Introdução: Com o aumento da expectativa óbito e, conseqüentemente, a técnica caiu
média de vida e das doenças crônicas, como em desuso na década de 50. Atualmente, o câncer, os cuidados paliativos passaram a infusão subcutânea voltou a ser aplicada a ter um papel vital na área saúde, preten- nos cuidados paliativos em pacientes que dendo prevenir e minorar o sofrimento nas necessitam de hidratação com lenta absor- doenças incuráveis, avançadas e progressi- ção e apresentam difícil acesso endoveno- vas, integrando o controle dos sintomas e o so2. No município de Pelotas, Sul do esta- apoio à família. Neste grupo de doentes, a do do Rio Grande do Sul desde 2005 foi via ideal de administração de fármacos e/ou implantado o Programa de Internação Do- soros deve ser fácil de utilizar, de eficácia miciliar Interdisciplinar Oncológico (PIDI demonstrada, pouco agressiva, com o mí- Oncológico) do Hospital Escola da Uni- nimo de efeitos secundários e confortável versidade Federal de Pelotas (HE/UFPEL) para o doente, tornando a via subcutânea e Fundação de Apoio Universitária (FAU), (hipodermóclise) numa das principais al- com o objetivo de prestar assistência no do- ternativas a considerar1. A hipodermóclise micílio aos usuários portadores de câncer. surgiu no início do século XX, foi utiliza- Objetivo: Este trabalho tem como objetivo da primeiramente em pacientes pediátricos relatar as experiências, da equipe do PIDI para administrar medicamentos de forma Oncológico, na utilização da infusão sub- não criteriosa. Isso levou várias crianças ao cutânea, a usuários em cuidados paliativos,
1 Enfermeira. Mestranda do Curso de Mestrado Acadêmico da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Pelotas. E-mail: isa_arrieira@hotmail.com 2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem e Obs- tétrica da Universidade Federal de Pelotas. E-mail: mairabusst@hotmail.com 3 Enfermeira. Especialista em Saúde da Família/UFPEL e em Projetos Assistenciais/UFPEL. Mes- tranda do Curso de Mestrado Acadêmico da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. E-mail: teila.ceolin@ig.com.br. 4 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem e Obs- tétrica da Universidade Federal de Pelotas. E-mail: heck@ufpel.tche.br 5 Enfermeira. Mestranda do Curso de Mestrado Acadêmico da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. E-mail: juzillmer@gmail.com 6 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem e Obs- tétrica da Universidade Federal de Pelotas. E-mail: eschwartz@terra.com.br como método alternativo. Metodologia: dade de injeções freqüentes. Além disso, é O Programa de Internação Domiciliar In- confortável para uso no domicílio; facilita a terdisciplinar Oncológico, complementa o alta hospitalar para pacientes desidratados ciclo de cuidado integral, pois esta institui- ou em uso de medicação analgésica; menor ção é referência no tratamento desta doen- risco de hiper-hidratação inadvertida redu- ça. Os usuários são visitados pela equipe de zindo a possibilidade de sobrecarga cardía- referência duas vezes por dia. Esta equipe ca; não há necessidade de imobilização de é composta por enfermeira, técnicas de en- membros; a infusão pode ser interrompida fermagem e médica, tendo semanalmente a a qualquer hora, sem risco de trombose. As visita dos outros profissionais da equipe (fi- desvantagens do método: não são possíveis sioterapeuta, nutricionista, assistente social ajustes rápidos de doses; necessidade de e conselheiro espiritual). Inclui também a supervisão para a possibilidade de inflama- inserção acadêmica em todas as áreas, re- ção no local da infusão. Esta via é contra- alizando ensino, pesquisa e extensão com indicada nos casos de anasarca e tromboci- encontros semanais, para avaliação do pro- topenia severa4. As drogas que podem ser cesso, resultando a partir desta discussão administradas por infusão subcutânea são: um plano terapêutico para cada usuário, em opiáceo (morfina, fentanil e tramadol), an- consonância com o mesmo e sua família. tieméticos (haloperidol, metroclopramida, Também se utiliza a infusão de soroterapia dimenidrinato e ciclizina), análogo soma- com drogas sintomáticas aos usuários com tostatina (octreotide), sedativos (midazo- difícil acesso venoso. Resultados: A via de lan e fenobarbital), anti-histamínicos (pro- administração de escolha nos cuidados pa- metazina e hidroxizina), anticolinérgicos liativos é a via oral. A maior parte dos por- (atropina e escopolamina), corticosteróides tadores de câncer terminal mantém esta via (dexametazona), bloqueadores H2 (raniti- até a morte e, portanto não há necessidade dina), diuréticos (furosemida), bifosfanatos surgir alternativas para ele3. Para outros esta (clodronato), salbutamol, ceftriaxone, buti- via não é possível, tornando a via subcutâ- lescopolamina. Diazepam e clorpromazina nea uma das principais alternativas. A via causam inflamação e não devem ser admi- subcutânea para a administração de fárma- nistrados por esta via1-4. Os cuidados com a cos pode ser utilizada de duas formas: con- infusão subcutânea são: observar o local da tínua ou intermitente3. A utilização da hipo- punção diariamente e, se caso for, parar a dermóclise apresenta algumas vantagens, infusão e trocar o local ao primeiro sinal de tais como: fácil administração por qualquer inflamação, hematoma, dor ou suspeita de profissional ou cuidador treinado; manu- infecção local. A freqüência de troca sem tenção relativamente constante de níveis sinais de alteração no local de punção de- plasmáticos das drogas; mínimo descon- pende da qualidade das drogas infundidas: forto para o paciente, eliminando a necessi- o tempo médio num mesmo sítio é de 2 a 3 dias. A infusão de drogas mais irritantes Referências como corticóides requer rodízio mais fre- 1. Marques C, Nunes G, Ribeira T, Santos qüente dos locais. A infusão de morfina N, Silva R, Teixeira R. Terapêutica subcu- somente, permite a manutenção do mesmo tânea em cuidados paliativos. Revista Por- tuguesa de Clínica Geral. 2005; 21: 563- local de punção por até duas semanas4. Os 568. Disponível em: http://www.apmcg.pt. sítios de punção mais utilizados são: região Acesso em: 28 ago. 2008. abdominal, tríceps, regiões internas e exter- 2. Pereira SC, Ribeiro VF. Infusão subcu- nas das coxas, região infraclavicular e inte- tânea é boa opção em cuidados paliativos. rescapular, sendo esta última adequada em Intravenous: Publicação Especializada em pacientes agitados. No paciente geriátrico Terapia Intravenosa. 2006; 16:5, ano VI. em que a flacidez da hipoderme geralmente Disponível em: http://www.bd.com/brasil/ periodicos/intravenous. Acesso em: 31 ago. é maior, deve-se tracionar a pele e intro- 2008. duzir o escalpe com o bisel para baixo2. Durante 24 horas, o volume de infusão de 3. López PL, Gonzáles CR, Ballester DA, Altarriba CML, Zarate MMV, García RA. fluidos pode variar de 500 a 2000 ml. A so- Vías alternativas a la via oral en cuidados lução a ser infundida (glicose 5% ou Soro paliativos: la vía subcutánea. Revista Valen- Fisiológico a 0,9%) pode conter eletrólitos ciana de Medicina de Família. 2000; 8:30- nas doses normais preconizadas4. Conside- 35. Disponível em: http://www.svmfyc.org/ Revista. Acesso em: 28 ago. 2008. rações finais: A utilização da via subcutâ- nea em cuidados paliativos e continuados 4. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto mostra-se eficaz tanto na administração de Nacional de Câncer. Cuidados paliativos fármacos, como na hidratação. Seria posi- oncológicos: controle da dor. Rio de Janei- ro: INCA, p.121, 2001. tiva a utilização desta técnica em ambiente hospitalar, levando em consideração todas as vantagens em relação à via endovenosa, a mais utilizada neste cenário. No PIDI On- cológico não se observou nenhuma compli- cação na utilização o que vem corroborar com o encontrado em outros estudos1-3, com a aplicação desta técnica, mas reforça-se a necessidade de maior investigação sobre o uso da mesma, pois existem poucos estu- dos relacionados a este procedimento. Palavras-chave: hipodermóclise, câncer, enfermagem, internação domiciliar.