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Thiago Rafael Englert Kelm

COMO PODEMOS UTILIZAR A CONCEPÇÃO DE MERCADO


RELIGIOSO EM BERGER PARA ANALISAR O CENÁRIO RELIGIOSO
BRASILEIRO NA ATUALIDADE?

Através do método analítico bibliográfico é possível se utilizar da ideia de


mercado religioso em Peter Berg como uma ferramenta para analisar o atual cenário
religioso. Para iniciar tal análise é preciso ter em conta que Berg define religião como
construção humana, de modo que ela pode ser influenciada e modificada pelo contexto
histórico em que está inserida. Outra questão que precisa ser considerada é que Berg
entende o Sagrado como algo que se encontra fora do cotidiano, mas que pode ser
controlada através da organização da religião, tornando possível aplica-lo em proveito
próprio, da mesma forma, a secularização se refere ao processo pelo qual os vários
acontecimentos da vida vão perdendo se caráter sagrado ao ponto de se tornar profano.

Berg entende o mercado religioso como a necessidade que as religiões possuem


de fazer sua fé se destacar entre as demais, ou seja, a fé é posta no mercado. Como o
mercado é o lugar onde estão presentes as leis da competição, consequentemente a
religião que colocar sua fé no mercado terá que lidar com a concorrência. Isso implica
em tornar o conteúdo da mensagem religiosa em algo atraente e que esteja adaptada aos
desejos dos clientes, no caso, dos fieis.

De acordo com Tillich (2009) a sociedade industrial é o espírito do movimento


predominante, esse movimento envolve um alto crescimento do consumismo e da
configuração do capitalismo como proposta de responder as inquietações do ser humano
(BENJAMIM, 2013). Tendo isso em conta, as religiões ao permitirem-se adaptar ao
contexto histórico para atrair clientes, acabam incorporando o espírito capitalista, ou
seja, que o conteúdo religioso é algo a ser consumido e que por sua vez se torna uma
ferramenta que permite aumentar a capacidade de consumo.

Ao olhar para o cenário religioso brasileiro, não é difícil encontrar grupos


religiosos que adaptaram o conteúdo da mensagem religiosa à realidade atual. Um
exemplo disso são aqueles grupos religiosos de caráter neopentecostal, que oferecem
um discurso religioso com promessas de resolver problemas de cunho social e inclusive
prosperar a pessoa financeiramente de maneira sobrenatural. É possível observar que
este é um conteúdo adaptado a realidade atual, e como afirma Berg, esta é uma
mensagem atraente e adaptada aos desejos do cliente/fiel.
Thiago Rafael Englert Kelm

Porém não basta que a fé seja atraente somente, ela precisa se destacar entre as
demais como afirma Berg, e por conta disso surgem muitos tipos de rituais, práticas e
formas diferentes de comercializar a fé, como por exemplo, “toalhinha ungida”,
“Fogueira Santa” etc. Que ao serem devidamente aplicadas, agirão em favor da pessoa
concedendo-lhe aquilo que ela precisa, seja dinheiro ou algum outro tipo de desejo. Há
também a ideia do investimento, muitos grupos religiosos propõe aos seus fieis uma
espécie de investimento, em que a pessoa investe um bem material de grande valor, ou
uma determinada quantia em dinheiro, e “Deus” irá retribuí-la em dobro, ou mais. Além
dessas, existem muitas outras técnicas de mercado para tornar a fé algo mais atraente,
quanto mais rituais ou ofertas religiosas houverem, um maior publico será alcançado.

Entretanto Berg adverte sobre alguns problemas com esse tipo de fé, e talvez o
maior deles seja a redução da religião ao âmbito do puramente profano. Embora estes
grupos reivindique estarem respaldados por forças sobrenaturais, estas muitas vezes
acabam sendo tidas apenas como um meio pelo qual os desejos humanos podem ser
satisfeitos, deste modo, a religião vai perdendo seu “poder” de dar respostas as questões
existenciais do ser humano e se reduz ao âmbito do puramente técnico, para Berg este
seria o processo de desaparecimentos gradual das religiões limitadas à esfera familiar.
Este talvez tenha sido um dos motivos do crescente aumento do movimento dos sem
religião, pessoas que afirmam possuir algum tipo de espiritualidade, mas que não estão
ligadas a qualquer tipo de instituição religiosa. Talvez isso se deva ao fato de a religião
ter perdido, para muitas pessoas, seu caráter de sagrado e de resposta às questões
existências, ao ponto de se tornarem tão profanas quanto qualquer outra organização
social.

REFERÊNCIAS

- BENJAMIN, Walter. O capitalismo como religião. São Paulo: Boitempo, 2013

- MACHADO, V. B. Sociologia da Religião. Batatais: Claretiano, 2013.

- TILLICH, Paul. Teologia da Cultura. São Paulo: Fonte Editorial, 2009.

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