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Fundamentos de Matemática I
FUNÇÕES POLINOMIAIS
Gil da Costa Marques

4.1 Potenciação de expoente natural


4.2 Funções polinomiais de grau n
4.3 Função polinomial do segundo grau ou função quadrática
4.4 Análise do gráfico de uma função quadrática
4.5 Gráficos das funções polinomiais
4.6 Raízes das funções polinomiais
4.7 Raízes da função quadrática
4.8 Ponto de máximo ou de mínimo da função quadrática

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4.1 Potenciação de expoente natural


Antes de abordar as funções polinomiais, devemos introduzir uma operação com números
reais, denominada potenciação. Assim, definimos a potência n do número real a, com n ∈ *,
representada por an, como o resultado do produto do número a n vezes, ou seja,

a n = aa.
. ...
.a 4.1
n vezes

Por exemplo, no caso de n = 3, temos:

4.2
a 3 = a.a.a

ou seja, o produto sucessivo de a três vezes.


O resultado da potenciação de um número real é um outro número real. Por exemplo,
33 = 3 ⋅ 3 ⋅ 3 = 3 ⋅ 9 = 27
4.3
( −3) = ( −3) ⋅ ( −3) ⋅ ( −3) = −3 ⋅ 9 = −27
3

A potenciação é uma operação bastante simples sempre que o expoente for um número
inteiro positivo.

4.2 Funções polinomiais de grau n


A operação potenciação com expoente natural permite-nos definir uma ampla classe de funções,
denominadas genericamente funções polinomiais. Por exemplo, a função cúbica ou função poli-
nomial de terceiro grau é definida a partir da potenciação, uma vez que é uma função da forma:

f ( x ) = ax 3 4.4

que associa a cada valor da variável independente o seu cubo multiplicado pela constante a:

f ( x) = a ( x ⋅ x ⋅ x) 4.5

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Um exemplo simples de função cúbica é aquela que expressa o volume de uma esfera como
função do seu raio. Nesse caso, a dependência do volume em relação ao raio R se escreve:

4π 3
V= R 4.6
3
Analogamente, podemos definir uma função envolvendo uma potência arbitrária, n, da
variável dependente, onde n ∈ *:

f n ( x= n
) x= x
. x
. ...
.x 4.7
n vezes

n
Um polinômio de grau n é definido como uma soma de parcelas do tipo an . f ( x ) , para n
inteiro positivo ou, equivalentemente, uma combinação linear de funções do tipo 4.7. Assim,
um polinômio de grau n (Pn(x)), é definido pela expressão geral:

P n ( x ) = an f n ( x ) + an −1 f n −1 ( x ) + ... + a1 f 1 ( x ) + a0 4.8

ou, analogamente,

P n ( x ) = an x n + an −1 x n −1 + ... + a1 x + a0 4.9

Desse modo, um polinômio de grau n pode ser definido como uma soma de monômios
cujos graus variam de zero até n – um monômio de grau zero é uma constante – que é um
número real:

n
P n ( x ) = ∑ ai x i 4.10
i =0

Da definição acima, temos que uma função afim é, por definição, um polinômio de primeiro
grau, ou seja,

P1 ( x ) = a1 x + a0 4.11

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Por exemplo, a velocidade escalar de uma par-


tícula de massa m sujeita a uma força constante
F, atuando ao longo de uma curva, é dada, como
função do tempo t decorrido, por:

F
V ( t ) =   t + V0 4.12
m
Nesse caso, a variável independente é o tempo,
acima designado por t, enquanto os parâmetros a1
e a0 são, respectivamente, a aceleração da partícula
(a1 = F/m) e a sua velocidade inicial (a0 = V(0) = V0).
Figura 4.1: Gráfico de uma função polinomial do primeiro
grau ou função afim.
Um polinômio é par se:

Pn ( x ) = Pn ( − x ) 4.13

Nesse caso, n deve ser necessariamente um número par e todos os coeficientes das potências
ímpares devem ser nulos. Por exemplo, o polinômio:

P 4 ( x ) = x 4 − 13x 2 + 36 4.14

é um polinômio par.
Um polinômio é dito ímpar se:

Pn ( x ) = −Pn ( − x ) 4.15

Nesse caso, n deve ser um número ímpar, bem como todos os coeficientes das potências
pares devem ser nulos. Assim, o polinômio

P 5 ( x ) = x 5 − 13x 3 + 36 x 4.16

é um polinômio ímpar.

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4.3 Função polinomial do segundo grau


ou função quadrática
A função polinomial do segundo grau ou o polinômio de segundo grau mais geral é da forma:

y ( x ) = ax 2 + bx + c 4.17

Na expressão acima, empregamos a forma convencional de apresentar as funções quadráticas,


ou seja, em termos de parâmetros designados pelas letras a, b e c. As constantes a, b e c são
denominadas, respectivamente, coeficiente quadrático, coeficiente linear e coeficiente constante
ou termo livre. O coeficiente quadrático é o único que não pode ser nulo, pois, nesse caso, a
função não seria do segundo grau.
O gráfico de um polinômio do segundo grau é uma curva denominada parábola. Isto foi
discutido em Aplicações à geometria analítica, seção 3.6.1.
O movimento dos projéteis na superfície terrestre provê mais de um exemplo de grandezas
que dependem, quadraticamente, umas das outras. Por exemplo, a coordenada y associada à
posição de um projétil depende da coordenada x da seguinte forma:
2
g x   x 
y ( x) = −   + v0 y   + y0
4.18
2  v0 x  v
 0x 
onde g é a aceleração da
gravidade, y0 é o valor da
coordenada y quando do
início do movimento,
isto é, quando x = 0, e
a velocidade inicial do
projétil tem componentes
(v0x , v0y).

Figura 4.2: A trajetória de um projétil é descrita por uma função quadrática.

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A seguir, escreveremos 4.17 de uma forma inteiramente equivalente, e muito útil, como se verá.
Admitindo-se o parâmetro a não nulo (a ≠ 0), podemos escrever as seguintes igualdades:

 b c  b c b2 b2 
y = ax 2 + bx + c = a  x 2 + x +  = a  x 2 + x + + 2 − 2 
 a a  a a 4a 4a 
  4.19
   
 ∆

2
 2 b b 2
c b 
2
 b  b − 4ac 
2
= a  x + x + 2 + − 2  = a  x +  − 
  a a
4 a 4a    2a  4a 2 
  b 
 x+ 
2
  
  2a  
donde inferimos que
2
 b  ∆
y ( x ) = ax + bx + c = a  x +
2
 −
4.20
 2a  4a
onde o termo ∆ é dado por

4.21
∆ = b2 − 4ac

Embora seja pouco comum, vamos usar, muitas vezes, esta última forma da função quadrá-
tica. Em particular, se recorrermos a um artifício definido como translação de eixos (mudanças
de eixos na direção vertical e horizontal), ela se torna útil para escrever a equação da parábola
de uma forma mais simples. De fato, se redefinirmos as variáveis de acordo com as expressões:

b
x′ = x +
2a
4.22
 b2 − 4ac 
y′ = y −  
 4a 
então, o polinômio do segundo grau pode ser escrito, nessas novas variáveis, como:

y ′ ( x′) = ax′2 4.23

Observe que efetuar translações ao longo dos eixos x e y corresponde a realizar uma
mudança do sistema de coordenadas.

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Figura 4.3: Por meio da translação de eixos, podemos simplificar a forma da função quadrática.

As transformações 4.22 podem ser pensadas como translações dos eixos na direção horizontal
e na direção vertical. Assim, mediante uma nova escolha de eixos, escolha essa definida por 4.22,
podemos reduzir a expressão 4.17 ou 4.20 a uma forma bastante simples, que é dada em 4.23.
No que se segue, utilizaremos, indistintamente, qualquer uma das expressões 4.17, 4.20 ou 4.23.
De acordo com a expressão 4.13, podemos constatar que a função polinomial sob a forma
4.23 é uma função par. Assim, constatamos que a parábola dada em 4.20 apresenta um eixo de
simetria, que é a reta dada por:

b
x=− 4.24
2a

4.4 Análise do gráfico de


uma função quadrática
Podemos classificar as parábolas a partir de suas características. Uma primeira característica é a
concavidade. Uma segunda diz respeito ao fato de ela interceptar ou não o eixo x.

Uma função quadrática pode exibir dois tipos de concavidade. A


concavidade é considerada positiva se a curva “está virada para
cima”. Se ocorrer o oposto, a concavidade da curva é negativa.
Nesse caso, dizemos, numa linguagem coloquial, que ela está “vira-
da para baixo”. Posteriormente, daremos uma definição mais pre-
cisa de concavidade de uma curva.

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Levando em conta ainda a forma 4.23, podemos verificar que a concavidade é determinada
pelo sinal do parâmetro a da função. A concavidade será negativa se o parâmetro a for negativo.
E será positiva se a for positivo. Isso pode ser facilmente observado na Figura 4.4.

Figura 4.4: A concavidade da função depende do sinal do parâmetro a.

Assim, o parâmetro a determina


também o quão “aberta” ou “fechada”
será a parábola. Quanto maior o valor
desse parâmetro tanto mais fechada será
a parábola (vide Figura 4.5).
A parábola pode interceptar ou não o
eixo x. Para determinar se a curva inter-
cepta o eixo x, basta procurar os valores
de x que tornam y = 0. A tais valores,
quando existem, damos o nome de raízes
da função ou raízes do polinômio. Cada Figura 4.5: Comportamento da parábola quando variamos o parâmetro a.
ponto em que a parábola cruza o eixo x é obtido por meio de um par ordenado da forma
(xr, 0), onde xr é uma das raízes do polinômio de segundo grau, isto é:

axr 2 + bxr + c = 0 4.25

Assim, o gráfico de um polinômio do segundo grau pode interceptar duas vezes o eixo x (se ele
possuir duas raízes distintas), interceptar apenas uma vez (no caso de ter apenas uma raiz ou duas
raízes iguais), ou nunca interceptá-lo (se não houver raízes reais). De acordo com a análise que

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faremos na seção 4.7, tais casos podem ser decididos por meio da relação entre os parâmetros
a, b e c. O resultado é o seguinte:
Se
∆ > 0 ⇔ b2 > 4ac o gráfico corta o eixo x duas vezes
∆ = 0 ⇔ b2 = 4ac o gráfico corta o eixo x uma única vez 4.26

∆ < 0 ⇔ b2 < 4ac o gráfico não corta o eixo.

Figura 4.6: A parábola para diferentes possibilidades de ∆.

Assim, a função quadrática, por exemplo,

y ( x ) = x 2 − 3x + 2 4.27

intercepta o eixo x duas vezes pois, nesse caso, ∆ = 9 − 4.1.2 = 1, ao passo que a função

y ( x ) = x2 − 2 x + 1 4.28

intercepta o eixo x apenas uma vez, pois ∆ = 4 − 4.1.1 = 0 . A função

y ( x ) = x2 + 1 4.29

não intercepta o eixo x.

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Exemplos
• Exemplo 1
Estude a função:

y = f ( x ) = x2 − 6x + 5 4.30

com relação às suas intersecções com os eixos coordenados.

→ Resolução:
Primeiramente, observamos que, nesse caso, temos: a = 1, b = −6, c = 5.

a. Intersecção com o eixo 0y:


Para encontrar o valor de y, basta tomar x = 0 na equação 4.30.
Obtemos:

y(0) = ( 0 ) − 6 ( 0 ) + 5 = 5
2 4.31

Portanto, o gráfico corta o eixo 0y no ponto de coordenadas (0,5).


Observamos também que, como a = 1 > 0, a concavidade é para cima.

b. Intersecção com o eixo x:


Devemos verificar se existem pontos na curva tais que y = 0, ou seja, pontos x para os quais:

xi 2 − 6 xi + 5 = 0 4.32

Vamos determinar o valor de ∆:

∆ = b2 − 4ac = ( −6 ) − 4 (1)( 5) = 36 − 20 = 16
2 4.33

Logo, a função dada admite duas raízes reais, ou seja, seu gráfico cortará o eixo horizontal em dois pontos.

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4.5 Gráficos das funções polinomiais


Gráficos típicos de funções polinomiais são apresentados nas figuras abaixo. O polinômio da
Figura 4.7d é um polinômio par. Os demais gráficos são de funções que não são pares nem ímpares.
a

c d

Figura 4.7: Alguns gráficos de funções polinomiais

Pode-se ver, pelos gráficos, que as funções polinomiais não são limitadas, isto é, elas podem
crescer indefinidamente, decrescer indefinidamente, ou ambos.
A curva associada ao gráfico de uma função polinomial de grau n pode cortar o eixo x um
certo número de vezes. Esse número é igual ou menor do que n. Aos pontos em que o gráfico
intercepta o eixo x damos o nome de raízes do polinômio.

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Os polinômios, em geral, exibem pontos de máximo ou de mínimo locais. Por exemplo,


o gráfico da Figura 4.7c exibe dois máximos locais e um mínimo local, enquanto que a
Figura 4.7d apresenta dois máximos locais e três mínimos locais.

4.6 Raízes das funções polinomiais


A determinação das raízes de um polinômio de grau n se faz mediante a resolução de uma
equação algébrica. De fato, designando por xi a i-ésima raiz de um polinômio, por definição, xi
deve satisfazer à equação algébrica:

P n ( xi ) = 0 4.34

ou seja,

an xi n + an −1 xi n −1 + ... + a1 xi + a0 = 0 4.35

Podemos ter até n soluções reais para tal equação. Não existir solução, no conjunto dos
números reais, é, também, uma possibilidade. O estudo das raízes de um polinômio tem desa-
fiado os matemáticos. Assim, desde o século XVI, sabe-se encontrar a solução para as seguintes
equações cúbicas e quadráticas:

xi 3 + mxi − n = 0
4.36
xi 4 + pxi 2 + qxi + r = 0
Nos casos mais gerais, o problema é complexo. O caso mais simples entre todos é aquele em
que o polinômio é fatorável, de tal forma que se pode escrevê-lo como produto de polinômios
de primeiro grau:

P n ( x ) = an ( x − x1 ) ( x − x2 ) ⋅⋅⋅⋅ ( x − xn ) 4.37

Por exemplo, o polinômio dado por 4.14 pode ser escrito como

P 4 ( x ) = x 4 − 13x 2 + 36 = ( x − 2 ) ( x + 2 ) ( x − 3) ( x + 3) 4.38

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Figura 4.8 Gráfico do polinômio P4 indicando suas raízes.

Ele tem, portanto, quatro raízes e elas são representadas pelo conjunto

{−3, −2, 2, 3} 4.39

O polinômio ímpar, dado por 4.16, pode ser escrito como

P 5 ( x ) = x 5 − 13x 3 + 36 x = x ( x − 2 ) ( x + 2 ) ( x − 3) ( x + 3) 4.40

Figura 4.9 Gráfico do polinômio P5 indicando suas raízes.

Ele tem, portanto, cinco raízes, constituindo o conjunto:

{−3, −2, 0,2,3} 4.41

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4.7 Raízes da função quadrática


Analisaremos, a seguir, o problema da determinação das raízes de uma equação do segundo
grau. A solução desse problema é bastante simples e se aplica a qualquer função polinomial de
segundo grau.
A equação que nos permite determinar as raízes da função quadrática, de acordo com a
notação da seção precedente, é dada por:

axi 2 + bxi + c = 0 4.42

onde a ≠ 0.
De 4.20 vemos que ela pode ser escrita como:

b  ( b − 4ac )
2 2
 4.43
a  xi +  − =0
 2a  4a
E, portanto, tais valores, se existirem, devem satisfazer à identidade:

 b 
2
( b2 − 4ac ) ∆ 4.44
 xi +  = 2
= 2
 2a  4a 4a
Ora, como é possível observar, a fim de que existam valores xi que satisfaçam à relação acima,
é necessário que o lado direito de 4.44 seja positivo ou nulo, ou seja:

∆≥0 4.45

Tendo em vista a expressão 4.43, obtemos a seguinte expressão:

 b 
2
∆ 
a  xi +  − 2  = 0 4.46
 2a  4a 
Uma vez que o coeficiente a é não nulo, temos:

2
 b  ∆ 4.47
 xi +  = 2
 2a  4a

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E, portanto, se ∆ ≥ 0, as raízes são dadas da seguinte maneira:

b ∆ 4.48
xi + =±
2a 2a
Concluímos então que, dependendo do valor de ∆, podemos ter até três possibilidades:

 ∆ > 0 ⇔ duas
duas raízes reaisdiferentes
raízes reais diferentes
 4.49
 ∆ = 0 ⇔ duas
duas raízes reaisiguais
raízes reais iguaiis(uma
(umaúnica
únicaraiz)
raiz).
 ∆ < 0 ⇔ não
não há
há raizes reais
raízes reais

Assim, para ∆ > 0, encontramos as duas raízes dadas pelos valores:

b ∆ −b − b2 − 4ac
x1 = − − =
2a 4a 2 2a
4.50
b ∆ −b + b2 − 4ac
x2 = − + =
2a 4a 2 2a
Se, no entanto, ∆ = 0, as duas raízes se reduzem a uma só:

b
x1 = x2 = − 4.51
2a
De 4.50 ou 4.51, podemos concluir que a soma das raízes (S ) e o seu produto (P) são dados,
respectivamente, por:
−b
S = x1 + x2 =
a
4.52
c
P = x1 ⋅ x2 =
a
Finalmente, é fácil verificar que, em termos das raízes dadas por 4.50 ou 4.51, um polinô-
mio do segundo grau pode ser escrito como:

 b c
ax 2 + bx + c = a  x 2 + x +  = a ( x − x1 ) ( x − x2 ) 4.53
 a a
Por exemplo, as raízes da função 4.27 são determinadas pela equação:

xi 2 − 3xi + 2 = 0 4.54

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cujas soluções, de acordo com 4.50, são:

3− 9 −8
x1 = =1
2 4.55
3+ 9 −8
x2 = =2
2
enquanto a equação

xi 2 − 2 xi + 1 = 0 4.56

admite apenas uma raiz, já que, nesse caso, ∆ = 0. Tal raiz, de acordo com a expressão 4.51, é
dada por:

2
x=
1 x=
2 =1 4.57
2
A função 4.29 não tem raízes reais, pois ∆ < 0.

Figura 4.10: Gráficos de funções quadráticas exibindo duas, uma ou nenhuma raiz.

• Exemplo 2
Determine as raízes do polinômio dado por 4.30 ( y = f ( x ) = x 2 − 6 x + 5).

→ Resolução:
A partir da expressão 4.21, encontramos ∆ = 16 e, portanto,
4.58
∆ = 16 = 4

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e, a partir daí,
− b ± ∆ − ( −6 ) ± 4 6 ± 4
xi = = = 4.59
2a 2 (1) 2
ou seja,
6−4
x1 = =1
2 4.60
6+4
x2 = =5
2

4.8 Ponto de máximo ou de mínimo


da função quadrática
Finalmente, lembramos que uma parábola exibe um ponto em que a variável y atinge um
valor máximo (ou um valor mínimo). Qualquer que seja o caso (máximo ou mínimo), esse
valor de y será representado genericamente por ym.
O valor da variável independente, x, para o qual ocorre o valor máximo (ou mínimo) da
função polinomial do segundo grau, será designado por xm. Como a cada par de valores das
variáveis corresponde um ponto (x , y) no plano, esse ponto muito especial da parábola é:

( xm , y m ) 4.61

Esse ponto é o vértice da parábola.


Existe uma forma sistemática de determinar o ponto de máximo ou de mínimo de um
polinômio do segundo grau. Para isso, reescrevemos a função do segundo grau utilizando a
expressão 4.20, ou seja,

 b 
2
∆ 
y = a  x +  − 2  4.62
 2a  4a 
Da expressão acima, resulta que o máximo ou o mínimo da função quadrática ocorrerá para o
valor de x, para o qual o primeiro termo entre parênteses do lado direito se anula, isto é, xm é tal que:

b
xm + =0 4.63
2a

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ou seja, para

b
xm = − 4.64
2a
Outro modo de determinar a abscissa do vértice é lembrar que, havendo raízes reais, o
vértice se situa num ponto cuja abscissa é a média aritmética das raízes:

x1 + x2 b
xm = =− 4.65
2 2a
ao passo que o valor de ym, isto é, o valor máximo (ou mínimo) será determinado substituindo-se
em 4.62 o valor dado por 4.64, ou seja,

 b 
2
∆   ∆  ∆
y m = y ( xm ) = a   xm +  − 2  = a  0 2 − 2  = − 4.66
 2a  4a   4a  4a
Obtemos, assim, explicitamente:

∆ b2
ym = − =− +c 4.67
4a 4a
Assim, o ponto de máximo ou de mínimo tem coordenadas dadas por:

 b b2 
( m m) 
x , y = − , − + c 4.68
 2a 4a 
Os pontos de mínimo, isto é, os vértices das funções quadráticas 4.27, 4.28 e 4.29, são dados,
respectivamente, por:

3 1
 ,−  (1, 0) ( 0,1) 4.69
2 4

Figura 4.11: Vértices das funções quadráticas 4.27, 4.28 e 4.29.

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No caso da função:

4.70
y = x2 − 6x + 5

a abscissa do vértice (xv) é dada por:

− b − ( −6 )
xv = = =3 4.71
2a 2 (1)
ao passo que, de 4.66, vemos que a ordenada do vértice é dada por:

−∆ −16
ym = = = −4 4.72
4a 4 (1)

• Exemplo 3
A Figura 4.12 apresenta o gráfico de uma função quadrática.
Escreva a expressão que define a função. Determine as coorde-
nadas do vértice:

→ Resolução:
Lembrando a forma geral da função quadrática y = ax2 + bx + c, o
problema que se coloca é o de determinar os coeficientes a, b, e c.
Da Figura 4.12 inferimos que as raízes são x1 = −1 e x2 = 3.
Considerando, agora, a forma fatorada de uma função polinomial Figura 4.12: Gráfico de uma função quadrática
do segundo grau, escrevemos:

y = a ( x − x1 ) ( x − x2 ) = a ( x + 1) ( x − 3) = a ( x 2 − 2 x − 3) 4.73

Resta-nos, portanto, determinar o valor do parâmetro a. Para isso, observe que o gráfico corta o eixo
y no ponto (0,2), isto é, para x = 0, temos y = 2:

y (0) = 2 = a (02 − 2 ⋅ 0 − 3) 4.74

Donde inferimos que


2 4.75
−3a = 2 ⇔ a = −
3

Substituindo esse valor de a em 4.73, obtemos:


2
y = − ( x 2 − 2 x − 3) 4.76
3

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ou, de modo equivalente,


2 4 4.77
y = − x2 + x + 2
3 3
Para determinar as coordenadas do vértice, lembramos primeiramente que a abscissa do vértice é,
essencialmente, a média aritmética das abscissas das raízes. Assim, nesse caso, obtemos:
−4
x1 + x2 −1 + 3 −b 3 =1
xm = = = = 4.78
2 2 2a  2
2 − 
 3

Da expressão 4.66, que dá o valor da ordenada do vértice, obtemos:


64

ym =
−∆
= 9 =8 4.79
4a  2 3
4 − 
 3

Portanto, o vértice é o ponto (1, 8/3). Observe que, nesse caso, a concavidade da parábola é para
baixo e a função admite um valor máximo, que é 8/3.

• Exemplo 4
Uma pessoa quer construir um galinheiro de forma retangular, usando
um muro reto já construído como um dos lados do galinheiro. Dado
que essa pessoa tem material para construir 60 metros de cerca de
uma altura fixa, determine os valores de x e z, de modo que a área do
galinheiro seja a maior possível (possa abrigar o maior número possível
de galinhas).

→ Resolução:
Tendo em vista que o galinheiro é retangular, a sua área, denominada y,
é dada pelo produto dos lados:
y = xz 4.80

Os lados x e z devem respeitar a limitação imposta pela quantidade


de material à disposição. Assim, escrevemos para a soma dos três Figura 4.13: A situação descrita no
lados do galinheiro: Problema 4.

x + z + x = 60 4.81

Donde concluímos que, com o material existente, a relação entre os lados é dada por:

z = 60 − 2 x 4.82

Fundamentos de Matemática I
94 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1

Portanto, escrevendo a área da construção em função do comprimento


do lado, x, obtemos:

y = x ( 60 − 2 x ) = −2 x 2 + 60 x 4.83

Como a < 0, a concavidade da parábola, que é o gráfico da função


y = f (x), é para baixo e a função admite um valor máximo para a
abscissa dada por:
−b −60
x = xm = = = 15 4.84
2 a 2 ( −2 )
Assim, para esse valor de x, o valor do outro lado será dado por:

z = 60 − 2 x = 60 − 2 (15) = 30 4.85

Portanto, para que o galinheiro tenha a área máxima, devemos ter:


Figura 4.14: O problema resolvido.
=x 15
= metros e z 30 metros 4.86

4 Funções Polinomiais

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