Você está na página 1de 16

MAT001: Cálculo Diferencial e Integral I

Professor John MacQuarrie

A função exponencial
Vamos definir e estudar duas das funções mais fundamentais da matemática e das ciências: a função
exponencial e a inversa dela, o logaritmo.

y
Neste exemplo, peguei um número
a > 1, “a base”. A função
exponencial correspondente é y = ax
expa (x) : R → (0, ∞)
x 7→ ax .

Vamos definir esta função com cuidado, em várias etapas. Fixe um número a > 0.

1. Como função N+ = {1, 2, 3, . . .} → (0, ∞).


Dado n ∈ N+ , define
n
| · a ·{z. . . · a} = a .
expa (n) := a
n vezes

[Observe que expa (1) = a1 = a]


Esta função tem três propriedades importantes:
p1) am · an = am+n ∀m, n ∈ N+ ,
m n m·n
p2) (a ) = a ∀m, n ∈ N+ ,
n n n
p3) (a · b) = a b ∀n ∈ N+ , ∀b > 0.
Exercı́cio: Use a definição para confirmar que estas propriedades valem.
Vamos estender essa função para uma função expa : R → (0, ∞) tal que as propriedades p1), p2), p3)
continuam sendo verdadeiras.
2. Como função Z → (0, ∞).
Primeira coisa: como definir a0 ? Precisamos que

a = a1 = a0+1 = a0 · a1 = a0 · a

pela propriedade p1)

Então,
a = a0 · a =⇒ a0 := 1

Segunda coisa: como definir a−n ? Precisamos que

an · a−n = an−n = a0 = 1

pela propriedade p1)

Então
1
an · a−n = 1 =⇒ a−n :=
an

1
Até agora, o esboço de nossa função (desenhado com a > 1) é:

a3 •

a2 •
a •
1•
• 1/a
• •
−3 −2 −1 1 2 3 x

3. Como função Q → (0, ∞).


[[ Se lembre que Q é o conjunto dos números racionais
nc o
Q= : c, d ∈ Z, d > 0 .
d
]]
Primeira coisa: como definir a1/d ?. Precisamos que

(a1/d )d = a(1/d)·d = a1 = a.

pela propriedade p2)

Então a1/d é o número positivo tal que


1/d
a
| . . · a1/d}
· .{z
d vezes

seja igual ao número a. Isto é,



a1/d := d
a (a raiz d-ésima de a).

Segunda coisa: como definir ac/d ? Precisamos que


√ c
ac/d = a(1/d)·c = (a1/d )c = ( d a)

pela propriedade p2)

Então
√ c
ac/d := d
a .

4. Como função R → (0, ∞).


Agora, precisamos usar um processo de “aproximação”. Muitos números reais não são racionais.
Mas dado qualquer número real, podemos encontrar uma sequência de números racionais que se
aproxima ao número dado.
Exemplo. O número π = 3, 14159 . . . não é racional. A sequência

3 , 3, 1 , 3, 14 , 3, 141 , 3, 1415 , ...

se aproxima ao número π. Todos os números dessa sequência são racionais:


31 314 3141 31415
3 , , , , , ...
10 100 1000 10000
Dizemos (informalmente, por enquanto) que o limite desta sequência é o número π.

2
Voltando para nosso problema. Dado x ∈ R, considere uma sequência de números racionais tal que
o limite dela seja x:
z1 , z 2 , z 3 , z 4 , . . . lim zn = x
n→∞

Dessa sequência, obtemos uma sequência de números

expa (z1 ) , expa (z2 ) , expa (z3 ) , expa (z4 ) , . . .

que também possui um limite - isto é, um número tal que os números da sequência se aproximem
a ele melhor e melhor quando n aumenta.
Definimos expa (x) ser o limite desta sequência:

expa (x) := lim expa (zn )


n→∞

e finalmente temos uma função

expa : R → (0, ∞)
x 7→ ax

Esta função tem as seguintes propriedades:

a0 = 1
p1) ax ay = ax+y
p2) (ax )y = axy
p3) (ab)x = ax bx ∀x, y ∈ R

[[mas para justificar que estas propriedades valem, vamos precisar saber mais sobre limites]]
Vamos esboçar uns gráficos. Quando a > 1:

y y = 3x

y = 2x

y = (3/2)x

1

Estas funções são estritamente crescentes. Isto é:

x1 < x2 ⇐⇒ ax1 < ax2 .

Quando a < 1: Seja a = 1/b com b > 1. Temos

expa (x) = exp1/b (x) = (1/b)x = b−x = expb (−x).

3
Então o gráfico de expa pode ser obtido do gráfico de exp1/a por uma reflexão no eixo y:

y = (1/3)x y

y = (1/2)x

y = (2/3)x

1

Estes gráficos são estritamente decrescentes:


2
x1 < x2 ⇐⇒ ax1 > ax .

O logaritmo
A função exponencial x 7→ ax é uma bijeção R → (0, ∞) para todo valor de a > 0 exceto a = 1.
A função inversa de expa (x) se chama o logaritmo na base a

loga : (0, ∞) → R.

Fazendo uma reflexão na reta y = x, obtemos os gráficos de loga (x) a partir dos gráficos de expa (x):

y = loga (x)

1 •


1 a x

a>1

4
y

1 •


a 1 x

y = loga (x)
a<1

loga (1) = 0 , pois expa (0) = a0 = 1,


loga (a) = 1 , pois expa (1) = a1 = a.
Temos, por definição, que
aloga (x) = x ∀ x ∈ (0, ∞),
x
loga (a ) = x ∀ x ∈ R.
Com outras palavras, loga (b) é
“o expoente de a que dá b”.
Isto é,
z = loga (b) ⇐⇒ az = b .
Umas propriedades importantes do logaritmo:

l1) loga (xy) = loga (x) + loga (y) ∀x, y > 0


l2) loga (x/y) = loga (x) − loga (y) ∀x, y > 0
l3) loga (xt ) = t loga (x) ∀x > 0, ∀t ∈ R

Vamos confirmar que l1) é verdadeira:

aloga (xy) = xy
   
= aloga (x) · aloga (y)
= aloga (x)+loga (y) pela propriedade p1)
=⇒ loga (xy) = loga (x) + loga (y). X

Exercı́cio: Na mesma maneira, use as propriedades da função exponencial para confirmar que l2), l3) são
verdadeiras.

Mudança da base
Quando sabemos o valor de loga (x) na base a, podemos calcular o valor do logaritmo numa outra base
b. Escreva b = aloga (b) . Temos

aloga (x) = x = blogb (x)


 logb (x)
= aloga (b)
= aloga (b)·logb (x) por p2)

logo
loga (x) = loga (b) logb (x)

5
loga (x)
=⇒ logb (x) = .
loga (b)
Isto é “a fórmula de mudança de base”.

A base “e”
A fórmula de mudança sugere que todas as bases são igualmente boas. Mas existe uma base especial:

e = 2, 71828 . . .

Vamos ver neste curso que é mais fácil manusear funções exponenciais e logarı́tmicas quando escolhermos
a base e.
Exemplos de umas propriedades legais do número e:
1. O gradiente da curva y = expe (x) = ex no ponto x:

y
y = ex

x x

é exatamente ex !
2. A área sob a curva y = 1/x entre 1 e e:

1 e x

é exatamente 1!
Denotamos por ln(x) o logaritmo loge (x).

Limites
Limites limx→±∞ f (x)
Vamos considerar os valores de uma função f (x) quando x ficar muito grande e positivo, ou muito grande
e negativo.

6
Considere a função f (x) = 1/x. O gráfico dela é:
y

y = 1/x
1/x
x
x x
1/x

Observamos que quando x for enorme e positivo, o valor 1/x ficará muito perto de 0. Dizemos que
“os valores de 1/x tendem a zero”.
Uns valores para ver:

x 10 1000 10000
1/x 1/10 = 0,1 1/1000 = 0,001 1/10000 = 0,0001

Nossa primeira tarefa é falar num jeito preciso a frase acima. A ideia será:
Dado qualquer valor ε > 0, depois de algum valor de x, a função 1/x vai sempre ter valores menores do
que ε. Já que ε poderia ser arbitrariamente pequeno, a função vai eventualmente chegar arbitrariamente
perto de 0.
Então, fixamos um número positivo arbitrário ε, que chamaremos de tolerância. Para ver como
funcionar, vamos escolher 0,002. Agora, queremos encontrar os valores de x tais que
0 6 1/x 6 0, 002.
Resolvendo esta desigualdade, obtemos
1
6x (pois x > 0)
0, 002
isto é, 500 6 x.
Então, quando x for maior do que 500, 1/x ficará mais perto de 0 do que nossa tolerância 0,002.
Em geral, seja ε > 0 uma tolerância qualquer (mas fixa). Procurando os x > 0 tais que
0 6 1/x 6 ε,
obtemos,
x > 1/ε.
Isto é, dada qualquer tolerância ε, existe um número (1/ε, neste caso) tal que para todo valor de x maior
do que 1/ε, temos 0 6 1/x 6 ε;
y

1/x

ε
1/ε x

7
Demonstramos que
“O limite de 1/x quando x tende a + ∞ é igual a 0”,
ou
“1/x tende a 0 quando x tende a + ∞”.
Escrevemos
lim 1/x = 0.
x→∞

Outra direção: Quando x → −∞, a função 1/x também tende a 0, mas com valores negativos (pois
x < 0 =⇒ 1/x < 0). Queremos fixar uma tolerância ε > 0 e achar os x tais que

−ε 6 1/x 6 0.

Resolvendo, vemos que a desigualdade está satisfeita para qualquer

x 6 −1/ε.

Escrevemos
lim 1/x = 0.
x→−∞

Seria mais fácil não ter que preocupar sobre quando nossa função está positiva/negativa (como acima).
Evitaremos estes problemas usando o valor absoluto. Dado ε > 0, queremos que

|1/x| 6 ε.

Definição (“tende a 0”). Diremos que f (x) tende a 0 quando x → ∞ se para qualquer tolerância ε > 0,
é possı́vel garantir que |f (x)| 6 ε para todo x > 0 suficientemente grande. Escreve-se

lim f (x) = 0.
x→∞

Exercı́cio: Escreva a definição de “tende a 0 quando x → −∞”.


Consideramos agora a função
x
f (x) = .
x+2

x 10 100 10000
x
x+2 10/12 ≈ 0, 833 100/102 ≈ 0, 9803 10000/10002 = 0,9998

y=1

x
Parece que x+2 se aproxima a 1 quando x → +∞. Isto é,

x
lim = 1.
x→∞ x+2

Para ver isso formalmente, fixemos uma tolerância ε > 0. Vamos mostrar que

x
−1 6ε
x+2

8
x
para todo x suficientamente grande (pois essa demonstração mostrará que x+2 se aproxima a 1). Temos

x x x+2 x − (x + 2) −2 | − 2| 2
−1 = − = = = = .
x+2 x+2 x+2 x+2 x+2 |x + 2| x+2

x 2
Para garantir que x+2 − 1 6 ε, precisamos que x+2 6 ε. Resolvendo, obtemos

x > (2/ε) − 2.

Agora, já que, dada qualquer tolerância ε, existe um intervalo infinito

[(2/ε) − 2, ∞)

onde a desigualdade seja verdadeira, demonstramos que


 
x
lim − 1 = 0, isto é:
x→∞ x + 2
x
lim = 1.
x→∞ x+2
Em geral:
“Os valores de uma função f (x) cheguem arbitrariamente
perto de um valor l quando x e grande”
⇐⇒
“|f (x) − l| se torna arbitrariamente pequeno
desde que x seja grande o suficiente”.
Temos
Definição. Diz-se que f (x) tende a l quando x → ∞ (resp. x → −∞) e escreve-se limx→∞ f (x) = l
(resp. limx→−∞ f (x) = l) se f (x) − l tende a zero. Isto é, se para todo ε > 0, existir um N tal que se
x > N (resp. x 6 N ), então |f (x) − l| 6 ε.
Em termos do gráfico de f (x), “limx→∞ f (x) = l ”quer dizer que:
“a distância entre o gráfico de f e a reta horizontal y = l tende a 0”:

d(f (x), l) → 0.

Neste caso, dizemos que a reta y = l é assı́ntota horizontal de f . Exemplos


y = 0 é assı́ntota horizontal de 1/x,
x
y = 1 é assı́ntota horizonal de x+2 .

Teorema (Propriedades). Suponha que as funções f, g possuem limites quando x → ∞:

lim f (x) = lf , lim g(x) = lg .


x→∞ x→∞

Então
1. limx→∞ (f (x) + g(x)) = limx→∞ f (x) + limx→∞ g(x) = lf + lg ,
2. limx→∞ f (x)g(x) = (limx→∞ f (x)) · (limx→∞ g(x)) = lf lg ,

3. Se lg 6= 0,
f (x) limx→∞ f (x) lf
lim = = .
x→∞ g(x) limx→∞ g(x) lg

As mesmas propriedades valem no caso x → −∞.

9
Vamos demostrar propriedade 1):
Seja ε > 0. Então ε/2 > 0 também. Já que f (x) → lf , g(x) → lg quando x → ∞, temos

∃Nf t.q. ∀x > Nf , |f (x) − lf | 6 ε/2,


∃Ng t.q. ∀x > Ng , |g(x) − lg | 6 ε/2.

Seja N o maior de Nf , Ng . Quando x > N , temos

|(f (x) + g(x)) − (lf + lg )| = |(f (x) − lf ) + (g(x) − lg )|


6 |f (x) − lf | + |g(x) − lg |
6 ε/2 + |g(x) − lg | (pois x > Nf )
6 ε/2 + ε/2 (pois x > Ng )
= ε.

Já que ε foi arbitrário, essa conta demonstra que

lim (f (x) + g(x)) = lf + lg .


x→∞

Propriedade 2. nos diz em particular que quando λ é uma constante (isto é, um número), temos
2b. limx→∞ (λf (x)) = λ limx→∞ f (x).
2x2 −2 x
Exemplo. Vamos calcular limx→∞ 5x2 + x+2 :

2x2 − 2 x 2 x2 − 1 x
lim 2
+ = lim · + lim (por prop.1 )
x→∞ 5x x + 2 x→∞ 5 x2 x→∞ x + 2
2 x2 − 1 x
= lim 2
+ lim (por prop.2b)
5 x→∞ x x→∞ x+2
2 x2 /x2 − 1/x2 x
= lim +1 (já fizemos: lim = 1)
5 x→∞ x2 /x2 x→∞ x + 2

2 limx→∞ 1 − 1/x2
= + 1 (prop.3)
5 limx→∞ 1
2 1
= · +1
5 1
= 7/5.

Limites infinitos
Diremos que a função f tem limite infinito quando f (x) ultrapassa (para sempre) qualquer valor finito.

Exemplo.
y

y = x2
ultrapassa y = 1000

ultrapassa y = 100

ultrapassa y = 10
x

10
Definição. Diz-se que a função f (x) tende a +∞ quando x → ∞ (resp. x → −∞) se para qualquer
A > 0, existe N tal que f (x) > A para todo x > N (resp. x 6 N ).
A função f (x) tende a −∞ quando x → ∞ (resp. x → −∞) se para qualquer A < 0, existe N tal
que f (x) 6 A para todo x > N (resp. x 6 N ).

Potências inteiras f (x) = xp , p > 0


Temos (
+∞ , se p é par
lim xp = +∞ , lim xp =
x→∞ x→−∞ −∞ , se p é ı́mpar
y
y
y = x2
y = x3

x x

Vamos demonstrar estes fatos num jeito formal (usando a definição acima) nuns exemplos:

f (x) = x3 : lim x3 = +∞
x→∞

Quando 0 < A 6 1, vamos escolher N = 1. Para todo x > N = 1, temos A 6 1 6 x3 , então


f (x) > A para todo x > N. X
Quando A > 1, observe que x3 > x ∀x > 1. Então, dado A > 1, escolha N = A. Para todo x > N ,
temos
f (x) = x3 > x > N = A. X
Essas contas demonstram que f (x) = x3 tende a +∞ quando x → ∞.

lim x3 = −∞
x→−∞

Quando −1 6 A < 0, escolha N = −1. Para todo x 6 −1, temos x3 6 −1, então x3 6 A. X
Quando A < −1, escolha N = A. Para todo x 6 N ,

f (x) = x3 6 x 6 N = A. X

Essas contas demonstram que f (x) = x3 tende a −∞ quando x → −∞.

Exercı́cio: Mostre, usando a definição, que limx→−∞ x2 = +∞.



Exemplo. Calcule o limite limx→∞ x2 + sen(10x) .

11
R: O gráfico de sen(10x) é
y
π/20 5π/20
1 • •


2π/10 x

−1 •
3π/20

Observe (Exercı́cio!) que sen(10x) não tem limite quando x → ∞ (nem sen(x)).
Mas pelo menos temos que sen(10x) é limitada:

−1 6 sen(10x) 6 1 ∀x ∈ R.

Gráfico de x2 + sen(10x):
y

Temos, pela limitação de sen(10x) que

x2 + sen(10x) > x2 − 1 ∀x ∈ R.

Dado A > 0, como achar um valor de “N ”appropriado? Precisamos que

x2 + sen(10x) > A.

Vamos resolver a desigualdade mais fácil


x2 − 1 > A,
cuja resolução é

x> A+1 .

Então escolha N = A + 1. Temos que para todo x > N ,
√ 2
x2 + sen(10x) > x2 − 1 > N 2 − 1 > A + 1 − 1 = A + 1 − 1 = A. X

Mostramos então que limx→∞ x2 + sen(10x) = +∞.

12
Exponenciais e logaritmos
Seja a > 1.
y

ax limx→∞ ax = +∞
limx→−∞ ax = 0

x
y

loga (x) limx→∞ loga (x) = +∞

Em particular (quando a = e),

lim ex = +∞ , lim ex = 0 , lim ln(x) = +∞.


x→∞ x→−∞ x→∞

Seja a < 1.
y

ax limx→∞ ax = 0
limx→−∞ ax = +∞

x
y

limx→∞ loga (x) = −∞

loga (x)

Formas indeterminadas
As propriedadas dos limites que consideramos na última seção se aplicam somente quando os limites
foram finitos.

13
Problemas com produtos
Considere três funções f (x) = x , g(x) = 2x , h(x) = 1/x.
Temos

f (x)h(x) = x · 1/x = x/x = 1,


g(x)h(x) = 2x/x = 2.

Claramente,

lim f (x)h(x) = lim 1 = 1,


x→∞ x→∞
lim g(x)h(x) = lim 2 = 2.
x→∞ x→∞

Mas vamos tentar resolver este problema com a propriedade do produto

lim f (x)h(x) = lim f (x) lim h(x) :


x→∞ x→∞ x→∞

Em nossos exemplos:
  
?
1 = lim f (x)h(x) = lim f (x) lim h(x)
x→∞ x→∞ x→∞
  
= lim x lim 1/x
x→∞ x→∞
= “∞ · 0 ”

  
?
2 = lim g(x)h(x) = lim g(x) lim h(x)
x→∞ x→∞ x→∞
  
= lim 2x lim 1/x
x→∞ x→∞
= “∞ · 0 ”

Concluı́mos então que


1=∞·0=2 ←− Problema!!
O problema surge do fato que “∞ · 0”simplesmente não faz sentido!
As expressões “∞ · 0”, “0 · ∞”são os primeiros exemplos de formas indeterminadas.
Acabamos de mostrar que não sempre podemos aplicar as propriedades. Mas temos, pelo menos:
Proposição. Se

lim f (x) = +∞
x→∞
lim g(x) = l , l 6= 0
x→∞

então (
+∞ , l > 0,
lim f (x)g(x) =
x→∞ −∞ , l < 0.
xex
Exemplo. Calcule limx→∞ x+2 .

R:
xex x
lim = lim · ex
x→∞ x + 2 x→∞ x + 2
x x
= lim · lim ex (pois lim = 1 6= 0 , lim ex = ∞)
x→∞ x + 2 x→∞ x+2
x→∞ x→∞

= +∞ (pela proposição)

14
Problemas com quocientes
f (x)
Quando f (x) → ∞, g(x) → ∞ quando x → ∞, qual é o limite da função g(x) quando x → ∞?
R: Depende:
x x3
lim = 0 , lim 2x/x = 2 , lim = +∞.
x→∞ x2 x→∞ x→∞ x2

O problema é que os limites acima têm a forma “ ∞ ”, que não faz sentido. Mais um exemplo de uma
forma indeterminada. Nestes casos, precisamos usar truques diferentes.
f (x)
Exemplo. Sejam f (x) = 3x − 5 , g(x) = x + 2. Calcule limx→∞ g(x) .
f (x)
R: Temos limx→∞ f (x) = limx→∞ g(x) = ∞, então o limite g(x) tem uma forma indeterminada. Mas:

f (x) 3x − 5 x(3 − 5/x) 3 − 5/x


= = = .
g(x) x+2 x(1 + 2/x) 1 + 2/x
Temos
lim 3 − 5/x = 3 − 0 = 3,
x→∞
lim 1 + 2/x = 1 + 0 = 1.
x→∞

Agora temos limites finitos, então podemos usar a propriedade 2.:


f (x) 3 − 5/x limx→∞ 3 − 5/x 3
lim = lim = = = 3.
x→∞ g(x) x→∞ 1 + 2/x limx→∞ 1 + 2/x 1
Este truque é: dado um quociente de funções polinomiais, divide o numerador e o denominador pelo
termo de x com grau máximo. É bem comúm.
x+2x2
Exemplo. Calcule limx→∞ 1+x3 .

R: O termo com grau máximo é “x3 ”.


limite= 0
3
2 +2x2 /x3 2
limx→∞ x+2x
1+x3 = limx→∞ x/x
1/x3 +x3 /x3 = limx→∞ 1/x +2/x
1/x3 +1
limite= 1

então, podemos aplicar prop. 2.:


limx→∞ 1/x2 + 2/x
=
limx→∞ 1/x3 + 1
= 0/1
= 0.

Problemas com somas/diferenças


Quando f (x), g(x) → ∞ quando x → ∞, não temos problemas com somas:
Exemplo.
lim x + x3 .
x→∞
Para todo x > 0, x + x3 > x. Então
lim x + x3 > lim x = +∞.
x→∞ x→∞
3
Então, limx→∞ x + x = +∞.
Mas com diferenças (isto é, somas com sinais diferentes) temos problemas:
lim x − x = lim 0 = 0,
x→∞ x→∞
lim x − x = lim x2 (1 − 1/x) = ∞ · 1 = +∞,
2
x→∞ x→∞
lim x − x = lim x2 (1/x − 1) = ∞ · (−1) = −∞.
2
x→∞ x→∞

Estes limites tem a forma indeterminada tipo “∞ − ∞”.

15
O “sanduiche”
Observe que a função sen(x) não tem limite quando x → ∞, pois ela sempre obtém todos os valores no
intervalo [−1, 1], incluindo quando x é muito grande, então nunca se aproxime a nenhum número.
Então, não podemos usar a propriedade 3. para calcular o limite

sen(x)
lim (pois sen(x) não tem limite!)
x→∞ x
Mas sen(x) tem a propriedade que −1 6 sen(x) 6 1 ∀x ∈ R, logo

sen(x)
−1/x 6 6 1/x ∀x > 0.
x
Mas os limites limx→∞ −1/x = limx→∞ 1/x = 0, então devemos ter que

sen(x)
lim =0
x→∞ x
também.
y

é verdadeira!

Teorema (do sanduiche). Suponha que f, g e h são três funções que satisfazem

g(x) 6 f (x) 6 h(x)

para todo x suficientamente grande. Suponha também que

lim g(x) = lim h(x) = l.


x→∞ x→∞

Então, limx→∞ f (x) = l também.

16

Você também pode gostar