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Fundamentos de Matemática I
FUNÇÕES POLINOMIAIS
Gil da Costa Marques
a n = aa.
. ...
.a 4.1
n vezes
4.2
a 3 = a.a.a
A potenciação é uma operação bastante simples sempre que o expoente for um número
inteiro positivo.
f ( x ) = ax 3 4.4
que associa a cada valor da variável independente o seu cubo multiplicado pela constante a:
f ( x) = a ( x ⋅ x ⋅ x) 4.5
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Um exemplo simples de função cúbica é aquela que expressa o volume de uma esfera como
função do seu raio. Nesse caso, a dependência do volume em relação ao raio R se escreve:
4π 3
V= R 4.6
3
Analogamente, podemos definir uma função envolvendo uma potência arbitrária, n, da
variável dependente, onde n ∈ *:
f n ( x= n
) x= x
. x
. ...
.x 4.7
n vezes
n
Um polinômio de grau n é definido como uma soma de parcelas do tipo an . f ( x ) , para n
inteiro positivo ou, equivalentemente, uma combinação linear de funções do tipo 4.7. Assim,
um polinômio de grau n (Pn(x)), é definido pela expressão geral:
P n ( x ) = an f n ( x ) + an −1 f n −1 ( x ) + ... + a1 f 1 ( x ) + a0 4.8
ou, analogamente,
P n ( x ) = an x n + an −1 x n −1 + ... + a1 x + a0 4.9
Desse modo, um polinômio de grau n pode ser definido como uma soma de monômios
cujos graus variam de zero até n – um monômio de grau zero é uma constante – que é um
número real:
n
P n ( x ) = ∑ ai x i 4.10
i =0
Da definição acima, temos que uma função afim é, por definição, um polinômio de primeiro
grau, ou seja,
P1 ( x ) = a1 x + a0 4.11
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F
V ( t ) = t + V0 4.12
m
Nesse caso, a variável independente é o tempo,
acima designado por t, enquanto os parâmetros a1
e a0 são, respectivamente, a aceleração da partícula
(a1 = F/m) e a sua velocidade inicial (a0 = V(0) = V0).
Figura 4.1: Gráfico de uma função polinomial do primeiro
grau ou função afim.
Um polinômio é par se:
Pn ( x ) = Pn ( − x ) 4.13
Nesse caso, n deve ser necessariamente um número par e todos os coeficientes das potências
ímpares devem ser nulos. Por exemplo, o polinômio:
P 4 ( x ) = x 4 − 13x 2 + 36 4.14
é um polinômio par.
Um polinômio é dito ímpar se:
Pn ( x ) = −Pn ( − x ) 4.15
Nesse caso, n deve ser um número ímpar, bem como todos os coeficientes das potências
pares devem ser nulos. Assim, o polinômio
P 5 ( x ) = x 5 − 13x 3 + 36 x 4.16
é um polinômio ímpar.
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y ( x ) = ax 2 + bx + c 4.17
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A seguir, escreveremos 4.17 de uma forma inteiramente equivalente, e muito útil, como se verá.
Admitindo-se o parâmetro a não nulo (a ≠ 0), podemos escrever as seguintes igualdades:
b c b c b2 b2
y = ax 2 + bx + c = a x 2 + x + = a x 2 + x + + 2 − 2
a a a a 4a 4a
4.19
∆
2
2 b b 2
c b
2
b b − 4ac
2
= a x + x + 2 + − 2 = a x + −
a a
4 a 4a 2a 4a 2
b
x+
2
2a
donde inferimos que
2
b ∆
y ( x ) = ax + bx + c = a x +
2
−
4.20
2a 4a
onde o termo ∆ é dado por
4.21
∆ = b2 − 4ac
Embora seja pouco comum, vamos usar, muitas vezes, esta última forma da função quadrá-
tica. Em particular, se recorrermos a um artifício definido como translação de eixos (mudanças
de eixos na direção vertical e horizontal), ela se torna útil para escrever a equação da parábola
de uma forma mais simples. De fato, se redefinirmos as variáveis de acordo com as expressões:
b
x′ = x +
2a
4.22
b2 − 4ac
y′ = y −
4a
então, o polinômio do segundo grau pode ser escrito, nessas novas variáveis, como:
Observe que efetuar translações ao longo dos eixos x e y corresponde a realizar uma
mudança do sistema de coordenadas.
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Figura 4.3: Por meio da translação de eixos, podemos simplificar a forma da função quadrática.
As transformações 4.22 podem ser pensadas como translações dos eixos na direção horizontal
e na direção vertical. Assim, mediante uma nova escolha de eixos, escolha essa definida por 4.22,
podemos reduzir a expressão 4.17 ou 4.20 a uma forma bastante simples, que é dada em 4.23.
No que se segue, utilizaremos, indistintamente, qualquer uma das expressões 4.17, 4.20 ou 4.23.
De acordo com a expressão 4.13, podemos constatar que a função polinomial sob a forma
4.23 é uma função par. Assim, constatamos que a parábola dada em 4.20 apresenta um eixo de
simetria, que é a reta dada por:
b
x=− 4.24
2a
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Levando em conta ainda a forma 4.23, podemos verificar que a concavidade é determinada
pelo sinal do parâmetro a da função. A concavidade será negativa se o parâmetro a for negativo.
E será positiva se a for positivo. Isso pode ser facilmente observado na Figura 4.4.
Assim, o gráfico de um polinômio do segundo grau pode interceptar duas vezes o eixo x (se ele
possuir duas raízes distintas), interceptar apenas uma vez (no caso de ter apenas uma raiz ou duas
raízes iguais), ou nunca interceptá-lo (se não houver raízes reais). De acordo com a análise que
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faremos na seção 4.7, tais casos podem ser decididos por meio da relação entre os parâmetros
a, b e c. O resultado é o seguinte:
Se
∆ > 0 ⇔ b2 > 4ac o gráfico corta o eixo x duas vezes
∆ = 0 ⇔ b2 = 4ac o gráfico corta o eixo x uma única vez 4.26
y ( x ) = x 2 − 3x + 2 4.27
intercepta o eixo x duas vezes pois, nesse caso, ∆ = 9 − 4.1.2 = 1, ao passo que a função
y ( x ) = x2 − 2 x + 1 4.28
y ( x ) = x2 + 1 4.29
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Exemplos
• Exemplo 1
Estude a função:
y = f ( x ) = x2 − 6x + 5 4.30
→ Resolução:
Primeiramente, observamos que, nesse caso, temos: a = 1, b = −6, c = 5.
y(0) = ( 0 ) − 6 ( 0 ) + 5 = 5
2 4.31
xi 2 − 6 xi + 5 = 0 4.32
∆ = b2 − 4ac = ( −6 ) − 4 (1)( 5) = 36 − 20 = 16
2 4.33
Logo, a função dada admite duas raízes reais, ou seja, seu gráfico cortará o eixo horizontal em dois pontos.
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c d
Pode-se ver, pelos gráficos, que as funções polinomiais não são limitadas, isto é, elas podem
crescer indefinidamente, decrescer indefinidamente, ou ambos.
A curva associada ao gráfico de uma função polinomial de grau n pode cortar o eixo x um
certo número de vezes. Esse número é igual ou menor do que n. Aos pontos em que o gráfico
intercepta o eixo x damos o nome de raízes do polinômio.
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P n ( xi ) = 0 4.34
ou seja,
an xi n + an −1 xi n −1 + ... + a1 xi + a0 = 0 4.35
Podemos ter até n soluções reais para tal equação. Não existir solução, no conjunto dos
números reais, é, também, uma possibilidade. O estudo das raízes de um polinômio tem desa-
fiado os matemáticos. Assim, desde o século XVI, sabe-se encontrar a solução para as seguintes
equações cúbicas e quadráticas:
xi 3 + mxi − n = 0
4.36
xi 4 + pxi 2 + qxi + r = 0
Nos casos mais gerais, o problema é complexo. O caso mais simples entre todos é aquele em
que o polinômio é fatorável, de tal forma que se pode escrevê-lo como produto de polinômios
de primeiro grau:
P n ( x ) = an ( x − x1 ) ( x − x2 ) ⋅⋅⋅⋅ ( x − xn ) 4.37
Por exemplo, o polinômio dado por 4.14 pode ser escrito como
P 4 ( x ) = x 4 − 13x 2 + 36 = ( x − 2 ) ( x + 2 ) ( x − 3) ( x + 3) 4.38
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Ele tem, portanto, quatro raízes e elas são representadas pelo conjunto
P 5 ( x ) = x 5 − 13x 3 + 36 x = x ( x − 2 ) ( x + 2 ) ( x − 3) ( x + 3) 4.40
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onde a ≠ 0.
De 4.20 vemos que ela pode ser escrita como:
b ( b − 4ac )
2 2
4.43
a xi + − =0
2a 4a
E, portanto, tais valores, se existirem, devem satisfazer à identidade:
b
2
( b2 − 4ac ) ∆ 4.44
xi + = 2
= 2
2a 4a 4a
Ora, como é possível observar, a fim de que existam valores xi que satisfaçam à relação acima,
é necessário que o lado direito de 4.44 seja positivo ou nulo, ou seja:
∆≥0 4.45
b
2
∆
a xi + − 2 = 0 4.46
2a 4a
Uma vez que o coeficiente a é não nulo, temos:
2
b ∆ 4.47
xi + = 2
2a 4a
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b ∆ 4.48
xi + =±
2a 2a
Concluímos então que, dependendo do valor de ∆, podemos ter até três possibilidades:
∆ > 0 ⇔ duas
duas raízes reaisdiferentes
raízes reais diferentes
4.49
∆ = 0 ⇔ duas
duas raízes reaisiguais
raízes reais iguaiis(uma
(umaúnica
únicaraiz)
raiz).
∆ < 0 ⇔ não
não há
há raizes reais
raízes reais
b ∆ −b − b2 − 4ac
x1 = − − =
2a 4a 2 2a
4.50
b ∆ −b + b2 − 4ac
x2 = − + =
2a 4a 2 2a
Se, no entanto, ∆ = 0, as duas raízes se reduzem a uma só:
b
x1 = x2 = − 4.51
2a
De 4.50 ou 4.51, podemos concluir que a soma das raízes (S ) e o seu produto (P) são dados,
respectivamente, por:
−b
S = x1 + x2 =
a
4.52
c
P = x1 ⋅ x2 =
a
Finalmente, é fácil verificar que, em termos das raízes dadas por 4.50 ou 4.51, um polinô-
mio do segundo grau pode ser escrito como:
b c
ax 2 + bx + c = a x 2 + x + = a ( x − x1 ) ( x − x2 ) 4.53
a a
Por exemplo, as raízes da função 4.27 são determinadas pela equação:
xi 2 − 3xi + 2 = 0 4.54
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3− 9 −8
x1 = =1
2 4.55
3+ 9 −8
x2 = =2
2
enquanto a equação
xi 2 − 2 xi + 1 = 0 4.56
admite apenas uma raiz, já que, nesse caso, ∆ = 0. Tal raiz, de acordo com a expressão 4.51, é
dada por:
2
x=
1 x=
2 =1 4.57
2
A função 4.29 não tem raízes reais, pois ∆ < 0.
Figura 4.10: Gráficos de funções quadráticas exibindo duas, uma ou nenhuma raiz.
• Exemplo 2
Determine as raízes do polinômio dado por 4.30 ( y = f ( x ) = x 2 − 6 x + 5).
→ Resolução:
A partir da expressão 4.21, encontramos ∆ = 16 e, portanto,
4.58
∆ = 16 = 4
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e, a partir daí,
− b ± ∆ − ( −6 ) ± 4 6 ± 4
xi = = = 4.59
2a 2 (1) 2
ou seja,
6−4
x1 = =1
2 4.60
6+4
x2 = =5
2
( xm , y m ) 4.61
b
2
∆
y = a x + − 2 4.62
2a 4a
Da expressão acima, resulta que o máximo ou o mínimo da função quadrática ocorrerá para o
valor de x, para o qual o primeiro termo entre parênteses do lado direito se anula, isto é, xm é tal que:
b
xm + =0 4.63
2a
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ou seja, para
b
xm = − 4.64
2a
Outro modo de determinar a abscissa do vértice é lembrar que, havendo raízes reais, o
vértice se situa num ponto cuja abscissa é a média aritmética das raízes:
x1 + x2 b
xm = =− 4.65
2 2a
ao passo que o valor de ym, isto é, o valor máximo (ou mínimo) será determinado substituindo-se
em 4.62 o valor dado por 4.64, ou seja,
b
2
∆ ∆ ∆
y m = y ( xm ) = a xm + − 2 = a 0 2 − 2 = − 4.66
2a 4a 4a 4a
Obtemos, assim, explicitamente:
∆ b2
ym = − =− +c 4.67
4a 4a
Assim, o ponto de máximo ou de mínimo tem coordenadas dadas por:
b b2
( m m)
x , y = − , − + c 4.68
2a 4a
Os pontos de mínimo, isto é, os vértices das funções quadráticas 4.27, 4.28 e 4.29, são dados,
respectivamente, por:
3 1
,− (1, 0) ( 0,1) 4.69
2 4
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No caso da função:
4.70
y = x2 − 6x + 5
− b − ( −6 )
xv = = =3 4.71
2a 2 (1)
ao passo que, de 4.66, vemos que a ordenada do vértice é dada por:
−∆ −16
ym = = = −4 4.72
4a 4 (1)
• Exemplo 3
A Figura 4.12 apresenta o gráfico de uma função quadrática.
Escreva a expressão que define a função. Determine as coorde-
nadas do vértice:
→ Resolução:
Lembrando a forma geral da função quadrática y = ax2 + bx + c, o
problema que se coloca é o de determinar os coeficientes a, b, e c.
Da Figura 4.12 inferimos que as raízes são x1 = −1 e x2 = 3.
Considerando, agora, a forma fatorada de uma função polinomial Figura 4.12: Gráfico de uma função quadrática
do segundo grau, escrevemos:
y = a ( x − x1 ) ( x − x2 ) = a ( x + 1) ( x − 3) = a ( x 2 − 2 x − 3) 4.73
Resta-nos, portanto, determinar o valor do parâmetro a. Para isso, observe que o gráfico corta o eixo
y no ponto (0,2), isto é, para x = 0, temos y = 2:
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Portanto, o vértice é o ponto (1, 8/3). Observe que, nesse caso, a concavidade da parábola é para
baixo e a função admite um valor máximo, que é 8/3.
• Exemplo 4
Uma pessoa quer construir um galinheiro de forma retangular, usando
um muro reto já construído como um dos lados do galinheiro. Dado
que essa pessoa tem material para construir 60 metros de cerca de
uma altura fixa, determine os valores de x e z, de modo que a área do
galinheiro seja a maior possível (possa abrigar o maior número possível
de galinhas).
→ Resolução:
Tendo em vista que o galinheiro é retangular, a sua área, denominada y,
é dada pelo produto dos lados:
y = xz 4.80
x + z + x = 60 4.81
Donde concluímos que, com o material existente, a relação entre os lados é dada por:
z = 60 − 2 x 4.82
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y = x ( 60 − 2 x ) = −2 x 2 + 60 x 4.83
z = 60 − 2 x = 60 − 2 (15) = 30 4.85
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