitadas, para todo
subconjunto finito F de I. Além disto, toda família
absolutamente somável é somável.
De fato, se existe L ∈ R+ tal que i∈F kxi k ≤ L para todo
P
subconjunto
P finito F de I, então escrevemos
I = I0 + n≥1 (In \ In−1 ), com I0 = {i ∈ I : xi = 0} e
In = {i ∈ I : kxi k ≥ 1/ n}, e obtemos
k
X X ∞
X X
β = sup kxi k = kxi k,
k ≥1 n=1 i∈I \I n=1 i∈In \In−1
n n−1
P
P α = i∈I kxi k e
Se (xi )i∈I é absolutamente somável, então para
para qualquer subconjunto finito F de I vale i∈F kxi k ≤ α.
Finalmente, se (xi )i∈I é absolutamente somável, então (xi )i∈I é
de Cauchy. De fato, como (kxi k)i∈I é somável, então esta
família é de Cauchy. Portanto, para cada ϵ > 0 existe Fϵ ⊂ I
conjunto finito tal que para todo conjunto finito F em I tal que
F ∩ Fϵ = ∅ vale
X
X
xi
≤ kxi k < ϵ.
i∈F i∈F
Famílias ortogonais
Lema
Seja (yi )i∈I família ortonormal num espaço de Hilbert H e
(αi )i∈I família de elementos de K. Então
X X
αi yi converge em H ⇐⇒ |αi |2 < ∞ ⇐⇒ (αi )i∈I ∈ ℓ2 (I).
i∈I i∈I
Prova do lema
P
Suponhamos que exista y = i∈I αi yi . Então (αi yi )i∈I é de
Cauchy. Portanto, para cada ϵ > 0 existe Fϵ finito em I tal que
P todo F 2finito 2em I comPF ∩ Fϵ = P
para ∅ se tem
2
k i∈F αi yi k < ϵ ⇐⇒
P i∈F αi yi , i∈F αi yi < ϵ ou seja
2 2
i∈F |αi | < ϵ .
2 1/ 2 , pois para
P
P
Note que obtivemos
i∈I αi yi
= i∈I |αi |
todo ϵ > 0 existe Fϵ ⊂ I finito tal que para todo conjunto finito F
tal que F ⊃ Fϵ vale
X
X
αi yi
− ky k ≤
αi yi − y
< ϵ,
i∈F i∈F
X
X 1/ 2
αi yi
= |αi |2 .
i∈F i∈F
Exemplo
Teorema
Todo subespaço vetorial fechado M de um espaço de Hilbert H
admite alguma base ortonormal.
Bessel-Parseval).
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Espaços de Hilbert Riesz-Frechet Bases ortogonais Famílias ortonormais Bases ortonormais
Exemplo
Como consequência do Teorema de Stone-Weierstrass, temos
que A = {en (t) = e2πint , n ∈ Z} é base ortonormal para
H = L2 ([0, 1], B, Leb), pois A é uma família separante no
compacto [a, b]: dados t 6= s em [a, b] existe n ∈ Z tal que
en (t) 6= en (s).
Então os polinômios com coeficientes complexos de potências
de elementos de A são densos em C([a, b], C) na norma da
topologia uniforme, ou seja, para cada ϵ > 0 e f ∈ C([a, b], C)
existe F ⊂ Z finito e coeficientes λn ∈ C, n ∈ F tais que
Z 1 2
X
f (t) − λn en (t) d Leb(t) < ϵ2 .
0
n∈F