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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

CAMPUS MATA NORTE/ DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

GRADUAÇÃO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

DISCIPLINA: PRÉ-HISTÓRIA

PROFESSOR: CARLOS BITTENCOURT

MANUELA TORRES CAVALCANTI

AS IDEIAS RELIGIOSAS E OS RITUAIS NA ERA PRÉ-HISTÓRICA

Nazaré da mata
2017

MANUELA TORRES CAVALCANTI

AS IDEIAS RELIGIOSAS E OS RITUAIS NA ERA PRÉ-HISTÓRICA

Artigo cientifico apresentado a Universidade


de Pernambuco, na disciplina de Pré-história
como parte das exigências para a obtenção das
notas de primeira e segunda unidade.

Nazaré da mata
2017

SUMÁRIO

1. RESUMO...........................................................................................04

2. INTRODUÇÃO...................................................................................04

3. O PENSAMENTO MÁGICO..............................................................05

4. AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS..........................06

5. A ARTE RUPESTRE E A REPRESENTAÇÃO DOS RITUAIS........07

6. O CULTO AOS DEUSES..................................................................09

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................10

REFERÊNCIAS......................................................................................11
AS IDEIAS RELIGIOSAS E OS RITUAIS NA ERA PRÉ-HISTÓRICA

RELIGIOUS IDEAS AND RITUALS IN THE PRE-HISTORIC ERA

Resumo: Esta produção textual apresenta levantamentos sobre as manifestações religiosas e


os cultos ou rituais que surgiram nos primórdios. O intuito desta análise é mostrar como a
chamada religião se manifestava entre os arcaicos já que estes, não possuíam nem recursos
escritos e nem fala desenvolvida para facilitar a comunicação entre os seres. Nessa pesquisa,
historiadores e arqueólogos buscam a origem das religiões e dos cultos por meio de fontes
escritas e desenhadas, pois, as fontes orais foram extintas devido ao longo tempo que se
passou.

Palavras-chave: Pré-história; Religião; Cultos; Rituais; Origem;

Abstract: This textual production presents surveys on the religious manifestations and the
cults or rituals that arose in the early days. The purpose of this analysis is to show how the
called religion manifested itself among the archaic since they did not have neither written
resources, nor developed speech to facilitate communication between beings. In this research,
historians and archaeologists seek the origin of religions and cults by means of written and
drawn sources, since oral sources have been extinguished due to the long time that has passed.

Keywords: Prehistory; Religion; Cults; Rituals; Origin;

Introdução: Durante décadas alguns historiadores afirmavam quanto a não


existência de religiosidade na pré-história. Trata-se de estudo bastante complicado, exigindo
uma leitura muito complexa e aprofundada, uma vez que a pesquisa refere-se há um tempo
em que não existiam documentos escritos porque o homem primitivo ainda não tinha
desenvolvido a escrita e nem sua fala. Suas representações não verbais eram expressas através
da arte rupestre, que era uma das primeiras formas de escrita em que continha tanto gravura
como pintura, indicando elementos da natureza como imagens de zoomorfos, ou seja, figuras
em forma de animais e imagens antropomorfas, ou seja, figuras humanas ou partes de um
corpo humano. A expressão por meio da arte rupestre não era a única forma de manifestar a
religião na época. Os rituais e as oferendas também faziam parte da manifestação mágico-
religiosa. O termo “ritual” pode ser bastante equivocado devido ás suas significações ou
interpretações, o que pode gerar também pensamentos equivocados sobre atos que eram
considerados normais pelos povos primitivos, como os rituais totêmicos animistas ou também
as praticas mortuárias de sepultamento, porém, na pré-história esse termo significava um
conjunto de gestos e palavras, de valor simbólico, próprio de um determinado grupo cultural.
É importante ressaltar que a religião do período não era, inicialmente, marcada por igrejas ou
culto aos Deuses, como é atualmente. Isso é apenas concretizado a partir do período neolítico,
onde se deu inicio á adoração de deuses, principalmente a deusa mãe, em espaços como, por
exemplo, o Catal Huyuk (originalmente, Çatalhüyük).

O pensamento mágico

Segundo Lévy-Bruhl (1857-1939), filósofo e sociólogo francês, o pensamento mágico seria


uma herança etnológica da mentalidade primitiva e, hoje, tanto o pensamento mágico como a
mentalidade dos nossos ancestrais, perduram de forma latente no inconsciente individual e
coletivo. No geral, para a Psicologia, o pensamento mágico tem como finalidade racionalizar
o desconhecido, buscando, de certa maneira, o controle da situação ou uma resposta que
amenize uma sensação angustiante. A mente dos humanos antes do pensamento mágico era
toda organizada e bem dividida. Segundo essa hipótese, a cabeça desses ancestrais tinha
vários “módulos” separados, um para lidar com as interações sociais, outro para compreender
os animais, as plantas, e assim por diante. Quando a fluidez cognitiva ou, pensamento mágico,
surgiu, essas barreiras que impediam todos esses tipos de raciocínios de se relacionarem,
foram quebradas, tornando-os mais questionadores e criativos como, por exemplo, passaram a
ser capazes de criar adornos imitando os animais e a pintar as paredes das cavernas em que
viviam. Eles até passaram a usar objetos para simbolizar seu status social. A busca por
explicações abriu as portas para que tanto a religião quanto a ciência se desenvolvessem.

Segundo o arqueólogo inglês, Steven Mithen, tudo começou a mudar a partir de uns 70 mil
anos atrás, sem que acontecesse nenhuma mudança física nos Homo sapiens antigos. A partir
do desenvolvimento do pensamento, os primitivos foram se tornando escultores bastante
caprichosos e começaram também, de certa forma, a questionar coisas. Eles também passaram
a sepultar seus mortos, que era tratado, empiricamente, de forma diferente. O homem pré-
histórico levava o morto para uma caverna (local mais quente da região), enterrava-o numa
cova rasa, e, quando já conhecia o fogo, acendia fogueiras sobre a cova para trazê-lo de volta
á vida. Mithen também tenta explicar a estranheza das pinturas no interior das cavernas. Por
muitas vezes, eram retratados, junto com animais da era do gelo, coisas como um homem com
cabeça de elefante, ou animais com mãos de gente, chifre de veado e perna de cavalo, por
exemplo. Para ele, essas mudanças têm a ver com alterações no funcionamento básico do
cérebro humano, produzindo a fluidez cognitiva, já tratada no parágrafo anterior.

As primeiras manifestações religiosas

O pensamento mágico foi uma das primeiras manifestações religiosas naquela época. Steven
Mithen retrata em seu livro que durante o período de “surgimento” do pensamento mágico,
houve uma explosão de criatividade tão grande que os nossos ancestrais passaram a enxergar
o mundo como um lugar povoado de criaturas com poderes e intenções muitas vezes
invisíveis, o que pode ser interpretado como a origem da crença em seres sobrenaturais ou,
como chamamos atualmente de Deus. Outros arqueólogos concordam com a tese apresentada
por Steven como, por exemplo, o arqueólogo alemão Nicholas Conard, da Universidade de
Tübingen,

“A melhor hipótese que temos é a de que elas representariam xamãs, magos-


sacerdotes que transitavam entre o mundo animal, o humano e o dos espíritos. Nas
culturas de caçador-coletores que existem até hoje, são muito comuns às ideias de
que os seres humanos foram animais num distante passado mítico e que ainda há
um elo mágico entre a nossa espécie e as demais criaturas.” (CONARD, 2003).

Apesar de tudo, não se sabe ao certo quando a racionalidade humana começou a fluir. Trata-se
de um mistério que ainda não foi desvendado, porém, ter o conhecimento da existência do
pensamento mágico já é considerado um grande avanço para os pesquisadores da área. As
mudanças que passaram a ocorrer na caixa craniana dos primitivos também era um ponto que
ajudou a despertar certo senso criativo nesses seres, fazendo com que estes começassem a
ficar mais atentos com tudo que acontecia aos seus arredores. Esses fatores, junto com o
desenvolvimento da racionalidade e a base empírica, colaboraram bastante com o surgimento
de manifestações, considerados naquela época, religiosas.

Um dos primeiros indícios religiosos da época foi o sepultamento, descoberto por uma das
fontes históricas mais antigas, as ossadas. A prática do “enterro” revela a crença na
sobrevivência humana depois da morte corporal ou a preocupação com o que vem após a
morte do corpo, por isso é considerada um ato religioso; O Professor Cécile Lestienne
escreveu a respeito da finalidade do sepultamento no artigo “Funérailles d’antan” na revista
“Science et Avenir”, nº 480, fevereiro 1987, pp. 54-59, onde tece as seguintes considerações,

“Podemos afirmar que os sepultamentos intencionais estão obrigatoriamente


associados à crença no além, numa vida póstuma ou num renascimento…? Nosso
conhecimento das sociedades arcaicas e primitivas poderia sugerir-no-lo. Mas diz
Leroi-Gourhan: Até um ateu aceita ser enterrado… Não obstante, parece que essas
sepulturas são o testemunho de certa espiritualidade. É certo que elas não são
devidas apenas a cautelas de higiene. Por que os antigos se dariam ao trabalho de
enterrar alguém, quando seria mais simples lançar o cadáver numa fossa um tanto
afastada? Mas ainda mais significativos do que esta reflexão são outros indícios:…
os corpos não foram enterrados de qualquer modo. O sepultamento exigiu cuidados
e atenção dos sobreviventes” (pp. 56s).

Com efeito, sepultando seus mortos, os antigos julgavam que eles sobrevivam, o que está
ligado à crença em Deus ou na Divindade, que assegura ao homem a vida póstuma. Isso é
bastante ressaltado nos detalhes de preparação e acessórios encontrados em inúmeras
sepulturas. Todos os esqueletos aparecem deitados sobre o lado direito ou o esquerdo,
acanhados ou em posição fetal, o que simbolizava o útero materno, em busca de um
renascimento. Não foram lançados à terra de qualquer jeito, mas mereceram carinho e
gentileza da parte dos sobreviventes. Junto ao cadáver colocavam acessórios diversos: armas,
estatuetas de Vênus (que significava o símbolo da Vida e da fecundidade), joias (como
conchas perfuradas, braceletes, espinhas de peixe, colares…). Ao ser sepultado, o cadáver era
salpicado de ocre vermelho (ou minério de ferro) ou era deitado em leito de ocre; este, por sua
cor, seria símbolo do sangue e, por conseguinte, da vida. Às vezes, o ocre era colocado
evidentemente diante da boca e das fossas nasais, como símbolo do sopro de vida.

A dança também estava presente na pré-história como forma de religiosidade. Ela simbolizava
uma aproximação, ou uma forma de entrar em contato com o sobrenatural. Geralmente,
apareciam em rituais de pedidos ou de agradecimentos ou de adoração de animais. Estavam
representadas nas figuras rupestres, muitas vezes com algo centralizado e as pessoas rodando
em volta desse objeto.

A arte rupestre e a representação dos rituais


A arte rupestre é a primeira demonstração de arte e também a primeira tentativa de
comunicação que se tem na história humana. Com certeza, naquela época, o intuito de se
pintar no interno das cavernas, não era produzir obras de arte, como damos sentido hoje.

Geralmente, era retratada a partir dessas figuras, a figura de homens em volta de algo
centralizado, simbolizando os rituais de dança. Ou até a demonstração da caça, pois, durante
as eras que marcaram o período pré-histórico, o homem era forçado a buscar na caça, o seu
alimento, já que não havia plantas. No período inicial da sociedade humana, o primitivo
competia com animais ferozes como o urso e o leão, pelas cavernas. Podem-se citar como
exemplo, as informações achadas nas cavernas dos Alpes, a partir de pesquisas arqueológicas.
Ursos representados através de pinturas no teto que sugerem rituais de culto ao urso. Nessas
cavernas dos Alpes, também foram encontrados ossos de ursos ritualmente dispostos. Formas
em círculos e uma simetria que sugere algum processo ritualístico. Também era frequente a
caça e o culto da rena e ao Arouche nesse período. A importância dos arouches nas
comunidades primitivas foi tão forte, que ele chegou a ser posto como divindade, o que era
normal, tendo em vista que esses povos acreditaram por milênios, que o touro era o Deus da
Fertilidade e do poder dos reis. Os primeiros Deuses totêmicos da "pré-história" eram
originados no culto do touro e do javali, principalmente nas tribos Neolíticas.

- Figura I representa a caça das renas, a partir da pintura rupestre.


Devido ao caráter ritualístico da arte rupestre, ela é analisada juntamente com as
características sociais que a rodeia. Quem pinta, as suas crenças, os seus costumes e as
necessidades suas e de seus coexistentes. Os rituais, que são acontecimentos sociais onde
grupos de homens efetuam relações entre si e com outros grupos e forças superiores, têm, nas
diferentes culturas em que ele se apresenta, um papel socializador muito importante.
Especificamente na pré-história, ele foi responsável pelo desenvolvimento da cultura. Por
exemplo, as primeiras noções de hierarquia derivam dessas cerimônias. Quando um homem
executava uma tarefa de forma melhor que outros, ele se tornava responsável por ela num
grupo, favorecendo o intercâmbio complementar à integração da vida social.

O culto aos deuses no período neolítico

Em certo período da história, mais especificadamente, no período neolítico, onde já existia da


parte do ser primitivo um domínio maior sobre as coisas, o homem passou a fazer locais para
adorar os seus deuses de forma mais rígida, como grutas que por diversas vezes eram
considerados santuários, por serem inabitáveis ou apresentando certas dificuldades de acesso.
E, quanto mais difícil esse acesso a uma determinada caverna e quanto mais desigual ela era,
mais completo de imagens eram suas paredes. As grutas e santuários seriam um local sagrado,
não apenas de adoração, mas também para a realização de rituais com dança. Nesses locais
existiam pinturas e estatuetas, geralmente femininas, que significavam o culto da fertilidade.
Essa relação pode ser relacionada, talvez, a importância do papel da mulher na economia, pois
a fertilidade feminina correspondia à fertilidade dos animais e dos solos.

Esculpidas em pedra, osso ou marfim, as estatuetas femininas possuíam nádegas, seios e


barrigas grandes, além de terem a vulva sempre à mostra. Representava a “Grande Mãe” ou
“Deusa mãe”. Os homens também eram representados como deuses. Geralmente por um
boneco simplificado, sendo seu único detalhe extravagante, o pênis, muito grande e ereto.

A principal divindade é a deusa, apresentada sob três aspectos: mulher jovem, mãe
dando à luz um filho (ou um touro), e velha (acompanhadas às vezes de uma ave de
rapina). A divindade masculina aparece sob a forma de um rapaz adolescente – o
filho ou o amante da deusa – e de um adulto barbudo, ocasionalmente montado
sobre um animal sagrado, o touro. (ELIADE, 2010, p.55).
Essas grutas estavam presentes em quase todos os sítios arqueológicos do neolítico;
poderíamos encontrar a religião centrada no culto à Deusa em lugares, como por exemplo, em
Catal Huyuk.

- Estátua da “Deusa mãe”, encontrada em Çatal Huyuk, com idade estimada de sete mil anos.

Considerações finais

A partir de várias pesquisas, inclusive das citações e amostras apresentadas neste artigo, é
possível afirmar que existia sim o sentimento da religiosidade e espirito na pré-história. Por
mais que seja um trabalho difícil, pela escassez de fontes, é realizável. Com o avanço do
chamado pensamento mágico e ajuda da base empírica, é possível entender os mecanismos
que levaram o ser primitivo a entender mais sobre o universo que habitava e a plantar as
sementes da religião.

Talvez seja um pouco chocante saber que a religião era muitas vezes expressa por ações
desumanizadas, como o canibalismo e sacrifícios, mas que, a partir do sentimentalismo
envolvido nos rituais funerários, é possível saber que nem tudo era demarcado por essa
“agressividade”. Muitos desses ritos continuaram a acontecer em diversas civilizações em
determinados tempos históricos, e isso mostra que realmente, a atuação ritualística construiu
sua importância, principalmente na base da cultura, sendo de tanta importância que continuou
a ser utilizada.
Então, é importante lembrar que devemos compreender as religiões. Cada qual produto do
seu meio, com suas diversas verdades, que atendem seus diversos fieis e para isso, é
importante recorrer aos meios de estudo para compreensão da mesma ou fontes históricas, que
na época, poderiam ser utilizadas as ossadas e, principalmente a arte rupestre, que não servia
apenas para comunicação. Além da forma de informação mencionada acima, a arte rupestre
possui o caráter de fonte de informação de estruturas ritualísticas e cognitivas, como é
demonstrado nos trabalhos de Eliade (2010), Lévi-Strauss (2008) e de Mithem (2002).

Referências:

- MITHEN, STEVEN. Pré-história da mente: uma busca das origens da arte, da religião e da ciência. Tradução
Laura Cardellini Barbosa de Oliveira; revisão técnica Max Blum Ratis e Silva. São Paulo: Editora UNESP,
2002.

- SUPERINTERESSANTE. Comportamento – A aurora do pensamento mágico, 2011.

- LESTIENNE, CÉCILE. Funérailles d’antan, 1998.

- ARTE E ARTESANATO, A arte dos povos primitivos 2001. Disponível em:


HTTPS://www.eba.ufmg.br/alunos/kurtnavigator/arteartesanato/rito.html

- ELIADE, Mircea. História das crenças e das idéias religiosas, volume I: da idade da pedra aos mistérios de
Elêusis. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010.

- BEZERRA, Karina. HISTÓRIA GERAL DAS RELIGIÕES.

- PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros: a pré-história do nosso país; 2º edição revista.

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