Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A função exponencial
Vamos definir e estudar duas das funções mais fundamentais da matemática e das ciências: a função
exponencial e a inversa dela, o logaritmo.
y
Neste exemplo, peguei um número
a > 1, “a base”. A função
exponencial correspondente é y = ax
expa (x) : R → (0, ∞)
x 7→ ax .
Vamos definir esta função com cuidado, em várias etapas. Fixe um número a > 0.
a = a1 = a0+1 = a0 · a1 = a0 · a
Então,
a = a0 · a =⇒ a0 := 1
an · a−n = an−n = a0 = 1
Então
1
an · a−n = 1 =⇒ a−n :=
an
1
Até agora, o esboço de nossa função (desenhado com a > 1) é:
a3 •
a2 •
a •
1•
• 1/a
• •
−3 −2 −1 1 2 3 x
(a1/d )d = a(1/d)·d = a1 = a.
Então
√ c
ac/d := d
a .
2
Voltando para nosso problema. Dado x ∈ R, considere uma sequência de números racionais tal que
o limite dela seja x:
z1 , z 2 , z 3 , z 4 , . . . lim zn = x
n→∞
que também possui um limite - isto é, um número tal que os números da sequência se aproximem
a ele melhor e melhor quando n aumenta.
Definimos expa (x) ser o limite desta sequência:
expa : R → (0, ∞)
x 7→ ax
a0 = 1
p1) ax ay = ax+y
p2) (ax )y = axy
p3) (ab)x = ax bx ∀x, y ∈ R
[[mas para justificar que estas propriedades valem, vamos precisar saber mais sobre limites]]
Vamos esboçar uns gráficos. Quando a > 1:
y y = 3x
y = 2x
y = (3/2)x
1
•
3
Então o gráfico de expa pode ser obtido do gráfico de exp1/a por uma reflexão no eixo y:
y = (1/3)x y
y = (1/2)x
y = (2/3)x
1
•
O logaritmo
A função exponencial x 7→ ax é uma bijeção R → (0, ∞) para todo valor de a > 0 exceto a = 1.
A função inversa de expa (x) se chama o logaritmo na base a
loga : (0, ∞) → R.
Fazendo uma reflexão na reta y = x, obtemos os gráficos de loga (x) a partir dos gráficos de expa (x):
y = loga (x)
1 •
•
1 a x
a>1
4
y
1 •
•
a 1 x
y = loga (x)
a<1
aloga (xy) = xy
= aloga (x) · aloga (y)
= aloga (x)+loga (y) pela propriedade p1)
=⇒ loga (xy) = loga (x) + loga (y). X
Exercı́cio: Na mesma maneira, use as propriedades da função exponencial para confirmar que l2), l3) são
verdadeiras.
Mudança da base
Quando sabemos o valor de loga (x) na base a, podemos calcular o valor do logaritmo numa outra base
b. Escreva b = aloga (b) . Temos
logo
loga (x) = loga (b) logb (x)
5
loga (x)
=⇒ logb (x) = .
loga (b)
Isto é “a fórmula de mudança de base”.
A base “e”
A fórmula de mudança sugere que todas as bases são igualmente boas. Mas existe uma base especial:
e = 2, 71828 . . .
Vamos ver neste curso que é mais fácil manusear funções exponenciais e logarı́tmicas quando escolhermos
a base e.
Exemplos de umas propriedades legais do número e:
1. O gradiente da curva y = expe (x) = ex no ponto x:
y
y = ex
x x
é exatamente ex !
2. A área sob a curva y = 1/x entre 1 e e:
1 e x
é exatamente 1!
Denotamos por ln(x) o logaritmo loge (x).
Limites
Limites limx→±∞ f (x)
Vamos considerar os valores de uma função f (x) quando x ficar muito grande e positivo, ou muito grande
e negativo.
6
Considere a função f (x) = 1/x. O gráfico dela é:
y
y = 1/x
1/x
x
x x
1/x
Observamos que quando x for enorme e positivo, o valor 1/x ficará muito perto de 0. Dizemos que
“os valores de 1/x tendem a zero”.
Uns valores para ver:
x 10 1000 10000
1/x 1/10 = 0,1 1/1000 = 0,001 1/10000 = 0,0001
Nossa primeira tarefa é falar num jeito preciso a frase acima. A ideia será:
Dado qualquer valor ε > 0, depois de algum valor de x, a função 1/x vai sempre ter valores menores do
que ε. Já que ε poderia ser arbitrariamente pequeno, a função vai eventualmente chegar arbitrariamente
perto de 0.
Então, fixamos um número positivo arbitrário ε, que chamaremos de tolerância. Para ver como
funcionar, vamos escolher 0,002. Agora, queremos encontrar os valores de x tais que
0 6 1/x 6 0, 002.
Resolvendo esta desigualdade, obtemos
1
6x (pois x > 0)
0, 002
isto é, 500 6 x.
Então, quando x for maior do que 500, 1/x ficará mais perto de 0 do que nossa tolerância 0,002.
Em geral, seja ε > 0 uma tolerância qualquer (mas fixa). Procurando os x > 0 tais que
0 6 1/x 6 ε,
obtemos,
x > 1/ε.
Isto é, dada qualquer tolerância ε, existe um número (1/ε, neste caso) tal que para todo valor de x maior
do que 1/ε, temos 0 6 1/x 6 ε;
y
1/x
ε
1/ε x
7
Demonstramos que
“O limite de 1/x quando x tende a + ∞ é igual a 0”,
ou
“1/x tende a 0 quando x tende a + ∞”.
Escrevemos
lim 1/x = 0.
x→∞
Outra direção: Quando x → −∞, a função 1/x também tende a 0, mas com valores negativos (pois
x < 0 =⇒ 1/x < 0). Queremos fixar uma tolerância ε > 0 e achar os x tais que
−ε 6 1/x 6 0.
x 6 −1/ε.
Escrevemos
lim 1/x = 0.
x→−∞
Seria mais fácil não ter que preocupar sobre quando nossa função está positiva/negativa (como acima).
Evitaremos estes problemas usando o valor absoluto. Dado ε > 0, queremos que
|1/x| 6 ε.
Definição (“tende a 0”). Diremos que f (x) tende a 0 quando x → ∞ se para qualquer tolerância ε > 0,
é possı́vel garantir que |f (x)| 6 ε para todo x > 0 suficientemente grande. Escreve-se
lim f (x) = 0.
x→∞
x 10 100 10000
x
x+2 10/12 ≈ 0, 833 100/102 ≈ 0, 9803 10000/10002 = 0,9998
y=1
x
Parece que x+2 se aproxima a 1 quando x → +∞. Isto é,
x
lim = 1.
x→∞ x+2
Para ver isso formalmente, fixemos uma tolerância ε > 0. Vamos mostrar que
x
−1 6ε
x+2
8
x
para todo x suficientamente grande (pois essa demonstração mostrará que x+2 se aproxima a 1). Temos
x x x+2 x − (x + 2) −2 | − 2| 2
−1 = − = = = = .
x+2 x+2 x+2 x+2 x+2 |x + 2| x+2
x 2
Para garantir que x+2 − 1 6 ε, precisamos que x+2 6 ε. Resolvendo, obtemos
x > (2/ε) − 2.
[(2/ε) − 2, ∞)
d(f (x), l) → 0.
Então
1. limx→∞ (f (x) + g(x)) = limx→∞ f (x) + limx→∞ g(x) = lf + lg ,
2. limx→∞ f (x)g(x) = (limx→∞ f (x)) · (limx→∞ g(x)) = lf lg ,
3. Se lg 6= 0,
f (x) limx→∞ f (x) lf
lim = = .
x→∞ g(x) limx→∞ g(x) lg
9
Vamos demostrar propriedade 1):
Seja ε > 0. Então ε/2 > 0 também. Já que f (x) → lf , g(x) → lg quando x → ∞, temos
Propriedade 2. nos diz em particular que quando λ é uma constante (isto é, um número), temos
2b. limx→∞ (λf (x)) = λ limx→∞ f (x).
2x2 −2 x
Exemplo. Vamos calcular limx→∞ 5x2 + x+2 :
2x2 − 2 x 2 x2 − 1 x
lim 2
+ = lim · + lim (por prop.1 )
x→∞ 5x x + 2 x→∞ 5 x2 x→∞ x + 2
2 x2 − 1 x
= lim 2
+ lim (por prop.2b)
5 x→∞ x x→∞ x+2
2 x2 /x2 − 1/x2 x
= lim +1 (já fizemos: lim = 1)
5 x→∞ x2 /x2 x→∞ x + 2
2 limx→∞ 1 − 1/x2
= + 1 (prop.3)
5 limx→∞ 1
2 1
= · +1
5 1
= 7/5.
Limites infinitos
Diremos que a função f tem limite infinito quando f (x) ultrapassa (para sempre) qualquer valor finito.
Exemplo.
y
y = x2
ultrapassa y = 1000
ultrapassa y = 100
ultrapassa y = 10
x
10
Definição. Diz-se que a função f (x) tende a +∞ quando x → ∞ (resp. x → −∞) se para qualquer
A > 0, existe N tal que f (x) > A para todo x > N (resp. x 6 N ).
A função f (x) tende a −∞ quando x → ∞ (resp. x → −∞) se para qualquer A < 0, existe N tal
que f (x) 6 A para todo x > N (resp. x 6 N ).
x x
Vamos demonstrar estes fatos num jeito formal (usando a definição acima) nuns exemplos:
f (x) = x3 : lim x3 = +∞
x→∞
lim x3 = −∞
x→−∞
Quando −1 6 A < 0, escolha N = −1. Para todo x 6 −1, temos x3 6 −1, então x3 6 A. X
Quando A < −1, escolha N = A. Para todo x 6 N ,
f (x) = x3 6 x 6 N = A. X
11
R: O gráfico de sen(10x) é
y
π/20 5π/20
1 • •
•
2π/10 x
−1 •
3π/20
Observe (Exercı́cio!) que sen(10x) não tem limite quando x → ∞ (nem sen(x)).
Mas pelo menos temos que sen(10x) é limitada:
−1 6 sen(10x) 6 1 ∀x ∈ R.
Gráfico de x2 + sen(10x):
y
x2 + sen(10x) > x2 − 1 ∀x ∈ R.
x2 + sen(10x) > A.
12
Exponenciais e logaritmos
Seja a > 1.
y
ax limx→∞ ax = +∞
limx→−∞ ax = 0
x
y
Seja a < 1.
y
ax limx→∞ ax = 0
limx→−∞ ax = +∞
x
y
loga (x)
Formas indeterminadas
As propriedadas dos limites que consideramos na última seção se aplicam somente quando os limites
foram finitos.
13
Problemas com produtos
Considere três funções f (x) = x , g(x) = 2x , h(x) = 1/x.
Temos
Claramente,
Em nossos exemplos:
?
1 = lim f (x)h(x) = lim f (x) lim h(x)
x→∞ x→∞ x→∞
= lim x lim 1/x
x→∞ x→∞
= “∞ · 0 ”
?
2 = lim g(x)h(x) = lim g(x) lim h(x)
x→∞ x→∞ x→∞
= lim 2x lim 1/x
x→∞ x→∞
= “∞ · 0 ”
lim f (x) = +∞
x→∞
lim g(x) = l , l 6= 0
x→∞
então (
+∞ , l > 0,
lim f (x)g(x) =
x→∞ −∞ , l < 0.
xex
Exemplo. Calcule limx→∞ x+2 .
R:
xex x
lim = lim · ex
x→∞ x + 2 x→∞ x + 2
x x
= lim · lim ex (pois lim = 1 6= 0 , lim ex = ∞)
x→∞ x + 2 x→∞ x+2
x→∞ x→∞
= +∞ (pela proposição)
14
Problemas com quocientes
f (x)
Quando f (x) → ∞, g(x) → ∞ quando x → ∞, qual é o limite da função g(x) quando x → ∞?
R: Depende:
x x3
lim = 0 , lim 2x/x = 2 , lim = +∞.
x→∞ x2 x→∞ x→∞ x2
∞
O problema é que os limites acima têm a forma “ ∞ ”, que não faz sentido. Mais um exemplo de uma
forma indeterminada. Nestes casos, precisamos usar truques diferentes.
f (x)
Exemplo. Sejam f (x) = 3x − 5 , g(x) = x + 2. Calcule limx→∞ g(x) .
f (x)
R: Temos limx→∞ f (x) = limx→∞ g(x) = ∞, então o limite g(x) tem uma forma indeterminada. Mas:
15
O “sanduiche”
Observe que a função sen(x) não tem limite quando x → ∞, pois ela sempre obtém todos os valores no
intervalo [−1, 1], incluindo quando x é muito grande, então nunca se aproxime a nenhum número.
Então, não podemos usar a propriedade 3. para calcular o limite
sen(x)
lim (pois sen(x) não tem limite!)
x→∞ x
Mas sen(x) tem a propriedade que −1 6 sen(x) 6 1 ∀x ∈ R, logo
sen(x)
−1/x 6 6 1/x ∀x > 0.
x
Mas os limites limx→∞ −1/x = limx→∞ 1/x = 0, então devemos ter que
sen(x)
lim =0
x→∞ x
também.
y
é verdadeira!
Teorema (do sanduiche). Suponha que f, g e h são três funções que satisfazem
16